Categoria: Artigos

Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

25 fev 2015

Educação, Sustentabilidade e Política

Resumo: O texto aborda uma questão que está no “top” da falação atual, mas que ainda não é entendida pela grande maioria das pessoas. Trata-se do conceito de Sustentabilidade, que precisa efetivamente ser popularizado, porém dentro de sua ideia fundamental. A palavra sustentabilidade vem sendo gasta por todos os setores, porém a aplicabilidade da verdadeira noção de sustentabilidade ainda é um sonho que os ambientalistas querem ver acontecer. Devem ser efetivadas políticas públicas que viabilizem mecanismos de educação ambiental que possam contemplar essa necessidade, para a sustentabilidade saia da condição de sonho de alguns e passe a ser realidade de todos.


Educação, Sustentabilidade e Política

Sustentabilidade é um termo que já pode ser considerado relativamente velho, criado a partir da ideia de Desenvolvimento Sustentável definida por Ignacy Sachs, na década de 1980. Segundo o citado autor, o desenvolvimento sustentável é aquele que garante o crescimento econômico, a equiparação social e o equilíbrio ambiental. Isto é, a sustentabilidade é aquela característica que mantêm equalizados três aspectos fundamentais o meio ambiente, a sociedade e a economia. De acordo com o próprio Sachs, referendado por vários outros autores, não é possível pensar em outra forma de desenvolvimento, porque essa é a única maneira de garantir a manutenção da qualidade de vida do planeta. Bem, essa é a fala dos homens da Ciência.

Por outro lado, fica muito difícil falar sobre qualquer assunto quando a população não o conhece e consequentemente não está devidamente preparada para entendê-lo, aceitá-lo e assim, de alguma maneira, tentar colocá-lo em prática. Está é exatamente a situação em que se encontra a tão badalada, porém muito pouco entendida, sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está na moda aqui no Brasil e no mundo, mas ao que parece é só isso, porque as coisas, pelo menos aqui no nosso país, continuam acontecendo da mesma maneira, sem nenhuma preocupação efetiva com as idéias estabelecidas pelo conceito de sustentabilidade. Quer dizer emprega-se um termo, mas não se pratica, nem de longe, os conceitos abrangidos por esse mesmo termo.

A palavra sustentabilidade agora está inserida no contexto de tal forma que virou linguagem comum, ou melhor, linguagem viciada, de tanto que se repete. Isso deveria ser um bom negócio, mas infelizmente essa não é a verdade. O conceito de sustentabilidade não está sendo, de maneira absolutamente nenhuma, assumido pela sociedade de forma clara e abrangente como deveria, pois as premissas em que se usa o termo não são nada sustentáveis. Ao invés de se popularizar um conceito, na realidade apenas se vulgarizou mais uma palavra, a qual se relacionou erroneamente com a o crescimento econômico. Infelizmente, a sustentabilidade que é extremamente necessária ao planeta e ao ser humano, virou lugar comum, mera citação, que não demonstra absolutamente nada a ninguém, daquilo que pretendia como filosofia, pois suas vertentes ambientais e sociais são mascaradas pela ideia econômica imperante.

Em suma fala-se em sustentabilidade por simples modismo e isso lamentavelmente é bem pior do que se não se falasse nada sobre o assunto, porque assim não se poderia iludir tanto as pessoas e as organizações como até aqui se tem feito. Pior do que o não entendimento de um conceito é o seu entendimento errôneo. No que diz respeito à sustentabilidade, é exatamente isso que está acontecendo, pois se continua colocando o econômico antes de tudo, o que não se traduz como sustentabilidade. Atualmente quase todo projeto a ser desenvolvido traz a citação da palavra sustentabilidade no seu escopo. Entretanto, a maioria desses projetos não exerce nenhuma ação metodológica que sustente a aplicabilidade efetiva da sustentabilidade em si, a preocupação continua sendo única e estritamente econômica, as outras duas componentes do conceito continuam sendo deixadas de lado ou, quando muito, estão relegadas ao segundo plano.

Quer dizer a humanidade, mesmo sem saber, tem mais um grande problema para resolver, ou seja, entender efetiva e corretamente o que é a sustentabilidade. Porém, os “poderosos” estão trabalhando direitinho para manter esse “status quo” de desconhecimento coletivo, pois isso lhes garante a manutenção do poder. A maioria dos “poderosos” ainda não entende que todo e qualquer poder é provisório e transitório e que as coisas sempre mudam, embora algumas vezes demorem um pouco. Entretanto, no que diz respeito à sustentabilidade a demora das mudanças pode ser tão significativas que talvez levem a inviabilidade total da vida no planeta. Quer dizer, enquanto os “poderosos” mantêm o poder, os recursos naturais vão se extinguindo e a vida no planeta vai ficando cada vez mais ameaçada, mas eles não percebem ou não querem perceber.

Isso posto, fica claro que vivemos um problema real, pois a sustentabilidade é algo vital ao planeta e à humanidade. Porém, a partir disso, fica aqui uma primeira questão: o que deve ser feito para promover as mudanças necessárias que promovam a sustentabilidade e para suplantar os interesses dos “poderosos”?

Certamente aqui, como em quase tudo na vida humana, mais uma vez, entra a necessidade da Educação das pessoas para que a sustentabilidade tenha a sua devida importância estabelecida e o seu entendimento clarificado. Nesse momento surge uma segunda questão: como fazer para demonstrar essa importância, definir o conceito de sustentabilidade corretamente e popularizar esse conceito dentro das escolas para depois estendê-lo às populações? Para responder essa duas questões iniciais é relativamente fácil, como está apresentado a seguir.

Primeiramente é preciso formar professores capazes de entender e transmitir as idéias conceituais da sustentabilidade a partir do tripé em que ele está embasado: ambiental, social e econômico, sempre nesta ordem prioritária, que infelizmente há muitos que insistem em modificar, mesmo dentro dos que defendem a sustentabilidade. Depois devem ser criados mecanismos para contextualizar situações reais em que o conceito de sustentabilidade possa ser empregado amplamente, dando exemplos claros de sua aplicabilidade nas diferentes situações que envolvem o cotidiano das populações nas diferentes regiões. Posteriormente, deve-se promover a popularização dessas idéias a fim de que haja efetiva absorção das mesmas pelas diferentes comunidades.

Quer dizer não dá para falar em sustentabilidade sem que haja uma preparação específica para esse fim. Tem que haver uma educação para sustentabilidade, na qual seja possível distinguir toda abrangência e importância do termo. Mas, é nesse momento, que surgem duas novas questões, as quais são mais complicadas e consequentemente difíceis de serem respondidas. As escolas brasileiras estão preparadas para cumprir mais essa missão relacionada à sustentabilidade? Existem professores devidamente habilitados na questão para atuar como orientadores e multiplicadores do conceito?

Sinto dizer, mas me perece que estamos numa situação nada sustentável em relação ao problema da sustentabilidade, porque não podemos responder positivamente a nenhuma das duas últimas questões propostas. Estamos caminhando para o caos, continuamos explorando os recursos naturais de maneira indevida e degradando os ambientes, desintegrando grupos sociais locais e perdendo recursos econômicos por conta de nossa incapacidade de pensar de maneira verdadeira sustentável e não temos estrutura e nem gente capacitada para trabalhar na mudança desse quadro lamentável.

Como sempre a solução para todos os problemas é apenas e tão somente uma questão de estabelecimento de políticas públicas que priorizem aquilo que se pretende fazer, no caso em questão, a sustentabilidade. Nesse sentido, a boa notícia é que temos uma eleição aí na frente, na qual vamos escolher os novos dirigentes políticos e administrativos do país e dos estados brasileiros. Temos que pensar bem e escolher as melhores propostas, aquelas que envolvam as ideias de sustentabilidade. Mas, é fundamental que essas ideias integrem a educação dentro do contexto, porque da mesma forma que não existe mágica na natureza, também não existe mágica no comportamento humano. Assim, só é possível realizar direito aquilo que se aprende direito e a educação é a única base que pode garantir que os ensinamentos sobre a questão sejam ministrados de maneira eficiente.

As escolas são os agentes sociais efetivos para educar as populações também nesse sentido. Desta maneira, as idéias de sustentabilidade têm que passar a integrar diretamente os currículos escolares em todos os níveis e as escolas devem estar prontas para atuar nessa nova necessidade o mais rápido possível. O tempo urge e não podemos nos dar ao luxo de continuar imaginando que Deus vai dar um jeito naquilo que é atributo exclusivo e obrigatório da ação humana. Nesse contexto, a nossa responsabilidade tem que ser posta à prova e devemos ser capazes de resolver os problemas que são cruciais para a continuidade de nossa existência planetária.

Por fim, quero deixar claro que, com relação à sustentabilidade em si, aqui também, como acontece em outras áreas, o improviso e o empirismo têm se mostrado como maus exemplos. Sendo assim, insisto em que há necessidade de formar e habilitar pessoas nessa questão dentro das escolas. Por outro lado, para que se consiga atingir esse intento, é preciso que dentro dos postos de governança sejam colocados administradores preocupados e imbuídos em melhorar a qualidade de vida das pessoas social e economicamente. Porém, esses administradores, para atuarem efetivamente nesse sentido, têm que ser cônscios das responsabilidades com a manutenção ambiental do planeta e com o uso devido dos recursos naturais, porque é somente a partir dessa base ecologicamente correta que se garantirá a sustentabilidade do planeta e a continuidade da humanidade.

O planeta sustentável que todos queremos e merecemos passa pela nossa educação e esta, por sua vez, passa por nossas escolhas políticas. Está na hora de pararmos de “brincar de fazer de contas” sobre a sustentabilidade e assumirmos uma postura objetiva que possa propiciar um desenvolvimento sustentável dos diferentes grupos sociais nas diferentes regiões de nosso país. O compromisso com o Meio Ambiente e com os problemas ambientais têm que ser a preocupação primária de qualquer administrador público e a educação deve ser o esteio que dará a devida condição para o entendimento e o envolvimento das pessoas na resolução desse, que é certamente um dos maiores problemas de nosso país e do mundo na atualidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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18 fev 2015

Biodiversidade Brasileira: uma ilustre desconhecida da população

Resumo: Desta vez está sendo apresentado um texto recente que acabo de escrever, no qual procuro chamara atenção para uma questão cada mais esquecida e que precisa estar presente no pensamento coletivo do povo brasileiro. Trata-se da Biodiversidade do Brasil, a maior da Terra, e lamentavelmente esquecida pelas autoridades e em consequência disso, quase totalmente desconhecida da população brasileira. É preciso que se estabeleçam mecanismos que permitam informar melhor sobre essa questão e a grande mídia precisa se fazer presente nesse momento, para colocar os brasileiros cientes daquilo que possuem de mais relevante que a Biodiversidade existente no território nacional.


