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Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

01 dez 2015

O Conceito de Ambiente Saudável e a Catástrofe Humana

Resumo: O texto atual é mais uma reflexão sobre a questão ambiental planetária e as perspectivas necessárias de mudança para a continuidade da espécie humana na Terra. É questionada a responsabilidade do homem como pretenso “Senhor da Terra” e citadas algumas coisas que deveriam ser feitas para a melhoria da qualidade de vida planetária. É citada também a COP 21 que está acontecendo em Paris, como efetiva fonte de acordo para começar a recuperação do Clima e do Planeta.


O Conceito de Ambiente Saudável e a Catástrofe Humana

O conceito de ambiente saudável deve ser compreendido numa amplitude que envolva objetivamente “aquele local (meio ambiente) que permite a geração, o desenvolvimento, a manutenção e a continuidade da vida”. Ao que parece, pelo menos até agora, a Terra é o único lugar no universo em que essas condições foram satisfeitas a contento e assim, somente aqui nesse planeta a vida se estabeleceu, evoluiu e diversificou. Entretanto, já faz muito tempo que o Planeta Terra vem progressivamente deixando de ser um ambiente saudável para grande número das espécies aqui viventes, inclusive e principalmente para a espécie humana. Aliás, sempre é bom lembrar que exatamente a nossa espécie é a principal responsável pela condição cada vez menos saudável do planeta Terra. Muitas espécies se extinguiram prematuramente e outras estão extremamente ameaçadas e certamente não terão mais salvação, por conta da situação lamentável situação de degradação que a espécie humana produziu no planeta até aqui.

Entretanto, nós temos certeza absoluta que não era para ser assim e o que o resultado deveria ter sido bem diferente, se o planeta tivesse seguido seu curso evolutivo naturalmente e sem a interferência humana. Com certeza, o ciclo planetário da vivência de grande número dessas espécies deveria ter sido bem maior e mais abrangente. Como o tempo de existência dessas espécies deveria efetivamente ser maior, eu estou me utilizando da expressão “extinção prematura” para o desaparecimento delas. Se a Evolução levou ao surgimento dessas espécies no planeta, certamente foi para que pudessem ter a oportunidade de lutar e tentar continuar evoluindo de maneira natural. A extinção poderia até acontecer para algumas delas, já que a extinção também é um fenômeno natural, mas essa extinção deveria ser decorrente de condições naturais aleatórias e não das imposições condicionadas pelas atividades humanas.

Os processos naturais de extinção normalmente costumam levar algum tempo para acontecer e quando se efetivam geralmente são resultantes de consequências evolutivas outras, oriundas das próprias atividades orgânicas (fisiológicas), genéticas, comportamentais, ou ainda ambientais das espécies e não provocadas quase que exclusivamente por ações antrópicas, como, por exemplo, a destruição de ecossistemas naturais. Algumas vezes, esses processos de extinção também resultam de atividades geomorfológicas catastróficas e grandes cataclismas, como foi o caso dos grandes dinossauros. Entretanto, esses fenômenos causam extinção em massa, o que não costuma ser uma regra, pois as extinções tendem a ser lentas e aleatórias, dentro do próprio processo de evolução biológica. Em outras palavras, as extinções naturais são consequências da própria evolução, onde umas espécies substituem as outras por estarem melhor adaptadas.

Pois então, nos últimos tempos, o que temos, infelizmente, observado é uma extinção prematura, rápida e progressiva de grande número de espécies, num padrão bem distinto daquilo que deveria ser naturalmente esperado. Isso significa que existe alguma coisa errada, talvez alguma coisa catastrófica e que por conta disso, a Terra não está mais parecendo ser um bom lugar para muitas dessas espécies viverem. É claro que as catástrofes ambientais “naturais” têm sido cada vez mais frequentes, o que também favorece à extinção.

Mas, o que realmente mudou ou está mudando? Que coisa é essa que está complicando cada vez mais os processos naturais? Por que o planeta vida, tem progressiva e acentuadamente rechaçado a própria vida?

Eu acredito que todas essas perguntas precisam ser respondidas sem paixão e lamento dizer que penso efetivamente que a causa de todos esses problemas seja a ação nociva da espécie humana no planeta. A ação do homem, talvez seja a maior catástrofe planetária já ocorrida até aqui e certamente muitos dos cataclismas que tem acontecido tem relação direta com as atividades antrópicas no planeta.

Nenhuma outra espécie planetária é capaz de ocupar e modificar o ambiente natural tão diversificada, desastrosa e perigosamente como a nossa. A rigor, ao longo de nossa história, nós destruímos, degradamos e modificamos de alguma maneira, todos os ecossistemas terrestres. Nós fizemos uma apropriação indébita do planeta e assim, derrubamos muitas florestas; matamos inúmeros animais; construímos fábricas, usinas, estradas, áreas agrícolas e cidades; mudamos cursos de rio e secamos rios; comunicamos oceanos e ligamos continentes; transpomos montanhas, rios, lagos e mares. Enfim, fizemos e ainda estamos fazendo, uma mudança imensurável no planeta. Essa ações certamente têm trazido consequências drásticas ao clima do planeta e ampliado a ocorrência de eventos catastróficos. E a pergunta que não quer calar é a seguinte: até quando, nós continuaremos a agir assim, com essa postura degradadora?

Tenho certeza que existem muitas pessoas, muitos seres humanos, que já possuem essa noção de que o homem é o único grande degradador da Terra e assim, para esses indivíduos, obviamente eu não disse novidade absolutamente nenhuma, mas precisamos fazer com que todos os seres humanos passem a ver, entender e efetivamente trabalhar para modificar esse procedimento degradador e errôneo de nossa espécie. Temos que mudar o nosso padrão comportamental urgentemente, porque falta muito pouco, para que o processo de extinção atinja nossa espécie também. É isso mesmo a nossa degradação, que até extinguiu algumas espécies, ali na frente extinguirá a nossa espécie também e, como o processo está cada vez mais rápido, devo concluir que temos pouquíssimo tempo.

A catástrofe humana precisa ter fim, para que a Terra, que jamais voltará a ser a mesma, possa, pelo menos, abrigar e manter a nossa espécie a algumas outras por mais algum tempo. Que o nosso processo natural de extinção, que já não será natural depois de tudo que fizemos, possa ser mais tardio do que está se projetando. Temos que criar uma nova filosofia para a vida humana no planeta, que privilegie sobre tudo a vida como fenômeno natural e o planeta como casa que permite e capacita à vida. Para tanto, será preciso que tomemos certos cuidados fundamentais, alguns dos quais, mesmo sem nenhum poder sobre a possibilidade de aplicabilidade deles, vou me atrever a mencionar, obviamente de maneira aleatória e sem nenhuma ordem de prioridade ou preferência, porque todos são igualmente importantes. Quem sabe alguns administradores públicos ou outros poderosos achem interessante e resolvam apoiar e até mesmo investir nessas ideias.

1 – Controlar imediatamente a população humana no planeta. Cada ser humano que nasce é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois aumenta a necessidade de espaço físico e de recursos naturais.

2 – Acabar imediatamente com o desmatamento de áreas naturais (desmatamento zero). Cada árvore nativa derrubada é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois, além de diminuir a taxa fotossintética que mantém a vida no planeta, diminui também a biodiversidade planetária e aumenta a possibilidade de conter mais a taxa de gases de efeito estufa.

3 – Acabar imediatamente com as práticas mineradoras degradadoras e desnecessárias. Cada novo projeto de lavra é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois destrói o ecossistema, aumenta o desmatamento, extermina e extingue espécies, degrada e decompõe o solo, polui a água e outras coisas mais.

4 – Controlar progressiva e atentamente as atividades industriais. Cada nova indústria é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois utilizam recursos naturais, água, ar e energia, além de poluir o ar, a água e o solo.

5 – Controlar progressivamente a Poluição Química, o Lixo e os Resíduos Sólidos. Cada grama a mais de resíduo é infelizmente um aumento significativo de problemas para a Terra, pois degrada e polui o meio ambiente, gerando condições insalubres que favorecem a doenças e outras coisas mais.

6 – Investir maciçamente em Educação Ambiental. Cada procedimento pessoal e coletivo ambientalmente correto produzirá uma significativa melhora planetária, pois as pessoas mais bem orientadas saberão tratar melhor o planeta e assim garantirão a qualidade de vida que se espera, para as gerações atuais e futuras.

7 – Mudar gradativamente da noção de valor, que deverá deixar de ser estritamente econômica e passar a ser preferencialmente ecológica. O que tem valor são as coisas e não o dinheiro, portanto é preciso proteger as coisas antes do dinheiro. Lembrar que: “o valor não vale, o valor é”. Se existirem as coisas para todos, não haverá necessidade de existir o dinheiro apenas para alguns.

8 – Limitar ao máximo o uso dos recursos naturais não renováveis e obrigar legalmente a renovação dos renováveis. Tudo o que existe na Terra deverá usado em benefício da própria Terra. O homem como espécie dominante tem que ter responsabilidade no uso dos recursos naturais e tem que estar claro que qualquer atividade não seja boa para o planeta, também não poderá ser boa para a humanidade.

9 – Investir no conhecimento científico na área ambiental, afim de produzir novas tecnologias que propiciem a melhora progressiva e a recuperação do ambiente natural, pois isso nos conduzirá às novas práticas ambientais que nos permitirão progressivamente tratar o planeta de maneira menos degradante.

10 – Reduzir a uma escala compatível todas as atividades industriais que prejudicam direta ou indiretamente o meio ambiente, pois as indústrias a exemplo das demais atividades antrópicas deverão estar a serviço dos interesses coletivos da espécie humana, que serão primariamente condicionados pelos interesses planetários.

11 – Atuar para que as cidades devam ser espaços que permitam progressiva melhoria da qualidade de vida das pessoas e dos demais organismos vivos que nela habitem, pois as cidades, embora sejam ambientes modificados no interesse da humanidade, tem que guardar sua relação próxima com a natureza. O ser humano antes de ser urbano é natural e traz consigo para a cidade várias outras espécies que também ocupam a cidade e que competem com o humano sobre vários aspectos e que, por isso mesmo, o ser humano precisa aprender a conviver com elas.

12 – Atuar proativa e determinadamente visando sempre a sustentabilidade. Lembrar que tudo acontece num lugar (meio ambiente), que somos seres humanos (sociedade) e que compramos e vendemos coisas (economia). A sustentabilidade é o perfeito equilíbrio interesses três fatores e só seguiremos em frente se mantivermos esse equilíbrio.

13 – Garantir a manutenção da biodiversidade planetária, protegendo e preservando os bancos genéticos, pois no futuro será essa biodiversidade que poderá nos orientar e conduzir nos procedimentos corretos a serem tomados para continuar a nossa caminhada planetária.

 14 – Investir em tecnologia cada vez mais limpa para garantir a melhoria continua da qualidade ambiental e consequentemente da qualidade de vida. O planeta agradece e as gerações futuras também agradecerão para sempre aquilo que for feito hoje em prol delas.

O ambiente saudável que queremos, merecemos e que o planeta nos deu durante muito tempo, pode voltar a existir, só depende de nós mesmos. Apenas a espécie humana pode mudar as tendências que estão previstas, entretanto é preciso muita vontade e ação política para que isso aconteça. Nesse sentido cumpre a cada um de nós a obrigação de exigir que os governos dos entes federativos brasileiros nas três esferas do poder se envolvam seriamente se comprometendo com as questões ambientais.

 Por outro lado, no nível internacional, a 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP21), que está acontecendo nesta semana e na próxima, em Paris e que reunirá pelo menos 190 chefes de estado, para discutir as questões relacionadas ao Clima da Terra, certamente é o melhor momento para que se consiga estabelecer alguns pequenos acordos que possam garantir o ambiente saudável. Se algumas das modestas citações aqui levantadas, forem de alguma maneira discutidas e implementadas, com certeza o resultado da COP 21 já terá sido positivo, mas é preciso que se procure estabelecer o número mais amplo possível de pequenos acordos relacionados aos diferentes temas citados. Os líderes estão confiantes e a secretária-executiva da convenção sobre mudanças climáticas da ONU, Christiana Figueres, afirma que efetivamente um grande acordo climático vai acontecer a partir do encontro.

Bem, ficamos por aqui aguardando as ações nacionais e internacionais, porque urge que a espécie humana se faça, de fato, “dona do planeta”, como tem historicamente se intitulado até aqui, mas sem o verdadeiro compromisso de cuidar daquilo que é seu. Doravante, esperamos que nossa espécie venha assumir a condição efetiva de proprietária da Terra, mas, que seja consciente da responsabilidade que tem, pensando e agindo como uma espécie planetária, isto é, no interesse coletivo de todas as espécies vivas da Terra e não somente no interesse de grupos de indivíduos humanos determinados que buscam solucionar suas questões particulares. Não sou pitonisa, mas acredito que apenas pensando e trabalhando coletivamente em prol do planeta é que poderá haver salvação da extinção prematura para o Homo sapiens.

Nossos filhos, netos, bisnetos e todos os que ainda virão, estão esperando que nós façamos a nossa parte, para que eles tenham condições de viver no nosso planeta azul.  A Terra ainda pode continuar a ser um ambiente saudável por muito tempo, apesar da catástrofe humana. Mais uma vez estamos sendo chamados e temos a oportunidade de minimizar problemas, para progressivamente começar a resolver algumas das principais questões ambientais e quem sabe garantir a manutenção de nossa espécie na Terra. Que Deus ilumine as decisões dos líderes presentes na COP 21, para que eles possam fazer o dever de casa corretamente.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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17 nov 2015

Rompimento de Barragens em Mariana/MG: uma tragédia anunciada

Resumo: O texto atual tem a pretensão de ser mais um alerta sobre a situação em que se encontram as inúmeras barragens com rejeitos de mineração existentes no país. É comentada a importância da Mineração como atividade socioeconômica histórica e de grande relevância aos interesses nacionais, mas também é questionada a sua exploração inconsequente e sua condição danosa como prática antrópica ambientalmente insustentável, principalmente aqui no Brasil.


Rompimento de Barragens em Mariana/MG: uma tragédia anunciada

A mineração sem dúvida nenhuma é uma das mais importantes atividades humanas, pois é fonte da produção de inúmeras coisas que favorecem amplamente a humanidade nos mais diversos aspectos e situações, nos diferentes setores da vida humana, tanto social, quanto economicamente. Por conta disso, as atividades mineradoras sempre se destacaram na vivência cotidiana dos diferentes grupos sociais nas várias civilizações humanas que se sucederam ao longo da história. Hoje não é diferente e a mineração continua sendo uma da mais importantes atividades da humanidade.

Por outro lado, a mineração também é uma atividade extremamente danosa e modificadora da condição ambiental, porque para se tirar o minério, seja ele qual for, sempre haverá necessidade de impactar drasticamente o ambiente, produzindo marcas profundas, com danos bastante significativos e muitas vezes (quase sempre) irreparáveis. Desta maneira, a mineração tem se constituído efetivamente na pior das atividades humanas ao longo da história, no que se refere ao meio ambiente. Entretanto, no afã de facilitar esse tipo de atividade, a humanidade tem desenvolvido técnicas e mecanismos cada vez mais capazes e mais eficientes para explorar os recursos minerais planetários. Desta maneira, aquilo que já era ruim para o meio ambiente, tem ficado progressivamente bem pior.

Até bem pouco tempo atrás, a humanidade não se dava conta de que a mineração trazia consequências drásticas ao ambiente de fato e ninguém nunca se importou muito com as consequências ambientais planetárias oriundas dos processos de mineração. O importante era retirar o minério e aproveitar sua utilidade, o resto não interessava e nem era importante. Esse foi e lamentavelmente ainda é, no pensamento de alguns cegos, a visão generalizada, principalmente daqueles que atuam no setor de mineração.

Graças a Deus, a história recente tem demonstrado claramente que esse procedimento consiste numa visão absurda e deturpada, pois nem sempre, apenas a retirada do minério é o mais interessante. Aliás, do ponto de vista ambiental, certamente essa é uma ideia totalmente errada. Baseado nesse fato, muitos acreditam que haja necessidade de uma nova visão sobre a atividade mineradora, sua importância econômica, social, ambiental e principalmente sua real necessidade. A prática do desenvolvimento sustentável é prioritária quando se pensa nas questões relacionadas à mineração. Assim, atualmente, as novas tecnologias nos dão conta de que muitos materiais e produtos podem ser desenvolvidos a partir de novos mecanismos de produção oriundos de outros processos, que muitas vezes eliminam a necessidade daquela matriz mineral que antes era necessária.

Desta maneira, hoje é preciso se colocar a real necessidade da mineração numa “balança de custo X benefício”, para avaliar objetivamente, as vantagens e as desvantagens de execução de determinado projeto minerário. Tal avaliação deve ocorrer sem paixões ou interesses outros, principalmente aqueles interesses estritamente econômicos, que costumeiramente priorizam e conduzem as ações nessa área. Além disso, se após a análise, a definição final for pela elaboração da extração do minério, ainda assim será de fundamental importância que se trabalhe, projete e execute todas as ações possíveis que permitam viabilizar a recuperação da área degradada que será utilizada no projeto minerário a ser desenvolvido.

A extração mineral não pode mais ser pensada como algo que termina em si, é preciso que sejam planejados, sempre que possível, novos usos sociais das áreas mineradas para depois da mineração. A mineração tem que deixar de ser uma simples retirada de minério, para passar a ser necessariamente uma retirada de minério objetivando causar a menor quantidade de danos ambientais e sociais possíveis, ainda que isso possa implicar em um lucro econômico proporcionalmente um pouco menor aos mineradores.

Em outras palavras, hoje existe uma necessidade de se pensar na mineração não somente como atividade econômica geradora de dinheiro, mas também como atividade ambiental altamente degradadora que precisa ser menos degradante e ainda como atividade social relevante, engrandecedora, enriquecedora da humanidade e produtora de significativos benefícios aos mais diversos grupos sociais. Porém, sobretudo, sempre deve existir a necessidade de se avaliar cada situação específica da maneira mais abrangente possível e sem nenhum tipo de prejulgamento, para que sejam evitados situações viciosas e conflitantes.

Como já foi dito, apenas nos últimos anos foi que os países desenvolvidos progressivamente foram se preocupando mais com a degradação consequente das atividades mineradoras e a partir de então começaram a produzir normas para retirada mineral e recuperação ambiental, através de mecanismos de disposição final dos rejeitos, tratamento devido dos resíduos e descontaminação dos ambientes explorados. Enfim, hoje existe todo um conjunto de procedimentos metodológicos e normas orientadoras, inclusive referente a postura e proteção dos trabalhadores das diferentes áreas de mineração, os quais estão sujeitos a constantes situações de risco de acidentes e muitos vezes acidentes fatais.

Pelo mundo afora, o licenciamento ambiental é uma obrigação real e efetiva que é cumprida à risca e sem concessões e principalmente as empresas mineradoras são fiscalizadas e orientadas em seus projetos minerários, os quais devem conter previamente todos os procedimentos que serão envolvidos na exploração do minério, desde a retirada até depois da consolidação final da área de exploração. Os projetos são apresentados e analisados detalhadamente em todos os seus estágios da exploração e do tratamento a ser dado aos rejeitos e resíduos dentro dos padrões legais estabelecidos.

Aqui no Brasil, também temos a obrigação do licenciamento ambiental e também não faltam leis específicas relacionadas às questões ambientais. Entretanto, a maioria dessas normas estão apenas no papel, porque não existe o cumprimento efetivo delas e por isso mesmo os desastres ambientais oriundos principalmente das atividades mineradoras são cada vez mais comuns e mais violentos. A falta de cuidado com as atividades mineradoras pode produzir e aqui no Brasil tem produzido situações decorrentes muito sérias, simplesmente porque ninguém ainda se preocupa com as consequências ambientais e sociais do processo minerário.

O “acidente” recém ocorrido na cidade de Mariana/MG, em área administrada pela empresa SAMARCO, vinculada diretamente à empresa VALE (maior mineradora do Brasil e terceira do mundo) e a empresa Australiana “Broken Hill Proprietary Company – BHP” (maior mineradora do mundo) foi, na verdade, uma tragédia anunciada e certamente outros do mesmo tipo deverão ocorrer e com maiores frequências, particularmente no estado de Minas Gerais, onde se concentram cerca de 700 represas em situações semelhantes àquelas que romperam. A grande maioria dessas represas não possui nenhum controle, nem monitoramento da situação e muito menos plano de emergência.

É bom lembrar que em 2012, as barragens da SAMARCO foram consideradas de baixo risco pelo órgão responsável pela auditoria, o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM e por conta disso as barragens iriam passar por nova avaliação em 2015, o que não ocorreu. Vejam bem, uma barragem de baixo risco fez esse imenso estrago. Agora, imaginem então as barragens de alto risco, que estragam irão produzir se houver rompimento?

Hoje o Brasil possui cerca de 15.000 represas e barragens e apenas 15% delas têm algum plano emergencial que possa dizer o que fazer em caso de rompimento. Entretanto, tramita no Congresso o Novo Código de Mineração (Projeto Lei 5807/2013) que é uma proposta de autoria desse poder executivo que está aí e que dentre outras coisas estabelece e viabiliza novas áreas e novas vantagens econômicas às empresas mineradoras, mas pouco trata dos rejeito e das consequências posteriores às explorações minerárias.

O tempo passa, as coisas acontecem, mas existem coisas e situações que nunca mudam ou que só pioram com o tempo aqui no Brasil. A mineração é uma dessas coisas que se manteve igual, ou só piorou desde o Brasil colônia até hoje. Isto é, desde aquela época alguém tira o minério, leva para onde quiser e faz o que bem entender com o lucro. Os nativos e o território que possui aquele material que se danem. Alguém precisa apertar o botão e desligar essa máquina de destruição e de tragédias ambientais e sociais que ocorrem na mineração brasileira.

Temos um país rico em minérios e devemos sim explorar os recursos minerais que possuímos, porém é preciso que esta exploração não continue se traduzindo em lucro de poucos (na maioria estrangeiros) e prejuízo do país e da grande maioria dos cidadãos brasileiros. A mineração brasileira deve estar a serviço do Brasil e dos brasileiros e não aos interesses de grandes grupos econômicos internacionais, que pouco ou nada se importam com o Brasil e principalmente com a população brasileira.

O carvão de Santa Catarina, o manganês do Amapá, a bauxita do Pará, o estanho de Rondônia, o carvão de Santa Catarina e o Ferro de Minas Gerais, não devem ser tratados como o ouro e as pedras preciosas foram tratados no Brasil colônia. Esses e outros minérios encontrados no país, precisam realmente servir aos interesses do meio ambiente, do povo brasileiro e devem produzir benefícios econômicos. Além disso, também é importante que fique claro, que os riscos consequentes das respectivas explorações minerais são responsabilidade única e exclusiva dos mineradores e esses riscos devem ser tratados dentro das normas legais mais rígidas possíveis.

As represas, como as duas de Mariana de “baixo risco” e as demais (de médio e alto risco) devem ser controladas e monitoradas para que os acidentes já anunciados não ocorram e devem ter definidos os seus respectivos planos de emergência para atender aos acidentes futuros. O controle dos resíduos da mineração deve ser considerado como meta prioritária, pois ele é tão ou mais importante que a própria mineração em si, porque ainda que ele não traga dinheiro diretamente, ele procura garantir um ambiente sadio e manter a vida, inclusive e principalmente a vida humana, o que também acaba produzindo um lucro indiretamente.

Bem, vamos aguardar os próximos acontecimentos e ver a efetiva posição do governo brasileiro em relação a esse assunto. Quero salientar que apenas multar a empresa não resolve nada, porque não recupera o ambiente, não devolve a vida das pessoas que morreram e tampouco devolve as histórias de vida daquelas que sobreviveram às tragédias. E mais ainda, dependendo do valor da multa tem empresa que sempre vai preferir pagar a multa e continuar fazendo errado. Isso é, a multa em muitos casos é o preço a ser pago para ter o direito de fazer a coisa errada e assim quem tem dinheiro não está preocupado em pagar multas. O governo brasileiro deve parar de “pensar com o bolso” e já que aparentemente não consegue pensar com a cabeça, deve procurar passar a “pensar com o coração”, lembrando carinhosamente dos 205 milhões de brasileiros que são os verdadeiros donos do Brasil e todo o seu rico território.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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02 nov 2015

Papa Francisco: o Jesuíta de Coração e Mente Franciscana

Resumo: O texto atual aborda a encíclica papal “Laudato si”, que foi publicada essa ano e, de certa forma, também é uma homenagem ao Papa Francisco, que resolveu conclamar os católicos para ajudar o planeta e ao mesmo tempo uma solicitação aos católicos para que promovam e pratiquem aquilo que o Papa está pedindo na Carta Magna, pois a salvação da “mãe Terra” depende exclusivamente das atividades promovidas pela humanidade.


Papa Francisco: o Jesuíta de Coração e Mente Franciscana

No século XVI, graças a Nicolau Copérnico, o Heliocentrismo passou a ser considerado o modelo verdadeiro para explicar a composição do Sistema Solar, entretanto a Igreja Católica sempre manteve essa evidência científica fora de suas verdades primárias, haja vista que isso era desinteressante e contrariava preceitos dogmáticos da doutrina. Apenas no ano de 1922 foi que finalmente os líderes do Catolicismo perceberam que admitir que a Terra não é o centro do mundo, talvez não fosse um problema tão grave aos interesses da Igreja Católica e, a partir de então, eles reconheceram e aceitaram o padrão heliocêntrico como sendo uma verdade.

Daquela época até recentemente, mais precisamente até o dia 24 de maio de 2015, quando o Papa Francisco admitiu que a Teoria da Evolução e a “Teoria do Big Bang” são reais e não contradizem o Cristianismo, praticamente não tinha acontecido nada de significativamente diferente nas posições da Igreja Católica. Obviamente é bom ressaltar que Pio XII, em 1950, já havia admitido que a aceitação da Evolução como Teoria Científica era plausível para explicar biologicamente a diversificação da vida e, além disso, também deve ser lembrada a citação de João Paulo II, em 1996, de que: “a evolução é compatível com a fé cristã”. Entretanto, a atual colocação de Francisco foi peremptória.

O Sistema Solar sempre foi o mesmo, custamos a entende-lo corretamente, mas no século XVI a Ciência já não tinha mais dúvidas de sua organização estrutural. Entretanto, como já foi dito, a Igreja Católica só reconheceu esse padrão organizacional em 1922. Quer dizer, levou cerca de 300 anos. A Teoria Darwiniana da Evolução Biológica, foi estabelecida formalmente em 1859, no livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin, mas ela já vinha sendo discutida, pelo menos 30 anos antes por seu apresentador e alguns amigos nas esferas científicas. Mas, a teoria só foi reconhecida por Pio XII em 1950, isto é, levou cerca de 100 anos. A atual teoria do “Big Bang”, que começou a ser discutida por volta de 1925, sendo proposta definitivamente por George Gamow, em 1948, mas Francisco já está considerando a mesma como um fato verdadeiro com menos de 70 anos de seu surgimento formal, embora essa teoria contradiga muito as bases da Religião Católica.

Eu, embora leigo no que se refere ao Catolicismo, depois da declaração do Papa Francisco, ouso dizer que nunca houve tantos motivos para que todos os católicos do mundo e mesmo os não católicos preocupados com o planeta se sintam radiantes e esperançosos quanto aos destinos do Igreja Católica e quiçá de toda a humanidade. O comando dos católicos por um homem da grandeza e da coragem do Papa Francisco, certamente só trará benefícios ao planeta Terra e a todos os seus habitantes, principalmente os seres humanos.

Em suma a Igreja Católica, assim como a grande maioria das religiões nunca foi muito ligada nas afirmações e nas conclusões científicas, principalmente naquelas questões que de alguma maneira desagradavam seus interesses confessionais. Mas, eis que surge um Papa genial, que parece pensar diferente e que tem se utilizado dos argumentos científicos para engrandecer sua Igreja e se manter em paz com a os demais interesses da humanidade e do planeta.

Três aspectos devem chamar a atenção dos leitores, principalmente os leitores católicos, das colocações feitas nos parágrafos anteriores. O primeiro aspecto é que a Igreja Católica, ao contrário do que acontecia no passado, está progressivamente deixando de ser alheia ao conhecimento científico, mas o segundo aspecto é exatamente que a Igreja Católica, embora venha tomado decisões mais rapidamente, ainda demora muito para assumir suas posições e tomar as devidas decisões. O terceiro aspecto, que é o melhor deles, é que, apesar da demora, a igreja está percebendo que a crença na Ciência não atrapalha a fé e, talvez até possa favorece-la e por isso mesmo a igreja está assumindo uma postura também científica e investigatória mais aberta e paulatinamente tem resolvido não entrar em discussão com as verdades impostas pelo conhecimento científico.

Que bom seria para a humanidade se todas as outras religiões anticientíficas também tomassem uma postura, ainda que paulatinamente, nessa mesma direção, ou seja, de caminhar em paralelo com a Ciência. Mas, vamos voltar ao nosso assunto e deixar essa discussão para outro momento.

O Papa Francisco recentemente, em 24 de maio de 2015, resolveu publicar a Encíclica “Laudato si” (Louvado sejas) e colocou o subtítulo muito interessante e pertinente que diz: “sobre o cuidado da casa comum”. No texto, o Papa propõe aos católicos, numa manifestação clara e objetiva, que se comprometam com o planeta e com as diferentes formas de vida nele existentes. Cita São Francisco de Assis como modelo de ser humano e convida os católicos a assumirem as mesmas atitudes que o São Francisco tinha em relação à mãe Terra e as demais criaturas, que ele tratava como “irmãos” e “irmãs”.

Meus amigos, depois dessa atitude de Francisco, se João Paulo II havia sido um Papa carismático e agradável, que quase todas as pessoas, católicas ou não, adoravam pela sua gentileza e por suas posturas políticas e sociais em prol dos mais necessitados. Se, por outro lado, Bento XVI certamente foi um grande fiasco como líder maior da Igreja Católica, da qual se viu obrigado a renunciar, porque não teve pulso suficiente para tocar a batuta de papa e não cabe aqui discutir os porquês, mas que levou a Igreja Católica a uma visão de desagrado e descrédito para muitas pessoas no mundo. É exatamente nesse momento conturbado da história do Catolicismo, que aparece o Papa Francisco e ele reencontra a partitura, seguindo na mesma linha que João Paulo II e agora se assume na condição do “Papa Amigo da Terra, da Vida e da Ecologia”.

Francisco é um tipo de Papa ambientalista, ou melhor, socioambientalista, preocupado com a “mãe Terra”, com sua biodiversidade, com a poluição, com a desigualdade planetária, com a degradação da qualidade de vida humana, principalmente com a situação dos seres humanos mais carentes. Até aqui, nenhum Papa tinha se manifestado tão claramente em prol do ambientalismo, mas Francisco faz isso e mais, quando produziu uma encíclica galgada nos problemas e questões ambientais que têm assolado o planeta, mormente nos últimos anos e que tem levado a uma descaracterização cada vez maior da humanidade.

As posições proativas do Papa Francisco quanto as questões socioambientais têm trazido significativas situações de progresso e satisfação interior ao público católico e a alguns leigos, que têm se manifestado positivamente sobre essas posições, como é o caso particular deste escriba. A encíclica “Laudato si” aborda aberta e amplamente as questões ambientais, além de convocar os governos e pessoas a tomarem posturas efetivas sobre as atividades antrópicas que comprometem a Terra e que têm gerado muitas das grandes catástrofes, como por exemplo, o Aquecimento Global, em consequência do aumento da concentração de gás carbônico.

Por outro lado, o conceito de vida é traduzido e ampliado numa noção ecossistêmica, em que nada está isolado e por isso mesmo a vida deve ser preservada e protegida na sua integridade, incluindo aí, todo o ecossistema em que ela se encontra. O Papa Francisco foi prolixo em sua encíclica e promoveu uma verdadeira aula de Ecologia para ser seguida pelos católicos do mundo, dentro da mais singular postura franciscana, isto é, simples, humilde, realista e com o pé no chão como São Francisco de Assis. Além disso, ele foi ainda mais ousado em sua proposta, quando questionou conceitos tradicionais arraigados nos segmentos mais ortodoxos da religião católica.

Francisco só não mexeu diretamente no problema da natalidade e do crescimento populacional humano, que acaba sendo o maior de todos os problemas ambientais, porque todos os outros derivam dele, porém isso talvez seja exigir demais, pois certamente qualquer posição imediata do líder maior de igreja sobre essa questão, certamente teria consequências drásticas à própria religião e abalaria as bases da Igreja Católica de forma bastante violenta. Creio que Francisco foi prudente e mesmo sabendo da necessidade de controle populacional, ainda está cedo para envolver essa questão numa encíclica papal. Acredito que ele está guardando uma carta na manga e que irá progressiva e cautelosamente abordar essa questão em futuro próximo, até porque sem esse cuidado especial com a “mãe Terra”, dificilmente poderemos resolver os demais problemas, quando muito, nós apenas minimizaremos alguns deles.

De qualquer maneira, solicito aos católicos que leiam e reflitam bem a encíclica e façam de tudo que for possível para acatar as palavras do seu líder maior, o Papa Francisco, que até aqui tem surpreendido o mundo. Aliás, sempre é bom lembrar que as surpresas vêm desde sua eleição (escolha) como Papa, que não era planejada por Roma, mas que repentinamente aconteceu.

Enfim, Francisco está dando um banho na sua função de conduzir o maior rebanho do planeta. Se João Paulo II foi o “Papa pop”, Francisco está sendo o “Papa telúrico” ou talvez “Papa sideral”, e como o espaço aparentemente não tem limites, a mente e o coração de Francisco também não devem ter. Assim, estou certo de que devemos esperar novas surpresas desse Papa fabuloso que veio para sacudir, acordar e ajudar os católicos do mundo e todos os demais seres humanos, além de todos os outros “irmãos” existentes e dependentes da “mãe Terra”.

Nós, humanos sensatos e preocupados, que queremos um mundo melhor, independentemente de qualquer credo religioso, vamos ficar aqui aguardando ansiosamente os próximos acontecimentos e as próximas orientações vindas do Vaticano e quem sabe de outros setores religiosos também.

Por enquanto, o que temos a dizer é apenas o seguinte: “Laudato si, mi Signore Francisco”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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24 out 2015

A condição faz o ladrão, mas quem sabe faz a hora

Resumo: O texto pretende ser uma chamada às pessoas mais preocupadas, aos políticos sérios e aos membros mais esclarecidos da população brasileira, no sentido de questionar as ações que deveriam nortear os procedimentos do país nesse momento triste e lamentável de nossa história em que estamos vivenciando uma total inversão de valores, onde o certo virou errado e o torto virou direito. O Brasil necessita de uma nova postura moldada na educação dos interesses do povo brasileiro e dos interesses nacionais, para ganhar a verdadeira condição de país democrático e desenvolvido, cuja nação é consciente de sua verdadeira dimensão no cenário internacional.


A condição faz o ladrão, mas quem sabe faz a hora

Diz o ditado popular que as dificuldades sempre levam a ampliação das possibilidades e que situações complicadas tendem a ficar mais simples, porque exigem maior preocupação e investimento nas suas respectivas soluções. Assim, também se costuma dizer que: “a condição faz o ladrão”. Isto é, se existe a possibilidade fácil de roubar, sem nenhum risco de ser flagrado ou preso, então os ladrões se multiplicam, aproveitam as oportunidades e roubam cada vez mais.

Pois então, é essa a situação atual em que aparentemente o Brasil se encontra. Existe um grande contingente de ladrões no comando do país e não existe praticamente ninguém que queira impedir que os roubos se estabeleçam e continuem acontecendo, porque a justiça infelizmente não parece existir e também porque quase ninguém se manifesta e nem faz efetivamente nada de significativo para tentar modificar essa condição. A roubalheira, as falcatruas e as mentiras deslavadas imperam soberanas, sem nenhum risco de serem importunadas e muito menos impedidas de continuarem a fazer suas vítimas.

Dessa maneira, o número de ladrões e picaretas, aqui no país, não só tem aumentado, como tem aumentado vertiginosamente numa velocidade inimaginária. Não vou aqui me ater as causas históricas e políticas que permitiram a produção dessa conjuntura terrível, porém vou tentar discutir o que pode ser feito para que o trem do Brasil possa voltar aos trilhos e para que a ordem nacional possa ser reestabelecida.

Primeiramente é preciso tirar essa corja de ladrões que estão no Poder dando maus exemplos à população brasileira, particularmente às crianças que estão perdendo a infantilidade e a pureza por conta dos inúmeros maus exemplos. Entretanto, isso não poderá ser feito apenas pelas vias eleitorais tradicionais, haja vista que somente trocaríamos de ladrões, como, aliás, já fizemos outras tantas vezes. Também não poderá ser feito por via jurídica, porque nem o órgão máximo da justiça brasileira não é mais confiável, haja vista que os componentes desse órgão são indicado pelos ladrões que comandam o poder executivo.

Deste modo, só existe uma maneira capaz de reverter o quadro lamentável em que nos encontramos. Essa solução depende de uso da força e pode ocorrer através de dois mecanismos distintos: ou as forças armadas tomam o poder, o que é pouco provável, porque infelizmente existem setores também comprometidos com o que está aí; ou a população toma o poder para tentar compor um novo estado de direito, onde a prioridade seja efetivamente a ORDEM. Infelizmente, qualquer outra maneira menos drástica estará fadada ao insucesso, haja vista que a cachorrada não vai querer largar o osso e seguirá mentindo e inventando coisas para continuar no poder.

Após o reestabelecimento da ORDEM e o afastamento dos ladrões, será preciso investir na reconstrução do país. Para tanto, deverá existir uma nova prioridade, a qual deverá pautar todo o processo de restauração. Essa prioridade não poderá ser outra, que não seja a EDUCAÇÃO. Como diz o velho chavão: “sem educação, não há solução”. O Brasil necessita urgentemente educar todos os mais de 200 milhões de almas que habitam seu imenso território. Antes que alguém critique, eu quero dizer que não me enganei não, eu quis dizer 200 milhões mesmo, porque não se trata de alfabetizar e sim educar. Há muitos alfabetizados e até mesmo doutores sem educação nesse país.

Sem educação, não existe possibilidade nenhuma de crescer, tanto moral, quanto social e principalmente economicamente e tampouco existe condições de entender o quanto vale para o Brasil, ter a condição de ser o país com maior reserva de “água doce”, que possui a maior Floresta Tropical do planeta e principalmente de ser o país que comporta a maior biodiversidade da Terra. Além de ser uma das principais potencias econômicas e o quinto país do mundo em área geográfica e em população. Somos um país grande e naturalmente muito privilegiado, mas a nossa falta generalizada de educação não nos permite identificar a verdadeira dimensão do quanto somos importante.

Não adianta querer começar a construir uma casa pelo telhado, a construção tem que começar pela base e esta base certamente é a educação da população brasileira, num projeto que vise, antes de qualquer coisa, “abrasileirar o povo brasileiro”, destacando a responsabilidade planetária do Brasil como país.  Apenas e tão somente um povo educado e consciente de suas obrigações e responsabilidades poderá assumir a verdadeira dimensão social e o equilíbrio democrático que se pretende nesse país. O Brasil tem que deixar de ser o país do futuro e começar a ser o país do presente, mas a população brasileira tem que ser o agente principal desse mecanismo de mudança e a educação é a condição precípua para que isso aconteça. Qualquer coisa diferente é falácia e especulação, que só serve aos interesses dos ladrões e malfeitores

Em suma, a fórmula para resolver os problemas nacionais é simples. Basta derrubar os ladrões, reestabelecer a ordem e investir na educação do povo, com base na importância do Brasil no cenário internacional. Mas, quem está realmente disposto a começar a fazer o dever de casa e tentar mudar a cara desse país?

Infelizmente está parecendo que o título desse artigo já está estabelecido na quase totalidade da população brasileira e que hoje tristemente já somos uma população formada apenas por ladrões, haja vista que quase ninguém demonstra uma atividade contrária ao “status quo” nacional. Isto é, na atual condição, somos todos potencialmente ladrões, porque a condição nos levou a isso e, o que é pior, a maioria de nós, parece estar gostando de ter assumido essa postura lastimável. Assim, ficamos aqui, vendo a banda passar, sem tomar nenhuma atitude efetiva que possa produzir mudança na situação. A diferença é que alguns roubam muito e se dão bem e a maioria inativa rouba pouco e ainda tem que pagar pelos grandes roubos dos outros.

Estamos no fundo do poço, mas podemos sair se quisermos, porém só nós mesmos poderemos nos tirar dessa situação terrível. O Brasil tem jeito, desde que o cidadão brasileiro queira ter jeito e passe a agir no interesse maior da sociedade brasileira. Se você se sente bem, sendo apenas mais um ladrão na sociedade brasileira, continue parado. Entretanto, se você acredita e quer ver as coisas melhorarem e principalmente se você não quer assumir essa pecha de ser mais um ladrão, então faça a sua parte e comece a pensar e a agir de maneira diferente e contundente para acabar com a festa dessa corja que está aí, enganando grande parte da população desse país.

A mesma condição que faz o ladrão, poderá criar a justiça social e estabelecer uma nova situação no Brasil. Isso só depende do interesse real da nação brasileira. Se a nação quiser, não há como o governo não querer. O governo não é o estado brasileiro. As pessoas que compõem o governo são empregados da nação, que foram colocadas no governo apenas para administrar o país no interesse coletivo da própria nação e não nos seus interesses particulares e pessoais. O Brasil somos nós, que compomos toda a população brasileira.

Gente brasileira: vamos fazer o dever de casa, exigindo dos governantes o nosso direito inquestionável de ter um governo sério, ético e comprometido com os interesses nacionais.  A eterna canção de Geraldo Vandré já nos disse que; “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Pois então meus amigos, vamos fazer a nossa parte.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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14 out 2015

COMO MUDAR A REALIDADE DO PROFESSOR NO BRASIL?

Resumo: Por conta de estarmos na semana em se comemora o Dia do Professor, nesse artigo é apresentada uma abordagem da situação lastimável em que a profissão de professor foi colocada e também é solicitado um envolvimento maior da população no sentido de tentar minimizar o desleixo das autoridades constituídas sobre a questão profissional do professor, quando se compara essa profissão com outras. É preciso que sejam analisadas as causas e corrigidas as pendências que produziram essa situação.


COMO MUDAR A REALIDADE DO PROFESSOR NO BRASIL?

Nesta semana estaremos vivenciando mais um 15 de outubro. Desde de 1963, nessa data, comemora-se o Dia do Professor no Brasil, portanto nesse dia 15 de outubro, nós professores deveríamos estar em festa, porque estamos oficialmente completando 52 anos da nossa data comemorativa e que, no passado, já foi motivo de orgulho, de festa e de júbilo para muitos professores como nós. Entretanto, hoje é apenas mais uma data marcada no calendário, a ser comemorada por alguns obstinados e outros poucos “loucos e idiotas”, como eu, que ainda acreditam na Educação como solução e que sabem que sem o professor a Educação é apenas uma balela dos inúmeros politiqueiros de plantão que existem no Brasil. Entretanto precisamos ir em frente, pois temos um país e mais de 205 milhões de almas para melhorar de vida em todos os níveis e sem educação isso efetivamente será impossível.

Agora nossos “brilhantes” dirigentes inventaram o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005 de 25/07/2014), que se compõe basicamente de 20 metas para serem implantadas e estabelecidas entre 2014 e 2024 e mais uma vez, esse plano “fantástico e revolucionário” envolve muito pouco a figura do professor. Apenas as metas 15, 16, 17 e 18 abordam alguma coisa sobre a profissional do magistério. Entretanto, somente as metas 17 e 18 falam alguma coisa, mas muito genericamente, sobre a questão salarial, o que é muito pouco. Meta 17: valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.

Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de Carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art.06 da Constituição Federal”.

Em suma, criar um Plano Nacional de Educação sem atribuir a devida importância ao professor é o mesmo que querer jogar futebol sem ter contato com a bola, ou seja, mais uma vez não deverá funcionar.

Ora, só pode ser piada querer falar de Educação, sem, se quer, discutir detalhadamente a melhoria das condições de trabalho e principalmente de salário do professorado nacional. Nesse país, que me desculpem as funções úteis e os seus profissionais sérios, mas, nesse país, onde a grande maioria dos profissionais ganha o suficiente para sobreviver, o professor tem que ganhar a sua vida nos bicos que consegue fazer, porque a educação, que é a área de atuação do professor, não é tratada a sério. Assim, o trabalho do professor é uma atividade quase voluntária, um sacerdócio como diziam os antigos, no qual ele se oferece prontamente por conta da paixão que tem pelo trabalho que executa e não exige nada em troca. É preciso acabar com essa lenda de achar que o professor é um tipo diferente dos demais e que não está sujeito às mesmas necessidades dos outros seres humanos.

A coisa já começa errada quando a gente observa que sempre, em qualquer profissão, alguém vende alguma coisa, mas o professor não vende nada, o professor dá aulas. (Grifo proposital do autor.) Está mais que na hora desse negócio mudar e a função de ministrar aulas passar a ser um negócio efetivo, onde o professor deverá entrar com o seu conhecimento e sua didática para vender alguma informação e produzir algum conhecimento no seu aluno, mas principalmente onde deverá ser pago condizentemente por aquilo que faz.

Cabe aqui lembrar que segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu Artigo sétimo, que trata sobre os direitos dos trabalhadores, e o professor obviamente é um trabalhador, traz estabelecido em seu inciso IV o seguinte texto: “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”. Assim, o salário é muito mais que um direito, ele é sagrado e tem que ser suficiente para suprir as necessidades mínimas de quem o recebe, mas essa não tem sido a realidade para muitas profissões e muitos profissionais, principalmente para os professores, que têm necessidades específicas nas suas respectivas formações e na grande maioria das vezes, não recebem condizentemente com a formação que possuem.

Entra ano e sai ano, entra político e sai político e a situação salarial do professor nunca é resolvida. Por que isso acontece? Por que tanto desprestígio com a profissão de professor, num país onde a educação ainda é a maior carência nacional? Que mal histórico os professores fizeram aos políticos e dirigentes desse país? Só pode haver uma resposta para as perguntas acima: educação não é algo realmente que possa interessar a quem administra o Brasil e já faz muito tempo que a realidade é essa.

Mas, por que a educação não é importante para um país de mais de 205 milhões de habitantes?  Também só existe uma resposta para essa pergunta: os poderosos preferem manter o “status quo” de uma população ignorante para continuar dominando a massa idiotizada nacional. Quanto mais ignorante for a população, melhor será para quem administra, pois a fiscalização popular será sempre menor e a capacidade de cometer absurdos administrativos (leia-se roubos e falcatruas) com a conivência, ou pelo menos sem a devida cobrança da população, será sempre maior.  Os indivíduos que se sucederam no comando do país vêm, há muito tempo, trabalhando direitinho para manter esse “status quo”. Vou fazer 60 anos e não vi ninguém, ao longo desses anos, absolutamente nenhum dirigente nacional, independentemente de partido político, tentar mudar efetivamente a situação salarial do professor. Ou melhor, mudou sempre para pior. Quer dizer: ou os dirigentes são todos indivíduos de mal caráter ou são todos indivíduos contrários à profissão de professor.

Analisando friamente as duas possibilidades, eu chego à conclusão que mesmo que todos fossem realmente sujeitos de mal caráter, eles certamente teriam amigos e parentes professores e assim, mesmo por puro nepotismo, não seriam tão maldosos o quanto efetivamente são com os professores. Sendo assim, a única explicação é a segunda, isto é, os dirigentes são indivíduos contrários à profissão de professor. Mas, por que esses indivíduos teriam uma briga específica contra a profissão de professor? Talvez, porque essa é a única profissão que pode demonstrar à população, o quanto muitos desses sujeitos são canalhas e safados. Além disso, existem muitos que não eram primitivamente canalhas e nem safados, mas que são ludibriados e ficam magicamente iludidos pelos cargos que ocupam, quando se assumem dirigentes. Obviamente, todos esses indivíduos, direta ou indiretamente, temem que a população possa saber a realidade que acontece com eles.

Espera aí Luiz: você está afirmando que todos, efetivamente todos, sem exceção, todos os dirigentes do país são sujeitos canalhas e safados, que não querem ver, ou bobos que são levados a não querer ver a população brasileira ficar mais esclarecida e melhor preparada para ajudar o país a se desenvolver sustentavelmente? Infelizmente, é exatamente isso que acontece.

Obviamente muitos desses indivíduos não chegaram ao poder pensando assim, mas ao atingirem o topo, foram obrigados a assumir uma postura que privilegia tudo, menos a educação e o infeliz do professor é quem paga o pato, exatamente porque ele é o sujeito que vive em função direta da educação. Essa postura que o país apresenta e que no primeiro momento pode até não ser culpa do dirigente, mas que acaba sendo principalmente dele, em consequência de suas ações, voluntárias ou não, contra a educação e contra o professor é que precisa ser combatida. As organizações em defesa da profissão de professor têm que lutar frontalmente contra esse aspecto para que a situação econômica do professorado possa melhorar.

A propaganda, o marketing, o consumo, enfim as empresas e atividades que promovem e dependem de ações que cegam a população e apresentam inverdades como formas de felicidade é que devem ser combatidas para melhorar a educação a situação dos professores. São essas empresas e atividades que invertem a realidade e que mentem veementemente sobre as necessidades que levam alguns dos governantes a vender a alma e esquecer que foram eleitos para tentar melhorar a vida das pessoas e do lugar. O poder dessas instituições físicas e principalmente jurídicas na compra de opinião pública e na capacidade de manipular os interesses governamentais é que mascara o interesse da educação e que inibe a possibilidade de transformar o professor num profissional como outro qualquer.

Veja bem, não quero que o professor seja melhor que ninguém, só quero que ele receba o mesmo tratamento dos demais. Por que a hora de trabalho de determinados profissionais no serviço público vale R$100,00 (cem reais) e a hora da grande maioria dos professores gira entorno de R$10,00 (dez reais)? Alguma coisa está errada com esse país ou com esses profissionais, porque a diferença, nesse caso, é da ordem de 10 vezes mais. Se isso é legal, certamente não é moral. Acho que o sujeito que recebe R$100,00 reais por hora ganha de mais e o recebe R$10,00 por hora ganha de menos. Mas, eu não quero e não vou discutir sobre esse aspecto absurdo agora.

Para essas entidades do mal, aquelas que mentem para a população, o professor é realmente um monstro que precisa ser combatido, porque ele traz problemas aos seus interesses escusos e exclusivamente econômicos. As instituições que atuam na defesa dos profissionais de educação devem declarar guerra contra essas entidades, ou então a educação continuará andando na contramão e os professores, que hoje já estão na pobreza, estarão fadados a miserabilidade eterna. Os políticos sérios, que eu acredito que ainda existem, por sua vez têm que ficar atentos às manobras dessas entidades que chegam sorrateiramente evidenciando outras importâncias e esquecendo cada vez mais a educação e o infeliz do professor. Esses políticos devem tomar cuidado e se vacinarem, para também não serem infectados pelos vírus do fim da educação e da pobreza eterna dos professores.

São 52 anos da data, porém, nos últimos 40 anos, certamente só andamos na contramão, mas ainda é possível mudar a história e melhorar a vida de nossos 205 milhões de almas penadas. Entretanto isso só acontecerá, quando a educação for realmente prioridade e quando esse momento chegar (se chegar), obviamente o professor passará a ser prioridade também, porque não existe educação sem escola, da mesma forma que não existe escola sem aluno e não existe aluno sem professor.

A história recente do Brasil trabalhou para extinguir o professor e não conseguiu e nem vai conseguir nunca, porque a escola, mesmo essa escola mentirosa que está aí, também depende desse infeliz que ensina e que tenta transformar para melhor a vida das pessoas. Se nessa escola ruim o professor já é indispensável, imaginem então, quando o Brasil tiver uma educação de verdade, como esse profissional será extremamente necessário. Senhores, busquemos pois, a verdadeira educação, sem a intromissão de mídia e dos picaretas de plantão que estão historicamente fazendo desse país um local digno de pena e motivo de chacota internacionalmente.

Um pais que se estabelece entre os 10 primeiros na economia mundial, mas que está próximo de ser o centésimo em qualidade de vida e bem depois dessa condição de centésimo quando se avalia apenas a educação. Um país que possui a quinta maior população do planeta, que tem centenas, talvez milhares de Universidades, (estão cadastradas cerca de 2.400 instituições de ensino superior no Brasil), mas em que a maior e a principal delas (USP) não se encontra nem entre as 100 primeiras do mundo. Um país efetivamente carente de Educação como o nosso, precisa investir muito no professor para tentar mudar de cara e se desenvolver com toda a sustentabilidade que o mundo necessita.

O professor é certamente o único profissional que pode mudar a realidade educacional do Brasil, mas é preciso que as pessoas que atuam na área queiram verdadeiramente ser profissionais professores. Com o salário que se paga ao professor, infelizmente, só alguns “loucos” e muitos incompetentes, que não servem às outras profissões, têm se manifestado no interesse de trabalhar nessa “profissãozinha”. Se quisermos mudar essa situação, temos que melhorar a situação profissional, particularmente a situação financeira da profissão de professor, que urge por ser mais valorizada pelo bem da educação nacional.

É bom lembrar que o professor é profissional que forma todos os outros e assim, se o professor é ruim, os demais profissionais certamente também serão. Acho que o Brasil precisa refletir mais e rapidamente sobre esse significativo aspecto. (Grifo proposital do autor.)

Feliz 15 de outubro para aqueles professores que, como eu, ainda acreditam que as coisas podem mudar, que esse país tem jeito, desde que os professores competentes, os políticos sérios, a população pensante e decente queiram efetivamente se envolver na melhoria da educação nacional. Ainda poderemos viver verdadeiramente felizes dias dos professores no futuro, pois tudo pode ser melhor para a Educação, para nós professores e para o Brasil.

Referências:
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988 (35ª Edição), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Informação, Brasília, 446p.
BRASIL, 2014. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação, MEC/SASE, Brasília, 62 p.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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06 out 2015

A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

Resumo: O artigo aborda a questão da forma degradante como a espécie humana trata o planeta e das consequências drásticas que esse fato tem causado ao longo da implacabilidade do tempo. Além disso, o texto sugere que nossa espécie procure mudar de postura, a fim de garantir uma existência maior para nós aqui na Terra.


A Ilusão do Relógio e a Realidade do Tempo

É muito comum as pessoas se enganarem ou mesmo se iludirem com o tic tac de um relógio qualquer, ou mesmo com o vai e vem do badalar de um relógio de parede e entenderem que a cada segundo o tempo vai e vem, porque a representação do segundo é exatamente o tempo compreendido entre essas idas e vindas. Pois é, meus amigos, isso é apenas uma representação, porque na realidade, o tempo não vai e vem, lamentavelmente o tempo só vai e não há como nos iludirmos com esse fato.

 Nós, organismos vivos, sofremos isso mais seriamente, porque temos um tempo de vida definido e quanto mais o tempo vai, efetivamente menos tempo nós temos para viver. Quero crer que muitas das espécies vivas não tenha de fato essa dimensão de que a vida é um caminhar para a morte, mas nós, seres humanos, certamente temos ou, se alguns de nós não tem, deveriam ter também. Bem, verdade é que a cada badalada, a cada vai e vem do badalo do relógio, a cada tic tac, enfim, a cada segundo, nós estamos envelhecendo e ficando mais próximos da morte.

Até aqui, já existiram cerca de 30 milhões (30.000.000) de espécies na Terra, algumas viveram muitos milhões de anos, outras viveram milhares, outras somente centenas ou mesmo décadas, mas todas se extinguiram ou ainda vão se extinguir. A extinção é compulsória e chega para todas as espécies vivas. Todas as espécies que vivem e viveram, sempre estiveram em total dependência daquilo que o planeta lhes permitia fazer, pois nenhuma dessas espécies tinha como tratar ou sabia cuidar do planeta para seu próprio interesse. A espécie humana é diferente, pois é a única que pode modificar o planeta e acredito que ela deveria procurar fazer essas modificações no seu interesse como espécie. Entretanto, não é exatamente isso que acontece, porque temos uma tendência individualista muito forte e quase nunca pensamos no coletivo.

Nossa contagem de tempo é interessante: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios. Cada indivíduo da espécie humana está limitado a viver décadas, muito raramente alguns de nós atingem um século, mas nenhum indivíduo conseguiu passar muito desse limite e nem vai conseguir passar nunca, porque a “máquina humana” está programada para viver apenas algumas décadas. No meu caso específico, só para dar um exemplo, estarei completando seis décadas, sessenta anos, setecentos e vinte meses, 21.900 dias, 525.660 horas, 31.539.600 minutos, 1.892.376.000 segundos. Pois então, é preciso ficar claro que números são apenas números e nada mais, o que importa mesmo é o que cada um faz com o tempo que dispõe na sua vida, ou seja, o que fazemos efetivamente com o tempo que passamos pela vida.

Enfim, nesses 1.892.376.000 segundos eu, como qualquer indivíduo da espécie humana, fui capaz de uma infinidade de coisas, cresci, estudei, me formei, trabalhei, casei, reproduzi, viajei e várias outras coisas mais. Entretanto, tudo o que fiz, ainda é muito pouco, porque certamente ainda quero fazer muitas coisas mais. É certo que já vivi muito mais do que ainda tenho para viver, mas tenho absoluta convicção de que ainda existe muito por fazer e eu vou continuar fazendo. Com um pouco de sorte, talvez eu ainda tenha 20% ou 30% (mais números) a mais de tempo para viver. Isso significa, algo entre 12 e 18 anos, o que obviamente não vai ser suficiente para aquilo que ainda almejo, até porque eu sou um sonhador e, como tal, estou sempre na expectativa de poder fazer algo mais e quando a morte chegar, certamente vai ser de chofre, até porque embora ela seja compulsória, por outro lado, ela nunca é esperada.

A minha morte, assim como a morte de qualquer pessoa ou indivíduo humano, causa uma grande ruptura nos sonhos, mas não é por isso que eu pararei de sonhar a partir de agora e nem será pelos números imprecisos que eu ficarei esperando a morte chegar. Nada disso. Eu vou viver até meu último segundo, como se ele fosse o primeiro, lutando e sonhando com dias e coisas melhores para o Planeta, para a Humanidade e obviamente fazendo a minha parte para que as coisas que eu acredito sejam possíveis de acontecer. Eu fui programado para décadas e já cumpri algumas e certamente faltam poucas, mas o planeta foi programado para bilhões de anos e a Humanidade foi programada para milhares ou milhões de anos e deve faltar muito tempo para que ambos cheguem naturalmente ao fim.

A Terra é muito velha, mais ainda vai envelhecer muito mais, apesar do homem. A Humanidade é muito jovem e precisa ficar um pouco mais de tempo aqui na Terra, muito embora a tendência observável e de que isso não aconteça, exatamente por conta das ações desenvolvidas pelos próprios seres humanos, que quase sempre colocam os interesses pessoais acima dos interesses coletivos de nossa espécie, como já foi dito, e obviamente isso não faz bem a Humanidade.

O tempo é contumaz, compulsório, implacável e ainda assim, segue sempre jovem como se ele próprio não existisse. Para as coisas não vivas, o tempo não representa nada, mas para as coisas vivas, que envelhecem na sua frente, ele demonstra sua força, independentemente de qualquer coisa que possa acontecer. Aliás, o tempo deve ser ateu, ou melhor o tempo é o seu próprio Deus, porque ele tudo pode, tudo vê e tudo faz, além de ser onipresente. A grandeza do tempo tem nos impedido de pensar a nosso favor, porque nos preocupamos mais com ele e menos conosco. Na verdade, nós temos que viver, independentemente do tempo e apesar de sua nefasta existência.

Obviamente o tempo continuará passando, mas nós não precisamos, até porque não podemos, tentar acompanha-lo. Nós precisamos parar e mesmo sabendo que no final nós vamos perder, porque a morte é certa, tanto individual como coletivamente, porque não existe indivíduo e nem espécie eterna.  Entretanto, ainda assim, nós temos a obrigação de lutar para conseguir ampliar um pouco mais a existência de nossa espécie aqui na Terra.

O Planeta Terra, até aqui, já viveu cerca de cinco bilhões (5.000.000.000) de anos, ou seja, 4.730.400.000.000.000.000 de segundos (mais números grandes e inúteis) e independentemente das mudanças naturais do clima, ou de qualquer outra catástrofe geomorfológica provocada pela Humanidade, a Terra continuará existindo, por um período certamente ainda maior de que o que já passou. É claro que a Humanidade não seguirá sobrevivendo na Terra por toda essa quantidade de tempo, pois como todas as espécies, o Homo sapiens naturalmente se extinguirá, mas é possível que ainda possamos nos manter por alguns milhares de anos aqui nesse planeta, se houver um trabalho efetivo e direcionado buscando esse propósito. O empreendimento em prol da longevidade maior para a espécie humana, só dependerá única e exclusivamente da vontade coletiva do homem, isto é, do interesse precípuo da própria Humanidade.

Não falo por mim particularmente ou de você em especial, seja lá quem você for, o que eu quero é falar pela Humanidade. É preciso que a Humanidade queira fazer frente ao tempo e isso só será possível se agirmos coletivamente e com afinco. É besteira lutar contra o tempo, pois todos vamos morrer, ao longo de algumas décadas e a espécie humana vai se extinguir em algumas centenas, talvez milhares ou mesmo milhões de anos, como já foi dito. Porém, nós podemos e devemos agir no sentido de garantir que o ciclo da vida humana no planeta se refaça ainda pelo maior número de vezes que for possível sobre a superfície da Terra. Não precisamos e nem devemos adiantar os processos naturais de extinção como temos feito até aqui. Está na hora de agirmos em prol de nós mesmos.

 O nosso objetivo maior como seres humanos deveria ser exatamente o de tentar garantir a permanência da Humanidade no planeta pelo maior tempo possível. Para tanto, temos que trazer o tempo para o nosso lado. Tem um ditado antigo que diz: “se você não pode com o seu inimigo, junte-se a ele”. Pois então, está na hora da Humanidade se aliar ao tempo e buscar uma convivência planetária melhor com ele. A fórmula é extremamente simples: queremos viver mais, então temos que cuidar mais do planeta, porque assim teremos menos situações conflitantes e degradantes. Com isso, o tempo será menos contundente conosco e nos permitirá sobreviver mais.

Para muitos seres humanos, em certo sentido, o tempo é sinônimo do clima, e embora isso efetivamente não seja uma verdade, do ponto de vista da Física. Mas, por outro lado, é certo que nós precisamos cuidar do clima para garantir que nossa espécie vá sobreviver por mais tempo. Dessa maneira a metáfora que confunde tempo com clima é benéfica, porque deveria nos conduzir a um estado de cumplicidade com a conservação do clima na Terra e isso seria muito interessante e positivo, tanto para a Humanidade como para o Planeta. Entretanto, nós mesmos negamos a metáfora que pregamos, quando degradamos o Planeta, interferindo drasticamente no clima e assim encurtando o nosso tempo planetário.

