A gente se destrói enquanto se distrai ou se distrai enquanto se destrói?

A gente se destrói enquanto se distrai ou se distrai enquanto se destrói?

Resumo: Nesse artigo procuroexpor claramente o estado da arte em que o planeta se encontra e a responsabilidade da humanidade sobre essa situação caótica. Discuto sobre a necessidade de agirmos de maneira contrária ao que temos feito até aqui ou então nossa espécie muito rapidamente estará sendo extinta do planeta, haja vista que somos totalmente dependentes da Terra.


Não pense na frase que intitula esse artigo como um simples trocadilho, porque na verdade não é essa a intenção, pois a questão é realmente muito séria. Estamos diante de uma situação em que o planeta está sendo destruído por conta de nossa “distração”, isto é, enquanto nos distraímos a Terra mingua e a vida vai se acabando. Vivemos atualmente essa dicotomia e não parece haver interesse real em resolver a questão. Assim, alguns estarão imaginando que a afirmativa do título possa ser um dilema sem solução. Enquanto isso, os formadores de opinião, aqueles que manobram e conduzem a opinião pública, ludibriada pela falta de vergonha e interesse estritamente político dos governos e ainda pela falta de civilidade e do interesse financeiro exclusivo da mídia, continuam tentando manter a situação exatamente assim.

Antes de começar a discorrer sobre o assunto, primeiramente é preciso discutir sobre os verdadeiros sentidos do verbo distrair. Se o verbo distrair for usado no sentido de “passar despercebido”, não estar focado” ou “não estar atento”, o problema da degradação ambiental planetária, embora seja por causa da humanidade, pode ser considerado um crime culposo, porque muitos seres humanos ainda não sabem, ou melhor, não entendem e nem têm a verdadeira noção da realidade, por falta de informação, de conhecimento e mesmo por desinformação programada.

Entretanto, se, por outro lado, o verbo distrair quiser dizer “espairecer” ou “matar o tempo por prazer”, aí a coisa é bem pior e o crime é doloso. Porque, se além de degradar o planeta a humanidade acha que isso é normal e está de fato se lixando para as possíveis consequências, haja vista que o importante são as benesses imediatas que a degradação traz para alguns dos seres humanos. Pensando deste modo qualquer coisa que aconteça não é responsabilidade dos seres humanos, porque é feito no “interesse maior” da humanidade.

De qualquer maneira, nos dois sentidos, está havendo distração, ocasional ou pensada e o planeta tem sofrido bastante, com incremento cada vez maior do número de espécies ameaçadas de extinção e efetivamente extintas; ecossistemas degradados e totalmente perdidos e ambientes naturais e mesmo artificiais contaminados e destruídos pelas ações humanas. Por outro lado, o planeta, à sua maneira, também tem reclamado bastante, produzindo inúmeras catástrofes naturais e ampliando muito o número, a frequência e os danos produzidos por esses eventos. Ou seja, a distração que causa a degradação e a desgraça, acaba trazendo mais desgraça.

Outra coisa que precisa estar muito bem definida é a verdadeira noção do que seja prioritário. Se observarmos no dicionário, a palavra prioridade significa: “condição do que é o primeiro em tempo, ordem, dignidade”. Assim, ela sempre pede um complemento; prioridade de quê? Prioridade de quem? Prioridade para quê? Prioridade aonde? Prioridade para quando? Enfim, a prioridade deve ser definida, tendo alguns objetivos claros a serem almejados. Deste modo, no que se refere a nossa questão inicial, a primeira pergunta a ser feita é a seguinte: a nossa prioridade é a vida ou é a distração?

 Se estar e se manter vivo forem as prioridades, qualquer coisa que se faça contra a vida não se justifica em hipótese nenhuma. Mas, se a vida for apenas uma brincadeira temporária e, deste modo, consequentemente a distração for a prioridade, qualquer coisa, importante ou não, se justifica para garantir a distração. O que parece é que estamos ativos e preocupados apenas com a segunda hipótese e deste modo eu acredito que estamos vivendo os últimos tempos da estrada evolutiva humana, porque nossa espécie caminha a passos largos para a extinção. Tudo por conta da nossa distração contundente e contumaz.

