A Ética, a Natureza Humana e os 120 anos de Rotary International
Resumo: Este texto faz alusão aos 120 anos de Rotary International e reverencia a Instituição como exemplo de Postura Ética. Comenta sobre a carência de Ética no mundo e destaca o Rotary International como exemplo para ser seguido.
Nada é mais natural do que a ética, assim para ser ético, a princípio, basta agir o mais naturalmente possível. Entretanto, a humanidade, desde os primórdios da história, tem se envolvido progressivamente mais com a sua sociabilidade e, para tanto, alguns padrões naturais foram, também gradativamente, sendo substituídos por padrões sociais adquiridos e adaptados aos interesses específicos das sociedades dominantes.
Ou seja, a humanidade, ao longo da história, foi abandonando, cada vez mais, a sua condição natural primária e se aproximando de uma condição social secundária maior. Pois então, os valores e atitudes éticos foram sendo deixados de lado e perdidos, exatamente, para atender as modificações comportamentais assumidas no intuito de destacar o interesse maior das diferentes sociedades.
Em outras palavras, deixamos de lado a pureza da ética e assumimos a contaminação sociológica causada pelos interesses menores oriundos das diversas sociedades e assim, esquecemos, por exemplo, a gentileza natural e desenvolvemos, cada vez mais, a bajulação e o fingimento artificial. Mascaramos a nossa natureza e investimos numa realidade artificial forçada para manter as aparências e outros interesses menos nobres, em detrimento da ética e da verdade.
Em alguns momentos, particularmente nos últimos tempos, essas posturas forçadas parecem ter sido favoráveis e vantajosas para os que detêm o poder nas sociedades e assim eles criaram formas de paulatinamente irem invertendo os valores, até chegar ao atual estado de coisas, onde ser ético parece ser arcaico, errado e para muitos, até incoerente e inconsequente. Criamos uma “ética” atrelada diretamente à conveniência e ao interesse momentâneo e à vantagem pessoal ou daquele segmento social prioritário e deturpamos a realidade fraterna, sincera e necessária nas relações sociais humanas.
Antes que eu seja mal-entendido, quero deixar claro que não estou dizendo que esta seja uma questão apenas da modernidade. Certamente não é isso, porque, na verdade, a interferência de outros interesses sempre existiu nos grupos sociais humanos. Entretanto, na modernidade, tem sido possível identificar um contingente maior dessas atitudes e um acúmulo também maior desses interesses estranhos e indevidos. Esse fato, consequentemente, tem produzido uma ausência também maior da ética nas relações sociais humanas e uma degradação crescente dos valores humanos, do planeta e da humanidade.
É óbvio, que, na espécie humana, sempre houve pessoas éticas e de boa índole e pessoas antiéticas e de índole questionável. Pois então, esses dois grupos foram se misturando ao longo da história e as dificuldades em distingui-los foi ficando cada vez mais complicada e hoje, em muitos grupos, é quase impossível dissociar esta situação equivocada e preocupante para a humanidade. Ao que parece, a humanidade se contaminou e se degradou densamente, porque a sociedade se perverteu mascaradamente de maneira sorrateira e intencional.
Em muitas sociedades, o bem foi relativizado e o erro virou acerto. Ou melhor, as pessoas aparentemente se convenceram de que errar pode ser bom e de que acertar pode ser ruim, por conta da interferência nas ações e nos valores. Assim, nesse caos ético, o conceito de ser feliz, passou por cima de qualquer outra conotação, sem nenhuma ética e levar vantagem passou a ser a única coisa importante para muitos seres humanos dentro das diferentes sociedades. A prioridade individual passou a ser a principal maneira que movimenta muitos humanos dentro das sociedades modernas. Como o outro não importa, a humanidade perde e a ética, quando não desaparece totalmente, é considerada como mero detalhe, que pode e deve ser burlado sempre que for preciso., porque o fim justifica os meios.
Assim, maioria dos seres humanos, ou, pelo menos, a maioria dos seres humanos que influem diretamente nas sociedades e no comportamento social da humanidade, tem orientado às diferentes sociedades humanas e grupos sociais a procurarem facilidades independentemente da ética e dos interesses humanos primordiais. Desta maneira, as sociedades foram galgando e adotando práticas sociais antinaturais contrárias a ética e consequentemente descaracterizando as condições primárias da humanidade.
