UMA ESPÉCIE SÓ, COM UMA VIDA APENAS, NUMA TERRA ÚNICA

Resumo: No artigo é questionada a postura dos seres humanos em relação ao planeta aos longo do tempo e considerada a necessidade premente de mudança no comportamento humano para que a Terra, que continua sendo o único lugar que temos para viver, possa continuar permitindo a existência da Humanidade. 


Nós humanos, somos uma espécie única, que habita o planeta há cerca de 250 mil anos, um tempo relativamente pequeno, se comparado a outras espécies vivas que também habitam a Terra. Nesse período existiram outros Hominídeos, mas só nós, a espécie Homo sapiens permaneceu.

Milhões de planetas no universo, apenas 9 deles estão no nosso Sistema Solar, mas a Terra, ao que parece, é o único planeta em que a vida se formou e evoluiu. Pelo menos a vida como conhecemos e concebemos. A Terra abriga milhões de espécies vivas, mas o Homo sapiens é uma espécie única, que surgiu entre 300 e 250 mil anos. Um tempo relativamente pequeno, para um planeta com pouco mais de 4,5 bilhões de anos, no qual a vida começou a se desenvolver a mais ou menos 3,5 bilhões e a vida pluricelular a pouco menos de 700 milhões.

Quer dizer, a espécie humana é quase insignificante no tempo geológico da Terra. Entretanto, no pouco tempo de nossa existência mudamos progressiva e drasticamente a fisionomia do planeta, mormente nos últimos 250 anos. Essa mudança foi tão significativa que hoje compromete a própria estabilidade planetária para grande parte das espécies vivas, inclusive e principalmente, a própria espécie humana.

Como qualquer coisa viva, só vivemos uma vez e a única certeza que temos como organismos vivos é que certamente vamos morrer. Aliás, é bom que fique claro, que vamos morrer tanto como indivíduos, quanto como espécie viva, porque a extinção é um processo natural e tudo que existe certamente um dia deixará de existir. Essa é uma regra, uma lei natural, que aprendemos desde cedo: qualquer organismo vivo, nasce e morre.

Porém, para algumas formas vivas o tempo é bem generoso e para outras nem tanto. Por exemplo, os tubarões, estão por aí faz, pelo menos, 400 milhões de anos, enquanto os Hominídeos (seres humanos) estão há apenas 7 milhões. Obviamente muitas espécies de tubarões se extinguiram nesse período, mas ainda existem várias espécies viventes. Mas dos seres humanos, como já foi dito, só sobrou o Homo sapiens, que surgiu muito recentemente.

É claro que não existem regras lineares, nem absolutas para o tempo de vida de qualquer espécie viva, umas formas vivem mais e outras vivem menos, mas certamente o uso dos recursos naturais é um fator importante nessa contagem de tempo. Assim, há de se convir, que historicamente não tratamos bem os nossos recursos naturais, porque 250 mil anos é muito pouco tempo se fizermos uma comparação com a grande maioria das espécies de animais vertebrados existentes no planeta. Nossa postura com a Terra sempre foi predatória e degradadora. Na verdade, nós nunca respeitamos o planeta e as demais espécies vivas.

Só temos uma vida e só temos uma casa, a Terra, onde podemos viver. E por que não cuidamos bem dessas duas coisas: a nossa Vida e a nossa casa (Terra)? Essa é a grande questão, que tem borbulhado na cabeça dos maiores pensadores ao longo da história. Por que o ser humano, aparentemente, não dá a mínima importância para o Planeta e para a Vida?

Tomamos o planeta de assalto, nos assumimos como seus donos e seguimos fazendo qualquer coisa para manter essa condição. Se, por acaso, outros humanos não concordam conosco, então entramos em guerra contra eles (matamos ou morremos deliberadamente) e quem ganha a guerra fica com o lugar que era do outro.

