Os Interesses Pessoais e a Estranheza do Comportamento Humano

Os Interesses Pessoais e a Estranheza do Comportamento Humano

Resumo: O artigo trata da minha preocupação com a falta generalizada de respeito mútuo que se estabeleceu entre os seres humanos nos diferentes grupos sociais ultimamente e proponho uma reflexão sobre a questão. Particularmente nos ambientes de trabalho e nas redes sociais, essa situação tem se agravado muito e isso precisa acabar para o bem da humanidade.


“Pessoas falsas são como produtos piratas: atraem pela facilidade e logo decepcionam pela qualidade.” (Epicteto)

“Um puxa-saco se parece com um amigo, da mesma maneira que o lobo se parece com um cão.” (a.d.)

De repente, pelas mais diversas situações, duas ou mais pessoas se tornam ou se dizem amigas e de repente a vida parece seguir muito bem entre elas, tudo flui de uma maneira quase sublime, trocando afetos e favores, manifestando apoio, solidariedade e tudo mais que se espera de um grau maior de relacionamento amigável entre seres humanos. Entretanto, é aí que, de repente uma dessas pessoas é afastada ou desligada do local e da atividade comum entre ela e todas as outras do grupo de “amigos” e a partir daí, de maneira absurda, parece que aquela pessoa nunca havia existido e que seus “amigos” simplesmente desapareceram do mundo.

É incrível a capacidade que o ser humano possui de esquecer ou de deixar de lado aqueles que não estão mais presentes, ou que não lhe são mais úteis. Rei morto, rei posto. Diz o ditado. Bem, mas, seja lá qual tenha sido a situação ou motivo que produziu o referido afastamento, no grupo de amigos também não se fala mais naquela pessoa, a menos que seja para criticar. Pois então, é assim que o ser humano se troca de “amigos”, mais ou menos como troca as baterias usadas dos objetos eletrônicos, ou seja, joga fora e nunca mais quer saber daquilo.

Num ambiente de trabalho coletivo essas coisas são bem mais fáceis de serem observadas, até porque o trabalho é, ou deveria ser, coletivo e as pessoas deveriam ser realmente próximas, no interesse efetivo do trabalho e da empresa em questão. Entretanto, como os interesses pessoais, infelizmente, sempre sobressaem aos interesses coletivos, fica quase impossível identificar a coletividade depois de algum tempo. Ou melhor, às vezes até parece que os interesses são realmente coletivos, mas, na prática, é cada um por si e o diabo pelos demais ou na base do dito popular: “Deus que me ajude e o diabo que te carregue”.

Na verdade não sobra tempo e nem há vontade de se preocupar com o outro, particularmente quando esse outro não está mais no local e quando os interesses também são diversos ou, principalmente, quando até se compete por interesses pessoais com esse outro. Em suma, a coisa é mais ou menos assim: enquanto o meu “amigo” esteve presente ele era (parecia ser) o máximo para mim ou quase isso, mas agora que ele se foi, ele não representa nem o mínimo, porque simplesmente nem a lembrança dele existe mais. Azar dele, que se foi e sorte minha, que fiquei no lugar dele.

E se não bastasse isso, no ambiente laboral, ainda existem aqueles famosos puxa-sacos que resolvem promover agrados e até “festinhas” para justificar o verdugo daquele “amigo” infeliz, além de intensificar a bajulação, já imaginando algum benefício próprio. Os puxa-sacos, como diz o ditado, são aqueles infelizes que “não assumem nem sentados, aquilo que haviam falado de pé”. Obviamente há quem não concorde com essa situação vexatória produzida pelos puxa-sacos, mas os canalhas do grupo tudo farão para serem os principais destaques da “festinha”. Pelo amor de Deus! Isso é ultrajante! Por que o ser humano age dessa maneira?

O comportamento humano é realmente muito estranho, pois o ser humano critica e reclama das ações dos outros humanos, mas, na maioria das vezes, quando tem oportunidade de passar por uma situação similar, ele age de maneira similar e faz exatamente a mesma coisa errada que havia reclamado do outro ter feito. Ou, como disse o dramaturgo romano Plautus (254-184 a.C.): “o homem é o lobo do homem”, isto é, o homem não respeita nem mesmo o seu semelhante.

A espécie humana é a única espécie viva que, de alguma maneira, se sente bem com a desgraça dos seus semelhantes e o pior é que os indivíduos humanos, que se dizem racionais, nem pensam que amanhã ou depois eles próprios poderão ser as próximas vítimas de todas as ações infundadas que aconteceram, que acontecem e que certamente ainda continuará acontecendo. Infelizmente, a pouca visão coletiva dos humanos e sua extrema atitude egoísta e egocêntrica parece levar cada vez mais a essa situação vergonhosa e degradante.

Enquanto as demais espécies vivas atuam no sentido da manutenção do grupo, os seres humanos seguem no sentido exatamente oposto e priorizam drástica e perigosamente os interesses individuais. “O grupo, os meus “amigos”, que se danem, desde que eu me de bem”. Assim, não existem amigos de fato, existem apenas os outros seres humanos com quem drasticamente somos temporariamente obrigados a conviver para alcançar os nossos interesses pessoais. Até quando a racionalidade do “ser humano” vai continuar pensando e agindo assim?

