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Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

06 dez 2014

Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Resumo: Considerando que na vida temos que fazer escolhas, nesse artigo o Prof. Luiz Eduardo, através de algumas analogias interessantes e lembrando que já perdemos tempo demais fazendo coisas erradas, propõe que façamos uma reflexão de nossa postura histórica e que optemos por uma nova escolha que priorize o planeta e a vida, pois só assim garantiremos a sustentabilidade e continuidade de nossa existência aqui na Terra.


Qualidade de Vida e Continuidade da Espécie: uma Questão de Escolha

Dizem que a vida é feita de escolhas e segundo algumas religiões, nós escolhemos até mesmo os locais e as família onde queremos nascer e crescer. A partir daí, dessa escolha, desenvolvemos toda nossa vida, procurando atender aos compromissos planejados enquanto ainda estávamos na “outra dimensão”. Bem, se isso for mesmo verdade, eu acho que eu transcendi o limite do imaginário ou fui além daquilo que os “indivíduos normais” da espécie humana podem efetivamente oferecer a si mesmos e aos seus semelhantes, porque tenho certeza que penso de maneira muito diferente a maioria dos seres humanos que conheço. Ou então, simplesmente fiz a escolha errada ao ter nascido. Ou, melhor ainda, quem sabe a escolha certa teria sido exatamente, não ter nascido. Mas, eu sou muito teimoso e acabei nascendo.

Digo isso também, porque eu estou realmente bastante preocupado com o caminhar da humanidade e dos cuidados que ela tem tido com o planeta. Tenho feito a minha parte, tentando informar e difundir as ideias, nas quais acredito piamente. Isto é, de que precisamos tratar bem os demais humanos e todas as demais criaturas do planeta e sobretudo, de que precisamos proteger o planeta e salvaguardar o patrimônio natural, antes que seja tarde demais. Ajo assim, já faz mais de 40 anos e ainda não perdi a esperança. Quer dizer, eu ainda não mudei a minha escolha.

Bem, mas vamos deixar minha situação pessoal de lado. Não importam as elucubrações que podemos e que, em alguns casos, até devemos fazer, mas é fundamental e verdadeiro que, de qualquer maneira, tanto a vida real, quanto a vida fictícia, são feitas efetivamente a partir das escolhas que fazemos. Por conta disso, alguns de nós continuamos agindo ativamente pela melhoria da qualidade de vida e pela continuidade de nossa espécie no planeta Terra.

Pois então, ao que parece, a maioria dos seres humanos, pelo menos até o momento presente, tem feito sempre escolhas erradas, no que diz respeito ao planeta Terra e à continuidade da vida nele existente, inclusive e principalmente, a vida da nossa espécie. Temos caminhado sempre na contramão dos interesses planetários e dos nossos interesses evolutivos, o que nos coloca na condição de infratores e talvez até mesmo criminosos, haja vista que trafegar na contramão é uma infração grave, prevista pelo Código Nacional de Trânsito.

Será que gostamos de viver perigosamente e que temos realmente uma tendência natural para o mal? Será que Konrad Lorenz* estava efetivamente correto, quando afirmou que nossa espécie é naturalmente agressiva e que temos evoluído em consequência dessa agressividade? Sinceramente eu não sei, mas prefiro acreditar que haja mais alguma coisa além dessa simples proposta da Genética Evolutiva no nosso modo de ser. Não creio somente na arrogância e na agressividade como mecanismos básicos para a evolução da vida humana, até porque esse padrão não tem sido comprovado integralmente na natureza.

Por outro lado, eu também não penso que Lorenz esteja totalmente errado, até porque existem indivíduos efetivamente de má índole na nossa espécie. Assim como, também existem maças podres e más formações genéticas em outras espécies de organismos vivos. Entretanto, nem mesmo os predadores mais ferozes e letais são organismos de má índole, pois suas respectivas ações ferozes terminam quando suas fomes (seus desejos maiores) são saciados.

Pois então, é exatamente nesse ponto que eu penso que os seres humanos são bastante diferentes das demais espécies animais. O desejo humano é progressivamente crescente e não parece ter fim. Isto é, a “fome humana” não sacia jamais. Nós queremos sempre mais e tomara que aja alguém ou algo para nos possa fornecer um pouco mais daquilo que queremos.  O desejo humano parece não ser nada de específico, pois apenas temos uma vontade absurda de gerar outros humanos e obter sempre algo mais de qualquer coisa que quisermos. Isto é, nossos desejos (“nossa fome”) são reproduzir e consumir.

Ao que parece, somos naturalmente “máquinas reprodutoras cosmopolitas” e “maquinas consumistas contumazes”, que resolvemos historicamente ocupar e consumir o planeta Terra e estamos trabalhando com todo afinco possível nessa direção, pois cada vez reproduzimos mais, aumentando absurdamente a população humana planetária e consumimos os recursos planetários sem nenhuma coerência ou parcimônia, como se eles fossem infinitos. Reproduzimos e consumimos efetivamente sem nenhuma preocupação ou critério, como qualquer criança brincando com o presente novo no dia de natal.

Crescemos a população de maneira absurda e matematicamente improvável. Ocupamos os espaços mais diversos de maneiras mais diferentes, usando esses espaços ao nosso bel-prazer, sem nos importarmos com o que antes lá havia. Acabamos com inúmeras áreas de vegetações naturais e extinguimos grande quantidade de espécies animais e vegetais. Exaurimos indiscriminadamente muitos dos recursos minerais, alguns por puro diletantismo. Praticamente exterminamos todo carvão mineral para produzir energia e estamos usando inadvertida e perigosamente o petróleo e os gases naturais do subsolo. Nossa última vítima tem sido as reservas de água doce, a qual, já que não podemos efetivamente acabar, estamos degradando, poluindo, contaminando e modificando drasticamente, à custa de nossa própria desgraça.

Enfim, “nossa fome” é progressiva e não termina nunca. Continuamos reproduzindo e aumentando a nossa mancha sobre o planeta. Ocupamos, matamos, destruímos e vamos em frente, sem querer olhar para trás, a fim de que possamos enxergar o tamanho da destruição que estamos cometendo.  Na verdade, não olhamos nem para trás e nem para frente, porque ali na frente vai acabar tudo mesmo, inclusive nós, porque não teremos mais de onde tirar nada e sem “comer” não poderemos nem reproduzir. Assim, os nossos “brinquedos” estarão todos quebrados.

Entretanto, como dissemos no início do texto, a vida é feita de escolhas e eu penso que temos que escolher outros “brinquedos”, outras coisas para destruir, porque o planeta, que é único, já tem dado inúmeros sinais de que não aguenta mais a nossa incomoda maneira de viver. O pior é que o planeta tem “reclamado” bastante de nossas “brincadeiras” e tem, até mesmo, se “aborrecido seriamente” com algumas dessas atividades desagradáveis e produzido, em contra partida, algumas respostas catastróficas. Mas, nós continuamos “dando de ombros”, como se não tivéssemos nada a ver com o problema.

Então, será que já não está na hora de, finalmente, fazermos uma escolha certa e de começarmos a parar de reproduzir e de consumir aleatoriamente? Será que já não temos que arrumar outros desejos menos perigosos e mais prazerosos ao planeta e a nós mesmos?

Ao que parece, as escolhas que fizemos até aqui, já não são mais viáveis e precisamos de um novo modelo de vida e obviamente para isso temos que ter novos desejos. Precisamos de modelos de desejos que garantam a tão falada e pouco entendida sustentabilidade. Nossa espécie só terá continuidade na Terra com o desenvolvimento de práticas sustentáveis doravante.

Como dissemos no início, tudo é uma questão de escolha. O caminho certo nós já sabemos que não é esse que temos trilhado e que nos trouxe até aqui. Mas, será que nós, seres pensantes, vamos continuar fazendo a escolha errada? O que acontecerá com aqueles seres humanos mais jovens, os nossos filhos e netos, que já colocamos no mundo?

Bem, independentemente da escolha que fizermos, o tempo certamente nos dará a resposta. Entretanto, é bom lembrar que o tempo não tem escolha e ele é nosso grande adversário, porque além de estar sempre correndo, infelizmente ele corre contra nós.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica
*LORENZ, K., 1963. A Agressão: uma História Natural do Mal, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
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30 nov 2014

Particularidades sobre o Ensino de Ciências

Resumo: Dessa vez o Professor Luiz Eduardo traz sua opinião, acumulada ao longo dos mais de 38 anos de experiência no Ensino de Ciências e de Biologia especificamente, onde ele aproveita para chamar a atenção de algumas situações existentes no cotidiano escolar sobre as disciplinas da área de Ciências. São descritos alguns problemas e comentadas algumas situações interessantes. Para aqueles que estão atuando ou que pretendem atuar nessa área, certamente esse é um recado interessante e importante que valerá a pena ser lido, comentado e assumido pela vida profissional.


Particularidades sobre o Ensino de Ciências

O ensino de Ciências, mais que qualquer outra área do conhecimento, depende diretamente das conceituações básicas existentes em cada um dos diferentes ramos das Ciências que se queira ensinar. Sem essas conceituações, o Ensino de Ciências passa a ser mera repetição de coisas, sem nenhum sentido prático. Ou seja, o Ensino de Ciências sem esses conceitos é, quando muito, mero diletantismo por um lado ou uma inútil macaquice por outro. Além disso, não se deve perder de vista que um erro conceitual primário, na maior parte das vezes, leva a um erro de entendimento e em Ciências isso produz consequências danosas, haja vista que o conhecimento científico é, necessariamente, contínuo e se faltar uma base sólida, todo o resto ficará comprometido.

Desta forma, torna-se fundamental que o estudante de Ciências tenha a noção exata dos conceitos que envolvem o assunto que se queira trabalhar, a fim de que haja entendimento pleno e não apenas a repetição do citado assunto. Debates e discussões são muito interessantes nesses momentos, haja vista que oferecem grande quantidade de posicionamentos, permitindo demonstrar a diversidade de situações pelas quais passa a conclusão sobre o assunto. Porém, essa é uma problemática muito difícil de ser resolvida, em função da dificuldade operacional de professores e alunos e das estruturas administrativas das escolas, as quais, na maioria das vezes, ainda andam na pré-história da educação.

No que se refere especificamente ao Ensino de Ciências e suas peculiaridades, podem ser levantadas várias causas que, direta ou indiretamente, conduzem a esta situação de dificuldade e que fazem com que o Ensino de Ciências seja muito precário no país. Vejamos algumas dessas causas.

1 – Primeiramente devem ser considerados os problemas existentes de cunho estritamente burocrático e operacional das escolas que, na maioria das vezes não possuem condições mínimas para permitirem o desenvolvimento de aulas de Ciências. Por exemplo, há escolas em que não existem laboratórios, outras que têm laboratórios, mas não tem nenhum tipo de material, pois o laboratório é uma espécie de dispensa onde são guardadas todas as coisas que não prestam. Outras ainda têm algum material espalhado, o qual às vezes permite algum trabalho. Outras até oferecem condições razoáveis para o desenvolvimento de algumas atividades. Enfim, tudo é possível e cada caso é um caso a ser resolvido no momento em que ele surge.

2 – Outro exemplo são as escolas em que o Diretor, ou a autoridade maior da escola, não acha importante certos mecanismos educacionais e entende que aula é professor falando e aluno copiando e que aula de Ciências é coisa inventada para burlar as normas e motivo para deixar de ministrar a aula. Pasmem, mas ainda existe gente que “pensa” assim. Nesse caso, ou o Professor de Ciências encara a briga e faz o que pode por sua conta ou obedece à direção e nada acontece.

3 – Há casos em que não existe estrutura física, mas existe boa intenção e, por exemplo, há um jardim onde os estudantes podem ser levados (quando o Diretor permite) para observar os organismos vivos que lá se encontram, sendo possível traçar algumas ideias e demonstrar alguns conceitos, principalmente na Biologia. No caso da Biologia, também é possível combinar com os alunos e realizar algumas excursões de campo que produzem excelentes resultados. Mas, as questões da Física e da Química que quase sempre necessitam de material específico e espaço físico devido, acabam ficando prejudicadas e nada pode ser desenvolvido.

4 – Algumas vezes a capacidade de compreensão do estudante, particularmente o jovem, ainda não permite o total entendimento do fenômeno, em função de sua visão restrita sobre o assunto e, principalmente da dificuldade de fazer o seu relacionamento com outros aspectos do cotidiano. É preciso que se encontre a ligação entre aquilo que se quer ensinar e a realidade que norteia o estudante, a fim de inserir o novo conhecimento (conceito) como uma complementação daquilo que o estudante já conhece da sua vivência cotidiana. Em Ciências nem sempre isso é possível, haja vista a singularidade de alguns dos fenômenos que às vezes precisam ser discutidos e ensinados. Além disso, há também a dificuldade, cada vez maior, do interesse dos estudantes por questões teóricas e pouco atraentes para os seus respectivos interesses particulares. Tornar as Ciências mais atrativas ao interesse dos estudantes também é uma tarefa a ser desenvolvida pelo professor de Ciências.

