REFLEXÕES SOBRE O CRESCIMENTO POPULACIONAL HUMANO CONTÍNUO
Resumo: Nesse artigo apresento algumas reflexões sobre o Crescimento Populacional Humano e dos riscos consequentes desse crescimento aleatório e insano que até agora tem acontecido. Destaco a necessidade de mudança nessa situação, antes que seja tarde demais.
Ultimamente tenho pensado muito sobre a questão do crescimento populacional humano aleatório e contínuo. Tenho lido e refletido bastante sobre esta questão e cheguei à conclusão de que existe muita gente boa, séria e até bem-intencionada, misturando as coisas, falando e fazendo muita besteira sobre aquilo que não entende perfeitamente. Deste maneira, pude concluir que grande parte dessas pessoas, sem saber, está sendo usada como massa de manobra por interesses políticos partidários, para criar problemas oriundos de factoides relacionados ao crescimento populacional humano.
Para começar eu quero dizer que também sou ciente de que o crescimento aleatório da população humana no planeta é realmente um grande problema, em alguns casos, chega a ser um absurdo e precisa efetivamente ser discutido, reavaliado e minimizado. Entretanto, é preciso que sejam respeitados tanto os limites físicos e químicos que mantém a capacidade biológica do ambiente, quanto os diferentes interesses nacionais dos espaços a serem ocupados. Acredito que países como a Índia, a Indonésia e a Nigéria têm que estar atentos as suas limitações espaciais e consequentemente as suas limitações populacionais. Por outro lado, países como o Brasil, a Austrália, o Canadá e a Rússia, certamente ainda podem e devem tentar ocupar melhor os seus respectivos espaços físicos, porque certamente ainda falta muita gente em algumas de suas regiões.
Bem, dito isso, acredito que agora posso continuar com minha argumentação. Deste modo, eu vou partir do suposto que os países são soberanos sobre seus territórios e devem tratar as questões populacionais dentro de suas necessidades e interesses, mas ressalvando que o planeta é o lugar comum de outros inúmeros países, os quais também têm direito ao uso do espaço e dos recursos planetários. Isto é, a preocupação nacional de quem quer que seja, não pode interferir na segurança maior da humanidade e assim, o espaço físico e os recursos naturais neles existentes devem ser proporcionais às necessidades coletivas e não aos interesses apenas nacionais. Uma coisa é ser dono de um determinado espaço ou de certo tipo de recurso, outra coisa e acreditar que por ser o dono de algo é possível ser irresponsável na sua explotação.
É preciso que se entenda de uma vez por todas que, embora existam inúmeros países, a Terra é uma só e todo ser humano, independentemente de sua nacionalidade tem direito, de acordo com as normas legais internacionais, de viver e usar os espaços terrestres e os diferentes recursos neles encontrados, independentemente de sua nacionalidade. Aliás, não só os seres humanos têm esse direito, como também as demais criaturas existentes no planeta e por isso mesmo, esse direito deve também ser estendido e garantido a todas as criaturas vivas. Além disso, cabe lembrar que os seres humanos também devem legalmente tutelar e cuidar das demais espécies e por isso mesmo é que existem as leis de proteção à fauna e à flora, porque se não fosse assim, tais leis não fariam nenhum sentido.
Quando se discute sobre o crescimento populacional humano devem ser feitas três perguntas fundamentais. A primeira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: o crescimento populacional humano é realmente um problema? Sim, certamente é um grande problema, mas não é tão grande e tão impossível de ser resolvido como pretendem alguns mais radicais, que propõem soluções absurdas e infelizes. Uma segunda pergunta questionaria se esse problema pode ser solucionado sem grandes transtornos? E a resposta, por incrível que pareça, também é sim. A terceira pergunta que deveria ser feita é a seguinte: esse problema atingiria todas as populações vivas ou só a algumas? O problema, como dissemos acima, atinge a todas as espécies vivas do planeta, haja vista a condição cosmopolita e a forte condição modificadora do meio ambiente desenvolvida pela população dos seres humanos.
Então, a partir dessas três questões que nós certamente já sabíamos as respostas, embora fingíamos não saber, decorre uma quarta pergunta: onde estão as justificativas para assumir situações extremas e descabidas ou para se omitir nas discussões sobre os problemas relacionados ao crescimento aleatório e exagerado das população humana no planeta? E eu respondo: exatamente na falta de bom senso e no desconhecimento específico da maioria das pessoas sobre esse assunto, que embora muitas falem, na verdade, pouquíssimas realmente entendem e outros nem querem entender. Por conta disso, resolvi escrevi esse artigo e possivelmente servir de alvo de possíveis ataques de muitos desses falsos profetas que andam por aí cometendo e comentando inverdades sobre a questão do crescimento populacional humano.
