Categoria: Artigos

Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

21 jan 2022
A Situação Atual da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

A Situação Atual da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

Resumo: Neste artigo o autor apresenta uma pequena viagem histórica, sobre os 400 anos de ocupação da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, sua consequente degradação e chama a atenção para a necessidade dos cuidados que visam permitir a garantia de água para a gerações atuais e futuras na região.


(Texto base para a Palestra Proferida no Rotary Club do Rio de Janeiro)

Era uma vez um Rio, que nascia no topo de uma serra (Serra do Mar), no município de Areias/SP, com o nome de Rio Paraitinga, a menos de 100 quilômetros do Oceano Atlântico e que, um pouco mais à frente, ainda nessa mesma serra, se encontrava com outro, o Rio Paraibuna, e assim se formava o Rio Paraíba do Sul. Ele segue, descendo esta serra, em sentido Sudoeste, até esbarrar num maciço rochoso intransponível de outra Serra, (Serra da Mantiqueira) e assim é obrigado a mudar de rumo passando a se dirigir para o norte.

A partir daí, em sua caminhada, este rio atravessa toda região do Vale do Paraíba Paulista, adentra o estado do Rio de Janeiro e segue entre essas duas serras, recebendo contribuição de alguns afluentes, margeando o estado de Minas Gerais, até transpor de vez no Rio de Janeiro e seguir em direção sudeste até o Oceano Atlântico, alcançando a praia de Atafona, no município de São João da Barra. Desde seu surgimento até o encontro com o oceano, este rio segue um percurso total de aproximadamente 1.150 quilômetros e sua bacia hidrográfica abrange uma área total com mais de 55 000 Km².

Pois então, no início este rio só conhecia a água que conduzia e as espécies vivas que havia dentro dessa massa de água, além, é claro, das margens que se ampliavam ou diminuíam, de acordo com a quantidade maior ou menor de água que existia, em função das chuvas. Seu entorno era basicamente uma floresta de galeria (mata ciliar) e alguns poucos animais que chegavam às suas margens e obviamente os poucos humanos nativos, os Puris, que já existiam na região.

Por volta de 1560, esse cenário começa a se modificar, com a chegada, ainda escassa e pouco significativa do homem branco. Entretanto, no início do século XVII (1620), essa calmaria se transforma progressiva e rapidamente, porque a presença do homem branco é cada vez maior e suas atividades, a princípio apenas agrícolas e mineradoras de subsistência. Depois o comércio se intensifica, as populações crescem, ampliando as vilas e as cidades que surgem e crescem cada vez mais. Porém, o cenário segue ainda pacato e bucólico.

Passam o ciclo da cana e a rota do ouro e aí, pouco depois de 1800, vem o café, o “ouro verde”. Nesse momento a fisionomia da região se transforma grandemente e o rio Paraíba do Sul, rapidamente também começa a mudar significativamente, porque tudo o que sobra, isto é, todo o resíduo vai diretamente parar em suas águas, que, nessas alturas, já não são tão limpas e vão ficando pior.

Nessa época os empregos eram quase todos agropastoris, e depois de 1880 a ferrovia assumiu alguns trabalhadores e as olarias, as tecelagens, as fábricas de pólvora e os pequenos comércios mealhavam outros. Depois de 1920 o café, que já vinha em declínio, desde 1880, praticamente acabou. Os ricos ou foram embora ou ficaram pobres e os pobres ou morreram ou ficaram miseráveis.

Os negros, não mais escravizados, desde 1888, com a Lei Aurea e sim trabalhadores reforçados pela República em 1889 e a Constituição de 1891, agora não tinham mais empregos, porque o café que ocupava quase toda a mão de obra não existia mais e os demais empregos eram muito raros. Deste modo, as cidades entraram em declínio, a ponto do célebre escritor Monteiro Lobato denominar um grupo delas, localizadas no chamado fundo do vale, de “Cidades Mortas”, haja vista que decresceram grandemente. Em, 1870, por exemplo, a cidade de Silveiras tinha 25.000 e hoje apenas 6.500.

Novas tentativas surgiram, a partir de 1925 veio a exploração do gado leiteiro, num solo pobre por conta do uso excessivo na monocultura do café, e aí esse solo não aguentou com o pisoteio do gado, produzindo algumas pequenas manchas desérticas na região, que até hoje são visíveis. Veio o “crash” (quebra) da bolsa de Nova Iorque (1929) e partir de 1940, iniciou-se o período de Industrialização da região do Vale do Paraíba e daí para frente a Bacia do Paraíba do Sul passa por transformações drásticas e continuas que se sucedem até hoje.

Vou citar, algumas das coisas que aconteceram ao longo desse período, sem nenhuma preocupação com as consequências para o Rio Paraíba do Sul e toda área da Bacia. A Guerra Paulista ou Revolução Constitucionalista (1932) e a consequente implantação da AMAN (1944) em Resende, o que desenvolveu a instalação de uma série de quartéis na região e o incremento da poluição bélica na região, com inúmeras fábricas de armamentos. Ocorreu a implantação de CSN (1946) e os inúmeros represamentos para garantir energia para a megaempresa. Depois vieram as implantações de diques e a retificação do curso natural do Rio Paraíba do Sul (1949); a implantação do CTA (1949), a Transposição para o Rio de Janeiro (1953) e a represa do Ribeirão das Lajes.

Também houve a opção pelas rodovias (“Governar e construir Estradas” – Washington Luiz- 1928) e a vinda da Estrada Rio – São Paulo (1928) e a Rodovia Presidente Dutra (1951) e atrás delas as grandes empresas montadoras de automóveis GM (1959), da FORD (1974) e da VOLKS (1976) e recentemente inúmeras outras. Enquanto a Europa rica, andava de trem, o Brasil pobre investiu em carros. Aconteceu a criação da Petrobrás (1953) e das Refinarias REDUC (1961) e REVAP (1980); a criação da EMBRAER (1969) e suas inúmeras subsidiárias.

Para garantir a água e a energia e ainda para controlar as enchentes houve a formação e a implantação dos reservatórios de Santa Branca (1958), de Funil (1969), de Paraibuna (1970), do Jaguari (1981), inúmeras indústrias Químicas entre 1950 e 1970, a implantação das Indústrias Nucleares do Brasil – INB (1988) e várias outras coisas, todas extremamente comprometedoras da qualidade do meio ambiente e da água da Bacia. Cabe lembrar ainda que nesse período também houve a segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), que, embora longe, do outro lado do atlântico, dificultou mais ainda o que já não ia bem por aqui.

Com isso, a poluição hídrica industrial e orgânica passou a crescer exponencialmente, houve aumento da necessidade progressiva de energia elétrica, as populações das cidades que já estavam dentro das várzeas do Rio Paraíba do Sul e outros rios menores cresceram muito e as manchas urbanas ficaram imensas e com conurbação em vários trechos. Cabe lembrar, que, além disso, a partir de 1990 ainda vieram implantação da monocultura do eucalipto, a instalação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (2009), a fatídica transposição para São Paulo (2015) e mais uma série de coisas não muito bem explicadas.

Que fique claro que muitas dessas ações, obras e empresas foram necessárias, porque muitas delas foram e são efetivamente essenciais ao desenvolvimento da região. Assim, aqui não vai simplesmente crítica a existência delas, mas sim a falta total de critérios e o desrespeito ambiental ao longo de suas respectivas implantações e mesmo de alguns de seus processos operacionais que acontecem até hoje. Como, por exemplo, cabe citar as várias tentativas de implantação de Mega termelétricas no Vale do Paraíba.

É claro que também aconteceram coisas boas, a criação dos Parques Nacionais do Itatiaia (1937) e da Bocaina (1971) e finalmente depois da década de 1990 alguns projetos de recuperação florestal, a implantação legal do licenciamento ambiental, mas que lamentavelmente ainda ocorre à “meia boca” em muitos casos. Vieram as Leis ambientais e a lei da água em 1997, além de algumas práticas de produção mais limpa e de controle da poluição pelas indústrias e ainda as instalações de Estações de Tratamento de Água – ETAs e Estações de Tratamento de Esgoto – ETEs, também por algumas empresas estaduais ou municipais da região.

Ou seja, dos 400 anos dessa história, apenas nos últimos 30 anos, passamos a estar efetivamente mais preocupados com a qualidade ambiental da região e com a água que ela nos fornece. Há de se convir, que ainda é muito pouco e necessitamos fazer mais, para garantir nossa manutenção e das gerações futuras. A Sustentabilidade não pode ser apenas um modismo, ela tem que ser um compromisso da sociedade e um mecanismo efetivo e eficaz, do qual todos temos que tomar parte.

Enfim, aquela região que outrora era bucólica banhada por aquele rio que era calmo e sereno, cheio de meandros, de velocidade bastante baixa, o que fazia com que as águas subissem muito na época das cheias e inundassem grandes áreas marginais e enriquecesse as várzeas de nutrientes se transformou totalmente. Assim, agora, depois da retificação e do crescimento das cidades e das diversas atividades sem nenhum critério ambiental, ele está poluído, corre rápido e suas cheias são complicadas e trazem doenças, situações calamitosas e outros grandes problemas, tanto nas cheias, quanto nas baixas (crise hídrica). 

Em suma, o Rio Paraíba do Sul, certamente não é mais aquele rio do início da história, hoje ele é outro rio e sua bacia também está muito diferente daquela que existia. Pois então, em pouco mais de 400 anos, nós humanos mudamos quase tudo e nos esquecemos do Rio e de sua Bacia Hidrográfica, que nos alimentam e nos mantêm, pois são fonte de toda água que tanto necessitamos e que, já faz algum tempo, começamos a ter carência. A cada dia que passa essa carência só aumenta e nós continuamos seguindo despreocupadamente como se nada estivesse acontecendo.

Entretanto, nós temos que responder a quatro perguntas simples e fundamentais:

1 – Qual a real situação atual da Bacia?

A Bacia está comprometida, sua segurança hídrica está ameaçada e ela tem que atender o segunda maior concentração humana e o segundo maior parque industrial do país. As Nascentes que geram a água estão secando, o Desmatamento e desbarrancamento das margens e o Assoreamento dos rios, as Cidades dentro dos Rios e Inundações cada vez maiores, a Poluição química industrial está relativamente controlada, mas existe, a poluição química por agrotóxicos e a poluição orgânica chegam a níveis absurdos (falta de tratamento de água e de esgoto). Muito Veneno nas águas, muita gente e muitos usos e pouca água. A conta acaba sendo sempre negativa aos interesses da própria Bacia Hidrográfica e obviamente para quem depende dela, ou seja, todos nós. 

2 – É essa situação que nós queremos?

Se a resposta for sim, então tudo bem, sigamos a caravana para ver onde vamos chegar. Mas, se a resposta for não, então temos que responder a outras perguntas:

3 – Então, já que não queremos o que temos, como devemos proceder para mudar?

Cuidar, essa é a palavra, o verbo, a ação que deve prevalecer antes de qualquer outra no que tange a água da região.  Nossa responsabilidade é proteger e recuperar nascentes, restaurar áreas florestadas, implantar estações de tratamento, desenvolver novas tecnologias industriais (reuso), priorizar as águas para o abastecimento humano conforme está na lei e não permitir usos duvidosos e muito menos indevidos. É claro que todas essas ações envolvem, antes de qualquer coisa, vontade política e governança.

4 – Quais são as nossas perspectivas futuras?

Ou fazemos o dever de casa e cuidamos da Bacia ou não teremos alternativas na região, porque não temos de onde retirar água, a não ser que se invista em grandes projetos de dessalinização, o que é um absurdo num país como o Brasil, que tem o maior contingente de água continental do planeta (13%).

O Brasil tem muita água no Norte, mas o Sudeste e a cidade do Rio de Janeiro, em especial, não tem, porque não tem grandes rios: a cidade, embora esteja fora de sua abrangência, depende das águas da Bacia do Paraíba do Sul. São Paulo, por sua vez, tem rios caudalosos e muita água, mas hoje é o segundo estado mais carente de água do país, porque é o que mais usa e necessita de água. Temos que cuidar desse recurso natural sempre, tendo ou não tendo ele em quantidade.

Para concluir, é preciso lembrar que sem água não existe vida, principalmente vida humana que, além de tudo, depende de um tipo de água especial (a água potável). O Rotary International como entidade humanitária e preocupada com o Meio Ambiente, a Sustentabilidade e a qualidade de vida, tem que ser agente efetivo na cobrança das políticas públicas e, quando possível, no apoio à produção de mecanismos que visem minimizar a degradação ambiental da região e em particular, aqueles mecanismos e ações que garantam a água em quantidade e de qualidade para toda a população.

Bem, essa era a história que eu tinha para contar e agora penso que devamos discutir sobre ela.

Muito obrigado pela atenção.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Palestra Virtual (Plataforma ZOOM) no Rotary Club do Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 2022

10 jan 2022
100.000 visualizações

Agradecendo 100.000 visualizações

Resumo: Amigos, meu “blog” (www.profluizeduardo.com.br)  atingiu as marcas de 100.000 VISUALIZAÇÕES E 75.000 SESSÕES e 65.000 USUÁRIOS. Muito obrigado a todos!


Meus amigos, após logos 7 anos e 5 meses (89 meses), meu “blog” (www.profluizeduardo.com.br)  finalmente atingiu a significativa e impressionante marca histórica de 100.000 (CEM MIL) VISUALIZAÇÕES E MAIS DE 75.000 (SETENTA E CINCO MIL SESSÕES) e 65.000 (SESSENTA E CINCO MIL) USUÁRIOS e obviamente, eu só tenho a agradecer aos usuários e leitores conhecidos e a grande maioria dos desconhecidos, que me permitiram alcançar tão considerável marca.

Hoje, lá estão publicados 160 textos de minha autoria, muitos dos quais também publicados em outros locais e meios (eletrônicos e impressos). Até aqui mantive uma média geral de mais de 1.123 visualizações por mês, mas certamente, se considerar apenas os três últimos anos a média está acima de 1.250 por mês e tem crescido bastante nos últimos tempos. Além disso, o “blog” recebe um público de 75% de leitores efetivos e quase 87% dos 65.000 usuários que visitaram o “blog”, certamente leram algum texto. 

Se for considerar todas as leituras de meus artigos em “sites”, “blogs” e periódicos impressos, certamente, há muito tempo já passei das 500.000 mil leituras. Só no Portal do Recanto das Letras, onde publiquei 114 artigos e um “E-book”, desde agosto de 2008 até julho de 2014 (quando comecei meu “blog), tenho mais de 284.000 (duzentas e oitenta e quatro mil) leituras. Há, inclusive, um texto com mais de 88.500 (oitenta e oito mil e quinhentas) leituras e outros também na casa das dezenas de milhares de leituras e ainda outros tantos na casa dos milhares.

Então, embora eu não seja um grande “blogger”, nem tenha pretensão de ser um bloguista famoso, quero apenas ser um blogueiro que trata seu “blog” como um local de informação e opinião. Além de amigos e prazer pessoal, nunca ganhei absolutamente nada, do ponto de vista econômico, com meu “blog” ou com minhas outras publicações. Além disso, não escrevo textos pequenos e vazios, para serem lidos por muitos, ao contrário, escrevo textos grandes e repletos de informação, o que acaba sendo “chato” para muita gente.

Não, definitivamente meu “blog” não é para me promover e muito menos para me enriquecer, ele apenas pretende ser um foro de discussão sobre assuntos de interesse. Graças a Deus, eu já passei dessa fase de investir na minha autopromoção apenas para ganhar dinheiro há muito tempo. É claro que quero ser lido, mas não compro leitores e nem vendo informações, continuo sendo um sujeito que gosta de escrever, além de Cientista (Biólogo) que quer aprender mais sobre as coisas e um Professor que quer dividir o conhecimento que pode adquirir ao longo de mais de 45 anos de exercício da pesquisa e do magistério.

Meu “blog” tem sido somente para aqueles que querem informação e conhecimento sobre determinados assuntos que escrevo, principalmente Biologia, Ciência, Educação, Ensino e Meio Ambiente e ainda, que querem conversar sobre esses assuntos. Deste modo, logicamente não posso me comparar com os bloguistas que estão na casa dos milhões de visitas, mas estou extremamente satisfeito com os resultados que tenho conseguido até aqui.

Assim, quero dizer que vou continuar com meu trabalho de produzir textos e mais uma vez, quero agradecer aos usuários e leitores, além convidá-los a continuar apoiando esse pequeno, mas significativo trabalho que tenho desenvolvido. Minha busca continua sendo aprender e informar pessoas e manifestar minhas opiniões sobre determinadas questões cotidianas que, a meu ver, necessitam ser mais bem discutidas por toda a sociedade, para que a humanidade e particularmente o Brasil possa ser melhor no futuro.

Para encerrar, quero dizer que continuo contando com a colaboração dos leitores e por isso mesmo, solicito que continuem lendo, discutindo, compartilhando e divulgando os artigos que, de alguma maneira, acharem interessantes. Mais uma vez, muito obrigado a todos e sigamos no caminho para os duzentos mil.

Prof. Luiz Eduardo Corrêa Lima

25 nov 2021
A Escola Brasileira, seus Atores Sociais e sua Possível Recuperação

A Escola Brasileira, seus Atores Sociais e sua Possível Recuperação*

Resumo: O texto apresenta uma exposição generalizada sobre a instituição social escolae sugere concretamente algumas possíveis soluções para minimizar a atual situação de degradação que essas instituições vem sofrendo no Brasil e quem sabe melhor viabilizar a educação no país. 


INTRODUÇÃO

Primeiramente é preciso que se discuta sobre o que é exatamente aquilo que chamamos de Escola, suas funções específicas, sua necessidade comunitária e importância social. Para muitos a escola ainda é aquela casa onde ficam os estudantes; para outros tantos, a escola é apenas o lugar, uma casa, para que os alunos, principalmente os jovens, possam aprender; outros ainda acreditam que a escola é uma entidade para orientar e informar as pessoas. Entretanto, todas essas maneiras de pensar estão erradas, porque a escola é uma instituição que se presta a fazer muito mais do que essas pequenas coisas.

A concepção de escola deve ter uma abrangência muito mais ampla e mais significativa no contexto maior da sociedade. Afinal, a escola, é a segunda maior entidade social, vindo logo depois da família, mas diferente dessa, a escola não se restringe ao corpo familiar ou ao grupo próximo. A escola vai muito além daquilo que é próximo e busca exatamente demonstrar que existem outras coisas, além daquelas que estão próximas do indivíduo e de sua comunidade.

A escola é uma instituição fundamental das sociedades humanas, suas funções atingem os indivíduos no momento presente e transcendem esse instante, visando também preparar os indivíduos para o futuro. A escola busca a capacidade de integrar os seres humanos às diferentes formas de sociedades no espaço e principalmente no tempo. Sem escola não há sociedade humana verdadeira, embora possa haver um agregado de pessoas, formando comunidades que trocariam aprendizados entre si.  Somente a escola pode conferir e transgredir o limite comunitário e projetar o conhecimento abrangente do mundo e de todas as ações da humanidade.

Deste modo, assumindo tamanho grau de importância, parece incrível, mas tem muita gente, até mesmo dentro das escolas, que ainda não se deu conta do verdadeiro valor desse tipo fundamental de instituição social, que além de tudo é quase uma exclusividade das sociedades humanas, isto é, uma particularidade da espécie humana. Não fosse a escola e as interações humanas que ela permite, talvez ainda estivéssemos bem próximo à vida que tínhamos na idade da pedra. O desenvolvimento social da humanidade é consequência direta e obrigatória da existência da escola e de seu desenvolvimento como instituição social.

Nosso objetivo nesse ensaio é exatamente refletir e demonstrar nosso ponto de vista sobre esse fato importante, discutindo um pouco sobre a questão e referenciando os atores sociais, suas funções e principalmente porque estamos, aparentemente, tão longe da realidade necessária que deveria existir na dimensão efetiva daquilo que se espera da escola.

OS ATORES SOCIAIS DA ESCOLA

Na escola existem 3 tipos fundamentais de atores sociais: o aluno, o professor e o funcionário. Obviamente existem outros atores transitórios e temporários (“stakeholders”), que fazem parte, ainda que indiretamente, da comunidade escola, entretanto, esses outros atores não serão considerados aqui, exatamente porque eles não têm significado imediato e nem ação intrínseca na função precípua de entidade social escola.

O agente principal e o próprio fundamento da escola como entidade social é o aluno, aquele sujeito que a escola quer preparar para ser um indivíduo melhor à sociedade. Pode se dizer que, primitivamente, a escola se desenvolveu única e exclusivamente para servir ao aluno. Deste modo, se não existisse aluno, possivelmente não haveria escola. Pois então, nossa realidade atual, deixa transparecer que o aluno, objeto primário da escola, está cada vez mais desinteressado sobre ela. Vejam bem, o aluno não se interessa pela escola, que existe por causa dele. Em certo sentido, é o mesmo que dizer que a escola está morrendo, porque, como já foi dito, não existe escola sem aluno e se o aluno não quer a escola ela não precisa existir.

Outro ator da escola é o professor, que, embora não seja a causa da existência da Escola, em muitos casos e situações, ele pode ser o ator que justifica a continuidade e o desenvolvimento da escola. O professor é o sujeito que cria as condições para que o aluno possa aprender e se aprimorar na escola e na vida. Assim, cumpre ao professor a tarefa maior de manter a escola ativa e funcionando, porque é ele que pode manter o interesse e o envolvimento do aluno com a escola. Sem professor a escola não funciona, porque não haverá quem oriente o aluno e assim, sem professor a escola também deixa de existir.

A outra categoria de atores, muitas vezes desconsiderada na sua importância, é o funcionário. Aqueles sujeitos que mantém a estrutura operacional da escola e que garantem as condições de funcionamento do prédio escolar, com todas as suas peculiaridades. Obviamente a escola não precisa deles para funcionar integralmente na sua função precípua, mas, por outro lado, se eles não existirem a escola vai definhar progressivamente até acabar. A importância dos funcionários transcende ao interesse primário da escola, mas eles são fundamentais para a continuidade das ações escolares.

Assim, temos nesses três elementos supracitados diferentes graus de importância para que a escola continue existindo e prestando seus serviços à sociedade. Agora vamos discutir sobre esses respectivos serviços, respondendo às seguintes questões: quando e por que a sociedade se viu na necessidade de inventar a escola? Para que efetivamente serve a escola? A escola continua cumprindo sua missão primária? 

FUNÇÕES SOCIAIS DA INSTITUIÇÂO ESCOLA

Acredito que prioritariamente a escola surgiu e se desenvolveu pela necessidade da transmissão dos conhecimentos e consequente aprendizagem de determinadas ações humanas. Desde a Grécia Antiga, já existiam “escolas”, porém ainda não havia uma publicidade da condição escolar. Na idade Média, o aprendizado escolar era para poucos abastados e mesmo os “professores” eram poucos e o ensino basicamente acontecia em casa. Apenas no final do Século XVI, na Europa, é que começou a surgir a prática da educação pública universal e obrigatória. A partir de então, as escolas, como entendemos se multiplicaram, principalmente depois do final do século XVII e durante o século XVIII com o iluminismo.

Essa escola, que é a que existe até hoje, com algumas poucas modificações depois do surgimento da chamada Escola Moderna, no início do século XX, foi criada e desenvolvida com o intuito básico de cinco ações imediatas, além de socialmente interessantes e fundamentais: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade. 

Imagino, que possa existir aqui e ali, alguns pequenos detalhes e ajustes, mas são as funções da escola até hoje e a meu ver devem continuar sendo. Entretanto, parece estar cada dia mais difícil manter essa condição, porque outros interesses têm falado mais alto e a essência da escola tem sido relegada a segundo plano, pelo menos aqui no Brasil. Suas atribuições infelizmente não aparentam estar condizentes com as prioridades humanas nacionais e assim, cada vez mais, se observa menos a importância da escola em nosso país. 

Temos problemas em todos os níveis, desde o acesso dos alunos e ingresso nas escolas, passando pela formação dos professores e na especificação das atividades dos funcionários. Além disso, a questão dá pouca ênfase, leva ao desinteresse dos alunos, que aprendem coisas mais interessantes fora da escola e mesmo dos professores, que obtém melhor condições de trabalho e subsistência em outras funções. Como as escolas decrescem, os funcionários também são cada vez menos necessários. 

Em outras palavras, as escolas estão ruindo pelo país afora. Quero lembrar mais uma vez que esse é um artigo de opinião e esse é a opinião de alguém que está dentro da escola desde o final da década de 1950, como aluno, e que também têm mais de 45 anos como professor. Ou seja, alguém que viveu (está vivendo) a vida toda dentro da escola. Mas, por que será que isso está acontecendo? Será que é possível voltar aos trilhos? Afinal, o que fazer? 

Será que os Atores Sociais da Escola Brasileira estão cumprindo os seus respectivos e devidos papéis? Será que a Instituição Social Escola, aqui no Brasil, está atuando efetivamente dentro das necessidades estabelecidas pela sua existência? Ou melhor, temos verdadeiramente escola no Brasil? 

Posso estar errado, mas Infelizmente penso que a resposta para ambas as perguntas acima é não. Estamos longe do que deveria ser uma escola em quase todos os sentidos, porque hoje (já faz algum tempo) o aluno deixou de ser o principal objetivo da escola e o professor deixou de ser o principal veículo para desenvolver o aluno. Além disso, os funcionários passaram a ser simples agentes passivos que fazem parte do sistema por mera contingência, apenas compõem o quadro, mas não têm importância para o sistema e só interessam a eles mesmos e assim, se tornaram pessoas de dentro da escola, mas alheias à instituição e seus interesses.

Pobre escola que se acabou por conta do descaso das autoridades, do desinteresse da comunidade próxima e principalmente do desleixo da sociedade em geral. Precisamos voltar às origens e recuperar a verdadeira noção de escola refazê-la na sua essência, como instituição social fundamental à formação e ao desenvolvimento do cidadão brasileiro.

RELACIONAMENTOS SOCIAIS NA ESCOLA

Os diferentes atores sociais da escola se relacionam e esses relacionamentos se distribuem pela sociedade. Existem três níveis de relacionamentos possíveis: “Indivíduo x Indivíduo”; “Indivíduo X Comunidade” e “Indivíduo x Sociedade”. No primeiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Aluno; Aluno x Professor; Aluno x Funcionário e Professor X Funcionário. No segundo caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Escola; Professor x Escola e Funcionário x Escola. No Terceiro caso, as relações podem ocorrer entre: Aluno x Sociedade; Professor x Sociedade e Funcionário x Sociedade. Vamos comentar um pouco sobre essas relações e seus desgastes na escola brasileira atual. 

A relação Aluno X Aluno ainda é que se mantém mais forte dentre todas as relações. Entretanto ela está enfraquecendo progressivamente, por conta da influência externa à escola sempre crescente, em função da INTERNET das Redes Sociais Eletrônicas virtuais que se multiplicam e são cada vez mais efetivas na aglutinação de pessoas, em especial, dos jovens. Esse fato obviamente traz reflexos nas relações reais, mas, aparentemente, os alunos ainda se relacionam bastante entre si. 

A relação Professor x Aluno, foi a que mais sofreu e com isso a escola perdeu muito. Além do hiato etário, existe também o hiato intelectual, porque os professores de hoje são, em sua grande maioria, carentes de cultura geral e de difícil capacidade de atrair e convencer os alunos. Mas, a questão mais importante não se limita a isso. O que aconteceu de pior é que o respeito e a consideração que não só mantinham, mas que principalmente condicionavam a relação Professor X Aluno foram quase totalmente perdidos.

Infelizmente, pelas mais diversas razões, a figura do Professor não é mais vista como fora outrora, nem pelos alunos e muito menos pelos pais dos alunos. Aquela figura culta que estava preocupada com a educação e com a formação dos jovens e que tinha apoio quase incondicional dos pais, lamentavelmente quase não existe mais. Os filhos superprotegidos tomaram o lugar de qualquer boa intenção dos professores. O professor hoje é visto com um profissional de segunda categoria, que não serviu para outra coisa melhor e que por acaso está naquela escola ministrando aulas para o “meu filho”. Esse fato, aliado a algumas leis absurdas e bestiais, que limitaram o exercício da autoridade do professor, acabou com a liderança e o respeito na maioria dos casos. Muitas aulas são verdadeiros antros de tudo que a escola não deveria possuir, ou melhor, daquilo que deveria combater. O pior é que, cada vez mais, se faz vista grossa desses erros.

É claro que há exceções boas e efetivas, mas é preciso mudar algumas tendências e condições para que possa retornar à situação anterior. Mas, o tempo passa e isso parece ficar cada vez mais difícil. O que se vê é professor sendo agredido por aluno e vice-versa, além de também existir inúmeros professores abandonando a escola e o magistério por causa de aluno e alunos abandonando a escola por conta de professor. A intolerância, oriunda principalmente da falta de respeito, das duas partes, é a característica maior nas relações, que estão realmente muito estremecidas. 

A relação Aluno X Funcionário que sempre foi a mais frágil, hoje praticamente não existe, porque os alunos entendem que os funcionários são seus empregados e tudo tem que acontecer a tempo e a hora. O conflito é muito grande. No que tange aos professores e funcionários a situação também caminha para um colapso, porque os funcionários se sentem humilhados e os professores também e assim, a situação fica bastante desagradável. Ainda existem bons relacionamentos, mas eles são muito supérfluos e frágeis. 

Desta maneira, a relação de ambos, alunos, professores e funcionários com a escola, a comunidade escola está muito ruim e o que deveria caminhar para o paraíso, está muito próximo do inferno. Alunos, professores e funcionários se tropeçam, se suportam, se aturam e convivem na escola, na maioria das vezes, apenas e tão somente, por contingências ocasionais ou por conta da obrigação. Na verdade, acabaram com a escola e esqueceram que a ela era um local de EDUCAÇÃO. Isto implica no fato de que a comunidade escola está muito indo de mal a pior. 

Ora, se a comunidade escola, está nessa condição péssima, a sociedade onde ela está inserida não pode estar tendo benefícios com sua presença e atuação. A sociedade que, em certo sentido, dependente das comunidades escolas está perdida, porque não tem mais o respaldo social que a escola deveria fornecer. Nem mesmo a função fundamental de apenas ensinar está sendo realizada a contento.

Alunos entram e saem da escola de Ensino Básico analfabetos e depois chegam e às vezes saem das faculdades ainda analfabetos. O pior é que depois disso, muitos vão ser “profissionais” nas mais diversas áreas e alguns até serão “professores”. O sistema parece que apoia essa situação lastimável, porque muito pouco tem sido feito para tentar frear esse quadro e quando se tenta fazer algo de positivo, a mídia entra em cena para manter o “status quo”. A situação está realmente periclitante e infelizmente, parece estar caminhando para a insolubilidade. 

Pois então, a Sociedade brasileira, por várias causas, está doente, mas certamente uma dessas causas e talvez a mais importante delas é o fato de que A ESCOLA BRASILEIRA ESTÁ DOENTE e piorando progressivamente. Outras instituições sociais e outros interesses tornaram a escola um lugar que não se justifica mais, dentro do objeto de sua criação, porque hoje ela tem sido quase tudo, menos escola. Obviamente, estou me referindo a ideia real e efetiva de uma escola e é lógico que existem exceções, mas infelizmente são exceções, quando deveriam ser a regra. E aí, eu pergunto: como podemos nos preparar para mudar a escola e torná-la novamente numa escola?

PROPOSTAS DE SOLUÇÕES

Bom, mas é óbvio que devem existir soluções e vou até me atrever aqui a citar algumas delas, correndo o risco de ser tachado como louco ou como coisa pior. Mas, se quando jovem, eu já não tinha preocupação em agradar a todos, na minha idade atual é que isso não vai fazer nenhum sentido para minha pessoa. Penso que as soluções existem e são extremamente simples, elas requerem apenas um pouco de boa vontade, além de interesse efetivo e determinação em melhorar e educação no país.

Proposta I

A meu ver a coisa só vai começar a funcionar quando voltar a autoridade do professor e para isso é simples, basta rever, SEM DEMAGOGIA, a legislação e devolver o direito dos professores e dos alunos, sem qualquer benefício de qualquer parte ou setor, por qualquer interesse externo à própria escola como instituição. Aluno é aluno e professor é professor, não importa quem, onde ou como. Se fez tanta concessão que o professor não pode nada e alguns alunos podem tudo, inclusive impedir o professor de tentar ministrar a sua aula. Ora, isso é mais que absurdo, mas está é a realidade imperante e precisa deixar de ser. 

Aluno que não quer aprender não precisa vir na escola e pai de aluno não pode de maneira nenhuma ter poder dentro da escola, além daquele que lhe é pertinente como pai. Isto é, seu poder se limita aos seus filhos e isso não pode lhe permitir interferir nas questões escolares. Se não concorda com o que a escola faz, coloque seus filhos em outra escola, mas a escola não pode ficar mudando para atender a interesses de pais. A escola já tem muito que se preocupar e não pode se preocupar com questões externas.

Não quero voltar à palmatória ou a ficar de joelho no milho, mas é preciso estabelecer a ordem na escola e a hierarquia do trabalho. O aluno tem de seguir algumas normas estabelecidas e não pode fazer o que quer e obviamente o professor também não. A escola envolve alguns compromissos de ambas as partes, que são fundamentais e precisam ser cumpridos para o bom andamento das atividades escolares e do processo ensino-aprendizagem. A libertinagem que acabou sendo implantada nas escolas favorece a desordem de ambos os lados e isso não é bom para a escola e assim, também não pode ser bom para a sociedade. 

Proposta II

Lembrar que na escola existe uma ordem a ser mantida para o bem de todos e que esse ordenamento é o que justifica e projeta os fundamentos da escola com entidade social. Esses fundamentos, já foram ditos, mas cabe repeti-los aqui para que fique bem claro. São eles: ensinar o jovem (aprendiz); preparar (construir) um ser humano melhor; criar (desenvolver) o cidadão; formar (produzir) o profissional e socializar (integrar) os indivíduos para a vida em coletividade. Se não tomarmos esses fundamentos como obrigação, não há necessidade de ordenamento, mas aí também não faz nenhum sentido a existência da escola. 

Temos que parar com esse negócio de que na Instituição Social Escola pode tudo. Ou melhor, dependendo do momento até pode ser, mas tem que existir ordem. Tudo pode, mas na hora e no local devido, fora disso não deve existir nada que prejudique o bom andamento dos trabalhos escolares. A aula e qualquer atividade pedagógica pode ser alegre e pode ter piada sim, mas não pode fugir do assunto prioritário e virar roda de bate papo, a não ser que a roda de bate papo seja o tema desenvolvido ou a metodologia empregada naquela aula. 

E preciso ficar claro que a escola não é um centro comercial ou um ponto de encontros sociais, onde se pode realizar qualquer coisa que se queira a qualquer momento. Não, definitivamente não. Na escola a prioridade tem que ser o trabalho educacional e se existirem momentaneamente outras situações, essas devem ser ligadas diretamente a esse trabalho educacional para que possam justificar sua existência.

Proposta III

O uso de instrumentos e ferramentas acessórias é útil e fundamental nas aulas, entretanto sua utilidade deve ser apenas e tão somente para fins pedagógicos. Qualquer outra função é inadmissível na escola. Se o pai quer falar com o filho, ele liga na secretaria e não no celular do filho, que deverá estar desligado ou que poderá até estar ligado, porque será utilizado em alguma atividade pedagógica. Essa coisa de aluno e professor ficara atendendo celular dentro da sala de aula para resolver questões particulares tem que acabar. A propósito, isso também vale para jogos e conversas paralelas na sala de aula. 

As ferramentas eletrônicas, cada vez mais comuns, são realmente ótimas e obviamente ajudam muito ao processo ensino-aprendizagem, entretanto não há cabimento em promover, durante as aulas, certas posturas que só prejudicam ao aprendizado, à comunidade escola e consequentemente à sociedade como um todo. 

Nessas alturas, já tem gente dizendo, mas professor, “escola não é quartel”. Eu sei, mas escola também não é circo e nem teatro, isto é, não é local de diversão, embora a diversão possa e deva fazer parte da escola em dados momentos. A essência da escola é séria e precisa continuar sendo. O trabalho escolar tem que ser privilegiado acima de tudo na escola, pelo menos essa tem que ser a ideia básica. 

Proposta IV

Funcionário da escola é colaborador do processo e deve ser tratado com respeito por todos, principalmente pelos alunos que são os que mais precisam dessa colaboração. Mas, os professores também têm que compreender que o funcionário não é dele é da escola e, portanto, sua obrigação é com o trabalho escolar e não com o interesse ou a particularidade desse ou daquele indivíduo. A escola tem que funcionar e isso se deve aos funcionários, mas eles também não são obrigados a fazer mais do que aquilo que têm a obrigação de fazer. 

Os serviços especiais e suplementares podem existir, mas esses serviços são gentilezas e não obrigações, nem para alunos e muito menos para professores ou outros funcionários. A escola é um local de trabalho efetivo. Assim, é preciso fiscalizar alunos, professores e funcionários nos seus respectivos compromissos com a escola e com a educação e quem não está em acordo com aquilo que é pretendido deve ser afastado do contexto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bem, eu acredito que somente com essas quatro propostas já vai ser possível fazer uma verdadeira “revolução nas escolas”. Mas cabe lembrar, nas escolas públicas o Diretor tem que lembrar que ele é apenas Diretor da escola e não o dono dela, até porque ela é pública e como tal pertence à coletividade. Nas escolas particulares, o proprietário, sendo o Diretor ou não, ele é o dono da escola, mas como dono da escola não pode dar palpites sobre nada na instituição e como Diretor tem que entender que é apenas uma peça administrativa e fundamental que existe na engrenagem, mas não é melhor do que ninguém. Na verdade, o Diretor é um professor com viés de funcionário responsável por questões administrativas específicas e em particular, pelo bom andamento dos trabalhos da escola. 

É preciso entender que comandar, gerenciar, gerir ou administrar a escola é uma função da escola, do Diretor da escola, que deve ser alguém muito bem-preparado para ocupar o cargo e não do proprietário de um prédio. Não é bom que o proprietário e o Diretor sejam a mesma pessoa, porque isso acaba sempre complicando mais a questão, entretanto ainda que essa condição não seja impossível, se me permitem, eu até quero recomendar que o dono da escola nunca seja o Diretor, porque isso certamente trará conflitos de interesse e quem perde é a escola como instituição. 

Vou sugerir que o proprietário contrate alguém para exercer essa função de Diretor e que não faça uso da condição de dono para influenciar nas atividades do Diretor, porque assim haverá muita confusão entre as funções verdadeiras da escola e os interesses pessoais do proprietário. O Diretor tem funções reais na escola, mas o proprietário só tem interesses e se os interesses se misturam com as funções aí é o mesmo que colocar um lobo para tomar conta das ovelhas. Nesse caso, a educação vai se complicar muito mais e a escola não vai funcionar a contento. 

Vejam bem, além da necessidade de mudança na legislação, eu nem me referi aos políticos e administradores, porque penso que a escola tem que existir e cumprir o seu papel como instituição social, apesar e independentemente da existência desses indivíduos. Eles precisam deixar o pessoal da área trabalhar, sem ficar promovendo problemas adicionais. Se eles não atrapalharem, certamente já prestarão um excelente serviço e favorecendo significativamente à melhora educacional e escolar.

Esse país até tem alguns bons políticos e uns deles também são bons educadores, mas é melhor que esses sujeitos não queiram reinventar a roda mais uma vez, porque eles, bem ou mal-intencionados, quase sempre acabam fazendo besteiras. Para os políticos o meu recado é o seguinte, acabem ou melhorem muito (enxuguem o que não faz sentido) com esse maldito estatuto do menor e do adolescente, parem de procurar pelo em ovo e tratem as pessoas, qualquer pessoa, (criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso), independentemente de qualquer aspecto (cor, raça, religião, sexo, condição social) apenas como pessoas, pelo menos dentro das escolas, que deste modo, tudo irá se resolver de forma tranquila e natural. 

Muito se fala de igualdade, alguns até exigem igualdade e muitas vezes com razão. Mas, então, que haja igualdade efetiva nas escolas, porque certamente é isso que está faltando na educação. Na escola não deve haver privilégio. Se todos envolvidos na escola passarem a cumprir suas respectivas funções. Isto é, se aluno for apenas aluno; professor for apenas professor e funcionário for somente funcionário a escola brasileira estará salva e todos nós, cidadãos brasileiros, poderemos voltar nos educar de maneira correta, como antes acontecia. É claro que também haverá necessidade de administradores públicos sérios e com vontade de efetiva de ver o povo brasileiro realmente se desenvolver. 

Peço vênia pela minha ousadia, mas alguém precisa falar essas coisas à sociedade. Quem sabe alguma alma boa e realmente interessada em mudar a cara do país, resolva escutar e tentar fazer o que estou proponho ou alguma coisa parecida, só para ver o que acontece. Tenho certeza de que se, por acaso, isso ocorrer, certamente irá produzir melhoras significativas na escola e na educação brasileira. 

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

*Artigo anteriormente publicado em https://oblogdowerneck.blogspot.com/2020/12/a-escola-brasileira-seus-atores-sociais-e-sua-possível-recuperação.html, 19 de dezembro de 2020.

15 out 2021
Dia do Professor

Até quando o “Dia do Professor” continuará sendo uma ilusão?

Resumo: O texto traz uma crítica referente a grande farsa representada na comemoração do Dia do Professor aqui no Brasil, em consequência do sucateamento desta profissão e deste profissional, que estão cada vez mais desprestigiados pela sociedade, pelos dirigentes políticos e administradores neste país.  


Mantendo a tradição dos últimos 40 anos, estou aqui mais uma vez trazendo meu artigo para lembrar do Dia do Professor. Como de costume, vou rememorar e lamentar a mesma história de sempre, ou seja, o mal uso da data ou o uso apenas político desta data que deveria homenagear a ilustre profissão de professor. Todo mundo, no mês de outubro, lembra da data do Dia do Professor. No mundo a data é comemorada internacionalmente no dia 05 de outubro, por ato da UNESCO, em 1994 e aqui no Brasil, por força do Decreto Lei 52.682, de 14 de outubro de 1963, a comemoração acontece no dia 15 de outubro.

No resto do mundo eu não sei e nem ouso afirmar nada sobre a comemoração do Dia do Professor, mas, aqui no Brasil, a lembrança da data, na verdade, ao invés de uma comemoração, parece mais um motivo para esquecer, definitivamente, que essa é a profissão mais importante que existe, porque sem ela não existiriam as outras. Deste modo, o profissional da educação e do ensino, o professor, deveria ser o profissional mais respeitado e mais prestigiado de todos. Entretanto, aqui no Brasil, esse fato, além de não ser estimulado como verdadeiro, também está muito longe de qualquer coisa parecida.

Nosso país, além de não prestigiar, como deveria, em absolutamente nada profissão de Professor, também está muito longe de qualquer mérito no que diz respeito às áreas de trabalho do professor, ou seja, a educação e o ensino, nos últimos anos totalmente sucateadas no país. Assim, quando se fala na comemoração do dia professor nesse país, só pode ser pura demagogia, porque na verdade os governos e a sociedade brasileira, costumeiramente, não têm achado nada importante a educação e muito menos a profissão de professor. Aliás, pelo contrário, de maneira geral, a educação tem piorado progressivamente e a profissão de professor, sob todos os sentidos, tem valido menos.

Sou suspeito para falar dessa questão, porque sou professor e me orgulho imensamente de ter exercido essa ilustre profissão ininterruptamente por longos 45 anos (1976 a 2020). Aliás, eu continuaria exercendo, se não fosse exatamente a má vontade o desinteresse efetivo de algumas instituições de ensino do país na educação e o desinteresse particular por aqueles professores que acreditam e defendem a educação e que entendem o exercício da função de professor, deveriam ser prioridade nesse país.

Isto é, ultimamente, por questões outras, que embora injustificáveis do ponto de vista educacional, ainda interferem bastante em muitas instituições de ensino. Dessa maneira, muitas vezes a educação tem trabalhado contra a ilustre figura do professor e consequentemente contra a própria educação. Bem, mas, deixemos isso de lado e vamos voltar ao objeto desse artigo que é o Dia do Professor.

O Dia do Professor, foi criado para lembrar da importância do profissional de educação e de ensino. Embora, por um lado, tenha sido uma tarefa bastante árdua e trabalhosa, principalmente, por conta das dificuldades operacionais e trabalhistas em relação à profissão. Mas, por outro lado, certamente muito prazerosa e gratificante, particularmente quando se tem o devido reconhecimento por parte da maioria dos alunos e o incentivo por parte de muitos colegas de profissão.

Esta data, que deveria ser um marco educacional nacional, apenas tem servido para que os professores demonstrem anualmente o seu descontentamento e a sua angústia quanto à sua situação profissional e quanto ao descaso da educação no país, como eu estou fazendo, mais uma vez, nesse momento. O Brasil, depois de uma série de erros ocasionais e mesmo intencionais dos governos que se sucederam nos últimos 30 anos, só caminhou para trás na área educacional.

Diante dessa situação caótica, o coitado do verdadeiro professor ficou perdido no exercício da sua função e na sua capacidade de reivindicar, porque qualquer picareta passou a ter direito de assumir a condição de professor e com isso, cada vez mais o verdadeiro professor foi desqualificado como profissional. Infelizmente, na atualidade, na situação funcional do professor profissional tem sido possível encontrar de tudo. Deste modo, tem muita gente por aí “ministrando aulas” e “ensinando”, sem nenhuma condição.

Ou seja, o professor verdadeiro, está diluído no meio de outros profissionais e assim as questões profissionais da categoria se dispersaram no contexto. Quando se comemora o Dia do Professor, na verdade se comemora o dia de uma série de outros profissionais que ministram aulas das mais diversas matérias, muitas vezes sem as mínimas condições cognitivas e profissionais. É claro que também há muita gente competente nesse rol, porém a maior parte não está nem aí com a educação, o ensino e com a profissão de professor. É exatamente por conta disso que a profissão de Professor não se fortalece e o Dia do Professor fica cada vez mais lendário.

Não sei até quando o país seguirá nessa tendência de progressivamente acabar com o Professor e não posso afirmar até quando a população brasileira consciente conseguirá aguentar essa triste contingência. Também não sei até quando os verdadeiros professores vão continuar resistindo a esse descalabro, mas tenho certeza de que essa situação necessita ser modificada para o bem do país. É preciso reencontrar o fio da história e voltar a situação de ter a educação como prioridade nacional e o professor como o principal agente profissional do processo de educar e ensinar, para que o Brasil possa chegar ao lugar que merece no cenário internacional.

Se esse fato acontecer com o Brasil voltando a entender que a educação deve ser o fundamento primário de qualquer país, aí sim o professor poderá passar efetivamente a comemorar o seu dia de maneira devida. Caso contrário, continuaremos na nossa hipocrisia, “enxugando gelo” e enganando a população, fazendo festa por uma data que não se justifica, porque ela é uma mera ilusão, que serve apenas para mascarar a triste realidade da educação nacional.

Alguns loucos, dentro os quais eu me coloco, estão reclamando por isto há muito tempo, mas parece que ninguém quer ouvir. Nós, continuamos aguardando que aqueles que detém o poder, parem de discutir inutilidades e que se envolvam efetivamente naquilo que é importante. Por outro lado, esperamos também, que a sociedade passe a se manifestar mais e atue de maneira mais efetiva, exatamente na única questão que pode nos tornar um povo melhor, isto é, na educação.

É fundamental que nós não nos esqueçamos de que existe um profissional específico para essa área de atuação, que é o Professor. Além disso, também é importante considerar que esse sujeito tem que ter as devidas qualificações para exercer o magistério: vocação, conhecimento específico da matéria, cultura geral, didática e capacidade de argumentação. Os picaretas do magistério que estão por aí, algumas vezes até com apoio das próprias instituições de ensino, porque custam menos aos cofres dessas instituições, precisam ser banidos da educação. 

Somente assim, lá na frente, poderemos novamente comemorar, de fato e de direito, o Dia do Professor, porque aí a data terá sentido verdadeiro. Por enquanto, seguimos por aqui, esperando e torcendo para que haja luz na mente dos brasileiros, em especial nas mentes daqueles que detém o poder e dos que atuam como dirigentes das instituições de ensino desse país. A incerteza e a desconfiança com muitos dos profissionais que atuam na Educação, talvez sejam as principais causas da má qualidade do ensino no Brasil e as autoridades precisam estar atentas a esse fato.

A Educação é uma tarefa fundamental para a sociedade e por isso mesmo, deve ser realizada por profissionais capacitados e devidamente habilitados e esses profissionais devem comemorar o seu dia com alegria, entusiasmo e otimismo e não com tristeza, indiferença e pessimismo. Assim, com muita ponderação, eu quero deixar aqui os meus Parabéns aos verdadeiros professores do país por mais uma 15 de outubro: “Dia do Professor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

15 ago 2021

UMA ESPÉCIE SÓ, COM UMA VIDA APENAS, NUMA TERRA ÚNICA

Resumo: No artigo é questionada a postura dos seres humanos em relação ao planeta aos longo do tempo e considerada a necessidade premente de mudança no comportamento humano para que a Terra, que continua sendo o único lugar que temos para viver, possa continuar permitindo a existência da Humanidade. 


Nós humanos, somos uma espécie única, que habita o planeta há cerca de 250 mil anos, um tempo relativamente pequeno, se comparado a outras espécies vivas que também habitam a Terra. Nesse período existiram outros Hominídeos, mas só nós, a espécie Homo sapiens permaneceu.

Milhões de planetas no universo, apenas 9 deles estão no nosso Sistema Solar, mas a Terra, ao que parece, é o único planeta em que a vida se formou e evoluiu. Pelo menos a vida como conhecemos e concebemos. A Terra abriga milhões de espécies vivas, mas o Homo sapiens é uma espécie única, que surgiu entre 300 e 250 mil anos. Um tempo relativamente pequeno, para um planeta com pouco mais de 4,5 bilhões de anos, no qual a vida começou a se desenvolver a mais ou menos 3,5 bilhões e a vida pluricelular a pouco menos de 700 milhões.

Quer dizer, a espécie humana é quase insignificante no tempo geológico da Terra. Entretanto, no pouco tempo de nossa existência mudamos progressiva e drasticamente a fisionomia do planeta, mormente nos últimos 250 anos. Essa mudança foi tão significativa que hoje compromete a própria estabilidade planetária para grande parte das espécies vivas, inclusive e principalmente, a própria espécie humana.

Como qualquer coisa viva, só vivemos uma vez e a única certeza que temos como organismos vivos é que certamente vamos morrer. Aliás, é bom que fique claro, que vamos morrer tanto como indivíduos, quanto como espécie viva, porque a extinção é um processo natural e tudo que existe certamente um dia deixará de existir. Essa é uma regra, uma lei natural, que aprendemos desde cedo: qualquer organismo vivo, nasce e morre.

Porém, para algumas formas vivas o tempo é bem generoso e para outras nem tanto. Por exemplo, os tubarões, estão por aí faz, pelo menos, 400 milhões de anos, enquanto os Hominídeos (seres humanos) estão há apenas 7 milhões. Obviamente muitas espécies de tubarões se extinguiram nesse período, mas ainda existem várias espécies viventes. Mas dos seres humanos, como já foi dito, só sobrou o Homo sapiens, que surgiu muito recentemente.

