Categoria: Artigos

Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

26 nov 2014

Animais “Úteis” X Humanos “Inúteis”

Resumo: Nesta oportunidade estou voltando a um tema antigo, do qual falei pela primeira vez faz mais de 30 anos, mas que infelizmente ainda é muito mal entendido por grande parte das pessoas, trata-se da “utilidade dos animais” aos interesses humanos e a consequente apropriação antrópica indevida dos animais. O assunto é muito interessante e o texto chama a atenção de que em tempos de postura ecologicamente correta, de necessidade da Educação Ambiental, de apelo sobre a Biodiversidade e sobre tudo de priorização da Sustentabilidade, não é mais possível pensar dessa maneira. Nossas crianças precisam de outro critério para perceber a importância dos animais primeiramente para o planeta.


Animais “Úteis” X Humanos “Inúteis”

Nesta semana, mais uma vez eu tive a infeliz oportunidade de presenciar, num trabalho que pretensamente deveria ser de Educação Ambiental, uma professora falando com um grupo de alunos de Ensino Fundamental, sobre um assunto que eu pensava que já estivesse sendo tratado de maneira diferente nas escolas. Na situação em questão, a professora falava aos alunos sobre os “animais úteis” ao homem, o que é um fato lamentável e que, pelo visto, ainda há muita gente pensando e o que é pior, ensinando assim às crianças.

Historicamente, desde o momento em que cada ser humano nasce ele é levado a entender que há alguns “animais úteis” e outros que não são úteis. Mais tarde, quando a criança entra na escola, lamentavelmente esse ensinamento errado é reforçado pelos professores nas séries iniciais de sua formação. Ora, se alguns animais são úteis, isso implica em que outros animais sejam necessariamente considerados inúteis. Essa é uma conclusão lógica e simples. Alguns ainda vão mais longe nessa conclusão e pensam assim: “já que esses animais são inúteis, então vamos acabar logo com eles”. Pois é, ao longo do tempo, muitas das diferentes civilizações humanas fizeram efetivamente isso, ou seja, trabalharam para destruir e matar todos os animais que eram considerados inúteis e tentaram aumentar a capacidade reprodutiva e ampliar as populações daqueles que eram entendidos como úteis.

Partindo do pressuposto acima, o que pode ser considerado é que grande parte dos homens tem procurado se aproximar cada vez mais dos “animais úteis” e se afastar o mais possível dos “animais inúteis”. Por exemplo: historicamente supervalorizamos as galinhas que nos interessam (são úteis), pois nos fornecem principalmente carne e ovos, além de outras coisas de menor destaque diretamente e subvalorizamos os gambás que não nos interessam, porque não nos fornecem aparentemente absolutamente nada, tanto direta quanto indiretamente.

E se o gambá em questão, por acaso, resolve comer algumas galinhas, aí é que a coisa fica mais feia e desanda de vez, porque desta forma, o gambá, além de inútil, passa ainda a ser visto como um inimigo cruel, que come as pobres galinhas amigas. E o que é pior, nessa situação o gambá inútil ganha ainda outro adjetivo mais desagradável, pois passa ao “status” de “animal nocivo”, que é bem mais degradante e ofensivo do que inútil, porque indica que o animal em questão é útil para causar danos e prejudicar a espécie humana.  Assim, ele é muito mal visto e por isso mesmo é caçado e destruído sem nenhuma cerimônia e sem nenhuma justificativa. Isto é, ele é perseguido apenas por ser um gambá e ser entendido como um animal prejudicial aos interesses do homem.

Considerando que a Educação Ambiental é hoje a expressão de ordem nos projetos ambientais e educacionais é inadmissível que ainda existam professores com essa visão errada da realidade natural e passando e reforçando esse tipo de informação arcaica e absurda aos seus alunos. Esse fato é pior ainda, quando se está num país de grande Biodiversidade. Aliás, sempre é bom lembrar, que o Brasil é o país que detém a maior Biodiversidade do planeta, com cerca de 20% das espécies vivas da Terra e que isso certamente é nossa maior riqueza. Entretanto, para quem pensa em utilidade dos animais, países como o Brasil, tendo muita diversidade biológica, têm muito animal inútil que devem ser destruídos em prol daqueles que nos interessam, os animais úteis.

Essa questão de utilidade dos animais, que nem de longe pode ser considerada verdadeira, foi por mim abordada num trabalho que publiquei há precisos 17 anos atrás (LIMA, 1997), mas parece que ninguém leu, ou ninguém estava muito interessado nesse assunto naquele momento e até hoje continuam desinteressados, porque de lá para cá quase nada mudou acerca dessa questão. Talvez, naquela época a Educação Ambiental ainda não estivesse na “moda”, Biodiversidade ainda fosse coisa estranha e Sustentabilidade fosse uma palavra do outro mundo. Porém, hoje, não dá mais para entender que as escolas primárias continuem falando em animais úteis e inúteis para as crianças, principalmente quando se enfatiza a necessidade de destaque e apoio à Educação Ambiental e à Sustentabilidade através de todas as formas pedagógicas.

Naquele artigo, de 1997, eu já dizia que: “é preciso mudar essa mentalidade drástica de que os animais são bens da natureza doados por Deus ao homem, para sua utilização”. Certamente esse trecho especificamente ninguém leu, ou se alguém até leu, então deve ter pensado que eu era mais um louco blasfemando contra Deus. Que fique claro: não sou contra Deus e nem estou louco. Entretanto, eu insisto que temos que abandonar totalmente essas ideias de “animal útil” e de “animal nocivo”, o mais rápido possível, principalmente nas escolas de ensino fundamental. Esse é uma atitude preponderante para que possamos produzir homens melhores, no que diz respeito ao relacionamento com os demais organismos vivos e para que possamos tratar a todos, particularmente os animais, como sendo organismos fundamentais ao desenvolvimento e à manutenção da vida no planeta. É bom lembrar que biologicamente nós humanos também somos animais e eu ainda não sei muito bem se somos úteis ou inúteis à natureza e ao planeta.

Todas as espécies animais e também vegetais, sem exceção, são de alguma forma importantes para o planeta, senão a natureza não as teria selecionado evolutivamente e assim elas simplesmente não existiriam, ou se tivessem existido, talvez já tivessem sido naturalmente extintas. Desta maneira todas elas são necessariamente úteis ao planeta, independentemente do grau de relacionamento ou de proximidade que possam ter com os seres humanos ou mesmo dos benefícios que possam produzir para a nossa espécie. É isso que precisa ser dito, ensinado e reforçado cotidianamente às nossas crianças nas escolas.

Essa nossa antiga conceituação sociológica de que existem animais úteis e inúteis precisa ser esquecida e apagada de uma vez por todas dos planos de ensino escolares. É preciso que as crianças sejam mais bem esclarecidas, para que se possa evitar problemas mais sérios no futuro, principalmente no que diz respeito às espécies ameaçadas de extinção, as quais se forem mesmo consideradas “inúteis” se extinguirão muito mais rapidamente, pois o homem pensando na sua inutilidade trabalhará no sentido de exterminá-las mais cedo. É óbvio que esse fato, se vier acontecer, trará consequências ecológicas drásticas. Talvez devêssemos arrumar outra terminologia para tratar os “animais úteis”, por exemplo: “animais de interesse antrópico” ou “animais de particular interesse humano”. A nossa apropriação despótica da natureza precisa ser ensinada às crianças de uma maneira mais realista e, ao mesmo tempo, mais crítica, em função dos nossos extremos descuidados éticos e desmandos históricos com a vida silvestre dos demais organismos vivos, em particular com os nossos “irmãos” mais próximos, os animais.

De qualquer maneira teremos que conseguir outro mecanismo para determinar os animais que possam nos interessar mais prioritária e diretamente, porque nos fornecem alguma coisa de aplicabilidade imediata aos nossos interesses. Entretanto, teremos que fazer isso sem deixar de ressaltar a importância desses animais e também dos demais animais para a continuidade da vida no planeta, lembrando que na natureza não existem organismos vivos “inúteis”.

A meu ver, se existirem entidades biológicas inúteis aqui na Terra, devem ser apenas algumas formas de seres humanos que continuam pensando e agindo dessa maneira ignorante e ilógica em relação aos animais. Isto é, buscando padrões particulares de interesse nessa ou naquela espécie animal e assim ampliando as possibilidades de se dizimar as populações das demais espécies porque não encontram aplicabilidade antrópica imediata para as mesmas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica

LIMA, L. E. C., 1997. A Educação Ambiental e a Utilidade dos Animais: um Contrassenso Sociológico e Naturalístico, Ângulo, Lorena, (67): 6-8.

*Artigo anteriormente publicado no Portal do Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br – Código do Texto T2540866), em 06/10/2010, sendo devidamente modificado e atualizado para esta publicação.

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23 nov 2014

Consumo e Costumes Errados

Resumo: Nossa abordagem está mais uma vez relacionada ao consumismo e suas consequências desagradáveis ao planeta e a nós mesmos. Dessa vez estou me atendo um pouco mais a respeito da influência nefasta da mídia sobre a opinião pública incentivando cada vez mais o consumo e, por outro lado estou chamando a atenção para as respostas catastróficas que o planeta tem dado em relação às nossas ações. Além disso, estou sugerindo uma mudança de hábitos urgentemente para garantirmos nossa continuidade aqui na Terra.


Consumo e Costumes Errados

Não sei o porquê, mas nós humanos temos naturalmente uma tendência a nos atrairmos pelo que é belo e fútil e de nos esquecermos das coisas não tão belas, mas que muitas vezes são úteis e extremamente necessárias. Nossa dificuldade em entender e discernir entre o que é necessário e o que é acessório parece ser cada vez mais incontrolável e assim a maioria de nós se acostumou a simplesmente continuar consumindo as coisas, havendo ou não necessidade. Parece que consumimos pelo simples prazer de consumir ou que assumimos um terrível vício compulsório de consumir indefinida e desesperadamente.

O homem, particularmente aqui, do lado ocidental do planeta, histórica e independentemente do país e do regime político imperante no local onde ele esteja, quase sempre consome de forma errada, ou seja, contra os seus próprios interesses econômicos e principalmente contra os interesses ecológicos planetários. Entretanto, embora tardiamente, parece que mais recentemente, alguns de nós estamos acordando para esse detalhe importante e tentando nos redimirmos dessa situação comprometedora que criamos para nós mesmos e que tem favorecido cada vez mais ao aumento da degradação ambiental e do desperdício e que consequentemente tem posto o planeta e a nossa espécie em risco cada vez maior.

Nosso hábito de consumir, por si só, já não é algo que mereça muito crédito, porque quase sempre consumimos de maneira errada. Além disso, quando se trata de consumir exageradamente e esbanjar recursos naturais sem nenhum critério, o consumo passa a ser uma ação drástica e temerária aos interesses planetários. Na maior parte do mundo ocidental, o capitalismo incentivou tanto o consumismo, que ficamos reféns da necessidade do consumo para continuarmos a manter os empregos e a suficiência econômica.

Temos visto de tudo ó que é possível para o incentivo ao consumo. A Propaganda e o “Marketing” nos ludibriam e entram nas nossas casas nos impelindo a consumir. As crianças têm sido os alvos principais para convencer os mais resistentes ao consumo exacerbado e assim quase ninguém resiste. Infelizmente ainda não temos uma legislação específica que possa coibir esse crime contra a sociedade, mas isso precisa existir brevemente.

É bem verdade que o homem como qualquer espécie planetária precisa de alimentos e de território. Além disso, nós humanos, também precisamos mais especificamente comer, beber, morar, descansar, construir e vestir. Entretanto, não precisamos comer a comida mais cara todos os dias, beber as bebidas mais sofisticadas todos os dias e muito menos comprar roupas novas todos os dias ou ter duas ou mais casas para morar. Mas, é assim que a maioria de nós age, não se satisfazendo com o que tem e querendo sempre ter mais, independentemente de sua necessidade individual, ou mesmo familiar. Assim, o consumo não para. O planeta, as demais espécies vivas e os futuros humanos (aqueles que ainda não nasceram) que se danem para suportar a nossa pressão exploratória e o impacto ambiental progressivo e insano que temos causado a todos.

Estamos viciados em consumir recursos naturais, independentemente de avaliarmos a verdadeira necessidade de quaisquer que sejam esses recursos. Hoje já acabamos com alguns recursos naturais não renováveis, já estamos quase ultrapassando o limite de 50% daquilo que é possível ao planeta regenerar naturalmente, ou seja, os recursos renováveis, e estamos prestes a não conseguir os níveis mínimos de suprimento alimentar e de água potável que precisamos para sobreviver, pelas mais diversas situações.

Agora o planeta também já está cansado e não aguenta mais a nossa pressão exploratória e a nossa apropriação indevida. Alguns alimentos já começam a faltar, a água está ruim e está até mesmo escassa ou ausente em várias regiões. Muitas matérias primas já desapareceram totalmente e outras estão com os dias contados.