Quer dizer, mesmo sabendo que o tempo não para, nós, infelizmente, ainda continuamos na ilusão do relógio, de que o tempo vai e vem e estamos esperando que o tempo bom volte, para que possamos solucionar os problemas climáticos que nós mesmos criamos e que precisamos resolver, para ganhar mais tempo de sobrevivência na Terra.  A realidade está estampada na nossa frente, isto é, o tempo só vai e para nossa espécie, ele está indo numa velocidade surpreendentemente alta, mas parece que nós estamos parados e dormindo, ou então nós continuamos não querendo enxergar os problemas e assim, vamos caminhando progressiva e rapidamente para o terrível e triste fim da Humanidade.

Quando será que iremos cair na realidade e mudar o nosso comportamento coletivo?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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28 ago 2015

Sobre a Reprodução Sexuada e a Formação de Híbridos

Resumo: O texto trata da Reprodução, em particular da Reprodução Sexuada e das possibilidades de formação ou não de organismos híbridos resultantes do encontro reprodutivo entre espécies próximas e das consequências oriundas desses encontros. A abordagem tenta esclarecer que a Hibridização é naturalmente dificultada, mas que muitas vezes os mecanismos de isolamento falham e os híbridos acontecem e que isso pode favorecer ou prejudicar o processo de Especiação.


 

Sobre a Reprodução Sexuada e a Formação de Híbridos

Esse talvez seja o assunto de cunho biológico mais envolvente e o que mais interessa as pessoas em geral. Digo isso porque ao longo dos meus quase 35 anos de magistério nas diferentes áreas da Biologia, certamente esse foi o assunto que mais vezes tive que responder a questionamentos, tanto dentro quanto fora das escolas. Ou seja, os questionamentos ocorriam tanto por parte de alunos e de colegas professores, como também a partir de outras pessoas totalmente desvinculadas da atividade escolar ou biológica, as quais tinham grande interesse e curiosidade sobre a questão. Por conta disso, resolvi me atrever e escrever esse artigo, onde tentarei informar aos não biólogos e principalmente aos curiosos um pouco mais sobre o assunto.

Começarei informando que a Reprodução é o mecanismo pelo qual as espécies vivas se perpetuam no espaço e no tempo. Ou seja, só pode ser considerada uma espécie aquele grupo de indivíduos semelhantes que é capaz de gerar descendentes e se manter vivo numa determinada área ao longo do tempo. A Reprodução Sexuada é um mecanismo mais seguro de manter e perpetuar as espécies, pois garante a variabilidade e gera a diversidade necessária entre os indivíduos da espécie. Entretanto, é preciso saber clara e conceitualmente o que é esse mecanismo e que implicações ele traz para a vida como um todo e para vida animal particularmente.

Na verdade, muita gente pensa que Reprodução Sexuada é aquela que envolve cópula, assim confunde Reprodução Sexuada com Ato Sexual (Cópula) e, o que é pior, pensa que só existe reprodução sexuada nos animais que copulam. Isso está muito longe de ser verdade, mas este erro é consequência de outro anterior, que é o próprio conceito de sexo, o qual a grande maioria (quase a totalidade) das pessoas não conhece ou, se até conhece, tem uma noção bastante errada sobre o mesmo.  A cópula é apenas um detalhe que envolve o processo reprodutivo sexuado de alguns organismos vivos.

Infelizmente, a farta propaganda existente hoje na mídia e a divulgação intensiva sobre o sexo na espécie humana não traduz conceitualmente o que seja sexo de uma maneira objetiva e definitiva. Fala-se muito de sexo, de “fazer sexo”, de “utilizar o sexo”, de diferenças entre os sexos, de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e outras coisas mais. Porém, lamentavelmente, não se define realmente o que seja sexo. Na verdade, não se discute a importância biológica efetiva que o sexo tem para as espécies vivas, pensa-se apenas no sexo como objeto de prazer, de encantamento e de sedução humana, numa atitude social e estritamente antropológica, que leva ao entendimento errôneo da importância da função sexual nas espécies vivas. Assim, embora se fale também em Educação Sexual, na realidade está se deseducando, pois não se aborda o sexo num contexto biológico mais amplo.

A palavra sexo é oriunda da existência das células sexuais (gametas), os quais são, apenas e tão somente, de dois tipos: feminino e masculino. Então um organismo vivo é do sexo feminino porque suas Glândulas Sexuais (Gônadas) produzem gametas femininos ou é do sexo masculino porque suas gônadas produzem gametas masculinos. Entretanto há espécies, em vários grupos de organismos vivos que têm os dois tipos de gônadas e por isso mesmo produzem os dois tipos de gametas. Nesse caso os organismos são denominados Hermafroditas, em alusão aos deuses Hermes (masculino) e Afrodite (feminina), significando que o organismo em questão apresenta os dois tipos de sexos ao mesmo tempo.

A condição de pertencer ao sexo masculino, ao sexo feminino ou a ambos (hermafrodita) pode existir aleatoriamente em qualquer espécie viva (animal ou vegetal) sexualmente reprodutiva e a reprodução sexuada resulta do encontro entre os diferentes sexos (gametas) dessas espécies, através de um fenômeno denominado Fecundação ou Fertilização. Esse encontro pode ocorrer dentro do corpo de apenas um dos organismos (fêmea) ou de ambos (no caso de Fecundação Cruzada entre hermafroditas). Nesse caso a fecundação é denominada de Fecundação Interna. Entretanto, a Fecundação também pode ocorrer fora do corpo, num ambiente aquático externo, sendo denominada de Fecundação Externa. Então, toda vez que um gameta masculino de uma determinada espécie, encontra um gameta feminino dessa mesma espécie e o fecunda, ocorre uma reprodução sexuada, independentemente do local onde isso aconteça.

Na maioria das espécies em que ocorre uma Fecundação Interna, geralmente há nos indivíduos a presença de um órgão copulador (Pênis) e consequentemente ocorre uma cópula, mas isso não é uma obrigatoriedade, porque existem muitas espécies hermafroditas em que ocorre uma Autofecundação, isto é, os genitais liberam os gametas que se encontram dentro do próprio indivíduo, sem que haja uma cópula. Por outro lado, também existem espécies de Fecundação Externa com uma “pseudo-cópula”, como acontece nos Anfíbios Anuros (sapos), haja vista que embora aconteça algo parecido com uma cópula, na verdade a cópula não ocorre porque os machos não têm um órgão copulador e a fecundação é externa. Nas aves, embora a maioria dos machos também não tenha órgão copulador, as fêmeas desenvolveram mecanismos que levam os gametas masculinos para o interior de seus respectivos corpos e ocorre uma Fecundação Interna.

Assim, fica claro que a fecundação pode acontecer de várias maneiras, porém o resultado da fecundação, independentemente de qual tenha sido a sua maneira, sempre irá originar uma célula ovo ou zigoto, a qual, por sua vez, irá se desenvolver para formar um novo organismo com uma carga genética própria, que é oriunda dos dois gametas iniciais. Isto é, o novo ser que irá ser produzido sempre resultará de uma mistura genética dos dois ancestrais que forneceram os gametas, o que gera uma variabilidade cada vez maior das espécies que realizam a reprodução sexuada e que consequentemente resultam de uma fecundação.

Nas espécies animais denominamos o gameta masculino de Espermatozoide e o feminino de Óvulo e nas espécies vegetais, geralmente os gametas masculinos são denominados de Grão de Pólen e o feminino também é denominado de Óvulo. Entretanto, existem outros tipos de nomenclaturas atribuídos aos gametas nos diferentes grupos vegetais, mas vamos deixá-los de lado para não trazer à baila outros nomes pouco comuns e principalmente para não aumentar o tamanho da possível confusão na cabeça do leitor.

O ato sexual (cópula) é um dos mecanismos que permite o encontro entre os dois tipos diferentes de gametas de uma determinada espécie, porém está muito longe de ser o único mecanismo que permite esse processo, porque, além da fecundação externa na água, no caso dos animais, os gametas podem se encontrar e assim se fecundarem de várias formas nas espécies vegetais, através da ação dos agentes polinizadores, como o vento, os insetos, as aves e os morcegos. Enfim, sexuado é tudo que envolve gametas e que resulta de fecundação e como já foi dito, existem várias formas de fecundação, ou melhor, existem vários mecanismos que permitem a reprodução sexuada e consequentemente a fecundação, além daquele que a maioria das pessoas acredita ser o único.

Desta forma quero crer que agora posso dizer, sem medo de estarrecer o leitor ou de parecer que eu esteja louco, que, além do homem e dos animais vertebrados terrestres, muitas outras formas de vida, inclusive muitos invertebrados aquáticos, além dos peixes e também as plantas superiores são entidades sexuadas que podem se reproduzir e efetivamente se reproduzem sexuadamente, independente de realizarem uma cópula ou não. Aliás, é bom ressaltar que alguns organismos, são capazes de se reproduzirem também assexuadamente, isto é, sem a participação das células sexuais (gametas), mas esta é outra história e penso ser melhor não discuti-la nesse momento.

Dito isto, acredito que agora devo passar ao segundo item de minha breve explanação, na tentativa de poder esclarecer um pouco mais as pessoas sobre a reprodução sexuada e a formação de híbridos. O meu segundo item é a hibridização, ou seja, o processo de formação de híbridos.

Primeiramente é preciso definir o que seja um híbrido. Biologicamente um híbrido é aquele indivíduo resultante do cruzamento de dois ancestrais de espécies distintas. Isto é, alguém que se origina de dois contingentes genéticos distintos, que podem ser e geralmente são parecidos, mas que necessariamente são efetivamente diferentes. Costuma-se usar como exemplo o burro, que resulta do cruzamento entre a égua e o jumento ou entre o cavalo e a jumenta. Embora, pudessem ser usados outros inúmeros exemplos existentes, vou continuar me utilizando desse modelo porque, além de satisfazer a necessidade do momento, esse é também um exemplo bem conhecido da maioria das pessoas.

O cavalo e a égua pertencem à espécie Equus caballus, enquanto o jumento e a jumenta pertencem à espécie Equus asinus, ou seja, são duas espécies distintas. Quando são cruzadas (reproduzidas sexualmente) duas espécies diferentes, mesmo aparentadas, como é o caso de cavalo e jumento, o produto é um híbrido (Burro ou Mula). No que se refere aos animais, os híbridos são quase sempre inviáveis e quando são viáveis costumam ser estéreis. Porém, no caso das plantas, isso não é verdade, pois os híbridos vegetais costumam ser sexualmente férteis. Essas duas respostas diferenciadas entre plantas e animais quanto à hibridização são bastante intrigantes e parecem estar na fundamentação básica da própria condição do que seja um animal ou um vegetal.

Na natureza existem vários mecanismos que favorecem a formação de híbridos nos vegetais, o que possivelmente esteja relacionado com a limitação dos vegetais quanto à locomoção, embora, como já foi dito, também existem muitos animais que auxiliam no processo de polinização das espécies vegetais. A diversidade vegetal é muito menor que a animal, por causa da dependência ambiental maior e, ao que parece, também em consequência da impossibilidade motora. O vegetal tem que se desenvolver onde estiver e assim a mistura genética entre as espécies é muitas vezes vantajosa, sendo inclusive um fator significativo de evolução e formação de novas espécies (Especiação) entre as plantas.

Por outro lado, nos animais, em função basicamente da possibilidade motora, ocorre uma diversidade muito maior em consequência da possibilidade de procurar e assumir diferentes nichos ecológicos. Desta maneira, como a hibridização poderia ser algo extremamente comum, naturalmente foram desenvolvidos vários mecanismos que dificultam e tentam impedir a formação desses híbridos e garantir a individualidade das espécies. Ao contrário dos vegetais, nos animais a hibridização não é um fator de evolução nem de formação de novas espécies.

Os mecanismos que dificultam a hibridização em animais são classificados em dois grandes grupos: Mecanismos Pré-zigóticos (que impedem a formação do Ovo ou Zigoto) e Mecanismos Pós-zigóticos (que não impedem a formação do Ovo ou Zigoto, mas impedem o desenvolvimento, ou a formação do indivíduo, ou a sua reprodução ou ainda a reprodução futura de sua linhagem). No exemplo do Burro, acontece a formação do indivíduo, entretanto ele é incapaz de reproduzir. Assim, o Burro não é uma espécie verdadeira porque não pode gerar descendentes.

