Sustentabilidade X Sustentação

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante sobre o sentido errado que tem sido empregado generalizadamente para a palavra sustentabilidade por falta de conhecimento real da sociedade sobre o assunto e chama a atenção da mídia para o cumprimento de seu papel na orientação correta das pessoas no que se refere a temática da sustentabilidade.


Sustentabilidade X Sustentação

Ultimamente, em função do modismo com o termo sustentabilidade, esta palavra tem sido empregada com muitíssima frequência, entretanto o seu sentido real tem sido bastante deturpado. Isto é, o uso do termo, na maior parte das vezes, não condiz com o seu verdadeiro significado. Na verdade, o termo tem sido empregado de maneira muito mais relacionado com a ideia contida na palavra sustentação.

Baseado nesse fato, entendo que cabe discutir um pouco essa questão, para tentar esclarecer melhor as pessoas que sustentabilidade é muito mais do que apenas a manutenção ou a viabilidade de alguma coisa. Sustentabilidade não é apenas alicerce, nem base de apoio e muito menos esqueleto de nada. Sustentabilidade é garantia de continuidade sem prejuízo ambiental, social ou econômico de qualquer empreendimento visando sua manutenção para as gerações futuras. Sustentabilidade não é ficar em pé apenas hoje, mas é manter-se em pé para sempre, respeitando o meio ambiente, incluindo e envolvendo as sociedades e produzindo benefícios econômicos.

Tem sido bastante comum a gente ouvir, por exemplo, a seguinte frase: “tal coisa ou situação é economicamente sustentável”. Ora, na verdade, isso não quer, de maneira nenhuma, dizer que a coisa ou a situação em questão efetivamente tenham sustentabilidade, mas sim que essa coisa ou situação se sustentam e se mantêm, do ponto de vista estritamente econômico. A sustentabilidade não pode ser dissociada em estritamente econômica, ou a situação é sustentável nas três vertentes de abrangência (ambiental, social e econômica) ou ela não é sustentável, apesar de poder ter sustentação em uma das três vertentes individualmente. O fato de alguma coisa ou situação ter sustentação em uma das três vertentes da sustentabilidade não evidencia a existência de uma verdadeira sustentabilidade da coisa ou situação em si, porque faltam as duas outras vertentes.

Em síntese, não existe sustentabilidade econômica, porque o que é apenas econômico não tem sustentabilidade e não se enquadra no conceito explicito do termo. Desta maneira, sempre é preciso que se esteja atento com os vários “projetos sustentáveis” que temos ouvido falar nos últimos tempos e que não passam de meras falácias sobre um termo que está na moda e que parece garantir algum bônus para quem o usa, porque está muito carregado de tendência ambiental e social, mas que nem sempre são reais, mormente no viés de quem está aplicando o termo. Isto é, em tempos de vantagens para questões ecologicamente corretas, falar em sustentabilidade pode ser conveniente na apresentação de um determinado produto, entretanto é preciso tomar cuidado, porque tem muito produto dizendo falsamente que tem sustentabilidade, apenas para garantir marketing ecológico.

A verdadeira ideia de sustentabilidade é algo que lamentável e infelizmente a grande maioria das pessoas, com certeza, ainda não conhece, não sabe definir e muito menos tem condições de diferenciar. Assim, essas pessoas acabam sendo enganadas, pois são levadas a confundir, pelo desconhecimento delas próprias e pela má intenção programada da propaganda, a noção real do termo sustentabilidade que é mascarada pela ideia prática e comercial do termo sustentação. O conceito de sustentabilidade obviamente envolve o de sustentação, porém é muito superior e muito mais abrangente. Ao que parece, a ignorância de alguns e a má intenção de outros tantos são as causas mais óbvias para produzir a confusão entre os dois sentidos, porque tem sido assim que certos setores têm garantido a criação e o desenvolvimento de muitos projetos nefastos e outras coisas absurdas nesse país sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade, mas com o interessante e desejável rótulo de sustentável.

Fala-se bastante na sustentabilidade da implantação de determinados programas ou projetos, os quais por si sós, não são nada sustentáveis e muito menos têm qualquer conotação com a verdadeira sustentabilidade. Por exemplo, o desenvolvimento de um novo tipo de agrotóxico é uma situação em que não é possível ter nenhuma sustentabilidade, haja vista de tratar-se de mais um, entre os atuais 15.000 venenos, a ser lançado primeiramente no mercado e posteriormente no ambiente, afetando o solo, a água e a saúde. Porém, esse tipo de situação é “vendida” na propaganda para as pessoas como sendo algo sustentável. É bom que se tenha a consciência de que isso é feito com o credenciamento da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que dá aval e garante a autorização do governo brasileiro.