Antes de continuar, necessito fazer um pequeno esclarecimento sobre três conceitos ecológicos básicos e importantíssimos para o efetivo entendimento desse assunto, são eles a Lei do Mínimo, a flutuabilidade populacional e a capacidade de suporte do meio. Esses conceitos se constituem definitivamente em critérios ecológicos fundamentais para a possibilidade de manutenção e continuidade da uma espécie viva em qualquer espaço físico planetário. Dito isto, sem ser técnico demais, vou fazer um breve esclarecimento sobre esses conceitos, pois tenho certeza de que elas serão novidades para muitos dos leitores e talvez, até para muitos pretensos conhecedores do assunto.
A Lei do Mínimo (Lei de Liebig) diz que sempre existe um mínimo de recursos necessários à sobrevivência de uma população em um determinado ambiente. A flutuabilidade populacional informa que as populações oscilam entre uma quantidade ideal de indivíduos ao longo do tempo. E a capacidade de suporte afirma que o meio não pode suportar mais indivíduos do que aquele contingente existente no pico máximo da população e que é exatamente esta flutuabilidade que garante a sobrevivência e a manutenção de uma espécie naquele determinado ambiente. Pois então, a população de indivíduos da espécie humana não foge as regras ecológicas planetária e assim, nossa população também tem que se estabelecer de acordo com os preceitos desses três critérios ecológicos fundamentais.
Assim, fica fácil entender que se tivermos um população muito grande dentro de um espaço muito pequeno, certamente irá faltar recursos e assim a mortalidade se ampliará e se a situação persistir naquele espaço a população desaparecerá. E isso, bem simples mesmo. Essa é uma lei natural e verdadeira, não é uma falácia Por exemplo, se utilizarmos todo o oxigênio de um determinado espaço, o oxigênio acaba e todos os dependentes de oxigênio que existem naquele espaço morrem. Isso acontece assim mesmo, com qualquer população natural que seja privada de recurso fundamental.
Na Terra existem várias coisas que são recursos utilizados e disputados pelas diferentes espécies vivas e a manutenção desses recursos é fundamental para a manutenção de todas as espécies que habitam os diferentes ecossistemas da Terra. Se faltar algum desses recursos, isto é, se o mínimo necessário de recursos não se estabelecer, a população da espécie tenderá a declinar até finalmente se extinguir naquele local (espaço). Cabe ressaltar que só existe uma Terra. Aliás, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”. A situação se resolverá aqui ou aqui. Isto é, ou vivemos aqui, ou morremos aqui.
Deste modo, o meio ambiente (espaço físico e seus recursos) é o fator preponderante para limitar o crescimento populacional das diferentes espécies vivas, as quais, por isso mesmo tem que se adaptar e assim essas populações flutuam entre um máximo e um mínimo de um nível populacional satisfatório e imaginário (população ideal). Quem determina efetivamente se uma população cresce ou não é um conjunto de fatores, que envolvem a capacidade reprodutiva da própria espécie, os seus predadores e competidores, as suas doenças, o clima, e sobretudo, a capacidade de suporte que indica resistência do meio (resistência ambiental).
Mahatma Gandhi já dizia que: “o mundo (a Terra) é grande o suficiente para atender as necessidades de todos, mas sempre será demasiado pequeno, para a ganância de alguns”. A Humanidade precisa entender que gente não é apenas um produto a ser reproduzido e que a Terra não existe apenas para os seres humanos se espalharem ocasionalmente e a bel-prazer sobre seus diferentes espaços. A população humana não é um mero acaso oriundo da reprodução e da vontade humana ou apenas mais uma questão puramente social ou política. A população humana é o maior contingente específico de organismos de grande porte sobre a superfície do planeta, tendo causado grandes e significativos impactos ambientais na Terra. A mancha populacional humana é diretamente responsável por muitas coisas que acontecem na Terra.
A reprodução humana está sujeita as mesma causas físicas naturais que interferem nas demais populações e que não permitem sempre mais indivíduos no mesmo espaço. Em algum momento não haverá mais espaço ou acabarão os recursos existentes naquele espaço e aí a extinção da espécie efetivamente começa a acontecer. Não há mágica, isso é natural e o homem, querendo ou não, também está sujeito as leis da natureza. E mais, nossa responsabilidade é muito maior, porque, muito provavelmente, sejamos a única espécie do planeta que tem ou que deveria ter consciência desse fato. No entanto, muitos de nós, continuam dando de ombros para a realidade natural e achando que os humanos são diferentes das demais coisas vivas.