5 – Outras vezes a imagem preconcebida sobre determinado assunto é muito diferente da realidade científica que se quer ensinar. Há situações em que o antagonismo é total entre a crendice popularizada de um assunto e a verdade científica sobre o mesmo. Nesses casos, quanto maior for a distância entre a realidade científica e a imagem preconcebida e irreal que o aluno tem sobre este, maior será o conflito criado na mente do estudante e também a dificuldade de entendimento e a consequente formação dos conceitos. Por conta disso, torna-se fundamental, dentre outras coisas, que se acabe peremptoriamente com as crendices e os preconceitos, no que se refere ao Ensino de Ciências. Também se torna necessário que sejam desenvolvidos mecanismos adicionais que permitam demonstrar a veracidade científica e que possam refutar qualquer ideia inverídica sobre os diferentes assuntos. Novas práticas de Ciências e novos experimentos precisam estar sendo desenvolvidos constantemente para tentar suprir essa necessidade.

6 – Muitas vezes há dificuldade do próprio professor em entender determinado conceito, o que torna praticamente impossível ensiná-lo ao estudante. Não há como ensinar aquilo que não se sabe. Nessa situação, quando muito, o Professor repete aquilo que está escrito em um “livro didático”, apenas para cumprir uma formalidade programática. Mas, na maioria das vezes, o assunto é esquecido e passa-se por cima como se ele não existisse. Isso é inadmissível, não só em Ciências, como em qualquer outra área de Ensino. Mas, lamentavelmente, isso acontece em muitos casos. Desta maneira, só existem duas saídas: ou se aprende aquilo que se tem que ensinar ou não se pode ministrar as aulas, mormente de Ciências.

7 – Outras vezes, o professor até conhece determinado conceito, mas tem muita dificuldade em esclarecê-lo ao estudante. Isto ocorre quando falta “bagagem” ao professor. Ou seja, falta embasamento teórico (falta leitura) e consequentemente falta capacidade argumentativa que possam permitir ao professor explicar o conceito e tentar incuti-lo na mente do estudante. Lamentavelmente, esse tem sido o mais comum dos casos e isso nos leva a refletir sobre outros problemas: quem são e qual a formação teórico-cultural dos professores de Ciências do país?

8 – Outras vezes é o próprio Professor, por incrível que pareça, quem é preconcebido em relação a determinado assunto e não aceita, por questões culturais (principalmente religiosas), discutir e ampliar os seus horizontes sobre o mesmo. Esta situação tem que ser banida, pois traduz uma postura incompatível com um professor de Ciências, o qual deve, antes de tudo, estar com a cabeça aberta para o novo conhecimento científico. Um professor de Ciências tem que ser alguém interessado no seu enriquecimento científico e cultural. Desta forma, tem que estar predisposto às novas informações, refutando-as ou aceitando-as através de argumentação científica relevante. Um professor de Ciências não pode simplesmente se recusar a discutir determinado conceito, porque ele não acredita naquilo, ou porque a sua religião não permite tal mecanismo. O professor de Ciências tem que estar pronto para estudar, ensinar e discutir sobre Ciência, independentemente de qualquer outra coisa. Se não for assim, não terá como ser professor de Ciências.

Neste momento, é preciso esclarecer uma questão bastante comum.

O professor de Ciências é um ser humano como outro qualquer e sendo assim sofre todas as mazelas que qualquer outro humano, tendo, inclusive, o direito de ter as suas crendices e sua fobias, por mais absurdas que elas possam ser. Entretanto, o professor de Ciências não tem direito e nem pode, de maneira nenhuma, transferir as suas crendices e fobias para os seus alunos. Há necessidade de que o professor de Ciências mascare o seu eu pessoal em determinadas ocasiões, para que o ensino de Ciências seja compatível com o que se espera dele. Para ficar mais claro o que estou tentando dizer, vou dar um exemplo simples dessa situação.

Imagine que um determinado professor de Ciências tenha medo de sapos, o que não faz nenhum sentido científico, pois o sapo é um animal totalmente inofensivo, mas essa é uma coisa muito comum entre os seres humanos, inclusive muitos dos professores de Ciências têm essa fobia. Então, certo dia, um determinado aluno desse professor resolve, por qualquer motivo, levar um sapo para a aula. Nesta situação, o professor de Ciências fica enrascado, mas não pode justificar o seu medo com posturas não científicas e também não pode querer que os seus alunos tenham medo de sapo só porque ele tem. O medo de um humano não tem que ser o de outro e no caso particular do professor de Ciências, o medo não deve existir ou, se existir, não deve aparecer, pelo menos na frente dos seus alunos.

Entretanto, se não houver jeito e o medo aparecer, ele deve ser justificado com um argumento sociológico e não científico. É preciso acabar com a má influência dada por alguns professores de Ciências que inventam histórias e reforçam coisas absurdas para justificar os seus medos particulares. Se o professor de Ciências tem medo, que assuma o seu medo sem comprometer a realidade científica. O objetivo de qualquer ciência é demonstrar a realidade natural aos estudantes e não as crendices. O professor de Ciências tem que procurar acabar com a ignorância e não reforçá-la na sociedade.

9 – Outro aspecto interessante que às vezes acontece, diz respeito ao próprio conceito em si mesmo. Quando o conceito não está muito claro, pois há muitos pontos de vista divergentes entre os autores que trataram o assunto, há uma tendência natural de que o professor tome uma posição em relação à questão e assuma essa posição como verdadeira, mas isso não deve ser de todo correto, pois se o conceito é discutível então, desde que o estudante dê uma informação compatível com a discussão, por menos que o professor concorde, ele precisa aceitar a posição do estudante. Porém, há muitos professores que não estão dispostos aceitarem aquilo que não concordam e assumem uma postura totalmente anticientífica, a qual é incompatível com o ensino de Ciências.

10 – A situação acima pode se inverter e num determinado momento o professor está ensinando sobre determinado conceito consagrado cientificamente, mas o aluno descobre uma referência contrária ou uma posição pessoal contrária emitida por outro professor de Ciências sobre aquele assunto. Isso acontece com conceitos que mudaram mais recentemente e que ainda circulam referências bibliográficas antigas sobre a questão. Esse caso é sério e aí não há como fugir ao embate e à discussão, a qual poderá ser até vantajosa para a formação do aluno, pois servirá para demonstrar-lhe que Ciência é exatamente isso, ou seja, discussão, tergiversação e troca de ideias e opiniões, que levem ao melhor entendimento de uma determinada questão. Todavia, é fundamental que se chegue a uma conclusão com base científica e não a um simples acordo de cavalheiros no fim da discussão.

Enfim, como já foi dito, existem várias dificuldades. Entretanto, elas não podem se constituir em empecilhos ou barreiras intransponíveis para que o ensino de Ciências se desenvolva a contento. O professor de Ciências tem que usar toda sua criatividade, tem que ser capaz de superar as dificuldades e fazer com que seus alunos tenham acesso aos conceitos fundamentais.

A partir da conceituação básica, a observação e a experimentação passam a ser os caminhos a serem seguidos, conforme determina o método científico. Mas, ao longo desse caminho, certamente surgirão gargalos a serem transpostos, pois a observação nem sempre é possível e a experimentação, na maior parte das vezes, é impossível, pelo menos nas escolas públicas. Quer dizer, em geral ensinamos Ciências na base do “ouvi dizer que”, ou do “alguém disse que”, mas não temos, nem de longe, como tentar demonstrar ou comprovar o que estamos dizendo. Nessas ocasiões analogias costumam dar bons resultados, mas isso depende muito da bagagem cultural e principalmente da criatividade do professor.

O ensino de Ciências fica muito difícil para o aluno e complicado para o professor, o qual tem que “fazer das tripas coração” para levar o seu aluno a “acreditar” em coisas que, muitas vezes, ele não tem como provar. Isto é, o professor de Ciências ensina sua matéria na base do “acredite em mim e vamos em frente”, como se fosse o “dono da verdade”. Aliás, é bom lembrar, mais uma vez, que esta é uma postura totalmente contrária aos interesses da Ciência, pois não existem “donos de verdades” em Ciências.

Por outro lado, em determinadas situações em que é possível fazer observações e até mesmo experimentações, é preciso que se tenha o devido cuidado com a maneira que se procede, para não se cometer erros grosseiros. A observação, embora seja um ato relativamente simples, é, talvez, a mais importante parte das atividades científicas e desta forma, também do ensino de Ciências. É através da observação que surgem os questionamentos e é na busca das respostas que as Ciências progridem. Entretanto, para tal é muito importante que a observação seja abrangente, detalhada e crítica o suficiente para permitir algum questionamento científico.

Ensinar Ciências no mundo moderno, com tanta diversidade de coisas produzidas pelo desenvolvimento científico e tecnológico, deveria ser uma tarefa cada vez mais simples, pois estamos cercados de ciências por todos os lados, mas a realidade tem demonstrado o contrário. O professor de Ciências, como facilitador do entendimento científico para jovens estudantes, tem que estar devidamente ciente da missão que assumiu quando resolveu ministrar aulas de Ciências. Urge que se formem professores de Ciências adaptados ao seu tempo, ou seja, inseridos na vida científica e tecnológica atual e com uma visão eclética e realista do mundo, pois só assim poderemos sair do marasmo científico em que nos encontramos em relação ao resto do mundo.

Só poderemos formar os bons cientistas que o país precisa, quando tivermos produzindo bons professores de Ciências. Lamento dizer, mas parece que ainda estamos muito longe do que precisamos no que se refere ao ensino de Ciências e a consequente formação de cientistas. De qualquer maneira, ainda que vagarosamente, estamos caminhando e certamente chegaremos lá.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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26 nov 2014

Animais “Úteis” X Humanos “Inúteis”

Resumo: Nesta oportunidade estou voltando a um tema antigo, do qual falei pela primeira vez faz mais de 30 anos, mas que infelizmente ainda é muito mal entendido por grande parte das pessoas, trata-se da “utilidade dos animais” aos interesses humanos e a consequente apropriação antrópica indevida dos animais. O assunto é muito interessante e o texto chama a atenção de que em tempos de postura ecologicamente correta, de necessidade da Educação Ambiental, de apelo sobre a Biodiversidade e sobre tudo de priorização da Sustentabilidade, não é mais possível pensar dessa maneira. Nossas crianças precisam de outro critério para perceber a importância dos animais primeiramente para o planeta.


Animais “Úteis” X Humanos “Inúteis”

Nesta semana, mais uma vez eu tive a infeliz oportunidade de presenciar, num trabalho que pretensamente deveria ser de Educação Ambiental, uma professora falando com um grupo de alunos de Ensino Fundamental, sobre um assunto que eu pensava que já estivesse sendo tratado de maneira diferente nas escolas. Na situação em questão, a professora falava aos alunos sobre os “animais úteis” ao homem, o que é um fato lamentável e que, pelo visto, ainda há muita gente pensando e o que é pior, ensinando assim às crianças.

Historicamente, desde o momento em que cada ser humano nasce ele é levado a entender que há alguns “animais úteis” e outros que não são úteis. Mais tarde, quando a criança entra na escola, lamentavelmente esse ensinamento errado é reforçado pelos professores nas séries iniciais de sua formação. Ora, se alguns animais são úteis, isso implica em que outros animais sejam necessariamente considerados inúteis. Essa é uma conclusão lógica e simples. Alguns ainda vão mais longe nessa conclusão e pensam assim: “já que esses animais são inúteis, então vamos acabar logo com eles”. Pois é, ao longo do tempo, muitas das diferentes civilizações humanas fizeram efetivamente isso, ou seja, trabalharam para destruir e matar todos os animais que eram considerados inúteis e tentaram aumentar a capacidade reprodutiva e ampliar as populações daqueles que eram entendidos como úteis.

Partindo do pressuposto acima, o que pode ser considerado é que grande parte dos homens tem procurado se aproximar cada vez mais dos “animais úteis” e se afastar o mais possível dos “animais inúteis”. Por exemplo: historicamente supervalorizamos as galinhas que nos interessam (são úteis), pois nos fornecem principalmente carne e ovos, além de outras coisas de menor destaque diretamente e subvalorizamos os gambás que não nos interessam, porque não nos fornecem aparentemente absolutamente nada, tanto direta quanto indiretamente.

E se o gambá em questão, por acaso, resolve comer algumas galinhas, aí é que a coisa fica mais feia e desanda de vez, porque desta forma, o gambá, além de inútil, passa ainda a ser visto como um inimigo cruel, que come as pobres galinhas amigas. E o que é pior, nessa situação o gambá inútil ganha ainda outro adjetivo mais desagradável, pois passa ao “status” de “animal nocivo”, que é bem mais degradante e ofensivo do que inútil, porque indica que o animal em questão é útil para causar danos e prejudicar a espécie humana.  Assim, ele é muito mal visto e por isso mesmo é caçado e destruído sem nenhuma cerimônia e sem nenhuma justificativa. Isto é, ele é perseguido apenas por ser um gambá e ser entendido como um animal prejudicial aos interesses do homem.

Considerando que a Educação Ambiental é hoje a expressão de ordem nos projetos ambientais e educacionais é inadmissível que ainda existam professores com essa visão errada da realidade natural e passando e reforçando esse tipo de informação arcaica e absurda aos seus alunos. Esse fato é pior ainda, quando se está num país de grande Biodiversidade. Aliás, sempre é bom lembrar, que o Brasil é o país que detém a maior Biodiversidade do planeta, com cerca de 20% das espécies vivas da Terra e que isso certamente é nossa maior riqueza. Entretanto, para quem pensa em utilidade dos animais, países como o Brasil, tendo muita diversidade biológica, têm muito animal inútil que devem ser destruídos em prol daqueles que nos interessam, os animais úteis.