Como vamos fazer? Continuaremos comprando bolsas, tênis, sapatos e vestidos, mas morreremos de fome e sede? Continuaremos comprando vinhos e cervejas, mas morreremos de sede? Continuaremos comprando casas e carros, mas não teremos onde morar?

A situação está efetivamente muito complicada. Temos tudo por um lado e não temos nada por outro. O “rei consumo” e o “príncipe dinheiro” não nos permitem resolver as questões mais fundamentais para continuarmos a nossa existência, exatamente porque consumimos mais do que podíamos e muito acima do que devíamos.  Agora nosso caminho, que sempre seguiu na contramão dos interesses planetários, segue também na contramão de nossos próprios interesses como espécie viva. Não sabemos mais se conseguiremos resistir às pressões que nós mesmos impusemos ao planeta e a nós mesmos longo da história. Até porque o planeta também já vem reclamando e, de várias formas, ele está nos dizendo: “parem que eu não aguento mais”.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence”. Será que é isso mesmo ou será que nós mesmos deveríamos ser os protagonistas de nosso futuro. Deus talvez nem saiba ao certo sobre todos os males que temos causado ao nosso “planetinha azul”. De qualquer maneira, o futuro está aí batendo à nossa porta e nós estamos com medo de abri-la, porque não sabemos mais o que vai acontecer, pois perdemos o norte e não temos mais controle sobre a maioria das coisas. O aquecimento global é um fato que está aí. As catástrofes e eventos extremos são cada vez maiores e mais significativas. Os desastres ambientais matando seres humanos são cada vez mais comuns.

Em suma, considerando que somos a única espécie pensante e capaz de mudar, precisamos trabalhar no sentido de rever a nossa lógica de prioridades e voltar, enquanto ainda há tempo, para critérios que satisfaçam ao planeta, aos demais organismos vivos do planeta e a nós humanos, pois se mudarmos esta ordem de critério não teremos mais saída desta cilada em que nós mesmos nos inserimos. O uso de recursos naturais tem que ser feito a partir da efetiva necessidade desses recursos, para o nosso bem e principalmente para o bem do planeta e das gerações futuras. É preciso mudar costumes e gerar novas formas de consumo, que considerem prioritariamente a sustentabilidade planetária como mecanismo único a ser levado em consideração.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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19 nov 2014

Apesar da chuva, nós continuamos sem água

Resumo: Nossa abordagem dessa vez está relacionada ao grave problema que temos encontrado nesses últimos meses com relação à crise instalada por conta da carência de água. O atual desaparecimento da água no Sudeste, em especial no Estado de São Paulo tem causa conhecida, que é o desmatamento na Amazônia e assim, não é culpa particular de ninguém, ao contrário ele é o resultado coletivo do desleixo histórico com o meio ambiente e da pouca importância que nossa cultura deu a água, por conta de existir grande quantidade desse líquido precioso em nosso país. Assim, estamos vivendo uma situação difícil e estamos dependentes de fato de mais chuvas, até porque nada fizemos para o momento em que ela efetivamente faltasse, como está acontecendo atualmente.


 Apesar da chuva, nós continuamos sem água

As chuvas voltaram, mas lamentavelmente a água ainda não. Essa frase que parece ser um tremendo contrassenso, infelizmente é uma grande verdade. O pior é que, ao que está parecendo, tão cedo a água voltará, apesar das chuvas estarem aí, inclusive já virem castigando bem algumas áreas do estado, em particular alguns bairros da capital. Ora, se temos chuvas e continuamos não tendo água é porque alguma coisa está muito errado. Pois então, eu quero dizer que esse erro é histórico. A questão da água na grande São Paulo é um problema de mais de 100 anos e não é culpa desse ou dos últimos governos isoladamente, embora possa ser de todos eles coletivamente. Isto é, cada um tem a sua parte de culpa no processo. Mas, com certeza, os governos não são os únicos culpados.

Na verdade a coisa vem se perpetuando ao longo da história faz muito tempo, porque de fato, por uma questão cultural, nós brasileiros nunca demos a devida importância ao recurso natural água. Em nossa cultura, fomos ensinados e aprendemos que “a água cai do céu e vem de Deus” e também sabemos que Deus jamais pensaria em nos deixar sem esse líquido precioso. Por outro lado, além disso, aprendemos em Geografia, que o Brasil é o país do planeta que mais possui água em estado líquido e assim água nunca seria um problema nesse país, pois para acabar a água no Brasil, já teria que ter acabado no resto do mundo. Mas, a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97), que está em vigor desde 1997, diz que “a água é um bem de domínio público e um recurso natural dotado de valor econômico” e portanto, nós precisamos reavaliar os nossos conceitos em relação a esse recurso natural tão precioso.

Exageros à parte, quando se fala de acabar a água, na verdade estamos cometendo um erro extremamente absurdo, porque a água existente no planeta jamais vai acabar. Ou melhor, quando a água acabasse, se isso efetivamente fosse possível de acontecer, certamente toda a vida no planeta já teria se extinguido e nós humanos seríamos, muito provavelmente, os primeiros a desaparecer da Terra se acontecer mais uma extinção em massa, porque somos possivelmente a espécie planetária mais dependente de todas. É bom lembrar que só existe vida na Terra, porque existe água no planeta, isto é a vida no planeta é dependência e consequência da água.

Entretanto, certamente ainda estamos muito longe do fim da Terra, ao menos por conta da carência de água, pois a água, embora em sua grande maioria salgada (97,2%), continua abundante no planeta. O que tem acontecido é que nós, os seres humanos, temos feito, ao longo da história, é simplesmente modificado, para pior, a qualidade natural da água e também temos mudado os cursos da água na natureza. Embora eu tenho certeza que está muito longe o fim da Terra, não tenho tanta certeza que esteja tão longe assim o fim da espécie humana, mas essa é uma outra questão que não vou discutir no momento.

Aqui cabe esclarecer que a expressão mudar os cursos da água na natureza, utilizada anteriormente, não se refere especificamente às mudanças feitas nos curso dos rios (embora isso também interfira na questão), mas sim, na mudança efetiva do ciclo natural da água como um todo, porque temos produzido significativas modificações nesse mecanismo e assim temos mudado geograficamente a ocorrência e consequente distribuição da água na Terra. Esses dois aspectos, a transformação físico-química da água e a sua mudança de rota na natureza são os fatores quem têm nos trazido muita dor de cabaça e atual carência de água em algumas regiões.

Ainda que talvez não fosse necessário, porque acredito que todos nós saibamos desse fato, mas devo dizer, até para reforçar, que a quantidade de “água doce” é apenas 2,8% de toda a água existente no Planeta e que apenas uma parte ínfima desses 2,8%, inferior a 1% desse total, podem ser utilizados pelos humanos como fonte de água potável. Vejam bem, agora chegamos ao problema verdadeiro, o que está acabando não é a água, o que está acabando é a água que interessa ao humano, porque essa tem ficado cada vez mais rara e mais difícil, em função das próprias atividades desenvolvidas pela humanidade, que geram mudanças físicas e químicas na qualidade (poluição) e mudanças físicas (falta de chuvas) no ciclo da água em algumas regiões.

Aqui na grande São Paulo, como de resto em todo grande centro populacional humano, essas modificações são mais acentuadas e assim os efeitos também são mais facilmente sentidos, principalmente porque aparentemente antes nunca havíamos tido problemas relacionados com a escassez de água. Obviamente, em regiões onde a quantidade de água já era historicamente baixa, a sua carência certamente foi menos sentida do que em regiões onde ela era abundante. Por exemplo, não é novidade faltar água na região do polígono das secas no Nordeste Brasileiro, mas é novidade faltar água na Serra da Mantiqueira, cujo nome significa “Mãe das Águas”, em consequência de tanta água que lá existia.

Pois então, estamos exatamente nessa situação, nesse momento novo, o momento de faltar água, onde nem se podia imaginar que isso fosse possível, porque simplesmente não tem chovido o necessário para manter a água naquele local. Mesmo com as chuvas, a retirada ainda está sendo maior do que a entrada. Mas, afinal, o que aconteceu? Será que São Pedro brigou com São Paulo? Ou será que Deus se esqueceu do Brasil?

Infelizmente eu devo dizer que não ocorreu nada de anormal e que nem São Pedro e muito menos Deus, nenhum dos dois certamente não têm nada a ver com isso. Na verdade o único culpado é o ser humano que habita a região da grande São Paulo, que acabou com quase todas as florestas, modificou curso dos rios e canalizou alguns deles, impermeabilizou o solo, contaminou os lençóis freáticos, fechou olhos d` água e nascentes, aumentou a temperatura do ar e a evaporação, jogou porcarias das mais diversas na água e que NUNCA se preocupou com isso. Dessa maneira a água foi “desaparecendo” progressivamente, até que sumiu. Um belo dia ela “saiu para comprar cigarros e não voltou”, como diz a lenda.

Esse desaparecimento vem acontecendo faz muito tempo, mas a grande São Paulo, a capital do maior e mais desenvolvido estado brasileiro, não pode parar de “crescer” (inchar) e assim “nunca se teve oportunidade” de trabalhar essa questão. Historicamente, o que se fez foi o seguinte: toda vez que parecia que ia acontecer algum problema relacionado com a carência de água, os administradores públicos mandavam buscar água em outra localidade, cada vez mais longe. Assim foram surgindo os diferentes mananciais de São Paulo. Entretanto, nunca se procurou saber e muito menos controlar as verdadeiras causas da carência de água que acontecia.

Hoje estamos numa encruzilhada do tempo e numa sinuca de bico da história, pois não dá mais para buscar água mais longe, porque vai custar muito caro trazer essa água (trazer água do Rio Ribeira de Iguape) ou porque a água já está comprometida com outras localidades (água do Rio Paraíba do Sul que vai para o Rio de Janeiro). Além disso, todas as medidas emergenciais até aqui anunciadas são paliativas e certamente não irão resolver o problema. Então, como fazer?

Só existe uma saída e esta saída remonta em voltar na História e fazer o dever de casa que não foi feito lá atrás. É preciso estudar um mecanismo que garanta a água para todos e esse mecanismo talvez passe por ter que fazer São Paulo parar de “inchar”, a exemplo do que acontece em Londres, que vem diminuindo a sua área. Além disso, obviamente, deve ser controlado o eterno desperdício de água que ocorre naquela área, onde se joga fora 34% de toda água já tratada, por conta de “gatos” (ligações clandestinas), vazamentos e os inúmeros usos indevidos. Por fim, também é fundamental que se promova o uso da água dentro de condições compatíveis com a realidade local, que hoje é de uma região carente de água e que não pode mais achar que água vem do céu e que Deus vai resolver tudo. Usar racionalmente talvez seja a única alternativa viável ao racionamento da água.

Estamos em São Paulo, aqui temos a maior população do país, a maior universidade do país, a maior agência ambiental do país (uma das maiores do mundo), o maior centro de pesquisas meteorológicas do país (um dos maiores do mundo) e não podemos mais achar que Deus ou São Pedro vão resolver os nossos problemas físicos, químicos e muito menos a ocupação dos nossos espaços urbanos. Não é possível morar tanta gente numa área de manancial como ocorre no entorno da Represa de Guarapiranga, por exemplo. Não é possível achar que buscando água mais além vai se resolver o problema. Temos que usar a ciência e principalmente a consciência para resolver a questão.

Não dá mais, independentemente dos governos, acharem que medidas paliativas vão resolver os problemas, porque a gente sabe que na verdade só estaremos adiando a morte e produzindo problemas maiores para o futuro. No que tange a água, estamos fazendo coisas erradas há mais de 100 anos e possivelmente no início não conhecíamos os nossos erros, mas hoje nós sabemos o que está errado e não podemos de maneira nenhuma continuar errando mais. É preciso ter coragem para dar um basta nessas coisas absurdas que estão aí e começar a mudar o quadro para que São Paulo possa subsistir no futuro com as próprias pernas.

A propósito Deus e São Pedro já estão fazendo a parte deles, porque já está chovendo novamente, mas agora é preciso que nós façamos a nossa parte. Comecemos encarando o problema de frente e aceitando que precisamos mudar a nossa maneira de tratar o recurso natural água e já estaremos fazendo alguma coisa mais útil do que se viu até agora. Vamos parar com esse nosso comportamento histórico semelhante aos bombeiros, isto é, nós até aqui só agimos apagando incêndios, mas agora a realidade terá que ser outra, até porque sem água não seremos capazes de apagar mais nenhum incêndio.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 nov 2014

Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Resumo: Nosso texto desse sábado diz respeito ao consumismo e suas consequências maléficas à Sustentabilidade e assim à humanidade e ao planeta como um todo. O consumo exacerbado da sociedade moderna precisa ser freado para que os recursos naturais possam ser preservado para as gerações futuras. O poder excessivo de compra precisa ser, de alguma maneira, controlado e o consumo deve limitar-se ao necessário. Nossa cultura esbanjadora necessita ter um fim, antes que seja tarde. A Sustentabilidade e Consumo Excessivo são coisas totalmente antagônicas e se quisermos efetivamente uma delas, teremos que abri mão da outra.


Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Ultimamente o que mais se ouve falar são as expressões Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Entretanto, essa coisa de Desenvolvimento Sustentável, além de não ser tão simples assim, ainda esbarra no forte interesse comercial imperante e no consumismo consequente desse interesse. Infelizmente, embora seja necessária, a Sociedade Moderna ainda não está preparada para a verdadeira Sustentabilidade.

Como é possível falar em Sustentabilidade se os padrões de produção e consumo continuam sempre aumentando indiscriminadamente, se a população continua aumentando descontroladamente, se o lucro continua sendo o objetivo primário de toda a Sociedade? Ora, como falar de Sustentabilidade sem pensar em Conservação de Recursos Naturais? Como falar de Sustentabilidade se só pensamos em gerar energia inundando lugares ou queimando alguma coisa, ou ainda, o que é pior, fundindo núcleos de átomos radiativos? Como falar de Sustentabilidade sem objetivar o controle de resíduos? E principalmente, como falar de Sustentabilidade sem conter o Consumismo exacerbado que se instalou no mundo, por conta de uma visão caótica e deturpada da realidade planetária e de uma cultura errônea e autodestruidora?

A maioria de nós, humanos, somos manobrados e ludibriados por interesses estritamente econômicos e fazemos exatamente o que esses interesses querem. Fazemos dos desejos deles, os nossos desejos e assim somos marionetes na mão dos grandes grupos econômicos, que só objetivam o lucro. Nossas casas são invadidas todos os dias por uma infinidade de propagandas, a maior parte delas mentirosas, e nós como ovelhas desgarradas do bando não resistimos à tentação, somos levados a fazer aquilo que não devemos e o lobo nos engloba e se alimenta de nossa carne. O pior é que muitos (infelizmente a maioria) de nós, ainda acham que isso é um bom negócio.

Talvez o meu exemplo, o predatismo do lobo com a ovelha, não seja o melhor exemplo para explicar o que realmente acontece, por dois motivos: primeiro porque o lobo mata a ovelha imediata e instantaneamente para se alimentar; segundo porque que o lobo só mata a ovelha para porque precisa comer para sobreviver. Um exemplo de parasitismo, talvez seja mais verdadeiro. Pense numa solitária que cresce quase que indefinidamente dentro de um homem, mas que não quer matá-lo, porque a morte do homem é a sua morte também. Assim a solitária vai minando o homem, até que ele acaba mesmo morrendo, porém numa situação doentia deprimente e a solitária já viveu bastante para reproduzir milhões de filhos. A propaganda faz exatamente isso conosco, ela não quer nos matar, pois depende de nós e assim acaba nos matando vagarosamente, tirando tudo que pode até que ficamos à míngua, enquanto ela engordou e se multiplicou.

A ideia de Sustentabilidade requer atitudes harmônicas e assim, depende de ações mutualísticas entre os envolvidos, um ajudando o outro para que todos se mantenham vivos no ambiente e não um destruindo o outro. Não é à toa e nem é uma coincidência que o Desenvolvimento Sustentável seja um mecanismo ecologicamente correto e benéfico, isso é uma necessidade natural que só agora, alguns de nós, estamos começando a compreender. A natureza é harmônica e nós antes de tudo somos seres naturais e por isso precisamos estar em harmonia com o planeta. Temos que tirar os recursos que precisamos para viver como as demais espécies vivas e nada mais, além disso. Entretanto, somos egocêntricos, esbanjadores, compulsivos, alienados, ambiciosos e não conseguimos pensar no interesse coletivo de nós mesmos, de nossos descendentes, das demais espécies e do planeta como um todo.

Vejam bem, a própria noção de Sustentabilidade envolve a necessidade de manter o mundo com qualidade de vida para nós e principalmente para os que ainda virão. Entretanto, como conseguir esse intento, se mesmo a nossa qualidade de vida atual está ameaçada por conta dos erros históricos que temos cometido e que, infelizmente, ainda continuamos a cometer?

A ideia de Sustentabilidade guarda, em seu bojo, alguns atributos interessantes, os quais vão desde a redução dos usos de recursos naturais e minimização dos gastos energéticos, passando pela diminuição da ostentação, do uso de supérfluos e pela derrubada no consumismo, até atingir a redução progressiva do fluxo econômico. Essas coisas dependem fundamentalmente de menor consumo individual e coletivo.

As pessoas têm que pensar menos economicamente e mais naturalmente, ou seja, o poder econômico, representado pelo dinheiro, tem que dar lugar ao verdadeiro poder das coisas naturais, pois estas sim é que têm valor. Para tanto temos que mudar a filosofia de vida predominante na humanidade e certamente essa não é uma tarefa fácil. Aliás, essa tarefa, embora seja necessária, aparentemente é impossível de ser conseguida, principalmente por conta do nosso modo de vida atual. Quer dizer, não é fácil pensar em Sustentabilidade da maneira como a grande maioria dos humanos é levada a ver e entender o mundo atualmente.

No mundo globalizado, falar em diminuir consumo é criar um grande problema, é tentar produzir o maior obstáculo à Economia, porque manter o consumo aquecido é a grande sacada da globalização. Produzir mais, para vender mais, por preços menores e se possível para todos é o grande objetivo. É por conta disso que os produtos acabam ficando escassos no mercado e assim se desenvolvem novos produtos, cada vez um pouco menos obsoletos que substituem os anteriores indefinidamente. O mercado não pode parar de crescer, a tecnologia não pode parar de se sofisticar, novos produtos precisam nascer e a população precisa comprar esses produtos, para que outros produtos possam ser desenvolvidos.

Em suma, nunca se pensa no homem como espécie viva, no planeta como casa de todos e muito menos nas demais espécies com quem dividimos a nossa casa. O pensamento exclusivo é na manutenção do mercado, que gera recurso econômico para continuar mantendo o próprio mercado. O dinheiro só trabalha pelo dinheiro. É bom lembrar para todos que dinheiro não tem vida e para os mais religiosos que ele também não tem alma e nem espírito. Por que não fazemos a mesma coisa que o dinheiro faz e não passamos a trabalhar por nós mesmos, ao invés de trabalharmos também pelo dinheiro?

Infelizmente, a tecnologia tem sua parte de culpa, quando não para de criar e se desenvolver, pois os produtos novos, as novidades, são os maiores chamariscos ao consumo e lamentavelmente nós não paramos de lançar produtos novos no mercado. A tecnologia, que também é um produto do homem, deveria ser utilizada em benefício do homem e não do dinheiro. O “Homo economicus” está mascarando o “Homo faber” e ambos estão destruindo o Homo sapiens e todo o planeta.

O Consumismo é o pior mal da humanidade e para o planeta, porque ele nos mata com nossa autorização, ele destrói o planeta com nossa anuência. Nós, Homo sapiens, deixamos de lado a nossa pretensa sabedoria e voltamos à condição de nosso ancestral mais primitivo o Australopithecus afarensis, pois estamos literalmente enfeitiçados, como seres ignorantes, pelo mal do dinheiro. É difícil para a maioria dos humanos entender que dinheiro não vale nada. O dinheiro é apenas um simbolismo, o que vale é cada um dos diferentes tipos de recursos naturais que necessitamos para viver.

O pior é que o tempo urge e nós não temos agido da melhor maneira possível para mudar o quadro e tentar reverter essa situação. Continuamos falando de Sustentabilidade, mas até aqui, a maioria dos humanos não está, de fato, trabalhando nesse sentido e enquanto continuarmos a priorizar o dinheiro estaremos, cada vez, mais longe da Sustentabilidade e do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável.

É fundamental que controlemos o consumo, controlando a produção bens artificiais, impedindo o crescimento população, minimizando o uso dos recursos naturais, decrescendo progressivamente a necessidade de energia, reduzindo significativamente a quantidade de resíduos e principalmente que respeitemos o planeta e a vida daqueles que ainda virão e que têm direito a viver num planeta saudável. Eles não precisarão de dinheiro se lhes dermos um planeta vivo e se começarmos a demonstrar que é possível viver sem consumo excessivo e sem dar valores sobrenaturais ao dinheiro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 nov 2014

O Meio Ambiente do Homem

Resumo: Nesse sábado temos mais uma publicação no ar, trata-se de um texto que pretende discutir sobre as funções da espécie humana no planeta e propor alguns princípios básicos que sirvam para permitir o estabelecimento de critérios iniciais para definir tais funções. Na verdade, o texto é uma abordagem filosófica que tenta desmistificar o homem como Senhor da Natureza e demonstrar a sua condição de simples organismo vivo como os demais habitantes planetários.


 O Meio Ambiente do Homem

A espécie humana é uma das mais recentes na superfície do planeta e sendo assim, quando ela surgiu aqui na Terra a grande maioria das espécies, senão todas, já existiam e já ocupavam os seus respectivos lugares (habitats) e nichos ecológicos dentro dos diferentes ecossistemas no planeta. Do ponto de vista estritamente ecológico, parece ser razoável supor que com a espécie humana essa situação não tenha sido diferente. Isto é, quando nossa espécie surgiu, ela também deveria ter o seu nicho ecológico específico para ocupar num determinado ecossistema.

Entretanto, qual é, ou melhor, qual terá sido esse primitivo nicho ecológico humano? Será que temos condições de responder essa pergunta e todas as que dela decorrem? Se tivermos, porque parece que nos afastamos tanto desse nicho específico e primitivo? Por que simplesmente passamos a interferir em tudo ou quase tudo no planeta? Somos efetivamente uma espécie degradadora e surgimos apenas para isso, ou seja, o nosso nicho é realmente destruir os demais? Enfim, qual a função do Homo sapiens na natureza?

Essa última questão é sem dúvida uma pergunta muito difícil, talvez até impossível de ser respondida, haja vista que temos muitas dificuldades, sobre esse entendimento mesmo no que se refere as demais espécies vivas. Para muitos a função natural de determinadas espécies não está muito bem esclarecida. Por exemplo, eu já ouvi inúmeras vezes a seguinte pergunta: “Professor, para que serve a barata?”. Essa é uma questão muito complicada de ser respondida, porque na simples opinião de grande parte dos humanos, a barata não serve para nada e por isso mesmo, não deveria existir.

Baseado nessa premissa errônea, inicialmente eu chamo a atenção para o fato de que a natureza não investiria em produzir algo que não servisse para nada e se os processos evolutivos naturais propiciaram o aparecimento de organismos como as “baratas” é porque de alguma maneira existe alguma importância na existência desses organismos. Tudo o que existe tem função na natureza e com as “baratas” certamente esse fato não é diferente.

Depois dessa premissa chamativa, eu continuo dizendo que, embora sociologicamente as “baratas” pareçam não servir para nada, naturalisticamente as espécies de animais daquele grupo que chamamos genericamente de “baratas” compõem um grupo muito importante de animais que se utilizam de detritos como fonte de alimentos e por isso mesmo ocupam ecossistemas onde os resíduos orgânicos aparecem em grande quantidade. Acredito que os meus alunos, embora se calem e até se deem por satisfeitos, ainda não conseguem entender isso muito bem. Eu mesmo tenho minhas dúvidas se apenas isso é satisfatório, principalmente se for considerado que a noção sociológica que geralmente se tem sobre as “baratas” é a daqueles “bichinhos nojentos” que, de vez em quando, aparecem na casa do homem.

Por outro lado, aproveito para chamar a atenção de que as “baratas”, por conta de suas vidas em ambientes “sujos”, também são animais de grande importância, porque são capazes de transportar e transmitir microrganismos produtores de moléstias em vários outros organismos vivos, inclusive animais domésticos e seres humanos. Nesse último sentido, também acabo chamando a atenção para a importância antrópica e social das “baratas”, haja vista sua relação com os humanos e com a sujeira (o lixo) que nós produzimos.

Enfim, eu não sei se resolvo todo problema, porém, embora impreciso, consigo me sair relativamente bem e dou alguma satisfação verdadeira sobre a pergunta do meu aluno, o qual acaba por aceitar minha resposta, ainda que possa ficar com alguma dúvida ou com certo grau de desconfiança das minhas informações.

Mas, agora imaginem que a pergunta feita pelo meu aluno tenha sido a seguinte: “Professor, para serve a espécie humana?” Efetivamente, do ponto de vista ecológico, eu confesso e acredito que não saberia responder especificamente para que serve nossa espécie e para responder essa pergunta, talvez eu produzisse uma resposta evasiva qualquer, ou então me ativesse mais aos valores sociológicos e até mesmo religiosos para tentar me livrar um pouco da “saia justa”.

Ou ainda, o que é muito mais provável, eu desconversaria e sairia pelo lado filosófico ou mesmo satírico. Diria que esta é realmente a grande questão humana, saber para que nós servimos aqui no planeta, haja vista que, da mesma forma que a “barata”, parece que não servimos para nada, além de degradar a Terra e de atrapalhar as demais entidades vivas do planeta.

Mas é exatamente aí que vem a questão maior: por que eu faria isso para responder a pergunta? Ou seja, por que eu não sou capaz de responder essa questão, aparentemente simples, além de muito clara e objetiva? Em, outras palavras, o que nós temos de tão diferente das demais espécies, que não possuímos condições, ou talvez não queiramos ter condições, de nos definir do ponto de vista natural?

Posso estar errado, mas creio que isso se deve, num primeiro momento, simplesmente ao fato da espécie humana interferir em tudo o que acontece no planeta e assim, não é possível saber, ao menos a priori, qual seria sua função precípua na natureza. Até porque, talvez a resposta esteja mesmo fora do limite físico e assim talvez não seja mesmo possível, para nós humanos, respondermos satisfatoriamente a questão, por mais que pudéssemos tentar.

Eu tenho andado bastante preocupado com esse fato e tenho pensado muito sobre essa questão. Até acredito que deve ser possível dar uma resposta satisfatória, assim como no caso da “barata”, desde que nos preocupemos em tomar algumas providências básicas. Sendo assim, gostaria de tentar responder essa pergunta e embora eu ainda não tenha uma resposta precisa, tenho algumas convicções (Quem sabe sejam apenas palpites?) sobre o assunto, as quais eu entendo que possam nos levar a verdadeira origem de nossa incapacidade de responder a questão e gostaria de dividir essas convicções aqui com o leitor. Vejo que precisamos investir, assumir e compartilhar 5 (cinco) princípios (regras) fundamentais para começarmos a caminhar na direção certa da resposta que buscamos.

Primeiramente eu acredito que o que vale para as demais espécies valha também para nós humanos, até porque temos o mesmo princípio biológico de qualquer organismo vivo. Sendo assim, temos que ter uma explicação lógica e biológica para a nossa existência como as demais criaturas vivas e temos que assumir essa explicação como base de nossa existência e fundamento de nossa continuidade orgânica. Do contrário, estamos fadados a extinção precoce. A regra é a seguinte: “como somos semelhantes a qualquer organismo vivo, temos que aprender com a natureza”.

Segundo, nós humanos historicamente temos sido orientados (obviamente por outros humanos) de maneira errada e assim nos perdemos no nosso caminho evolutivo primário e não conseguimos voltar aos trilhos. Desta forma é fundamental que identifiquemos quais são esses humanos que nos levaram aos caminhos errados e descubramos onde o erro começou para podermos retroagir e tentarmos seguir a nossa caminhada evolutiva dentro dos critérios naturais. Qualquer fator contrário a isso deverá ser considerado um impedimento aos interesses a espécie e como tal deverá ser desconsiderado. A regra é a seguinte: “até aqui fizemos muita coisa errada, mas agora somos obrigados a acertar”.

Terceiro, nosso padrão sociológico de pensar e de agir, deturpou a nossa imagem natural e nos fez reféns de princípios secundários e menos importantes para a nossa vida no planeta. A nossa meta precípua deve ser descobrir quais são esses princípios errôneos e descartá-los de nossa conduta como organismos vivos. Penso que alguns desses princípios errôneos já estão até bem conhecidos, porém não parecemos estar dispostos a abandoná-los e necessitamos trabalhar nesse sentido. É preciso ter sempre em mente que nada que implique na nossa piora como organismos vivos deve ser considerado importante para nós. A regra é a seguinte: “como organismos vivos que somos, temos que procurar primeiramente manter a nossa vida”.

Quarto, nossa conduta social deve ser consequência de nossas necessidades naturais e não o contrário, como infelizmente fomos levados a estabelecer e seguir ao longo do tempo. Temos que dar prioridade a vida de nossa espécie como organismos vivos que somos. Qualquer outro fator, em qualquer situação, deverá ser considerado secundário. Pelo bem de nossa espécie e do planeta, não podemos nos dar o direito de errar outra vez. A regra é a seguinte: “temos que considerar que somos organismos naturais, antes de sermos sociais”.

Quinto, o planeta Terra é a nossa única casa e por isso mesmo deve ser também realmente priorizado em todas as ações da humanidade. O homem, como espécie, tem que entender que é a espécie mais dependente do planeta e que precisa trabalhar diuturnamente para manter o status quo planetário, pois disso depende a própria existência de nossa espécie. A regra é a seguinte: “para entender o homem e sua origem, primeiro é necessário entender e manter (salvar) o planeta”.

Em suma, se considerarmos que embora existam vários organismos vivos, só existe uma Biologia; se seguirmos os princípios naturais independente de qualquer tendência antrópica que preconize o contrário; se dermos importância efetiva a nossa vida e das demais criaturas; se manifestarmos nossas condições sociais sempre presas a fatores e necessidades naturais primários e, por fim, se nos preocuparmos efetivamente com o planeta onde estamos, lembrando que ele é o único que temos para viver, tenho convicção que chegaríamos as nossas origens e responderíamos a essa “pergunta mágica” e a todas que dela decorrem.

Entretanto, lamentável e infelizmente, estamos caminhando na direção errada e a resposta assim tem ficado cada vez mais distante e mais difícil. Estamos gradualmente perdendo nossa identidade como espécie biológica viva, estamos nos afastando perigosamente de nossas origens naturais e assim estamos virando máquinas de reproduzir absurdamente, de ocupar incoerentemente os espaços do planeta, de destruir outras espécies biológicas e indivíduos de nossa espécie desnecessariamente, de degradar ambientes e de transformar as estruturas físicas que o planeta levou bilhões de anos para construir, de usar o patrimônio natural apenas para o nosso interesse particular, de vender e de comprar os recursos da natureza como se fossem produtos de liquidação, esquecendo que em última análise esses recursos são nossos semelhantes, porque fazem parte do mesmo todo em que nos encontramos, ou seja, o nosso planeta Terra.

Não quero ser fatalista, mas me parece impossível não ser. Precisamos mudar esse quadro, antes que a questão fique real e totalmente sem solução. Ainda há tempo, mas creio que está faltando muito pouco para o nosso colapso. O pior de tudo é que corremos o risco de nos extinguir sem sermos capazes de tentar responder aquela pergunta. Isto é, seremos a única espécie inteligente do planeta, aquela que foi capaz de entender um pouco sobre as demais. Entretanto, também seremos aquela espécie que se foi sem nunca ter sabido o que deveria ter sido. Mas, eu espero que ainda consigamos acordar do pesadelo que criamos e mudar o quadro, pois acredito que seja possível e continuo querendo saber: para que serve o homem?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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29 out 2014

A Introdução de Organismos e suas Implicações

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta um tema que precisa entrar mais seriamente nas discussões, quando se fala em manutenção da Biodiversidade e o Brasil como país de maior Biodiversidade do Planeta, precisa estar atento a essa questão. A Introdução de Espécies é uma questão séria que compromete bastante os ambientes naturais e não pode mais ser feita aleatoriamente como no passado.  O texto é bastante esclarecedor e apesar de ter sido publicado em 2008, ainda está bastante atual e por isso mesmo está aqui reproduzido na íntegra. Tenho certeza que será do agrado dos leitores.


 A Introdução de Organismos e suas Implicações

A introdução de organismos vivos em diferentes áreas tem sido um problema ambiental muito sério, talvez o mais sério de todos, no que diz respeito ao equilíbrio dos ecossistemas naturais, que tem acompanhado o homem ao longo de toda a sua história. Outrora, o homem levou, daqui para ali várias espécies e assim modificou muitos dos ambientes naturais, principalmente no entorno das vilas, das cidades e mesmo dos pequenos núcleos urbanos, onde as populações humanas se instalaram e se fixaram ao longo do tempo.

Assim, muitos organismos que o homem, desde cedo, aprendeu a cultivar e a reproduzir através da Agricultura, da Pecuária e da Domesticação, começaram também a se estabelecer em áreas diferentes daquelas regiões primitivas e endêmicas onde se originaram e desenvolveram. O cinturão verde, obrigatório à sobrevivência, trouxe as plantas, a necessidade de carne, do leite e dos ovos trouxe alguns animais, por fim, o relacionamento afetivo e a carência física trouxeram outros animais. Isso sem contar que a existência e o crescimento das próprias cidades, além de diminuir progressiva e significativamente os espaços naturais, também permitiu o desenvolvimento de uma série de outros organismos na casa do homem, em todos os lugares do mundo. A Fauna Urbana e Fauna Sinantrópica (associada ao homem) são quase que exclusivamente as mesmas no mundo inteiro, se não são as mesmas espécies, são espécies muito próximas.

O homem espalhou essas espécies pelo mundo afora, tornando muitas delas, artificialmente cosmopolitas e outras exclusivas de regiões totalmente distintas de suas áreas originárias. Raramente esses organismos voltaram à condição silvestre depois da interferência humana, embora haja umas poucas exceções. Sendo assim, a grande maioria desses organismos continua acompanhando o homem e consequentemente, eles não são mais encontrados nas condições naturais.

Mais recentemente, o homem propiciou alguma volta ao processo de introdução de organismos, por conta de necessidades agrícolas modernas, necessidades médicas ou mesmo industriais. Isso tem produzido efeitos, cada vez, mais maléficos aos ambientes naturais, os quais hoje estão extremamente reduzidos. Alguns desses organismos introduzidos são estimulados na sua capacidade reprodutiva, pois há um interesse, geralmente econômico, na sua multiplicação. Desta forma, modificam-se também os ambientes generalizadamente, criando grandes áreas diferenciadas artificiais para permitir a manutenção dessas espécies. Por exemplo, as áreas para criação de gado bovino ou para produção de soja aqui no Brasil.

Algumas vezes, nem há necessidade de se criar mecanismos adicionais, pois as próprias espécies têm recursos especiais que lhes permitem garantir as novas áreas de ocupação. Por exemplo, as populações de Eucaliptos aumentam no mundo todo, enquanto outras espécies diminuem e muitas até desaparecem. Ora, o Eucalipto é uma planta altamente competitiva que impede a presença e o desenvolvimento de outras na área onde vive. Sendo assim, aquele ambiente vai gradativamente mudando, até que só existam Eucaliptos no local. Isso é terrível, tanto ambiental, quanto social, emocional e moralmente, pois é fácil imaginar o que irá acontecer lá na frente. Uma paisagem homogênea, monótona e triste, na qual os animais praticamente desaparecem e cujo solo fica seco, empobrecido e após sucessivos cortes do Eucalipto fica totalmente estagnado e tendendo a desertificação.

Locais urbanos estão cheios de parques, praças e ruas com arborização exótica e com pássaros e outros animais estranhos à nossa fauna. O pardal, por exemplo, está no mundo inteiro e ainda bem que ele prefere as cidades, imaginem se essa espécie de pássaro resolvesse ocupar áreas naturais, o que seria dos pássaros nativos, haja vista o tamanho das populações de pardais.

Aqui no Brasil, além do Eucalipto já citado, temos alguns exemplos clássicos de introdução muito mal sucedidos e que têm comprometido muito o ambiente natural. Por exemplo, o javali no Pantanal e no Rio Grande do Sul; o Caramujo Gigante Africano, tão em moda, introduzido no Paraná e hoje encontrado em quase todo o país; o cavalo em Roraima; a garça carrapateira da Flórida, na Ilha de Marajó, que já chega ao Paraná e vários outros exemplos lastimáveis.

No passado nós pecávamos mais não sabíamos, porque nós não tínhamos conhecimento dos problemas que a introdução de espécies exóticas poderia trazer, mas hoje não podemos mais concordar com certas práticas. Hoje falamos muito em controle biológico, como uma boa maneira de controlar pragas, o que é uma verdade. Mas, isso não pode ser feito aleatoriamente, não e pode sair por aí colocando um animal para comer o outro sem critério e principalmente, sem controle. O risco é muito grande e talvez, lá na frente, determine um problema maior. A perda, cada vez maior, da Biodiversidade e crescente degradação dos ambientes naturais são em grande parte consequências da introdução de espécies.

Vejam bem, a introdução em si não é um mau negócio, porém as consequências ecológicas da introdução é que podem produzir resultados catastróficos, os quais na maioria das vezes não podem ser solucionados. Desta maneira, a espécie introduzida, acaba por adaptar-se ao novo ecossistema, pois vai ocupar um nicho vago ou competir com uma espécie nativa que ocupe um nicho semelhante àquele que ocupava no seu ambiente primitivo.

