DIA 15 DE OUTUBRO DE 2020: UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA
Resumo: O texto tem o objetivo de homenagear os Professores na passagem de mais um 15 de outubro (“Dia do Professor”), além de reconhecer e enaltecer o trabalho especial desenvolvido por esses profissionais ao longo desse período de Pandemia. Em que pese a má vontade de alguns administradores públicos e de setores da imprensa, os professores produziram um verdadeiro espetáculo de improvisação, criatividade e profissionalismo, para garantir o funcionamento das escolas e a continuidade das aulas, nesse momento conturbado que o país e o mundo estão passando.
Quando o ano de 2020 começou, pelo menos aqui no Brasil, ninguém imaginava o que ainda estava por acontecer, nesse ano atípico. O início do ano foi normalíssimo e transcorreu dentro do que se espera comumente, com as festas de ano novo e as férias de verão da maioria das pessoas, durante o mês de janeiro. Passada a normalidade festeira e festiva do mês de janeiro, começou fevereiro e como sempre o carnaval foi o destaque nacional e ele também aconteceu normalmente, embora já se ouvisse falar, ao longe (“bem longe”), sobre um vírus oriundo da China que poderia trazer consequências mundiais desagradáveis. Porém, como estamos a quase 17.000 Km da China, por vários aspectos, esse vírus não deveria para nos preocupar, ao menos naquele momento e o carnaval transcorreu festivo como sempre.
Logo após ao carnaval, as aulas começaram nas escolas, em todos os níveis de ensino. E foi aí que o bochicho sobre o vírus chinês começou a crescer, inicialmente o problema já estava sério lá pela Europa. A distância agora era de apenas 1/3 da citada anteriormente, pois estava em cerca de 6.500 e não mais os 17.000 Km de distância iniciais, mas, ainda assim, tudo seguia aparentemente dentro da normalidade aqui no Brasil. Até que, no início da terceira semana de março (do dia 15 ao 21), precisamente no dia 17 de março (terça-feira), tudo mudou da água para o vinho ou se preferirem, da certeza de que o ano seria apenas mais um, igual a tantos outros já vividos, para o estranho, perigoso e assustador ano de 2020, que estamos vivendo.
De repente, foi decretada uma parada geral e estabelecida uma quarentena no país. Todos tinham que ficar em casa, porque a doença, denominada COVID 19, que é causada pelo Corona vírus, SARS-CoV-2, já estava por aqui e embora ela tivesse baixa taxa de letalidade, por outro lado, o vírus possuía grande poder de transmissibilidade. Assim, se não houvesse cuidado, muita gente seria contaminada ao mesmo tempo e os setores de saúde não teriam, o suporte físico e estrutural, para resolver todas as questões e o caos seria instalado no país. A recomendação foi ficar todo mundo em casa isolado, esperando que o pico da pandemia passasse.
O setor da Educação é o que envolve o maior número de pessoas no país, com mais de 25% da população. São mais de 50 milhões de estudantes, quase 3 milhões de professores e mais de 1 milhão de funcionários. Isso diretamente, mas se considerarmos, os gestores, os transportadores, os fornecedores de alimentos, os administradores de cantinas, os geradores de matériais didáticos e vários outros, certamente esse número chegará a quase 40% da população brasileira, ou seja, mais de 80 milhões de brasileiros, a grande maioria jovens.
De repente tudo parou e obviamente a educação, com os já citados, quase 80 milhões de pessoas envolvidas nesse setor, tendo que parar também. As aulas foram suspensas em todos os níveis de ensino. E agora o que e como fazer? Não vou me ater aos demais 130 milhões de brasileiros, mas quero falar desses 80 milhões que vivem direta ou indiretamente na dependência da educação nesse país. Em especial vou me referir aos 3 milhões de professores desse país.
Bem, na fatídica semana de 15 a 21 de março de 2020, que foi a mais conturbada que já presenciei do alto dos meus 64 anos, mais de 60 deles dentro de escolas. Desde então, houve de tudo que se possa imaginar de problemas nas escolas. E agora? Como vai ser? O que vai acontecer? Como deixar mais de 40 milhões de crianças e jovens em casa sem atividade? É interessante, mas como um passe de mágica, já na semana seguinte, praticamente tudo já estava relativamente solucionado e muitas escolas já estavam definindo e trabalhando numa nova rotina, porque os professores não perderam tempo e sabiam muito bem de suas respectivas responsabilidades.