Essa questão de utilidade dos animais, que nem de longe pode ser considerada verdadeira, foi por mim abordada num trabalho que publiquei há precisos 17 anos atrás (LIMA, 1997), mas parece que ninguém leu, ou ninguém estava muito interessado nesse assunto naquele momento e até hoje continuam desinteressados, porque de lá para cá quase nada mudou acerca dessa questão. Talvez, naquela época a Educação Ambiental ainda não estivesse na “moda”, Biodiversidade ainda fosse coisa estranha e Sustentabilidade fosse uma palavra do outro mundo. Porém, hoje, não dá mais para entender que as escolas primárias continuem falando em animais úteis e inúteis para as crianças, principalmente quando se enfatiza a necessidade de destaque e apoio à Educação Ambiental e à Sustentabilidade através de todas as formas pedagógicas.

Naquele artigo, de 1997, eu já dizia que: “é preciso mudar essa mentalidade drástica de que os animais são bens da natureza doados por Deus ao homem, para sua utilização”. Certamente esse trecho especificamente ninguém leu, ou se alguém até leu, então deve ter pensado que eu era mais um louco blasfemando contra Deus. Que fique claro: não sou contra Deus e nem estou louco. Entretanto, eu insisto que temos que abandonar totalmente essas ideias de “animal útil” e de “animal nocivo”, o mais rápido possível, principalmente nas escolas de ensino fundamental. Esse é uma atitude preponderante para que possamos produzir homens melhores, no que diz respeito ao relacionamento com os demais organismos vivos e para que possamos tratar a todos, particularmente os animais, como sendo organismos fundamentais ao desenvolvimento e à manutenção da vida no planeta. É bom lembrar que biologicamente nós humanos também somos animais e eu ainda não sei muito bem se somos úteis ou inúteis à natureza e ao planeta.

Todas as espécies animais e também vegetais, sem exceção, são de alguma forma importantes para o planeta, senão a natureza não as teria selecionado evolutivamente e assim elas simplesmente não existiriam, ou se tivessem existido, talvez já tivessem sido naturalmente extintas. Desta maneira todas elas são necessariamente úteis ao planeta, independentemente do grau de relacionamento ou de proximidade que possam ter com os seres humanos ou mesmo dos benefícios que possam produzir para a nossa espécie. É isso que precisa ser dito, ensinado e reforçado cotidianamente às nossas crianças nas escolas.

Essa nossa antiga conceituação sociológica de que existem animais úteis e inúteis precisa ser esquecida e apagada de uma vez por todas dos planos de ensino escolares. É preciso que as crianças sejam mais bem esclarecidas, para que se possa evitar problemas mais sérios no futuro, principalmente no que diz respeito às espécies ameaçadas de extinção, as quais se forem mesmo consideradas “inúteis” se extinguirão muito mais rapidamente, pois o homem pensando na sua inutilidade trabalhará no sentido de exterminá-las mais cedo. É óbvio que esse fato, se vier acontecer, trará consequências ecológicas drásticas. Talvez devêssemos arrumar outra terminologia para tratar os “animais úteis”, por exemplo: “animais de interesse antrópico” ou “animais de particular interesse humano”. A nossa apropriação despótica da natureza precisa ser ensinada às crianças de uma maneira mais realista e, ao mesmo tempo, mais crítica, em função dos nossos extremos descuidados éticos e desmandos históricos com a vida silvestre dos demais organismos vivos, em particular com os nossos “irmãos” mais próximos, os animais.

De qualquer maneira teremos que conseguir outro mecanismo para determinar os animais que possam nos interessar mais prioritária e diretamente, porque nos fornecem alguma coisa de aplicabilidade imediata aos nossos interesses. Entretanto, teremos que fazer isso sem deixar de ressaltar a importância desses animais e também dos demais animais para a continuidade da vida no planeta, lembrando que na natureza não existem organismos vivos “inúteis”.

A meu ver, se existirem entidades biológicas inúteis aqui na Terra, devem ser apenas algumas formas de seres humanos que continuam pensando e agindo dessa maneira ignorante e ilógica em relação aos animais. Isto é, buscando padrões particulares de interesse nessa ou naquela espécie animal e assim ampliando as possibilidades de se dizimar as populações das demais espécies porque não encontram aplicabilidade antrópica imediata para as mesmas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica

LIMA, L. E. C., 1997. A Educação Ambiental e a Utilidade dos Animais: um Contrassenso Sociológico e Naturalístico, Ângulo, Lorena, (67): 6-8.

*Artigo anteriormente publicado no Portal do Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br – Código do Texto T2540866), em 06/10/2010, sendo devidamente modificado e atualizado para esta publicação.

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23 nov 2014

Consumo e Costumes Errados

Resumo: Nossa abordagem está mais uma vez relacionada ao consumismo e suas consequências desagradáveis ao planeta e a nós mesmos. Dessa vez estou me atendo um pouco mais a respeito da influência nefasta da mídia sobre a opinião pública incentivando cada vez mais o consumo e, por outro lado estou chamando a atenção para as respostas catastróficas que o planeta tem dado em relação às nossas ações. Além disso, estou sugerindo uma mudança de hábitos urgentemente para garantirmos nossa continuidade aqui na Terra.


Consumo e Costumes Errados

Não sei o porquê, mas nós humanos temos naturalmente uma tendência a nos atrairmos pelo que é belo e fútil e de nos esquecermos das coisas não tão belas, mas que muitas vezes são úteis e extremamente necessárias. Nossa dificuldade em entender e discernir entre o que é necessário e o que é acessório parece ser cada vez mais incontrolável e assim a maioria de nós se acostumou a simplesmente continuar consumindo as coisas, havendo ou não necessidade. Parece que consumimos pelo simples prazer de consumir ou que assumimos um terrível vício compulsório de consumir indefinida e desesperadamente.

O homem, particularmente aqui, do lado ocidental do planeta, histórica e independentemente do país e do regime político imperante no local onde ele esteja, quase sempre consome de forma errada, ou seja, contra os seus próprios interesses econômicos e principalmente contra os interesses ecológicos planetários. Entretanto, embora tardiamente, parece que mais recentemente, alguns de nós estamos acordando para esse detalhe importante e tentando nos redimirmos dessa situação comprometedora que criamos para nós mesmos e que tem favorecido cada vez mais ao aumento da degradação ambiental e do desperdício e que consequentemente tem posto o planeta e a nossa espécie em risco cada vez maior.

Nosso hábito de consumir, por si só, já não é algo que mereça muito crédito, porque quase sempre consumimos de maneira errada. Além disso, quando se trata de consumir exageradamente e esbanjar recursos naturais sem nenhum critério, o consumo passa a ser uma ação drástica e temerária aos interesses planetários. Na maior parte do mundo ocidental, o capitalismo incentivou tanto o consumismo, que ficamos reféns da necessidade do consumo para continuarmos a manter os empregos e a suficiência econômica.

Temos visto de tudo ó que é possível para o incentivo ao consumo. A Propaganda e o “Marketing” nos ludibriam e entram nas nossas casas nos impelindo a consumir. As crianças têm sido os alvos principais para convencer os mais resistentes ao consumo exacerbado e assim quase ninguém resiste. Infelizmente ainda não temos uma legislação específica que possa coibir esse crime contra a sociedade, mas isso precisa existir brevemente.

É bem verdade que o homem como qualquer espécie planetária precisa de alimentos e de território. Além disso, nós humanos, também precisamos mais especificamente comer, beber, morar, descansar, construir e vestir. Entretanto, não precisamos comer a comida mais cara todos os dias, beber as bebidas mais sofisticadas todos os dias e muito menos comprar roupas novas todos os dias ou ter duas ou mais casas para morar. Mas, é assim que a maioria de nós age, não se satisfazendo com o que tem e querendo sempre ter mais, independentemente de sua necessidade individual, ou mesmo familiar. Assim, o consumo não para. O planeta, as demais espécies vivas e os futuros humanos (aqueles que ainda não nasceram) que se danem para suportar a nossa pressão exploratória e o impacto ambiental progressivo e insano que temos causado a todos.

Estamos viciados em consumir recursos naturais, independentemente de avaliarmos a verdadeira necessidade de quaisquer que sejam esses recursos. Hoje já acabamos com alguns recursos naturais não renováveis, já estamos quase ultrapassando o limite de 50% daquilo que é possível ao planeta regenerar naturalmente, ou seja, os recursos renováveis, e estamos prestes a não conseguir os níveis mínimos de suprimento alimentar e de água potável que precisamos para sobreviver, pelas mais diversas situações.

Agora o planeta também já está cansado e não aguenta mais a nossa pressão exploratória e a nossa apropriação indevida. Alguns alimentos já começam a faltar, a água está ruim e está até mesmo escassa ou ausente em várias regiões. Muitas matérias primas já desapareceram totalmente e outras estão com os dias contados.

Como vamos fazer? Continuaremos comprando bolsas, tênis, sapatos e vestidos, mas morreremos de fome e sede? Continuaremos comprando vinhos e cervejas, mas morreremos de sede? Continuaremos comprando casas e carros, mas não teremos onde morar?

A situação está efetivamente muito complicada. Temos tudo por um lado e não temos nada por outro. O “rei consumo” e o “príncipe dinheiro” não nos permitem resolver as questões mais fundamentais para continuarmos a nossa existência, exatamente porque consumimos mais do que podíamos e muito acima do que devíamos.  Agora nosso caminho, que sempre seguiu na contramão dos interesses planetários, segue também na contramão de nossos próprios interesses como espécie viva. Não sabemos mais se conseguiremos resistir às pressões que nós mesmos impusemos ao planeta e a nós mesmos longo da história. Até porque o planeta também já vem reclamando e, de várias formas, ele está nos dizendo: “parem que eu não aguento mais”.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence”. Será que é isso mesmo ou será que nós mesmos deveríamos ser os protagonistas de nosso futuro. Deus talvez nem saiba ao certo sobre todos os males que temos causado ao nosso “planetinha azul”. De qualquer maneira, o futuro está aí batendo à nossa porta e nós estamos com medo de abri-la, porque não sabemos mais o que vai acontecer, pois perdemos o norte e não temos mais controle sobre a maioria das coisas. O aquecimento global é um fato que está aí. As catástrofes e eventos extremos são cada vez maiores e mais significativas. Os desastres ambientais matando seres humanos são cada vez mais comuns.

Em suma, considerando que somos a única espécie pensante e capaz de mudar, precisamos trabalhar no sentido de rever a nossa lógica de prioridades e voltar, enquanto ainda há tempo, para critérios que satisfaçam ao planeta, aos demais organismos vivos do planeta e a nós humanos, pois se mudarmos esta ordem de critério não teremos mais saída desta cilada em que nós mesmos nos inserimos. O uso de recursos naturais tem que ser feito a partir da efetiva necessidade desses recursos, para o nosso bem e principalmente para o bem do planeta e das gerações futuras. É preciso mudar costumes e gerar novas formas de consumo, que considerem prioritariamente a sustentabilidade planetária como mecanismo único a ser levado em consideração.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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19 nov 2014

Apesar da chuva, nós continuamos sem água

Resumo: Nossa abordagem dessa vez está relacionada ao grave problema que temos encontrado nesses últimos meses com relação à crise instalada por conta da carência de água. O atual desaparecimento da água no Sudeste, em especial no Estado de São Paulo tem causa conhecida, que é o desmatamento na Amazônia e assim, não é culpa particular de ninguém, ao contrário ele é o resultado coletivo do desleixo histórico com o meio ambiente e da pouca importância que nossa cultura deu a água, por conta de existir grande quantidade desse líquido precioso em nosso país. Assim, estamos vivendo uma situação difícil e estamos dependentes de fato de mais chuvas, até porque nada fizemos para o momento em que ela efetivamente faltasse, como está acontecendo atualmente.


 Apesar da chuva, nós continuamos sem água

As chuvas voltaram, mas lamentavelmente a água ainda não. Essa frase que parece ser um tremendo contrassenso, infelizmente é uma grande verdade. O pior é que, ao que está parecendo, tão cedo a água voltará, apesar das chuvas estarem aí, inclusive já virem castigando bem algumas áreas do estado, em particular alguns bairros da capital. Ora, se temos chuvas e continuamos não tendo água é porque alguma coisa está muito errado. Pois então, eu quero dizer que esse erro é histórico. A questão da água na grande São Paulo é um problema de mais de 100 anos e não é culpa desse ou dos últimos governos isoladamente, embora possa ser de todos eles coletivamente. Isto é, cada um tem a sua parte de culpa no processo. Mas, com certeza, os governos não são os únicos culpados.

Na verdade a coisa vem se perpetuando ao longo da história faz muito tempo, porque de fato, por uma questão cultural, nós brasileiros nunca demos a devida importância ao recurso natural água. Em nossa cultura, fomos ensinados e aprendemos que “a água cai do céu e vem de Deus” e também sabemos que Deus jamais pensaria em nos deixar sem esse líquido precioso. Por outro lado, além disso, aprendemos em Geografia, que o Brasil é o país do planeta que mais possui água em estado líquido e assim água nunca seria um problema nesse país, pois para acabar a água no Brasil, já teria que ter acabado no resto do mundo. Mas, a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97), que está em vigor desde 1997, diz que “a água é um bem de domínio público e um recurso natural dotado de valor econômico” e portanto, nós precisamos reavaliar os nossos conceitos em relação a esse recurso natural tão precioso.

