A Escola Brasileira, seus Atores Sociais e sua Possível Recuperação*
Resumo: O texto apresenta uma exposição generalizada sobre a instituição social escolae sugere concretamente algumas possíveis soluções para minimizar a atual situação de degradação que essas instituições vem sofrendo no Brasil e quem sabe melhor viabilizar a educação no país.
INTRODUÇÃO
Primeiramente é preciso que se discuta sobre o que é exatamente aquilo que chamamos de Escola, suas funções específicas, sua necessidade comunitária e importância social. Para muitos a escola ainda é aquela casa onde ficam os estudantes; para outros tantos, a escola é apenas o lugar, uma casa, para que os alunos, principalmente os jovens, possam aprender; outros ainda acreditam que a escola é uma entidade para orientar e informar as pessoas. Entretanto, todas essas maneiras de pensar estão erradas, porque a escola é uma instituição que se presta a fazer muito mais do que essas pequenas coisas.
A concepção de escola deve ter uma abrangência muito mais ampla e mais significativa no contexto maior da sociedade. Afinal, a escola, é a segunda maior entidade social, vindo logo depois da família, mas diferente dessa, a escola não se restringe ao corpo familiar ou ao grupo próximo. A escola vai muito além daquilo que é próximo e busca exatamente demonstrar que existem outras coisas, além daquelas que estão próximas do indivíduo e de sua comunidade.
A escola é uma instituição fundamental das sociedades humanas, suas funções atingem os indivíduos no momento presente e transcendem esse instante, visando também preparar os indivíduos para o futuro. A escola busca a capacidade de integrar os seres humanos às diferentes formas de sociedades no espaço e principalmente no tempo. Sem escola não há sociedade humana verdadeira, embora possa haver um agregado de pessoas, formando comunidades que trocariam aprendizados entre si. Somente a escola pode conferir e transgredir o limite comunitário e projetar o conhecimento abrangente do mundo e de todas as ações da humanidade.
Deste modo, assumindo tamanho grau de importância, parece incrível, mas tem muita gente, até mesmo dentro das escolas, que ainda não se deu conta do verdadeiro valor desse tipo fundamental de instituição social, que além de tudo é quase uma exclusividade das sociedades humanas, isto é, uma particularidade da espécie humana. Não fosse a escola e as interações humanas que ela permite, talvez ainda estivéssemos bem próximo à vida que tínhamos na idade da pedra. O desenvolvimento social da humanidade é consequência direta e obrigatória da existência da escola e de seu desenvolvimento como instituição social.
Nosso objetivo nesse ensaio é exatamente refletir e demonstrar nosso ponto de vista sobre esse fato importante, discutindo um pouco sobre a questão e referenciando os atores sociais, suas funções e principalmente porque estamos, aparentemente, tão longe da realidade necessária que deveria existir na dimensão efetiva daquilo que se espera da escola.
OS ATORES SOCIAIS DA ESCOLA
Na escola existem 3 tipos fundamentais de atores sociais: o aluno, o professor e o funcionário. Obviamente existem outros atores transitórios e temporários (“stakeholders”), que fazem parte, ainda que indiretamente, da comunidade escola, entretanto, esses outros atores não serão considerados aqui, exatamente porque eles não têm significado imediato e nem ação intrínseca na função precípua de entidade social escola.
O agente principal e o próprio fundamento da escola como entidade social é o aluno, aquele sujeito que a escola quer preparar para ser um indivíduo melhor à sociedade. Pode se dizer que, primitivamente, a escola se desenvolveu única e exclusivamente para servir ao aluno. Deste modo, se não existisse aluno, possivelmente não haveria escola. Pois então, nossa realidade atual, deixa transparecer que o aluno, objeto primário da escola, está cada vez mais desinteressado sobre ela. Vejam bem, o aluno não se interessa pela escola, que existe por causa dele. Em certo sentido, é o mesmo que dizer que a escola está morrendo, porque, como já foi dito, não existe escola sem aluno e se o aluno não quer a escola ela não precisa existir.
