O CAPITALISMO É RUIM, MAS O QUE É VERDADEIRAMENTE BOM?
Resumo: Nesse artigo está proposta uma reflexão séria e sóbria a respeito da crítica que é feita ao Capitalismo como principal causador da Degradação Ambiental Planetária. Talvez o problema não seja o Sistema Político e Econômico do país, mas sim as pessoas que nele habitam, mormente os dirigentes, os quais, independente de ideologia política, agem como se não entendessem que as questões ambientais são globais e pouco se importam com os problemas relacionadas com o Meio Ambiente Planetário.
A crítica ao capitalismo como sendo o maior causador dos problemas ambientais que degradam o planeta, exaurindo de maneira constante e significativa os recursos naturais, e que também ameaçam realmente extinguir a humanidade pela carência progressiva desses mesmos recursos, realmente parece ser verdadeira. Essa crítica, de fato, faz bastante sentido, principalmente se considerarmos que o uso dos recursos naturais nesse tipo de sistema político acaba sendo bastante agressivo, indiscriminado, progressivo e sobre tudo, esbanjador e aviltante. Quer dizer, as atitudes do capitalismo não medem as possíveis consequências do uso exacerbado dos recursos naturais e deste modo, o capitalismo é sim um grande comprometedor das questões ambientais.
Entretanto, sem querer defender diretamente o capitalismo em si, mas apenas fazendo uma reflexão, que considero oportuna, eu quero questionar outros dois aspectos, que geralmente são deixados de lado, quando se exerce uma crítica efetiva ao modelo capitalista. Primeiramente, é preciso que se encare o fato de que o capitalismo é exercido por pessoas e se algo errado acontece é porque as pessoas que atuam diretamente no sistema, principalmente aquelas comandam as atitudes, permitem que os erros aconteçam.
Segundo, será que aqueles países que possuem outro sistema político-econômico (socialismo) também não causam os mesmos danos ambientais significativos? Bem, se a resposta à essa pergunta for sim, isto é, se os problemas ambientais também ocorrem nos países socialistas, então é porque o capitalismo em si, não é o único culpado, como tem sido sugerido por alguns. Aliás, problemas ambientais em países socialistas, não são apenas fatos reais, mas efetivamente são fatos costumeiros,
Na verdade, o que acontece nos países não capitalistas e que pode ser claramente observado, acaba sendo bastante pior, porque, se o dano ambiental efetivo algumas vezes pode até ser menos intenso, por outro lado, o dano à coletividade tem sido muito mais significativo e destruidor. O dano produzido pelo socialismo costuma atingir o ser humano mais diretamente, haja vista que nos países socialistas alguns indivíduos, que detém o poder, podem utilizar tudo a bel prazer e os demais vivem às mínguas. Se o socialismo em tese (teoria) é bom e talvez até seja mesmo, na prática, ele tem se demonstrado mais degradante aos seres humanos que o capitalismo. Além do fato, de que esse sistema também não respeita os interesses planetários, se os “donos do poder” assim desejarem.
É bom lembrar que, as poucas experiências que tem dado resultado positivo tanto ambiental, quanto social e economicamente, tem acontecido em países capitalistas que têm promovido práticas ambientais trabalhadas, corretas e embasadas principalmente na agroecologia no setor primário, o uso racional dos recursos pela indústria no setor secundário, além de muita responsabilidade e parcimônia, através de consumo consciente no setor terciário. As principais “nações verdes” do planeta estão países que vivem no capitalismo. Países como Noruega, Canadá, Dinamarca, Suécia, Suíça, Austrália, Islândia, Nova Zelândia, Holanda, Singapura e vários outros sempre aparecem entre os primeiros quando são avaliados os índices de sustentabilidade, de qualidade de vida e o próprio IDH (Índice e Desenvolvimento Humano).
Caramba! Será mesmo que o capitalismo por si só é tão ruim assim? É óbvio que não. Aliás, isso demonstra mais claramente que é possível conciliar o capitalismo como o meio ambiente e com os interesses das comunidades. O que ainda não é possível é condicionar todos os seres humanos a ter sensibilidade socioambiental e coerência nas suas atitudes. Assim, de uma maneira geral, muitos seres humanos ficam nessa discussão inócua entre o ruim e o pior e nada muda, ou seja, a desgraça só aumenta dos dois lados e o planeta sofre do mesmo jeito.
O que estou querendo dizer é o seguinte: a culpa não é dos sistema político-econômico, pois parece mesmo que ambos tem se demonstrado, na prática, que são igualmente ruins na maioria das vezes. Ao que parece a culpa é da sociedade, do comportamento social dos seres humanos em relação ao planeta e a própria humanidade. O problema é o “bicho-homem”, com seu egoísmo, sua ganância, sua irresponsabilidade e sua sede insaciável de poder.