A História humana está cheia de passagens desse tipo. Parece que nós não aprendemos nunca e desta maneira, vamos caminhando, a trancos e barrancos, enquanto o planeta suporta. Mas, ainda assim, nossa espécie se reproduziu rápida e assustadoramente sobre a Terra e ocupamos cada vez mais o espaço planetário.

Verdade é que, da mesma forma que não nos incomodamos, com os outros humanos, também não nos incomodamos com as outras espécies vivas e nunca nos importamos com o planeta. Fomos ocupando e destruindo progressivamente sem nenhuma preocupação com as consequências que poderiam advir dessas atitudes.

Recentemente, apenas nos últimos 50 anos, alguns de nós finalmente descobriram que essa situação não pode continuar nesse ritmo frenético de guerrear, destruir e ocupar, até porque só temos um planeta e tudo, absolutamente tudo, acontece exatamente aqui mesmo. É daqui que tiramos todos os nossos recursos para viver e sobreviver. Do jeito que estamos caminhando não teremos, como espécie, muito tempo de vida pela frente.

Não sei, mas me parece óbvio que, se eu atear fogo na minha casa, ela irá se incendiar e eu não terei onde morar. Então, por que o ser humano está ateando fogo na Terra? Será que somos uma espécie suicida? Por outro lado, o planeta certamente também não “gosta” dos seres humanos e assim, ao se defender das ações maléficas da humanidade, acaba trabalhando para extingui-los o mais rápido possível. Quer dizer, estamos numa “sinuca de bico” e única solução possível é mudarmos de postura e investirmos ativamente em ações que visem as melhoras das condições planetárias.

Somos uma espécie só, temos uma vida só e vivemos no único planeta que permite a vida (pelo menos até onde sabemos). Assim, já passou da hora do ser humano assumir a sua responsabilidade e passar a cuidar melhor da sua vida, entendendo que para cuidar da vida humana é necessário, antes de qualquer coisa, respeitar os demais seres humanos e as demais espécies vivas, além de estabelecer limites para o uso dos recursos e para a ocupação dos espaços físicos do planeta.

Nossa espécie só sobreviverá um pouco mais aqui na Terra, se assumirmos as nossas obrigações planetárias doravante. Os futuros seres humanos, estão esperando que nós cumpramos com nosso dever agora. É bom lembrar que a sustentabilidade deixou de ser balela ou apenas uma maneira de pensar romântica que alguns sujeitos chatos inventaram para incomodar os outros.

Hoje, a sustentabilidade é uma necessidade para que se possa tentar garantir a continuidade da humanidade. Portanto, devemos trabalhar cotidianamente na criação das condições que permitirão a vida dos seres humanos de amanhã. Quem sabe, agindo assim, ainda teremos tempo, até mesmo para procurar outros lugares para vivermos no futuro, se houver necessidade.

Mas, é preciso ter em mente que tudo é finito. Deste modo, mesmo que encontremos outros mundos, onde a continuidade da vida seja possível, nossa postura deverá continuar nos conduzindo sempre numa visão de sustentabilidade. Isto é, quem vem depois, ou seja, nossos descendentes têm os mesmos direitos que nós temos, para utilizar os recursos naturais, os espaços físicos e serem felizes, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar.

Hoje, ainda temos uma casa (Terra) só e se, porventura, lá na frente tivermos outros espaços para ocupar, ainda assim, temos que ter em mente que o uso de qualquer espaço será sempre limitado.  Entretanto, não podemos nos esquecer que ao longo desses 250 mil anos foi a Terra nos deu tudo e nos manteve vivos como indivíduos e como espécie.

Obviamente, se mudarmos de atitude, a Terra ainda pode nos dar muito mais, porém, independente de qualquer situação futura, cumpre a nós, no presente, a obrigação de garantir que ela continue nos fornecendo as condições de viver como indivíduos e de sobreviver como espécie. Por enquanto, temos que agir com sapiência, fazendo jus ao nome de Homo sapiens e deste modo, estando mais atentos e mais preocupados com o fato de que somos uma espécie só, cujos indivíduos vivem uma vida apenas e que a Terra, a nossa casa, também é única.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

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