Geralmente ocorre impedimento antes de qualquer possibilidade reprodutiva, por questões limitantes de naturezas geográficas, por questões de impossibilidades mecânicas e mesmo por questões de diferenças comportamentais entre as espécies. Mas, mesmo quando esses fatores Pré-zigóticos falham e o encontro dos gametas acaba ocorrendo, ainda existe a possibilidade não haver fecundação, ou mesmo de haver fecundação, mas não haver desenvolvimento, ou ainda de haver desenvolvimento mais gerar um ser estéril, ou até de gerar um ser reprodutivamente ativo na primeira geração, porém estéril nas gerações subsequentes. Todos esses últimos são os mecanismos Pós-zigóticos e de todos esses casos há exemplos bem conhecidos na natureza. Além dos vários exemplos naturais de híbridos bem conhecidos da ciência, há também situações artificiais que o homem propiciou através das experiências mais diversas.

Concluindo, devo dizer que a Reprodução Sexuada tem sido um mecanismo fundamental para a manutenção e para a diversificação das espécies vivas do planeta, entretanto a formação de híbridos naturais é uma constante e esses híbridos muitas vezes são entidades comuns em função da grande possibilidade de combinação genética entre as espécies vivas. Algumas vezes, esses “erros reprodutivos” levam à produção de novas espécies, mormente nos vegetais, e outras vezes levam a formação de híbridos, nos animais, que não conseguem se estabelecer como espécies verdadeiras dentro da classificação biológica, exatamente porque apresentam limitações reprodutivas marcantes.

No pensamento popular coletivo os híbridos são conhecidos pela “força” que possuem, denominada genericamente de “Vigor Híbrido”, que é resultante da mistura dos dois genomas distintos ancestrais e que garante boas condições de resistência e de manutenção viva, o que para os vegetais condiciona numa melhor adaptação e consequentemente numa melhor capacidade de sobrevivência. Porém, nos animais, essa mesma mistura genética que gera o “Vigor Híbrido”, parece ser traduzida como uma imperfeição (anomalia) genética e passa a ser um reforço negativo, o qual é responsável pela inviabilidade reprodutiva e que não deixa esses organismos terem continuidade.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 ago 2015

O Meio Ambiente é o bem maior da Humanidade

Resumo:  O texto atual, mais uma vez relaciona-se com atividade humana e a degradação ambiental planetária provocada pelo homem, procurando demonstrar que o individualismo e que a falta de comprometimento coletivo, talvez, sejam as grandes causas e que as consequências são desastrosas, pois caminham para a extinção da espécie humana. A preocupação com o Meio Ambiente deve ser estabelecida como prioridade sobre todas as demais questões.


O Meio Ambiente é o bem maior da Humanidade

Nós, brasileiros, temos, sociologicamente, o hábito lamentável e infeliz de entender que aquilo que é de todos, acaba não pertencendo a ninguém. Isto é, aquilo que é comum a todos numa comunidade e por isso mesmo pertencente a todos, costuma ser considerado como algo que não tem dono e assim, acaba sendo entendido como algo que não pertence a ninguém. Essa cultura errada, que tem nos produzido inúmeros infortúnios em vários setores e atividades sociais, ultimamente também tem causado grandes problemas na área ambiental, haja vista que o Meio Ambiente é um patrimônio coletivo, um bem comum a todos (humanos e não humanos) que nele habitam. Infelizmente, temos tratado o Meio Ambiente como coisa de ninguém, ainda que ele seja um bem de todos os organismos vivos.

Estamos fazendo tudo ao contrário. Ao invés de procurarmos entender que qualquer lugar é um Meio Ambiente único e que merece ser tratado com cuidado e respeito, para a manutenção da vida nele existente, nós temos considerado que o Meio Ambiente é um lugar comum e qualquer, no qual se pode fazer de tudo, da maneira que se quiser. Ou seja, numa simples e perigosa troca entre o que é sujeito e o que é objeto numa sentença, além de contrariarmos a Constituição Federal (Capítulo do Meio Ambiente, Artigo 225), mudamos toda a noção de importância que se quer e se necessita dar ao Meio Ambiente e consequentemente minimizamos toda a questão ambiental. Dessa maneira, o Meio Ambiente passou a ser considerado um objeto sem valor, do qual alguns indivíduos de nossa espécie se apropriaram para seus interesses pessoais e cabe apenas a esses indivíduos o direito ao uso desse objeto insignificante.

Nossa cultura parece que já não tinha mais nada para socializar no interesse de grupos específicos e vulgarizar nas possibilidades de uso, por conta disso resolveu assumir que o Meio Ambiente deve ser partilhado apenas pelos diferentes grupos de seres humanos que nele habitam especificamente, sem qualquer responsabilidade ou consequência na maneira como é feita esta partilha. Em suma, assumimos uma postura ditatorial, usurpadora e antiética em relação ao planeta, às demais espécies vivas e principalmente aos demais seres humanos. Nós nos consideramos os “donos do planeta” e de todo seu espaço físico, inclusive com as demais coisas vivas, que está aí apenas para nos servir e para instigar indefinidamente a nossa imensa capacidade de degradação.

Por conta disso também, já não fazemos mais distinção entre o que certo e o que é errado. Trocamos definitivamente os sentidos do “bem estar” e do “bem viver”, ainda que as duas expressões sejam parecidas, os dois conceitos que elas implicam, na verdade, são bastante distintos. O “bem estar” tende a ser egocêntrico, momentâneo e tênue, enquanto o “bem viver” tende a ser coletivo, perpétuo e rígido. Para nós o que importa é somente a vantagem imediata do “bem estar” individual, o restante não interessa. Estamos precisando cultivar mais o “bem viver”, até para que possamos garantir algum “bem estar” efetivo e duradouro para nossa espécie, para as demais espécies planetárias e para o planeta como um todo.

A Terra necessita que encaremos o Meio Ambiente dentro de uma visão do “bem viver”, porque apenas dessa maneira é que poderemos trabalhar em prol da continuidade da vida no planeta, principalmente da vida de nossa própria espécie, que á a mais dependente de todas as espécies aqui existentes na Terra. O Homo sapiens, assim como várias outras espécies planetárias, só sobreviverá se a Terra continuar dentro de determinadas condições ambientais, as quais foram definidas pelo processo natural de evolução e permitiram o aparecimento e desenvolvimento dessas espécies. Fora desse padrão de razoabilidade ambiental nossa espécie e muitas outras se extinguirão de maneira trágica e prematura. Em muitos ecossistemas a manutenção do equilíbrio depende de características aparentemente pouco importantes aos olhos humanos, mas é exatamente nesses ecossistemas frágeis que a ação devastadora da espécie humana tem causado feridas graves e de difícil tratamento, muitas vezes sem nenhuma possibilidade de cura.

A Evolução Biológica que nos trouxe e nos manteve vivos como espécie planetária até aqui, certamente continuará seu rumo, mas a nossa espécie, pelo princípio básico da Seleção Natural, por questões óbvias, não terá como produzir nenhum mecanismo capaz de se adaptar às condições extremas que nós mesmos estamos criando e acentuando cada vez mais. Desta maneira, a extinção da espécie humana e de algumas outras será uma consequência direta dos erros que temos cometido com o Meio Ambiente planetário. Obviamente, temos certeza absoluta que conscientemente a humanidade não quer se extinguir, mas paradoxalmente ela tem trabalhado de forma deliberada e inexplicável exatamente no sentido de sua extinção precoce e inexorável.

O Meio Ambiente precisa estar no centro, não só das atenções, como se tem visto nas propagandas, mas ele precisa, principalmente, estar no centro das ações, o que ainda está difícil de se ver. Temos que parar de falar sobre o meio ambiente e temos que começar a viver de maneira ambientalmente correta. As questões ambientais devem ser tratadas com toda a relevância que merecem, haja vista que elas são as prioridades para o planeta e particularmente para a nossa espécie.

De fato, o Meio Ambiente Planetário é o que temos de mais importante, porque a Terra é a casa que abriga todos nós da espécie humana e das demais espécies de organismos vivos do planeta. Foi o Meio Ambiente que nos impôs e continua nos impondo, progressiva e gradativamente as condições que tem nos permitido a adaptação e a consequente sobrevivência evolutiva. Entretanto, com as mudanças bruscas, não poderemos continuar evoluindo, porque não será possível dar grandes saltos adaptativos. Desta forma, a evolução seguirá o seu curso no planeta, mas nós não estaremos mais nele, por conta de não podermos assumir todas as grandes mudanças adaptativas que deverão ser necessárias à nossa continuidade.

Bem, apesar de todo o procedimento errado ao longo da história, ainda continuamos caminhando e evoluindo até aqui e talvez seja possível caminhar um pouco mais. Porém, os nossos passos estão cada vez mais incertos, nossos ambientes próximos estão cada vez mais perigosos, nossas ações são cada vez mais inseguras e nossa jornada parece está ficando cada vez mais curta. Chegamos a uma encruzilhada, na qual temos duas alternativas excludentes: ou paramos e mudamos nosso modo de viver e investimos no “bem viver” ou então continuamos preocupados com o “bem estar” no pouco tempo que nos resta, antes da extinção. Não há, absolutamente, nenhuma outra alternativa e a escolha é exclusivamente nossa.

Somos uma espécie única, no meio de milhões de outras, que habita um planeta único, do qual tiramos tudo que necessitamos para viver, a despeito do interesse e das necessidades das demais espécies planetárias. Ao mesmo tempo, destruímos esse planeta e essas espécies sem nenhuma cerimônia, sem nenhum constrangimento e principalmente, sem parar para pensar que as consequências de nossas ações, só trarão prejuízos a nós mesmos.

 Lamentavelmente, a julgar as nossas ações como indivíduos, parece que a vida humana passou a se manifestar efetivamente como uma contingência individual, cuja única certeza é a morte (extinção) e não existe projeto futuro no que se refere a condição viva de nossa espécie e sua manutenção na Terra. O ideal da sustentabilidade planetária é uma utopia, pois a maioria dos seres humanos não aparentam ter nenhuma preocupação com as gerações atuais e muito menos com as futuras. O “bem estar” do presente é o único interesse. Dessa maneira, não há porque buscar o “bem viver” que pode nos levar um pouco mais para o futuro como espécie.

É claro que ainda deve existir algum tempo para nossa espécie, mas precisamos urgentemente rever os nossos procedimentos em relação ao Meio Ambiente planetário que nos mantem. Ou seja, precisamos mudar radicalmente a maneira de tratar o nosso Planeta Terra e as demais criaturas nele existentes. Não é mais possível continuar da forma que chegamos até aqui, há necessidade de criar uma nova Filosofia e de desenvolver uma nova Metodologia, que nos direcione para a noção efetiva de que o Meio Ambiente é um bem coletivo e nos permita agir na contenção imediata da degradação do planeta e que garanta nossa continuidade na Terra.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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03 ago 2015

A História do Menino da Cidade Grande e o Rio Imenso

Resumo: Dessa vez trago um texto que conta a história de minha ligação com o Rio Paraíba do Sul, desde a minha infância até hoje e traz algumas informações pessoais sobre os acontecimentos e as coincidências entre eu e o Rio Paraíba ao longo dos anos. Vou fundo na memória e trago a imagem desde os ensinamentos dados por meu pai e da minha primeira professora de Geografia no ginásio até os dias atuais em que estou completando 35 anos vivendo na região valeparaibana.


A História do Menino da Cidade Grande e o Rio Imenso

Quando menino eu vinha, durante as férias, com meus pais, do Rio de Janeiro para São Paulo para visitar meus tios e meus primos, na verdade tios e primos da minha mãe, pois a tia era irmã de minha avó. Eu gostava muito das viagens e prestava muita atenção à paisagem. Naquela época, ainda na antiga Rodovia Rio – São Paulo, de vez em quando passávamos ao lado daquele “rio imenso”, o Rio Paraíba do Sul. É isso mesmo, para mim o Rio Paraíba do Sul era um “rio imenso”, pois lá na cidade do Rio de Janeiro, o maior rio que eu pude identificar era o canal do mangue, que não tem dez metros de largura. Desta forma o Rio Paraíba era, para mim, um gigante. Eu me deliciava com aquela quantidade de água e não entendia bem o que era aquilo. Acho até que eu tinha um pouco de medo, pois aquele aguaceiro me assustava ao mesmo tempo em que me atraia.

Pouco depois a estrada mudou, veio a Dutra, mas o Rio Paraíba do Sul continuava ali, aparecendo e sumindo ao lado da estrada. Eu ficava doidinho para viajar até São Paulo, só para ver aquela imensidão de rio. Nessas idas e vindas eu conversava muito com meu pai, que me informava detalhes do Rio Paraíba do Sul e de sua importância para a região. Entretanto, eu era muito jovem e não podia entender a maioria das coisas que meu pai dizia. Só sei que eu curtia muito as informações e que aqueles momentos para mim eram, além de inesquecíveis, também fantásticos. Como era bom, eu, meu pai, minha mãe e o Rio Paraíba do Sul, seguindo a estrada para São Paulo.