Como disse Rousseau: “o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. Mas essa ideia precisa de reparos: para mim, o homem nasce neutro e o sistema social educa ou realça seus instintos, liberta seu psiquismo ou aprisiona. E normalmente o aprisiona.” E Rousseau disse também; “A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”. Creio que Rousseau esteja certo, pois o problema está no valor econômico e social que cada povo dá a condição natural ou mesmo artificial da terra.
Se a terra é tratada como um produto, seja privado ou público, ela passa a ter também valor econômico e aí começam a surgir os problemas que vão derivar na sua destruição progressiva, porque os interesses econômicos acabam sendo sempre maiores e mais interessantes ao olhar humano do que os interesses meramente ecológicos (naturais). Se a terra não serve para nada vamos modificá-la, se ele serve para alguma coisa vamos utilizá-la diretamente. A terra é sempre um produto de uso do humano e o resultado é sempre degradação, porque não se pensa em sustentabilidade, mas sim em produção maior sempre, independente do sistema econômico.
Pois então, enquanto estivermos presos e estagnados ideologicamente em modelos teóricos, baseados em sociedades insustentáveis, sempre estaremos aprisionados e acreditando que o outro, seja quem ou o que for esse outro, está errado, pois o nosso modelo é o “ideal” (perfeito). Quero lembrar que o ideal social, pode e deve ser desejável, mas nem sempre é factível. E quando consegue ser factível, costuma apresentar progressivamente seus erros e suas indesejabilidades.
Acredito que não exista modelo teórico perfeito, sendo desenvolvido por seres humanos, simplesmente porque somos seres humanos e naturalmente erramos. Somos realmente maravilhosos, mas somos imperfeitos. Entretanto, certamente existem práticas funcionais melhores e mais bem adaptadas, cujos resultados são benéficos ao planeta. O comportamento humano é que precisa ser pensado e trabalhado numa ética mais fraterna, precisamos pensar mais como humanidade e menos como indivíduo, para poder ampliar os resultados sociais benéficos, independentemente do modelo teórico de sistema político-econômico. Entretanto, será que estamos realmente dispostos a isso?
Há necessidade urgente de que paremos de culpar uns aos outros, porque todos nós, independentemente da Filosofia política, administrativa e econômica que defendemos, somos responsáveis pelo dano ambiental planetário. Não existe o outro, porque a humanidade somos todos nós e se existem culpados, somos todos nós, que não observamos o óbvio. Antes de questionarmos a política, temos que nos questionarmos como pessoas (seres humanos), principalmente aquelas que administram qualquer coisa em qualquer modelo político-econômico.
Capitalistas destroem pelo excesso de consumo dos recursos naturais e socialistas destroem pela privação dos direitos sociais, quando cria um estado forte que inibe liberdades individuais, mas permite abusos aos amigos. A maioria de nós, que não está diretamente envolvida em nenhum dos dois lados e que quer apenas o direito de viver, é que acaba sofrendo a carga maior do dano socioambiental. Por várias razões a maior parte dos seres humanos, que está no meio do fogo cruzado, é a que mais sente as ações indevidas das duas maneiras básicas da economia.
A questão está exatamente aí. Ao invés de ficarmos discutindo eternamente entre o ruim e o pior, por que não nos juntamos, sem paixões e sem interesses, para tentar impor a todos um sentimento fraterno e equânime, objetivando fazer as coisas mais certas, num interesse coletivo maior, que poderá garantir sustentabilidade e vida futura à humanidade?
É exatamente nesse instante, que aparecem alguns idiotas, que se assumem como “salvadores da pátria” e “donos do saber”, para defender interesses escusos e falar besteiras e mais besteiras, para manter o status quo. Esses são os verdadeiros inimigos da humanidade, aqueles que apregoam sempre a mesma coisa, sem tentar uma mediação fraterna e efetiva.
Na verdade esses sujeitos não querem mudar nada. O que eles querem é o poder absoluto. Isto é, eles querem “a bola no pé deles”, para brincar um pouco mais e se for possível brincar sempre e o restante da humanidade que se dane. O capitalismo e o socialismo são “bodes expiatórios” do mau-caratismo desses embusteiros que só querem se dar bem e que quando têm o poder fazem exatamente aquilo que criticam nos demais.
A maioria calada e submissa dos seres humanos precisa acordar e passar a exigir que, independentemente do sistema político-econômico, a humanidade necessita estar vivendo bem hoje para garantir que continuará vivendo bem amanhã. A vida é o que realmente importa e para garantir a vida é fundamental respeitar o planeta e os recursos que ele nos fornece. Essa é a boa prática que se faz necessária. É óbvio que viver envolve em consumir, mas é necessário consumir de maneira que se respeite o direito do outro consumir também.