Outro ator da escola é o professor, que, embora não seja a causa da existência da Escola, em muitos casos e situações, ele pode ser o ator que justifica a continuidade e o desenvolvimento da escola. O professor é o sujeito que cria as condições para que o aluno possa aprender e se aprimorar na escola e na vida. Assim, cumpre ao professor a tarefa maior de manter a escola ativa e funcionando, porque é ele que pode manter o interesse e o envolvimento do aluno com a escola. Sem professor a escola não funciona, porque não haverá quem oriente o aluno e assim, sem professor a escola também deixa de existir.
A outra categoria de atores, muitas vezes desconsiderada na sua importância, é o funcionário. Aqueles sujeitos que mantém a estrutura operacional da escola e que garantem as condições de funcionamento do prédio escolar, com todas as suas peculiaridades. Obviamente a escola não precisa deles para funcionar integralmente na sua função precípua, mas, por outro lado, se eles não existirem a escola vai definhar progressivamente até acabar. A importância dos funcionários transcende ao interesse primário da escola, mas eles são fundamentais para a continuidade das ações escolares.
Assim, temos nesses três elementos supracitados diferentes graus de importância para que a escola continue existindo e prestando seus serviços à sociedade. Agora vamos discutir sobre esses respectivos serviços, respondendo às seguintes questões: quando e por que a sociedade se viu na necessidade de inventar a escola? Para que efetivamente serve a escola? A escola continua cumprindo sua missão primária?
FUNÇÕES SOCIAIS DA INSTITUIÇÂO ESCOLA
Acredito que prioritariamente a escola surgiu e se desenvolveu pela necessidade da transmissão dos conhecimentos e consequente aprendizagem de determinadas ações humanas. Desde a Grécia Antiga, já existiam “escolas”, porém ainda não havia uma publicidade da condição escolar. Na idade Média, o aprendizado escolar era para poucos abastados e mesmo os “professores” eram poucos e o ensino basicamente acontecia em casa. Apenas no final do Século XVI, na Europa, é que começou a surgir a prática da educação pública universal e obrigatória. A partir de então, as escolas, como entendemos se multiplicaram, principalmente depois do final do século XVII e durante o século XVIII com o iluminismo.
Essa escola, que é a que existe até hoje, com algumas poucas modificações depois do surgimento da chamada Escola Moderna, no início do século XX, foi criada e desenvolvida com o intuito básico de cinco ações imediatas, além de socialmente interessantes e fundamentais: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade.
Imagino, que possa existir aqui e ali, alguns pequenos detalhes e ajustes, mas são as funções da escola até hoje e a meu ver devem continuar sendo. Entretanto, parece estar cada dia mais difícil manter essa condição, porque outros interesses têm falado mais alto e a essência da escola tem sido relegada a segundo plano, pelo menos aqui no Brasil. Suas atribuições infelizmente não aparentam estar condizentes com as prioridades humanas nacionais e assim, cada vez mais, se observa menos a importância da escola em nosso país.
Temos problemas em todos os níveis, desde o acesso dos alunos e ingresso nas escolas, passando pela formação dos professores e na especificação das atividades dos funcionários. Além disso, a questão dá pouca ênfase, leva ao desinteresse dos alunos, que aprendem coisas mais interessantes fora da escola e mesmo dos professores, que obtém melhor condições de trabalho e subsistência em outras funções. Como as escolas decrescem, os funcionários também são cada vez menos necessários.
Em outras palavras, as escolas estão ruindo pelo país afora. Quero lembrar mais uma vez que esse é um artigo de opinião e esse é a opinião de alguém que está dentro da escola desde o final da década de 1950, como aluno, e que também têm mais de 45 anos como professor. Ou seja, alguém que viveu (está vivendo) a vida toda dentro da escola. Mas, por que será que isso está acontecendo? Será que é possível voltar aos trilhos? Afinal, o que fazer?
Será que os Atores Sociais da Escola Brasileira estão cumprindo os seus respectivos e devidos papéis? Será que a Instituição Social Escola, aqui no Brasil, está atuando efetivamente dentro das necessidades estabelecidas pela sua existência? Ou melhor, temos verdadeiramente escola no Brasil?
