As Doenças e o Meio Ambiente
Resumo: O texto faz referências aos tipos e as causas fundamentais de doenças e relaciona a questão do aumento acentuado do número de doenças nos últimos tempos diretamente com a Degradação Ambiental Planetária. O aparecimento de “novas doenças” é uma das muitas consequências oriundas dos desequilíbrios ambientais ocasionados pelas ações produzidas pela Humanidade ao Planeta Terra.
No que diz respeito às moléstias e doenças humanas, é possível afirmar que se excetuarmos as doenças genéticas (hereditárias), as doenças congênitas e umas poucas doenças degenerativas e metabólicas, além dos traumatismos e dos acidentes, todas as demais doenças conhecidas e muitas ainda não conhecidas, podem ser consideradas como diretamente ligadas ao Meio Ambiente, isto é, são devidas às questões ambientais. Isto acontece, porque a maioria das doenças está relacionada com agentes externos infecciosos (micro ou macrorganismos) que se veiculam para dentro dos organismos humanos, parasitando esses organismos, causando complicações e produzindo modificações metabólicas que se estabelecem alterando a condição de normalidade orgânica.
Porém, nem sempre a contaminação se dá por conta direta de outros organismos vivos e muitas doenças são oriundas de contaminação química ou de influências de ação física. De maneira geral, as doenças mais comuns estão relacionadas com as interferências que ocorrem no ambiente físico, tanto as causadas por agentes biológicos, quanto por componentes químicos. Assim, os meios físicos: a água, o ar e o solo, constituem os principais meios de contaminação e propagação das doenças de origem biológica e de muitos dos componentes químicos maléficos. As formas de contágio e de contaminação são bastante diversificadas.
No que tange a contaminação biológica, alguns dos organismos causadores de doenças são ingeridos de alguma maneira natural. Outros penetram no corpo humano diretamente do ambiente por ação própria ou por mecanismos dinâmicos do próprio ambiente. Outros ainda podem ser eliminados a partir de líquidos internos e resíduos oriundos de outros indivíduos contaminados (humanos ou não humanos) e que assim contaminam outros seres humanos, causando moléstias e doenças.
Muitas dessas doenças também são veiculadas, causadas e disseminadas por agentes biológicos, os denominados parasitas, como as viroses (causadas por vírus), as bacterioses (causadas por bactérias), as protozooses (causadas por protozoários), as micoses (causadas por fungos) e as verminoses (causadas por vermes). Além disso, também existem algumas doenças causadas a partir da ação efetiva e direta de outros organismos, como as picadas de animais peçonhentos ou ainda as mordeduras e até mesmo a veiculação de toxinas e substâncias contaminantes através de simples contato físico.
Muitos dos agentes biológicos causadores de doenças estão presentes em vários tipos diferentes de organismos, sem causar nenhum mal a eles. Esses organismos que vivem e dependem de outros sem causar doenças, às vezes são chamados de simbiontes (mutualistas), quando trocam benefícios com os hospedeiros. Outras vezes são chamados de comensais, quando apenas não prejudicam os hospedeiros. Entretanto, esse mesmo organismo que não faz mal para determinado ser vivo, numa determinada situação, poderá produzir doenças em outras situações ou poderá fazer mal a outro organismo.
Enfim, sempre é bom lembrar que nada é absoluto na natureza e, particularmente, no que se refere aos organismos vivos, tudo pode acontecer, principalmente no que diz respeito aos mecanismos de contaminação. É exatamente por conta desse fato que novas doenças infecciosas têm surgido nos seres humanos, por exemplo. O microrganismo vivo que estava num determinado animal, sem causar nenhum mal, mas por algum motivo, conseguiu passar para o homem e causou uma doença. Foi assim que aconteceu com inúmeras doenças, como a AIDS na década de 1980, com a gripe suína recentemente e agora com a COVID-19.