É bom que fique esclarecido que outro aqui, não é somente o outro humano, mas é qualquer organismo vivo planetário atual e futuro. Todos os organismos vivos têm o mesmo direito de usar e consumir os recursos naturais que lhes sejam necessários para se manterem vivos, ao longo de suas caminhadas evolutivas pela Terra. Ainda que para nós, os seres humanos sejam os mais importantes, eles não são, de maneira nenhuma, os “donos do planeta” e têm que entender que estão sujeitos às mesmas obrigações e vicissitudes que os demais organismos vivos e que, por isso mesmo, devem ter os mesmíssimos direitos que os outros.
Aliás, nós, que nos intitulamos racionais, talvez sejamos os únicos que somos capazes de entender realmente a limitação do planeta e de seus recursos naturais. Assim, temos a obrigação moral de entender e a nossa responsabilidade maior, fazendo cumprir essa nossa pretensa “superioridade”, em relação às demais espécies vivas da Terra. Sempre é bom lembrar que embora sejamos seres humanos, também somos seres orgânicos e sujeitos às mesmas dependências fisiológicas e afeitos aos mesmos fenômenos que qualquer coisa viva.
A única diferença é que nós temos certeza de que temos consciência disso. Talvez as outras formas vivas não tenham essa mesma consciência e esse fato só aumenta o grau da nossa responsabilidade com as demais espécies. Enquanto continuarmos colocando a culpa no sistema político-econômico, estamos deixando de lado a nossa responsabilidade planetária e seguimos deliberadamente acabando com os recursos naturais e extinguindo espécies planetárias, inclusive com a possibilidade real e efetiva de anteciparmos a nossa própria extinção.
Muitas pessoas usam a expressão desigualdade social como se fosse uma culpa exclusiva do capitalismo. E eu pergunto: Será que existe desigualdade social em Cuba, na China, no Vietnã, na Coréia do Norte ou em Laos? Nesses países quem é pobre, certamente está fadado a continuar sendo pobre e quem é rico pode e vai continuar sendo rico. Nada vai mudar, a não ser que se mude o sistema.
No capitalismo, pelo menos, existe uma chance do rico ficar mais rico ou cair e do pobre ficar mais pobre ou subir. É claro que a chances do pobre subir são contingencialmente menores, mas isso não é uma impossibilidade no sistema. No socialismo só os poderosos podem brincar com a bola e no capitalismo existe possibilidade, ainda que remota, dos pobres também brincarem. Infelizmente, a igualdade social proposta no socialismo é apenas para os pobres, que têm que se contentar em serem pobres e agradecer por estarem vivos.
Quer dizer, no fim das quantas, como eu disse lá em cima. O problema não é do sistema e sim do homem e de seu fascínio e interesse pelo poder. Nós podemos e devemos acreditar no que quisermos, porque isso é salutar e faz bem ao intelecto humano, mas nós não podemos nos iludir de que existe sistema bom e sistema ruim. O homem bom funciona nos dois sistemas e o homem ruim não funciona em nenhum dos dois. Essa é a grande verdade. O triste é que os homens verdadeiramente bons são difíceis de serem encontrados nas sociedades humanas egocêntricas e impregnadas de vícios maléficos.
É simples resolver a questão, independentemente do sistema, basta que tenhamos homens com propostas que sejam, antes de qualquer coisa, favoráveis à vida e ao planeta. Por exemplo, se a humanidade parar de pensar dessa maneira absurda de querer manter crescimento econômico ilimitado num planeta limitado e se parar de continuar aumentando a população humana indefinidamente, grande parte dos problemas já estarão sendo resolvidos.
É claro que existem várias outras questões que podem serem consideradas, como redução do uso de agrotóxicos, redução de emissões de carbono, ampliação das áreas de reflorestamentos e recuperação de áreas degradadas, maior investimentos em energias limpas. Entretanto, apenas com os dois exemplos acima, em qualquer modelo de sistema político-econômico, já teremos condições de respeitar mais significativamente o ambiente planetário e de começar a garantir recursos naturais para todos. Deste modo, certamente poderemos viver melhor, sobrevivendo muito bem e garantindo a vida futura da humanidade, inclusive com a recuperação progressiva do planeta.
Meus amigos, qualquer coisa diferente disso é balela, panaceia e idiotice ou então é cretinagem e picaretice. E, por favor, tomem cuidado, porque nós podemos estar sendo usados como massa de manobra dos que dirigem essa situação ideológica absurda e vexatória ou estão estar sendo hipócritas com a realidade imperante. Porque, na maioria das vezes, muitos de nós, só temos achado que é ruim e reclamado, dessa ou daquela posição ideoloógica, enquanto não é a gente mesmo que promove o absurdo.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)