O homem moderno, não é diferente do homem primitivo, pois suas necessidades e desejos, a rigor, continuam sendo os mesmos, porém, os mecanismos utilizados para conseguir, modernamente, essas necessidades e desejos humanos são cada vez menos humanitários e cada vez mais ultrajantes da condição fundamental e ética da própria humanidade. As sociedades e seus interesses defloraram a humanidade e está, por mais que tente, não consegue, nem mesmo, minimizar os danos causados, quanto menos impedir suas consequências. Contudo, o pior, é que a maioria das entidades humanitárias e sociais não se atenta a esta questão e infelizmente, a caravana vai seguindo seu caminho errado.
Esta mácula social, sempre agravante e violenta, vai devassando a humanidade de uma maneira cruel e, como a massa populacional humana se divide, aqui e ali, em vontades e interesses diversos, fica sempre mais difícil de voltar a razoabilidade e reassumir a condição ética primitiva. O desejo de qualquer ser humano, foi, é e sempre será, ser feliz, mas as ideias e conceitos efetivos de felicidade são muito distintos nas diferentes sociedades.
Quer dizer, a humanidade busca a felicidade, mas o problema é que as sociedades têm trabalhado a massa humana no sentido de conseguir as suas próprias e respectivas ideias de felicidade a qualquer custo, doa a quem doer. Pois então, é esta ação insana que tem ampliado e produzido o afastamento da ética e que tem causado o grande estrago na humanidade. O homem social atropelou o homem natural e as consequências estão aí para todos verem. É possível afirmar numa única frase que: “está faltando humanidade aos seres humanos”.
A degradação ambiental planetária, a falta generalizada de respeito, o abandono dos princípios éticos, a perda da educação, da gentileza, da afetividade e crescimento insano do egoísmo e do corporativismo entre os humanos, por óbvio, são os tristes dividendos adquiridos desse modo de vida hiper sociologizado e inconsequente. Deste modo, na busca insana das vantagens pessoais ou grupais, temos deturpado o conceito verdadeiro de felicidade e, como já foi dito acima, as sociedades vem atropelando e destruindo a humanidade, para conseguir alcançar a felicidade da maneira como entendem. Ou melhor, as sociedades humanas estão esquecendo que elas são humanas e que precisam respeitar, prestigiar e procurar manter os seres humanos para continuarem existindo.
A natureza humana é que está sendo aviltada pela postura social antiética das sociedades modernas. Essa rota precisa ser freada, reavaliada e modificada, porque necessitamos colocar as coisas no eixo outra vez, seguindo os princípios humanitários e a rota natural da ética. Temos que começar a trabalhar numa nova postura comportamental dos seres humanos individualmente para tentar garantir um pouco mais de segurança social e da efetiva paz humanitária.
É preciso trabalhar muito nessa direção, porque, considerando que “a ética é um princípio que não pode ter fim”, é urgente que voltemos a dar o devido valor a este princípio, para poder continuar, a partir dele. Se nossa máxima rotária, acima citada, for realmente verdadeira e eu penso que seja, temos que ser mais contundentes nas nossas ações e precisamos entender e divulgar mais claramente ao mundo, que “o fim da ética tende a levar inexoravelmente ao fim trágico da humanidade”. Até porque, o nosso objetivo rotário e humanitário, que prioriza a ética, é totalmente oposto a essa possibilidade.
Assim, precisamos propor uma mudança efetiva no comportamento humano, na qual a vida planetária e, em especial, a vida humana, sejam realmente os principais protagonistas das diferentes sociedades humanas. O Rotary International, como uma entidade humanitária que, neste 23 de fevereiro de 2025, completa 120 anos e se constitui na instituição de maior credibilidade no planeta, tem que se utilizar do grande potencial, que é esse respeito internacional e se fazer presente na linha de frente das ações, promovendo intensas atividades na tentativa de conseguir desenvolver essa mudança comportamental na humanidade.
Companheiros, temos que trabalhar para resgatar a natureza humana perdida, levando a importância da ética pelo mundo afora. Além disso, ainda temos necessidade de demonstrar que somos cientes e conscientes de que a ética também é o caminho fundamental para conseguirmos nossos intentos humanitários. Ou seja, temos que ter em mente de que só resolveremos as questões éticas, sendo exemplos virtuosos de seres humanos, preocupados com o Planeta e com a vida. Quer dizer, como rotarianos, temos que manifestar, publicamente, nossa postura como cidadãos éticos e preocupados com a Terra e com a qualidade de vida de todas as espécies viventes, em particular, da espécie humana.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (69) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor, Ambientalista e Rotariano (Membro associado do Rotary Club de São José dos Campos-Oeste)