Por outro lado, é preciso entender que todos os tipos de doenças e moléstias que podem existir não são exclusividade dos seres humanos, ou dos animais domésticos ou dos Vertebrados. Doenças podem ocorrer e ocorrem em quaisquer organismos vivos, tanto em microrganismos, quanto em plantas ou em quaisquer animais. A manifestação das diferentes doenças se dá da mesma maneira em quaisquer das formas vivas, isto é, por contaminação direta ou veiculada pelo ambiente ou por outros organismos. Quer dizer o mundo vivo está naturalmente repleto de doenças e todas elas, de alguma maneira podem produzir traumas imediatos, sequelas temporais ou perenes e até mesmo a morte dos seus portadores.
Outra questão que precisa ficar esclarecida é que algumas doenças que acontecem numa determinada espécie de animal podem ou não acontecer em outras espécies vivas pelas mais diversas situações, que vão desde simples adaptações comportamentais, passando por questões anatômicas, fisiológicas e chegando até mesmo às especifidades funcionais de diferentes afinidades bioquímicas. Os agentes contaminantes (químicos ou biológicos) estão naturalmente presentes no ambiente e os organismos vivos, pelos mais diversos motivos e maneiras, estão sempre tendo contato direto ou indireto com esses agentes.
A ingestão de água e de alimentos, ou mesmo a inspiração de ar atmosférico, por exemplo, são umas importantes formas de entrada de agentes infecciosos em nosso corpo e algumas doenças dos aparelhos digestório e respiratório têm aumentado quantitativa e qualitativamente na população humana exatamente por conta de contaminação química, oriunda da alimentação ou da respiração. O excesso de substâncias e componentes químicos estranhos ao ar atmosférico, à água ou adubação química e também o excesso do uso de agrotóxicos no solo ou mesmo o aumento da quantidade de alimentos transgênicos podem ser causas de algumas dessas doenças.
Entretanto, cada organismo, por mais parecido que seja de outro organismo semelhante, costuma ser metabolicamente diferente e assim, muitas doenças podem se manifestar em determinados organismos e não existirem em outros. Não há nenhuma obrigatoriedade de que algum componente necessariamente faça mal ou faça bem para esse ou para aquele organismo. Alguns organismos são natural e totalmente imunes a determinados agentes contaminantes, outros são mais ou menos resistentes e isso deve ser um fator que pode justificar a ocorrência maior ou menor de certas doenças em espécies iguais ou diferentes que habitam determinados locais.
Assim, fica bastante claro o entendimento de que as doenças estão efetivamente relacionadas às questões ambientais e que essa não é uma situação ou um acontecimento momentâneo atual, porque, na verdade, isso sempre ocorreu desta maneira na natureza. Obviamente que o desequilíbrio gradativo das condições ambientais piorou a qualidade do Meio Ambiente e isso parece ter facilitado mais à possibilidade de aquisição de velhas doenças, antes desconhecidas da humanidade e também do surgimento efetivo de novas doenças.
Se antes isso acontecia menos ou isso era menos observado anteriormente, é provavelmente porque existiam menos seres humanos no planeta e também porque o grau de contaminação ou de diferenciação resultante das modificações planetárias era muito menor. As condições planetárias estavam mais equilibradas e isso, de certa maneira, minimizava ou garantia e até controlava melhor a ocorrência das possíveis contaminações, pois havia maior uniformidade na conformação do todo nos distintos ambientes.
Deste modo, o aumento da degradação ambiental e do contato cada vez maior do homem com os animais domésticos ou silvestres, acabam sendo fatores que favorecem e consequentemente ampliam a possibilidade de doenças que antes não ocorriam ou que não eram conhecidas em seres humanos e que agora parecem progressivamente ser mais comuns, pois estão afetando mais a nossa espécie. Todas essas “novas doenças” infectocontagiosas recentes Gripe do Frango, Gripe Suína, SARS, Covid-19 e outras se desenvolveram a partir do contato do homem com os animais. Essas doenças, oriundas desses contados são chamadas genericamente de zoonoses, porque resultam exatamente da relação direta dos homens com os animais.
O aumento progressivo das zoonoses também acaba sendo uma consequência da degradação ambiental e do descuido dos seres humanos nas suas relações diretas ou indiretas com outros animais. Esses contatos precisam ser estabelecidos dentro padrões de segurança para evitar o surgimento e impedir a propagação desse tipo de doenças nos seres humanos. Algumas zoonoses se desenvolvem naturalmente, ao longo de adaptações evolutivas, mas outras, certamente são consequências imediatas das diversas ações humanas nos diferentes ecossistemas do planeta.