Posso estar errado, mas Infelizmente penso que a resposta para ambas as perguntas acima é não. Estamos longe do que deveria ser uma escola em quase todos os sentidos, porque hoje (já faz algum tempo) o aluno deixou de ser o principal objetivo da escola e o professor deixou de ser o principal veículo para desenvolver o aluno. Além disso, os funcionários passaram a ser simples agentes passivos que fazem parte do sistema por mera contingência, apenas compõem o quadro, mas não têm importância para o sistema e só interessam a eles mesmos e assim, se tornaram pessoas de dentro da escola, mas alheias à instituição e seus interesses.
Pobre escola que se acabou por conta do descaso das autoridades, do desinteresse da comunidade próxima e principalmente do desleixo da sociedade em geral. Precisamos voltar às origens e recuperar a verdadeira noção de escola refazê-la na sua essência, como instituição social fundamental à formação e ao desenvolvimento do cidadão brasileiro.
RELACIONAMENTOS SOCIAIS NA ESCOLA
Os diferentes atores sociais da escola se relacionam e esses relacionamentos se distribuem pela sociedade. Existem três níveis de relacionamentos possíveis: “Indivíduo x Indivíduo”; “Indivíduo X Comunidade” e “Indivíduo x Sociedade”. No primeiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Aluno; Aluno x Professor; Aluno x Funcionário e Professor X Funcionário. No segundo caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Escola; Professor x Escola e Funcionário x Escola. No Terceiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Sociedade; Professor x Sociedade e Funcionário x Sociedade. Vamos comentar um pouco sobre essas relações e seus desgastes na escola brasileira atual.
A relação Aluno X Aluno ainda é que se mantém mais forte dentre todas as relações. Entretanto ela está enfraquecendo progressivamente, por conta da influência externa à escola sempre crescente, em função da INTERNET das Redes Sociais Eletrônicas virtuais que se multiplicam e são cada vez mais efetivas na aglutinação de pessoas, em especial, dos jovens. Esse fato obviamente traz reflexos nas relações reais, mas, aparentemente, os alunos ainda se relacionam bastante entre si.
A relação Professor x Aluno, foi a que mais sofreu e com isso a escola perdeu muito. Além do hiato etário, existe também o hiato intelectual, porque os professores de hoje são, em sua grande maioria, carentes de cultura geral e de difícil capacidade de atrair e convencer os alunos. Mas, a questão mais importante não se limita a isso. O que aconteceu de pior é que o respeito e a consideração que não só mantinham, mas que principalmente condicionavam a relação Professor X Aluno foram quase totalmente perdidos.
Infelizmente, pelas mais diversas razões, a figura do Professor não é mais vista como fora outrora, nem pelos alunos e muito menos pelos pais dos alunos. Aquela figura culta que estava preocupada com a educação e com a formação dos jovens e que tinha apoio quase incondicional dos pais, lamentavelmente quase não existe mais. Os filhos superprotegidos tomaram o lugar de qualquer boa intenção dos professores. O professor hoje é visto com um profissional de segunda categoria, que não serviu para outra coisa melhor e que por acaso está naquela escola ministrando aulas para o “meu filho”. Esse fato, aliado a algumas leis absurdas e bestiais, que limitaram o exercício da autoridade do professor, acabou com a liderança e o respeito na maioria dos casos. Muitas aulas são verdadeiros antros de tudo que a escola não deveria possuir, ou melhor, daquilo que deveria combater. O pior é que, cada vez mais, se faz vista grossa desses erros.
É claro que há exceções boas e efetivas, mas é preciso mudar algumas tendências e condições para que possa retornar à situação anterior. Mas, o tempo passa e isso parece ficar cada vez mais difícil. O que se vê é professor sendo agredido por aluno e vice-versa, além de também existir inúmeros professores abandonando a escola e o magistério por causa de aluno e alunos abandonando a escola por conta de professor. A intolerância, oriunda principalmente da falta de respeito, das duas partes, é a característica maior nas relações, que estão realmente muito estremecidas.