Sinceramente eu não sei o que a humanidade está esperando para começar a mudar de filosofia, de pensamento e de comportamento em relação ao planeta e a qualidade de vida dos seres humanos e das demais espécies vivas do planeta. Não sei porque cargas de água, mas atualmente muitos dos seres humanos têm confundido viver com sentir prazer e talvez, por causa dessa insigne confusão, os humanos têm preferido mais sentir prazer do que propriamente viver, esquecendo que para ter prazer, antes é preciso estar vivo. Vivemos uma irresponsabilidade coletiva, reforçada por alguns governos, pelas organizações da mídia e lamentavelmente por alguns segmentos arcaicos e obtusos das sociedades humanas.

Não quero aqui me colocar acima do bem e do mal, ao contrário, como ser humano, quero me incluir na parte que causa o problema. Desta maneira tenho que fazer a “mea-culpa” e como ser humano devo demonstrar minha consciência de que o homem como espécie biológica, assim como todas as espécies vivas do planeta, necessita sobreviver e lamentavelmente nossa existência implica na destruição de outras espécies vivas, na destruição dos ambientes naturais e consequentemente na degradação planetária. É impossível que a espécie humana se mantenha viva no planeta sem degradar o ambiente de alguma maneira. É claro que obviamente isso explica grande parte da degradação que causamos, mas não justifica de maneira nenhuma o “status quo” que estamos vivendo, ou seja, essa continuidade incessante e inconsequente de exploração dos recursos.

Ainda que essa nossa condição degradadora seja uma verdade inquestionável, não é por conta desse fato que devamos continuar destruindo sem nenhum critério e principalmente sem comedimento, mormente com as demais espécies vivas. O homem se apoderou do planeta como se fosse seu proprietário e como se a natureza e os recursos naturais fossem infinitos. Assim, a humanidade tem feito o que quer a seu bel-prazer, sem nenhuma preocupação e sem nenhuma responsabilidade com o planeta e com as demais espécies vivas, nem mesmo outros seres humanos.

Nesse sentido, pensar em desenvolvimento sustentável, em sustentabilidade, em uso parcimonioso dos recursos naturais, em controle do crescimento populacional e extermínio do consumismo exacerbado e principalmente no respeito as demais formas vivas, seriam alguns aspectos prioritários aos interesses da vida humana na Terra, que deveriam não só ser estimulados, mas talvez até obrigados aos cidadãos. Entretanto essa não é a tendência que se observa na maioria dos países do planeta, onde cada vez mais, são cometidos abusos do direito uso dos recursos e do espaço planetário. Ao contrário, o que se vê é o aumento progressivo e massificante da população, uma preocupação excessiva com os interesses em transformar os recursos naturais em recursos econômicos e o uso indevido, indiscriminado e cada vez mais descontrolado dos recursos naturais pela humanidade, como se o planeta fosse infinito e como se nossa espécie fosse transcendente e imortal. Além disso, é preciso acrescentar a criação e a introdução de compostos químicos tóxicos, que visam garantir o aumento da produção agrícola sem qualquer preocupação adicional.

O planeta já está cansado de avisar que assim não é possível continuar, mas a humanidade é surda ou insiste em continuar não querendo ouvir, alguns por falta de conhecimento, outros por interesses particulares e a grande maioria por pura falta de sensibilidade e principalmente por falta de responsabilidade, preferindo seguir os falsos profetas do consumismo ou se manter a parte como que achando que o problema não é nosso. Pois então, assim, enquanto a gente se distrai, o planeta e tudo que existe nele, inclusive e principalmente os seres humanos, acaba se destruindo. A continuar assim, o planeta sofrerá muito, porém dará um jeito e irá se manter apesar de tudo, mas muitas das espécies vivas, principal e particularmente a espécie humana, certamente perecerão. Aliás, muitas espécies já estão se extinguindo por conta de nossas ações e ninguém parece se importar.

