Uma Reflexão Oportuna e Necessária
RESUMO: Meus amigos, como acontece todos os anos, eis aqui a minha modesta homenagem em comemoração ao Dia do Biólogo (03/09).
Uma Reflexão Oportuna e Necessária
Meus amigos, estamos vivendo um tempo de vacas magras, numa verdadeira sinuca de bico, onde os recursos naturais estão cada vez mais escassos e a necessidade deles é cada vez mais premente. Isso se deve principalmente a dois fatores: o aumento descontrolado e descabido da população humana e a síndrome do consumo exacerbado que toma conta de quase toda humanidade e que extermina todos os recursos existentes. Nós Biólogos, nos vemos no meio desse fogo cruzado de muita procura e pouca oferta e não vemos a sociedade se manifestar ativamente em função de trabalhar em prol de si mesma e tentar mudar esse quadro. Ao contrário, a situação só está ficando mais complicada e sempre aparecem mais problemas e mais carências. Isto é, a humanidade, ao invés de tentar diminuir a distância entre esses dois opostos, está agindo progressiva e perigosamente apenas na ampliação desse limite. Parece que o Homo sapiens está totalmente cego à realidade natural planetária, pois não percebe o paradoxo entre suas ações consumistas e a disponibilidade de recursos naturais.
Há muito tempo, que muitos de nós, Biólogos, estamos seriamente engajados com outros ambientalistas na luta por melhores condições planetárias e consequentemente melhores dias para a humanidade, mas o resultado dessa luta, até aqui, foi pouco significativo. O contingente de pessoas envolvidas na causa ambiental ainda é lamentavelmente pequeno e pouco representativo. Nossa capacidade de nos fazer ouvir e convencer os demais seres humanos encontra forte resistência em outros setores da sociedade, por conta de inúmeros interesses corporativos, menos nobres e menos salutares à vida, cujo cunho é principalmente econômico e algumas vezes fútil.
Ouso dizer que, além de nossa prática em comum com os ambientalistas: “nós Biólogos somos seres humanos especiais”, pois somos dotados de uma sensibilidade ímpar, que outros profissionais não conhecem: nós somos os principais amantes da vida. Somos ingênuos, verdadeiros idiotas, bobos mesmos, na contemplação da natureza e de seu fenômeno mais genial, que é a vida, seja qual for. Estamos presos à vida de uma maneira inexplicável, quase transcendental e isso nos torna significativamente diferente dos demais humanos, mesmo dos demais ambientalistas.
O ser humano, para nós, não é nenhuma maravilha biológica como pensam alguns e querem outros profissionais. O ser humano é apenas mais uma entre as milhões de possibilidades específicas que a vida assumiu no planeta Terra. Talvez até a espécie humana seja mesmo a mais organizada biologicamente falando e talvez também seja aquela espécie em que a Evolução biológica atingiu o grau máximo na Biosfera terrestre, entretanto isso não confere aos humanos nenhuma prioridade e muito menos o direito de soberania e absolutismo sobre as demais espécies, porque o planeta Terra não é dos humanos e é exatamente sobre esse aspecto que eu quero discorrer um pouco mais nesse momento.
A Sociedade Humana, numa ação insana ao longo da história, usurpou o planeta de maneira tal que a grande maioria das pessoas entende realmente que tudo que está aí no planeta é efetivamente para servir aos interesses da Humanidade. As pessoas naturalmente e às vezes reforçadas por algumas ideias religiosas absurdas, não vem nada de errado em destruir o planeta e a vida, porque “isso é assim mesmo”, pois o “planeta está aí exclusivamente para nos servir”. Infelizmente, o pensamento popular generalizado é exatamente esse e nós biólogos, sabemos que há grande necessidade de pensar diferente. Pois então, é essa postura indesejável e nefasta da sociedade que nós precisamos e muitos de nós, ao longo do tempo, já temos tentado combater, com nossa índole de bons samaritanos, em defesa da vida e do planeta Terra.
Como eu já disse, somos humanos especiais e, em certo sentido, somos mesmo “seres humanos superiores”, porque temos uma visão maior que nos dá o poder de identificar a anomalia no comportamento de nossa espécie, que a grande maioria dos demais humanos não percebe. Alguns dirão que eu sou um sujeito muito “metido à besta” e pretencioso por fazer tal afirmação, mas nós biólogos, sabemos que essa é a mais pura verdade. Nosso amor pela vida transcende qualquer outra atitude social dos demais humanos. Ficamos idiotizados e somos capazes de perder horas a observar e tentar entender uma correição de formigas, ou a beleza perigosa de um grande predador, ou o aroma agradável de uma flor, ou ainda cuidando de um passarinho que perdeu a mãe e caiu do ninho e isso é ilógico ao pensamento comum.
Entretanto, nós também somos incapazes de compreender que haja humanos morrendo de fome ou a violência humana envolvida num ato de pedofilia. Nós não descartamos, nem desconsideramos a humanidade e as ações com a vida humana. Nosso amor pela vida não diminui relativamente na espécie humana, nós apenas vemos os humanos da mesma maneira que vemos as outras formas de vida, porque nós sabemos que somos organismos vivos semelhantes aos demais e que estamos sujeitos às mesmas vicissitudes e imposições da natureza.