A relação Aluno X Funcionário que sempre foi a mais frágil, hoje praticamente não existe, porque os alunos entendem que os funcionários são seus empregados e tudo tem que acontecer a tempo e a hora. O conflito é muito grande. No que tange aos professores e funcionários a situação também caminha para um colapso, porque os funcionários se sentem humilhados e os professores também e assim, a situação fica bastante desagradável. Ainda existem bons relacionamentos, mas eles são muito supérfluos e frágeis.
Desta maneira, a relação de ambos, alunos, professores e funcionários com a escola, a comunidade escola está muito ruim e o que deveria caminhar para o paraíso, está muito próximo do inferno. Alunos, professores e funcionários se tropeçam, se suportam, se aturam e convivem na escola, na maioria das vezes, apenas e tão somente, por contingências ocasionais ou por conta da obrigação. Na verdade, acabaram com a escola e esqueceram que a ela era um local de EDUCAÇÃO. Isto implica no fato de que a comunidade escola está muito indo de mal a pior.
Ora, se a comunidade escola, está nessa condição péssima, a sociedade onde ela está inserida não pode estar tendo benefícios com sua presença e atuação. A sociedade que, em certo sentido, dependente das comunidades escolas está perdida, porque não tem mais o respaldo social que a escola deveria fornecer. Nem mesmo a função fundamental de apenas ensinar está sendo realizada a contento.
Alunos entram e saem da escola de Ensino Básico analfabetos e depois chegam e às vezes saem das faculdades ainda analfabetos. O pior é que depois disso, muitos vão ser “profissionais” nas mais diversas áreas e alguns até serão “professores”. O sistema parece que apoia essa situação lastimável, porque muito pouco tem sido feito para tentar frear esse quadro e quando se tenta fazer algo de positivo, a mídia entra em cena para manter o “status quo”. A situação está realmente periclitante e infelizmente, parece estar caminhando para a insolubilidade.
Pois então, a Sociedade brasileira, por várias causas, está doente, mas certamente uma dessas causas e talvez a mais importante delas é o fato de que A ESCOLA BRASILEIRA ESTÁ DOENTE e piorando progressivamente. Outras instituições sociais e outros interesses tornaram a escola um lugar que não se justifica mais, dentro do objeto de sua criação, porque hoje ela tem sido quase tudo, menos escola. Obviamente, estou me referindo a ideia real e efetiva de uma escola e é lógico que existem exceções, mas infelizmente são exceções, quando deveriam ser a regra. E aí, eu pergunto: como podemos nos preparar para mudar a escola e torná-la novamente numa escola?
PROPOSTAS DE SOLUÇÕES
Bom, mas é óbvio que devem existir soluções e vou até me atrever aqui a citar algumas delas, correndo o risco de ser tachado como louco ou como coisa pior. Mas, se quando jovem, eu já não tinha preocupação em agradar a todos, na minha idade atual é que isso não vai fazer nenhum sentido para minha pessoa. Penso que as soluções existem e são extremamente simples, elas requerem apenas um pouco de boa vontade, além de interesse efetivo e determinação em melhorar e educação no país.
Proposta I
A meu ver a coisa só vai começar a funcionar quando voltar a autoridade do professor e para isso é simples, basta rever, SEM DEMAGOGIA, a legislação e devolver o direito dos professores e dos alunos, sem qualquer benefício de qualquer parte ou setor, por qualquer interesse externo à própria escola como instituição. Aluno é aluno e professor é professor, não importa quem, onde ou como. Se fez tanta concessão que o professor não pode nada e alguns alunos podem tudo, inclusive impedir o professor de tentar ministrar a sua aula. Ora, isso é mais que absurdo, mas está é a realidade imperante e precisa deixar de ser.
Aluno que não quer aprender não precisa vir na escola e pai de aluno não pode de maneira nenhuma ter poder dentro da escola, além daquele que lhe é pertinente como pai. Isto é, seu poder se limita aos seus filhos e isso não pode lhe permitir interferir nas questões escolares. Se não concorda com o que a escola faz, coloque seus filhos em outra escola, mas a escola não pode ficar mudando para atender a interesses de pais. A escola já tem muito que se preocupar e não pode se preocupar com questões externas.