 

Biodiversidade Brasileira: uma ilustre desconhecida da população

Aqui no Brasil, lamentavelmente, as pessoas que militam profissionalmente nas áreas relacionadas com a biodiversidade parecem ser as únicas que são capazes de saber sobre a importância desse aspecto para o país. Não só porque as demais pessoas não sabem que o Brasil possui a maior biodiversidade do planeta, mas principalmente, porque mesmo aquelas que conhecem esse insigne fato, não compreendem o que isso pode representar. Aliás, mesmo os administradores públicos e os políticos do país, salvo raríssimas exceções, também não fazem a mínima ideia do venha a ser biodiversidade e nem a responsabilidade que o Brasil deveria ter em relação a esse aspecto, haja vista que cerca de 20% das espécies vivas do planeta estão aqui localizadas.

Quer dizer, as pessoas não são culpadas por não darem importância àquilo que elas se quer imaginam que possa existir e ser importante. Por isso mesmo, a maioria dos cidadãos brasileiros não está nem aí para a preservação dos Grandes Biomas ou dos inúmeros Ecossistemas degradados por conta da ação antrópica indevida e inescrupulosa. A visão geral da população infelizmente ainda é a seguinte: se a riqueza em alguma parte do Brasil vamos busca-la e transformá-la o mais rapidamente em dinheiro.

Pois então, foi essa visão que dizimou as populações do Jacarandá da Bahia, do Pinheiro do Paraná, do Palmito Juçara do Sudeste e que levou à míngua e quase extinguiu inúmeras espécies de animais utilizadas na alimentação ou temidas por conta de crendices absurdas como algumas espécies de aranhas, cobras, sapos e outros infelizes animais. O uso e a degradação das populações dessas espécies de organismos vivos foi feito sem nenhum critério, apenas para satisfazer o interesse de alguns seres humanos.

Vejam bem que eu só falei de organismos grandes facilmente visíveis e identificáveis. Entretanto, quem é capaz de dizer quantas espécies de pequenos organismos que já desapareceram, sem que a Ciência pudesse conhece-los, porque muitos deles, se quer foram vistos alguma vez por qualquer pessoa. É bom lembrar que a grande maioria dos organismos vivos é pequena e pouco conspícua. Pois então, por essas e outras é que a biodiversidade brasileira é desconhecida e naufraga cada vez mais por conta dessa falta de conhecimento que as pessoas têm a seu respeito.

Ao contrário do que se poderia pensar, essa situação está longe de melhorar e só tem piorado, porque os mais jovens (talvez não por culpa deles, mas por conta da situação imperante), acabam sendo os menos interessados em conhecer o patrimônio natural brasileiro, o qual é progressivamente sempre menos conhecido, tanto pela raridade maior dos diferentes indivíduos, quanto pela falta cada vez maior de informação sobre eles. Em suma, se observa menos, se conhece menos, se estuda menos, se identifica menos e por fim se importa cada vez menos com a realidade natural brasileira.

A biodiversidade do Brasil, que deveria ser enfatizada como a maior riqueza que o país possui, acaba sendo mais um apêndice burocrático aos entraves dos interesses econômicos de empresas que se utilizam de recursos naturais, mormente empresas mineradoras e agrícolas. As mineradoras na retiradas constante de recursos naturais não renováveis e na degradação ambiental desenfreada e as agrícolas na degradação de terras para aumentar as monoculturas, envenenado solos e plantando essências geneticamente modificadas, que além de ocuparem o espaço, são protegidas quimicamente para ficar livres de “pragas” (os outros organismos que poderiam habitar também a área).

Por outro lado, a legislação brasileira tem no SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), uma lei (Lei 9985/2000) que tenta cumprir o previsto no Artigo 225 da Constituição Federal (1988) e ampliar as áreas de preservação, a fim de garantir a manutenção da biodiversidade do país. É bom lembrar que segundo a própria Constituição Federal, preservar áreas significativas dos diferentes biomas brasileiros é uma obrigação do governo e de todos os cidadãos desse país. Entretanto, esse mesmo governo atua na contra mão da constituição, quando deixa de assinar o acordo internacional da biodiversidade, como aconteceu no ano passado, e a população em geral nem ficou sabendo desse fato, porque infelizmente a “grande mídia”, aqui no Brasil, não divulga aquilo que o governo não quer que seja divulgado. Assim, a população segue sem saber o que acontece e o governo continua fazendo o que não deve nessa questão.

É preciso que se estabeleça rapidamente alguma maneira de informar a população do país sobre o verdadeiro significado e a grande responsabilidade que o Brasil tem, sendo o país de maior biodiversidade planetária, a fim de que seja possível exigir que o governo brasileiro cumpra os compromissos estabelecidos e respeite a legislação, principalmente não permitindo a utilização de áreas de preservação permanente para interesses de segmentos sociais específicos, mormente os ruralistas e os grandes mineradores.

Além disso, também é necessário que se divulgue o que já foi destruído da Biodiversidade brasileira e o quanto ainda existe desse patrimônio natural. Infelizmente, quando se fala de biodiversidade, a maioria das pessoas só relaciona o termo com a Amazônia, que é apenas parte do problema. Essa grande falação sobre o desmatamento da Amazônia, além de não resolver nada, porque até aqui o desmatamento só aumentou, também só tem servido para esconder o que está acontecendo nos outros biomas do país. A Mata Atlântica, quase desapareceu, o Cerrado está à míngua, a Caatinga praticamente inexiste, a Vegetação Litorânea (Manguezal e Restinga) sumiu com a especulação imobiliária no litoral brasileiro, o Pantanal está virando um grande areal. Enfim, a situação dos grandes Biomas brasileiros é muito grave na maior parte de suas respectivas áreas.

Mas, o pior de tudo é o que acontece com os microrganismos e com a fauna que habitam os diferentes biomas brasileiros, haja vista que esses tipos de organismos são os mais dependentes dos ambientes naturais e onde se degrada o ambiente natural eles tendem a desaparecer. Assim, a lista de espécies animais ameaçadas de extinção também só tem aumentado. A degradação da biodiversidade que se observa no macro nível, obviamente é significativamente maior no micro nível e produz um grande empobrecimento na biodiversidade das espécies que ocupam os diferentes biomas, principalmente das espécies de microrganismos do solo e de animais invertebrados, que constituem a grande maioria das espécies vivas.

A falta dos microrganismos torna solos pobres e incapazes de reter água e nutrientes. A falta dos pequenos animais invertebrados também empobrece solos e inclusive inviabiliza a polinização de algumas plantas, o que também atua no impedimento da regeneração natural dos próprios biomas. Quer dizer, a degradação ambiental também prejudica sensivelmente a possibilidade da própria recuperação dos ecossistemas naturais.

Enfim, é fundamental que se divulgue a biodiversidade brasileira aos habitantes do Brasil para que seja possível entender que essa é a maior riqueza do país e que o exercício de cidadania se faz necessário na defesa desse patrimônio brasileiro. O povo brasileiro precisa saber mais sobre os recursos naturais que o Brasil possui e precisa estar ciente de que proteger esses recursos é uma obrigação comum a todos os brasileiros.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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12 fev 2015

O Encontro Imprevisível e Inesperado de Darwin com Eva

Resumo: Desta vez está sendo apresentado um texto que escrevi em 2006 e que já foi publicado e até mesmo apresentado em forma de peça teatral inúmeras vezes, mas que ainda é inédito aqui nesse site. O texto é uma utopia, que mesmo abordando uma impossibilidade física, tenta trazer para a discussão dois temas interessantes e bastante atuais da Biologia: a Evolução e a Degradação Ambiental. A composição literária consiste num misto de poesia e prosa que se desenvolve numa discussão entre Eva e Darwin, na qual a evolução, a manutenção e a continuidade da vida são tratadas pelos dois lados, destacando a aparente ingenuidade de Eva e a forte preocupação de Darwin com as ações do homem sobre o Planeta Terra.


O Encontro Imprevisível e Inesperado de Darwin com Eva

Após muito vagar no evo e no pensamento pelos diferentes locais do nosso planeta à busca de entendimento de suas dúvidas, de esclarecimento para suas angústias e de resolução para seus problemas interiores e individuais, os espíritos de Eva e Charles Darwin se encontram em algum lugar perdido na imensidão da Terra.

Eva, aquela que segundo a Bíblia foi a primeira mulher, criada por Deus a partir de uma costela do primeiro homem, seu marido Adão, feito à imagem e semelhança do próprio Deus e Charles Darwin, defensor do Evolucionismo e autor da principal Teoria da Evolução das Espécies, que se opõe frontalmente ao Fixismo (Criacionismo) contido nas ideias bíblicas. Então meus amigos, imaginem comigo e viagem nesse encontro fortuito.

Pensem em Eva procurando compreender o que está acontecendo com a Terra, preocupada com a situação caótica, confusa e desarmônica entre os povos e também com a fisionomia degradada, descaracterizada e desagradável de ser vista, naquele planeta que já foi definido pelo próprio Deus, como sendo o Paraíso e que foi dado ao homem pela benevolência divina. Onde estaria Deus e a previdência divina neste momento terrível que o planeta atravessa? Teria Deus nos abandonado?

Pensem em Darwin, por sua vez, tentando demonstrar que o paraíso terrestre continua existindo, embora numa concepção diferente daquela indicada na Bíblia e por isso mesmo, com uma fisionomia muito distinta, em consequência das modificações ocorridas ao longo do tempo, graças ao processo evolutivo e que foram aceleradas, mais recentemente, por conta da ação muitas vezes maléfica do homem. O homem, criado a imagem e semelhança de Deus, veio destruir a criação divina? A Evolução das espécies é um mau para a vida e para o planeta?

Este encontro, embora seja uma incongruência biológica, filosófica, física e religiosa. Isto é, um absurdo que só é possível de ser concebido à luz da metafísica, se fosse verdadeiro, imagino que deveria ter transcorrido mais ou menos da seguinte maneira:

 

Eva: Olá Charles, tudo bem?

Charles: Tudo bem Eva e você como está?

Eva: Eu não estou nada bem e por isso mesmo resolvi fazer uma viagem. Meu amigo Charles, eu vou viajar.

Charles: Viajar é bom Eva, aproveite a coincidência do seu nome e vá.

Eva: E você Charles, não quer ir também?

Charles: Para onde você está pretendendo ir Eva?

Eva: Vou embora da Terra, eu vou partir para Marte.