Por outro lado, quando é que qualquer animal iria deliberadamente prejudicar a sua própria espécie ou promover o carrasco de seu semelhante? Apenas o ser humano é capaz disso. Somente o ser humano é capaz de colocar o seu interesse pessoal acima do interesse coletivo e da dignidade humana e infelizmente apenas a coletividade humana é capaz de concordar com isso sem rodeio e dentro da mais total normalidade. Em qualquer espécie viva, quem destrói indevidamente deve ser destruído, mas o ser humano é diferente, estranho e não vê aquilo que lamentavelmente não quer ver.

Num dado momento, eis que seu “amigo” (semelhante) foi injustamente degradado e violado no seu direito, nas suas condições profissionais e humanas sem nenhuma causa que justificasse ou fundamentasse o ato e você, além de nada fazer para tentar ajuda-lo, ainda propõe uma festinha para o seu carrasco. Que falta de propósito e principalmente que falta de inteligência, de amor próprio e de respeito com o seu “amigo”, que é um ser humano como você e que foi violentado no seu direito, por conta de questões certamente menos relevantes do que aquelas que seriam referentes ao ambiente de trabalho, sendo degradado como pessoa e desprezado como indivíduo em todo o seu potencial profissional. Caramba! Que situação mais besta!

Senhores, somente quem já sentiu na pele uma situação semelhante sabe como essa coisa, além de terrível e horrenda, é extremamente dolorida. É preciso que fique claro e que se estabeleçam normas especificando aos “chefes” e aos “falsos líderes de grupos sociais”, que questões pessoais não podem, de maneira nenhuma, interferir em questões institucionais, profissionais ou trabalhistas, pois quem sai sempre prejudicada é a instituição ou a empresa em questão e a atividade que ela desenvolve naquela comunidade específica. Palavras como ética, companheirismo e altruísmo necessitam ser ressaltadas, rememoradas e talvez até redefinidas para serem melhor entendidas pelos diferentes grupos sociais humanos, principalmente nos ambientes laborais.

Como último comentário, quero aqui lembrar que os famosos puxa-sacos, a meu ver, são ainda muito piores que aqueles que cometem as arbitrariedades contra os colegas de trabalho ou de organização social em nome de seus próprios egos. Os puxa-sacos são aqueles sujeitos que concordam com apatia e omissão da arbitrariedade imposta pelo outro sobre o seu “amigo” do grupo e muitos ainda têm a capacidade de tentar justificar, defender e até louvar essa ação desagradável e perniciosa. Esse tipo de sujeito é um crápula desprezível e se a humanidade não merece o tipo de homem que degrada outro homem por questões pessoais, tampouco merece o homem que concorda e apoia essa degradação.

É preciso lembrar sempre, que somos seres humanos e nossa prioridade maior deveria ser cuidar dos demais seres humanos como nós, aliás essa é a própria noção da palavra humanidade. A traição, a calúnia e a falsidade não deveriam, de maneira nenhuma, ter cabimento no relacionamento entre seres humanos, porque essas atitudes corroem o instinto fraternal que deveria ser estabelecido e moralmente exigido por toda humanidade.

Além disso, é fundamental reconhecer que independentemente de qualquer aspecto que se queira considerar, a divergência entre seres humanos é uma característica natural e salutar, que sempre vai e deve existir, o que não pode acontecer é que um ser humano se utilize dessa divergência como motivo para prejudicar, degradar ou mesmo tentar destruir o outro ser humano. Por favor, pensem nisso, antes de tomar certas atitudes descabidas e nocivas ao grupo social mais próximo e por consequência à toda sociedade.

Não se deixe fazer parte do grupo dos seres humanos que envergonham a nossa espécie e que nos mostram que existem muitos animais que podem ser considerados superiores a nós, se não como organismos vivos, certamente como entidades que respeitam seus semelhantes ou mesmo como “entidades pensantes”, que, mesmo “não sendo racionais”, conseguem “refletir” sobre a importância dos seus iguais. Não sei, mas acredito que a racionalidade humana precisa ficar mais evidente nas ações humanas planetárias e necessita, mormente, se manifestar muito mais no que se refere as diferentes relações dos seres humanos com outros seres humanos.

Os interesses individuais (pessoais) e a maldade humana não devem tem lugar no mundo que a maior parte da humanidade quer e merece ter. Desta maneira, esses interesses pessoais, que acarretam a maldade humana não devem prosperar, porque eles minguam as relações próximas entre os seres humanos. Esses interesses são degradantes da sociedade e, salvo melhor juízo, parecem ser a principal doença que tem acometido os diferentes grupos sociais humanos. Em qualquer situação ou local, devemos atuar para tentar superar essa moléstia humana, pensando mais nos interesses da coletividade e menos nos indivíduos, pois certamente esse é o caminho melhor para toda humanidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

2 comentário(s)

  1. “Pessoas falsas são como produtos piratas: atraem pela facilidade e logo decepcionam pela qualidade.” (Epicteto)

    Epicteto nunca disse essa frase!!

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    1. Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
      Eu encontrei a citação como sendo de Epitecto e acreditei ser de fato.
      De qualquer maneira, muito obrigado pela informação.
      Prof. Luiz Eduardo

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