Aqui cabe lembrar, mais uma vez, que nossa espécie, exatamente por conta de sua versatilidade em explorar e modificar o planeta, acaba sendo também a mais dependente de todas na Terra, porque enquanto outras espécies se utilizam, quase exclusivamente de recursos limitados dos ecossistemas em que habitam, os seres humanos transcenderam o limite ecossistêmico e podem retirar qualquer coisa de qualquer lugar. Enquanto a maioria das espécies tem limitações físicas e geográficas insuperáveis, a espécie humana no seu afã exploratório superou também essas limitações. Nossa espécie é realmente fantástica, pena que nossa visão seja muito caolha e não nos permite enxergar direito.

Por conta disso, temos dificuldade de ver e entender que somos animais de grande porte e nossa capacidade reprodutiva nos permitiu chegar a quase 8 bilhões de indivíduos, todos necessitados dos inúmeros recursos naturais planetários. Pois então, os recursos naturais antes abundantes, agora são escassos e muitos humanos já não têm acesso a eles e essa é uma dependência cada mais progressiva. Isto é, mais humanos, menos recursos disponíveis e mais dependência. Como agravante, muitos humanos ainda se utilizam de muito mais recursos do que realmente necessitam, desperdiçando grande parte por puro prazer (“distração”).

Foram exatamente esses dois aspectos, a extraordinária capacidade exploratória e a fantástica eficiência reprodutiva de nossa espécie, que nos possibilitaram explorar e destruir insana e inconsequentemente os recursos naturais do planeta. Crescemos, multiplicamos e destruímos aleatória e indiscriminadamente. Em outras épocas, nós não tínhamos consciência de quão danoso era esse nosso poder, mas hoje nós certamente temos a exata dimensão do erro que cometemos historicamente. Caramba! Por que, então, simplesmente, não paramos de errar e investimos em começar a fazer a coisa certa?

É preciso que a humanidade passe a entender, de fato, que a gente também se destrói, enquanto se distrai, destruindo o planeta e que somente nós, pode colocar fim ao processo de extinção humana que já está em curso. Apenas nós, a espécie humana, temos o poder de reverter ou pelo menos, protelar essa perspectiva infeliz de extinção. Nossa salvação depende de nós mesmos, mas é necessário começar antes que atinjamos um nível de degradação em que não será mais possível controlar o processo.

Nossa distração, por bem ou por mal, nos levou a uma encruzilhada entre a continuidade e a extinção de nossa espécie, eu acredito e espero que a opção da maioria dos seres humanos seja continuar vivendo. Desta maneira, que nossa distração maior doravante seja trabalhar com afinco para manter nossa espécie viva no planeta Terra. Nós já sabemos o que temos que fazer, só precisamos começar o trabalho. Comecemos dando mais valor aos nossos semelhantes, aos demais organismos vivos, às coisas da natureza e menos valor ao dinheiro e às coisas relacionadas à economia, pois é por aí que as coisas precisam se estabelecer.

Façamos com que todos os humanos entendam que todas as coisas (os recursos naturais|) têm valor por elas mesmas e que o dinheiro é só uma maneira de representar o valor dessas coisas. Assim, nós não precisamos de dinheiro, precisamos sim dos recursos naturais. Lembrem-se que na hora que os recursos naturais acabarem, obrigatoriamente o dinheiro perderá seu valor e simplesmente não servirá para nada, porque não adiantará ter dinheiro, se não existir o que comprar ou que vender.

É muito simples entender o raciocínio que estou propondo. Se não quisermos que nossa espécie desapareça da Terra precocemente, temos que parar de destruir o planeta e garantir a perpetuação dos recursos naturais planetários. Temos que dar mais valor aos recursos naturais e menos valor ao dinheiro e tudo que dele decorre.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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