Charles: Embora viajar seja bom, sair da Terra não vale a pena Eva. Vá sozinha, porque essa viagem eu não faço. Eva, não vai dar mesmo. Nasci e cresci na Terra e aqui eu quero ficar. A Terra é minha casa e não quero sair e nem trocar. Deus disse para você e para Adão que o paraíso é aqui. Deus tem sempre razão e por isso mesmo eu só viajo se for daqui para aqui.

Eva: Mas Charles conhecer outros lugares não é interessante? E, por outro lado, estão falando tanto de Marte.

Charles: Eva, primeiro vamos pensar e discutir um pouco, antes de você decidir sobre fazer a sua viagem. Quem sabe, depois disso você até não muda de ideia e de imagem. De qualquer forma, eu vou ficar por aqui mesmo, no nosso planeta azul. Posso até conhecer outras paragens, quem sabe ir para o Norte ou para o Sul, mas é aqui que quero ficar. Vou tentar ver se sou capaz de evoluir um pouco mais nesse planeta.

Eva: Mas, há Evolução na Terra, Charles?

Charles: É claro que há Evolução Eva. Existe uma bela e expressiva Evolução Biológica onde as espécies são e se dão evolutivamente numa teia. A intrincada teia da vida que cresce, diverge e multiplica em todas as direções.

Eva: Adão tinha me comentado alguma sobre isso Charles. E em meus pensamentos, Evo também me falou, mas não acreditei. Aliás, na verdade eu não entendi?

Charles: Mas você ainda pode e deve entender um pouco mais.

Eva: E você Charles, de Evolução você entende, não é?

Charles: Não sei se entendo, mas eu sinto a necessidade biológica de sua existência, por isso mesmo é que estou dizendo e pedindo: Eva não vá viajar para Marte, porque lá não existe vida, apenas a plenitude apática e o silêncio do Evo se mantém. Marte é sempre igual e lá não há nada e nem ninguém. Lá em Marte, ao contrário da Terra, lá em Marte só há morte. Morte, de Leste a Oeste. Morte, tanto no Sul quanto no Norte. Marte é o planeta vermelho, o planeta cor de sangue. O sangue que corre no corpo do homem e de muitos animais durante a vida, Sempre indo e vindo, parelho como se fosse um espelho, mas que estanca na morte, como um circuito que sofre um corte. Eva, Marte é o Deus da guerra e hoje em seu planeta não há nada.

Eva: Mas Charles, aqui na Terra também tem guerra.

Charles: Lamentavelmente, eu sei Eva, mas não devia e nem queria. Aqui na Terra, há, como eu, quem saiba que a guerra erra, pois com ela, toda a humanidade berra e a sociedade emperra. E isso, não adianta porque a boca cerra e como nada acontece e toda ação em prol da vida se encerra. Assim, nada se faz contra a guerra que parece eterna. Eva existe um Evo de guerras subsequentes que destrói a Terra e a gente. Eva, além da guerra, qual a outra marca de Marte? Lá em Marte o solo é rochoso, compactado e seco. Parece que em Marte não tem água. Há quem diga que já teve ou que tem, mas ainda assim é muito seco. Eva, aqui na Terra ainda tem muita água.

Eva: Ah! A água. Coisa boa que é a água, não é verdade Charles?

Charles: Muito boa Eva, talvez a melhor de todas as coisas do Universo. Porém o planeta aqui é a Terra. Ele tem água e vive em guerra. Lá o Planeta é Marte, não há água, nem guerra, mas o solo arde. Pois é Eva, Marte é ou foi o planeta de Tanatus, o Deus da morte!

Eva: Charles, como Marte ficou assim?

Charles: Não sei Eva, mas foi a Evolução ou então foi a “vontade” de Deus.

Eva: Charles, então a Evolução leva ao fim da vida.

Charles: Não Eva, a Evolução é o fim em si mesmo. Ela busca a melhora constante das espécies no planeta, porém, se ocorrerem coisas erradas, ela pode acarretar na extinção das espécies e no fim da vida. Eva, a Evolução é uma dádiva de Deus em prol a melhoria constante da vida no planeta.

Eva: Charles, Deus é bom, não é?

Charles: É Claro Eva, Deus é a própria bondade.

Eva: Então, que Deus é esse que você diz, que teria a “vontade” de destruir as espécies como aconteceu em Marte, meu caro Charles? Esse Deus é o meu ou o seu Deus Charles?

Charles: Eva, Deus é um apenas e sendo bondoso, não tem vontade de destruir nada. Deus é aquele que tudo sabe, aquele que tudo vê, e que acompanha o homem em suas ações. A vontade de Deus é consequência do livre arbítrio e das ações do homem no planeta. Podes crer Eva, agora mesmo Ele está nos vendo e observando a nossa conversa.

Eva: Vê nos como, Charles?

Charles: Ele está lá em cima, no alto, sempre perto da Lua, nos observando.

Eva: O planeta Vênus está perto da Lua, então Vênus é Deus Charles?

Charles: Acho que não Eva, mas em certo sentido sim, já que Deus é tudo. Entretanto Eva, lá de cima, Vênus também tudo vê. Eva, Vênus é uma estrela branca e alva, a famosa Estrela Dalva, sempre brilhante e vigilante que não sai de perto da Lua, nem por um instante. Às vezes não o vemos, mas ele está sempre lá. E, como Deus, ele sempre nos vê.

Eva: Charles e a Lua, a Lua é sua Charles?

Charles: Não Eva, a Lua é o satélite da Terra. Mas, existem inúmeras outras Luas. Marte, por exemplo, tem duas Luas. E o grande planeta Júpiter, tem várias Luas no entorno de sua esfera.

Eva: Então Júpiter é melhor que a Terra Charles?

Charles: Penso que não Eva, porém não sei, mas até gostaria de saber. Mas, deixemos Júpiter de lado e voltemos à Terra e à vida Eva.

Eva: Que vida Charles? Aquela que só a Terra teve e que hoje se vê na TV? Ou aquela que se quer ter, mas que a própria TV indiretamente não deixa?

Charles: Aquela vida fabulosa, diversa, efervescente e brilhante Eva. Aquela diversidade de formas e espécies que só existe na Terra.

Eva: Brilhante que nem Vênus, grande e diversa como Júpiter e suas luas Charles?

Charles: Não, mais brilhante do que Vênus, maior e mais diverso que Júpiter Eva.

Eva: Então, que vida Charles? A vida fabulosa dos Deuses da Mitologia?

Charles: Não Eva, muito melhor ainda. A vida alegre da gueixa. Aquela que tudo deixa, apenas para dar prazer ao homem. A vida feliz e sem perigo, do planeta e do homem amigo. Sem tristeza e sem castigo, da mulher e do marido. A vida que Deus nos deu por conta de seu Evo de bondade. A vida do animal, que mesmo vivendo do vegetal, controla a sua ganância e seu apetite para garantir sua continuidade.

Eva: Que tipo de vida é essa que você fala Charles?

Charles: A vida que evoluiu na Terra Eva, apesar da motosserra, que hoje tudo pode e tudo ferra e que destrói a própria Terra. A vida que surgiu e evoluiu na água e que apesar de toda mágoa ainda cresceu e multiplicou.

Eva, A vida que Deus mandou e que a natureza herdou. A vida que virou morte. A vida de toda sorte, cujo azar tirou do Norte, e que eu mostrei que é forte e que a natureza selecionou, mas que agora, por pouco, quase acabou.

Eva: Então, não tem mais jeito Charles?

Charles: Não Eva, sempre há um jeito, basta sonhar e querer.

Eva: Então Charles, menos mal para nós!

Charles: Não Eva, porque o mal somos nós e o bem depende do mal. Eva, o bem, tal qual o mal, também somos nós. Eva, só nós podemos dar jeito. Um jeito que, com efeito, urge para ser feito, antes que se chegue ao leito.

Eva: Que leito Charles, o leito do Rio?

Charles: Não Eva, esse é outro que sofre, mas não é dele que falo. Refiro-me ao leito da morte Eva.

Eva: Assim como lá em Marte Charles?

Charles: Isso Eva, em Marte há morte. Aqui na Terra também tem havido morte. É morte de toda sorte, em todos os cantos de nosso Universo. O Universo da Terra é aquele que já foi diverso, mas que está ao inverso e que, se visto pelo anverso, não produz mais nenhum verso.

Eva: Por falar em verso, qual a poesia da vida Charles?

Charles: Eva, a vida é a própria poesia.

A vida dança, canta e rima, pula de cima para baixo, salpica de baixo para cima e explode por causa do clima.

Eva: Clima, o que é clima Charles?

Charles: Eva, o clima é o pai da vida na Terra.

Eva: Então o clima é Deus, Charles?

Charles: Claro que não Eva, mas é quase isso, pois o clima é tudo para a vida na Terra. Mas Eva, o triste é que estão mudando o clima.

Eva: Quem está mudando o clima Charles?

Charles: Nós Eva, o homem, o mal! Eva, está tudo virando sal, um sal do tipo da cal. Eva, o planeta Terra e a vida estão voltando ao caos.

Eva: Charles, o nosso planeta Terra está virando Marte?

Charles: Em certo sentido, é exatamente isso Eva.

Eva: Então a vida será morte, Charles?

Charles: Pois é, Eva, continuamos evoluindo, porém na direção errada. Hoje, estamos muito mais indo para a extinção do que qualquer outra coisa. Estamos nos dirigindo para o Evo da morte que nem em Marte. Por isso mesmo Eva, eu lhe peço: Não vá para Marte. Fique aqui mesmo na Terra, viaje pelo nosso planeta e veja como ainda é belo e diverso. Eva, ainda há muito o que ver aqui na Terra. Não deixe que a Terra vire Marte. Ajude a conservar a vida que nosso planeta encerra. Voltemos a evoluir na rota certa e por inteiro, esqueçamos o conforto e o dinheiro e recuperemos o planeta primeiro. Comecemos acabando com a guerra. Restabeleçamos o clima do planeta e continuemos e viver na Terra. Eva acredite, que isso será possível! Basta apenas que o bem ganhe do mal, que o planeta não vire sal e que o homem, como Deus, queira de fato ser imortal. Eva, isso vai ser muito legal, o homem, o vegetal e o animal. Todos num planeta natural, real e igual. Eva imagine só, que maravilha: No futuro próximo, quem sabe na próxima estação, você e Adão, eu e a Evolução e a Terra numa perfeição. E lá do alto, Deus acenando positivamente com a mão.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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05 fev 2015

Em Tempo de Crise a União é a Melhor Solução

Resumo: Há um ditado antigo que diz o seguinte: “devemos aprender com os erros”. Nesse pequeno artigo, a partir da atual crise da água, estou exatamente tentando chamar a atenção para o fato de que esse ditado, ao menos na área do meio ambiente, parece não verdadeiro, porque até aqui ainda não demonstramos ter aprendido nada e continuamos fazendo as mesmas coisas erradas e observando essas coisas acontecerem como se nós não tivéssemos nada a ver com elas. Convido a todos para começar uma mudança de postura, haja vista que o fim prematuro de nossa espécie será inevitável se continuarmos parados como até aqui.


Em Tempo de Crise a União é a Melhor Solução

 

Ao longo de minha vida tenho tido muitas experiências, algumas boas, outras ruins e outras mais ou menos. Bem, isso é uma verdade absoluta que acontece com todo indivíduo nesse mundo e quanto mais se vive, mais se aprende porque mais experiências se efetivam com a idade de cada ser humano. Entretanto, atualmente estamos passando por algumas situações que tendem a contradizer diametralmente esse aspecto. O mundo vive uma crise ambiental sem precedentes e aparentemente ninguém está nem aí com esse fato. Os problemas se multiplicam, as dificuldades aumentam, as catástrofes se sobrepõem e os governos ficam marcando encontros para definir datas para marcar novos encontros e nada se faz na tentativa de resolver qualquer questão. Na verdade, parece que, nessa área as experiências não se efetivam, pois ninguém aprende nada.

Nos últimos 30 anos muito se discutiu sobre as questões ambientais planetárias. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram estabelecidos, discutidos, definidos, ampliados e divulgados, mas até aqui (2015) nada de concreto aconteceu em prol de melhorias ao ambiente global e à qualidade de vida no planeta. O Clima, a Pobreza, a Biodiversidade, a Sustentabilidade e a Poluição embora sejam palavras vivas e presentes em todos os idiomas, parecem ser ideias e conceitos quase mortos, porque, de fato, não se tem trabalhado na direção de atender as necessidades que derivam dessas e de outras questões ambientais mais específicas. Continua faltando educação, conhecimento e seriedade no tratamento do planeta e dos recursos naturais.

Na maioria dos países do mundo, as preocupações fora do universo estritamente econômico praticamente não existem, pois tudo é visto como moeda e cifrão. O ter superou o ser de tal maneira que: “a coisa que eu tenho é mais importante do que a coisa que eu sou”. Em contra partida, as catástrofes ambientais planetárias são cada vez maiores e piores. Porém, estão virando acontecimentos tão corriqueiros, que nem abalam mais as pessoas, a não ser aquelas diretamente atingidas, e acabam sendo apresentadas diariamente como situações absolutamente normais nos diversos noticiários. Estamos nos acostumando as cenas terríveis de tsunamis, de terremotos, de furacões, de grandes queimadas, de destruições ambientais coletivas e até mesmo de criminalidade, atentados contra vidas humanas e práticas de corrupção generalizada em todos os lugares. O que importa é ganhar alguma coisa economicamente, independentemente de quem perca. Como eu já disse, isso tudo está parecendo ser normal e comum, mas não deveria ser assim.

Ultimamente nossos aprendizados  em consequência de nossas experiências ambientais não existem ou têm  sido muito pouco aproveitados e nós inexplicavelmente não temos nos dado conta desse fato, porque estamos nos acostumando com as coisas erradas. Ou melhor, os seres humanos de todo o planeta estão se habituando de maneira tal aos eventos incomuns, que estão passando progressivamente a identificar esses eventos como situações cotidianas vulgares. Isto é, nós estamos iludidos com o dinheiro e com o consumo e por conta disso estamos vulgarizando os megaeventos naturais como se fossem questões diminutas e sem nenhuma importância à manutenção de nossa espécie. A prática imperante é a seguinte: “o que não acontece comigo não é problema meu e segue o barco”.

Aqui no Brasil, essa terrível situação parece ser mais grave ainda, por conta da sensação terrível de incapacidade daqueles que estão preocupados e da total impunidade dos responsáveis pelos acontecimentos. Dentre os vários absurdos, o Brasil, que é o país que tem a maior reserva natural de água em estado líquido do planeta, está vivendo a mais grave crise hídrica de toda a história nacional. O pior é que, como já estamos acostumados com as notícias ruins, ainda não nos atentamos para o fato de que uma crise hídrica é na verdade uma crise geral, porque a água se aplica em tudo e a tudo que fazemos. Falta de água é falta de energia, falta de alimento, falta de asseio e limpeza, falta de lazer. Falta de água traz consigo carência na indústria, carência na agricultura, carência na pecuária, carência no turismo, carência no comércio, carência nos serviços em geral e principalmente carência nos empregos. Enfim, a falta de água é um caos, porque produz uma carência total.

Vejam bem, só aqui no Sudeste do Brasil, nós somos mais de 85 milhões de seres humanos (mais de 40% da população brasileira). Dos quatro estados da região, três deles são os estados mais ricos e mais populosos de todo o país e simplesmente nós não temos água. Porém, o mais grave é que as pessoas e particularmente os governantes em todos os níveis, continuam vivendo como se isso não fosse algo importante, a vida segue igual e normalmente. Continuamos caminhando no mesmo passo, sem pensar em mudar absolutamente nada. Quando muito, aparece alguém falando em racionar aquilo que já não se tem ou culpando os céus pela falta de água.

Isto quer dizer que desistimos de lutar pela vida e pela sobrevivência como as demais espécies planetárias e que nossas experiências ruins não são mais motivadoras de mudanças. Estamos fadados a deixar as coisas acontecerem por si sós e não fazemos nada para impedir ou minimizar os danos. É como se existíssimos apenas por existir e aguardamos estática e drasticamente o “juízo final”, aproveitando o tempo livre e a falta de água e de energia, para assistir à novela, ou ao BBB, ou para “achar” uma bala perdida, ou ouvir aquela “notícia nova e diferente” sobre mais um caso de corrupção, ou ainda para reclamar do fato de que algum marginal brasileiro tenha sido morto em outro país porque burlou as leis lá existentes.

Aliás, para muita gente aqui no Brasil, esse tal de Indonésia é uma “coisa muito chata e absurda”. Caramba! Como pode existir um país onde as leis existem e são cumpridas e onde a pena para traficante de drogas é o fuzilamento? Que violência! Mas, eu penso exatamente ao contrário e ainda bem que nem todo país é igual ao Brasil, onde os bandidos mandam e desmandam. Mas, vamos voltar ao nosso assunto.

Para mim, que já estou mais perto do final da vida e que já vi muita coisa, isso é deprimente e apesar de minha idade, ainda me incomoda muito esse marasmo nacional, esse desgoverno, esse desmando generalizado e principalmente essa alienação, quando vejo que a maioria dos jovens brasileiros segue o mesmo padrão da coletividade e não está nem aí com os acontecimentos. É bom lembrar que: “pior que um velho inoperante, somente um jovem alienado”. Como e quando o povo brasileiro vai ser uma nação de fato? Quando os jovens serão novamente os motivadores das mudanças necessárias?

Estou preocupado, pois o planeta vai mal e o Brasil vai pior. O planeta ainda tem alguns países que podemos considerar que sejam “pequenas ilhas de felicidade”, mas certamente o Brasil não é um deles e continuará não sendo com esse governo repleto de safados e picaretas que aí está, cujo único objetivo é continuar roubando e mentindo ao povo. Meus amigos, precisamos acordar e demonstrar para esse pessoal que o governo somos nós. As questões educacionais e ambientais devem ser a porta de entrada principal para começarmos a resolver as questões pendentes nesse país e quem sabe ajudarmos o mundo a também reagir.

A crise estampada aqui no Brasil é a crise hídrica, mas estamos passando mundialmente por crises de moralidade, de responsabilidade e principalmente de respeito ao planeta e aos organismos nele vivente, inclusive dos próprios seres humanos, que parecem estar divididos em grupos sociológicos totalmente distintos, como se fossem espécies diferentes e contrárias, onde os interesses individuais são sempre maiores que os coletivos e os planetários. Nosso egoísmo está nos levando a um caminho sem volta, que é a extinção da espécie humana.

Todos os grandes problemas mundiais hoje, podem ser reduzidos a dois temas específicos: Educação e Meio Ambiente. Esses dois aspectos terão que ser as prioridades planetárias, pois todos os outros problemas decorrem desses. No caso específico brasileiro, poderíamos estar preocupados com qualquer outro tipo de problema ambiental, mas nunca com a água, se fôssemos efetivamente educados sobre a sua importância efetiva, sobre a responsabilidade que deveríamos ter em relação a água e se soubéssemos dos riscos oriundos de seu uso indevido. Porém, a nossa falta de educação, o nosso desleixo e descaso com esse recurso natural, que é o mais importante de todos, nos levou a situação atual.

Acorda ser humano, acorda mundo e principalmente acorda povo brasileiro. Temos que voltar a aprender com as experiências e não nos acostumarmos com as situações ruins. É preciso sentir e viver como organismos vivos que somos e lembrarmos que nossa espécie, ainda que mais inteligente, é também a mais dependente de todas que habitam esse planeta. Temos que ter em mente que só continuaremos nossa jornada no tempo, aqui na Terra ou em qualquer outro espaço que possamos encontrar, se trabalharmos e agirmos no interesse maior da coletividade.

Nossa existência só depende de nós mesmos e da existência de algumas condições mínimas planetárias que podemos cuidar e manter, muitas das quais nós infelizmente já suplantamos e degradamos de maneira perigosa, mas penso que ainda podemos corrigir. Agora temos que dar um basta e aprender com os erros do uso indevido e exagerado dos recursos naturais. Temos rever nossas posições em relação ao planeta, aos organismos vivos e principalmente aos demais seres humanos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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22 jan 2015

Do ponto de vista ambiental, 2015 começou muito bem

Resumo: Voltando às atividades o Professor Luiz Eduardo começa o ano de 2015 cheio de esperança, trazendo aos leitores algumas novidades que sacudiram esse início de ano. A julgar pelos primeiros acontecimentos 2015 será um ano em que as questões ambientais preponderantes deverão ser tratadas com merecem e isso certamente implicará na melhoria da qualidade de vida dos humanos no planeta Terra. Leiam o artigo e as notícias alvissareiras que ele traz.


Depois de curtas e merecidas férias, eis que estamos aqui de volta, esperando que 2015 seja uma no maravilhoso para todos. A partir dessa semana, toda semana teremos um novo texto no site. Para começar o ano vou me ater a três notícias que foram trazidas à baila pela grande mídia na última semana, mas que não tiveram os devidos destaques que deveriam, porque a própria grande mídia não faz muita força em discutir um assunto, quando ele realmente interessa a todos.