Exageros à parte, quando se fala de acabar a água, na verdade estamos cometendo um erro extremamente absurdo, porque a água existente no planeta jamais vai acabar. Ou melhor, quando a água acabasse, se isso efetivamente fosse possível de acontecer, certamente toda a vida no planeta já teria se extinguido e nós humanos seríamos, muito provavelmente, os primeiros a desaparecer da Terra se acontecer mais uma extinção em massa, porque somos possivelmente a espécie planetária mais dependente de todas. É bom lembrar que só existe vida na Terra, porque existe água no planeta, isto é a vida no planeta é dependência e consequência da água.

Entretanto, certamente ainda estamos muito longe do fim da Terra, ao menos por conta da carência de água, pois a água, embora em sua grande maioria salgada (97,2%), continua abundante no planeta. O que tem acontecido é que nós, os seres humanos, temos feito, ao longo da história, é simplesmente modificado, para pior, a qualidade natural da água e também temos mudado os cursos da água na natureza. Embora eu tenho certeza que está muito longe o fim da Terra, não tenho tanta certeza que esteja tão longe assim o fim da espécie humana, mas essa é uma outra questão que não vou discutir no momento.

Aqui cabe esclarecer que a expressão mudar os cursos da água na natureza, utilizada anteriormente, não se refere especificamente às mudanças feitas nos curso dos rios (embora isso também interfira na questão), mas sim, na mudança efetiva do ciclo natural da água como um todo, porque temos produzido significativas modificações nesse mecanismo e assim temos mudado geograficamente a ocorrência e consequente distribuição da água na Terra. Esses dois aspectos, a transformação físico-química da água e a sua mudança de rota na natureza são os fatores quem têm nos trazido muita dor de cabaça e atual carência de água em algumas regiões.

Ainda que talvez não fosse necessário, porque acredito que todos nós saibamos desse fato, mas devo dizer, até para reforçar, que a quantidade de “água doce” é apenas 2,8% de toda a água existente no Planeta e que apenas uma parte ínfima desses 2,8%, inferior a 1% desse total, podem ser utilizados pelos humanos como fonte de água potável. Vejam bem, agora chegamos ao problema verdadeiro, o que está acabando não é a água, o que está acabando é a água que interessa ao humano, porque essa tem ficado cada vez mais rara e mais difícil, em função das próprias atividades desenvolvidas pela humanidade, que geram mudanças físicas e químicas na qualidade (poluição) e mudanças físicas (falta de chuvas) no ciclo da água em algumas regiões.

Aqui na grande São Paulo, como de resto em todo grande centro populacional humano, essas modificações são mais acentuadas e assim os efeitos também são mais facilmente sentidos, principalmente porque aparentemente antes nunca havíamos tido problemas relacionados com a escassez de água. Obviamente, em regiões onde a quantidade de água já era historicamente baixa, a sua carência certamente foi menos sentida do que em regiões onde ela era abundante. Por exemplo, não é novidade faltar água na região do polígono das secas no Nordeste Brasileiro, mas é novidade faltar água na Serra da Mantiqueira, cujo nome significa “Mãe das Águas”, em consequência de tanta água que lá existia.

Pois então, estamos exatamente nessa situação, nesse momento novo, o momento de faltar água, onde nem se podia imaginar que isso fosse possível, porque simplesmente não tem chovido o necessário para manter a água naquele local. Mesmo com as chuvas, a retirada ainda está sendo maior do que a entrada. Mas, afinal, o que aconteceu? Será que São Pedro brigou com São Paulo? Ou será que Deus se esqueceu do Brasil?

Infelizmente eu devo dizer que não ocorreu nada de anormal e que nem São Pedro e muito menos Deus, nenhum dos dois certamente não têm nada a ver com isso. Na verdade o único culpado é o ser humano que habita a região da grande São Paulo, que acabou com quase todas as florestas, modificou curso dos rios e canalizou alguns deles, impermeabilizou o solo, contaminou os lençóis freáticos, fechou olhos d` água e nascentes, aumentou a temperatura do ar e a evaporação, jogou porcarias das mais diversas na água e que NUNCA se preocupou com isso. Dessa maneira a água foi “desaparecendo” progressivamente, até que sumiu. Um belo dia ela “saiu para comprar cigarros e não voltou”, como diz a lenda.

Esse desaparecimento vem acontecendo faz muito tempo, mas a grande São Paulo, a capital do maior e mais desenvolvido estado brasileiro, não pode parar de “crescer” (inchar) e assim “nunca se teve oportunidade” de trabalhar essa questão. Historicamente, o que se fez foi o seguinte: toda vez que parecia que ia acontecer algum problema relacionado com a carência de água, os administradores públicos mandavam buscar água em outra localidade, cada vez mais longe. Assim foram surgindo os diferentes mananciais de São Paulo. Entretanto, nunca se procurou saber e muito menos controlar as verdadeiras causas da carência de água que acontecia.

Hoje estamos numa encruzilhada do tempo e numa sinuca de bico da história, pois não dá mais para buscar água mais longe, porque vai custar muito caro trazer essa água (trazer água do Rio Ribeira de Iguape) ou porque a água já está comprometida com outras localidades (água do Rio Paraíba do Sul que vai para o Rio de Janeiro). Além disso, todas as medidas emergenciais até aqui anunciadas são paliativas e certamente não irão resolver o problema. Então, como fazer?

Só existe uma saída e esta saída remonta em voltar na História e fazer o dever de casa que não foi feito lá atrás. É preciso estudar um mecanismo que garanta a água para todos e esse mecanismo talvez passe por ter que fazer São Paulo parar de “inchar”, a exemplo do que acontece em Londres, que vem diminuindo a sua área. Além disso, obviamente, deve ser controlado o eterno desperdício de água que ocorre naquela área, onde se joga fora 34% de toda água já tratada, por conta de “gatos” (ligações clandestinas), vazamentos e os inúmeros usos indevidos. Por fim, também é fundamental que se promova o uso da água dentro de condições compatíveis com a realidade local, que hoje é de uma região carente de água e que não pode mais achar que água vem do céu e que Deus vai resolver tudo. Usar racionalmente talvez seja a única alternativa viável ao racionamento da água.

Estamos em São Paulo, aqui temos a maior população do país, a maior universidade do país, a maior agência ambiental do país (uma das maiores do mundo), o maior centro de pesquisas meteorológicas do país (um dos maiores do mundo) e não podemos mais achar que Deus ou São Pedro vão resolver os nossos problemas físicos, químicos e muito menos a ocupação dos nossos espaços urbanos. Não é possível morar tanta gente numa área de manancial como ocorre no entorno da Represa de Guarapiranga, por exemplo. Não é possível achar que buscando água mais além vai se resolver o problema. Temos que usar a ciência e principalmente a consciência para resolver a questão.

Não dá mais, independentemente dos governos, acharem que medidas paliativas vão resolver os problemas, porque a gente sabe que na verdade só estaremos adiando a morte e produzindo problemas maiores para o futuro. No que tange a água, estamos fazendo coisas erradas há mais de 100 anos e possivelmente no início não conhecíamos os nossos erros, mas hoje nós sabemos o que está errado e não podemos de maneira nenhuma continuar errando mais. É preciso ter coragem para dar um basta nessas coisas absurdas que estão aí e começar a mudar o quadro para que São Paulo possa subsistir no futuro com as próprias pernas.

A propósito Deus e São Pedro já estão fazendo a parte deles, porque já está chovendo novamente, mas agora é preciso que nós façamos a nossa parte. Comecemos encarando o problema de frente e aceitando que precisamos mudar a nossa maneira de tratar o recurso natural água e já estaremos fazendo alguma coisa mais útil do que se viu até agora. Vamos parar com esse nosso comportamento histórico semelhante aos bombeiros, isto é, nós até aqui só agimos apagando incêndios, mas agora a realidade terá que ser outra, até porque sem água não seremos capazes de apagar mais nenhum incêndio.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 nov 2014

Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Resumo: Nosso texto desse sábado diz respeito ao consumismo e suas consequências maléficas à Sustentabilidade e assim à humanidade e ao planeta como um todo. O consumo exacerbado da sociedade moderna precisa ser freado para que os recursos naturais possam ser preservado para as gerações futuras. O poder excessivo de compra precisa ser, de alguma maneira, controlado e o consumo deve limitar-se ao necessário. Nossa cultura esbanjadora necessita ter um fim, antes que seja tarde. A Sustentabilidade e Consumo Excessivo são coisas totalmente antagônicas e se quisermos efetivamente uma delas, teremos que abri mão da outra.


Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Ultimamente o que mais se ouve falar são as expressões Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Entretanto, essa coisa de Desenvolvimento Sustentável, além de não ser tão simples assim, ainda esbarra no forte interesse comercial imperante e no consumismo consequente desse interesse. Infelizmente, embora seja necessária, a Sociedade Moderna ainda não está preparada para a verdadeira Sustentabilidade.

Como é possível falar em Sustentabilidade se os padrões de produção e consumo continuam sempre aumentando indiscriminadamente, se a população continua aumentando descontroladamente, se o lucro continua sendo o objetivo primário de toda a Sociedade? Ora, como falar de Sustentabilidade sem pensar em Conservação de Recursos Naturais? Como falar de Sustentabilidade se só pensamos em gerar energia inundando lugares ou queimando alguma coisa, ou ainda, o que é pior, fundindo núcleos de átomos radiativos? Como falar de Sustentabilidade sem objetivar o controle de resíduos? E principalmente, como falar de Sustentabilidade sem conter o Consumismo exacerbado que se instalou no mundo, por conta de uma visão caótica e deturpada da realidade planetária e de uma cultura errônea e autodestruidora?

A maioria de nós, humanos, somos manobrados e ludibriados por interesses estritamente econômicos e fazemos exatamente o que esses interesses querem. Fazemos dos desejos deles, os nossos desejos e assim somos marionetes na mão dos grandes grupos econômicos, que só objetivam o lucro. Nossas casas são invadidas todos os dias por uma infinidade de propagandas, a maior parte delas mentirosas, e nós como ovelhas desgarradas do bando não resistimos à tentação, somos levados a fazer aquilo que não devemos e o lobo nos engloba e se alimenta de nossa carne. O pior é que muitos (infelizmente a maioria) de nós, ainda acham que isso é um bom negócio.

Talvez o meu exemplo, o predatismo do lobo com a ovelha, não seja o melhor exemplo para explicar o que realmente acontece, por dois motivos: primeiro porque o lobo mata a ovelha imediata e instantaneamente para se alimentar; segundo porque que o lobo só mata a ovelha para porque precisa comer para sobreviver. Um exemplo de parasitismo, talvez seja mais verdadeiro. Pense numa solitária que cresce quase que indefinidamente dentro de um homem, mas que não quer matá-lo, porque a morte do homem é a sua morte também. Assim a solitária vai minando o homem, até que ele acaba mesmo morrendo, porém numa situação doentia deprimente e a solitária já viveu bastante para reproduzir milhões de filhos. A propaganda faz exatamente isso conosco, ela não quer nos matar, pois depende de nós e assim acaba nos matando vagarosamente, tirando tudo que pode até que ficamos à míngua, enquanto ela engordou e se multiplicou.

A ideia de Sustentabilidade requer atitudes harmônicas e assim, depende de ações mutualísticas entre os envolvidos, um ajudando o outro para que todos se mantenham vivos no ambiente e não um destruindo o outro. Não é à toa e nem é uma coincidência que o Desenvolvimento Sustentável seja um mecanismo ecologicamente correto e benéfico, isso é uma necessidade natural que só agora, alguns de nós, estamos começando a compreender. A natureza é harmônica e nós antes de tudo somos seres naturais e por isso precisamos estar em harmonia com o planeta. Temos que tirar os recursos que precisamos para viver como as demais espécies vivas e nada mais, além disso. Entretanto, somos egocêntricos, esbanjadores, compulsivos, alienados, ambiciosos e não conseguimos pensar no interesse coletivo de nós mesmos, de nossos descendentes, das demais espécies e do planeta como um todo.

Vejam bem, a própria noção de Sustentabilidade envolve a necessidade de manter o mundo com qualidade de vida para nós e principalmente para os que ainda virão. Entretanto, como conseguir esse intento, se mesmo a nossa qualidade de vida atual está ameaçada por conta dos erros históricos que temos cometido e que, infelizmente, ainda continuamos a cometer?

A ideia de Sustentabilidade guarda, em seu bojo, alguns atributos interessantes, os quais vão desde a redução dos usos de recursos naturais e minimização dos gastos energéticos, passando pela diminuição da ostentação, do uso de supérfluos e pela derrubada no consumismo, até atingir a redução progressiva do fluxo econômico. Essas coisas dependem fundamentalmente de menor consumo individual e coletivo.

As pessoas têm que pensar menos economicamente e mais naturalmente, ou seja, o poder econômico, representado pelo dinheiro, tem que dar lugar ao verdadeiro poder das coisas naturais, pois estas sim é que têm valor. Para tanto temos que mudar a filosofia de vida predominante na humanidade e certamente essa não é uma tarefa fácil. Aliás, essa tarefa, embora seja necessária, aparentemente é impossível de ser conseguida, principalmente por conta do nosso modo de vida atual. Quer dizer, não é fácil pensar em Sustentabilidade da maneira como a grande maioria dos humanos é levada a ver e entender o mundo atualmente.

