Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Resumo: Agora estou me atrevendo a emitir minha opinião sobre o que acontece com as pessoas muito envolvidas nas redes sociais. Acredito que as pessoas precisam refletir um pouco mais sobre sua verdadeira humanidade, porque acredito que as chamadas redes sociais de INTERNET têm criado mecanismos que levam a criação de fantasias, além de maior divergência e intransigência entre as pessoas. Assim, questiono se a humanidade precisa realmente se envolver nessas redes e sugiro alguns medidas que possam minimizar os problemas. Como eu já disse em outro artigo: “penso que é preciso entrar no mundo real, antes que seja tarde”.


No dia 02 de junho de 2021, o jornalista Alexandre Garcia publicou um artigo (As Bolhas), em vários jornais do país e comentou sobre o citado artigo num vídeo, em seu canal do Youtube. Mas, e daí, o que eu tenho a ver com isso? Pois então, na verdade, eu já estava matutando exatamente sobre essa questão, de que as pessoas, de uma maneira geral, vivem num mundo exclusivo e diferente, que só interessa a elas próprias e os seus amigos ou afins, mais próximos.

Alexandre Garcia chamou isso de “bolha”, eu prefiro chamar de “grande ilusão”.  Embora a ideia seja a mesma, é preciso deixar claro que, com o tempo, a “bolha” sempre acaba estourando, mas a “grande ilusão”, geralmente perdura por toda a vida do indivíduo e isso é bastante ruim, porque, por conta disso, o indivíduo quase nunca consegue assumir a realidade. Em suma, a “bolha”, pelos mais diversos mecanismos, um dia acaba e o indivíduo acorda para a realidade, mas a “grande ilusão” geralmente morre com ele.

Enfim, “bolhas” ou “grandes ilusões” são resultantes de males sociológicos bastante comuns nas sociedades modernas. Doravante tratarei apenas como “grande ilusão”. Muitas vezes, a “grande ilusão” é criada propositalmente por um interesse qualquer dentro do grupo social, a fim de resolver uma determinada situação, como uma espécie de convenção, onde todos passam a assumir aquilo. Outras vezes, ela aparece em consequência da visão limitada do grupo do próprio grupo, que é incapaz de sair de seu mundo restrito e entender que existem outras coisas no entorno.

A diversidade do mundo, as diferentes ações e funções humanas, constituem uma gama impossível de ser analisada e avaliada por um indivíduo qualquer, ou mesmo por um grupo social, porque sempre há algo que não é conhecido e por isso existe necessidade de “especialistas” que possam esclarecer as dúvidas e orientar caminhos. Entretanto, a maioria dos grupos sociais acreditam que eles se bastam e que não precisam da opinião de outros e assim criam seus fantasmas, suas “grandes ilusões” e as assumem como verdadeiras.

Nos assuntos do trabalho essa questão é muitíssimo comum, como bem citou Alexandre Garcia em seu artigo, por exemplo jornalistas só têm contato com jornalistas, médicos com médicos, economistas com economistas e vai por aí. Dessa maneira, parece que o restante do mundo e das funções, simplesmente não existem e assim, todas as verdades são limitadas à capacidade daquele grupo. Pois então, a sociedade está caolha. Aliás, está praticamente cega, porque não enxerga quase nada do real e se ilude com aquilo que pensa ser verdade, dita por algum dos “especialistas”

A constatação acima cria uma série de deformidades, verdadeiras “monstruosidades sociais”, que faz com que, por exemplo, os jornalistas pensem saber mais sobre a medicina do que os médicos, a ponto de apontarem e julgarem as ações médicas dentro de seus parcos conhecimentos jornalísticos. Ora isso, além de ser um abuso e uma arbitrariedade sem tamanho. Mas, o pior de tudo, é que essa deformidade é imposta e distribuída pela mídia como algo concreto e efetivo, tornando-se uma “verdade”.

Por favor, não prejulguem o que eu não disse, com o meu exemplo, até porque isso acontece em qualquer profissão e em qualquer grupo social fechado, onde existam pessoas com interesses comuns e que estejam de alguma maneira isolados de outros grupos. O tamanho desse problema é maior ou menor, quanto maior ou menor for o grau de influência desse grupo na sociedade como um todo.  Infelizmente esse mal sociológico tem aumentado bastante com os grupos nas redes sociais da INTERNET, onde só se discute aquilo que é de interesse do próprio grupo. Qualquer coisa diferente, simplesmente é posta de lado ou totalmente desconsiderada, como se não existisse, e assim, as “verdades” são sempre as mesmas. Quem duvidar, que faça um teste e coloque uma questão diferente dentro de um grupo qualquer, pois aí poderá observar que praticamente ninguém irá se manifestar. Será como se aquilo fosse uma pequena sujeira na tela, mas que não interfere na imagem e assim, logo “desaparece”.

