A Educação e os Valores Humanos
Resumo: O artigo chama a atenção para a falta de seriedade e da desvalorização generalizada que a Educação tem recebido historicamente no país. No Brasil, temos priorizado tudo que não importa nas escolas e com isso temos trocados os valores da sociedade. Acredito que esse desrespeito coletivo interfere drástica e diretamente na condição ética e moral dos brasileiros.
O Brasil necessita urgentemente de Educação verdadeira. Temos muitos prédios escolares, mas temos poucas escolas. Tem muita gente ministrando aulas, mas tem poucos professores efetivamente ensinando. Tem muitos alunos nas escolas, mas tem poucos estudantes realmente querendo aprender. Tem muitos burocratas na educação, mas têm poucos educadores e pessoas preocupadas com a educação atuando no ensino. Enfim, na educação brasileira tem bastante de quase tudo, mas, tem efetivamente muito pouco daquilo que deveria ter.
Este país continua no marasmo educacional exatamente pelo simples fato de que não se encara a educação com devida e necessária seriedade, tampouco se investe em trabalho efetivo para mudar essa situação. A verdade é muito clara: enquanto existirem Alunos, Professores, Diretores e Reitores, querendo a volta de um sujeito amoral, ladrão e apedeuta à Presidência do país, não existe como melhorar a educação. Estamos num mato sem cachorro e a questão que fica é a seguinte: como fazer para acabar com essa situação incoerente?
Temos transitado estranha e perigosamente numa linha em que não se define bem aquilo que se quer e onde o que importa é somente o dinheiro que se irá conseguir com a ação. É como se o dinheiro fosse realmente a coisa mais importante para a humanidade. Historicamente tenho feito a seguinte pergunta aos meus alunos no primeiro dia de aula: o que é que todo mundo quer? Em quase todas as respostas, mais de 95%, dizem quase que automaticamente, é dinheiro. Ocasionalmente aparece alguns que citam, a sorte, outros dizem, o trabalho, outros ainda respondem, a saúde e mais raramente ainda, alguém lembra da felicidade.
Pois então, a felicidade, que é a resposta esperada, é sempre a menos citada. Ora se a humanidade quer dinheiro e não quer felicidade o mundo está perdido. Pois é, a noção de ser feliz, talvez tenha sido modificada em ter dinheiro, o que é uma grande idiotice, porque o dinheiro não garante a felicidade de ninguém. O que todo mundo quer é ser feliz e o dinheiro pode até ajudar a que se atinja esse intento, mas o dinheiro sozinho não permite a felicidade de ninguém. Infelizmente a humanidade cometeu o ledo engano de trocar os valores morais e vitais, pelos valores e custos monetários e, deste modo, grande parte das pessoas acham que o dinheiro é o melhor negócio para todos.
Particularmente, aqui no Brasil, as escolas “entraram diretamente pelo cano” ao também assumirem que o dinheiro é melhor que a felicidade e os alunos não gostam da escola porque perdem tempo e não ganham dinheiro com esse “tempo perdido”. O pior é que o sistema reforça esse pensamento absurdo, quando desqualifica profissões e profissionais, em prol de publicidades medíocres sobre profissões que não exigem conhecimento e que geram grandes possibilidades econômicas. Assim se esquece do valor da escola e se trabalha pelo preço daquilo que se pode ganhar por estudar. Infelizmente, quando se coloca essas coisas numa balança, acaba se concluindo que estudar não vale o preço.
A diferença entre o valor e o preço é que o preço é estimável em maior ou menor, mas o valor é inestimável e por isso mesmo, o valor não tem preço. O valor é próprio, único e indistinto e assim, não varia não como o preço. Alguém já disse: “o valor não vale, o valor é”. Em suma, é impossível calcular o valor, mas sempre é possível imaginar alguns preços para certas coisas e infelizmente, isso também é verdadeiro para certas pessoas. Pois então, a educação está cheia de coisas e pessoas com preço, mas que estão muito carentes de valor.
A crise que a humanidade vive é consequência única do que foi dito acima. Isto é, as pessoas se vendem por qualquer preço, deixando de ter valor e passando a ser moeda de barganha dos interesses e das negociatas, na mão de quem quer que seja. Esta irresponsabilidade coletiva gera uma situação triste, mas real, de carência moral, que tem, historicamente, causado grandes males a humanidade, mormente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
O ser humano, cada vez mais, desconhece a importância e o verdadeiro valor de algumas peculiaridades humanas necessárias à vivência social, como a ética, o comprometimento e a lealdade. Enquanto perdurar esta falsa realidade, do humano valer menos que a o interesse econômico de quem quer que seja, a humanidade não terá descanso, não progredirá e a paz entre os povos estará sempre mais longe.
Alguns mudam o foco e a responsabilidade, falando que Deus está vendo e que só Ele pode resolver a questão, mas, ainda que eu não seja religioso, tenho certeza de que Deus não tem nada a ver com isso e mesmo que Ele exista e que esteja vendo, Ele não irá interferir nos problemas estritamente humanos. Nossos problemas são terrenos e causados por nós mesmos não têm nenhuma relação com Deus. É preciso que mudemos o foco e objetivemos um mundo com pessoas de valor, isto é, com pessoas educadas e isso começa na família e se aprimora e continua pela escola.
Quer dizer, ou a humanidade aprende a viver educadamente com todos os humanos ou não existe humanidade. Acredito que enquanto o ser humano continuar sendo esse estranho ser que confunde valor com preço será impossível que a humanidade possa se manter proativa na direção da paz. Infelizmente, se não tomarmos posturas ética no interesse humanitário, sempre haverá situações conflitantes em que questões econômicas terão peso maior e assim, obviamente serão priorizadas pela sociedade.
