A Monotonia e Perigo das Monoculturas
Resumo: O texto atual faz uma comparação genérica e levanta um alerta para a questão perigosa do crescente aumento e áreas de monocultura e da redução progressiva das áreas naturais.São destacados alguns dos principais problemas que se originam dessa situação e também são citadas algumas questões preocupantes em relação ao assunto, como a preocupação exclusiva com o aumento da produção agrícola e o uso indiscriminado de agrotóxicos, que compromete o ambiente e os organismos.
A MONOTONIA E O PERIGO DAS MONOCULTURAS
Quem já esteve no interior de uma mata natural e no interior de uma Monocultura, quaisquer que sejam, além da monotonia da paisagem na monocultura, certamente também conseguiu perceber que não são apenas dois ambientes distintos. Na verdade, a diferença que se estabelece entre uma área de monocultura e uma área de mata natural é imensa. São efetivamente dois mundos extremamente distintos e a discrepância entre esses mundos é semelhante àquela que ocorre da água para o vinho. Embora ambos sejam ambientes vegetados como duas formas de florestas, assim como a água e o vinho são substâncias líquidas, mas os componentes presentes em cada um deles, nos permitem concluir que o vinho é mais denso, mais complexo e consequentemente mais completo e mais organizado que a água.
A monocultura e a mata natural apresentam claras diferenças na complexidade, na conformação e na organização, em consequência do enorme hiato entre a biodiversidade de ambas. A fauna e a flora tanto quantitativa, quanto qualitativamente são extremamente distintos. Além disso, o piso (chão) é diferente, a temperatura média é diferente, a umidade relativa é diferente, o cheiro é diferente e até mesmo o humor das pessoas dentro de cada uma dessas áreas vegetadas fica diferente.
Na monocultura praticamente não existe nenhuma diversidade, pois tudo é muito semelhante. A pessoa anda, anda, anda e parece que que não saiu do lugar, porque a paisagem é sempre a mesma. Enquanto que na mata natural (qualquer mata natural), a pessoa não consegue dar nenhum passo sem observar coisas e situações extremamente distintas. A riqueza de biodiversidade numa mata natural, por menor que seja, é imensa, se comparada a qualquer monocultura. Principalmente quando se trata de uma região tropical como a nossa.
Entretanto, além da observação desses aspectos puramente visuais e também dos sensoriais, que talvez sejam menos atraente e perceptivos, a monocultura traz inúmeros outros problemas, os quais são muito mais sérios ao ambiente e necessitam ser informados e discutidos em alguns de seus detalhes, para que possam ser progressivamente minorados e sanados.
Por exemplo, o solo que suporta uma monocultura tende a ser fraco e estar viciado, porque sempre sofre exploração dos mesmos recursos básicos (nutrientes) ficando cada vez mais carente desses nutrientes específicos e consequentemente sobrecarregado de outros. Com o passar do tempo, periodicamente o solo da monocultura necessita ser arado e adubado para garantir sua fertilidade, a manutenção do cultivo e a consequente produção. O custo de manutenção desse solo é muito caro.
Por outro lado, os insetos e demais animais que, por ventura, vivem na região dessa determinada monocultura, são sempre os mesmos e quando, por qualquer motivo, não são os mesmos, as formas diferentes que aparecem acabam se tornando pragas terríveis, porque não existe competitividade com outras espécies, haja vista que a variabilidade de espécies é muito pequena nesse tipo de ambiente. Praticamente não existe biodiversidade e assim, o ambiente da monocultura como um todo é frágil e sempre está perigosamente sujeito ao desequilíbrio e ao extermínio, pois basta apenas um pequeno deslize para que esse ecossistema artificial acabe rapidamente.
Já nos ambientes com matas naturais, o risco de extermínio natural é praticamente inexistente e só poderá ocorrer por conta de situações catastróficas naturais muito severas, haja vista que a própria biodiversidade desse tipo de ambiente sempre garantirá a sobrevivência de algumas espécies e a manutenção de parte do ambiente primitivo, o qual poderá se regenerar e se recompor ao longo do tempo. Quanto mais diversificado for um determinado ambiente, certamente maior também será a sua vitalidade. Por isso mesmo, os ecossistema naturais são mais resistentes do que os artificiais e essa resistência é, em grande parte, uma consequência da própria biodiversidade do ecossistema.
Mas, ao longo da história da humanidade, o homem, em sua ação usurpadora e colonizadora dos ambientes naturais, tem transformado ativamente muitos ambientes naturais em áreas de monocultura, de maneira perigosa e comprometedora à capacidade de suporte dessas áreas e isso tem se repetido em todo o planeta, por conta da necessidade cada vez maior de novas áreas de monoculturas. Como a população humana não para de crescer, as necessidade de recursos naturais para alimentação, construção e outras atividades produtivas de interesse exclusivo da humanidade são progressivamente mais necessárias.