Pois então, a palavra sustentabilidade ganhou projeção e popularizou-se, entretanto seu sentido real não alcançou a maioria das pessoas como já foi dito anteriormente. Na verdade se massificou um termo (uma palavra) para mascarar uma ideia (um conceito) e assim as pessoas estão sendo iludidas pela conveniência daquelas outras que têm interesse nessa maquinação. É bom lembrar que, do ponto de vista estritamente ecológico, essa não é a primeira vez que se usa esse estratagema de travestir um conceito a fim de direcionar a informação para outro caminho que se tenha interesse. Aliás, aqui no Brasil, a partir dos governos (em todos os níveis) isso tem sido relativamente comum ultimamente. Foi assim, por exemplo com a “revitalização” do Rio São Francisco, com a “despoluição” da Baia de Guanabara, com a “diminuição” do desmatamento da Amazônia, com a “ampliação” na distribuição de energia e outros tantos exemplos, todos com o rótulo da sustentabilidade, mas que na realidade não possuem nem sustentação ambiental, quanto mais sustentabilidade no seu sentido real.

A mídia séria, se é que ainda existe mídia séria nesse país austral, precisa estar atenta a essas questões maquinadas e precisa cumprir sua função informando devida e corretamente a população e, principalmente, precisa esclarecer as questões dúbias como esta que é determinada pela má aplicação do conceito de sustentabilidade, porque o cidadão comum não costuma se aperceber desse tipo de enganação que lhe é proposta todos os dias pelos aproveitadores e picaretas de plantão. Por outro lado, alguns setores dos diferentes governos devem procurar estabelecer os objetivos de alguns de seus projetos mais claramente, no intuito de não agir contra os interesses maiores da coletividade. Quando o setor privado mente para o público ele deve ser punido e às vezes (raramente) é punido mesmo. Mas, quando é o governo mente para o público que o elegeu para defender os interesses desse mesmo público, o que deve acontecer?

A situação que nos encontramos é exatamente essa, quase todos mentem sobre quase tudo, quando de alguma maneira está envolvido o componente ambiental e no que se refere diretamente à sustentabilidade parece que a mentira virou verdade, pois nada, absolutamente nada, acontece com ninguém quando se está enganando a população nesse contexto.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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6 comentário(s)

  1. Concordo totalmente com o texto, essa palavra “sustentabilidade” virou moda do momento. Algumas empresas utilizam essa palavra para mascarar grande problemas ambientais. E poucas pessoas entende seu significado..

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    1. Valeu Ailton. Muito obrigado.

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      1. Agora que eu percebi que já tinha lido esse texto e até mesmo comentado, mas vou comentar mais uma vez a respeito desse assunto. Uma palavra que também é usada de forma errada é a palavra “ECO” (ecologia), que muitas vezes tal empreendimento não possui nada de ecológico a não ser a relação entre as pessoas. Então mais uma vez é uma boa palavra para o marketing verde.

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  2. Puxando a sardinha de novo pra Casa Ambiente e Sáude (CAS). Saindo do modismo do uso da palavra “desenvolvimento sustentável”, dito apaixonadamente por políticos, defendida de forma totalmente equivocada por alguns ambientalistas, praticado por fachada por algumas empresas para atrair novos clientes e bem colocado nas suas palavras, nosso trabalho na CAS, vem elucidar uma forma de despertar nas pessoas o significado real de sustentabilidade, consciência ambiental e sanitária, através de um projeto de educação permanente no município de Guaratinguetá, que apresenta
    em seu contexto, os aspectos socioambientais da região.

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    1. Meu caro Badah, eu conheço o seu trabalho e você conhece o meu, o que
      está faltando é mais gente como nós para também trabalhar ativamente
      pela questão ambiental, dando bons exemplos como os nossos e orientando a
      quem se interessa em saber um pouco mais sobre o assunto. De minha
      parte, uso minhas aulas e meus artigos e você faz as suas atividades na
      Casa Ambiente. Somos formigas, mas ainda assim, estamos vivos e
      continuamos fazendo a nossa parte e sendo exemplos daquilo em que
      acreditamos. Nosso trabalho não tem fim, mas um dia a coisa certamente
      irá melhorar e quem sabe o mundo será efetivamente melhor, com as tão
      sonhadas qualidade de vida e sustentabilidade imperando.
      Valeu Badah, muito obrigado, mais uma vez pelas suas leituras e principalmente pelos seus comentários.
      Um abraço.

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      1. Tudo isso mesmo e mais um pouco. Sou teu fã Mestre!!! Abração

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