No mundo globalizado, falar em diminuir consumo é criar um grande problema, é tentar produzir o maior obstáculo à Economia, porque manter o consumo aquecido é a grande sacada da globalização. Produzir mais, para vender mais, por preços menores e se possível para todos é o grande objetivo. É por conta disso que os produtos acabam ficando escassos no mercado e assim se desenvolvem novos produtos, cada vez um pouco menos obsoletos que substituem os anteriores indefinidamente. O mercado não pode parar de crescer, a tecnologia não pode parar de se sofisticar, novos produtos precisam nascer e a população precisa comprar esses produtos, para que outros produtos possam ser desenvolvidos.

Em suma, nunca se pensa no homem como espécie viva, no planeta como casa de todos e muito menos nas demais espécies com quem dividimos a nossa casa. O pensamento exclusivo é na manutenção do mercado, que gera recurso econômico para continuar mantendo o próprio mercado. O dinheiro só trabalha pelo dinheiro. É bom lembrar para todos que dinheiro não tem vida e para os mais religiosos que ele também não tem alma e nem espírito. Por que não fazemos a mesma coisa que o dinheiro faz e não passamos a trabalhar por nós mesmos, ao invés de trabalharmos também pelo dinheiro?

Infelizmente, a tecnologia tem sua parte de culpa, quando não para de criar e se desenvolver, pois os produtos novos, as novidades, são os maiores chamariscos ao consumo e lamentavelmente nós não paramos de lançar produtos novos no mercado. A tecnologia, que também é um produto do homem, deveria ser utilizada em benefício do homem e não do dinheiro. O “Homo economicus” está mascarando o “Homo faber” e ambos estão destruindo o Homo sapiens e todo o planeta.

O Consumismo é o pior mal da humanidade e para o planeta, porque ele nos mata com nossa autorização, ele destrói o planeta com nossa anuência. Nós, Homo sapiens, deixamos de lado a nossa pretensa sabedoria e voltamos à condição de nosso ancestral mais primitivo o Australopithecus afarensis, pois estamos literalmente enfeitiçados, como seres ignorantes, pelo mal do dinheiro. É difícil para a maioria dos humanos entender que dinheiro não vale nada. O dinheiro é apenas um simbolismo, o que vale é cada um dos diferentes tipos de recursos naturais que necessitamos para viver.

O pior é que o tempo urge e nós não temos agido da melhor maneira possível para mudar o quadro e tentar reverter essa situação. Continuamos falando de Sustentabilidade, mas até aqui, a maioria dos humanos não está, de fato, trabalhando nesse sentido e enquanto continuarmos a priorizar o dinheiro estaremos, cada vez, mais longe da Sustentabilidade e do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável.

É fundamental que controlemos o consumo, controlando a produção bens artificiais, impedindo o crescimento população, minimizando o uso dos recursos naturais, decrescendo progressivamente a necessidade de energia, reduzindo significativamente a quantidade de resíduos e principalmente que respeitemos o planeta e a vida daqueles que ainda virão e que têm direito a viver num planeta saudável. Eles não precisarão de dinheiro se lhes dermos um planeta vivo e se começarmos a demonstrar que é possível viver sem consumo excessivo e sem dar valores sobrenaturais ao dinheiro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 nov 2014

O Meio Ambiente do Homem

Resumo: Nesse sábado temos mais uma publicação no ar, trata-se de um texto que pretende discutir sobre as funções da espécie humana no planeta e propor alguns princípios básicos que sirvam para permitir o estabelecimento de critérios iniciais para definir tais funções. Na verdade, o texto é uma abordagem filosófica que tenta desmistificar o homem como Senhor da Natureza e demonstrar a sua condição de simples organismo vivo como os demais habitantes planetários.


 O Meio Ambiente do Homem

A espécie humana é uma das mais recentes na superfície do planeta e sendo assim, quando ela surgiu aqui na Terra a grande maioria das espécies, senão todas, já existiam e já ocupavam os seus respectivos lugares (habitats) e nichos ecológicos dentro dos diferentes ecossistemas no planeta. Do ponto de vista estritamente ecológico, parece ser razoável supor que com a espécie humana essa situação não tenha sido diferente. Isto é, quando nossa espécie surgiu, ela também deveria ter o seu nicho ecológico específico para ocupar num determinado ecossistema.

Entretanto, qual é, ou melhor, qual terá sido esse primitivo nicho ecológico humano? Será que temos condições de responder essa pergunta e todas as que dela decorrem? Se tivermos, porque parece que nos afastamos tanto desse nicho específico e primitivo? Por que simplesmente passamos a interferir em tudo ou quase tudo no planeta? Somos efetivamente uma espécie degradadora e surgimos apenas para isso, ou seja, o nosso nicho é realmente destruir os demais? Enfim, qual a função do Homo sapiens na natureza?

Essa última questão é sem dúvida uma pergunta muito difícil, talvez até impossível de ser respondida, haja vista que temos muitas dificuldades, sobre esse entendimento mesmo no que se refere as demais espécies vivas. Para muitos a função natural de determinadas espécies não está muito bem esclarecida. Por exemplo, eu já ouvi inúmeras vezes a seguinte pergunta: “Professor, para que serve a barata?”. Essa é uma questão muito complicada de ser respondida, porque na simples opinião de grande parte dos humanos, a barata não serve para nada e por isso mesmo, não deveria existir.

Baseado nessa premissa errônea, inicialmente eu chamo a atenção para o fato de que a natureza não investiria em produzir algo que não servisse para nada e se os processos evolutivos naturais propiciaram o aparecimento de organismos como as “baratas” é porque de alguma maneira existe alguma importância na existência desses organismos. Tudo o que existe tem função na natureza e com as “baratas” certamente esse fato não é diferente.

Depois dessa premissa chamativa, eu continuo dizendo que, embora sociologicamente as “baratas” pareçam não servir para nada, naturalisticamente as espécies de animais daquele grupo que chamamos genericamente de “baratas” compõem um grupo muito importante de animais que se utilizam de detritos como fonte de alimentos e por isso mesmo ocupam ecossistemas onde os resíduos orgânicos aparecem em grande quantidade. Acredito que os meus alunos, embora se calem e até se deem por satisfeitos, ainda não conseguem entender isso muito bem. Eu mesmo tenho minhas dúvidas se apenas isso é satisfatório, principalmente se for considerado que a noção sociológica que geralmente se tem sobre as “baratas” é a daqueles “bichinhos nojentos” que, de vez em quando, aparecem na casa do homem.

Por outro lado, aproveito para chamar a atenção de que as “baratas”, por conta de suas vidas em ambientes “sujos”, também são animais de grande importância, porque são capazes de transportar e transmitir microrganismos produtores de moléstias em vários outros organismos vivos, inclusive animais domésticos e seres humanos. Nesse último sentido, também acabo chamando a atenção para a importância antrópica e social das “baratas”, haja vista sua relação com os humanos e com a sujeira (o lixo) que nós produzimos.

Enfim, eu não sei se resolvo todo problema, porém, embora impreciso, consigo me sair relativamente bem e dou alguma satisfação verdadeira sobre a pergunta do meu aluno, o qual acaba por aceitar minha resposta, ainda que possa ficar com alguma dúvida ou com certo grau de desconfiança das minhas informações.

Mas, agora imaginem que a pergunta feita pelo meu aluno tenha sido a seguinte: “Professor, para serve a espécie humana?” Efetivamente, do ponto de vista ecológico, eu confesso e acredito que não saberia responder especificamente para que serve nossa espécie e para responder essa pergunta, talvez eu produzisse uma resposta evasiva qualquer, ou então me ativesse mais aos valores sociológicos e até mesmo religiosos para tentar me livrar um pouco da “saia justa”.

Ou ainda, o que é muito mais provável, eu desconversaria e sairia pelo lado filosófico ou mesmo satírico. Diria que esta é realmente a grande questão humana, saber para que nós servimos aqui no planeta, haja vista que, da mesma forma que a “barata”, parece que não servimos para nada, além de degradar a Terra e de atrapalhar as demais entidades vivas do planeta.

Mas é exatamente aí que vem a questão maior: por que eu faria isso para responder a pergunta? Ou seja, por que eu não sou capaz de responder essa questão, aparentemente simples, além de muito clara e objetiva? Em, outras palavras, o que nós temos de tão diferente das demais espécies, que não possuímos condições, ou talvez não queiramos ter condições, de nos definir do ponto de vista natural?

Posso estar errado, mas creio que isso se deve, num primeiro momento, simplesmente ao fato da espécie humana interferir em tudo o que acontece no planeta e assim, não é possível saber, ao menos a priori, qual seria sua função precípua na natureza. Até porque, talvez a resposta esteja mesmo fora do limite físico e assim talvez não seja mesmo possível, para nós humanos, respondermos satisfatoriamente a questão, por mais que pudéssemos tentar.

Eu tenho andado bastante preocupado com esse fato e tenho pensado muito sobre essa questão. Até acredito que deve ser possível dar uma resposta satisfatória, assim como no caso da “barata”, desde que nos preocupemos em tomar algumas providências básicas. Sendo assim, gostaria de tentar responder essa pergunta e embora eu ainda não tenha uma resposta precisa, tenho algumas convicções (Quem sabe sejam apenas palpites?) sobre o assunto, as quais eu entendo que possam nos levar a verdadeira origem de nossa incapacidade de responder a questão e gostaria de dividir essas convicções aqui com o leitor. Vejo que precisamos investir, assumir e compartilhar 5 (cinco) princípios (regras) fundamentais para começarmos a caminhar na direção certa da resposta que buscamos.

Primeiramente eu acredito que o que vale para as demais espécies valha também para nós humanos, até porque temos o mesmo princípio biológico de qualquer organismo vivo. Sendo assim, temos que ter uma explicação lógica e biológica para a nossa existência como as demais criaturas vivas e temos que assumir essa explicação como base de nossa existência e fundamento de nossa continuidade orgânica. Do contrário, estamos fadados a extinção precoce. A regra é a seguinte: “como somos semelhantes a qualquer organismo vivo, temos que aprender com a natureza”.

Segundo, nós humanos historicamente temos sido orientados (obviamente por outros humanos) de maneira errada e assim nos perdemos no nosso caminho evolutivo primário e não conseguimos voltar aos trilhos. Desta forma é fundamental que identifiquemos quais são esses humanos que nos levaram aos caminhos errados e descubramos onde o erro começou para podermos retroagir e tentarmos seguir a nossa caminhada evolutiva dentro dos critérios naturais. Qualquer fator contrário a isso deverá ser considerado um impedimento aos interesses a espécie e como tal deverá ser desconsiderado. A regra é a seguinte: “até aqui fizemos muita coisa errada, mas agora somos obrigados a acertar”.

Terceiro, nosso padrão sociológico de pensar e de agir, deturpou a nossa imagem natural e nos fez reféns de princípios secundários e menos importantes para a nossa vida no planeta. A nossa meta precípua deve ser descobrir quais são esses princípios errôneos e descartá-los de nossa conduta como organismos vivos. Penso que alguns desses princípios errôneos já estão até bem conhecidos, porém não parecemos estar dispostos a abandoná-los e necessitamos trabalhar nesse sentido. É preciso ter sempre em mente que nada que implique na nossa piora como organismos vivos deve ser considerado importante para nós. A regra é a seguinte: “como organismos vivos que somos, temos que procurar primeiramente manter a nossa vida”.

Quarto, nossa conduta social deve ser consequência de nossas necessidades naturais e não o contrário, como infelizmente fomos levados a estabelecer e seguir ao longo do tempo. Temos que dar prioridade a vida de nossa espécie como organismos vivos que somos. Qualquer outro fator, em qualquer situação, deverá ser considerado secundário. Pelo bem de nossa espécie e do planeta, não podemos nos dar o direito de errar outra vez. A regra é a seguinte: “temos que considerar que somos organismos naturais, antes de sermos sociais”.

Quinto, o planeta Terra é a nossa única casa e por isso mesmo deve ser também realmente priorizado em todas as ações da humanidade. O homem, como espécie, tem que entender que é a espécie mais dependente do planeta e que precisa trabalhar diuturnamente para manter o status quo planetário, pois disso depende a própria existência de nossa espécie. A regra é a seguinte: “para entender o homem e sua origem, primeiro é necessário entender e manter (salvar) o planeta”.

Em suma, se considerarmos que embora existam vários organismos vivos, só existe uma Biologia; se seguirmos os princípios naturais independente de qualquer tendência antrópica que preconize o contrário; se dermos importância efetiva a nossa vida e das demais criaturas; se manifestarmos nossas condições sociais sempre presas a fatores e necessidades naturais primários e, por fim, se nos preocuparmos efetivamente com o planeta onde estamos, lembrando que ele é o único que temos para viver, tenho convicção que chegaríamos as nossas origens e responderíamos a essa “pergunta mágica” e a todas que dela decorrem.

