O Aviso Produzido pelo Corona Vírus (COVID-19)
Resumo: O artigo trata da preocupação com o COVID-19 e sua possível relação com as ações antrópicas planetárias. É sugerido que a partir de agora a humanidade comece realmente a pensar mais sério sobre os problemas ambientais globais, pois esse parece ser o único caminho para a continuidade da espécie humana sobre a superfície do da Terra.
Aproveitando esse momento drástico, além de terrivelmente incomodo e chato, onde todos falam quase que exclusivamente do Corona Vírus (COVID-19), eu vou pegar “carona” e fazer um “convite” para propor uma “virada” e consequente ingresso num novo tempo, numa “Nova Era” planetária no sentido mais amplo e holístico que a expressão puder ter. Já que o conceito de “Nova Era” tem sido, de fato, muito discutido e por isso mesmo é de difícil entendimento, vou tentar ser mais objetivo. Talvez, a ideia contida no livro de Daren Kemp (2004), seja o mais condizente com a minha visão.
Obviamente o planeta não vai mudar para atender aos interesses humanos, até porque isso é ilógico do ponto de vista físico e químico, mas porque é principalmente impossível do ponto de vista operacional. Entretanto, o planeta já mudou e continuará mudando física e quimicamente sempre, por conta de questões climáticas e tectônicas naturais. Entretanto, mais recentemente, surgiu uma outra força, que embora pequena no contexto individual é muito grande no contexto global (planetário) e que tem sido acrescida as ações naturalmente modificadoras do planeta. Essa força chama-se ação antrópica.
Um Químico holandês e um Biólogo americano (Crutzen & Stoermer, 2000) até criaram um novo termo, identificando um novo período geológico separado do Holoceno, para identificar esse momento em que nos encontramos. Segundo esses autores, estamos vivendo o Antropoceno, ou seja, o período que define exatamente o tempo em que as ações humanas começaram a interferir e mudar mais precisamente a realidade natural.
As ações do ser humano tem produzido, mormente nos últimos tempos, uma soma significativa de consequências que têm causado transformações metabólicas profundas no comportamento natural da Terra. Além disso, o homem também tem imposto, reforçado e acelerado, por conta de seus atos ingênuos ou inconsequentes, as consequências dos processos naturais da estrutura, organização e manutenção planetária, o que só amplia as notórias e cada vez mais conspícuas mudanças.
Ao seu modo, o planeta tem reclamado e mandado inúmeros avisos à humanidade, mas nada de importante aconteceu como resposta humana. O ser humano, “dono do planeta” continuou seguindo seu caminho, como se nada estivesse acontecendo. Mas, eis que agora, depois de vários avisos prévios de menor intensidade, a ira planetária se manifestou mais séria e acentuadamente, sob a forma de um vírus, um pequeno e mísero vírus. O vírus é um instrumento bioquímico na fronteira entre um mineral e um organismo vivo, que pode causar moléstias em organismos vivos, inclusive nos humanos. Pois então, um vírus causa uma pandemia, que gera um pandemônio na humanidade e nos mostra os quanto somos frágeis e pequenos perante a natureza.
Penso eu que esse fato certamente deverá levar a termo final algumas práticas antrópicas corriqueiras ilógicas, insensatas e sobre tudo, incabíveis, que vinham sendo comuns na atualidade. Por outro lado, deverão surgir novas práticas, que reavaliem a ideia absurda de crescimento econômico ilimitado, dentro de um espaço planetário finito e cada vez mais limitado. Talvez, a ideia de decrescimento de Serge Latouche (2006) tenha, sim, que ser analisada com atenção e bons olhos, para poder ser praticada progressivamente pela humanidade.
A praga humana crescente e destruidora precisava ser contida e o COVID-19, talvez tenha sido o grande plano ou projeto planetário de contenção e defesa que a Terra promoveu para dar o ultimato à espécie humana. Nesse momento a humanidade está sendo “convidada” a repensar, reprogramar e refazer suas noções de desenvolvimento econômico contínuo e perpétuo. Está claro que é impossível um planeta continuar crescendo economicamente com os 8 bilhões de humanos atuais e uma projeção modesta de chegar a 11 ou 13 bilhões até o final do século, sugando cada vez mais as tetas do planeta e promovendo consequentemente as ações e os eventos catastróficos que temos visto recentemente. Isso precisa acabar.