É claro que eu também acredito que já tem muitos seres humanos no planeta Terra e que esse imenso contingente é perigoso para a sobrevivência de nossa espécie. Afinal, já ultrapassamos os 8 bilhões de indivíduos. Mas, nem por isso, estou pensando em matar ninguém, como tristemente imaginam alguns “seres humanos” radicais. Aliás, ao contrário, penso que quem já está por aqui, tem um valor fundamental para tentar mudar o quadro atual e agir ativamente na garantir da continuidade dos demais seres humanos. Quem está vivendo e usufruindo dos espaços e dos recursos do planeta, precisa trabalhar para manter e estender as possibilidades das condições vitais planetárias para os outros seres humanos, principalmente aqueles que ainda vão nascer.
O que realmente se precisa é ocupar de maneira melhor, mais adequada e mais inteligente, os espaços e distribuir os recursos naturais de um forma mais equitativa entre todos os seres humanos do planeta. Na verdade, há necessidade de se compreender que a divisão política criada pelo homem, na realidade não condiz em absolutamente quase nada da composição natural do planeta e assim, a distribuição dos recursos planetários, muitas vezes, é totalmente injusta e que somente a humanidade pode, se quiser, estabelecer a justiça nessa situação. Entretanto, é necessário ficar claro que a culpa disso não é da natureza, mas sim da própria arbitrariedade humana.
Além disso, a humanidade também criou outros valores, totalmente artificiais (dinheiro, poder, conforto, fama), que, muitas vezes, acabaram por assumir importância maior e mais contundente para os seres humanos, o que aumentou a especulação e interferiu mais significativa e ativamente na ocupação dos espaços e na utilização dos recursos naturais. E se isso fosse pouco, ainda há que se considerar as inúmeras populações locais e espécies planetárias que foram e estão sendo extintas por conta do desleixo e da irresponsabilidade humana com o planeta e com as demais criaturas vivas. O “bicho-homem” se transformou na maior praga do planeta e precisa deixar de ser assim.
Talvez, o que precisemos discutir seja exatamente isso: como organizar o planeta de uma maneira satisfatória e benéfica, na qual tudo seja suficiente para todos, deixando de lado os valores artificiais? Hoje um desses principais problemas artificiais é, por exemplo, o dinheiro, que qualifica os países em pobres e ricos. A ganância pelo dinheiro costuma ser a causa mais comum dos desacertos humanos, haja vista que os ricos querem se manter ricos e os pobres, por mais que lutem, quase nunca conseguem deixar de ser pobres. Essa competição cria e amplia os conflitos humanos e obviamente isso também interfere nas populações, mas a maioria dos humanos ainda não quer discutir essa questão agora.
Certamente é possível controlar a ganância humana se houver interesse verdadeiro nesse aspecto. Entretanto, até aqui, apenas estamos egoisticamente tirando recursos uns dos outros e nunca tentamos nos preocupar com todos os humanos do planeta. Infelizmente sempre temos nos dedicado apenas em buscar alcançar a nossa parte e os nossos interesses, lamentavelmente, esta situação ainda persiste, se agrava progressivamente e como a população não para de crescer, cada vez a coisa piora um pouco mais. Até quando?
O mal da humanidade no planeta não é a falta de espaço, de recursos naturais e de riqueza para muitos. Os males maiores da humanidade no planeta são a ganância e o egoísmo de alguns “seres humanos”, que simplesmente se esquecem que existem outros seres humanos e outras espécies vivas na Terra. Por isso é que a população da espécie humana cresce de maneira absurda e inconsequente, os espaços são ocupados sem nenhum critério geomorfológico e os recursos são usados de maneira arbitrária e inconsequente. A geopolítica de ocupação dos espaços e utilização dos recursos servem apenas a alguns grupos e alguns interesses, mas certamente não servem à humanidade. Não há nenhuma preocupação com a verdadeira dimensão da necessidade humana e nenhum respeito ao planeta que nos abriga.