Aulas remotas, aulas virtuais e pesquisas na INTERNET, rapidamente saíram da cartola, porque a educação não pode parar. O profissional do Ensino, o PROFESSOR, tal qual um camaleão, teve que se travestir, se mascarar, se camuflar e se adaptar às novas necessidades imperantes. E assim, um novo modelo de escola e de ensino começou a surgir e seguiu até o final do Primeiro Bimestre Letivo, porque ainda havia esperança de que a “coisa” fosse passar depressa. No entanto, a crise se agravou e o país, entrou por inteiro dentro dela. Ou seja, a “coisa” não passou e houve necessidade de se manter o padrão diferenciado das aulas.
Veio o Segundo Bimestre Letivo e a situação continuou se agravando e ainda no final do primeiro semestre o Ministério decidiu que as aulas continuariam remotas, também para o Segundo Semestre Letivo (a portaria estabelecida foi obrigatória somente para as Instituições de Ensino Superior). Em julho houve férias dos professores, mas em agosto a situação permaneceu a mesma e assim está transcorrendo o ano letivo de 2020 até agora. As escolas estão vazias, mas as aulas, os professores e os alunos, salvo aquela semana de março, NUNCA PARARAM e estão em plena atividade.
Estamos em outubro e somente agora, é que algumas escolas e alguns setores escolares estão começando a voltar à condição anterior àquela que se estabeleceu em março. Mas, mesmo assim, essa é uma condição provisória, porque a situação ainda é bastante preocupante e, de repente tudo pode retornar. De qualquer maneira, as Instituições de Ensino Superior e a maioria das escolas de Ensino Fundamental, vai continuar funcionando remotamente até o fim do ano.
A separação, o isolamento, o afastamento do convívio social, enfim o confinamento produzido pela quarentena não conseguiu parar as escolas e sua importância para a sociedade, embora tenha mudado notoriamente suas aparências. As escolas viraram espaços imensos sem pessoas, prédios vazios, grandes desertos arquitetônicos. De repente, se descobriu que a escola não tem que ser necessariamente um prédio cheio de pessoas. Muito embora a socialização das pessoas também seja parte importantíssima do processo educacional e obviamente a escola também tem que se ligar nessa questão. Entretanto, esse aspecto foge ao propósito desse texto.
Com o prosseguimento da mudança dessas aulas diferentes do padrão que estava até então estabelecido, ou seja, com as aulas presenciais passando a ser aulas remotas e virtuais, iniciou-se uma nova realidade nas escolas. Os professores tiveram que, literalmente, se virar e aprender muito além de suas especialidades e habilidades. Os eletrônicos passaram a ser importantes ferramentas de ensino e bem naquela situação do ditado que diz: “a condição faz o ladrão”, o computador, o “tablete” e o celular (antes tão discutido sobre seu uso nas escolas), passaram a ser ferramentas obrigatórias da educação e do processo ensino-aprendizagem.
Mas, não foi tão simples assim, porque essa necessidade dos eletrônicos e da informática, gerou outros tipos de problemas, que tiveram que ser superados e que ainda não foram totalmente resolvidos. Além da grande quantidade de analfabetos e semianalfabetos digitais e dos muitos carente de conhecimentos de informática do país, também existe uma questão socioeconômica real nessa situação, haja vista que nem todos, tanto as escolas, quanto os alunos e os professores, tinham possibilidade de acesso e de aquisição dessas ferramentas.
Vejam bem, a situação era bastante complicada e a dificuldade era tríplice: não possuir o equipamento, não saber usar o equipamento a contento e transformar o uso mal visto do equipamento em algo útil, importante e necessário ao ensino. Mas, ainda assim, o resultado foi (está sendo) muito bom. Muitos professores e eu me incluo nesse grupo, teve e continua tendo, muita dificuldade, mas não houve esmorecimento e todos continuaram trabalhando, um ajudando ao outro naquilo que era possível. Tudo isso, porque os professores sabem que o aluno, as aulas, a escola e a educação são as coisas efetivamente mais importantes, pois só elas podem mudar esse país e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Meus amigos, depois de toda essa exposição, eu quero dizer o seguinte: nesse dia 15 de outubro de 2020, em que se comemora mais um DIA DO PROFESSOR, é muito simples. Quero lembrar desse verdadeiro Herói Nacional, que apesar das divergências políticas, num ano complicado, foi à luta e se virou em adquirir ou em arrumar o material para trabalhar, estudou e está estudando e aprendendo sobre coisas que nada tem a ver com sua formação e muito menos com sua disciplina de interesse didático-pedagógico. Professor, parabéns. Quero que esse dia seja, de fato, um dia bastante especial na sua vida.