Notícia 1 – O ano de 2014 foi mais quente da história.

A exemplo do que já havia acontecido em 2013, o ano de 2014 bateu novo recorde e continuou sendo o mais quente de todos os tempos e a julgar pelo mês de janeiro que estamos tendo agora, certamente 2015 irá superar 2014.

Mas, aí eu pergunto: onde está a novidade?

Qualquer pessoa de bom senso e minimamente ligada às questões ambientais já sabia que essa situação iria acontecer, porque vivemos em pleno aquecimento global e continuamos não fazendo nada para tentar amenizar o problema. Os grandes grupos econômicos e alguns países ainda insistem em não querer aceitar essa verdade e continuam a justificar o injustificável com argumentos torpes e mesquinhos, cujo fundamento é exclusivamente econômico. Mas as pressões são cada vez maiores e alguns governos estão começando a forçar barra para o controle de algumas coisas nessa área, com é o caso da China. Já é tempo desse pessoal entender, a exemplo do que disse o economista Paul Singer; “a economia é uma pequena parte da ecologia”.

Notícia 2 – Apenas 1% da população mais rica detém 50% de toda a riqueza do planeta.

Essa notícia chega a chocar de tão violenta, pois é inadmissível apenas 80 mil pessoas possa ter a mesma quantidade total de riqueza que 3,1 bilhões de pessoas. A pobreza planetária é muito grande e só tem aumentado. Cada vez mais o hiato entre ricos e pobres é maior e desse jeito não será possível resolver nada. Do ponto de vista ambiental, social e econômico, isto é, dentro dos preceitos da sustentabilidade é impossível manter a vida humana dentro desse status quo. Assim, ou dividimos as riquezas de maneira melhor ou nossa espécie estará fada a se extinguir pereceremos.

Mas, aí eu pergunto mais uma vez: onde está a novidade?

E mais uma vez a resposta é a mesma, isto é, qualquer pessoa de bom senso e minimamente ligada às questões ambientais já sabe disso, porque está claro que precisamos dividir melhor as riquezas entre as diferentes nações e progressivamente acabar com a pobreza no mundo. Porém, os países e as pessoas ricas não parecem estar muito interessados nisso e assim os pobres vão sobrevivendo como puderem, onde puderem e até quando puderem. Os ricos precisam saber que eles só existem porque os pobres ainda existem e que se todos os pobres forem esmagados economicamente, certamente os ricos também não terão como continuar vivendo. O único consolo é que eles viverão um pouco mais tempo, mas seu fim também chagará. O Presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, está iniciando um trabalho interno naquele país, visando aumentar impostos dos indivíduos mais ricos para auxiliar no estabelecimento de medidas que favoreçam economicamente os indivíduos mais pobres.

Notícia 3 – O Papa disse que a Humanidade precisa parar de reproduzir igual aos coelhos.

Essa talvez tenha sido a mais importante notícia desse início de ano, porque finalmente, a maior autoridade da igreja Católica, o Papa Francisco, resolveu sair da toca e, mesmo sem contrariar os preceitos estabelecidos pelo catolicismo, sugeriu que a reprodução precisa ser responsável e que talvez fosse interessante não gerar muitos filhos.

Ora, estamos no meio de uma grande conturbação em consequência dos acontecimentos ocorridos na revista francesa Charlie Hebdo e da manifestação lamentável assumida pelos muçulmanos mais radicais. Não vou aqui discutir quem está certo ou quem está errado, mas acho que matar os autores das charges não resolve a questão, ao contrário, só trará mais problemas e mais charges. Entretanto, em meio a tudo isso, o Papa, resolve apresentar um argumento, ainda que tímido, em favor do controle da natalidade, o que também é uma afronta as essências das ideias, tanto católicas quanto muçulmanas.

Mas, aí eu pergunto mais uma vez: onde está a novidade?

E mais uma vez a resposta é a mesma, isto é, qualquer pessoa de bom senso e minimamente ligada às questões ambientais já sabe disso, simplesmente porque não há recursos e nem espaço para todos. É preciso estabelecer critérios de ocupação planetária e de tamanho mínimo populacional, porque senão os recursos se findarão e aí não haverá como nossa espécie e muito menos as nossa religiões sobreviverem.

O Papa, toda a igreja católica e todas as religiões do mundo já sabem disso. Todos têm certeza de que não dá para a população humana continuar crescendo loucamente como aconteceu até aqui e que a violência, em certo sentido, é consequência direta desse crescimento populacional absurdo e aproveitou o momento de crise e de violência para sugerir uma maneira de pensar melhor sobre a aleatoriedade da reprodução humana nos diferentes credos religiosos, mormente nos dois maiores segmentos religiosos, os católicos e os muçulmanos. Na minha opinião o recado do papa foi o seguinte: “quanto mais reproduzimos mais ampliamos as nossa diferenças e radicalizamos os nossos pensamentos em relação aos diferentes e isso não é bom para nenhum de nosso segmentos”.

O estabelecimento de critérios populacionais também seria interessante para amenizar outros problemas de ordem ambiental e principalmente de ordem social. Além de diminuir as pressões econômicas sobre os recursos. Ou seja, o Papa Francisco está dando aulas de sustentabilidade ao tentar lembrar aos seguidores do catolicismo que o homem não é um coelho que reproduz por mero instinto, mas sim que precisamos ter consciência do que representa cada humano a mais no planeta Terra.

Pois então, meus amigos e leitores, creio que o ano de 2015 começou cheio de esperanças para todos os ambientalistas como eu. A China investindo mais em energia limpa. Os Estados Unidos pensando em taxar grandes fortunas. O Vaticano sugerindo reproduzir menos. Pelo que vimos nesse curto período, o ano está prometendo mudanças significativas e os grandes encontros internacionais na área ambiental, terão que se manifestar quanto a esses três assuntos e quem sabe as respostas, ainda que tardias não comecem a chegar, até porque nunca é tarde para começar e o planeta Terra e principalmente os mais de 7.2 bilhões de humanos, ricos e pobres, necessitam que algo seja feito.

Estou realmente acreditando que 2015 venha a ser um divisor de águas para o meio ambiente e espero particularmente que o encontro que já está acontecendo em Davos, na Suíça (World Economic Forum Annual Meeting 2015), onde se discute mais uma vez sobre a questão da pobreza no mundo, possa trazer posições extremamente importantes e positivas para as grandes questões ambientais planetárias. Tomara que eu tenha razão e que meus “feelings” se concretizem. Mas, só o fato do Papa pensar e falar em reproduzir com responsabilidade, já torna esse começo de ano muito especial para os ambientalistas e para as perspectivas planetárias futuras.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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25 dez 2014

Carta aos Leitores – 2014

Resumo: Carta aos leitores de agradecimento pelo apoio durante o ano de 2014.


Carta aos Leitores

Meus amigos nesse final de 2014 estou tendo a felicidade de superar as 250.000 (duzentos e cinquenta mil) leituras dos meus textos nos diferentes sítios (“sites”) em que tenho colocado textos na INTERNET. Na verdade, contando aproximadamente tudo já foram superadas as 275.000 leituras, mas muitas não existem registros precisos (conforme está apresentado na tabela abaixo).

No Recanto das Letras estou chegando a 198.000 (cento e noventa e oito mil) leituras, em 115 textos e 6 anos de postagem; no Portal da Educação estou chegando aos 14.000, em apenas 9 textos e 2 anos de postagem. Meu “site” particular (www.profluizeduardo.com.br) atingiu 6.300 visualizações e 2200 sessões, em menos de 6 meses no ar, já foram registradas leituras dos artigos de meu site em, pelo menos, 37 países e 233 cidades pelo mundo afora.

Nos demais “sites”, eu não tenho registro preciso dos números, mas tenho absoluta certeza que no Vejo São José, onde posto artigos desde 2002, tenho, pelo menos, 35.000 (trinta e cinco mil) leituras, em 54 textos ao longo desses anos. Os Senhores hão de convir comigo, que estas são realmente algumas marcas mais que significativas. Sou suspeito por falar de mim mesmo, mas penso que são marcas excelentes.

Obviamente estou muito contente com esses números, mas devo esse resultado expressivo aos meus amigos e leitores, os quais têm colaborado bastante comigo. Não tenho nenhuma dúvida de que, se não fosse o interesse pessoal de meus amigos e leitores pelos diferentes textos, esse sucesso não seria possível. Até porque, obviamente eu jamais pensei que seria capaz de atingir alguma dessas marcas tão significativas. É por isso que estou me dirigindo a vocês, para agradecer a colaboração que vocês têm me oferecido, tanto diretamente, através da leitura, quanto indiretamente, através da divulgação dos textos.

Muito obrigado a todos.

Mas, por favor, enquanto acharem que está valendo a pena, que os textos trazem alguma informação importante, continuem lendo e divulgando os textos. Aliás, aproveito o momento para dizer que é fundamental a crítica (tanto positiva, quanto negativa), por isso mesmo peço que me mandem comentários sobre os textos para que eu possa tentar aprimorar o meu trabalho.

Abraços a todos, Feliz Natal e um 2015 fabuloso e repleto de realizações.

Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

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22 dez 2014

TRÊS TROVAS SOBRE A PAZ

Resumo: Meus amigos, considerando a proximidade do Natal e da chegada de um Novo Ano, resolvi deixar aqui as minhas mensagens de PAZ, através de 3 Trovas que escrevi em 2002 e que até o momento, ainda não haviam sido publicadas. Espero que gostem e reflitam sobre o significado de cada uma delas.


TRÊS TROVAS SOBRE A PAZ

 

PAZ I

Povo que vive em paz,

Sabe muito bem viver.

Ensina tudo que faz,

Não tem tempo a perder.

PAZ II

A Paz para meu coração,

Depende d´eu ter vontade.

A paz no nosso coração,

Depende da amizade.

PAZ III

Pro mundo viver em paz

E com muita felicidade,

Só precisa muito amor,

Justiça e igualdade.

Feliz Natal e um 2015 com muita paz e repleto de realizações.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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13 dez 2014

O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra

Resumo: O Professor Luiz Eduardo recupera um artigo que escreveu faz algum tempo e nos leva a refletir sobre a questão do lixo que nós humanos produzimos e os malefícios que isso traz para o planeta e para nós mesmos. O artigo chama a atenção para o fato de que hoje existe muitas resoluções tecnológicas para a maioria dos problemas que causamos, mas parece, mais uma vez, faltar vontade política de resolver as pendências nessa área. A Política Nacional de Resíduos Sólidos que deveria ter entrado em vigência em agosto passado, ainda se encontra em discussões sobre sua impossibilidade de aplicação pela maioria dos municípios brasileiros e com isso nada se faz. Entretanto, é preciso que as faça alguma coisa e o texto está aí para lembrar que esse assunto não é novo, assim como a falta de vontade política de parte dos governantes desse país.


O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra

Todos os organismos vivos sem exceção, de uma forma ou de outra, se utilizam de recursos naturais para sobreviver e todos eles também produzem resíduos. Neste artigo vamos chamar generalizadamente os recursos naturais de “matéria prima” e os resíduos de “lixo”. Em geral, o lixo produzido por qualquer organismo vivo é de alguma maneira degradável e por conta dos mecanismos naturais acaba voltando ao sistema como fonte de matéria prima para novamente ser utilizado nos ciclos biogeoquímicos naturais e servir outra vez para os organismos vivos do ecossistema onde está sendo descartado. Assim, em condições naturais, como todo lixo é reaproveitado, não há acumulo do lixo produzido por praticamente nenhum organismo vivo, exceto o lixo produzido pelos organismos humanos.

Lamentavelmente, o caso humano é muito diferente. Somos uma espécie extremamente curiosa, inteligente, obreira e criadora, que tem a capacidade de modificar certos padrões naturais e mesmo de inventar novos padrões para satisfazer os nossos interesses imediatos. Por conta dessa nossa capacidade criadora cada vez maior, do nosso desenvolvimento científico e tecnológico progressivamente apurado, quimicamente nós somos capazes de criar artificialmente inúmeras substâncias novas e, o que é pior, o poder de resiliência do planeta Terra ainda não conseguiu recuperar e reaproveitar muitos dos ingredientes químicos encontrados nessas substâncias que nós temos fabricado.

Infelizmente, nós inventamos certos lixos que a natureza ainda não conhece e que, por isso mesmo, ela não sabe lidar com os mesmos e assim, geralmente não tem como degradá-los para serem reutilizados como matéria prima. Mesmo quando a natureza consegue produzir algum tipo de degradação, esta costuma ser muito demorada e não é possível o reaproveitamento daquele lixo como matéria prima ainda por bastante tempo. Desta maneira, nós humanos, minimizamos os recursos da natureza, tanto para nós, quanto para os demais organismos vivos, pois diminuímos potencialmente a ação naturalmente recicladora do planeta. Em suma, nós utilizamos (consumimos) os recursos naturais (matéria prima) e nem sempre devolvemos um resíduo (lixo) em condições de ser reaproveitado pelos ecossistemas naturais.

Parece incrível, mas o excesso de lixo é certamente o segundo maior problema que encontramos para a nossa continuidade como espécie viva no planeta Terra. O primeiro, obviamente, é o crescimento demográfico de nossa população, do qual decorrem todos os outros problemas, particularmente o aumento acentuado do lixo. Enquanto não controlarmos o nosso crescimento populacional, tudo sempre será muito mais difícil, em alguns casos será realmente impossível. Isso quer dizer que: o nosso segundo problema é a principal consequência do primeiro e se não resolvermos o primeiro, não teremos como resolver o segundo e também todos os outros que se sucedem.

Mas, a boa notícia é que hoje temos tecnologia para quase todos os males que cometemos. Seguramente 80 a 90% de todos os males causados pelo impacto humano sobre o planeta já têm possibilidade de serem solucionados. Isto quer dizer que a mesma tecnologia que nos trouxe os males, também já desenvolveu mecanismos capazes de minimizar ou mesmo extinguir esses males na grande maioria dos casos. Mas, então por que nós simplesmente não acabamos com os problemas e voltamos a viver em paz com o planeta e com as demais criaturas vivas?

Penso que a resposta para esta questão está relacionada com quatro aspectos: primeiro porque nós já ocupamos espaços demais da Terra com nossa grande população e com tudo que com ela se relaciona; segundo porque precisamos diminuir bastante as diferenças sociais criadas entre os homens ao longo do tempo; terceiro porque precisamos realmente assumir a importância vital dessa questão e querer resolver os problemas de fato e quarto porque necessitamos desenvolver ações de governança que invistam e promovam políticas públicas compatíveis com as reais necessidades das populações humanas, independentemente de custos econômicos. Temos que esquecer, coletivamente, algumas coisas que valorizamos muito, mas que não têm grande importância para a nossa vida e, por outro lado, temos que começar a nos envolver em novos valores que sejam de significado vital para nossa espécie. Esse ideário necessariamente passa por uma mudança de filosofia, que deverá produzir uma mudança de atitude e que finalmente promoverá a uma mudança de comportamento.

Embora isso, em tese, pareça ser relativamente simples, na prática essa questão é bastante complicada, até porque muitos dos governos não estão fazendo e nem têm a pretensão de fazer o dever de casa. Além disso, porque infelizmente a maioria das pessoas não está disposta a modificar os seus hábitos de pensar e consequentemente de agir. De um modo geral, ninguém está muito disposto a fazer coisas diferentes, principalmente no que diz respeito a perder determinados “confortos” que foram adquiridos ao longo da história. Em particular, o grupo dos grandes empresários que detém a maior parte dos recursos econômicos necessários para efetivar as ações, aparentemente, são os menos interessados em resolver os problemas, até porque a maioria dos representantes desse grupo acredita ser os que mais “perderão” com as mudanças.

Infelizmente nossa sociedade não está preparada para o que precisa ser feito e muitos ainda acham que as questões relacionadas com o meio ambiente são balela que não têm nenhum significado e que dinheiro, poder e conforto são efetivamente as únicas coisas que importam à humanidade na busca constante da felicidade. Nossas crenças erradas e nossos maus hábitos não serão facilmente apagados do pensamento coletivo de nossa espécie de uma hora para outra, porém, precisamos começar a pensar diferente. Toda essa mudança é um processo e todo processo é sempre gradativo. Mas, o tempo é insensível, implacável, severo e não para.

De qualquer maneira, nós necessitamos começar o mais rápido possível a fazer algumas coisas que possam minimizar os problemas, porque temos pouquíssimo tempo para tentar solucionar esses problemas, até porque grande parte da situação já está fora de controle. Já superamos em cerca de 30% a capacidade de utilização do planeta e por isso mesmo, já faz algum tempo que estamos efetivamente em guerra contra o planeta. A Terra, por sua vez, também já começou a se defender e em certo sentido está nos contra atacando. Ultimamente as batalhas têm sido muito ruins para nós humanos. As catástrofes são cada vez maiores em tamanho e piores em efeito.

Apesar de todo estrago que fizemos ao longo do tempo, nós não conseguimos e certamente não conseguiremos destruir o planeta, mas aos poucos ele está dando o troco, porque ao tentar se defender de nós, ele agora já está nos destruindo. Quer dizer, como já era esperado pelos mais sensatos, nós estamos começando a perder a guerra. O tempo para o planeta é quase eterno, mas para nós é extremamente curto e passageiro. Assim, ou mudamos de atitude e de comportamento ou simplesmente perecemos. Essa guerra não terá fim, enquanto nós não começarmos a trabalhar e auxiliar na recuperação do planeta. Portanto comecemos logo a fazer o dever de casa, pois a metade ainda cheia da ampulheta para a manutenção da vida humana no planeta está rapidamente se esvaziando. Vamos jogar a tolha e nos associarmos a Terra, enquanto ainda temos oportunidade de termos uma derrota honrosa, com vida. Do contrário, estaremos fadados a uma extinção precoce e extremamente próxima de nossa espécie.

Há urgência na resolução dos problemas e por isso mesmo precisamos partir para resolver aqueles que podem ser resolvidos mais rapidamente. O lixo humano, na minha maneira de entender, é a coisa mais fácil de ser controlada pelos governos e precisamos investir arduamente na tecnologia existente e no desenvolvimento de novas tecnologias para não aumentar a sua produção. A diminuição progressiva do tamanho das populações humanas, obviamente é algo mais complicado, porque é dependente de outros fatores, inclusive aspectos de cunho religioso, mas depende principalmente da vontade humana e precisa ser objeto de pauta e de trabalho dos governos. Com certeza, esse problema levará mais tempo para ser controlado, mas obviamente também deverão ser empregados esforços imediatos na tentativa de resolução dessa questão.

Não tenho dúvidas de que será muito difícil, mas também não tenho dúvidas de que a humanidade viveu dias muito ruins em outros momentos da sua história e até aqui, tem conseguido sobreviver. Estamos precisando apenas de um pouco mais de interesse de todos, de seriedade dos governos, de envolvimento real dos empresários e de empenho e participação das sociedades, para que possamos garantir a sobrevivência de nossa espécie e a qualidade de vida que as populações futuras são merecedoras.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence.” Entretanto, eu prefiro acreditar que o futuro se faz e se garante com as ações corretas do presente. Tenho certeza que Deus não vai se importar se começarmos a programar bem o nosso futuro. Aliás, creio mesmo que, ao contrário, se trabalharmos corretamente, Deus nos auxiliará e nos garantirá um futuro com qualidade de vida e com o planeta que desejamos. Se fizermos as ações certas hoje, certamente estaremos muito bem amanhã.

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06 dez 2014

Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Resumo: Considerando que na vida temos que fazer escolhas, nesse artigo o Prof. Luiz Eduardo, através de algumas analogias interessantes e lembrando que já perdemos tempo demais fazendo coisas erradas, propõe que façamos uma reflexão de nossa postura histórica e que optemos por uma nova escolha que priorize o planeta e a vida, pois só assim garantiremos a sustentabilidade e continuidade de nossa existência aqui na Terra.


Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Dizem que a vida é feita de escolhas e segundo algumas religiões, nós escolhemos até mesmo os locais e as família onde queremos nascer e crescer. A partir daí, dessa escolha, desenvolvemos toda nossa vida, procurando atender aos compromissos planejados enquanto ainda estávamos na “outra dimensão”. Bem, se isso for mesmo verdade, eu acho que eu transcendi o limite do imaginário ou fui além daquilo que os “indivíduos normais” da espécie humana podem efetivamente oferecer a si mesmos e aos seus semelhantes, porque tenho certeza que penso de maneira muito diferente a maioria dos seres humanos que conheço. Ou então, simplesmente fiz a escolha errada ao ter nascido. Ou, melhor ainda, quem sabe a escolha certa teria sido exatamente, não ter nascido. Mas, eu sou muito teimoso e acabei nascendo.