Por outro lado, além de tudo isso, ainda deixamos um imenso rastro de lixo e sujeira daquilo que resta de nosso despojamento planetário. Esses resíduos vão se acumulando aleatoriamente e sempre poluindo novos espaços no planeta. Quanto mais gente, mais espaço, mais recursos, mais lixo e consequentemente menos humanidade e menos qualidade de vida às espécies. As necessidades naturais são sempre as mesmas e não se ampliam, mas as necessidades artificiais são cada vez maiores, para tentar suprir as carências oriundas das tentativas inúteis de resolução dos problemas. Grande parte da humanidade ainda não aprendeu que não se resolvem problemas novos com soluções velhas. Há necessidade de novos mecanismos para produzir resultados diferentes.
Por fim, a coisa está muito feia, mas apesar de tudo, eu insisto de que é possível ser solucionada. Basta querer, de fato. Não é querer e cruzar os braços, tem que querer e atuar. Arregacemos as mangas e comecemos verdadeiramente o trabalho de restauro de nosso comportamento em relação ao planeta e assumamos a nossa responsabilidade como espécie consciente e pensante. Para tanto, precisaremos apenas de muito bom senso, um pouco de altruísmo e de melhores políticas humanitárias entre as nações.
Aproveito o momento para sugerir algumas coisas que podem minimizar o absurdo e efetivamente melhorar de maneira progressiva a situação. Vamos procurar investir em políticas públicas e ações que propiciem boas práticas para um crescimento consistente e equilibrado das populações humanas nas diferentes localidades, sempre respeitando os princípios ambientais básicos. Estimulemos práticas naturais de controle consciente da taxa de natalidade e favoreçamos a ocupação de áreas pouco habitadas para que haja verdadeira dimensão da mancha produzida pela população humana no planeta e para que se evite a formação de áreas com grandes densidades demográficas.
Dediquemos o nosso tempo às causas de interesse para toda a humanidade e não às causas imediatas e mesquinhas pessoais ou de alguns grupos de indivíduos, geralmente mal-intencionados. Identifiquemos áreas e interesses comuns e cultivemos mecanismos mútuos de utilização dos espaços e dos recursos naturais, objetivando o interesse coletivo da humanidade. Além da Terra e de todos os organismos planetários estarem aguardando que cumpramos o nosso compromisso planetário, a humanidade também necessita que assumamos a nossa condição efetiva de seres humanos e cuidemos dos nossos semelhantes. As gerações futuras merecem o direito à vida de qualidade e nós temos que trabalhar nessa direção.
Por fim, certamente há áreas e regiões em que as populações não podem mais ser ampliadas e o espaço físico precisa ser recuperado e restaurado de maneira efetiva. Nessas regiões é fundamental que se intensifique a orientação sobre os malefícios das grandes concentrações humanas ao planeta e a própria humanidade, a fim de que seja possível evitar a degradação e a poluição mais significativas e mesmo a extinção da vida humana local, pelas mais diversas formas de contaminação e pela progressiva perda da qualidade de vida dessas áreas.
Não tenho dúvida de que a Terra saberá como conduzir o trabalho de recuperação, o ser humano só precisa ajudar, minimizando a pressão na ocupação dos espaços e no uso dos recursos e facilitando a retomada em busca da melhoria do planeta e da perenidade maior da própria humanidade. Como eu disse antes, A TERRA É UMA SÓ E A ESPÉCIE HUMANA TAMBÉM E NOS DOIS CASOS NÃO HÁ PLANO “B”. Se continuarmos separados em nossos interesses a coisa pode ficar drástica e irreversível, mas juntos, planeta e humanidade, seremos eficazes e possivelmente imbatíveis.
Assim, recuperaremos grande parte do que já foi degradado e seguiremos um pouco mais nessa caminhada pelo nosso planeta azul. Não temos que nos preocupar seriamente com o encontro de novo planeta que possa nos receber no futuro, temos sim que nos preocupar com a relação de equilíbrio de nossa mancha populacional sobre o nosso planeta Terra. Devemos respeitar mais e cuidar melhor do planeta que nos acolhe, nos abriga, nos fomenta e que, deste modo, até aqui, tem permitido que nos mantenhamos como organismos vivos ao longo nossa, relativamente curta, história evolutiva.
Nossa passagem planetária deve continuar, mas, para que isso aconteça a contento, será preciso ficar claro para toda humanidade que: “a Terra não precisa do homem, o homem é que precisa da Terra”. A partir desse entendimento temos que minimizar nossa pressão sobre os espaços planetários, sobre o uso dos recursos naturais e sobre a produção de resíduos. Para que que isso aconteça, o crescimento da população humana tem que entrar num processo progressivo que viabilize sua estabilização, dentro das possibilidades que a Terra ainda possa nos suportar e manter.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista