A CONSTRUÇÃO DE UM “MUNDO MELHOR”

Resumo: Nesse texto proponho uma análise generalizada da situação atual do mundo, da humanidade e das possíveis alternativas que, de fato, nunca aparecem para solucionar as questões mais básicas. Concluo que a humanidade precisa realmente se envolver mais nas questões globais e deixar de simplesmente ouvir opiniões. Deixo um recado aos que almejam o “mundo melhor”, solicitando que se envolvam nas questões e que sejam exemplos visíveis do que querem. A Humanidade está repleta de “heróis de vitrine” e precisamos entrar no mundo real, antes que seja tarde demais.


“A palavra convence, o exemplo arrasta.”

Quando uma pessoa diz: “eu faço a minha parte pela construção de um mundo melhor”, na verdade essa pessoa está apenas tentando dizer, que faz aquilo que que ela pensa que pode ser o melhor para a sua própria concepção de mundo. Entretanto, três perguntas surgem a partir dessa situação:

1 – A concepção de “mundo melhor” dessa pessoa é, de fato, o “mundo melhor” que a maioria da humanidade deseja e que todos precisam ter?

2 – Admitindo que essa pessoa tenha, de fato, uma boa concepção de “mundo melhor”, será que o que ela efetivamente diz que faz é suficiente, dentro daquilo que poderia ser feito para a construção de um verdadeiramente “mundo melhor”.

3 – Será que a concepção de “mundo melhor” pode ser definida e concebida a partir da mente de uma única pessoa?

Quer dizer, simplesmente acreditar que se está agindo certo e procurar fazer coisas boas, não é necessariamente trabalhar para um “mundo melhor”. Talvez, isso até possa ser uma condição básica para não piorar o mundo, mas certamente não garante a melhora dele. Aliás, eu acho que dependendo de que coisas estejamos nos referindo, muitas vezes fazer essas coisas, é, tão somente, uma obrigação moral do ser humano. Na verdade, fazer coisas boas, pode livrar alguma responsabilidade pessoal, que a pessoa envolvida acredita ser benéfica (útil) à humanidade, mas será que isso é mesmo verdade? Então, eu gostaria de discutir um pouco sobre essa questão: como realmente trabalhar para um mundo melhor?

Primeiramente há de pensar se um indivíduo pode, por si só, trabalhar para um mundo melhor. Sim, me parece que ele pode, mas apenas como exemplo a ser multiplicado. Porém, se esse indivíduo se omite, naquilo em que deveria ser exemplo, certamente sua contribuição ao mundo melhor não existe. Deste modo, não adianta realizar nenhuma ação isolada e distante do grupo social. Toda ação que visa melhorar o mundo deve ser divulgada, pois, do contrário, o mundo não toma conhecimento e assim, não pode se conscientizar daquilo que não conhece.   

Por outro lado, vários indivíduos (grupos sociais) podem efetivamente idealizar, propor e produzir manifestações diversas que gerem comportamentos diferentes, que levem à mudanças e que condicionem o enriquecimento socioambiental da humanidade (mundo melhor) ou o empobrecimento socioambiental da humanidade (mundo pior). Mudar pensamentos, muda atitudes e muda comportamentos. Esse é um conceito muito forte na mídia e no “marketing”.

Infelizmente, do ponto de vista histórico, parece que temos investido nesse conceito, apenas na direção do empobrecimento socioambiental. Penso que seja uma pena, que o interesse pela melhoria do mundo não esteja na pauta de prioridades da grande mídia e do “marketing”, que não produzem absolutamente nada para tentar melhorar o mundo. Aliás, esses setores têm trabalhado efetivamente em contrário da melhoria do mundo, investindo fortemente em “fake news” e inverdades. Quer dizer, para agir no sentido de melhorar o mundo, de fato, é preciso, além da vontade individual, um grande poder coletivo e fortemente contrário aos interesses midiáticos e marqueteiro atuais, cujo intuito passa muito longe do mundo melhor.

Considerando que hoje o mundo tem quase 8 bilhões de pessoas, há de se convir que, individualmente, a priori, ninguém tem nível de poder capaz de causar impacto global positivo, ou trazer vantagens socioambientais para o mundo isoladamente. Então, como construir, se é que é possível construir, esse tal mundo melhor? O “novo mundo” fantástico e cheio de benesses, que todos falam, esperam e almejam pós COVID-19 e que, aliás, deve ser o mesmo que era esperado depois da gripe espanhola ou mesmo depois da segunda guerra mundial.

Pois é, nesses dois exemplos acima, no primeiro caso, o “novo mundo” foi a primeira guerra mundial e no segundo caso foi a guerra fria e o medo generalizado. E agora, o que será esse “novo mundo”, a terceira guerra mundial e a destruição total da humanidade?  Ou não haverá necessidade de guerra, basta apenas mais um novo vírus ou um pouco mais do próprio aquecimento global pelo excesso de C02?

Peço vênia, mas eu, particularmente, não acredito nessas sonhadas mudanças radicais que irão produzir o tão sonhado “novo mundo”, que muitos têm falado. Acredito que após o COVID-19, se existir realmente um após-COVID-19, as pessoas irão gradativamente voltando as suas atividades e principalmente às suas atitudes comportamentais costumeiras, até que algum tempo depois, tudo volte a ficar como Dante no quartel de Abrantes, porque infelizmente a espécie humana é assim e as mudanças, quando existem, são sempre muito gradativas.

A humanidade não gosta de sofrer, mas prefere sofrer ao invés de agir de maneira que contrarie alguns princípios básicos e costumeiros. Assim, qualquer mudança exige progresso, aprimoramento e sobre tudo muito tempo. Nada vai acontecer de imediato, ou seja, não existe esse novo mundo pós COVID-19. Um desse princípios básicos, talvez o mais importante deles, seja o afã do ser humano por liberdade individual e isso, me perdoem, nunca vai permitir uma ação coletiva e uníssona imediata sobre qualquer atitude que possa melhor viabilizar o mundo.

Por favor, que fique claro, que obviamente isso não é feito e pensado pretensamente para acontecer assim, definitivamente não. Isso é apenas uma necessidade vital presente nos indivíduos de nossa espécie.  Infelizmente, nós ainda não temos e pode até ser que um dia venha existir, um gene que nos permita agir de maneira diferente. Assim, vamos continuar nossa vida sem grandes mudanças, até que se prove o contrário e que se estabeleça, por aprendizado gradativo ou por evolução genética. De qualquer maneira, isso levará algum tempo e, lamentavelmente, tempo é o que a humanidade menos tem.

Deste modo, na atual conjuntura, pensar em fazer a sua parte para a construção de um mundo melhor, acaba sendo uma grande balela, além de aparentemente também ser uma inverdade natural, que a maioria dos seres humanos na realidade não quer que aconteça. Existem pessoas altruístas e boas, eu gostaria que a maioria fosse assim, mas existem também pessoas otimistas demais, pessoas pessimistas ao extremo e ainda existem pessoas egoístas e ruins (maldosas), que querem manter o atual status quo e se aproveitar da situação.

Geralmente esse último tipo de pessoa, a pessoa ruim, até pelos seus interesses acaba sendo mais capaz de modificar momentaneamente o mundo. Basta que se olhe a história da humanidade para ver a que grupo pertence a maioria dos sujeitos que, de alguma maneira, mudaram ou interferiram significativamente na história humana. Certamente existem honrosas e maravilhosas exceções, como Jesus, Buda, Gandhi e outros, mas a regra são as pessoas de “má índole”, nas quais o interesse coletivo não existe.

Coloquei a expressão “má índole” entre aspas, porque não possa afirmar que essas pessoas ruins tinham “má índole” de fato, entretanto a história parece dizer que sim. Bem, a verdade é que esses sujeitos não foram bons para a humanidade e assim, certamente nunca almejaram o “mundo melhor”, apenas trabalharam para si próprias, explorando outra característica bastante marcante da maioria dos indivíduos de nossa espécie, que é o egoísmo.

Enfim, construir o “mundo melhor” é o desejo de muitos, inclusive o meu, mas creio que nenhum humano tenha realmente o poder para fazer isso sozinho. É claro que, como disse François La Rochefoucauld: “nada é tão contagioso como o exemplo”, e assim, obviamente, os bons exemplos sempre serão muito bem-vindos no interesse da humanidade, mas certamente eles nunca garantirão nada, se a própria humanidade não se manifestar e se contagiar positivamente em relação a eles.

Então, trabalhemos com afinco e sejamos exemplos verdadeiros do “mundo melhor” que a maior parte de nós, seres humanos, de alguma maneira, continua desejando. Levará tempo, mas a seleção natural, que nos trouxe até aqui, certamente nos direcionará e nos tornará melhor, na medida que a nossa necessidade de adaptação for maior. O resultado almejado, obviamente nunca chegará em absoluto, mas continuaremos sempre caminhando na sua direção. Isto é, progressivamente seguiremos para o “mundo melhor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

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