A Sucessão Ecológica, a Formação dos Ecossistemas e a Degradação Planetária
Resumo: O texto atual trata da questão da formação dos diferentes ecossistemas terrestres por conta das forças físicas e químicas planetárias e da rápida degradação ambiental produzida pela espécie humana. A abordagem tenta demonstrar que as atividades antrópicas têm descaracterizado o planeta e comenta comparativamente sobre equilíbrio e a solidez dos ecossistemas naturais e fragilidade dos ecossistemas produzidos pelo homem e do risco cada vez maior na ampliação desses ecossistemas artificiais.
Sucessão Ecológica, a Formação dos Ecossistemas e a Degradação Planetária
A estrutura externa do planeta Terra atualmente se apresenta esquematicamente definida numa constituição de delineamento que pode ser facilmente entendida quando se observa um mapa mundi ou um planisfério. Essa estrutura, porém, nem sempre foi assim e certamente no futuro também não será como hoje. As mudanças estruturais resultam do tectonismo, que faz com que as placas tectônicas se movam e assim permitem que a crosta terrestre também possa se movimentar sobre o manto. Essa propriedade do planeta então permite que a crosta terrestre esteja sempre em movimento e assim, se modificando ao longo do tempo.
Em síntese, por conta do tectonismo, qualquer que seja o lugar, do ponto de vista geográfico-geológico, certamente esse lugar nunca será o mesmo, porque épocas diferentes apresentaram condições geológicas diferentes, as quais produziram situações geográficas distintas. Essa é a geodinâmica do Planeta Terra. Obviamente essa mudanças são progressivas, porém muito pequenas e vagarosas. Por isso mesmo, as mudanças são quase imperceptíveis aos olhos humanos, só podendo ser percebidas quando são analisadas ao longo do tempo geológico.
Em 1915, quando Alfred Wegener, no trabalho intitulado “A Origem dos Continentes e dos Oceanos”, sugeriu a possibilidade do movimento da crosta terrestre e propôs a Teoria da Deriva Continental ou Translação dos Continentes, para muitos parecia que aquele cientista estava ficando louco, entretanto hoje sabemos que esse é um fato geológico efetivo e incontestável. Além disso, hoje também sabemos que é graças ao tectonismo que a geodinâmica planetária se mantém. Por conta desse fenômeno, diferentes locais geográficos, ao longo do tempo geológico, apresentaram características físicas, químicas e biológicas bastante distintas.
Na verdade, as atividades acontecem da seguinte maneira: as forças físicas que atuam num determinado lugar, levam ao desenvolvimento de mudanças nas características físicas e nas composições químicas das substâncias que lá existem e esse mecanismo vai acontecendo indefinidamente. Em certo momento da história geológica da Terra surgiram os organismos vivos (entes biológicos) e consequentemente esses organismos vivos que habitam o local, também têm que ir se modificando para poder ocupar essas áreas que estão sempre ficando diferentes. A Evolução Biológica nos mostra que essa ocupação foi gradativamente se estruturando de maneira progressiva e se complexando por conta das necessidades de adaptações aos “novos ambientes” naqueles “velhos lugares”.
O processo evolutivo assim, tende a caminhar das formas biológicas mais primitivas, as bactérias, passando pelos diferentes grupos de protistas, de plantas e animais, inclusive o homem. Obviamente não há obrigatoriedade de uma progressão, mas existe uma contingência progressiva condicionada pela capacidade maior ou menor de adaptação das espécies e a por isso mesmo não ocorre necessariamente o aparecimento de uma forma viva em função do desaparecimento de outra. A evolução é cumulativa e mantém populações diferenciadas em função das referidas capacidades de adaptação. Assim, existem estágios múltiplos diferenciados e convivência coletiva entre esses diferentes estágios.
Pois então, a vida, que até aqui parece ser um fenômeno exclusivo do Planeta Terra, se desenvolve, se adapta e se modifica sempre em função das condições físicas e químicas do local onde ela se encontra. Em outras palavras, a vida (a Biologia) se estabelece obrigatoriamente na dependência direta das condições físicas e da composição química do local. Assim, em última análise, são a Física e a Química quem determinam as condições básicas sobre as quais a Biologia se estabelece. Essa é uma verdade irrefutável e é através do mecanismo conhecido como Sucessão Ecológica que essa situação consegue se estabelecer e desenvolver.