O professor fez e está fazendo isso tudo, porque ele acredita e sabe que a educação precisa ter continuidade e embora o país tivesse parado a educação tinha que seguir seu rumo, como se tudo continuasse igual aos anos anteriores. O professor, esse profissional camaleão, mostrou que que sua função é insubstituível, que seu valor é indiscutível e que sua responsabilidade com a nação brasileira está muito acima da miséria de salário que lhe pagam na maioria das vezes. Aliás, cabe lembrar que a maioria dos professores está, de fato, trabalhando muito, alguns além da própria capacidade física. Mas por que isso?
Porque os professores sabem que sem educação não há solução e agora esperam que as autoridades, os poderes constituídos do país, e a sociedade como um todo entendam de uma vez por todas que sem professor não há educação e que sem educação não há nada. Não fosse o professor esse sujeito especial e esse país do absurdo e das maracutaias também estaria efetivamente fadado a ser o país da desgraça e da ignorância. Graças a Deus, que a maioria dos professores é constituída de pessoas do bem.
O país quase todo de quarentena e o Professor trabalhando mais e recebendo menos pelo seu trabalho. Trabalhando mais, porque teve que correr para tentar aprender novas técnicas e usar novos aparelhos eletrônicos para desenvolver seu ofício e recebendo menos porque por decreto todos os trabalhadores do país, inclusive os professores, tiveram seus salários diminuídos. Só houve exceção para os administradores e políticos safados e picaretas desse país, muitos dos quais quase nunca trabalham, nem mesmo em tempos de normalidade. Porém, os professores que trabalharam (estão trabalhando) muito mais, que foram além, assim como o pessoal da saúde, não fizeram parte das exceções e tiveram seus salários reduzidos.
E agora, quais as perspectivas para o final de 2020 e para 2021? Infelizmente nós não sabemos ainda o que irá e como irá acontecer. Entretanto, temos certeza de que os professores já estão preparados e se novas mudanças se fizerem necessárias, certamente os professores, como soldados em guerra, estarão na linha de frente e outra vez se reinventarão ou se camuflarão para defender a educação desse país.
O que mais dizer de pessoas e de profissionais dessa ética, desse quilate e desse grau de nacionalismo? Quero crer que devo apenas pedir aplausos e reconhecimento pelo trabalho essencial, preponderante e necessário de quem tenta manter uma sociedade mais justa e sobretudo as pessoas intelectualmente mais capazes de discernir, que o Brasil pode e deve ser o maior país da Terra e que o caminho para isso é a educação de seu povo.
Feliz Dia dos Professores e meus efusivos parabéns a todos aqueles que estão tentando ajudar a construir cotidianamente a melhora da educação desse país, independentemente de qualquer calamidade, pandemia, ou mesmo de qualquer governante irresponsável ou profissional de mídia mentiroso que usam seus trabalhos como forma de enganar a população, alguns até levianamente dizendo absurdos do tipo: “os professores estão recebendo sem trabalhar”. Pois então, esses picaretas deveriam ter vergonha na cara e trabalhar mais pelo país, ao invés de emitir opinião sobre aquilo que desconhecem.
Mais uma vez, PARABÉNS COLEGAS PROFESSORES pelo nosso dia e por todos os dias, em que somos capazes de exercer a nossa profissão e cumprir o nosso compromisso profissional com a educação desse país, independentemente do que dizem e pensam alguns idiotas que estão por aí.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)
16/10/2020
Luiz Eduardo,
Muito bom o seu texto! Realmente, estamos sempre nos reinventando para cumprir com êxito esta nobre profissão que escolhemos. Isso mesmo, ESCOLHEMOS, ao contrário do que muitos pensam que foi por falta de opção.
É uma honra ser colega de trabalho de um amigo de longa data do meu pai.
Parabéns!!!
16/10/2020
Minha querida Luísa,que bom que você gostou. Não ministrei aulas para você, mas ministrei para seus irmãos, com quem, por isso mesmo, sempre tive mais contato. Embora eu esteja quase sempre com seu pai, não tinha conhecimento de que você também é professora. Fico muito contente em saber e aproveito para informar que no meu site existem vários outros artigos sobre Educação e Ensino, que escrevi e publiquei e que talvez alguns deles possam lhe interessar.
Muito obrigado por seu comentário e pela sua consideração.
Um grande abraço.
Luiz Eduardo