Entretanto, lamentável e infelizmente, estamos caminhando na direção errada e a resposta assim tem ficado cada vez mais distante e mais difícil. Estamos gradualmente perdendo nossa identidade como espécie biológica viva, estamos nos afastando perigosamente de nossas origens naturais e assim estamos virando máquinas de reproduzir absurdamente, de ocupar incoerentemente os espaços do planeta, de destruir outras espécies biológicas e indivíduos de nossa espécie desnecessariamente, de degradar ambientes e de transformar as estruturas físicas que o planeta levou bilhões de anos para construir, de usar o patrimônio natural apenas para o nosso interesse particular, de vender e de comprar os recursos da natureza como se fossem produtos de liquidação, esquecendo que em última análise esses recursos são nossos semelhantes, porque fazem parte do mesmo todo em que nos encontramos, ou seja, o nosso planeta Terra.

Não quero ser fatalista, mas me parece impossível não ser. Precisamos mudar esse quadro, antes que a questão fique real e totalmente sem solução. Ainda há tempo, mas creio que está faltando muito pouco para o nosso colapso. O pior de tudo é que corremos o risco de nos extinguir sem sermos capazes de tentar responder aquela pergunta. Isto é, seremos a única espécie inteligente do planeta, aquela que foi capaz de entender um pouco sobre as demais. Entretanto, também seremos aquela espécie que se foi sem nunca ter sabido o que deveria ter sido. Mas, eu espero que ainda consigamos acordar do pesadelo que criamos e mudar o quadro, pois acredito que seja possível e continuo querendo saber: para que serve o homem?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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29 out 2014

A Introdução de Organismos e suas Implicações

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta um tema que precisa entrar mais seriamente nas discussões, quando se fala em manutenção da Biodiversidade e o Brasil como país de maior Biodiversidade do Planeta, precisa estar atento a essa questão. A Introdução de Espécies é uma questão séria que compromete bastante os ambientes naturais e não pode mais ser feita aleatoriamente como no passado.  O texto é bastante esclarecedor e apesar de ter sido publicado em 2008, ainda está bastante atual e por isso mesmo está aqui reproduzido na íntegra. Tenho certeza que será do agrado dos leitores.


 A Introdução de Organismos e suas Implicações

A introdução de organismos vivos em diferentes áreas tem sido um problema ambiental muito sério, talvez o mais sério de todos, no que diz respeito ao equilíbrio dos ecossistemas naturais, que tem acompanhado o homem ao longo de toda a sua história. Outrora, o homem levou, daqui para ali várias espécies e assim modificou muitos dos ambientes naturais, principalmente no entorno das vilas, das cidades e mesmo dos pequenos núcleos urbanos, onde as populações humanas se instalaram e se fixaram ao longo do tempo.

Assim, muitos organismos que o homem, desde cedo, aprendeu a cultivar e a reproduzir através da Agricultura, da Pecuária e da Domesticação, começaram também a se estabelecer em áreas diferentes daquelas regiões primitivas e endêmicas onde se originaram e desenvolveram. O cinturão verde, obrigatório à sobrevivência, trouxe as plantas, a necessidade de carne, do leite e dos ovos trouxe alguns animais, por fim, o relacionamento afetivo e a carência física trouxeram outros animais. Isso sem contar que a existência e o crescimento das próprias cidades, além de diminuir progressiva e significativamente os espaços naturais, também permitiu o desenvolvimento de uma série de outros organismos na casa do homem, em todos os lugares do mundo. A Fauna Urbana e Fauna Sinantrópica (associada ao homem) são quase que exclusivamente as mesmas no mundo inteiro, se não são as mesmas espécies, são espécies muito próximas.

O homem espalhou essas espécies pelo mundo afora, tornando muitas delas, artificialmente cosmopolitas e outras exclusivas de regiões totalmente distintas de suas áreas originárias. Raramente esses organismos voltaram à condição silvestre depois da interferência humana, embora haja umas poucas exceções. Sendo assim, a grande maioria desses organismos continua acompanhando o homem e consequentemente, eles não são mais encontrados nas condições naturais.

Mais recentemente, o homem propiciou alguma volta ao processo de introdução de organismos, por conta de necessidades agrícolas modernas, necessidades médicas ou mesmo industriais. Isso tem produzido efeitos, cada vez, mais maléficos aos ambientes naturais, os quais hoje estão extremamente reduzidos. Alguns desses organismos introduzidos são estimulados na sua capacidade reprodutiva, pois há um interesse, geralmente econômico, na sua multiplicação. Desta forma, modificam-se também os ambientes generalizadamente, criando grandes áreas diferenciadas artificiais para permitir a manutenção dessas espécies. Por exemplo, as áreas para criação de gado bovino ou para produção de soja aqui no Brasil.

Algumas vezes, nem há necessidade de se criar mecanismos adicionais, pois as próprias espécies têm recursos especiais que lhes permitem garantir as novas áreas de ocupação. Por exemplo, as populações de Eucaliptos aumentam no mundo todo, enquanto outras espécies diminuem e muitas até desaparecem. Ora, o Eucalipto é uma planta altamente competitiva que impede a presença e o desenvolvimento de outras na área onde vive. Sendo assim, aquele ambiente vai gradativamente mudando, até que só existam Eucaliptos no local. Isso é terrível, tanto ambiental, quanto social, emocional e moralmente, pois é fácil imaginar o que irá acontecer lá na frente. Uma paisagem homogênea, monótona e triste, na qual os animais praticamente desaparecem e cujo solo fica seco, empobrecido e após sucessivos cortes do Eucalipto fica totalmente estagnado e tendendo a desertificação.

Locais urbanos estão cheios de parques, praças e ruas com arborização exótica e com pássaros e outros animais estranhos à nossa fauna. O pardal, por exemplo, está no mundo inteiro e ainda bem que ele prefere as cidades, imaginem se essa espécie de pássaro resolvesse ocupar áreas naturais, o que seria dos pássaros nativos, haja vista o tamanho das populações de pardais.

Aqui no Brasil, além do Eucalipto já citado, temos alguns exemplos clássicos de introdução muito mal sucedidos e que têm comprometido muito o ambiente natural. Por exemplo, o javali no Pantanal e no Rio Grande do Sul; o Caramujo Gigante Africano, tão em moda, introduzido no Paraná e hoje encontrado em quase todo o país; o cavalo em Roraima; a garça carrapateira da Flórida, na Ilha de Marajó, que já chega ao Paraná e vários outros exemplos lastimáveis.

No passado nós pecávamos mais não sabíamos, porque nós não tínhamos conhecimento dos problemas que a introdução de espécies exóticas poderia trazer, mas hoje não podemos mais concordar com certas práticas. Hoje falamos muito em controle biológico, como uma boa maneira de controlar pragas, o que é uma verdade. Mas, isso não pode ser feito aleatoriamente, não e pode sair por aí colocando um animal para comer o outro sem critério e principalmente, sem controle. O risco é muito grande e talvez, lá na frente, determine um problema maior. A perda, cada vez maior, da Biodiversidade e crescente degradação dos ambientes naturais são em grande parte consequências da introdução de espécies.

Vejam bem, a introdução em si não é um mau negócio, porém as consequências ecológicas da introdução é que podem produzir resultados catastróficos, os quais na maioria das vezes não podem ser solucionados. Desta maneira, a espécie introduzida, acaba por adaptar-se ao novo ecossistema, pois vai ocupar um nicho vago ou competir com uma espécie nativa que ocupe um nicho semelhante àquele que ocupava no seu ambiente primitivo.

Nessa competição, o alienígena (a espécie exótica) acaba se saindo melhor, até porque não possui predadores e nem inimigos naturais na área, ficando mais livre para ocupar os espaços locais. Se, além disso, esta espécie exótica for profícua reprodutivamente, em tempo muito rápido sua população começa a sobressair quantitativamente na comunidade. Geralmente é isso mesmo que acontece, ou seja, a espécie exótica reproduz-se mais e melhor que a nativa, suplantando cada vez mais o número de indivíduos das populações naturais. Com isso, as espécies nativas vão tendo suas populações diminuídas progressivamente, em alguns casos, até a extinção total na área em questão.

Há, em Ecologia, uma noção clara de que duas espécies não podem ocupar o mesmo nicho ecológico. Quando isso ocorre elas entram em competição interespecífica, a qual acaba por levar a continuidade de uma delas e a extinção da outra. As nativas sempre perdem esta competição, exatamente por outras questões ecológicas, como a falta de predadores das exóticas e a dependência efetiva daquele ambiente através de vários aspectos pelas nativas.

A nossa volta está repleta de espécies introduzidas. A nossa mesa tem carne de boi, de porco, de galinha, tem feijão e arroz; a nossa cozinha tem moscas domésticas; a nossa casa tem baratas francesas, a nossa horta tem alface, o nosso jardim tem roseiras a caracóis exóticos, o nosso pomar tem peras e maças, algumas de nossas florestas têm javalis e cavalos. Muitas dessas introduções foram ocasionais e outras foram provocadas. De qualquer forma, no passado, quando fizemos essas introduções não conhecíamos os riscos que elas poderiam oferecer.

Hoje, porém, a questão é muito mais séria, pois além de sabermos dos riscos potenciais, os espaços naturais estão muito mais escassos e um desequilíbrio pode produzir mais facilmente o caos total para os diferentes ecossistemas terrestres. Não podemos desfazer o que já fizemos não há mais possibilidade física para isso e mesmo que houvesse tal possibilidade, existem várias outras questões de ordem social, legal, cultural e até moral, além da problemática ambiental envolvida, que nos impossibilitaria de simplesmente tentar reorganizar as coisas. O mundo está muito longe de sua base natural e não há como retroceder.

Por outro lado, não podemos nos dar ao direito de deixar, outra vez, um inseto, o bicudo, por exemplo, escapar de um Laboratório e virar praga de algodão numa região onde ele jamais poderia ser encontrado naturalmente. A fragilidade dos ecossistemas naturais, em particular os ecossistemas tropicais ricos em diversidade, mas com populações naturais relativamente pequenas e principalmente dos ecossistemas artificiais agrícolas, não nos permite arriscar mais nada. Mesmo as técnicas de controle biológico, tão propagadas hoje em dia, precisam ser bem estudadas, entendidas e controladas para evitar problemas consequentes.

A expressão “inimigo natural” tão usada no controle biológico, precisa ser mais bem definida. Inimigo natural é alguém que atua no controle populacional de outro alguém que vive naturalmente na mesma área que a sua e não uma espécie introduzida que irá atuar no controle populacional de outra espécie. Um animal da Ásia não tem “inimigos naturais” na América do Sul, até porque, naturalmente essas espécies jamais se encontrariam, o homem é quem permitiu e propiciou tal encontro, através da introdução de, pelo menos, uma delas na área da outra.

São conhecidos e famosos os casos das doninhas na Jamaica, dos coelhos na Austrália, dos carneiros nas Ilhas Galápagos e tantos outros em que a introdução de organismos vivos foi um grande malefício e que até hoje trazem problemas ás localidades envolvidas. Mas, não precisamos ir tão longe, temos exemplos aqui bem perto de nós, como a introdução da Rã americana aqui no Sudeste do Brasil, que dizimou a nossa Rã pimenta, a introdução do tucunaré da Bacia Amazônica nos lagos do Estado de Minas Gerais e vários outros exemplos.

Temos que evitar a qualquer custo que o processo de introdução de organismos continue acontecendo de forma arbitrária, pois não temos mais áreas e muito menos tempo para garantir que os resultados possam ser satisfatórios. A Legislação nesse sentido já existe, entretanto é preciso que as pessoas conheçam esta Legislação e se conscientizem de que essa é uma questão séria e que precisa ser tratada corretamente. Além disso, não podemos nos esquecer de orientar as pessoas que é necessário preservar bancos genéticos de espécies nativas em seus ambientes naturais, pois a manutenção da Biodiversidade do planeta é fundamental para a manutenção do próprio planeta e da continuidade dos processos evolutivos que permitiram o atual nível de organização e composição biogeoquímica que a Terra se encontra.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

Luiz Eduardo Corrêa Lima  ]]>

22 out 2014

O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Resumo: Nesse artigo, o Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante entre uma questão arcaica, mas que vem se arrastando no pensamento coletivo dos professores ao longo do tempo e que precisa ser esquecida para o bem do Processo Educacional e da Educação como um todo. Trata-se da priorização de certas disciplinas e da consequente minimização de outras em função das pretensamente mais importantes. Essa prática, além de totalmente infundada, prejudica enormemente o processo de aprendizagem e a formação integral dos alunos, embora ainda existam até setores dos governos que defendem esse absurdo.


O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Sou professor há mais de 38 anos e tenho sido muito homenageado por meus alunos ao longo desses anos. Penso que isso me credencia, ou se não credencia, pelo menos me mantem no direito de emitir uma opinião sobre a postura de alguns colegas professores, na hora de avaliar definitivamente os seus respectivos alunos, seus colegas de profissão, suas disciplinas específicas e em última análise a si mesmos. Acredito que falta bom senso e de um pouco mais de humildade em alguns colegas professores, os quais não só agem incoerentemente, como aparentemente se sentem numa posição muito acima aos demais professores das outras disciplinas, pois realmente assumem uma postura de superioridade como se fossem os “reis da cocada preta” e atuam como se avaliar pessoas não fosse algo extremamente complexo.