Nessa competição, o alienígena (a espécie exótica) acaba se saindo melhor, até porque não possui predadores e nem inimigos naturais na área, ficando mais livre para ocupar os espaços locais. Se, além disso, esta espécie exótica for profícua reprodutivamente, em tempo muito rápido sua população começa a sobressair quantitativamente na comunidade. Geralmente é isso mesmo que acontece, ou seja, a espécie exótica reproduz-se mais e melhor que a nativa, suplantando cada vez mais o número de indivíduos das populações naturais. Com isso, as espécies nativas vão tendo suas populações diminuídas progressivamente, em alguns casos, até a extinção total na área em questão.

Há, em Ecologia, uma noção clara de que duas espécies não podem ocupar o mesmo nicho ecológico. Quando isso ocorre elas entram em competição interespecífica, a qual acaba por levar a continuidade de uma delas e a extinção da outra. As nativas sempre perdem esta competição, exatamente por outras questões ecológicas, como a falta de predadores das exóticas e a dependência efetiva daquele ambiente através de vários aspectos pelas nativas.

A nossa volta está repleta de espécies introduzidas. A nossa mesa tem carne de boi, de porco, de galinha, tem feijão e arroz; a nossa cozinha tem moscas domésticas; a nossa casa tem baratas francesas, a nossa horta tem alface, o nosso jardim tem roseiras a caracóis exóticos, o nosso pomar tem peras e maças, algumas de nossas florestas têm javalis e cavalos. Muitas dessas introduções foram ocasionais e outras foram provocadas. De qualquer forma, no passado, quando fizemos essas introduções não conhecíamos os riscos que elas poderiam oferecer.

Hoje, porém, a questão é muito mais séria, pois além de sabermos dos riscos potenciais, os espaços naturais estão muito mais escassos e um desequilíbrio pode produzir mais facilmente o caos total para os diferentes ecossistemas terrestres. Não podemos desfazer o que já fizemos não há mais possibilidade física para isso e mesmo que houvesse tal possibilidade, existem várias outras questões de ordem social, legal, cultural e até moral, além da problemática ambiental envolvida, que nos impossibilitaria de simplesmente tentar reorganizar as coisas. O mundo está muito longe de sua base natural e não há como retroceder.

Por outro lado, não podemos nos dar ao direito de deixar, outra vez, um inseto, o bicudo, por exemplo, escapar de um Laboratório e virar praga de algodão numa região onde ele jamais poderia ser encontrado naturalmente. A fragilidade dos ecossistemas naturais, em particular os ecossistemas tropicais ricos em diversidade, mas com populações naturais relativamente pequenas e principalmente dos ecossistemas artificiais agrícolas, não nos permite arriscar mais nada. Mesmo as técnicas de controle biológico, tão propagadas hoje em dia, precisam ser bem estudadas, entendidas e controladas para evitar problemas consequentes.

A expressão “inimigo natural” tão usada no controle biológico, precisa ser mais bem definida. Inimigo natural é alguém que atua no controle populacional de outro alguém que vive naturalmente na mesma área que a sua e não uma espécie introduzida que irá atuar no controle populacional de outra espécie. Um animal da Ásia não tem “inimigos naturais” na América do Sul, até porque, naturalmente essas espécies jamais se encontrariam, o homem é quem permitiu e propiciou tal encontro, através da introdução de, pelo menos, uma delas na área da outra.

São conhecidos e famosos os casos das doninhas na Jamaica, dos coelhos na Austrália, dos carneiros nas Ilhas Galápagos e tantos outros em que a introdução de organismos vivos foi um grande malefício e que até hoje trazem problemas ás localidades envolvidas. Mas, não precisamos ir tão longe, temos exemplos aqui bem perto de nós, como a introdução da Rã americana aqui no Sudeste do Brasil, que dizimou a nossa Rã pimenta, a introdução do tucunaré da Bacia Amazônica nos lagos do Estado de Minas Gerais e vários outros exemplos.

Temos que evitar a qualquer custo que o processo de introdução de organismos continue acontecendo de forma arbitrária, pois não temos mais áreas e muito menos tempo para garantir que os resultados possam ser satisfatórios. A Legislação nesse sentido já existe, entretanto é preciso que as pessoas conheçam esta Legislação e se conscientizem de que essa é uma questão séria e que precisa ser tratada corretamente. Além disso, não podemos nos esquecer de orientar as pessoas que é necessário preservar bancos genéticos de espécies nativas em seus ambientes naturais, pois a manutenção da Biodiversidade do planeta é fundamental para a manutenção do próprio planeta e da continuidade dos processos evolutivos que permitiram o atual nível de organização e composição biogeoquímica que a Terra se encontra.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

Luiz Eduardo Corrêa Lima  ]]>

22 out 2014

O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Resumo: Nesse artigo, o Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante entre uma questão arcaica, mas que vem se arrastando no pensamento coletivo dos professores ao longo do tempo e que precisa ser esquecida para o bem do Processo Educacional e da Educação como um todo. Trata-se da priorização de certas disciplinas e da consequente minimização de outras em função das pretensamente mais importantes. Essa prática, além de totalmente infundada, prejudica enormemente o processo de aprendizagem e a formação integral dos alunos, embora ainda existam até setores dos governos que defendem esse absurdo.


O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Sou professor há mais de 38 anos e tenho sido muito homenageado por meus alunos ao longo desses anos. Penso que isso me credencia, ou se não credencia, pelo menos me mantem no direito de emitir uma opinião sobre a postura de alguns colegas professores, na hora de avaliar definitivamente os seus respectivos alunos, seus colegas de profissão, suas disciplinas específicas e em última análise a si mesmos. Acredito que falta bom senso e de um pouco mais de humildade em alguns colegas professores, os quais não só agem incoerentemente, como aparentemente se sentem numa posição muito acima aos demais professores das outras disciplinas, pois realmente assumem uma postura de superioridade como se fossem os “reis da cocada preta” e atuam como se avaliar pessoas não fosse algo extremamente complexo.

Aliás, esses professores interagem como se as demais coisas e pessoas que atuam no processo educacional, principalmente os seus alunos e os demais professores, não existissem e assim não seriam importantes nos seus respectivos processos de avaliação. A avaliação é um problema exclusivamente deles e só a eles cabe o direito sagrado de avaliar e decidir sobre a condição do aproveitamento de seus alunos e nem mesmo esses alunos (vítimas ou réus no processo), têm o direito de questionar os seus respectivos veredictos. Esses professores manifestam um absolutismo tal, que chegaria a causar inveja ao próprio Hitler ou mesmo a envergonhar alguns tiranos e ditadores de tão indubitável e seguro. Desculpem-me pelo aparente exagero, mas essas figuras ainda existem e estão presas a valores passados, mas que ainda são muito fortes no ranço de determinadas escolas e de alguns setores escolares.

No passado, mormente quando eu ainda estava cursando o antigo curso primário (Ensino Fundamental), portanto há cerca de 50 anos atrás, por muitas vezes ouvi alguns professores dizerem que “Português e Matemática eram as disciplinas mais importantes dos conteúdos escolares”. Mas é claro que hoje, a maioria de nós educadores, sabemos que isso é uma falácia, que além de antiga, é ilógica e principalmente inverídica. Esse tipo de afirmativa pode ter feito algum sentido no passado distante, mas hoje em dia, apesar de ainda existirem alguns defensores de argumentos desse tipo, cada vez mais isso se desmistifica e assume a condição de mera tolice.

Embora, algumas vezes, a gente ainda ouça aquelas coisas assim: “mas o fulano passou em tudo até mesmo em Matemática e Português, como é que pode ter ficado só em Biologia?” Como se Biologia fosse menos importante do que Matemática e Português. Na verdade, hoje nós professores temos (ou deveríamos ter) consciência de que não existe disciplina mais ou menos importante, pois todas são igualmente importantes e necessárias na formação do indivíduo em qualquer nível de ensino e mais particularmente no Ensino Médio, o qual por definição deve procurar ser o mais eclético e abrangente possível, buscando dar todos os horizontes e dimensões disponíveis para ampliar a visão do educando.

Por outro lado, é claro que a capacidade de recepção, isto é, a resposta dada pelos alunos às diferentes disciplinas é muito diversificada e assim nem sempre é a mesma. Aliás, a diversidade de respostas é de tal dimensão que quase nunca é a mesma. Alguns alunos têm notoriamente maior facilidade de entendimento e habilidade com algumas disciplinas e maior dificuldade e mesmo interesse pessoal com outras. É preciso que fique claro na cabeça de todos os professores que essa é a regra e não a exceção e que esse é um fato natural, independente da vontade e do desejo pessoal do professor e também do amor que ele tenha por sua própria disciplina. Pois então, é nessa mesma diversidade natural de interesses, habilidades, facilidades e saberes que se desenvolve a capacidade cognitiva e o conhecimento efetivo de cada aluno, que produzem a formação final do indivíduo como pessoa educada e como cidadão inserido na sociedade.

Pois bem, esses fatos aqui citados me parecem apresentar um modelo mínimo e sensato de razoabilidade que se espera no processo pedagógico educacional e que resulta na capacitação intelectual final do indivíduo aluno e da sua percepção de discrepâncias e da sua condição de discernimento entre elas, as quais são características fundamentais na identidade e na personalidade da pessoa humana na sociedade. Quaisquer que sejam os professores e quaisquer que sejam suas disciplinas específicas, eles deverão estar cientes desses fatos e por menos que possam concordar, eles devem considerar esses aspectos como premissas fundamentais na avaliação do aluno. A escola hoje é democrática e assim, todas as disciplinas são iguais, todas as pessoas envolvidas na educação e na formação dos alunos devem atuar ativamente no processo de avaliação escolar e todas têm o mesmo nível de poder.

Todos nós, seres humanos, de uma maneira ou de outra, fomos intelectualmente “produzidos” (formados e desenvolvidos) dentro de um padrão geral educacional único, independentemente dos locais por onde tenhamos passado e das demais pessoas com quem tenhamos vivido e aprendido. Ou seja, o processo que nos moldou foi e continua sendo quase sempre o mesmo, embora a metodologia específica aplicada possa ser oriunda de locais e pessoas distintas. Assim, o “produto final”, isto é, o “homem educado”, embora nunca seja o mesmo indivíduo, sempre será bastante parecido, qualquer que seja a pessoa humana em questão. Em suma, o processo que nos organiza e compõe como seres sociais e intelectualmente ativos na sociedade é bastante similar, embora possam haver nuances metodológicas distintas, os objetivos a serem alcançados são os mesmos e assim os resultados finais são praticamente idênticos.

Por outro lado, como Biólogo, posso garantir que não existem biologicamente seres humanos iguais, mesmo sabendo como professor que seguramente o processo de desenvolvimento educacional dos indivíduos dentro da sociedade humana, que os leva a formação sociológica como pessoas é praticamente o mesmo em todos os grupos sociais humanos. Se minha premissa for verdadeira, então, somos diferentes na Biologia (Genética), mas somos, ou deveríamos ser iguais (muito parecidos), na Sociologia, ou pelo menos na nossa vivência social. Desta maneira, se não tivermos uma base comportamental oriunda da Genética muito diferente e certamente não temos, então não podemos desenvolver comportamentos genéricos muito diferentes, apesar das diferentes culturas desenvolvidas e adquiridas pelos grupos sociais humanos.

Desta maneira, somos o resultado comportamental de nossa Genética e de nossas vivências sociais como aprendizes de seres humanos. Por outro lado, por termos sido moldados de maneira semelhante aos nossos mestres, acabamos por sermos “produzidos” como cópias genéricas deles. Quer dizer, do ponto de vista do comportamento social, cada pessoa humana é, além da Genética, a somatória intelectual de outras pessoas produzidas da mesma maneira que ela. Assim, do ponto de visto do comportamento, por mais diferentes que possamos ser, de fato, somos sempre muito semelhantes, porque somos oriundos do mesmo padrão de formação. Historicamente, há, em última análise, um conservadorismo muito grande no processo de socialização do indivíduo humano e eu particularmente suspeito que isso tenha um significativo valor de sobrevivência para nossa espécie.

Mas, ainda assim, alguns de nós têm insistido em querer se manifestar como pessoas diferentes e fora do padrão humano. Aliás, essas pessoas não querem apenas ser diferentes. Esses humanos de comportamento estranho querem ser efetivamente anômalos e entendem que estão acima (ou abaixo) do bem e do mal e pensam que aquilo que se propõem a fazer certamente deve ser a coisa mais importante do mundo. Infelizmente, algumas pessoas têm o dom de achar que o mundo se resume a elas ou ao interesse delas. Assim, as coisas mais importantes para essas pessoas, passam a ter que ser também as coisas mais importantes para todas as outras pessoas do planeta. Aqueles indivíduos e atores sociais que estão mais próximos dessas pessoas são os que mais sofrem com essa psicose acentuada que elas apresentam. Algumas vezes essa psicose se acentua a tal ponto que passa a ser uma doença comportamental grave ou gera uma esquizofrenia profunda e irreversível. A pior situação acontece quando um desses indivíduos por acaso é um professor e aí, coitados dos seus alunos.