Num primeiro momento, qualquer local é uma estrutura física, composta por diferentes substâncias químicas, ou seja, um componente mineral ou pura rocha. Com a ação das intempéries do tempo e dos microrganismos vivos que, por ventura, conseguem se estabelecer nesse local, progressivamente o local vai se modificando e permitindo a vinda e a permanência cumulativa e diversificada de novos organismos, até que se estabeleça um grau máximo de suporte, de ocupação e consequentemente de diversidade biológica (Biodiversidade), onde ocorre uma estabilidade da comunidade, que só irá se alterar profundamente se houver nova mudança significativa do local. É esse mecanismo crescente de ocupação e de aumento progressivo da biodiversidade que denominamos Sucessão Ecológica.
A Sucessão Ecológica a rigor se passa por 3 fases fundamentais. A primeira fase (Comunidade Inicial) é aquela em que estão presentes as espécies que primeiro conseguem se estabelecer e que iniciam o processo de colonização biológica e transformação química da rocha matriz e que irão permitir a ocupação da área por outros organismos. Exatamente por exercerem tais funções é que essas espécies são denominadas de Pioneiras ou Colonizadoras. A segunda fase (Comunidades Séries) é aquele que se compõem das espécies intermediárias que são substituídas progressivamente. As Séries podem se compor da várias subfases, que cada vez abrem mais caminhos à ocupação dos novos organismos, até atingir a terceira fase (Fase Final), onde o equilíbrio de comunidade e a sua Biodiversidade atingem o apogeu. Esta fase final é denominada de Comunidade Climácica ou Clímax, porque ela efetivamente consiste no grau máximo de complexidade biológica e estrutural daquele local. Enquanto as condições se mantiverem ambientalmente equilibradas o Clímax tende a se manter.
Foi exatamente desta maneira, que os diferentes processos de Sucessão Ecológica, ao longo do tempo geológico, foram capazes de formar os diversos Ecossistemas e os diferentes Biomas que nosso planeta apresenta hoje. O resultado da estrutura planetária atual é consequência das inúmeras Sucessões Ecológicas, até aqui, ocorridas nos diferentes tipos de locais da Terra.
Assim, a Terra levou vários milhões de anos de sucessões para atingir o estágio atual e os grandes Biomas nela existentes, Por outro lado, a humanidade em pouquíssimos anos tem atuado progressiva e rapidamente como modificador desses ecossistemas de maneira drástica e muitas vezes irreversível. Assim, enquanto a natureza cria e define a estrutura terrestre num eon (tempo geológico), o homem, por sua vez, está destruindo toda a obra natural, num “flash” de tempo.
É através das mudanças geológicas que um rio se transforma num lago, que uma baía se transforma numa lagoa, que uma lagoa se transforma num charco e que um charco se transforma em terra firme. Também é através das atividades geológicas que nasce uma ilha no oceano, que forma-se uma ilha num litoral. Mas, é através das sucessões ecológicas que ocorrem nesses diferentes locais que a vida surge, com as espécies pioneiras e se diversifica com as diferentes séries até chegar ao Clímax. E desta maneira que uma ilha recém formada no meio do oceano, em relativamente poucos anos estará repleta de vida.
Enfim, todas as possibilidades geológicas são acompanhadas por mudanças biológicas consequentes e isso produz cada vez mais diversidade de formas vivas na Terra. Entretanto, nem sempre foi assim, porque houve um momento em que a vida ainda não existia, mas, depois que a vida surgiu no planeta, essa história de sucessão ecológica tem se repetido inúmeras vezes em todos os lugares da Terra, independentemente da ação antrópica. Embora o homem não impeça diretamente as sucessões, ele minimiza suas potencialidades quando especifica determinadas áreas no seu interesse particular e isso leva à redução das possibilidades sucessivas e consequentemente diminui a Biodiversidade.