Aliás, esses professores interagem como se as demais coisas e pessoas que atuam no processo educacional, principalmente os seus alunos e os demais professores, não existissem e assim não seriam importantes nos seus respectivos processos de avaliação. A avaliação é um problema exclusivamente deles e só a eles cabe o direito sagrado de avaliar e decidir sobre a condição do aproveitamento de seus alunos e nem mesmo esses alunos (vítimas ou réus no processo), têm o direito de questionar os seus respectivos veredictos. Esses professores manifestam um absolutismo tal, que chegaria a causar inveja ao próprio Hitler ou mesmo a envergonhar alguns tiranos e ditadores de tão indubitável e seguro. Desculpem-me pelo aparente exagero, mas essas figuras ainda existem e estão presas a valores passados, mas que ainda são muito fortes no ranço de determinadas escolas e de alguns setores escolares.

No passado, mormente quando eu ainda estava cursando o antigo curso primário (Ensino Fundamental), portanto há cerca de 50 anos atrás, por muitas vezes ouvi alguns professores dizerem que “Português e Matemática eram as disciplinas mais importantes dos conteúdos escolares”. Mas é claro que hoje, a maioria de nós educadores, sabemos que isso é uma falácia, que além de antiga, é ilógica e principalmente inverídica. Esse tipo de afirmativa pode ter feito algum sentido no passado distante, mas hoje em dia, apesar de ainda existirem alguns defensores de argumentos desse tipo, cada vez mais isso se desmistifica e assume a condição de mera tolice.

Embora, algumas vezes, a gente ainda ouça aquelas coisas assim: “mas o fulano passou em tudo até mesmo em Matemática e Português, como é que pode ter ficado só em Biologia?” Como se Biologia fosse menos importante do que Matemática e Português. Na verdade, hoje nós professores temos (ou deveríamos ter) consciência de que não existe disciplina mais ou menos importante, pois todas são igualmente importantes e necessárias na formação do indivíduo em qualquer nível de ensino e mais particularmente no Ensino Médio, o qual por definição deve procurar ser o mais eclético e abrangente possível, buscando dar todos os horizontes e dimensões disponíveis para ampliar a visão do educando.

Por outro lado, é claro que a capacidade de recepção, isto é, a resposta dada pelos alunos às diferentes disciplinas é muito diversificada e assim nem sempre é a mesma. Aliás, a diversidade de respostas é de tal dimensão que quase nunca é a mesma. Alguns alunos têm notoriamente maior facilidade de entendimento e habilidade com algumas disciplinas e maior dificuldade e mesmo interesse pessoal com outras. É preciso que fique claro na cabeça de todos os professores que essa é a regra e não a exceção e que esse é um fato natural, independente da vontade e do desejo pessoal do professor e também do amor que ele tenha por sua própria disciplina. Pois então, é nessa mesma diversidade natural de interesses, habilidades, facilidades e saberes que se desenvolve a capacidade cognitiva e o conhecimento efetivo de cada aluno, que produzem a formação final do indivíduo como pessoa educada e como cidadão inserido na sociedade.

Pois bem, esses fatos aqui citados me parecem apresentar um modelo mínimo e sensato de razoabilidade que se espera no processo pedagógico educacional e que resulta na capacitação intelectual final do indivíduo aluno e da sua percepção de discrepâncias e da sua condição de discernimento entre elas, as quais são características fundamentais na identidade e na personalidade da pessoa humana na sociedade. Quaisquer que sejam os professores e quaisquer que sejam suas disciplinas específicas, eles deverão estar cientes desses fatos e por menos que possam concordar, eles devem considerar esses aspectos como premissas fundamentais na avaliação do aluno. A escola hoje é democrática e assim, todas as disciplinas são iguais, todas as pessoas envolvidas na educação e na formação dos alunos devem atuar ativamente no processo de avaliação escolar e todas têm o mesmo nível de poder.

Todos nós, seres humanos, de uma maneira ou de outra, fomos intelectualmente “produzidos” (formados e desenvolvidos) dentro de um padrão geral educacional único, independentemente dos locais por onde tenhamos passado e das demais pessoas com quem tenhamos vivido e aprendido. Ou seja, o processo que nos moldou foi e continua sendo quase sempre o mesmo, embora a metodologia específica aplicada possa ser oriunda de locais e pessoas distintas. Assim, o “produto final”, isto é, o “homem educado”, embora nunca seja o mesmo indivíduo, sempre será bastante parecido, qualquer que seja a pessoa humana em questão. Em suma, o processo que nos organiza e compõe como seres sociais e intelectualmente ativos na sociedade é bastante similar, embora possam haver nuances metodológicas distintas, os objetivos a serem alcançados são os mesmos e assim os resultados finais são praticamente idênticos.

Por outro lado, como Biólogo, posso garantir que não existem biologicamente seres humanos iguais, mesmo sabendo como professor que seguramente o processo de desenvolvimento educacional dos indivíduos dentro da sociedade humana, que os leva a formação sociológica como pessoas é praticamente o mesmo em todos os grupos sociais humanos. Se minha premissa for verdadeira, então, somos diferentes na Biologia (Genética), mas somos, ou deveríamos ser iguais (muito parecidos), na Sociologia, ou pelo menos na nossa vivência social. Desta maneira, se não tivermos uma base comportamental oriunda da Genética muito diferente e certamente não temos, então não podemos desenvolver comportamentos genéricos muito diferentes, apesar das diferentes culturas desenvolvidas e adquiridas pelos grupos sociais humanos.

Desta maneira, somos o resultado comportamental de nossa Genética e de nossas vivências sociais como aprendizes de seres humanos. Por outro lado, por termos sido moldados de maneira semelhante aos nossos mestres, acabamos por sermos “produzidos” como cópias genéricas deles. Quer dizer, do ponto de vista do comportamento social, cada pessoa humana é, além da Genética, a somatória intelectual de outras pessoas produzidas da mesma maneira que ela. Assim, do ponto de visto do comportamento, por mais diferentes que possamos ser, de fato, somos sempre muito semelhantes, porque somos oriundos do mesmo padrão de formação. Historicamente, há, em última análise, um conservadorismo muito grande no processo de socialização do indivíduo humano e eu particularmente suspeito que isso tenha um significativo valor de sobrevivência para nossa espécie.

Mas, ainda assim, alguns de nós têm insistido em querer se manifestar como pessoas diferentes e fora do padrão humano. Aliás, essas pessoas não querem apenas ser diferentes. Esses humanos de comportamento estranho querem ser efetivamente anômalos e entendem que estão acima (ou abaixo) do bem e do mal e pensam que aquilo que se propõem a fazer certamente deve ser a coisa mais importante do mundo. Infelizmente, algumas pessoas têm o dom de achar que o mundo se resume a elas ou ao interesse delas. Assim, as coisas mais importantes para essas pessoas, passam a ter que ser também as coisas mais importantes para todas as outras pessoas do planeta. Aqueles indivíduos e atores sociais que estão mais próximos dessas pessoas são os que mais sofrem com essa psicose acentuada que elas apresentam. Algumas vezes essa psicose se acentua a tal ponto que passa a ser uma doença comportamental grave ou gera uma esquizofrenia profunda e irreversível. A pior situação acontece quando um desses indivíduos por acaso é um professor e aí, coitados dos seus alunos.

Na verdade, todos nós, seres humanos, em certo sentido, temos um pouco dessa anomalia e agimos um pouco assim, até por questões naturais de autodefesa, o que é compreensível e em certo sentido até benéfico para nós. Entretanto, a maioria de nós também deveria lembrar que hoje existem mais de 7 (sete) bilhões de pessoas no planeta, além de cada um de nós e que esse contingente populacional cresce assustadoramente. Essa população planetária imensa, como já foi dito, é constituída por pessoas diferentes, mas que são formadas no mesmo padrão, sendo por isso mesmo são muito conservadoras, mas que têm interesses diversos e obviamente atribuem graus de importância qualitativa e quantitativa variados em relação às coisas, por conta de condições diversas e fatores culturais próprios.

Em suma, nós humanos, prioritariamente nós professores, precisamos entender de uma vez por todas, que naquilo que diz respeito às pessoas como indivíduos e suas respectivas vontades, tudo (absolutamente tudo) é possível, independentemente do que pensa o restante da sociedade e por isso mesmo devemos aceitar essa diversidade como algo inato aos seres humanos, principalmente quando os humanos em questão são os nossos alunos. O respeito às pessoas e às suas diferenças individuais tem que ser prioridade nas atividades e nas entidades sociais humanas, mormente nas escolas, onde se busca formar o “homem educado”.

Enfim, profissionalmente falando, o professor deveria ser um humano que fizesse exceção óbvia a essa idéia de querer ser superior aos demais humanos. O professor, aquele indivíduo que trabalha exatamente com a diversidade humana, não deveria procurar estar acima dessa diversidade e deveria começar desconsiderando qualquer tipo de preconceito. Além disso, ele deveria ser capaz de tentar minimizar e, se possível, desmistificar essa situação comportamental conflitante. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Continuam existindo professores que acham e por isso mesmo querem e alguns até exigem, que seus alunos sejam semelhantes entre si e mais, que os alunos reproduzam exatamente aquilo que esses professores querem. Isto é, esses professores atribuem um grau muito alto de valor às suas respectivas pessoas e por extensão às suas respectivas disciplinas. Quer dizer, além de reforçar o erro, falta modéstia e humildade a esses professores para ensinar aos seus respectivos alunos e assim contribuir com a melhoria da sociedade humana.

Aliás, quero crer que esses professores não devam ensinar, até porque o ensinamento é um processo de compreensão mútua que envolve dois lados que precisam chegar ao mesmo nível de entendimento, ainda que até em tempos diferentes. Na verdade, esses professores que se acham “os donos da bola” e querem continuar sendo assim, não são educadores, embora até possam tentar ser instrutores e até mesmo domadores de outras pessoas. Nas aulas desses professores não há participação, não há democracia, não há troca com seus alunos e assim, não pode haver ensinamento e nem aprendizagem. Desta maneira, só pode haver treinamento e adestramento e embora até possam ser desenvolvidas algumas coisas no que refere à aprendizagem, na verdade, não se desenvolve o intelecto humano que é aquilo que gera a liberdade individual e que se desmembra em criatividade e evolução cognitiva, que são os objetivos maiores e que, na minha maneira pessoal de entender, constituem o cerne da educação da pessoa humana.

Em última análise, esses professores, talvez nem devam ser chamados de professores e muito menos de educadores, porque não fazem educação e não produzem avanço na condição cognitiva dos seus respectivos alunos. As características de ser igual, de ser humilde e de ser participativo são fundamentais aos professores e, a meu ver, sem elas não pode haver o exercício do magistério. Como esses professores não possuem e nem utilizam tais características, eles não se enquadram na condição mínima para serem considerados professores.

Precisamos banir de nossas escolas aqueles professores que ainda pensam de maneira retrógrada e que se intitulam “os gênios do saber, os pais da matéria mais difícil e mais importante”. Nosso pensamento como educadores deve ser proativo e deve projetar a melhoria do conhecimento da humanidade. Esse pensamento básico deve buscar a formação de novos homens, com novos ideais e novas visões. A minha verdade como professor deve ser buscar que o meu aluno venha a ser melhor do que eu possa ter sido, porque só assim haverá progresso educacional e esta é a verdadeira necessidade da sociedade humana. Se não for assim não haverá evolução no processo educacional e não caminharemos na direção da liberdade.

Alguém já disse que o conhecimento é a única e verdadeira forma de liberdade, então se eu limito o conhecimento de qualquer ser humano com quem convivo àquilo que eu sei ou àquilo que já está estabelecido, eu estou cerceando a liberdade das demais pessoas a minha volta. No que diz respeito à educação, não progredir é necessariamente sinônimo de regredir, porque o conhecimento se faz sobre o conhecimento pré-existente e quando o conhecimento estaciona toda a sociedade anda para trás e se priva da possibilidade de liberdade maior.

Colegas professores, por favor, pensem nisso, façam uma reflexão profunda sobre esta questão e me digam se estou certo ou errado. Eu sei que é difícil mudar de comportamento, principalmente quando se está habituado a determinados modelos e condições “didáticas” e “pedagógicas”, mas se você chegar à conclusão de que eu possa estar certo no meu pensamento e que você se enquadra nesse padrão que precisa ser mudado, então faça a sua tentativa de mudança. Penso que se houver pelo menos a possibilidade de investir na tentativa de fazer diferente essa deverá ser efetuada e creio mesmo que só com isso já estará havendo algum progresso, porque o aluno perceberá e isso certamente será bastante benéfico ao processo educacional. Se você achar que eu estou louco e devo ser internado, peço, desde já, que me desculpe por sonhar uma educação melhor, por chamar a atenção para a doença que está aí, por colocar o dedo na ferida e pedir uma colaboração maior dos meus colegas, professores como eu.

Mas, se existe uma coisa que eu tenho certeza é que a escola tem que crescer independentemente de mim e daquilo que eu penso e espero que você também pense assim a esse respeito, porque a educação precisa disso e com certeza a educação é maior que a escola e que todos nós juntos. A Educação desse país está carente de valores e precisa de um choque profundo para voltar aos trilhos. O que estou propondo, obviamente não é solução do problema, o qual é grave e muito enraizado em outras questões, e talvez nem seja uma das únicas alternativas, mas certamente melhorará o processo educacional, minimizará conflitos e assim trará bons resultados à Educação como um todo. A regra futura deve ser objetivar sempre em crescer a Educação, porque só assim estaremos agindo no interesse de uma sociedade humana planetária cada vez melhor, mais igual e mais justa.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 out 2014

Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais um artigo, onde aproveita o dia do Professor para fazer uma reflexão sobre a Profissão de Professor e as necessidades para o exercício dessa profissão, que é responsável pela formação básica de todas as pessoas e também pela formação de todos os profissionais das outras profissões.


Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Introdução

Inicialmente quero falar um pouco de História. Não sou historiador, mas sou um ser humano e por isso mesmo sei que a História faz parte de mim e de toda a humanidade. Minha condição cultural como ser humano é consequência da História da Humanidade. Aliás, penso mesmo que o homem se torna mais humano a partir de cada dia que é acrescentado à sua História.

A História é fundamental, porque é ela quem relata e retrata todas as passagens da atividade antrópica sobre o planeta e talvez a grande diferença do homem para os demais animais esteja aí demonstrada, até porque biologicamente não existem grandes diferenças. Apenas os aspectos anatômicos divergem, mas a fisiologia animal é sempre a mesma. Assim, o homem se diferencia dos demais animais, nessa experiência humana que é única no planeta, pela possibilidade de contar, de refazer, de ensinar, de errar, de aprender, de corrigir e de mudar as coisas e as situações ao longo do tempo. Toda a Cultura da Humanidade reside na capacidade do homem de aprender, ensinar, modificar e transmitir.

Assim, talvez fosse possível dizer que sem ensinamento não haveria Cultura, não haveria História e assim o homem não seria intelectualmente tão diferente dos demais animais que habitam o planeta. O registro histórico é uma questão fundamental para a própria busca humana do conhecimento e do aprimoramento. Se a humanidade não aprendesse, guardasse e transmitisse as informações ao longo do tempo, certamente ela não teria caminhado de maneira tão significativa.

Aquilo que hoje, aliás, já faz algum tempo, nós chamamos de Educação, na verdade é o que garante a continuidade histórica e cultural da humanidade. Ou melhor, aquilo que nos últimos anos temos chamado de desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, resulta dos processos básicos de criação, ensinamento, aprendizagem e transmissão da informação. É isso que a História nos conta e é isso que agrega Cultura ao acervo intelectual da nossa espécie ao longo do tempo. Embora isso seja aparentemente óbvio, sempre é bom, como educadores que somos, nós nos lembrarmos desse fato e dessa característica social humana. Somos o produto da quantidade acumulada e adquirida de informação ao longo de nossa História Natural na Terra.

O Professor, aquele indivíduo que professa e ensina uma ciência, uma arte ou uma técnica, seja ele quem for, é o sujeito mais importante da História Humana, porque sem ele não haveria o transporte e a continuidade do conhecimento ao longo da História e sem isso não existiria Cultura e nós não seríamos absolutamente nada de especiais como seres humanos sem essa condição. Seríamos animais efetivamente iguais aos demais, sem nenhuma conotação diferenciada. Em suma, o Homo sapiens sapiens jamais teria saído das cavernas, talvez nem tivesse entrado nas cavernas e talvez nem mesmo tivesse continuado sua existência no planeta até aqui, se não fosse a passagem gradativa do conhecimento acumulado pelas gerações das diferentes civilizações.

Bem, senhores, peço que me desculpem pelo detalhamento, talvez excessivo, mas considero que esse preâmbulo seja realmente necessário para dar andamento as minhas elucubrações sobre a Profissão de Professor, entretanto, não é exatamente sobre isso que queremos e devemos conversar nesse artigo. Porém, por outro lado, eu não poderia me esquecer sobre essa verdade histórica e sobre a importância de nossa profissão na História Humana e na permanência da Humanidade sobre a superfície da Terra.

Como ninguém nasce sabendo, obviamente é necessário aprender e o aprendizado se dá basicamente através da transmissão da informação. A profissão de Professor é aquela que garante a transmissão da informação e que ajuda a passar o conhecimento e produzir todas as outras profissões que existem. Certamente, não há nenhum indivíduo humano que não tenha participado da experiência de ter sido ensinado por um Professor, pois todo e qualquer ser humano sempre teve que aprender alguma coisa com outro ser humano que o ensinou. Esse outro ser humano que ensinou alguma coisa a alguém, de uma forma ou de outra, profissional ou não, certamente foi um Professor. Pois então, é sobre esse sujeito, essa figura ímpar, de importância relevante e fundamental em todas as sociedades humanas e em todos os momentos da história da humanidade, o Professor, que eu passarei a discorrer agora.

Atributos Fundamentais do Professor

Quando se pensa ou se fala sobre a função de Professor, algumas palavras e alguns requisitos automaticamente são lembrados e isso não é mera coincidência, ao contrário isso é uma contingência natural do exercício do Magistério. Ensinar profissionalmente exige alguns preceitos básicos, os quais estão subentendidos por alguns conceitos teóricos incluídos e abrangidos principalmente nas palavras a seguir: Cultura, Inteligência, Liderança, Criatividade e Sabedoria.

Esses são requisitos fundamentais e qualidades indispensáveis para qualquer indivíduo que manifeste a intenção de abraçar o Magistério Profissional e assumir a condição de ser Professor. Essas cinco palavras e seus respectivos conceitos precisam estar em consonância com as três qualidades necessárias ao Professor para o bom exercício de sua atividade profissional.

As Três Necessidades Fundamentais do Professor

Conhecimento – Estudar para conhecer bem sua área de atuação ou sua disciplina e poder opinar e discutir um pouco sobre as demais. Como foi dito acima, o Professor tem que ter Sabedoria, Cultura, Inteligência, Criatividade e Liderança. O Professor tem que ser um indivíduo generalista e tem que acumular saberes e conhecer um pouco de tudo, mas é preponderante que ele tenha domínio de sua área específica do conhecimento.

Além disso, também é fundamental que ele efetivamente seja capaz de demonstrar esse domínio, buscando exemplos, criando situações, simulando problemas e condições para que seu aluno perceba que “ele é o cara”. Pode ter certeza que é isso que ele quer, pois ele adora dizer: “Fui aluno do fulano de tal: o cara é fera!” Entretanto, o Professor precisa investir toda a sua capacidade intelectual para demonstrar que é mesmo a “fera” que seu aluno quer que ele seja.

Comunicação – Argumentar e Informar de maneira clara, objetiva, atraente e abrangente. A aula é o negócio do Professor, portanto ele precisa cuidar muito bem dela! Ela tem que ser interessante e chamativa, porque sempre haverá outras coisas que certamente poderão interessar mais e o Professor não pode perder a atenção do aluno.

A capacidade comunicativa é talvez a principal característica do “Bom Professor”. Um “Bom Professor” necessariamente tem que ser um bom comunicador. Não adianta ter muito conhecimento se não houver mecanismos de comunicação e transmissão capazes de levar esse conhecimento para os alunos de maneira clara, simples e agradável.

Segurança (Convicção e Poder de Convencimento) – O Professor tem que ter e tem que saber demonstrar que possui toda segurança sobre aquilo que fala. É igual aquela história da mulher de César, que não basta ser direita, mas tem que parecer direita. Em suma, o Professor tem que encantar, além de convencer o seu aluno. Se você é um “Bom Professor”, você sabe o que estou querendo dizer e sabe que isso, embora difícil, é possível e necessário.

O Professor na sala de aula é o protagonista de uma grande peça teatral e ele tem que efetivamente “dar o seu show”. Isto é, o Professor tem que manter o aluno atento e fazer com que ele se envolva naquele momento como se fosse um espectador totalmente encantado e vivendo aquela situação. Isso só é possível, quando se tem o total domínio da plateia e esse domínio é conquistado por convencimento e não por pressão, ameaças ou excesso de autoritarismo, como lamentavelmente ainda fazem alguns sujeitos.

O Professor tem que demonstrar sua autoridade através da sua capacidade de convencer. O aluno tem que acreditar naquilo que o professor está dizendo, pelo simples fato de que é o Professor quem está dizendo. Autoridade é algo que se conquista por mérito cotidiano e não que se impõe por força de vez em quando. Não há receita pronta, mas a melhor maneira de conquistar o aluno é sendo, educado, agradável, competente e convincente. Não há necessidade de bajular ou ser ridículo para agradar e convencer, basta apenas o Professor demonstrar educada e graciosamente que efetivamente sabe daquilo que está falando e seu aluno ficará maravilhado com você. Ser piegas é tudo que o Professor não pode ser, pois aí sua autoridade jamais se manifestará.

 

E então, qual é o grande segredo para ser um “Bom Professor”?

Meus amigos não há segredo nenhum. É óbvio que, como já foi dito, existem algumas exigências mínimas para ser um “Bom Professor”, mas todas essas exigências são possíveis de serem conquistadas e mesmo suplantadas por aqueles que tiverem interessados e quiserem atingir o êxtase do prazer, o verdadeiro orgasmo de ser Professor. Entretanto, é preciso gostar muito e querer mais. Freud já dizia a sua maneira que: sem vontade e sem prazer nada é possível. Ter vontade e fazer com prazer são atributos fundamentais para qualquer coisa e aqui no exercício do Magistério não é diferente. Talvez, sejam esses os grandes segredos, que permitem superar as dificuldades do exercício da Profissão de Professor: a força de vontade e a busca do prazer.

Mas, alguns colegas dirão, mas que vontade devo ter para trabalhar nas condições em que trabalho e para ganhar o salário de fome que eu ganho? Que prazer devo ter para continuar trabalhando feito um miserável, como eu tenho que trabalhar?

Bem, essa é uma questão que cada um deve responder a sua maneira. Não sei, mas, no meu caso específico, talvez eu seja meio (ou muito) masoquista ou mesmo louco, porém depois de mais de 38 anos efetivos de exercício do Magistério Profissional, eu continuo adorando o que faço e fazendo a cada dia com mais prazer. Em contra partida, tenho sido homenageado todos os anos ininterruptamente, pelo menos até aqui, pelos meus alunos nas diferentes escolas e nos diferentes cursos em que atuei. Ora, que prazer maior eu posso querer ter? Que maravilha, faço o que me dá prazer e ainda me pagam e me homenageiam por isso!

Meus colegas Professores, nenhuma profissão pode dar isso que a nossa nos concede. Trabalhamos com pessoas e essas pessoas nos admiram e nos adoram ou não, simplesmente pelo que somos e nós certamente não somos super heróis. Não prometemos nada, não damos nada, não fazemos nada que possa ser avaliado com algum valor venal, apenas procuramos ensinar e ver aquele indivíduo crescer e ser melhor. Isso nos coloca numa condição de altruísmo tal, que aquele indivíduo que recebe o nosso trabalho geralmente nos supervaloriza, desde que sejamos merecedores e efetivamente capazes de realizar um bom trabalho. Só depende de nós mesmos e para isso precisamos apenas trabalhar com seriedade e entender que, em certo sentido, o exercício do Magistério acaba sendo isso mesmo, uma doação altruísta que fazemos e um investimento no futuro da Humanidade para que a Cultura se estabeleça cada vez mais e que a História continue, como eu já disse lá no início do texto.

Estudar, aprender e ensinar, essas são verdadeiramente as palavras, os três verbos, as três ações, que nos devem atrair mais que quaisquer outras, pois o nosso negócio, a Educação, está basicamente contido nessas três palavras mágicas. Se fizermos essas coisas com prazer e vontade, certamente seremos “Bons Professores” e os nossos alunos continuarão nos homenageando eternamente. Sim eternamente, pois mesmo depois de mortos, nós continuaremos sendo lembrados e tendo grande importância na vida de cada um de nossos alunos e nós continuaremos falando (ministrando aulas) para outras pessoas através deles. Pense um pouco e você certamente verá que eu tenho razão, pois você, de repente, está quase sempre pensando e lembrando aquele “Bom Professor” que você teve em dado momento e que lhe ensinou uma determinada coisa ou lhe forneceu certa informação. Pense mais e você verá que, de vez em quando, você cita uma frase, uma fala, um mote, ou qualquer coisa que você aprendeu com algum Professor. Existem inúmeras pesquisas que comprovam que os Professores são os profissionais que mais marcam na vida da grande maioria das pessoas.

Meu amigo, meu colega Professor, o seu aluno é gente como você e sofre as mesmas vicissitudes e vive no mesmo tempo histórico que você e se ele não vive necessariamente a mesma História, pelo menos vive na mesma trilha histórica que você e também deverá lembrar eternamente de você como Professor. É bom lembrar que é até possível que ele não se lembre do seu nome, mas certamente ele se lembrará do Professor daquela matéria que lhe disse aquela determinada coisa. Mas, isto só acontecerá, se você for, de fato, um “Bom Professor”, porque não existe nenhuma lembrança significativa sobre os outros. A escolha é sua.

Por favor, se você optar por não ser um “Bom Professor”, então desista desde já do Magistério e procure outra coisa para fazer enquanto você ainda tem tempo, porque o aluno, da mesma maneira que adora, idolatra e venera, também deprecia, odeia e repudia. Faça um exame de consciência e busque a satisfação e o prazer, mas seja Professor por inteiro, Professor com “P” maiúsculo, como escrevi essa insigne palavra todas às vezes no transcorrer desse texto.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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