Digo isso também, porque eu estou realmente bastante preocupado com o caminhar da humanidade e dos cuidados que ela tem tido com o planeta. Tenho feito a minha parte, tentando informar e difundir as ideias, nas quais acredito piamente. Isto é, de que precisamos tratar bem os demais humanos e todas as demais criaturas do planeta e sobretudo, de que precisamos proteger o planeta e salvaguardar o patrimônio natural, antes que seja tarde demais. Ajo assim, já faz mais de 40 anos e ainda não perdi a esperança. Quer dizer, eu ainda não mudei a minha escolha.

Bem, mas vamos deixar minha situação pessoal de lado. Não importam as elucubrações que podemos e que, em alguns casos, até devemos fazer, mas é fundamental e verdadeiro que, de qualquer maneira, tanto a vida real, quanto a vida fictícia, são feitas efetivamente a partir das escolhas que fazemos. Por conta disso, alguns de nós continuamos agindo ativamente pela melhoria da qualidade de vida e pela continuidade de nossa espécie no planeta Terra.

Pois então, ao que parece, a maioria dos seres humanos, pelo menos até o momento presente, tem feito sempre escolhas erradas, no que diz respeito ao planeta Terra e à continuidade da vida nele existente, inclusive e principalmente, a vida da nossa espécie. Temos caminhado sempre na contramão dos interesses planetários e dos nossos interesses evolutivos, o que nos coloca na condição de infratores e talvez até mesmo criminosos, haja vista que trafegar na contramão é uma infração grave, prevista pelo Código Nacional de Trânsito.

Será que gostamos de viver perigosamente e que temos realmente uma tendência natural para o mal? Será que Konrad Lorenz* estava efetivamente correto, quando afirmou que nossa espécie é naturalmente agressiva e que temos evoluído em consequência dessa agressividade? Sinceramente eu não sei, mas prefiro acreditar que haja mais alguma coisa além dessa simples proposta da Genética Evolutiva no nosso modo de ser. Não creio somente na arrogância e na agressividade como mecanismos básicos para a evolução da vida humana, até porque esse padrão não tem sido comprovado integralmente na natureza.

Por outro lado, eu também não penso que Lorenz esteja totalmente errado, até porque existem indivíduos efetivamente de má índole na nossa espécie. Assim como, também existem maças podres e más formações genéticas em outras espécies de organismos vivos. Entretanto, nem mesmo os predadores mais ferozes e letais são organismos de má índole, pois suas respectivas ações ferozes terminam quando suas fomes (seus desejos maiores) são saciados.

Pois então, é exatamente nesse ponto que eu penso que os seres humanos são bastante diferentes das demais espécies animais. O desejo humano é progressivamente crescente e não parece ter fim. Isto é, a “fome humana” não sacia jamais. Nós queremos sempre mais e tomara que aja alguém ou algo para nos possa fornecer um pouco mais daquilo que queremos.  O desejo humano parece não ser nada de específico, pois apenas temos uma vontade absurda de gerar outros humanos e obter sempre algo mais de qualquer coisa que quisermos. Isto é, nossos desejos (“nossa fome”) são reproduzir e consumir.

Ao que parece, somos naturalmente “máquinas reprodutoras cosmopolitas” e “maquinas consumistas contumazes”, que resolvemos historicamente ocupar e consumir o planeta Terra e estamos trabalhando com todo afinco possível nessa direção, pois cada vez reproduzimos mais, aumentando absurdamente a população humana planetária e consumimos os recursos planetários sem nenhuma coerência ou parcimônia, como se eles fossem infinitos. Reproduzimos e consumimos efetivamente sem nenhuma preocupação ou critério, como qualquer criança brincando com o presente novo no dia de natal.

Crescemos a população de maneira absurda e matematicamente improvável. Ocupamos os espaços mais diversos de maneiras mais diferentes, usando esses espaços ao nosso bel-prazer, sem nos importarmos com o que antes lá havia. Acabamos com inúmeras áreas de vegetações naturais e extinguimos grande quantidade de espécies animais e vegetais. Exaurimos indiscriminadamente muitos dos recursos minerais, alguns por puro diletantismo. Praticamente exterminamos todo carvão mineral para produzir energia e estamos usando inadvertida e perigosamente o petróleo e os gases naturais do subsolo. Nossa última vítima tem sido as reservas de água doce, a qual, já que não podemos efetivamente acabar, estamos degradando, poluindo, contaminando e modificando drasticamente, à custa de nossa própria desgraça.

Enfim, “nossa fome” é progressiva e não termina nunca. Continuamos reproduzindo e aumentando a nossa mancha sobre o planeta. Ocupamos, matamos, destruímos e vamos em frente, sem querer olhar para trás, a fim de que possamos enxergar o tamanho da destruição que estamos cometendo.  Na verdade, não olhamos nem para trás e nem para frente, porque ali na frente vai acabar tudo mesmo, inclusive nós, porque não teremos mais de onde tirar nada e sem “comer” não poderemos nem reproduzir. Assim, os nossos “brinquedos” estarão todos quebrados.

Entretanto, como dissemos no início do texto, a vida é feita de escolhas e eu penso que temos que escolher outros “brinquedos”, outras coisas para destruir, porque o planeta, que é único, já tem dado inúmeros sinais de que não aguenta mais a nossa incomoda maneira de viver. O pior é que o planeta tem “reclamado” bastante de nossas “brincadeiras” e tem, até mesmo, se “aborrecido seriamente” com algumas dessas atividades desagradáveis e produzido, em contra partida, algumas respostas catastróficas. Mas, nós continuamos “dando de ombros”, como se não tivéssemos nada a ver com o problema.

Então, será que já não está na hora de, finalmente, fazermos uma escolha certa e de começarmos a parar de reproduzir e de consumir aleatoriamente? Será que já não temos que arrumar outros desejos menos perigosos e mais prazerosos ao planeta e a nós mesmos?

Ao que parece, as escolhas que fizemos até aqui, já não são mais viáveis e precisamos de um novo modelo de vida e obviamente para isso temos que ter novos desejos. Precisamos de modelos de desejos que garantam a tão falada e pouco entendida sustentabilidade. Nossa espécie só terá continuidade na Terra com o desenvolvimento de práticas sustentáveis doravante.

Como dissemos no início, tudo é uma questão de escolha. O caminho certo nós já sabemos que não é esse que temos trilhado e que nos trouxe até aqui. Mas, será que nós, seres pensantes, vamos continuar fazendo a escolha errada? O que acontecerá com aqueles seres humanos mais jovens, os nossos filhos e netos, que já colocamos no mundo?

Bem, independentemente da escolha que fizermos, o tempo certamente nos dará a resposta. Entretanto, é bom lembrar que o tempo não tem escolha e ele é nosso grande adversário, porque além de estar sempre correndo, infelizmente ele corre contra nós.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica
*LORENZ, K., 1963. A Agressão: uma História Natural do Mal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
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30 nov 2014

Particularidades sobre o Ensino de Ciências

Resumo: Dessa vez o Professor Luiz Eduardo traz sua opinião, acumulada ao longo dos mais de 38 anos de experiência no Ensino de Ciências e de Biologia especificamente, onde ele aproveita para chamar a atenção de algumas situações existentes no cotidiano escolar sobre as disciplinas da área de Ciências. São descritos alguns problemas e comentadas algumas situações interessantes. Para aqueles que estão atuando ou que pretendem atuar nessa área, certamente esse é um recado interessante e importante que valerá a pena ser lido, comentado e assumido pela vida profissional.


Particularidades sobre o Ensino de Ciências

O ensino de Ciências, mais que qualquer outra área do conhecimento, depende diretamente das conceituações básicas existentes em cada um dos diferentes ramos das Ciências que se queira ensinar. Sem essas conceituações, o Ensino de Ciências passa a ser mera repetição de coisas, sem nenhum sentido prático. Ou seja, o Ensino de Ciências sem esses conceitos é, quando muito, mero diletantismo por um lado ou uma inútil macaquice por outro. Além disso, não se deve perder de vista que um erro conceitual primário, na maior parte das vezes, leva a um erro de entendimento e em Ciências isso produz consequências danosas, haja vista que o conhecimento científico é, necessariamente, contínuo e se faltar uma base sólida, todo o resto ficará comprometido.

Desta forma, torna-se fundamental que o estudante de Ciências tenha a noção exata dos conceitos que envolvem o assunto que se queira trabalhar, a fim de que haja entendimento pleno e não apenas a repetição do citado assunto. Debates e discussões são muito interessantes nesses momentos, haja vista que oferecem grande quantidade de posicionamentos, permitindo demonstrar a diversidade de situações pelas quais passa a conclusão sobre o assunto. Porém, essa é uma problemática muito difícil de ser resolvida, em função da dificuldade operacional de professores e alunos e das estruturas administrativas das escolas, as quais, na maioria das vezes, ainda andam na pré-história da educação.

No que se refere especificamente ao Ensino de Ciências e suas peculiaridades, podem ser levantadas várias causas que, direta ou indiretamente, conduzem a esta situação de dificuldade e que fazem com que o Ensino de Ciências seja muito precário no país. Vejamos algumas dessas causas.

1 – Primeiramente devem ser considerados os problemas existentes de cunho estritamente burocrático e operacional das escolas que, na maioria das vezes não possuem condições mínimas para permitirem o desenvolvimento de aulas de Ciências. Por exemplo, há escolas em que não existem laboratórios, outras que têm laboratórios, mas não tem nenhum tipo de material, pois o laboratório é uma espécie de dispensa onde são guardadas todas as coisas que não prestam. Outras ainda têm algum material espalhado, o qual às vezes permite algum trabalho. Outras até oferecem condições razoáveis para o desenvolvimento de algumas atividades. Enfim, tudo é possível e cada caso é um caso a ser resolvido no momento em que ele surge.

2 – Outro exemplo são as escolas em que o Diretor, ou a autoridade maior da escola, não acha importante certos mecanismos educacionais e entende que aula é professor falando e aluno copiando e que aula de Ciências é coisa inventada para burlar as normas e motivo para deixar de ministrar a aula. Pasmem, mas ainda existe gente que “pensa” assim. Nesse caso, ou o Professor de Ciências encara a briga e faz o que pode por sua conta ou obedece à direção e nada acontece.

3 – Há casos em que não existe estrutura física, mas existe boa intenção e, por exemplo, há um jardim onde os estudantes podem ser levados (quando o Diretor permite) para observar os organismos vivos que lá se encontram, sendo possível traçar algumas ideias e demonstrar alguns conceitos, principalmente na Biologia. No caso da Biologia, também é possível combinar com os alunos e realizar algumas excursões de campo que produzem excelentes resultados. Mas, as questões da Física e da Química que quase sempre necessitam de material específico e espaço físico devido, acabam ficando prejudicadas e nada pode ser desenvolvido.