É claro que não existem regras lineares, nem absolutas para o tempo de vida de qualquer espécie viva, umas formas vivem mais e outras vivem menos, mas certamente o uso dos recursos naturais é um fator importante nessa contagem de tempo. Assim, há de se convir, que historicamente não tratamos bem os nossos recursos naturais, porque 250 mil anos é muito pouco tempo se fizermos uma comparação com a grande maioria das espécies de animais vertebrados existentes no planeta. Nossa postura com a Terra sempre foi predatória e degradadora. Na verdade, nós nunca respeitamos o planeta e as demais espécies vivas.

Só temos uma vida e só temos uma casa, a Terra, onde podemos viver. E por que não cuidamos bem dessas duas coisas: a nossa Vida e a nossa casa (Terra)? Essa é a grande questão, que tem borbulhado na cabeça dos maiores pensadores ao longo da história. Por que o ser humano, aparentemente, não dá a mínima importância para o Planeta e para a Vida?

Tomamos o planeta de assalto, nos assumimos como seus donos e seguimos fazendo qualquer coisa para manter essa condição. Se, por acaso, outros humanos não concordam conosco, então entramos em guerra contra eles (matamos ou morremos deliberadamente) e quem ganha a guerra fica com o lugar que era do outro.

A História humana está cheia de passagens desse tipo. Parece que nós não aprendemos nunca e desta maneira, vamos caminhando, a trancos e barrancos, enquanto o planeta suporta. Mas, ainda assim, nossa espécie se reproduziu rápida e assustadoramente sobre a Terra e ocupamos cada vez mais o espaço planetário.

Verdade é que, da mesma forma que não nos incomodamos, com os outros humanos, também não nos incomodamos com as outras espécies vivas e nunca nos importamos com o planeta. Fomos ocupando e destruindo progressivamente sem nenhuma preocupação com as consequências que poderiam advir dessas atitudes.

Recentemente, apenas nos últimos 50 anos, alguns de nós finalmente descobriram que essa situação não pode continuar nesse ritmo frenético de guerrear, destruir e ocupar, até porque só temos um planeta e tudo, absolutamente tudo, acontece exatamente aqui mesmo. É daqui que tiramos todos os nossos recursos para viver e sobreviver. Do jeito que estamos caminhando não teremos, como espécie, muito tempo de vida pela frente.

Não sei, mas me parece óbvio que, se eu atear fogo na minha casa, ela irá se incendiar e eu não terei onde morar. Então, por que o ser humano está ateando fogo na Terra? Será que somos uma espécie suicida? Por outro lado, o planeta certamente também não “gosta” dos seres humanos e assim, ao se defender das ações maléficas da humanidade, acaba trabalhando para extingui-los o mais rápido possível. Quer dizer, estamos numa “sinuca de bico” e única solução possível é mudarmos de postura e investirmos ativamente em ações que visem as melhoras das condições planetárias.

Somos uma espécie só, temos uma vida só e vivemos no único planeta que permite a vida (pelo menos até onde sabemos). Assim, já passou da hora do ser humano assumir a sua responsabilidade e passar a cuidar melhor da sua vida, entendendo que para cuidar da vida humana é necessário, antes de qualquer coisa, respeitar os demais seres humanos e as demais espécies vivas, além de estabelecer limites para o uso dos recursos e para a ocupação dos espaços físicos do planeta.

Nossa espécie só sobreviverá um pouco mais aqui na Terra, se assumirmos as nossas obrigações planetárias doravante. Os futuros seres humanos, estão esperando que nós cumpramos com nosso dever agora. É bom lembrar que a sustentabilidade deixou de ser balela ou apenas uma maneira de pensar romântica que alguns sujeitos chatos inventaram para incomodar os outros.

Hoje, a sustentabilidade é uma necessidade para que se possa tentar garantir a continuidade da humanidade. Portanto, devemos trabalhar cotidianamente na criação das condições que permitirão a vida dos seres humanos de amanhã. Quem sabe, agindo assim, ainda teremos tempo, até mesmo para procurar outros lugares para vivermos no futuro, se houver necessidade.

Mas, é preciso ter em mente que tudo é finito. Deste modo, mesmo que encontremos outros mundos, onde a continuidade da vida seja possível, nossa postura deverá continuar nos conduzindo sempre numa visão de sustentabilidade. Isto é, quem vem depois, ou seja, nossos descendentes têm os mesmos direitos que nós temos, para utilizar os recursos naturais, os espaços físicos e serem felizes, aqui na Terra ou em qualquer outro lugar.

Hoje, ainda temos uma casa (Terra) só e se, porventura, lá na frente tivermos outros espaços para ocupar, ainda assim, temos que ter em mente que o uso de qualquer espaço será sempre limitado.  Entretanto, não podemos nos esquecer que ao longo desses 250 mil anos foi a Terra nos deu tudo e nos manteve vivos como indivíduos e como espécie.

Obviamente, se mudarmos de atitude, a Terra ainda pode nos dar muito mais, porém, independente de qualquer situação futura, cumpre a nós, no presente, a obrigação de garantir que ela continue nos fornecendo as condições de viver como indivíduos e de sobreviver como espécie. Por enquanto, temos que agir com sapiência, fazendo jus ao nome de Homo sapiens e deste modo, estando mais atentos e mais preocupados com o fato de que somos uma espécie só, cujos indivíduos vivem uma vida apenas e que a Terra, a nossa casa, também é única.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

23 jul 2021
Posturas-em-Debates-e-Eventos-Publicos

Posturas em Debates e Eventos Públicos

Resumo: O autor emite sua opinião sobre que postura as pessoas devem tomar quando estão participando de um evento (seminário) qualquer. Eventos abertos em plataformas virtuais pela INTERNET são cada vez mais comuns, entretanto a qualidade desses eventos não tem melhorado na mesma proporção da quantidade. Acredito que isso se deva a certos detalhes (“males sociológicos”), alguns dos quais resolvi comentar nesse artigo.


“TODO EVENTO TEM DOIS LADOS, O APRESENTADOR E OS EXPECTADORES E NUMA MESMA PALESTRA, O INDIVÍDUO SÓ PODE ESTAR NUM DESSES LADOS. ASSIM, PARA O BOM FUNCIONAMENTO E EFETIVO SUCESSO DE QUALQUER EVENTO, É PRECISO QUE CADA LADO SAIBA EXATAMENTE SUA FUNÇÃO NO EVENTO”.
L.E.C. LIMA

INTRODUÇÃO

Ao longo de minha vida participei de centenas de eventos e de atividades, nas quais ocorreram inúmeros debates e discussões, muitas vezes interessantes e fundamentais para o meu aprendizado e dos participantes. É bom que saibam ainda, que como a maioria dos senhores leitores, participei ativamente dos dois lados desse tipo de situação. Isto é, atuei tanto na função de palestrante, como na de espectador. Assim, penso que posso emitir alguma opinião sobre essa questão, cada vez mais comum na modernidade.

Por outro lado, também devo dizer que, quanto mais velho eu fico, mais chato e impaciente eu estou. Talvez, por isso mesmo é que cada vez mais, eu fico incomodado com a atitude de certas pessoas ao longo da palestra, da conferência, do debate ou de qualquer discussão nesses eventos onde existe uma troca de informações ou um diálogo qualquer. As discussões estão progressivamente mais incomodas, mais longas e menos efetivas e, sobretudo, menos objetivas. Muitas acabam virando diálogos particulares, onde se discute sobretudo, menos sobre o tema e o resto da plateia que se lasque.

Os palestrantes, salvo alguns profissionais específicos dessa área, infelizmente são pessoas cada vez são mais superficiais, limitadas, menos profícuas e pouco eficazes. A maioria deles parece estar mais a fim de agradar a plateia do que de apresentar e discutir sobre o assunto em pauta. Por sua vez, os espectadores estão cada vez mais desinteressados, confusos e menos contundentes e assim, são pouco eficientes nas suas respectivas funções como participes dos eventos. Em suma, ao longo do tempo, o diálogo tem sido empobrecido e cada lado tem a sua parte na culpa dessa constatação. Obviamente, é claro que ainda existem exceções a esse fato, mas essas exceções estão ficando mais raras.

Nos tempos atuais, por conta da pandemia, e pelo que parece, daqui para frente mesmo sem essa mazela, cada vez mais as palestras serão feitas através de plataformas virtuais. Ora, se o tempo já era importante nas atividades reais, agora nas virtuais ele é fundamental. Tudo tem que estar planejado e muito bem definido, para que não haja problemas. Além disso, ainda existe a necessidade de contar com a sorte da INTERNET não cair e de não haver nenhum problema técnico na aparelhagem. Desta maneira, o tempo é cada vez mais escasso e precioso, por isso precisamos ter maior objetividade nos eventos para a efetividade, eficiência e eficácia deles.

Assim, após de pensar bastante, resolvi assumir a posição de “advogado do diabo” e vou dizer o que penso sobre essa questão. É bem provável que eu arrume novos inimigos, depois que alguns dos meus amigos tenham contato e leiam esse pequeno artigo. Às vezes, alguém tem que colocar a cara para bater, para que as coisas comecem a acontecer de maneira mais eficiente. Que fique claro, desde já, que não estou procurando briga com ninguém, apenas estou tentando chamar a atenção de todos os envolvidos, para tentar melhorar o padrão de nossas palestras e discussões.

O PALESTRANTE

A regra fundamental para qualquer palestrante é estar atento ao fato de que: conceitos e definições existem para serem utilizados, desde que estejam entendidos, pois do contrário serão apenas palavras estranhas e diferentes perdidas no meio do discurso. É muito comum o palestrante (professor, orador ou instrutor) falar palavras pouco comuns para a grande maioria dos espectadores na plateia, como se fossem termos corriqueiros.O palestrante precisa saber que geralmente grande parte da plateia nunca ouviu aquela palavra e por isso ela precisa ser definida e, às vezes até esclarecida detalhadamente. Portanto, sempre que o palestrante se utilizar uma palavra ou termo técnico qualquer é fundamental que seja feita a sua definição e o esclarecimento sobre sua utilização naquele momento. Esse cuidado deve ser tomado, mesmo quando o palestrante esteja falando para pessoas que teoricamente já deveriam conhecer aquele conceito.

Outras coisas comuns que o palestrante costuma fazer, além da automatização de ideias e conceitos, dizem respeito a utilização de siglas sem esclarecê-las. Existem siglas em todas as áreas, muitas delas exatamente iguais e somente as pessoas das respectivas áreas tem conhecimento dessas siglas. Quando o palestrante fala, por exemplo, a sigla “ABC”, ele sabe ao que está se referindo, mas quem houve não tem a obrigação de saber, portanto o palestrante tem a obrigação de dizer do que se trata, porque “ABC” pode ter vários significados e o espectador precisa saber o correto para aquele momento.

Por outro lado, se o expectador nunca tiver ouvido a sigla “ABC”, ele continuará sem saber do que se trata, isso é, continuará não significando nada para ele. Assim, é fundamental, em qualquer situação e numa palestra principalmente, que antes de assumir o uso de uma sigla, o palestrante, deva explicar o seu significado exato, para identificar precisamente do que se trata e assim, não confundir o espectador e evitar possíveis problemas posteriores.
Evitar gírias e palavras de baixo calão, a não ser para fazer uma piada ou algo jocoso que possa ser traduzido como um mecanismo adicional de auxílio à aprendizagem naquele contexto específico. Aliás, piadas quase sempre são bem-vindas, mas é preciso que se esteja atento ao fato de que a palestra é uma atividade séria e muita graça pode comprometer a seriedade do trabalho.

Os espectadores são atraídos às palestras pelos mais diversos interesses e curiosidades e geralmente a maioria da plateia está composta de expectadores que não têm domínio daquele assunto. Por conta desse fato, que é real, o palestrante sempre deve partir do princípio de que a maioria da plateia não sabe nada, absolutamente nada, sobre o assunto que você ele está abordando e sobretudo, deve ter efetivamente em mente que o óbvio não existe. O que é óbvio para você, quase nunca é óbvio para outra pessoa, principalmente se ela trabalhar numa área de atuação diferente da sua.

Um palestrante tem a função de tentar informar algo a quem não sabe e não pode partir do pressuposto de que as pessoas que estão na plateia já têm certo conhecimento sobre algumas das coisas que deverão ser ditas. Assim, o palestrante deve procurar ser efetivamente claro, o mais claro possível. Isto é, se for necessário seja até detalhista. Mas, não se esqueça que clareza e detalhe não são sinônimos de redundância, portanto não subestime a inteligência das pessoas e nem seja muito repetitivo no seu discurso.

Algumas vezes a repetição pode até ser útil, mas somente como maneira de chamar a atenção sobre um detalhe específico do assunto em questão. Assim, ao contrário da repetição ineficaz, seja coerente e sempre o mais objetivo possível que puder ser. Na grande maioria das vezes, o exemplo, depois da definição, além de ilustrar o conceito, também é melhor do que qualquer simples repetição para esclarecer sobre um determinado conceito.