Nós sabemos que todos os organismos vivos têm os mesmos direitos naturais e qualquer afronta à vida de qualquer um desses organismos deve ser combatida. A maravilha da vida é que nos intriga e não apenas o portador dessa vida. Somos contra a morte, mas entendemos que morte, num contexto natural, também faz parte da vida. O que não concordamos é com a morte prematura e desmedida, condicionada por causas antinaturais como a humanidade propõe historicamente em vários aspectos.
Pois então, o que precisamos é que essa característica que nos torna diferente dos demais seres humanos seja ampliada num contexto social maior e que mais seres humanos passem a pensar como nós. Temos que ensinar as demais pessoas a pensarem e principalmente a agirem do mesmo modo que fazemos, porque a vida humana e a vida de outras criaturas planetárias terrestres depende prioritária e grandemente desse tipo de comportamento. Nosso amor confesso e incondicional pela natureza e pela vida em seus mais diversos modelos é o que o mundo está necessitando no momento atual. Aliás, já faz tempo que vem necessitando e agora existe urgência, porque infelizmente a inexorabilidade do tempo não para e quanto mais tarde pior.
Nesse dia 3 de setembro, em que completamos 36 anos de existência legal aqui no Brasil, em que vemos o mundo às portas de discutir mais um grande acordo planetário sobre o Clima Global (COP 21) e em que temos podido observar que as previsões ocorridas no passado recente sobre a situação planetária e o risco iminente de extinção de muitas espécies, inclusive o Homo sapiens, estão sendo progressivamente confirmadas, nós biólogos brasileiros, temos o dever moral de chamar a atenção do mundo e nos mostrar como exemplo em prol da vida a ser seguido pelas demais pessoas.
As Ciências naturais e os cientistas da natureza que quase nunca são ouvidos pela sociedade, haja vista que o “Homo socialis” sempre teve mais importância no contexto humano que o “Homo naturalis”, agora necessitam estar na vanguarda do pensamento pela proteção da vida na Terra e a Biologia, assumindo o seu lugar de destaque como sendo a Ciência Natural mais importante da atualidade, tem que se manifestar. Entretanto, o que é a Biologia sem cada um de nós? Os Biólogos são os braços, as pernas e a voz do pensamento biológico e precisamos abrir a boca aos quatro cantos do mundo, levando nossa mensagem de que, ao contrário do que muitos pensam, dizem e fazem, a Terra não precisa dos Seres Humanos, pois na verdade ocorre exatamente o inverso disso, isto é, o Ser humano é quem precisa do planeta Terra, nossa morada única e nossa fonte de tudo. Somos totalmente dependentes do planeta, mas ele não depende de nós.
Sendo assim, como disse ao longo do texto, multipliquemos nossa forma de pensar e de agir pelo mundo afora, porque a humanidade precisa saber que só existe uma saída para nossa espécie e essa saída exige que sejam garantidas as condições para a possibilidade de manutenção da vida humana na Terra. Não queremos ser catastrofistas, ao contrário, mas na realidade, infelizmente não existe outra possibilidade para nossa espécie. Ou mudamos nosso comportamento drasticamente e assim trabalharemos para nossa salvação ou o planeta muito brevemente seguirá seu caminho sem o Homo sapiens.
Lorena, 03 de setembro de 2015.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
]]>
04/09/2015
Que texto mais claro e certeiro. Amei professor. Me envergonho pela religião fazer tão pouco pelo planeta. Isto nao é o q a Bíblia ensina. Precisamos voltar à origem. Somos Um. Bjs O sr sempre me surpreende.
05/09/2015
Minha cara Sheila, que bom que você tem essa consciência.
Valeu, muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
Um abraço.
04/09/2015
Perfeito meu caro amigo e mestre… por isso que digo aos meus amigos da classe da Engenharia Ambiental, que a Biologia precede qualquer graduação, ementa ou grade de qualquer área voltada ao meio ambiente. Pois se queremos mitigar, conscientizar ou solucionar um problema de impacto, é necessário conhecer todas as formas de vida, sua relação com o meio abiótico, para não precisar tapar aqui e descobrir ali, simplesmente para adequar à normas que ao meu modo de ver só retardam um pouco a degradação. Por isso que digo à alguns e sem falsa modéstia… eu tenho um pé na frente.. pois tenho esse olhar.. eu aprendi bastante e me apaixonei pelas Ciências Biológicas.. inclusive agregando ensinamentos seus. É necessário sim… promover a vida… !!!!!
05/09/2015
Meu caro Badah, que bom que você pensa assim, entretanto você ainda é exceção, porque a maioria dos Engenheiros que conheço acha que tudo isso é bobagem. Como eu disse no texto, o pensamento geral, ainda que sem maldade, é de que o homem tem mais que destruir o planeta mesmo. Você efetivamente é um Engenheiro diferente e que bom que eu pude influir nisso.
Um abração meu amigo.