Na verdade, todos nós, seres humanos, em certo sentido, temos um pouco dessa anomalia e agimos um pouco assim, até por questões naturais de autodefesa, o que é compreensível e em certo sentido até benéfico para nós. Entretanto, a maioria de nós também deveria lembrar que hoje existem mais de 7 (sete) bilhões de pessoas no planeta, além de cada um de nós e que esse contingente populacional cresce assustadoramente. Essa população planetária imensa, como já foi dito, é constituída por pessoas diferentes, mas que são formadas no mesmo padrão, sendo por isso mesmo são muito conservadoras, mas que têm interesses diversos e obviamente atribuem graus de importância qualitativa e quantitativa variados em relação às coisas, por conta de condições diversas e fatores culturais próprios.

Em suma, nós humanos, prioritariamente nós professores, precisamos entender de uma vez por todas, que naquilo que diz respeito às pessoas como indivíduos e suas respectivas vontades, tudo (absolutamente tudo) é possível, independentemente do que pensa o restante da sociedade e por isso mesmo devemos aceitar essa diversidade como algo inato aos seres humanos, principalmente quando os humanos em questão são os nossos alunos. O respeito às pessoas e às suas diferenças individuais tem que ser prioridade nas atividades e nas entidades sociais humanas, mormente nas escolas, onde se busca formar o “homem educado”.

Enfim, profissionalmente falando, o professor deveria ser um humano que fizesse exceção óbvia a essa idéia de querer ser superior aos demais humanos. O professor, aquele indivíduo que trabalha exatamente com a diversidade humana, não deveria procurar estar acima dessa diversidade e deveria começar desconsiderando qualquer tipo de preconceito. Além disso, ele deveria ser capaz de tentar minimizar e, se possível, desmistificar essa situação comportamental conflitante. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Continuam existindo professores que acham e por isso mesmo querem e alguns até exigem, que seus alunos sejam semelhantes entre si e mais, que os alunos reproduzam exatamente aquilo que esses professores querem. Isto é, esses professores atribuem um grau muito alto de valor às suas respectivas pessoas e por extensão às suas respectivas disciplinas. Quer dizer, além de reforçar o erro, falta modéstia e humildade a esses professores para ensinar aos seus respectivos alunos e assim contribuir com a melhoria da sociedade humana.

Aliás, quero crer que esses professores não devam ensinar, até porque o ensinamento é um processo de compreensão mútua que envolve dois lados que precisam chegar ao mesmo nível de entendimento, ainda que até em tempos diferentes. Na verdade, esses professores que se acham “os donos da bola” e querem continuar sendo assim, não são educadores, embora até possam tentar ser instrutores e até mesmo domadores de outras pessoas. Nas aulas desses professores não há participação, não há democracia, não há troca com seus alunos e assim, não pode haver ensinamento e nem aprendizagem. Desta maneira, só pode haver treinamento e adestramento e embora até possam ser desenvolvidas algumas coisas no que refere à aprendizagem, na verdade, não se desenvolve o intelecto humano que é aquilo que gera a liberdade individual e que se desmembra em criatividade e evolução cognitiva, que são os objetivos maiores e que, na minha maneira pessoal de entender, constituem o cerne da educação da pessoa humana.

Em última análise, esses professores, talvez nem devam ser chamados de professores e muito menos de educadores, porque não fazem educação e não produzem avanço na condição cognitiva dos seus respectivos alunos. As características de ser igual, de ser humilde e de ser participativo são fundamentais aos professores e, a meu ver, sem elas não pode haver o exercício do magistério. Como esses professores não possuem e nem utilizam tais características, eles não se enquadram na condição mínima para serem considerados professores.

Precisamos banir de nossas escolas aqueles professores que ainda pensam de maneira retrógrada e que se intitulam “os gênios do saber, os pais da matéria mais difícil e mais importante”. Nosso pensamento como educadores deve ser proativo e deve projetar a melhoria do conhecimento da humanidade. Esse pensamento básico deve buscar a formação de novos homens, com novos ideais e novas visões. A minha verdade como professor deve ser buscar que o meu aluno venha a ser melhor do que eu possa ter sido, porque só assim haverá progresso educacional e esta é a verdadeira necessidade da sociedade humana. Se não for assim não haverá evolução no processo educacional e não caminharemos na direção da liberdade.

Alguém já disse que o conhecimento é a única e verdadeira forma de liberdade, então se eu limito o conhecimento de qualquer ser humano com quem convivo àquilo que eu sei ou àquilo que já está estabelecido, eu estou cerceando a liberdade das demais pessoas a minha volta. No que diz respeito à educação, não progredir é necessariamente sinônimo de regredir, porque o conhecimento se faz sobre o conhecimento pré-existente e quando o conhecimento estaciona toda a sociedade anda para trás e se priva da possibilidade de liberdade maior.

Colegas professores, por favor, pensem nisso, façam uma reflexão profunda sobre esta questão e me digam se estou certo ou errado. Eu sei que é difícil mudar de comportamento, principalmente quando se está habituado a determinados modelos e condições “didáticas” e “pedagógicas”, mas se você chegar à conclusão de que eu possa estar certo no meu pensamento e que você se enquadra nesse padrão que precisa ser mudado, então faça a sua tentativa de mudança. Penso que se houver pelo menos a possibilidade de investir na tentativa de fazer diferente essa deverá ser efetuada e creio mesmo que só com isso já estará havendo algum progresso, porque o aluno perceberá e isso certamente será bastante benéfico ao processo educacional. Se você achar que eu estou louco e devo ser internado, peço, desde já, que me desculpe por sonhar uma educação melhor, por chamar a atenção para a doença que está aí, por colocar o dedo na ferida e pedir uma colaboração maior dos meus colegas, professores como eu.

Mas, se existe uma coisa que eu tenho certeza é que a escola tem que crescer independentemente de mim e daquilo que eu penso e espero que você também pense assim a esse respeito, porque a educação precisa disso e com certeza a educação é maior que a escola e que todos nós juntos. A Educação desse país está carente de valores e precisa de um choque profundo para voltar aos trilhos. O que estou propondo, obviamente não é solução do problema, o qual é grave e muito enraizado em outras questões, e talvez nem seja uma das únicas alternativas, mas certamente melhorará o processo educacional, minimizará conflitos e assim trará bons resultados à Educação como um todo. A regra futura deve ser objetivar sempre em crescer a Educação, porque só assim estaremos agindo no interesse de uma sociedade humana planetária cada vez melhor, mais igual e mais justa.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 out 2014

Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais um artigo, onde aproveita o dia do Professor para fazer uma reflexão sobre a Profissão de Professor e as necessidades para o exercício dessa profissão, que é responsável pela formação básica de todas as pessoas e também pela formação de todos os profissionais das outras profissões.


Profissão Professor: afinal qual é o segredo?

Introdução

Inicialmente quero falar um pouco de História. Não sou historiador, mas sou um ser humano e por isso mesmo sei que a História faz parte de mim e de toda a humanidade. Minha condição cultural como ser humano é consequência da História da Humanidade. Aliás, penso mesmo que o homem se torna mais humano a partir de cada dia que é acrescentado à sua História.

A História é fundamental, porque é ela quem relata e retrata todas as passagens da atividade antrópica sobre o planeta e talvez a grande diferença do homem para os demais animais esteja aí demonstrada, até porque biologicamente não existem grandes diferenças. Apenas os aspectos anatômicos divergem, mas a fisiologia animal é sempre a mesma. Assim, o homem se diferencia dos demais animais, nessa experiência humana que é única no planeta, pela possibilidade de contar, de refazer, de ensinar, de errar, de aprender, de corrigir e de mudar as coisas e as situações ao longo do tempo. Toda a Cultura da Humanidade reside na capacidade do homem de aprender, ensinar, modificar e transmitir.

Assim, talvez fosse possível dizer que sem ensinamento não haveria Cultura, não haveria História e assim o homem não seria intelectualmente tão diferente dos demais animais que habitam o planeta. O registro histórico é uma questão fundamental para a própria busca humana do conhecimento e do aprimoramento. Se a humanidade não aprendesse, guardasse e transmitisse as informações ao longo do tempo, certamente ela não teria caminhado de maneira tão significativa.

Aquilo que hoje, aliás, já faz algum tempo, nós chamamos de Educação, na verdade é o que garante a continuidade histórica e cultural da humanidade. Ou melhor, aquilo que nos últimos anos temos chamado de desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade, resulta dos processos básicos de criação, ensinamento, aprendizagem e transmissão da informação. É isso que a História nos conta e é isso que agrega Cultura ao acervo intelectual da nossa espécie ao longo do tempo. Embora isso seja aparentemente óbvio, sempre é bom, como educadores que somos, nós nos lembrarmos desse fato e dessa característica social humana. Somos o produto da quantidade acumulada e adquirida de informação ao longo de nossa História Natural na Terra.

O Professor, aquele indivíduo que professa e ensina uma ciência, uma arte ou uma técnica, seja ele quem for, é o sujeito mais importante da História Humana, porque sem ele não haveria o transporte e a continuidade do conhecimento ao longo da História e sem isso não existiria Cultura e nós não seríamos absolutamente nada de especiais como seres humanos sem essa condição. Seríamos animais efetivamente iguais aos demais, sem nenhuma conotação diferenciada. Em suma, o Homo sapiens sapiens jamais teria saído das cavernas, talvez nem tivesse entrado nas cavernas e talvez nem mesmo tivesse continuado sua existência no planeta até aqui, se não fosse a passagem gradativa do conhecimento acumulado pelas gerações das diferentes civilizações.

Bem, senhores, peço que me desculpem pelo detalhamento, talvez excessivo, mas considero que esse preâmbulo seja realmente necessário para dar andamento as minhas elucubrações sobre a Profissão de Professor, entretanto, não é exatamente sobre isso que queremos e devemos conversar nesse artigo. Porém, por outro lado, eu não poderia me esquecer sobre essa verdade histórica e sobre a importância de nossa profissão na História Humana e na permanência da Humanidade sobre a superfície da Terra.

Como ninguém nasce sabendo, obviamente é necessário aprender e o aprendizado se dá basicamente através da transmissão da informação. A profissão de Professor é aquela que garante a transmissão da informação e que ajuda a passar o conhecimento e produzir todas as outras profissões que existem. Certamente, não há nenhum indivíduo humano que não tenha participado da experiência de ter sido ensinado por um Professor, pois todo e qualquer ser humano sempre teve que aprender alguma coisa com outro ser humano que o ensinou. Esse outro ser humano que ensinou alguma coisa a alguém, de uma forma ou de outra, profissional ou não, certamente foi um Professor. Pois então, é sobre esse sujeito, essa figura ímpar, de importância relevante e fundamental em todas as sociedades humanas e em todos os momentos da história da humanidade, o Professor, que eu passarei a discorrer agora.

Atributos Fundamentais do Professor

Quando se pensa ou se fala sobre a função de Professor, algumas palavras e alguns requisitos automaticamente são lembrados e isso não é mera coincidência, ao contrário isso é uma contingência natural do exercício do Magistério. Ensinar profissionalmente exige alguns preceitos básicos, os quais estão subentendidos por alguns conceitos teóricos incluídos e abrangidos principalmente nas palavras a seguir: Cultura, Inteligência, Liderança, Criatividade e Sabedoria.

Esses são requisitos fundamentais e qualidades indispensáveis para qualquer indivíduo que manifeste a intenção de abraçar o Magistério Profissional e assumir a condição de ser Professor. Essas cinco palavras e seus respectivos conceitos precisam estar em consonância com as três qualidades necessárias ao Professor para o bom exercício de sua atividade profissional.

As Três Necessidades Fundamentais do Professor

Conhecimento – Estudar para conhecer bem sua área de atuação ou sua disciplina e poder opinar e discutir um pouco sobre as demais. Como foi dito acima, o Professor tem que ter Sabedoria, Cultura, Inteligência, Criatividade e Liderança. O Professor tem que ser um indivíduo generalista e tem que acumular saberes e conhecer um pouco de tudo, mas é preponderante que ele tenha domínio de sua área específica do conhecimento.

Além disso, também é fundamental que ele efetivamente seja capaz de demonstrar esse domínio, buscando exemplos, criando situações, simulando problemas e condições para que seu aluno perceba que “ele é o cara”. Pode ter certeza que é isso que ele quer, pois ele adora dizer: “Fui aluno do fulano de tal: o cara é fera!” Entretanto, o Professor precisa investir toda a sua capacidade intelectual para demonstrar que é mesmo a “fera” que seu aluno quer que ele seja.