Certos lugares planetários como o Mercado da cidade de Wuhan, na China, onde se compra e vende tudo que é tipo de organismos vivos (animais ou vegetais), vivos ou mortos, para todos os tipos e gostos e para os mais diversos fins, não devem ser benéficos à humanidade, embora posam ser benéficos à algumas pessoas. É bom citar para os incautos, porque eu acredito que a maioria das pessoas não saibam disso. Wuhan não é uma cidadezinha, ao contrário, é uma cidade moderna e a maior cidade da região central da China, possuindo mais de 11 milhões de pessoas e que, compondo uma região extremamente conurbada com outras cidades menores, forma uma concentração de cerca de 20 milhões de seres humanos. Quer dizer, não estamos falando de uma cidadezinha do interior, estamos falando de um dos grandes centros populacionais da chineses.
O mercado de Wuhan, não é um mercado municipal pequeno, como se vê, por exemplo, na maioria das cidades brasileiras pelo interior. Aliás, aquilo nem pode ser chamado de mercado, pois na verdade é um grande centro de contaminação de vírus e bactérias geradoras de doenças. É um centro oficial de transmissão de moléstias, com autorização de uso e sem nenhuma forma de segurança sanitária. Mas, é bom ressaltar que o Mercado de Wuhan, não é o único local da China ou do mundo, em que esse tipo de coisa acontece, porque o ser humano criou vários lugares do tipo Mercado de Wuhan pelo mundo afora. Wuhan é apenas um exemplo infeliz e comprovado dos muitos que existem no planeta. Aqui no Brasil mesmo, guardadas as devidas proporções, temos vários “mercadinhos de Wuhan”.
Até alguns dias estávamos em rota de colisão com o planeta, mas agora parece que efetivamente já colidimos e assim, chegamos a uma situação que exige resposta imediata: ou cuidamos da Terra ou ela “cuidará” de nós. Dentro dos preceitos estabelecidos pela evolução biológica básica, apenas os aptos se adaptam e sobrevivem. Não quero ser fatalista, mas tenho que ser, porque me parece muito simples, com ou sem teoria da conspiração, a espécie humana necessita se adaptar às condições impostas pelo ambiente planetário ou a extinção será o caminho natural e prematuro de nossa espécie.
O que está errado e necessita ser repensado é o modelo de como a humanidade deveria ter caminhado e deverá estar caminhando doravante. Considerando que agora não estamos mais na fase do que poderá acontecer, pois já aconteceu e estamos presenciando a calamidade criada. O incêndio já aconteceu e está difícil de apagar. O leite já foi derramado e não há como retorná-lo ao recipiente. Daqui para frente, a solução é fazer diferente, para tentar não derramar mais leite. Isso será bom para o planeta e certamente será muito melhor para a humanidade.
As doenças, inclusive muitas viroses, além das últimas de origem chinesa, sempre existiram e obviamente vão continuar existindo, porque isso também faz parte do metabolismo planetário, porém, doravante, a humanidade pode, deve e tem que trabalhar na direção de minimizar essas grandes epidemias (pandemias) e não na direção contrária como vinha fazendo, dando de ombros para esses problemas, ou tratando-os como se fossem questões secundárias ou menos importantes ainda.
A prevenção e o cuidado têm que ser as palavras de ordem na relação Homem-Terra. O célebre chavão que diz: “quem ama cuida”, agora tem que ser regra oficial na nova postura para a “Nova Era” planetária. Tratar o planeta como a nossa casa não é mais uma questão apenas religiosa, mas sim uma necessidade premente, que precisa ser encarada pelos países e suas nações.
O ambiente planetário tem que ser respeitado e as ações humanas têm que ser limitadas àquilo que é estritamente necessário à sobrevivência das pessoas. O consumismo exacerbado que se estabeleceu tem que ter fim. A exploração mineral, animal e vegetal insana e inconsequente, tem que acabar. O uso indiscriminado e absurdo de agrotóxicos tem que ser inviabilizado. A queima de combustíveis fósseis tem que decrescer. Para que essas coisas efetivamente ocorram, o crescimento populacional humana precisa ser contido, o desenvolvimento econômico tem que ser limitado, minimizado ou mesmo extinto em alguns locais. A verdade é que, não dá mais para tapar o sol com a peneira.
Eu quero deixar claro também, que não se trata aqui de discutir sistemas e regimes de governo ou posições ideológicas dessa ou daquela facção. Na verdade o que todos precisamos é entender o planeta como fonte única de tudo que a humanidade necessita e usa cotidianamente. Depois desse entendimento efetivo, temos que passar a garantir que essa fonte terrestre seja usada e mantida, sem comprometimento dos demais organismos e dos próprios seres humanos, principalmente daqueles que ainda não nasceram.