O palestrante deve ser capaz de tomar a palavra de quem fala o que não deve e de recusar-se a responder uma pergunta fora do assunto em discussão. Obviamente, esse tipo de postura poderá ser considerado como uma grosseria ou uma deselegância, mas a vale a pena ser deselegante em benefício do aproveitamento da maioria efetivamente interessada no assunto. Lembre-se que o palestrante é um instrutor e deste modo, sua função é informar e instruir, portanto ser agradável, embora seja benéfico e salutar, não é sua obrigação, enquanto palestrante. Não se preocupe muito em “rasgar seda” para a plateia, pois vale mais, para tudo e para todos no evento, que o palestrante seja coerente e objetivo.

O ESPECTADOR

Primeiramente vou me ater as questões básicas que devem ser consideradas pelo espectador durante os eventos virtuais, pois como o expectador está literalmente em casa (no seu espaço), muitas vezes ele acredita que esteja sozinho. Entretanto, é bom lembrar que, na verdade, todos que estão naquele evento podem ouvir ou ver o que se passa com todos, se não forem tomados alguns cuidados básicos. Portanto, existem algumas observações importantes quanto à postura dos expectadores frente ao computador ou ao celular durante os eventos.

É fundamental os cuidados com a aparência, principalmente com a vestimenta, com a manutenção do microfone desligado, para evitar sons estranhos à palestra, com as pessoas do local, onde o expectador se encontra e suas possíveis passagens na frente da câmera. Talvez a utilização de um ambiente isolado e a manutenção da câmera desligada também sejam de bom alvitre, para evitar situações constrangedoras, como conversas paralelas ou imagens desagradáveis e garantir a segurança quanto ao áudio e o vídeo durante o evento. Uma coisa que ajuda bastante, é utilizar o fone de ouvido ligado ao computador, porque assim fica garantida e certeza de que sons estranhos não serão passados ao público do evento.

Como espectador num evento, o indivíduo deve ter em mente que a regra básica de qualquer evento em que ele está presente na plateia, é lembrar que o expositor é o palestrante e não você, portanto limite-se a falar apenas o necessário e somente quando for autorizado, para não prejudicar o andamento do evento. Assim, quando for fazer uma pergunta ou comentário, espere a autorização para fazer uso da palavra, mantenha-se efetivamente no tema em questão e não divague, pois o tempo é fundamental em qualquer evento.

Infelizmente é muito comum os espectadores, antes de objetivarem as suas perguntas ou comentários, fazer saudações às autoridades, parabenizar o palestrante e os organizadores do evento, além de uma série de pequenas práticas desnecessárias, que só atrasam, atrapalham e comprometem a qualidade do evento. Essas práticas, podem ser formalmente interessantes, mas têm que ser definitivamente abolidas das falas de qualquer expectador. As autoridades já foram nominadas e os parabéns podem ficar escritos no “chat” (bate papo) e não há nenhuma necessidade de ficar repetindo. Se vinte espectadores falam, os vinte fazem as mesmas saudações. Isso é uma grande bobagem do passado, que precisa ser esquecida nos tempos atuais.

Outra coisa fundamental, o espectador deve fazer todo esforço possível para evitar falar de si mesmo. Questões pessoais não interessam aos outros, principalmente num evento aberto ao público. Então, o espectador não deve se usar como exemplo de nada, a não ser se for realmente inevitável para esclarecer determinada situação, pois é bem possível que a experiência dele e seus problemas particulares não interessem a mais ninguém da plateia, além dele mesmo, pelo menos naquele momento.

Algumas pessoas gostam de falar, o que pode ser bom, porém elas têm muita dificuldade para serem objetivas e às vezes falam muito, enrolam, enrolam, complicam e acabam não dizendo nada, numa pergunta e principalmente conseguem dizer menos ainda, quando resolvem fazer algum comentário sobre o assunto em questão. Infelizmente, essas coisas costumam ser mais comum do que possam parecer a princípio. É preciso ser claro, objetivo, ter noção de ridículo e senso de coerência ao fazer uma pergunta ou um comentário qualquer.

Se o espectador foi mal-entendido, ou se tomou uma “paulada”, ele deve calar a boca e evitar ampliar a discussão. Quando muito, o expectador deve agradecer a oportunidade de falar. Depois do evento o expectador pode comentar o que quiser, com quem quiser, mas ele não pode estragar o evento com discussões infundadas, de maneira nenhuma, pois existem inúmeras pessoas envolvidas, além do expectador aborrecido e do palestrante. É realmente difícil, mas é necessário respeitar o direito da maioria, que está ali para participar do evento. Assim, considere que se a sua fala não irá colaborar, sempre será melhor não dizer nada.

Se o espectador costuma ser um desses indivíduos enrolados ou que tem dificuldade de se expressar quando fala e quer fazer uma pergunta ou um comentário, sempre será mais interessante escrever aquilo que se quer dizer e apenas ler o que está escrito ou mandar pelo “chat” (bate papo), sem fazer qualquer comentário adicional. Essa atitude certamente evita problemas subsequentes. O tempo que se perde com discussões ineficazes, por conta de perguntas sem nenhuma coerência e comentários irrelevantes é exatamente o que determina a qualidade de um bom evento, de uma boa palestra ou de uma discussão qualquer.

CONCLUSÕES

1 – Daqui para frente cada vez mais teremos eventos virtuais com discussões e assim é fundamental que sejamos capazes de falar apenas e tão somente o necessário.
2 – Nossa fala deve estar restrita aos interesses do evento, qualquer questão ou comentário além desse limite deverá ser considerada uma postura inoportuna, indesejável ao evento e por isso mesmo deve ser desconsiderada e descartada.
3 – A organização do evento, pode e deve impedir qualquer postura do expectador que contrarie o interesse do evento ou atrapalhe a participação dos demais espectadores, inclusive cortando a fala daqueles que estejam eventualmente provocando os problemas.
4 – Por outro lado, o próprio palestrante também pode e muitas vezes até deve, excluir-se terminantemente de responder perguntas e recusar os comentários desvinculadas com o assunto em questão.
5 – O espectador deve se colocar única e exclusivamente na condição de assistente durante todo o transcurso do evento e assim, sua participação deve se limitar, quando for possível, aos questionamentos e discussões, os quais devem visar sempre melhorar e não complicar os trabalhos.
6 – Essas tarefas parecem ser relativamente fáceis, mas como o ser humano é bastante eficiente em criar problemas, precisamos nos policiar cada vez mais, para evitar ou, pelo menos, minimizar a quantidade desses problemas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

23 jun 2021
Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Resumo: Agora estou me atrevendo a emitir minha opinião sobre o que acontece com as pessoas muito envolvidas nas redes sociais. Acredito que as pessoas precisam refletir um pouco mais sobre sua verdadeira humanidade, porque acredito que as chamadas redes sociais de INTERNET têm criado mecanismos que levam a criação de fantasias, além de maior divergência e intransigência entre as pessoas. Assim, questiono se a humanidade precisa realmente se envolver nessas redes e sugiro alguns medidas que possam minimizar os problemas. Como eu já disse em outro artigo: “penso que é preciso entrar no mundo real, antes que seja tarde”.


No dia 02 de junho de 2021, o jornalista Alexandre Garcia publicou um artigo (As Bolhas), em vários jornais do país e comentou sobre o citado artigo num vídeo, em seu canal do Youtube. Mas, e daí, o que eu tenho a ver com isso? Pois então, na verdade, eu já estava matutando exatamente sobre essa questão, de que as pessoas, de uma maneira geral, vivem num mundo exclusivo e diferente, que só interessa a elas próprias e os seus amigos ou afins, mais próximos.

Alexandre Garcia chamou isso de “bolha”, eu prefiro chamar de “grande ilusão”.  Embora a ideia seja a mesma, é preciso deixar claro que, com o tempo, a “bolha” sempre acaba estourando, mas a “grande ilusão”, geralmente perdura por toda a vida do indivíduo e isso é bastante ruim, porque, por conta disso, o indivíduo quase nunca consegue assumir a realidade. Em suma, a “bolha”, pelos mais diversos mecanismos, um dia acaba e o indivíduo acorda para a realidade, mas a “grande ilusão” geralmente morre com ele.

Enfim, “bolhas” ou “grandes ilusões” são resultantes de males sociológicos bastante comuns nas sociedades modernas. Doravante tratarei apenas como “grande ilusão”. Muitas vezes, a “grande ilusão” é criada propositalmente por um interesse qualquer dentro do grupo social, a fim de resolver uma determinada situação, como uma espécie de convenção, onde todos passam a assumir aquilo. Outras vezes, ela aparece em consequência da visão limitada do grupo do próprio grupo, que é incapaz de sair de seu mundo restrito e entender que existem outras coisas no entorno.

A diversidade do mundo, as diferentes ações e funções humanas, constituem uma gama impossível de ser analisada e avaliada por um indivíduo qualquer, ou mesmo por um grupo social, porque sempre há algo que não é conhecido e por isso existe necessidade de “especialistas” que possam esclarecer as dúvidas e orientar caminhos. Entretanto, a maioria dos grupos sociais acreditam que eles se bastam e que não precisam da opinião de outros e assim criam seus fantasmas, suas “grandes ilusões” e as assumem como verdadeiras.

Nos assuntos do trabalho essa questão é muitíssimo comum, como bem citou Alexandre Garcia em seu artigo, por exemplo jornalistas só têm contato com jornalistas, médicos com médicos, economistas com economistas e vai por aí. Dessa maneira, parece que o restante do mundo e das funções, simplesmente não existem e assim, todas as verdades são limitadas à capacidade daquele grupo. Pois então, a sociedade está caolha. Aliás, está praticamente cega, porque não enxerga quase nada do real e se ilude com aquilo que pensa ser verdade, dita por algum dos “especialistas”

A constatação acima cria uma série de deformidades, verdadeiras “monstruosidades sociais”, que faz com que, por exemplo, os jornalistas pensem saber mais sobre a medicina do que os médicos, a ponto de apontarem e julgarem as ações médicas dentro de seus parcos conhecimentos jornalísticos. Ora isso, além de ser um abuso e uma arbitrariedade sem tamanho. Mas, o pior de tudo, é que essa deformidade é imposta e distribuída pela mídia como algo concreto e efetivo, tornando-se uma “verdade”.

Por favor, não prejulguem o que eu não disse, com o meu exemplo, até porque isso acontece em qualquer profissão e em qualquer grupo social fechado, onde existam pessoas com interesses comuns e que estejam de alguma maneira isolados de outros grupos. O tamanho desse problema é maior ou menor, quanto maior ou menor for o grau de influência desse grupo na sociedade como um todo.  Infelizmente esse mal sociológico tem aumentado bastante com os grupos nas redes sociais da INTERNET, onde só se discute aquilo que é de interesse do próprio grupo. Qualquer coisa diferente, simplesmente é posta de lado ou totalmente desconsiderada, como se não existisse, e assim, as “verdades” são sempre as mesmas. Quem duvidar, que faça um teste e coloque uma questão diferente dentro de um grupo qualquer, pois aí poderá observar que praticamente ninguém irá se manifestar. Será como se aquilo fosse uma pequena sujeira na tela, mas que não interfere na imagem e assim, logo “desaparece”.

Em tempos de COVID e de muitas mortes, lamentável e tristemente fizemos isso várias vezes. Isto é, fomos informados de tantos doentes e de tantas mortes, que “escolhemos” aqueles com quem efetivamente nos preocupamos, mas a grande maioria passou em brancas nuvens. Vejam bem, eu sei que não existe maldade nesse tipo de ação, o que existe mesmo é falta de envolvimento com o mundo. Todos estão tão envolvidos com suas questões e com seus interesses, que priorizam ações e não dão importância efetiva à outras. É claro que do ponto de vista social, isso não é nada bom e do ponto de vista estritamente humano é pior ainda. Mas, como resolver esse problema?

Obviamente eu não tenho receita de bolo para resolver essa questão, mas imagino que estar atento a tudo que acontece e observar particularmente as opiniões contrárias é o primeiro passo a ser dado. Depois, deve ser feito um esforço para entender que os seus amigos ou os seus grupos sociais (profissionais) são pessoas iguais as demais, obviamente com características próprias, mas não são necessariamente melhores ou piores que outras pessoas e muito menos podem são “os donos das verdades”. As ações e funções, apesar de diferentes daquelas de seus interesses próximos, também são importantes ao todo da sociedade e, deste modo, também precisam ser aceitas e respeitadas. Por outro lado, os espaços físicos, os ambientes, sejam eles quais forem, também merecem cuidado e respeito.   

Se passarmos a investir numa política pessoal de nos antenarmos um pouco melhor com o restante do mundo, certamente isso será bom para todo mundo, mas podem acreditar que será especialmente bom para cada um de nós mesmos. A preocupação com o outro, um pouco mais de humildade e zelo, menos egoísmo e arrogância são características valiosas no trato com o outro, mesmo nos grupos sociais de INTERNET.

Precisamos parar de criar “grandes ilusões”, precisamos ouvir mais para entender mais e aprender efetivamente mais. Nosso grupo social (profissional), por melhor que seja, é apenas mais um dos milhares (milhões) de grupos que existem. Nossos interesses são simplesmente mais alguns dentro da infinidade de interesses que podem ser identificados. Mas tanto nossos grupos, quanto nossos interesses envolvem pessoas, seres humanos, e nossa humanidade é que deve ser sempre valorizada nas relações sociais. Pois então, esse detalhe final, que tem passado despercebido da grande maioria, talvez seja o mais importante de todos.