Em tempos de COVID e de muitas mortes, lamentável e tristemente fizemos isso várias vezes. Isto é, fomos informados de tantos doentes e de tantas mortes, que “escolhemos” aqueles com quem efetivamente nos preocupamos, mas a grande maioria passou em brancas nuvens. Vejam bem, eu sei que não existe maldade nesse tipo de ação, o que existe mesmo é falta de envolvimento com o mundo. Todos estão tão envolvidos com suas questões e com seus interesses, que priorizam ações e não dão importância efetiva à outras. É claro que do ponto de vista social, isso não é nada bom e do ponto de vista estritamente humano é pior ainda. Mas, como resolver esse problema?

Obviamente eu não tenho receita de bolo para resolver essa questão, mas imagino que estar atento a tudo que acontece e observar particularmente as opiniões contrárias é o primeiro passo a ser dado. Depois, deve ser feito um esforço para entender que os seus amigos ou os seus grupos sociais (profissionais) são pessoas iguais as demais, obviamente com características próprias, mas não são necessariamente melhores ou piores que outras pessoas e muito menos podem são “os donos das verdades”. As ações e funções, apesar de diferentes daquelas de seus interesses próximos, também são importantes ao todo da sociedade e, deste modo, também precisam ser aceitas e respeitadas. Por outro lado, os espaços físicos, os ambientes, sejam eles quais forem, também merecem cuidado e respeito.   

Se passarmos a investir numa política pessoal de nos antenarmos um pouco melhor com o restante do mundo, certamente isso será bom para todo mundo, mas podem acreditar que será especialmente bom para cada um de nós mesmos. A preocupação com o outro, um pouco mais de humildade e zelo, menos egoísmo e arrogância são características valiosas no trato com o outro, mesmo nos grupos sociais de INTERNET.

Precisamos parar de criar “grandes ilusões”, precisamos ouvir mais para entender mais e aprender efetivamente mais. Nosso grupo social (profissional), por melhor que seja, é apenas mais um dos milhares (milhões) de grupos que existem. Nossos interesses são simplesmente mais alguns dentro da infinidade de interesses que podem ser identificados. Mas tanto nossos grupos, quanto nossos interesses envolvem pessoas, seres humanos, e nossa humanidade é que deve ser sempre valorizada nas relações sociais. Pois então, esse detalhe final, que tem passado despercebido da grande maioria, talvez seja o mais importante de todos.

Antes de terminar, quero deixar quatro sugestões estratégicas, que talvez, possam ser bastante positivas para evitar as “grandes ilusões”, as quais, como foi visto, podem trazer problemas sociais intensos e algumas vezes até causar conflitos mais sérios.

  1. – Antes de emitir uma opinião, por mais certeza que você tenha sobre ela, pense bem na maneira de como ela deve ser referida, às vezes é melhor sugerir uma reflexão sobre o assunto.
  2. – Não assuma verdades pessoais como como situações imutáveis e invioláveis. Aquilo que você crê não tem que ser aquilo que outro tem que crer, seja humilde, principalmente quando o outro parece conhecer mais do assunto em questão que você.
  3. – Diversifique seus grupos sociais, evite as “rodinhas” e as “panelinhas”, diversifique seus contatos e suas relações, porque isso, ao menos teoricamente, lhe tornará naturalmente mais eclético e intelectualmente mais capaz de questionar certas coisas.
  4. – Aprenda um pouco de tudo, mas lembre-se, principalmente, que você não precisa necessariamente emitir opinião sobre tudo. Deixe que os verdadeiros especialistas discutam as questões para as quais se especializaram. Quanto aos outros “especialistas”, talvez seja melhor dar de ombros para eles.

Meus amigos essas sugestões talvez não façam vocês pessoas mais felizes, mas certamente elas ajudaram a que você seja uma pessoa mais agradável às outras pessoas e isso vai naturalmente fazer com que vocês produzam progressivamente menos “grandes ilusões”, o que fará você e seus grupos sociais mais felizes ou, pelo menos, mais capazes de suportar as adversidades da vida, mormente da vida na INTERNET.   

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

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