Comunicação – Argumentar e Informar de maneira clara, objetiva, atraente e abrangente. A aula é o negócio do Professor, portanto ele precisa cuidar muito bem dela! Ela tem que ser interessante e chamativa, porque sempre haverá outras coisas que certamente poderão interessar mais e o Professor não pode perder a atenção do aluno.

A capacidade comunicativa é talvez a principal característica do “Bom Professor”. Um “Bom Professor” necessariamente tem que ser um bom comunicador. Não adianta ter muito conhecimento se não houver mecanismos de comunicação e transmissão capazes de levar esse conhecimento para os alunos de maneira clara, simples e agradável.

Segurança (Convicção e Poder de Convencimento) – O Professor tem que ter e tem que saber demonstrar que possui toda segurança sobre aquilo que fala. É igual aquela história da mulher de César, que não basta ser direita, mas tem que parecer direita. Em suma, o Professor tem que encantar, além de convencer o seu aluno. Se você é um “Bom Professor”, você sabe o que estou querendo dizer e sabe que isso, embora difícil, é possível e necessário.

O Professor na sala de aula é o protagonista de uma grande peça teatral e ele tem que efetivamente “dar o seu show”. Isto é, o Professor tem que manter o aluno atento e fazer com que ele se envolva naquele momento como se fosse um espectador totalmente encantado e vivendo aquela situação. Isso só é possível, quando se tem o total domínio da plateia e esse domínio é conquistado por convencimento e não por pressão, ameaças ou excesso de autoritarismo, como lamentavelmente ainda fazem alguns sujeitos.

O Professor tem que demonstrar sua autoridade através da sua capacidade de convencer. O aluno tem que acreditar naquilo que o professor está dizendo, pelo simples fato de que é o Professor quem está dizendo. Autoridade é algo que se conquista por mérito cotidiano e não que se impõe por força de vez em quando. Não há receita pronta, mas a melhor maneira de conquistar o aluno é sendo, educado, agradável, competente e convincente. Não há necessidade de bajular ou ser ridículo para agradar e convencer, basta apenas o Professor demonstrar educada e graciosamente que efetivamente sabe daquilo que está falando e seu aluno ficará maravilhado com você. Ser piegas é tudo que o Professor não pode ser, pois aí sua autoridade jamais se manifestará.

 

E então, qual é o grande segredo para ser um “Bom Professor”?

Meus amigos não há segredo nenhum. É óbvio que, como já foi dito, existem algumas exigências mínimas para ser um “Bom Professor”, mas todas essas exigências são possíveis de serem conquistadas e mesmo suplantadas por aqueles que tiverem interessados e quiserem atingir o êxtase do prazer, o verdadeiro orgasmo de ser Professor. Entretanto, é preciso gostar muito e querer mais. Freud já dizia a sua maneira que: sem vontade e sem prazer nada é possível. Ter vontade e fazer com prazer são atributos fundamentais para qualquer coisa e aqui no exercício do Magistério não é diferente. Talvez, sejam esses os grandes segredos, que permitem superar as dificuldades do exercício da Profissão de Professor: a força de vontade e a busca do prazer.

Mas, alguns colegas dirão, mas que vontade devo ter para trabalhar nas condições em que trabalho e para ganhar o salário de fome que eu ganho? Que prazer devo ter para continuar trabalhando feito um miserável, como eu tenho que trabalhar?

Bem, essa é uma questão que cada um deve responder a sua maneira. Não sei, mas, no meu caso específico, talvez eu seja meio (ou muito) masoquista ou mesmo louco, porém depois de mais de 38 anos efetivos de exercício do Magistério Profissional, eu continuo adorando o que faço e fazendo a cada dia com mais prazer. Em contra partida, tenho sido homenageado todos os anos ininterruptamente, pelo menos até aqui, pelos meus alunos nas diferentes escolas e nos diferentes cursos em que atuei. Ora, que prazer maior eu posso querer ter? Que maravilha, faço o que me dá prazer e ainda me pagam e me homenageiam por isso!

Meus colegas Professores, nenhuma profissão pode dar isso que a nossa nos concede. Trabalhamos com pessoas e essas pessoas nos admiram e nos adoram ou não, simplesmente pelo que somos e nós certamente não somos super heróis. Não prometemos nada, não damos nada, não fazemos nada que possa ser avaliado com algum valor venal, apenas procuramos ensinar e ver aquele indivíduo crescer e ser melhor. Isso nos coloca numa condição de altruísmo tal, que aquele indivíduo que recebe o nosso trabalho geralmente nos supervaloriza, desde que sejamos merecedores e efetivamente capazes de realizar um bom trabalho. Só depende de nós mesmos e para isso precisamos apenas trabalhar com seriedade e entender que, em certo sentido, o exercício do Magistério acaba sendo isso mesmo, uma doação altruísta que fazemos e um investimento no futuro da Humanidade para que a Cultura se estabeleça cada vez mais e que a História continue, como eu já disse lá no início do texto.

Estudar, aprender e ensinar, essas são verdadeiramente as palavras, os três verbos, as três ações, que nos devem atrair mais que quaisquer outras, pois o nosso negócio, a Educação, está basicamente contido nessas três palavras mágicas. Se fizermos essas coisas com prazer e vontade, certamente seremos “Bons Professores” e os nossos alunos continuarão nos homenageando eternamente. Sim eternamente, pois mesmo depois de mortos, nós continuaremos sendo lembrados e tendo grande importância na vida de cada um de nossos alunos e nós continuaremos falando (ministrando aulas) para outras pessoas através deles. Pense um pouco e você certamente verá que eu tenho razão, pois você, de repente, está quase sempre pensando e lembrando aquele “Bom Professor” que você teve em dado momento e que lhe ensinou uma determinada coisa ou lhe forneceu certa informação. Pense mais e você verá que, de vez em quando, você cita uma frase, uma fala, um mote, ou qualquer coisa que você aprendeu com algum Professor. Existem inúmeras pesquisas que comprovam que os Professores são os profissionais que mais marcam na vida da grande maioria das pessoas.

Meu amigo, meu colega Professor, o seu aluno é gente como você e sofre as mesmas vicissitudes e vive no mesmo tempo histórico que você e se ele não vive necessariamente a mesma História, pelo menos vive na mesma trilha histórica que você e também deverá lembrar eternamente de você como Professor. É bom lembrar que é até possível que ele não se lembre do seu nome, mas certamente ele se lembrará do Professor daquela matéria que lhe disse aquela determinada coisa. Mas, isto só acontecerá, se você for, de fato, um “Bom Professor”, porque não existe nenhuma lembrança significativa sobre os outros. A escolha é sua.

Por favor, se você optar por não ser um “Bom Professor”, então desista desde já do Magistério e procure outra coisa para fazer enquanto você ainda tem tempo, porque o aluno, da mesma maneira que adora, idolatra e venera, também deprecia, odeia e repudia. Faça um exame de consciência e busque a satisfação e o prazer, mas seja Professor por inteiro, Professor com “P” maiúsculo, como escrevi essa insigne palavra todas às vezes no transcorrer desse texto.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima

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12 out 2014

A ARTE DE EDUCAR BEM

Resumo:A partir de um caso imaginário, o Prof. Luiz Eduardo tenta apresentar uma situação referente aos principais problemas educacionais encontrados na sociedade, indicando como sendo possíveis culpados a família e o governo e ainda propondo uma conscientização das escolas para o orientação de que a coletividade deve ter prioridade sobre a individualidade como regra na sociedade.


A ARTE DE EDUCAR BEM

 

“Educação é fundamental”. “Sem educação não há solução”. “A educação é a base de tudo”. “Todos os problemas são, antes de tudo, problemas de educação”. Esses e vários outros chavões já foram ouvidos milhares de vezes por quase todas as pessoas, mas como são chavões não parecem ser verdades e as pessoas escutam e repetem, porém não acreditam, não investem e não vivem as verdades contidas em cada um desses chavões.

A confirmação destes fatos traz em si a própria necessidade da educação e a consequente carência educacional em que vivemos, pois não efetivamos os conceitos educacionais que proclamamos. Isto é, vulgarizamos a educação de forma tal que a própria noção que temos de educação é de algo que não tem muito valor, embora tenhamos que adquiri-la por conta de alguma convenção pre-estabelecida, algum mal sociológico ou talvez até, porque possa ser interessante ser educado.

A educação passou a ser, por contingência, o assunto da moda, que sempre está fora da moda. Falamos em educação todo o tempo, porém não fazemos educação em momento nenhum e o que é pior, deturpamos a noção de educação e criamos um cenário em que não ser educado acaba sendo uma grande virtude, pois estimulamos atitudes que refletem grande falta de educação.

Em suma temos uma situação conflitante entre a teoria e a prática, no que tange a educação. E esse quadro precisa ser modificado vertiginosamente, pois os abusos advindos desta confusão epistemológica, metodológica e conceitual têm produzido uma total inversão de valores na sociedade em todos os níveis. Sendo assim, vamos tentar demonstrar como imaginamos que será possível produzir uma boa educação.

Imaginemos a seguinte situação teórica.

Uma senhora com toda a preocupação possível vai atravessando a rua e eis que um menino de bicicleta, em alta velocidade e na contra mão, atropela a senhora, derrubando-a no chão, e vai embora, sem que ninguém se manifeste e ainda diz assim: “o velha cega olhe por anda, quase que me você derruba, sua nojenta”.

Na verdade, nos tempos atuais a falta de educação e a libertinagem é tal, que a terminologia utilizada certamente seria de mais baixo calão do este. Mas, isso não vem ao caso, até porque é só um exemplo.

Quero crer que qualquer pessoa já deva ter visto (talvez até vivido) uma situação parecida com esta.

Agora vamos tentar descobrir e analisar quantos problemas educacionais existem na cena:

1 – Menino de bicicleta na contra mão – O “Novo” Código Nacional de Trânsito, que lamentavelmente, não pegou, proíbe que ciclistas trafeguem na contra mão. Lei é lei e não tem que pegar ou não, ela tem que ser cumprida ou então não é Lei.

2 – Agressão física à Senhora – Derrubar uma senhora, de propósito ou não, é uma agressão física, que pode refletir, pelo menos falta de atenção, entretanto muitas vezes esse atropelamento é premeditado (desculpem-me pelo pré-julgamento).

3 – Ofensa moral à Senhora – Ofender, sem razão, com palavras de baixo calão uma Senhora é, no mínimo, uma falta de princípios éticos e de consideração com as demais pessoas da sociedade.

4 – Falta de respeito ao falar com uma pessoa, particularmente sendo mais velha – Desrespeitar uma pessoa mais velha demonstra total falta de escrúpulos e de noção de moralidade e da valorização que os mais velhos devem ter, pois precedem a nossa existência. Se eles não tivessem vivido, talvez também não vivêssemos.

5 – Segundo o ciclista, a senhora é quem quase derruba ele – O egoísmo e o individualismo são duas das principais características dos mal educados. Parece que só eles existem, pois só eles são importantes. As outras pessoas sempre os atrapalham, mesmo quando são eles quem protagonizam as ações drásticas.

6 – Total despreocupação com as pessoas do entorno – No momento da ofensa, o mal educado diz qualquer coisa para qualquer um, sem se preocupar com quem está por perto. Até porque, como foi dito no item anterior, as outras pessoas não são importantes.

7 – Alienação das pessoas do entorno, que não fizeram nada – A sociedade é hipócrita, apática e não reage às ações que ela efetivamente reconhece como sendo errôneas. Aceitamos tudo, desde que não sejamos envolvidos direta ou indiretamente.

8 – Essa cena acontece, várias vezes, todos os dias – A sociedade já se “acostumou” com as coisas erradas como estão e certas situações tornaram-se banalizadas a ponto de não fazerem nenhuma diferença no comportamento social.

Então eu pergunto: o que a sociedade tem feito para evitar isso? Eu mesmo respondo. Nada, absolutamente, nada.

Não fazemos nada porque todos somos mal educados e porque estamos bem com a nossa má educação. Só procuraríamos entender e talvez até discutir o problema se, por acaso, estivéssemos no lugar da senhora. Aí, ficaríamos aborrecidos e iríamos procurar aqui e ali uma maneira de culpar alguém do acontecido.

O mais interessante é que ainda assim, muitos de nós relutaríamos em culpar o menino, porque há um outro aspecto a ser considerado. A sociedade tem medo e nós não sabíamos quem era aquele menino, que passou tão rápido e não foi possível identificar. De repente, ele era filho de alguém importante, ou era filho de um parente ou amigo nosso, ou ainda poderia ser um aprendiz de marginal (“trombadinha”), que na verdade queria pegar a bolsa da senhora. Então, porque dizer alguma coisa e correr um risco desnecessário. Diz o ditado que: “em boca fechada não entra mosca” e que “quem não faz nada não vai preso”. Por outro lado, eu quero lembrar também que “quem não deve, não teme” e que “aquilo que eu não quero para mim, não devo fazer aos outros”. Aliás, esse último dito deveria ser o grande acordo de toda sociedade para poder viver bem.