Antes de terminar, quero deixar quatro sugestões estratégicas, que talvez, possam ser bastante positivas para evitar as “grandes ilusões”, as quais, como foi visto, podem trazer problemas sociais intensos e algumas vezes até causar conflitos mais sérios.

  1. – Antes de emitir uma opinião, por mais certeza que você tenha sobre ela, pense bem na maneira de como ela deve ser referida, às vezes é melhor sugerir uma reflexão sobre o assunto.
  2. – Não assuma verdades pessoais como como situações imutáveis e invioláveis. Aquilo que você crê não tem que ser aquilo que outro tem que crer, seja humilde, principalmente quando o outro parece conhecer mais do assunto em questão que você.
  3. – Diversifique seus grupos sociais, evite as “rodinhas” e as “panelinhas”, diversifique seus contatos e suas relações, porque isso, ao menos teoricamente, lhe tornará naturalmente mais eclético e intelectualmente mais capaz de questionar certas coisas.
  4. – Aprenda um pouco de tudo, mas lembre-se, principalmente, que você não precisa necessariamente emitir opinião sobre tudo. Deixe que os verdadeiros especialistas discutam as questões para as quais se especializaram. Quanto aos outros “especialistas”, talvez seja melhor dar de ombros para eles.

Meus amigos essas sugestões talvez não façam vocês pessoas mais felizes, mas certamente elas ajudaram a que você seja uma pessoa mais agradável às outras pessoas e isso vai naturalmente fazer com que vocês produzam progressivamente menos “grandes ilusões”, o que fará você e seus grupos sociais mais felizes ou, pelo menos, mais capazes de suportar as adversidades da vida, mormente da vida na INTERNET.   

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

17 maio 2021

A CONSTRUÇÃO DE UM “MUNDO MELHOR”

Resumo: Nesse texto proponho uma análise generalizada da situação atual do mundo, da humanidade e das possíveis alternativas que, de fato, nunca aparecem para solucionar as questões mais básicas. Concluo que a humanidade precisa realmente se envolver mais nas questões globais e deixar de simplesmente ouvir opiniões. Deixo um recado aos que almejam o “mundo melhor”, solicitando que se envolvam nas questões e que sejam exemplos visíveis do que querem. A Humanidade está repleta de “heróis de vitrine” e precisamos entrar no mundo real, antes que seja tarde demais.


“A palavra convence, o exemplo arrasta.”

Quando uma pessoa diz: “eu faço a minha parte pela construção de um mundo melhor”, na verdade essa pessoa está apenas tentando dizer, que faz aquilo que que ela pensa que pode ser o melhor para a sua própria concepção de mundo. Entretanto, três perguntas surgem a partir dessa situação:

1 – A concepção de “mundo melhor” dessa pessoa é, de fato, o “mundo melhor” que a maioria da humanidade deseja e que todos precisam ter?

2 – Admitindo que essa pessoa tenha, de fato, uma boa concepção de “mundo melhor”, será que o que ela efetivamente diz que faz é suficiente, dentro daquilo que poderia ser feito para a construção de um verdadeiramente “mundo melhor”.

3 – Será que a concepção de “mundo melhor” pode ser definida e concebida a partir da mente de uma única pessoa?

Quer dizer, simplesmente acreditar que se está agindo certo e procurar fazer coisas boas, não é necessariamente trabalhar para um “mundo melhor”. Talvez, isso até possa ser uma condição básica para não piorar o mundo, mas certamente não garante a melhora dele. Aliás, eu acho que dependendo de que coisas estejamos nos referindo, muitas vezes fazer essas coisas, é, tão somente, uma obrigação moral do ser humano. Na verdade, fazer coisas boas, pode livrar alguma responsabilidade pessoal, que a pessoa envolvida acredita ser benéfica (útil) à humanidade, mas será que isso é mesmo verdade? Então, eu gostaria de discutir um pouco sobre essa questão: como realmente trabalhar para um mundo melhor?

Primeiramente há de pensar se um indivíduo pode, por si só, trabalhar para um mundo melhor. Sim, me parece que ele pode, mas apenas como exemplo a ser multiplicado. Porém, se esse indivíduo se omite, naquilo em que deveria ser exemplo, certamente sua contribuição ao mundo melhor não existe. Deste modo, não adianta realizar nenhuma ação isolada e distante do grupo social. Toda ação que visa melhorar o mundo deve ser divulgada, pois, do contrário, o mundo não toma conhecimento e assim, não pode se conscientizar daquilo que não conhece.   

Por outro lado, vários indivíduos (grupos sociais) podem efetivamente idealizar, propor e produzir manifestações diversas que gerem comportamentos diferentes, que levem à mudanças e que condicionem o enriquecimento socioambiental da humanidade (mundo melhor) ou o empobrecimento socioambiental da humanidade (mundo pior). Mudar pensamentos, muda atitudes e muda comportamentos. Esse é um conceito muito forte na mídia e no “marketing”.

Infelizmente, do ponto de vista histórico, parece que temos investido nesse conceito, apenas na direção do empobrecimento socioambiental. Penso que seja uma pena, que o interesse pela melhoria do mundo não esteja na pauta de prioridades da grande mídia e do “marketing”, que não produzem absolutamente nada para tentar melhorar o mundo. Aliás, esses setores têm trabalhado efetivamente em contrário da melhoria do mundo, investindo fortemente em “fake news” e inverdades. Quer dizer, para agir no sentido de melhorar o mundo, de fato, é preciso, além da vontade individual, um grande poder coletivo e fortemente contrário aos interesses midiáticos e marqueteiro atuais, cujo intuito passa muito longe do mundo melhor.

Considerando que hoje o mundo tem quase 8 bilhões de pessoas, há de se convir que, individualmente, a priori, ninguém tem nível de poder capaz de causar impacto global positivo, ou trazer vantagens socioambientais para o mundo isoladamente. Então, como construir, se é que é possível construir, esse tal mundo melhor? O “novo mundo” fantástico e cheio de benesses, que todos falam, esperam e almejam pós COVID-19 e que, aliás, deve ser o mesmo que era esperado depois da gripe espanhola ou mesmo depois da segunda guerra mundial.

Pois é, nesses dois exemplos acima, no primeiro caso, o “novo mundo” foi a primeira guerra mundial e no segundo caso foi a guerra fria e o medo generalizado. E agora, o que será esse “novo mundo”, a terceira guerra mundial e a destruição total da humanidade?  Ou não haverá necessidade de guerra, basta apenas mais um novo vírus ou um pouco mais do próprio aquecimento global pelo excesso de C02?

Peço vênia, mas eu, particularmente, não acredito nessas sonhadas mudanças radicais que irão produzir o tão sonhado “novo mundo”, que muitos têm falado. Acredito que após o COVID-19, se existir realmente um após-COVID-19, as pessoas irão gradativamente voltando as suas atividades e principalmente às suas atitudes comportamentais costumeiras, até que algum tempo depois, tudo volte a ficar como Dante no quartel de Abrantes, porque infelizmente a espécie humana é assim e as mudanças, quando existem, são sempre muito gradativas.

A humanidade não gosta de sofrer, mas prefere sofrer ao invés de agir de maneira que contrarie alguns princípios básicos e costumeiros. Assim, qualquer mudança exige progresso, aprimoramento e sobre tudo muito tempo. Nada vai acontecer de imediato, ou seja, não existe esse novo mundo pós COVID-19. Um desse princípios básicos, talvez o mais importante deles, seja o afã do ser humano por liberdade individual e isso, me perdoem, nunca vai permitir uma ação coletiva e uníssona imediata sobre qualquer atitude que possa melhor viabilizar o mundo.

Por favor, que fique claro, que obviamente isso não é feito e pensado pretensamente para acontecer assim, definitivamente não. Isso é apenas uma necessidade vital presente nos indivíduos de nossa espécie.  Infelizmente, nós ainda não temos e pode até ser que um dia venha existir, um gene que nos permita agir de maneira diferente. Assim, vamos continuar nossa vida sem grandes mudanças, até que se prove o contrário e que se estabeleça, por aprendizado gradativo ou por evolução genética. De qualquer maneira, isso levará algum tempo e, lamentavelmente, tempo é o que a humanidade menos tem.

Deste modo, na atual conjuntura, pensar em fazer a sua parte para a construção de um mundo melhor, acaba sendo uma grande balela, além de aparentemente também ser uma inverdade natural, que a maioria dos seres humanos na realidade não quer que aconteça. Existem pessoas altruístas e boas, eu gostaria que a maioria fosse assim, mas existem também pessoas otimistas demais, pessoas pessimistas ao extremo e ainda existem pessoas egoístas e ruins (maldosas), que querem manter o atual status quo e se aproveitar da situação.

Geralmente esse último tipo de pessoa, a pessoa ruim, até pelos seus interesses acaba sendo mais capaz de modificar momentaneamente o mundo. Basta que se olhe a história da humanidade para ver a que grupo pertence a maioria dos sujeitos que, de alguma maneira, mudaram ou interferiram significativamente na história humana. Certamente existem honrosas e maravilhosas exceções, como Jesus, Buda, Gandhi e outros, mas a regra são as pessoas de “má índole”, nas quais o interesse coletivo não existe.

Coloquei a expressão “má índole” entre aspas, porque não possa afirmar que essas pessoas ruins tinham “má índole” de fato, entretanto a história parece dizer que sim. Bem, a verdade é que esses sujeitos não foram bons para a humanidade e assim, certamente nunca almejaram o “mundo melhor”, apenas trabalharam para si próprias, explorando outra característica bastante marcante da maioria dos indivíduos de nossa espécie, que é o egoísmo.

Enfim, construir o “mundo melhor” é o desejo de muitos, inclusive o meu, mas creio que nenhum humano tenha realmente o poder para fazer isso sozinho. É claro que, como disse François La Rochefoucauld: “nada é tão contagioso como o exemplo”, e assim, obviamente, os bons exemplos sempre serão muito bem-vindos no interesse da humanidade, mas certamente eles nunca garantirão nada, se a própria humanidade não se manifestar e se contagiar positivamente em relação a eles.

Então, trabalhemos com afinco e sejamos exemplos verdadeiros do “mundo melhor” que a maior parte de nós, seres humanos, de alguma maneira, continua desejando. Levará tempo, mas a seleção natural, que nos trouxe até aqui, certamente nos direcionará e nos tornará melhor, na medida que a nossa necessidade de adaptação for maior. O resultado almejado, obviamente nunca chegará em absoluto, mas continuaremos sempre caminhando na sua direção. Isto é, progressivamente seguiremos para o “mundo melhor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

26 abr 2021

Desabafo de um “Velho Mestre”

Resumo: O artigo chama a atenção para o fato de que muitas das pretensas “modernidades educacionais” que estão sendo apresentadas para melhorar a Educação, não passam de mera enganação e de maquiagem que servem apenas para esconder a péssima qualidade da Educação no país, além de  desprestigiar os professores e de favorecer a outros interesses não ligados à Educação. 


Ultimamente tenho pensado bastante a respeito do que estão atualmente chamando de “Metodologias Ativas” para a Educação e sinceramente não estou vendo nada que eu, com todo meu conservadorismo, já não tenha feito há, pelo menos, 50 anos atrás.  Na verdade, o que mudou foram os alunos e a escola que, querendo, não sei o porquê, evoluir, acaba ficando cada vez mais retrógrada, quando precisa se modernizar. A propósito modernizar a escola não é fazer modismos na escola ou na sala de aula. Mudar a escola é tentar trazê-la para a realidade do seu tempo, sem comprometer seus interesses primários, isto é, o processo ensino-aprendizagem e a educação como um todo. 

Pelo que tenho observado, em muitos casos, a escola está querendo deixar de ser escola para virar espetáculo artístico e muitas vezes circense, mas não vamos discutir sobre esse aspecto nesse momento. Cabe apenas lembrar que, o professor e a sala de aula, dentro ou fora da escola, são os mesmos e as metodologias, os artifícios e mecanismos para ensinar, também são os mesmos que sempre existiram, pois ensinar continua sendo, apenas e tão somente ensinar. Quer dizer, a escola em essência não mudou e nem pode mudar, porque se isso acontecer ela em entrará em contraste com seus preceitos básicos.

O que tem mudado bastante são as tecnologias aplicáveis ao ensino e algumas destas realmente são muito boas, para quem sabe fazer uso delas. Eu confesso que tenho imensa dificuldade com certos materiais, mas não me sinto inferior por causa disso, até porque costumo saber do que estou falando, quando ministro minhas aulas, o que, infelizmente, não costuma ser verdade para grande parte dos professores que andam por aí. Assim, a ferramenta, o acessório e toda parafernália instrumental que deveria favorecer ao processo ensino-aprendizagem, acaba não funcionando da maneira como seria esperado e consequentemente atrapalhando, porque não existe mágica. 