Não quero voltar à palmatória ou a ficar de joelho no milho, mas é preciso estabelecer a ordem na escola e a hierarquia do trabalho. O aluno tem de seguir algumas normas estabelecidas e não pode fazer o que quer e obviamente o professor também não. A escola envolve alguns compromissos de ambas as partes, que são fundamentais e precisam ser cumpridos para o bom andamento das atividades escolares e do processo ensino-aprendizagem. A libertinagem que acabou sendo implantada nas escolas favorece a desordem de ambos os lados e isso não é bom para a escola e assim, também não pode ser bom para a sociedade.
Proposta II
Lembrar que na escola existe uma ordem a ser mantida para o bem de todos e que esse ordenamento é o que justifica e projeta os fundamentos da escola com entidade social. Esses fundamentos, já foram ditos, mas cabe repeti-los aqui para que fique bem claro. São eles: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade. Se não tomarmos esses fundamentos como obrigação, não há necessidade de ordenamento, mas aí também não faz nenhum sentido a existência da escola.
Temos que parar com esse negócio de que na Instituição Social Escola pode tudo. Ou melhor, dependendo do momento até pode ser, mas tem que existir ordem. Tudo pode, mas na hora e no local devido, fora disso não deve existir nada que prejudique o bom andamento dos trabalhos escolares. A aula e qualquer atividade pedagógica pode ser alegre e pode ter piada sim, mas não pode fugir do assunto prioritário e virar roda de bate papo, a não ser que a roda de bate papo seja o tema desenvolvido ou a metodologia empregada naquela aula.
E preciso ficar claro que a escola não é um centro comercial ou um ponto de encontros sociais, onde se pode realizar qualquer coisa que se queira a qualquer momento. Não, definitivamente não. Na escola a prioridade tem que ser o trabalho educacional e se existirem momentaneamente outras situações, essas devem ser ligadas diretamente a esse trabalho educacional para que possam justificar sua existência.
Proposta III
O uso de instrumentos e ferramentas acessórias é útil e fundamental nas aulas, entretanto sua utilidade deve ser apenas e tão somente para fins pedagógicos. Qualquer outra função é inadmissível na escola. Se o pai quer falar com o filho, ele liga na secretaria e não no celular do filho, que deverá estar desligado ou que poderá até estar ligado, porque será utilizado em alguma atividade pedagógica. Essa coisa de aluno e professor ficara atendendo celular dentro da sala de aula para resolver questões particulares tem que acabar. A propósito, isso também vale para jogos e conversas paralelas na sala de aula.
As ferramentas eletrônicas, cada vez mais comuns, são realmente ótimas e obviamente ajudam muito ao processo ensino-aprendizagem, entretanto não há cabimento em promover, durante as aulas, certas posturas que só prejudicam ao aprendizado, à comunidade escola e consequentemente à sociedade como um todo.
Nessas alturas, já tem gente dizendo, mas professor, “escola não é quartel”. Eu sei, mas escola também não é circo e nem teatro, isto é, não é local de diversão, embora a diversão possa e deva fazer parte da escola em dados momentos. A essência da escola é séria e precisa continuar sendo. O trabalho escolar tem que ser privilegiado acima de tudo na escola, pelo menos essa tem que ser a ideia básica.
Proposta IV
Funcionário da escola é colaborador do processo e deve ser tratado com respeito por todos, principalmente pelos alunos que são os que mais precisam dessa colaboração. Mas, os professores também têm que compreender que o funcionário não é dele é da escola e, portanto, sua obrigação é com o trabalho escolar e não com o interesse ou a particularidade desse ou daquele indivíduo. A escola tem que funcionar e isso se deve aos funcionários, mas eles também não são obrigados a fazer mais do que aquilo que têm a obrigação de fazer.