Os Grandes Biomas planetários e suas respectivas formas de vida características são consequência dos Movimentos Geológicos e das Sucessões Ecológicas naturais. A vida no planeta cresceu e se diversificou fantasticamente e por força de ações geológicas já existiram vários períodos de extinção, mas sempre houveram novas possibilidades e novas sucessões se desencadearam e o resultado atual é esse que podemos observar. Entretanto, mais recentemente, graças a ação do homem, a vida que cresceu e diversificou, agora está decrescendo e se extinguindo vertiginosamente, em consequência da destruição dos ambientes naturais e da homogeneização dos ambientes por força das atividades humanas. Muitas espécies já se extinguiram ou estão em processo acentuado de extinção e muitos ecossistemas já se exterminaram levando consigo várias comunidades naturais.
Aa ação antrópica também produziu novos ecossistemas, diferentes dos naturais, e que, por isso mesmo são muito frágeis e de pouca diversidade biológica, porque não contemplam todos os mecanismos de sucessão que seria necessários ao seu estabelecimento se ocorressem por forças naturais. Esses ecossistemas não possuem o grau de complexidade estrutural oriundo das ações naturais manifestadas pelos organismos vivos ao longo da ocupação e assim não estão efetivamente preparados para a vida. Esses ambientes são áreas agrícolas, áreas de silvicultura e mesmo as cidades, que hoje são muito mais artificiais do que nunca.
Todos esses ambientes antrópicos, além de frágeis e de difícil manutenção, são pouco capazes de sustentar uma vida muito diversificada, devido as suas condições artificiais e assim tendem, naturalmente a se desequilibrarem. Isto é, não existe possibilidade de qualquer desses ambientes atingir uma Comunidade Clímax. O homem precisa para e entender que não há nenhuma ética planetária nas ações da tecnologia, que cresce indefinidamente sem se importar com a Terra e com seus fenômenos naturais. E aí que, de repente, vem os grandes cataclismas: o terremoto, a tsunami, o furacão e simplesmente destroem toda a obra a algumas vidas humanas, na tentativa de refazer os processos naturais. Mas, o homem insiste na sua loucura sem tentar entender, que deve existir um limite natural para as coisas e principalmente para as possibilidades tecnológicas da humanidade.
A manutenção desse tipo de ambiente artificial é muito cara economicamente, pois custa muito dinheiro; é tremendamente perigosa sociologicamente, porque facilita e aumenta a destruição de vidas humanas e também é extremamente danosa ecologicamente, pois acaba com a Biodiversidade. Em suma, esses são ambientes que não apresentam nenhuma sustentabilidade natural e por isso mesmo devem ser mantidos numa condição apenas necessária. O aumento progressivo dessas áreas não é bom para o planeta e obviamente é pior ainda para a espécie humana, que é a que mais depende da Terra.
Está na hora de começarmos a procurar entender que não podemos tudo e que daquilo que podemos, também não devemos tudo. Por fim, creio que está na hora de nos preocuparmos mais com os processos naturais e tentar imitar a natureza nas suas coisas mais fundamentais e não tentarmos violenta-la cada vez mais como até aqui temos feito. Não estou dizendo para simplesmente deixarmos a vida seguir seu curso dentro dos padrões naturais puros e exclusivos, até porque isso obviamente é impossível. O que eu quero dizer, é que devemos nos comprometer a controlar as nossas ações no interesse maior da espécie humana, Isto é, dentro de limites tangíveis e de possibilidades que garantam a nossa sobrevivência sem extrapolar os limites naturais estabelecidos. Devemos caminhar ao lado da natureza e não contra ela.
O homem já conseguiu muito, particularmente nos últimos 60 anos da história humana, se fez muito mais do que em toda a existência humana no planeta, mas agora estamos cada vez mais caminhando numa direção perigosa, a qual têm nos conduzido progressivamente a um caminho contrário aos interesses planetários e, ao meu ver, sem retorno para nossa espécie. O planeta, através dos movimentos geológicos e das sucessões ecológicas certamente ainda vai sobreviver por muitos milhões de anos à frente, num tempo geológico, mas a espécie humana talvez não consiga caminhar muito a frente, talvez nem por um “flash” de tempo estritamente antrópico.
Obviamente, eu não sou pitonisa, mas em vista do cenário produzido pelos acontecimentos recentes, creio que estou certo e isso tem me preocupado bastante. Por conta disso, estou deixando aqui o meu ponto de vista.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
]]>