Além disso, não sei explicar o motivo real e penso que não ninguém que saiba explicar fora de um contexto econômico, mas, independentemente da necessidade real, sempre se trabalha no sentido de uma produção maior do que de fato se precisa. Assim, novas áreas estão continuamente sendo transformadas em áreas de monocultura para a produção. Cabe ressaltar ainda que, para que a produção seja garantida, existe também a necessidade de que vários tipos de venenos (Agrotóxicos) sejam colocados diretamente sobre a cultura ou sobre o solo onde a mesma está se desenvolvendo, no sentido de impedir ou controlar a ação de possíveis pragas.
Em suma, a monocultura é ruim e nociva por vários aspectos concomitantes, pois enfraquece e envenena o solo acabando com a diversidade de microrganismos, homogeneíza a demanda de nutrientes e assim esgota certos recursos rapidamente. Além disso, a monocultura empobrece toda a biodiversidade área, pois os animais em geral tendem a desaparecer do local, porque com a mudança drástica da vegetação, também diminuem sensivelmente as possibilidades alimentares. Somente as espécies de animais relacionadas com a monocultura conseguem se manter, o que também homogeneíza a fauna.
Se não bastasse isso, com essa homogeneização da fauna na monocultura, as espécies consideradas pragas tendem a produzir resultados mais significativos aos seus interesses, em detrimento da própria monocultura que se quer explorar, porque não existindo competição e quase nenhum inimigo natural ou predador dessa espécie, ela tende a se multiplicar mais ainda. O resultado disso é a necessidade de aplicação de mais veneno na cultura para evitar que as populações de pragas aumentem, o que seleciona ainda mais as formas resistentes, contamina mais o solo e consequentemente a água.
O Brasil é lamentavelmente já faz algum tempo, o “campeão mundial no uso de agrotóxico” e continuamos crescendo no consumo dessas substâncias, envenenando cada vez mais novas áreas e nos intoxicando paralela e progressivamente. É nesse momento que surgem os contrários e questionam: “mas, sem as monoculturas nós não conseguiremos viver, sem elas, como
vamos produzir a madeira, o alimento, o papel, as essências, as coisa em geral que tanto necessitamos”?
Bem, eu quero dizer que que isso infelizmente ainda é uma verdade. Nós ainda precisamos muito de algumas monoculturas tradicionais, mas essa situação pode e deve ser modificada gradativa e progressivamente, se houver interesse de se investir pesadamente em Agroecologia, em Silvicultura Natural e em Cultivo Orgânico. Enfim, investir em Economia Verde. É óbvio que nossa dependência do atual modelo ainda é muito grande, mas já está bem claro que esse modelo nos levará seguramente a estagnação dos solos e ao fim dos ecossistemas naturais. O pior é que levará também, ao envenenamento da água, das pessoas e de grande parte dos animais, principalmente dos grandes predadores, aqueles que ocupam o topo das Cadeias Alimentares nos diferentes ecossistemas, por conta da Magnificação Trófica.
Não será possível desintoxicar todas as pessoas e animais já intoxicados, mas é possível intoxicar cada vez menos e garantir o aumento gradual da fertilidade dos solos, manter a diversidade dos microrganismos e contaminar menos as águas. Já possuímos conhecimento tecnológico suficiente para produzir quase sem poluir, mesmo em larga escala. Só precisamos mudar o modelo, que só pensa na produção quase exclusivamente, como fonte de lucro e não como necessidade social humana e muito menos como garantia de continuidade dos ecossistemas naturais. Temos que programar uma forma de produção embasada no conceito de sustentabilidade no seu sentido mais estrito. Isto é, o futuro da espécie humana tem que ser garantido pelas populações do presente.
Apesar de tudo, ainda assim continuarão existindo determinadas culturas agrícolas em que serão necessárias as aplicações das práticas tradicionais em algumas situações e em alguns lugares. Nessas situações, enquanto não for possível empregar novas tecnologias específicas, obviamente deverão ser mantidas e desenvolvidas algumas atividades da tecnologia agroecológica já conhecidas, como rotação de culturas, adubação verde e as áreas de plantios intercaladas com áreas “in natura”, para minimizar os danos e as sequelas. Certamente levará algum tempo para recuperar o passivo ambiental, mas com o desenvolvimento de trabalho sério, continuidade e perseverança, vamos chegar lá.
Até levamos pouco mais de 150 anos de uso dos agrotóxicos, se levarmos o dobro ou mesmo o triplo desse tempo para recuperar algumas áreas envenenadas e principalmente, se deixarmos de envenenar novas áreas, certamente já terá valido à pena. A natureza não precisa de nossa colaboração mais efetiva, se indicarmos a direção devida e o sentido desejado, a natureza seguirá no caminho do nosso interesse corretamente. Até aqui, nós temos atuado contra a natureza, mas a partir de agora temos que andar do seu lado.
As gerações futuras desde já agradecem a nossa consideração e preocupação. Só garantiremos a manutenção biodiversidade natural, se pararmos de degradar, de poluir, de contaminar e em particular, se trabalharmos com afinco para minimizar as monoculturas e o uso de agrotóxicos. Dizem que o futuro a Deus pertence, mas é preciso trabalhar na linha certa, porque milagres só acontecem com quem acredita neles. Precisamos urgentemente, fazer a nossa parte. Tenho certeza que Deus estará olhando e cuidando do restante.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
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