4 – Algumas vezes a capacidade de compreensão do estudante, particularmente o jovem, ainda não permite o total entendimento do fenômeno, em função de sua visão restrita sobre o assunto e, principalmente da dificuldade de fazer o seu relacionamento com outros aspectos do cotidiano. É preciso que se encontre a ligação entre aquilo que se quer ensinar e a realidade que norteia o estudante, a fim de inserir o novo conhecimento (conceito) como uma complementação daquilo que o estudante já conhece da sua vivência cotidiana. Em Ciências nem sempre isso é possível, haja vista a singularidade de alguns dos fenômenos que às vezes precisam ser discutidos e ensinados. Além disso, há também a dificuldade, cada vez maior, do interesse dos estudantes por questões teóricas e pouco atraentes para os seus respectivos interesses particulares. Tornar as Ciências mais atrativas ao interesse dos estudantes também é uma tarefa a ser desenvolvida pelo professor de Ciências.

5 – Outras vezes a imagem preconcebida sobre determinado assunto é muito diferente da realidade científica que se quer ensinar. Há situações em que o antagonismo é total entre a crendice popularizada de um assunto e a verdade científica sobre o mesmo. Nesses casos, quanto maior for a distância entre a realidade científica e a imagem preconcebida e irreal que o aluno tem sobre este, maior será o conflito criado na mente do estudante e também a dificuldade de entendimento e a consequente formação dos conceitos. Por conta disso, torna-se fundamental, dentre outras coisas, que se acabe peremptoriamente com as crendices e os preconceitos, no que se refere ao Ensino de Ciências. Também se torna necessário que sejam desenvolvidos mecanismos adicionais que permitam demonstrar a veracidade científica e que possam refutar qualquer ideia inverídica sobre os diferentes assuntos. Novas práticas de Ciências e novos experimentos precisam estar sendo desenvolvidos constantemente para tentar suprir essa necessidade.

6 – Muitas vezes há dificuldade do próprio professor em entender determinado conceito, o que torna praticamente impossível ensiná-lo ao estudante. Não há como ensinar aquilo que não se sabe. Nessa situação, quando muito, o Professor repete aquilo que está escrito em um “livro didático”, apenas para cumprir uma formalidade programática. Mas, na maioria das vezes, o assunto é esquecido e passa-se por cima como se ele não existisse. Isso é inadmissível, não só em Ciências, como em qualquer outra área de Ensino. Mas, lamentavelmente, isso acontece em muitos casos. Desta maneira, só existem duas saídas: ou se aprende aquilo que se tem que ensinar ou não se pode ministrar as aulas, mormente de Ciências.

7 – Outras vezes, o professor até conhece determinado conceito, mas tem muita dificuldade em esclarecê-lo ao estudante. Isto ocorre quando falta “bagagem” ao professor. Ou seja, falta embasamento teórico (falta leitura) e consequentemente falta capacidade argumentativa que possam permitir ao professor explicar o conceito e tentar incuti-lo na mente do estudante. Lamentavelmente, esse tem sido o mais comum dos casos e isso nos leva a refletir sobre outros problemas: quem são e qual a formação teórico-cultural dos professores de Ciências do país?

8 – Outras vezes é o próprio Professor, por incrível que pareça, quem é preconcebido em relação a determinado assunto e não aceita, por questões culturais (principalmente religiosas), discutir e ampliar os seus horizontes sobre o mesmo. Esta situação tem que ser banida, pois traduz uma postura incompatível com um professor de Ciências, o qual deve, antes de tudo, estar com a cabeça aberta para o novo conhecimento científico. Um professor de Ciências tem que ser alguém interessado no seu enriquecimento científico e cultural. Desta forma, tem que estar predisposto às novas informações, refutando-as ou aceitando-as através de argumentação científica relevante. Um professor de Ciências não pode simplesmente se recusar a discutir determinado conceito, porque ele não acredita naquilo, ou porque a sua religião não permite tal mecanismo. O professor de Ciências tem que estar pronto para estudar, ensinar e discutir sobre Ciência, independentemente de qualquer outra coisa. Se não for assim, não terá como ser professor de Ciências.

Neste momento, é preciso esclarecer uma questão bastante comum.

O professor de Ciências é um ser humano como outro qualquer e sendo assim sofre todas as mazelas que qualquer outro humano, tendo, inclusive, o direito de ter as suas crendices e sua fobias, por mais absurdas que elas possam ser. Entretanto, o professor de Ciências não tem direito e nem pode, de maneira nenhuma, transferir as suas crendices e fobias para os seus alunos. Há necessidade de que o professor de Ciências mascare o seu eu pessoal em determinadas ocasiões, para que o ensino de Ciências seja compatível com o que se espera dele. Para ficar mais claro o que estou tentando dizer, vou dar um exemplo simples dessa situação.

Imagine que um determinado professor de Ciências tenha medo de sapos, o que não faz nenhum sentido científico, pois o sapo é um animal totalmente inofensivo, mas essa é uma coisa muito comum entre os seres humanos, inclusive muitos dos professores de Ciências têm essa fobia. Então, certo dia, um determinado aluno desse professor resolve, por qualquer motivo, levar um sapo para a aula. Nesta situação, o professor de Ciências fica enrascado, mas não pode justificar o seu medo com posturas não científicas e também não pode querer que os seus alunos tenham medo de sapo só porque ele tem. O medo de um humano não tem que ser o de outro e no caso particular do professor de Ciências, o medo não deve existir ou, se existir, não deve aparecer, pelo menos na frente dos seus alunos.

Entretanto, se não houver jeito e o medo aparecer, ele deve ser justificado com um argumento sociológico e não científico. É preciso acabar com a má influência dada por alguns professores de Ciências que inventam histórias e reforçam coisas absurdas para justificar os seus medos particulares. Se o professor de Ciências tem medo, que assuma o seu medo sem comprometer a realidade científica. O objetivo de qualquer ciência é demonstrar a realidade natural aos estudantes e não as crendices. O professor de Ciências tem que procurar acabar com a ignorância e não reforçá-la na sociedade.

9 – Outro aspecto interessante que às vezes acontece, diz respeito ao próprio conceito em si mesmo. Quando o conceito não está muito claro, pois há muitos pontos de vista divergentes entre os autores que trataram o assunto, há uma tendência natural de que o professor tome uma posição em relação à questão e assuma essa posição como verdadeira, mas isso não deve ser de todo correto, pois se o conceito é discutível então, desde que o estudante dê uma informação compatível com a discussão, por menos que o professor concorde, ele precisa aceitar a posição do estudante. Porém, há muitos professores que não estão dispostos aceitarem aquilo que não concordam e assumem uma postura totalmente anticientífica, a qual é incompatível com o ensino de Ciências.

10 – A situação acima pode se inverter e num determinado momento o professor está ensinando sobre determinado conceito consagrado cientificamente, mas o aluno descobre uma referência contrária ou uma posição pessoal contrária emitida por outro professor de Ciências sobre aquele assunto. Isso acontece com conceitos que mudaram mais recentemente e que ainda circulam referências bibliográficas antigas sobre a questão. Esse caso é sério e aí não há como fugir ao embate e à discussão, a qual poderá ser até vantajosa para a formação do aluno, pois servirá para demonstrar-lhe que Ciência é exatamente isso, ou seja, discussão, tergiversação e troca de ideias e opiniões, que levem ao melhor entendimento de uma determinada questão. Todavia, é fundamental que se chegue a uma conclusão com base científica e não a um simples acordo de cavalheiros no fim da discussão.

Enfim, como já foi dito, existem várias dificuldades. Entretanto, elas não podem se constituir em empecilhos ou barreiras intransponíveis para que o ensino de Ciências se desenvolva a contento. O professor de Ciências tem que usar toda sua criatividade, tem que ser capaz de superar as dificuldades e fazer com que seus alunos tenham acesso aos conceitos fundamentais.

A partir da conceituação básica, a observação e a experimentação passam a ser os caminhos a serem seguidos, conforme determina o método científico. Mas, ao longo desse caminho, certamente surgirão gargalos a serem transpostos, pois a observação nem sempre é possível e a experimentação, na maior parte das vezes, é impossível, pelo menos nas escolas públicas. Quer dizer, em geral ensinamos Ciências na base do “ouvi dizer que”, ou do “alguém disse que”, mas não temos, nem de longe, como tentar demonstrar ou comprovar o que estamos dizendo. Nessas ocasiões analogias costumam dar bons resultados, mas isso depende muito da bagagem cultural e principalmente da criatividade do professor.

O ensino de Ciências fica muito difícil para o aluno e complicado para o professor, o qual tem que “fazer das tripas coração” para levar o seu aluno a “acreditar” em coisas que, muitas vezes, ele não tem como provar. Isto é, o professor de Ciências ensina sua matéria na base do “acredite em mim e vamos em frente”, como se fosse o “dono da verdade”. Aliás, é bom lembrar, mais uma vez, que esta é uma postura totalmente contrária aos interesses da Ciência, pois não existem “donos de verdades” em Ciências.

Por outro lado, em determinadas situações em que é possível fazer observações e até mesmo experimentações, é preciso que se tenha o devido cuidado com a maneira que se procede, para não se cometer erros grosseiros. A observação, embora seja um ato relativamente simples, é, talvez, a mais importante parte das atividades científicas e desta forma, também do ensino de Ciências. É através da observação que surgem os questionamentos e é na busca das respostas que as Ciências progridem. Entretanto, para tal é muito importante que a observação seja abrangente, detalhada e crítica o suficiente para permitir algum questionamento científico.

Ensinar Ciências no mundo moderno, com tanta diversidade de coisas produzidas pelo desenvolvimento científico e tecnológico, deveria ser uma tarefa cada vez mais simples, pois estamos cercados de ciências por todos os lados, mas a realidade tem demonstrado o contrário. O professor de Ciências, como facilitador do entendimento científico para jovens estudantes, tem que estar devidamente ciente da missão que assumiu quando resolveu ministrar aulas de Ciências. Urge que se formem professores de Ciências adaptados ao seu tempo, ou seja, inseridos na vida científica e tecnológica atual e com uma visão eclética e realista do mundo, pois só assim poderemos sair do marasmo científico em que nos encontramos em relação ao resto do mundo.

Só poderemos formar os bons cientistas que o país precisa, quando tivermos produzindo bons professores de Ciências. Lamento dizer, mas parece que ainda estamos muito longe do que precisamos no que se refere ao ensino de Ciências e a consequente formação de cientistas. De qualquer maneira, ainda que vagarosamente, estamos caminhando e certamente chegaremos lá.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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