Lembro-me também que meu pai tinha um amigo (Senhor Ernesto) que era casado com uma Senhora (não me lembro o nome) que havia nascido no Norte do Estado do Rio de Janeiro, no Município de São João da Barra e os pais dela ainda moravam lá. Durante feriados prolongados (Carnaval, Semana Santa e outros), eu, meu pai, minha mãe, o Senhor Ernesto e sua esposa, por várias vezes fomos a São João da Barra visitar os pais da senhora. Recordo-me muito bem, que a casa onde ficávamos era muito grande. Lá também havia uma pequena fábrica de manteiga e de queijo e isso produzia um cheiro característico no ar. A casa com a pequena fábrica localizava-se muito próximo de outra fábrica muito grande, naquela época, a Fábrica do Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, muito famosa na região. Isso já faz mais de 50 anos e eu nunca mais voltei ao local, portanto não sei se essas coisas ainda existem.

Nos carnavais que passávamos na cidade de São João da Barra, tinha uma coisa muito interessante. A cidade se dividia em dois grandes Blocos Carnavalescos: os Congos e os Leões. Os dois blocos percorriam as ruas da pequena cidade e arrastavam os seus adeptos, em meio aos aplausos e às vaias dos prós e dos contra. Eu nunca tinha visto uma situação dessas, a competição era terrível, parecia uma guerra com a cidade dividida pelo Carnaval, mas aquilo durava apenas o período do Carnaval, depois tudo voltava ao normal até o outro ano. Hoje em dia, às vezes tenho vontade de voltar a São João da Barra só para ver se há algum relato ou registro histórico daquela época ou se, quem sabe, até hoje a coisa continua assim.

No fundo da casa onde ficávamos (a Fábrica de Manteiga), também passava um “rio imenso”, um rio grande (largo), caudaloso e de velocidade significativa.  Era interessante que a gente pescava da janela da casa e numa pequena parte do terreno havia um remanso e uma “prainha”, onde se podia tomar banho próximo à margem. Aquele rio, por incrível que pudesse parecer para aquele menino, também era o Rio Paraíba do Sul.

Várias vezes eu questionei meu pai sobre o tamanho daquele “rio imenso”, que eu via quando ia para São Paulo (Sul) e quando ia para São João da Barra (Norte). O Rio Paraíba do Sul era muito maior do que o que eu pensava e eu sempre me questionava: onde será que esse rio vai parar? Lembro que meu pai me explicava, mas como já disse eu era muito pequeno para entender.

Eu fazia tantas perguntas sobre o “rio imenso”, que um dia meu pai, o amigo dele (Ernesto) e o sogro desse amigo, o qual lamentavelmente não me recordo o nome, resolveram me levar num passeio. Pegamos o carro e saímos. Levou algum tempo, passamos por uma cidade bem maior (Campos dos Goitacazes) e posteriormente chegamos a um lugar fantástico em que estávamos de frente para uma praia (Atafona). Estávamos de frente para o Oceano Atlântico e lá meu pai me mostrou onde o “rio imenso” terminava, onde ele encontrava o mar. Meu pai me falou da Pororoca e, não sei o porquê, essa foi uma palavra que eu jamais esqueci. Talvez, seja pela sua sonoridade ou por ser um dos muitos ensinamentos de meu saudoso pai. Sei lá!

Engraçado, como as coisas acontecem. Eu nunca pensei que um dia fosse contar isso para alguém, mas estou aqui falando do meu saudoso pai e compartilhando de seus ensinamentos com os meus leitores. Foi ele, o meu pai, quem me ensinou sobre Pororoca, Piracema, Correnteza e outras coisas mais. E tudo isso por causa do Rio Paraíba do Sul.

Posteriormente, quando ingressei no ginásio, quando fui estudar a Geografia mais detalhadamente, na parte referente à Geografia Física do Sudeste do Brasil, a Professora (Dona Catarina, minha primeira professora de Geografia, uma mulher jovem e muito bonita), falou-me um pouco mais da Bacia Hidrográfica (acho que até então eu nunca havia ouvido falar nesse termo) do Rio Paraíba do Sul e de sua importância para o desenvolvimento do Sudeste brasileiro. É claro que muita coisa eu já sabia, pois meu pai já havia me dito, embora eu ainda não entendesse direito. Acho até que é por isso que sempre me dei bem e sempre gostei muito de Geografia.

Eu adorava as aulas de Geografia da Professora Catarina e tenho certeza que ela nunca soube disso. Nunca mais a vi, como disse lá se vão mais de quarenta e cinco anos, talvez até ela já tenha morrido, porém continua muito viva em minha memória. Tive outros professores de Geografia, mas, não sei o porquê, nenhum deles me chamou tanta atenção quanto a Professora Catarina. Dos outros, eu nem lembro mais o nome. Quem sabe era a sua beleza ou o meu interesse por aprender sobre os rios, em particular o Rio Paraíba do Sul.

O tempo passou e eu continuei crescendo, sempre indo e vindo para São Paulo, admirando o Rio Paraíba do Sul e conversando com o meu pai sobre o rio e sua importância. Depois de adulto, já dirigindo, quando eu ia sozinho pela Rodovia Presidente Dutra, algumas vezes aproveitava para parar e olhar com um pouco mais de calma aquela beleza deslumbrante daquele rio maravilhoso. Particularmente, na cidade de Barra Mansa, na pista sentido São Paulo, quando se avista o Rio Paraíba do alto. É a primeira visão do Rio Paraíba do Sul na pista no sentido São Paulo, certamente é o trecho mais lindo do Rio Paraíba do Sul. Também parei algumas vezes no trecho entre Queluz e Lavrinhas, onde o Rio Paraíba do Sul é especialmente encantador. Recentemente esse trecho perdeu um pouco de seu brilho e ficou menos interessante por causa das PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) que infelizmente lá se instalaram. Mas, essa é outra história que não vou discutir aqui.

Graduei-me como Biólogo e fui trabalhar especificamente com organismos marinhos e assim, o Rio Paraíba do Sul ficou, por algum tempo, apenas como uma imagem que eu sempre gostava de lembrar e, quando possível reviver, nas oportunidades em que eu viajava pela Rodovia Presidente Dutra a caminho de São Paulo, de Curitiba ou de outra cidade do Sul do Brasil.

Por ironia do destino ou por mais uma coincidência, depois de algum tempo, vim trabalhar aqui no Vale do Paraíba Paulista, mais precisamente na cidade de Taubaté e acabei ficando na região. Casei com uma caçapavense e meus filhos nasceram todos aqui na região. Sou cidadão valeparaibano faz 35 anos e hoje não troco essa região por nenhuma outra, apesar de todos os problemas aqui existentes.

Depois que vim trabalhar na região, algumas vezes eu vinha do Rio de Janeiro para cá de trem e desta forma eu conheci outros caminhos por onde o Rio Paraíba do Sul também passa, ao lado da linha do trem. Aliás, que saudade do trem que várias vezes me trazia do Rio de Janeiro para Taubaté ou para Caçapava e vice-versa. O fim do trem é outra daquelas coisas que não se consegue entender e que só acontecem em países como o Brasil, mas também não é disso que estamos querendo falar no momento.

Minha vinda para a região me propiciou inúmeras oportunidades de estudos naturalísticos sobre o Vale do Paraíba e sua importância no cenário nacional. Como zoólogo, primeiramente estava interessado na fauna, mas é impossível estudar os animais sem conhecer o ambiente, a sua condição geográfica e sua realidade histórica. Assim, além da Biologia Animal, também tive de estudar um pouco da Geomorfologia e da Geografia Física, da Geografia Política e obviamente da Ocupação e da História da região. Desta forma, eis que o Rio Paraíba do Sul surge novamente na minha vida, agora com um significado diferente, pois ele é, certamente, o principal agente físico na organização naturalística e ambiental da região, bem como na sua condição geopolítica e social.

Assim, ao longo do tempo, aquele menino que questionava a seu pai sobre o “rio imenso” foi voltando na minha mente e por conta disso resolvi estudar mais e conhecer a fundo o Rio Paraíba do Sul, sua história e sua importância para a região valeparaibana, para o Estado do Rio de Janeiro particularmente e para o Brasil. Sou ciente que a minha existência e de muitos que vieram depois de mim, só foi possível por conta das águas do Rio Paraíba do Sul. Se não fosse a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul, ocorrida em 1953, o Estado do Rio de Janeiro certamente não teria a pujança que hoje possui, porque não haveria água suficiente e sem água não seria possível abrigar toda a população que hoje abriga.

Até mesmo no dia em que meu pai faleceu, o Rio Paraíba do Sul esteve presente em minha vida. Meu pai estava doente e eu já morava aqui no Vale do Paraíba fazia alguns anos e por causa de sua doença, naquela época eu ia constantemente, pelo menos dia sim, dia não, ao Rio de Janeiro. Naquele fatídico dia, saí bem cedo (por volta das 6 horas da manhã) de Caçapava e fui de carro para o Rio de Janeiro. Cheguei à casa de meus pais e peguei minha mãe, pois precisávamos estar no hospital às 10 horas. Meu pai continuava do mesmo jeito (era o quadragésimo segundo dia de coma) e os médicos nada diziam sobre melhoras. Aliás, nem podiam dizer, porque o quadro era realmente muito grave. Depois da visita, eu e minha mãe voltamos para casa, almoçamos e logo depois, rumei novamente para Caçapava.

Pouco depois das 17:00 horas, quando cheguei à Caçapava, meu sogro me informou que eu precisava voltar ao Rio de Janeiro novamente, pois minha mãe acabara de telefonar, informando que meu pai havia falecido. Isso aconteceu em julho de 1991 e naquela época ainda não havia telefone celular. Pois é, até no dia em que meu pai morreu, por três vezes margeei o Rio Paraíba do Sul. Talvez mera coincidência, mas quero crer que não, prefiro acreditar que isso tenha alguma relação, pois eu, meu pai e o Rio Paraíba do Sul tínhamos (temos até hoje) tudo a ver.

Quando voltava ao Rio de Janeiro para o velório de meu pai, acompanhado de minha mulher e meu sogro, lembrei muito das coisas que meu pai me dizia sobre o Rio Paraíba do Sul, quando eu era pequeno. Até hoje, sinto um grande prazer, quando passo em frente da entrada para Rio Claro, no alto da Serra das Araras, onde antes existia a saída para o extinto município de São João Marcos. Meu pai morou naquele lugar e adquiriu o conhecimento que procurou me ensinar sobre o Rio Paraíba do Sul. Foram exatamente o interesse industrial e a falta de coerência histórica, de sensibilidade humana e de consciência ecológica, atitudes que hoje, como ambientalista, eu combato ativamente, que destruíram aquele Município. Mas, essa também é outra história.

Hoje estou aqui, lutando pelo Rio Paraíba do Sul e pela região que ele empresta o nome. Minha mulher e meus filhos aqui nasceram e aqui eu pretendo morrer. Escrevi e publiquei inúmeros artigos sobre a Bacia do Rio Paraíba do Sul e sobre a região. Além disso, eu ministro aulas não curso de Licenciatura em Biologia das Faculdades Integradas Teresa D`Ávila (FATEA) de uma disciplina que criei por volta de 1990, denominada “História Natural do Vale do Paraíba” e aproveito aqui para contar mais essa pequena passagem da história para alguns de meus alunos.

Certamente meu pai está lá no alto, olhando para mim e para o Rio Paraíba do Sul aqui embaixo e eu me sinto muito envaidecido de seus ensinamentos. Além do mais, eu me encho de orgulho todas as vezes, quando passo pela Rodovia Presidente Dutra, na entrada da fábrica “Du Pont”, no município de Barra Mansa, onde meu pai trabalhou. Gosto de lembrar, principalmente quando passo na frente da fábrica à noite, quando ela está toda iluminada, que meu pai foi um dos responsáveis pela instalação elétrica daquela grande planta industrial e que o Rio Paraíba do Sul estava ali, bem na frente do portão da fábrica para testemunhar o trabalho de meu pai e que ele continua ali do mesmo jeito até hoje.

A saudade de meu pai é eterna, mas a proximidade do Rio Paraíba do Sul me garante que mesmo longe, observando lá do alto, ele está presente e que continuamos juntos a olhar e admirar a beleza desse rio fabuloso, o rio imenso, que corre calmo e sereno, por mais de 1.150 Km, até o Oceano Atlântico e que alimenta com suas águas os meus conterrâneos de nascimento lá no Rio de Janeiro e os meus conterrâneos de coração aqui no Vale do Paraíba. Eu sei que meu pai está feliz e sorrindo, porque sabe que o Rio Paraíba do Sul também é um espírito eterno e nos acompanhará para sempre.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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