Os serviços especiais e suplementares podem existir, mas esses serviços são gentilezas e não obrigações, nem para alunos e muito menos para professores ou outros funcionários. A escola é um local de trabalho efetivo. Assim, é preciso fiscalizar alunos, professores e funcionários nos seus respectivos compromissos com a escola e com a educação e quem não está em acordo com aquilo que é pretendido deve ser afastado do contexto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bem, eu acredito que somente com essas quatro propostas já vai ser possível fazer uma verdadeira “revolução nas escolas”. Mas cabe lembrar, nas escolas públicas o Diretor tem que lembrar que ele é apenas Diretor da escola e não o dono dela, até porque ela é pública e como tal pertence à coletividade. Nas escolas particulares, o proprietário, sendo o Diretor ou não, ele é o dono da escola, mas como dono da escola não pode dar palpites sobre nada na instituição e como Diretor tem que entender que é apenas uma peça administrativa e fundamental que existe na engrenagem, mas não é melhor do que ninguém. Na verdade, o Diretor é um professor com viés de funcionário responsável por questões administrativas específicas e em particular, pelo bom andamento dos trabalhos da escola.
É preciso entender que comandar, gerenciar, gerir ou administrar a escola é uma função da escola, do Diretor da escola, que deve ser alguém muito bem-preparado para ocupar o cargo e não do proprietário de um prédio. Não é bom que o proprietário e o Diretor sejam a mesma pessoa, porque isso acaba sempre complicando mais a questão, entretanto ainda que essa condição não seja impossível, se me permitem, eu até quero recomendar que o dono da escola nunca seja o Diretor, porque isso certamente trará conflitos de interesse e quem perde é a escola como instituição.
Vou sugerir que o proprietário contrate alguém para exercer essa função de Diretor e que não faça uso da condição de dono para influenciar nas atividades do Diretor, porque assim haverá muita confusão entre as funções verdadeiras da escola e os interesses pessoais do proprietário. O Diretor tem funções reais na escola, mas o proprietário só tem interesses e se os interesses se misturam com as funções aí é o mesmo que colocar um lobo para tomar conta das ovelhas. Nesse caso, a educação vai se complicar muito mais e a escola não vai funcionar a contento.
Vejam bem, além da necessidade de mudança na legislação, eu nem me referi aos políticos e administradores, porque penso que a escola tem que existir e cumprir o seu papel como instituição social, apesar e independentemente da existência desses indivíduos. Eles precisam deixar o pessoal da área trabalhar, sem ficar promovendo problemas adicionais. Se eles não atrapalharem, certamente já prestarão um excelente serviço e favorecendo significativamente à melhora educacional e escolar.
Esse país até tem alguns bons políticos e uns deles também são bons educadores, mas é melhor que esses sujeitos não queiram reinventar a roda mais uma vez, porque eles, bem ou mal-intencionados, quase sempre acabam fazendo besteiras. Para os políticos o meu recado é o seguinte, acabem ou melhorem muito (enxuguem o que não faz sentido) com esse maldito estatuto do menor e do adolescente, parem de procurar pelo em ovo e tratem as pessoas, qualquer pessoa, (criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso), independentemente de qualquer aspecto (cor, raça, religião, sexo, condição social) apenas como pessoas, pelo menos dentro das escolas, que deste modo, tudo irá se resolver de forma tranquila e natural.
Muito se fala de igualdade, alguns até exigem igualdade e muitas vezes com razão. Mas, então, que haja igualdade efetiva nas escolas, porque certamente é isso que está faltando na educação. Na escola não deve haver privilégio. Se todos envolvidos na escola passarem a cumprir suas respectivas funções. Isto é, se aluno for apenas aluno; professor for apenas professor e funcionário for somente funcionário a escola brasileira estará salva e todos nós, cidadãos brasileiros, poderemos voltar nos educar de maneira correta, como antes acontecia. É claro que também haverá necessidade de administradores públicos sérios e com vontade de efetiva de ver o povo brasileiro realmente se desenvolver.
Peço vênia pela minha ousadia, mas alguém precisa falar essas coisas à sociedade. Quem sabe alguma alma boa e realmente interessada em mudar a cara do país, resolva escutar e tentar fazer o que estou proponho ou alguma coisa parecida, só para ver o que acontece. Tenho certeza de que se, por acaso, isso ocorrer, certamente irá produzir melhoras significativas na escola e na educação brasileira.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista
*Artigo anteriormente publicado em https://oblogdowerneck.blogspot.com/2020/12/a-escola-brasileira-seus-atores-sociais-e-sua-possível-recuperação.html, 19 de dezembro de 2020.