Geralmente, o principal culpado que encontramos é o Governo, em qualquer dos seus níveis. Efetivamente o Governo tem a sua parcela de culpa, mas não é, de forma nenhuma o único culpado. A culpa é da sociedade mal educada que somos. Nossa sociedade, ao invés de tentar deter ou, pelo menos, remediar a tempestade, faz que nem avestruz, enfia a cabeça no buraco para não ver o que está acontecendo e espera a tempestade passar. Como não vimos o que aconteceu, pois estávamos com a cabeça enterrada, não podemos fazer nada em relação ao assunto. Assim, a cena se repete várias vezes e ninguém vê e muito menos diz alguma coisa.

O título desse artigo fala na arte de educar para o bem e a mim parece extremamente fácil. Basta começar a agir no sentido contrário da maré e ao invés de concordar com os erros, ou fingir não vê-los, ou ainda culpar o Governo por todas as coisas que acontecem, porque não começar um processo de depuração da sociedade pela sociedade. As coisas erradas (ruins para a coletividade) devem ser reprimidas pela sociedade, pois só assim elas tenderão ao desaparecimento.

Educar para o bem não é fazer só coisas boas ou benevolentes, mas é, antes de tudo, trabalhar pelo interesse coletivo e contra o individualismo. A sociedade é muito diversa pois é composta de vários setores, vários segmentos, vários profissionais que se unem e que se corporativizam em vários grupos, entretanto todos esses grupos são formados, sobretudo, por pessoas. O interesse das pessoas tem que estar acima do interesse dos grupos, pois esses últimos só existem porque as pessoas existem.

É preciso educar para o bem, fazendo o bem social e rechaçando o mal à sociedade. A família precisa se reestruturar e o Governo precisa fazer a sua parte, mas é preponderante que a sociedade diga o que quer e prove que quer o que diz querer. A ação social coletiva vai acabar com o menino na contramão em alta velocidade, porque não haverá interesse social que conceba este fato. A senhora vai poder atravessar a rua e talvez até ela seja atropelada, mas a postura do menino e das pessoas do entorno serão outras, basta apenas a sociedade querer.

As escolas deverão ensinar esse preceito, a vida em sociedade tem que ser boa para todos e “o direito de cada um acaba, quando começa o do outro”. Andar de bicicleta é um direito, mas andar a pé também é. As pessoas só andam de bicicleta porque primeiramente foram capazes de andar a pé, então andar a pé tem prioridade sobre andar de bicicleta. O menino precisa aprender isso e tem que entender que há uma Lei, o Código Nacional de Trânsito, que dispõe sobre a maneira correta de proceder quando se está dirigindo um veículo, seja um caminhão ou uma bicicleta. Mas ele terá que se conscientizar de que antes da bicicleta ou do caminhão estão as pessoas e que ele também é uma pessoa que tem direitos e deveres para com o resto da sociedade.

Será que isso é tão difícil assim? Será que acreditar que é possível educar para o bem é uma utopia? Será que todos males que afligem a sociedade não resultam desta falta de educação par o bem? Desta falta de vontade coletiva de viver melhor?

A educação é um processo e como tal só se desenvolve com trabalho e metodologia adequadas. A arte de educar bem deve ocorre a partir de princípios éticos que destinem a sociedade ao bem, isto é, princípios que evidenciem a importância e a necessidade do coletivo antes do individual. Arregacemos as mangas e vamos colocar as mãos na massa para construirmos uma nova sociedade, que se não beneficiar a todos, certamente beneficiará a grande maioria e que acabará com a nossa falta generalizada de educação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 out 2014

O Professor e a Caixa de Fósforos


O Professor e a Caixa de Fósforos

Assim como é uma caixa de fósforos com seus respectivos palitos incineráveis, também é o professor com o seu conhecimento e sua capacidade de ensinar. Ambos têm um grande potencial para “botar fogo”, o fósforo nas coisas e o professor nas pessoas. Entretanto, se ambos não forem estimulados, apesar do potencial que possuem, nada acontece.

O tempo passa, novos mecanismos incineradores surgem, mas na hora de acender o cigarro, de produzir um fogueira para o churrasco, na hora de queimar qualquer um objeto qualquer, enfim, na hora de “botar fogo” em alguma coisa, a primeira ideia que se tem em mente é sempre aquela da caixa de fósforos, ainda que hoje em dia, possam existir inúmeros aparelhos e mecanismos, cada vez mais modernos para produzir a incineração.

Com o professor acontece, ipsis litteris, a mesma coisa. Os mecanismos de ensino, os chamados multimeios, estão aí, cada vez mais diversificados e mais sofisticados, entretanto ninguém pensa neles antes do professor, porque eles não são capazes de realizar nada sozinhos. Apenas o professor é capaz de ensinar e os multimeios, que até podem ser ferramentas úteis, sempre necessitam do professor.

Se até aqui, apesar das novidades, não trocamos as caixas de fósforos, também não podemos e nem devemos trocar os professores, haja vista que ambos são essenciais ao bom andamento das coisas e, em certo sentido, acabam sendo vitais às necessidades em que atuam. A figura do professor, com seus multimeios ou não, da mesma forma que a caixa de fósforos com seus palitos incineráveis, também é uma ideia simples, porém insubstituível, como dizia uma antiga propaganda de caixa de fósforos.

Entretanto, ultimamente, temos tido, infelizmente, algumas ideias absurdas quanto aos professores e suas maneiras de atuar, porque diferentemente dos palitos de fósforos que têm que ser acionados mecanicamente por ação externa humana, bastando apenas riscar o palito, os professores são humanos e precisam de uma série de outras coisas para funcionar, as quais são independentes de um simples ato mecânico. Os professores pensam, sofrem, amam e principalmente têm vontade própria para agir e qualquer ato mecânico, do mais simples até o mais extremamente complexo, depende dessa vontade.

Pois então, a vontade é o agente detonador da atividade do professor e obviamente de todo e qualquer ser humano. É através da vontade que o professor pode buscar todas as outras qualidades que necessita para desenvolver bem o seu ofício de ensinar. É através da vontade que o professor estuda, aprende e ensina. O professor, antes dos multimeios, precisa ter algum conhecimento e muita vontade para poder ensinar.

Ora, mas então, como fazer explodir essa vontade internamente no professor para que ele possa “botar fogo” nos seus alunos, produzindo uma boa qualidade de ensino?

Imagino que sejam necessárias algumas condições físicas e psíquicas, mais precisamente considero pelo menos quatro condições fundamentais, as quais podem agir como estimuladoras ideais da vontade do professor.

Primeiramente é fundamental que se tenha condições infraestruturas mínimas para exercer um bom trabalho, quais sejam: local de trabalho limpo e asseado, segurança garantida, material funcional disponível dentro da necessidade mínima do uso. Depois, vejam bem depois e não antes, é fundamental um salário compatível e digno, ao menos satisfatório para o exercício da função e organizado numa grade que permita vislumbrar uma condição de crescimento funcional na profissão. O salário tem que ser consequência do trabalho e não o contrário. Sendo assim, primeiro é preciso pensar no trabalho para depois pensar no salário, mas para que o trabalho se desenvolva a contento, há necessidade de que existam algumas condições físicas ideais.

Num segundo momento, é importante lembrar que o professor precisa gostar de ser professor. Ensinar é um ofício que tem peculiaridades como outro qualquer e exige cultura e curiosidade razoável, além de grande capacidade de argumentação, de conversação e de convencimento. Embora essas características andem bastante escassas nos tempos atuais, os professores não podem abdicar das mesmas para o cumprimento do bom exercício de suas respectivas funções. Professor que não se adequa a essas peculiaridades, que não gosta do que faz e que está dando aula por falta opção melhor precisa ser banido dos meios educacionais.

Outra coisa muito importante é que o professor, além de culto e curioso, como já foi dito, seja também conhecedor de sua matéria e que esteja sempre atualizado em relação a mesma. Para tanto torna-se necessário que existam cursos de extensão, de atualização, de reciclagem e de aperfeiçoamento que o professor possa cursar por conta dos empregadores, mas também por suas próprias expensas, haja vista que o interesse em melhorar profissionalmente deve ser, de forma precípua, do próprio professor. É fundamental que o professor saiba muito bem sobre aquilo que fala, pois ele tem que convencer ao aluno quando está falando e só quem conhece tem segurança e produz convencimento. Sem conhecimento não se cria bagagem, não se está seguro, não se desenvolve capacidade argumentativa e assim não é possível ensinar e muito menos convencer quem quer que seja.

Por fim, também é muito importante que o outro lado, os alunos, se predisponham a receber a informação e que vislumbrem aquele conhecimento contido na informação como fonte de interesse para sua vida individual ou social, tanto do pontos de vista teórico, prático, funcional, filosófico, ético e moral. Se o aluno não der importância ao ensino, certamente o ensino não acontece, porém o professor tem que procurar demonstrar essa importância que o aluno precisa ver e que muitas vezes ele infelizmente não quer. Embora o aluno deva vir para a escola cônscio de sua parte no processo educacional, a tarefa de motivar, em certo sentido, também pertence ao professor. Cabe a ele tornar a sua aula interessante para despertar um pouco mais o interesse de seu aluno.

Não sei se isso é bom ou ruim e nem vou discutir esse fato aqui, porque foge ao interesse deste modesto ensaio. Porém, a verdade é que no ensino privado as condições acima descritas estão mais bem estabelecidas do que no ensino público e assim fica fácil entender porque o ensino privado está significativamente melhor que o ensino público, embora isso não seja uma regra absoluta. Todavia, faço questão de lembrar que no passado a verdade era outra e ocorria exatamente ao contrário do que hoje acontece e muitos de nós, inclusive esse escriba, tiveram seus ensinamentos básicos em escolas públicas. Aliás, é bom ressaltar, que as vagas nas escolas públicas eram disputadas através de concursos e só os melhores, a partir de uma nota mínima estabelecida anteriormente ao concurso, conseguiam ingressar nessas escolas.

A caixa de fósforos exige condições especiais para produzir o efeito esperado, por exemplo, para “botar fogo” é preciso haver oxigênio no ambiente onde a riscagem do palito de fósforo acontece. Além disso, é necessário que o palito de fósforo e o local da riscagem na caixa estejam secos. Se essas condições mínimas forem estabelecidas e o ato mecânico que estimula o efeito se efetivar, certamente a incineração sempre acontecerá.

Com os professores a questão é bastante diferente, embora eles também sejam profissionais que têm necessidades especiais, não basta apenas satisfazer essas necessidades para que a ação esperada se realize. Os professores trabalham com um material que é especial, o aluno, o qual também é um ser humano. Como já vimos, esse tipo de material, o aluno, assim como o professor, tem vontade própria e essa característica pode mudar tudo, independentemente das condições ideais estarem todas estabelecidas. Ao contrário do que muita gente pensa, ensinar é uma tarefa muito difícil e não é qualquer um que pode estar em condições de desenvolver essa função, há necessidade de um bom preparo, de uma boa qualificação e sobre tudo de muita vontade.

Em suma, se todas as condições básicas forem satisfeitas e se os alunos e os professores tiverem vontade reciprocamente, os professores poderão “produzir boas chamas”, dar boas aulas e assim formar bons alunos. Porém, se não houver vontade, mesmo que todas as condições estejam estabelecidas, o palito que produziria a chama da Educação não se incinerará e as chamas não se formarão. Ou seja, sem vontade não há ensino. Aliás, sem vontade não há nada.

Então meus amigos, acabo finalmente de chegar onde eu queria. Estamos vivendo um momento em que somos cientes da necessidade dos professores como profissionais, porque estamos carentes de informação e de conhecimento. E mais, temos certeza de que a Educação é o único caminho que poderá nos levar a uma condição melhor. Entretanto, estamos fazendo a coisa errada, pois estamos tentando acender palitos de fósforos molhados e o que é pior, no vácuo. Desse jeito vamos ter que destruir muitas caixas de fósforos e gastar muitas vezes mais energia do que conseguiremos produzir. Isso admitindo que sejamos capaz de conseguir produzir alguma coisa, o que, pelo andar da carruagem, é bem pouco provável, para não dizer impossível.

Gente, está na hora de melhorar as escolas, mas de colocar gente boa e capaz dentro delas, de remunerar e qualificar melhor os professores, de questionar os pais para que ajudem a motivar seus filhos, de aprovar os bons e de reprovar os maus alunos, pois só assim, vamos poder “botar fogo” na educação do país, produzindo um ensino de boa qualidade que nossa gente tanto necessita. Chega de conversa mole, pois na vida tudo se põe à prova, até mesmo uma simples caixa de fósforos, se está em desacordo é descartada, então porque com a Educação, que certamente é a mais fundamental das atividades humanas, temos tentado mascarar a realidade e agir diferente.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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