Em suma, a manutenção do Meio Ambiente equilibrado é sim um fator significativo para a manutenção da qualidade de vida, porque certamente minimiza a possibilidade de modificação e consequente adaptação a novas situações dos organismos potencialmente causadores de moléstias e doenças de origem biológica. Além disso, o aumento progressivo de componentes e substâncias químicas naturalmente desconhecidos, também propicia maiores possibilidades de contaminação e desenvolvimento de novas doenças de origem química.
A Humanidade precisa ser orientada para ficar ciente de que a degradação ambiental não é apenas a modificação do ambiente, mas é também uma abertura de novas possibilidades, inclusive para o estabelecimento de novos mecanismos de contaminação e geração de doenças e moléstias. Ou seja, quanto mais se polui, se destrói, se degrada e se deteriora o ambiente natural, mais se diversificam as possibilidades de doenças e moléstias na humanidade. Desta maneira, as questões relacionadas ao Meio Ambiente também precisam ser encaradas e entendidas como problemas importantes para a Saúde Pública.
Infelizmente nossa forma errada de entender o mundo observando as coisas de maneira isolada, muitas vezes nos coloca, por exemplo, as questões ambientais distantes das questões de saúde. Esse hábito de separar e pontuar questões que muitas vezes comuns, para justificar outros interesses, além de ser uma prática política errônea e lamentável, não tem nos permitido identificar muitas situações que, talvez, pudessem ser facilmente resolvidas ou, pelo menos, restringidas na origem ou ainda minimizadas depois de praticadas. Essa visão caolha da realidade tem sido uma maneira errada de traçar políticas públicas nesse país e talvez no mundo, mas isso precisa mudar.
A Humanidade precisa compreender que o planeta, embora seja um espaço grande, é limitado e dentro dessa limitação precisam ser consideradas as diferentes ações humanas que interferem nesse espaço físico, principalmente aquelas de grande abrangência, e que isso tem grande significado no que se refere a ocorrência e disseminação de doenças e moléstias. Os administradores públicos e demais propositores de políticas públicas têm que promover uma ação mais integradora das diferentes áreas sociais e incluir as modificações ambientais como fundamentais em vários aspectos das atividades humanas, principalmente na área da saúde pública.
Estamos vivendo um momento em que a natureza nos diz: “pense antes de fazer”, mas nós estamos insistindo, por um vício sociológico, em continuar fazendo sem pensar. O resultado desse fato levou o planeta ao estado extremo de degradação, onde as respostas planetárias são cada vez mais agressivas à humanidade e estão tornando nossa espécie cada vez mais vulnerável e perigosamente mais próxima de uma extinção prematura. É preciso que deixemos de lado outros interesses e que pensemos na vida em geral e na vida humana em particular e que cuidemos da restauração progressiva do planeta para garantir a manutenção de nossa espécie. Entretanto, ainda está muito difícil um consenso nessa questão e, por outro lado, o tempo está cada vez mais curto.
Enquanto ficamos, por conta de nosso egoísmo, discutindo sobre o nosso afã de poder, deixando as questões ambientais de lado e considerando apenas as preocupações políticas e econômicas que, pelo menos até aqui, não estão parecendo que vão nos levar a algo significativamente benéfico, continuamos nos suicidando coletivamente todos os dias. As moléstias e doenças vão continuar aparecendo até que nós não tenhamos mais condições de resolver as pendências e de estancar os problemas existentes.
Ainda há tempo, mas é preciso mudar de postura. Temos que ter atitudes proativas em relação à minimização e extermínio dos danos planeta e a garantia da qualidade de vida de todas as formas vivas. O respeito ao Meio Ambiente, o incremento de ações ambientais positivas e a inclusão das questões ambientais efetivas nas pautas administrativas são as melhores maneiras de vislumbrar ganhos efetivos na saúde pública e talvez a única condição de garantir a sobrevivência da espécie humana no planeta.
A nossa saída se resume a seguinte frase: “o cuidado com o Meio Ambiente tem que deixar de ser algo interessante para alguns e passar a ser algo fundamental para todos”.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)