O único caminho possível para tentar equilibrar essa questão é a crescer na educação e na formação das pessoas. Deste modo, necessitamos de uma educação que demonstre aos seres humanos, que em qualquer situação ou momento, a vida humana deve ser a única prioridade real. Não importa raça, sexo, ideologia, religião ou qualquer outro fator, a vida humana, seja ela qual for, é o mais importante, porque ela é um valor e como tal, é inegociável e não tem preço.
Somos seres humanos e deveríamos investir e aproximar cada vez mais uma postura altruísta e fraternal entre os humanos e não desenvolver as progressivas maneiras segmentárias e separatistas que temos criado e ampliado na sociedade moderna. Temos desenvolvido, através de um pretexto social e ambientalmente correto, mas que no fundo é apenas uma maquiagem política que serve ao interesse de alguns, uma maneira segmentadora da sociedade e destruidora da humanidade.
Estamos caminhando na contramão das necessidades da humanidade e os politiqueiros, os embusteiros e os maus-caracteres de plantão se aproveitam desse fato para piorar aquilo que já não é bom, na base do quanto pior melhor. Desta maneira as relações humanas ficam perigosamente mais comprometidas e com fortes tendências às rupturas. Quer dizer, atualmente, alguns dos “seres humanos”, não se satisfazem em apenas andar na contramão da humanidade e ainda jogam gasolina no fogo para complicar mais a situação.
É preciso que se esclareça de uma vez por todas que, independentemente de qualquer característica que tenhamos ou que professamos, somos pessoas. Todos os seres humanos são pessoas e como tal, devem ser orientadas nos seus deveres e respeitadas nos seus direitos. Entretanto, aqui reside outro grande problema, pois parece que perdemos a noção exata de deveres e direito humanos. Nesta sociedade corrompida e consequentemente corroída que vivemos, direitos e deveres são privilégios que servem apenas aos interesses dos poderosos, que fazem o que querem, como querem e quando querem.
A sociedade se deturpou por conta do preço e a humanidade se degradou por conta da perda do seu valor primário e ímpar, o ser humano. O “rei dinheiro” e o “trono ganância” superaram largamente o fundamento da vida e necessidade da ética. A humanidade está pobre de valores morais e podre de sentimento e envolvimento coletivo. Somos apenas um bando de criaturas irresponsáveis e cegas, ocupando um mundo em que os indivíduos não veem nada ou, quando muito, cada um consegue apenas ver o próprio umbigo.
É bastante triste e preocupante a situação debilitada do ser humano nos tempos atuais. Ao que parece a humanidade está caminhando rápida e irreversivelmente para o caos. Se não bastasse nossa podridão humana, também destruímos o planeta, o único que temos e que nos fornece absolutamente todos os recursos naturais que utilizamos. Ou seja, somos humanos podres, caminhado num planeta que também tornamos cada vez mais podre. Em suma, nossa irresponsabilidade é total, pois não ligamos para nossa vida, para nossa espécie e ainda destruímos a nossa única casa.
Como disse no início deste texto, somente a educação pode nos livrar dessa situação sofrível ou, pelo menos, minimizar os danos produzidos por ela. Não existe outra saída possível! E o que estamos fazendo sobre isso? Infelizmente, não temos feito absolutamente nada.
As nossas escolas têm apenas discutido outras questões, infinitamente menos importantes, pouco significativas, nada prioritárias e que não agregam valor nenhum à humanidade e nem a educação brasileira. Nossos alunos estão alheios a realidade humana e são progressivamente mergulhados em idiotices e coisas inúteis às necessidades da humanidade. Nossos professores defendem argumentos e teses inexpressivas, que não se justificam nos interesses coletivos maiores da humanidade. Nossos dirigentes escolares estão preocupados apenas com a manutenção de seus cargos, cuja origem é principalmente política e assim, tudo fazem, apenas para garantir suas respectivas permanências nos mesmos.
É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente, são apenas exceções, porque não têm força funcional e muito menos política, consequentemente não conseguem mudar a situação imperante. A mídia, por sua vez, também não cumpre seu papel e acaba por demonstrar, cada vez mais, o seu interesse na continuidade dessa conjuntura degradante e assim, faz coro para o que está errado, trabalha contra as mudanças necessárias e ainda interfere bastante produzindo informações que só ampliam a degradação educacional e humana.
O mais estranho de tudo isso, é que tem muita “gente” que acredita e age como se tudo estivesse bem e que defende a manutenção desse “status quo”. As escolas não são mais capazes de trabalhar para formar pessoas, porque estão preparadas apenas para produzir coisas que produzam lucro para alguém. A educação é uma falácia, um conto de fadas triste, onde não vai haver final feliz, porque, de fato, não se quer educar e nem formar ninguém. Sempre gosto de lembrar Darci Ribeiro, quando ele dizia: “No Brasil, a crise educacional, não é uma crise e sim um projeto”. Eu me permito ir além e tristemente afirmo que esse é o único projeto brasileiro que tem tido continuidade nos últimos anos.
Assim, concluo que a atual e evidente degradação humana é resultado de planejamento trabalhado por especialistas em criar humanos piores, através da “educação”, pelo menos aqui no Brasil. Transformaram a sociedade e fizeram com que grandes massas de seres humanos virassem marionetes no interesse puramente político de alguns. Esqueceram que a humanidade se compõe de pessoas e destroem essas pessoas como se fossem coisas inservíveis, sem sentimentos, sem valores morais e sem nenhuma condição ética.
Até quando continuaremos seguindo nessa direção, que transforma os valores, reverte a ordem e perverte a população, particularmente a juventude brasileira?
Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.
Artigo publicado em 23/01/2022 no “site” https://oblogdowerneck.blogspot.com e readaptado para esta publicação.