A verdade é uma só, ninguém é capaz de ensinar aquilo que não sabe, com ou sem parafernália tecnológica e o que temos visto por aí é um festival de absurdos, onde os materiais acessórios atrapalham mais que ajudam, por conta da incapacidade profissional de muitos “professores”, além da passividade e do desinteresse da maioria dos alunos. O que está faltando, de fato, é conhecimento por parte de quem deveria ensinar e vontade de adquirir conhecimento por parte de quem deveria aprender.

É claro que eu sei e todo mundo sabe, que os tempos são outros, que os jovens de hoje têm pensamentos e anseios diferentes e que existe muita dificuldade de atraí-los para as aulas, até porque, para muitos, “aula é uma coisa chata”, “estudar toma tempo e é bastante complicado” e várias outras coisas poderiam ser ditas para confirmar que, lamentavelmente, hoje existem inúmeras opções mais atraentes para os alunos do que a escola e as aulas. O problema está exatamente aí: como fazer para tornar as aulas e as escolas mais interessante aos alunos, sem ridicularizar a escola como entidade formadora de indivíduos melhores moral, social e culturalmente?

Certamente o aluno é o sujeito mais importante da escola e isso não é moderno, pois só existe escola porque existem alunos. Ao aluno se deve todo o processo educacional, então esse sujeito foi, continua sendo e sempre será a parte mais fundamental no processo. Entretanto, o aluno atual tem visado outros interesses, deixando a escola para planos inferiores na sua escala de prioridades. Cabe ao professor a missão de redirecionar o aluno aos interesses primários da escola e obviamente a parafernália instrumental pode e deve ajudar nessa missão. Mas, a figura do professor deve dirigir os instrumentos de acordo com os objetivos do ensino e não fazer espetáculos tecnológicos infundados.

Não existe essa história de que a escola hoje é centrada no aluno e a escola de ontem era centrada no professor, pois escola nenhuma nunca foi centrada no professor. Se existiu escola assim, em algum momento, ela estava muito errada e desconexa de seu interesse primário. O que talvez existisse, no passado, era uma pretensa “superioridade” do professor como indivíduo, sobre o aluno, o que também, na minha maneira de entender, sempre foi uma falácia desagradável, perigosa e que contraria a própria noção de educação.

Outra coisa que também poderia ser considerada, é que antes o respeito à pessoa do professor era muito maior e hoje, em muitos casos, simplesmente esse respeito deixou de existir. Mas, eu quero crer que isso também tenha a ver, lamentavelmente com a falta de competência do próprio professor. Entretanto, não vou me ater a essas discussões no momento e vou deixá-las para outra oportunidade. Vamos em frente.

Ainda que o aluno seja o sujeito mais importante em qualquer escola, o agente principal da sala de aula sempre foi e continuará sendo é o professor. As técnicas didático-pedagógicas podem e devem mudar e evoluir sempre, mas o professor continuará sendo imprescindível. Pois então, o que está faltando nas escolas é mais trabalho profissional efetivo dos professores, que hoje, na maioria das vezes, são pessoas totalmente despreparadas e, o que é pior, sem conhecimento efetivo de sua matéria e sem cultura geral. 

Lamentavelmente, a própria profissão de professor está bastante desgastada pela sociedade, pois atualmente, para a maioria das pessoas, o professor é tido como alguém que não conseguiu fazer outra coisa mais importante e assim foi “ministrar” aulas. Infelizmente a má qualidade do professor é que acaba sendo realmente o grande problema, porque quando o professor tem interesse real e prazer em ensinar, ele procura efetivamente saber o que tem que saber e aí, com ou sem ferramentas de última geração, ele consegue ensinar. Com seriedade profissional, algumas vezes, ele consegue ensinar até mesmo aquele aluno que não quer aprender.

Cabe lembrar que esse tipo de aluno que, não quer aprender, sempre existiu. O que acontece é que hoje o contingente é aparentemente maior, porque a escola concorre e obviamente acaba perdendo de longe para outras coisas mais interessantes no pensamento do aluno. Coisas, que lamentavelmente são reforçadas pela sociedade atual, principalmente através da mídia e que acabam tomando grande parte do lugar que deveria ser ocupado pela escola, como já foi dito. 

Por outro lado, não adianta toda a parafernália instrumental se o professor não conhece do assunto que deveria ensinar. É triste o quadro, mas hoje, infelizmente, qualquer um está ministrando aula de qualquer coisa, em qualquer lugar e, dessa maneira, realmente não é possível continuar, principalmente no terceiro grau, onde é relativamente comum encontrarmos professores lendo “slides” para os alunos e coisas parecidas. Tudo bem; quer dizer, na verdade, tudo mal; porque existem muitos alunos que são analfabetos funcionais no Ensino Superior e assim, não sabem ler, mas isso, além de ser uma incongruência, também é uma enorme indecência que a escola e o sistema educacional permitem. Mas, essa também é outra história que fica para depois.

Uma aula tradicional, sem enganação, ainda é capaz de atrair muitos alunos, mas uma aula tecnológica sem coerência, sem lógica e sem relacionamento, certamente não atrai ninguém. Ou melhor, talvez atraia apenas aos “festeiros de plantão”. Qualquer aula necessita ser estimulante para vencer a concorrência, mas o estímulo tem que ser dado pelo professor e não pela parafernália instrumental. O professor como principal agente do processo educacional tem a obrigação de criar os mecanismos para atrair o público da escola presente na sua aula, mas obviamente sem exageros.

Cabe lembrar que não é qualquer um que pode ser professor. Em toda área profissional existem exigências mínimas para o exercício profissional, porque com a função de professor essa questão é diferente. O verdadeiro professor tem que ser um sujeito devidamente preocupado com a educação e preparado para ensinar, possuindo conhecimento efetivo de sua disciplina e visão genérica do processo educacional. Ser professor vai muito além de estar à frente de uma turma e tentar ministrar aulas.

Então, me desculpem, mas essas “Metodologias Ativas” não existem, o que existe é incompetência generalizada e por isso se criou um subterfúgio para mascarar as deficiências do ensino. É claro que muitas vezes funciona, se quem aplica é sério, tem conhecimento de sua área, sabe o que faz na aplicação do recurso e está mesmo a fim de ensinar. Entretanto, na maioria das vezes é só mais uma enrolação moderna sem tamanho, acerca de coisa nenhuma, como sempre existiu, mas agora com muito atrativo, que acaba sendo uma cilada da alta tecnologia moderna. 

Na verdade, muitas vezes o professor acaba esquecendo que está numa escola e procura chamar a atenção dos alunos, apenas para os modismos tecnológicos, que são interessantes e algumas vezes até fantásticos, mas que, sozinhos, não têm capacidade de levar ninguém a aprender alguma coisa se esse alguém não quiser. Aliás, pelo que tenho visto, para enganar, de ambos os lados fundamentais da escola, o aluno ou o professor, com tecnologias brilhantes é mais fácil e mais interessante do que parece. 

Talvez, por isso o mundo esteja cheio de mascates, mercadores, marreteiros, embusteiros, “hackers” e outros picaretas tecnológicos, vendendo bugigangas para as escolas. Além disso, sempre é bom lembrar que, para muitas escolas, isso acaba sendo bastante interessante, haja vista que investir na aquisição dessas bugigangas costuma ser mais barato, a longo prazo, do que pagar melhor os professores e possuir em seu quadro profissionais mais competentes. Mas, essa também é outra história. 

A tecnologia compõe-se de algumas ferramentas muito boas, mas elas devem ser usadas e tratadas apenas como ferramentas para auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem e não como truque fantástico de ilusionismo. Essas ferramentas devem ser usadas por quem sabe, para servir ao interesse a que se propõem, no caso os interesses da Educação, mas infelizmente não é isso que se tem observado, em grande parte das “escolas modernas”. 

Em alguns casos e momentos o “professor” fica totalmente dependente da ferramenta e passa, desgraçadamente, a ser ele a ferramenta. Isto é, o sujeito vira objeto e assim, a ferramenta passa a ser o ator mais importante da escola. O pior é que no meio do caminho tem o aluno e entre esses alunos, existem alguns que realmente querem aprender, mas não encontram base e nem respaldo na figura do professor, que está ali apenas para “quebrar um galho” ou para “ganhar um dinheirinho” que lhe permita sobreviver.

Ensinar é uma tarefa nobre e algo realmente prazeroso e sensacional, mas precisa de gente séria, bem-intencionada, bem-preparada, com capacidade e sobretudo com conhecimento de causa, o resto se consegue na conversa, na troca de informação, com os alunos. Obviamente que: uns vão aproveitar e outros não vão. Sempre foi assim e continuará sendo, mas a escola tem que parar de querer justificar o injustificável e transferir problemas inventando novos nomes para coisas velhas que e sempre existiram. 

O uso do computador, do celular, da INTERNET e dos mais diversos recursos audiovisuais são excelentes para auxiliar as aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Particularmente nesse momento, em que temos que trabalhar com aulas remotas, por conta a da quarentena condicionada pelo Pandemia de Corona Vírus (COVID-19), toda parafernália de material tecnológico tem sido grande aliada e tem demonstrado sua importância à educação. Porém, é preciso que fique claro, que todas essas coisas são ferramentas e como tal, devem ser usadas com parcimônia e coerência. 

Por outro lado, é fundamental que se entenda e que não se deixe de dar a devida importância a principal ferramenta para o ensino e que por isso mesmo, é a mais importante ferramenta para que a escola possa cumprir bem a sua missão de ensinar, que é o professor. O professor sempre foi e certamente continuará sendo, a única ferramenta efetivamente capaz de cumprir a missão de ensinar a alguém.

Então, ao invés de ficar dando nomes novos a coisas velhas e de ficar desenvolvendo novos programas de informática e novas técnicas eletrônicas, talvez fosse muito melhor investir mais na formação de professores de qualidade e respeitar um pouco mais aos “velhos” professores. Isto é, se preocupar em adquirir e manter professores que tenham conhecimento e que sejam capazes de ensinar sem a mágica da tecnologia. Cabe lembrar que, o professor, independente da sua área específica de conhecimento, tem que ter conhecimento geral, tem que ter cultura, pois só quem tem cultura pode realmente ensinar. 

Temos que parar com esse negócio de achar que qualquer um pode ensinar, porque na verdade, ninguém ensina aquilo que não sabe. Muitas vezes o espetáculo (“show”” teatral) da aula é muito bom, mas não há aprendizado absolutamente nenhum, porque a aula (qualquer aula em qualquer nível) não é e não pode ser apenas um “show” teatral, principalmente quando está se falando em formação de novos professores. Aula tem que ser coisa séria, que pode e deve até ser alegre e divertida, mas não pode fugir ao seu propósito fundamental de ensinar e formar o aluno. 

As técnicas obviamente são importantes, mas elas não são preponderantes, pois a importância maior, salvo melhor juízo, tem que estar a cargo do professor, seu conhecimento e toda sua bagagem cognitiva. O exercício da atividade profissional de professor exige profissionais competentes e cônscios da importantíssima função social que é atribuída ao magistério. Assim, a prática efetiva do magistério não pode ficar à mercê de qualquer curioso ou picareta ornamentado de parafernálias eletrônicas.

O dia que todos os envolvidos na escola, inclusive os alunos em todos os níveis de ensino e formação, estiverem realmente preocupados com a escola e com suas respectivas formações, certamente as coisas começarão a acontecer de maneira correta e obviamente os resultados do processo ensino-aprendizagem serão melhores. Entretanto, eu penso que isso ainda seja uma utopia, porque estamos falando de seres humanos e nada é mais complexo do que o ser humano, particularmente o ser humano brasileiro. 

O ser humano é dotado de vontade e deve ser sempre respeitado nesse direito. Mas, por outro lado, é preciso ficar evidente à toda sociedade que o direito de um termina quando começa o do outro. Na escola o direito é estudar e o aluno que não quer estudar, não deve, a priori, fazer parte da escola. Da mesma forma, o professor que não quer ou que não pode ensinar, também não pode estar na escola e a escola que não quer formar bem seus alunos não deve existir. O resto é balela. As coisas só funcionarão bem quando a principal preocupação de todos na escola for, apenas e tão somente, a educação para fazer o aluno estudar e aprender. 

Deste modo, peço vênia pelo meu radicalismo, pela minha impetuosidade e pela minha veemência nessas afirmativas, mas acredito que as mudanças necessárias efetivas não são de “Metodologias Ativas” ou de “Técnicas Modernas de Ensino”, mas sim de comportamento, de interesse real, de comprometimento, de seriedade e de competência de todos envolvidos no processo educacional. Ou seja, eu acredito que se existirem governantes sérios, dirigentes comprometidos, professores capacitados e alunos ávidos por saber, com ou sem parafernália tecnológica, conseguiremos fazer uma escola de qualidade. 

Mas, a pergunta que fica é seguinte: será que existe interesse verdadeiro e efetivo de que essa escola de qualidade realmente exista no Brasil? Ou será que, como disse o saudoso e eterno Darcy Ribeiro: “a crise da educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto”?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)