É evidente que se continuarmos no nível frenético de apropriação e degradação que tivemos até aqui, talvez os futuros seres humanos, nem cheguem a nascer. Basta! Está na hora, ou melhor, já passou da hora de parar de usar inconsequentemente os recursos naturais. O COVID-19 parece ser o aviso planetário derradeiro para que o homem se manifeste pela vida e não pela morte. A mensagem atual é muito simples: “a humanidade tem que cuidar da Terra, para que a Terra possa continuar abrigando e mantendo o homem”.
Não existe nenhum segredo e nenhuma dificuldade. O respeito ao planeta, seus limites e as formas vivas nele contidas é a grande sacada e agora a humanidade não pode dizer que não sabe disso. Não se trata mais do armagedom ou qualquer teorias sobre o fim do mundo, agora é a realidade, ou cuidamos da Terra ou ela irá dar conta de nossa espécie, até porque nós é quem dependemos dela.
A Ciência e os cientistas estão avisando faz muito tempo. A Terra está urrando faz muito tempo. A humanidade estava cega ou não queria enxergar o óbvio faz muito tempo e assim, continuou preferindo pagar para ver. Bom, agora, eu acredito que a humanidade não está gostando do que, infelizmente, está vendo. O mundo está assustado e parado por conta de uma porcariazinha de um medíocre e diminuto vírus. Meus amigos, se um vírus pode parar o mundo, o ser humano certamente também pode parar, basta apenas querer, de fato, e partir para fazer diferente do que sempre fez.
Novas práticas, cuidado e prevenção, como já foi dito, devem ser a tônica para o futuro, ou então, quem sabe um novo vírus mais perigoso, ou algo maior e muito mais significativo definirá grotesca e compulsoriamente o fim de nossa espécie. O planeta vai continuar sua viagem e a vida vai se modificar um pouco, mas vai continuar. Historicamente nós invertemos a ordem das coisas: o ser humano não faz falta ao planeta, o planeta é quem faz falta ao ser humano. Como o ser humano desprezou o planeta, ele está prestes a deixar de existir e, pior ainda, levará algumas outras formas vivas na sua sombra.
A Evolução Biológica levou bilhões de anos para permitir a formação dos seres humanos e nos trazer até esse momento histórico, e nós com apenas, cerca de 200 mil anos de idade, “estamos querendo” acabar com o trabalho da evolução biológica. Temos trabalhado antagonicamente à Evolução, pois ele nos diz um caminho e traçamos, deliberadamente, outro. Temos contrariado a criação natural e destruído o planeta que sempre nos forneceu tudo, absolutamente tudo. Existe algo errado com nossa espécie!
Assim, o planeta parece que não aguenta mais o ser humano, portanto CUIDADO. O COVID-19 parece ser o aviso final. Tenho medo que daqui para frente não haja mais avisos e sim ações efetivas. Estamos todos na mesma nave espacial e todos perecemos, inclusive o piloto. Pensem nisso autoridades. Pensem nisso países. Pensem nisso pessoas.
Referências Bibliográficas
CRUTZEN, P. J. & STOERMER, E. F. The ‘Anthropocene’, Global Change Newsletter. 41: 17–18, 2000.
KEMP, D. New Age: A Guide: Alternative spiritualties from Aquarian Conspiracy to next age, Edinburgh, Edinburgh University Press, 2004
LATOUCHE, S. Pari de la décroissance, Paris, Editions Fayard, 2006.
Caçapava, 05/04/2020
Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)
13/04/2020
Sensacional 👏👏👏👏👏👏
15/04/2020
Minha querida Claudete, muito obrigado pela leitura e pela consideração. Um grande abraço.
17/04/2020
Boa noite, o que mais tenho feito é refletir sobre a vida e nosso planeta,depois que tudo isso.passar,que sejamos melhores em todos os sentidos🙏
18/04/2020
É exatamente isso que todos esperamos. Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
13/04/2020
Esse artigo conseguiu traduzir tudo o que tenho pensado!!! Acho que sofri forte influência de meu mestre!
Obrigada Prof Luiz Eduardo.
15/04/2020
Minha cara Adriana, fico contente que possa ter influenciado meus alunos de alguma maneira, porém o mais importante é quando as coisas que eu escrevo, independente de qualquer influência, são lidas, discutidas e aprovadas pelos meus alunos e por muita gente. Esse artigo realmente bombou, já são mais de 3000 leituras em menos de 5 dias. Estou realmente muito contente com o resultado. Bem, valeu. Muito obrigado pela leitura e pelo comentário. Se puder divulgue, esse e outros artigos. Um grande abraço.