Categoria: Artigos

Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

08 dez 2019
plano hidro

O Plano Nacional de Recursos Hídricos e os Diferentes Entes da Federação Brasileira

Resumo: O texto comenta sobre a importância do estabelecimento do novo Plano Nacional de Recursos Hídricos, que deverá ser aprovado em 2010 e será aplicado nos próximos 20 anos (2021 e 2040). Por outro lado, o texto traz algumas preocupações com a eficiência e a eficácia das normas que serão definidas, porque se não forem aplicados critérios objetivos e rígidos, o plano poderá ser dificultado, por questões de conflitos de interesses entre os entes políticos da federação brasileira.


Primeiramente quero aproveitar o momento para reafirmar o que todo mundo já sabe, mas parece não querer saber e nem se preocupar muito com o assunto: “a água e sua gestão é um problema mundial e talvez seja o maior problema de todos”. O Brasil, por ser o país que abriga a maior quantidade de água no estado líquido de todo planeta e a nação brasileira por ser a verdadeira detentora dessa riqueza imensurável, assumem uma responsabilidade ímpar sobre a gestão desse valioso recurso natural, renovável e imprescindível à vida. Desta maneira, existe uma necessidade premente de que se estabeleçam normas e procedimentos para a gestão da água no país.

Por conta disso e de outras questões adicionais relacionadas à própria água, foi proposta e aprovada pelo Congresso Nacional a Lei Federal 9433, em 08 de janeiro de 1997 (“Lei das Águas”), que está vigendo desde aquele ano. Esta lei estabeleceu, em seu Artigo 1º, item V que: “a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”. Isto é, as Bacias Hidrográficas são as unidades básicas de gerenciamento da água em todo o território nacional.

Além disso, no Artigo 5º, no item I, também definiu como instrumentos fundamentais à gestão os Planos de Recursos Hídricos, os quais deverão ser estabelecidos pelas diferentes Bacias Hidrográficas e ainda, no artigo 8º, determinou que esses planos devem ser elaborados por Estado e para o País. No caput do artigo 7º, também é dito que os: “os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas”. Pois então, o atual Plano Nacional de Recursos Hídricos esgota seu tempo devida e necessita de uma revisão agora em 2020. Assim, um novo Plano Nacional de Recursos Hídricos precisa ser estabelecido.

A Lei 9433/97 diz ainda que o Plano Nacional de Recursos Hídricos e os diferentes Planos das Bacias devem determinar as ações de aproveitamento, manutenção, recuperação da água, visando atender da melhor maneira os usos múltiplos de suas águas, obviamente respeitando as prioridades impostas pela citada lei. Cabe lembrar também que no seu Artigo 1º, dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, o item III afirma que: “em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais”.

É bom que se diga, que a Lei 9433/97 foi muito feliz, porque Bacia Hidrográfica é certamente a melhor forma de tratar e gerenciar o espaço geográfico em qualquer situação e não só para questões hídricas. Entretanto, a divisão política e administrativa do país, dos estados e principalmente dos municípios, na maioria das vezes, não condiz necessariamente com aquela estabelecida naturalmente pelas bacias hidrográficas. Assim, alguns estados e muitos municípios próximos, muitas vezes ocupam bacias ou sub-bacias distintas, o que produz dificuldades administrativas e operacionais significativas, as quais criam entraves à gestão da água.

Por outro lado, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) e o Estatuto da Cidade, Lei Federal 10257/2001, que regulamenta os artigos 182 e 183 da própria Constituição, estabelecem que cada município estabeleça seu Zoneamento Ambiental, seu Parcelamento, Uso e Ocupação do solo e ainda seu Plano Diretor. Além disso, o item I do Artigo 30 da Constituição Federal também estabelece que o município deve legislar sobre assuntos de interesse local.

Quer dizer, em certo sentido, o município tem o poder legal de tomar as posturas contrárias àquelas estabelecidas pelo Plano de Bacia, pois embora o plano seja legal e estabelecido por legislação federal, muitas vezes ele poderá não ser de interesse do público local. Ou seja, contra o interesse público municipal. Em suma, poderemos ter que enfrentar discussões duras e embates legais, onde, a princípio, todos os entes políticos e administrativos terão algum tipo de razão. Mas, o que será melhor para a gestão das águas e para o Meio Ambiente nesta situação?

Pois então, esse é o grande nó górdio da questão e que precisa ser superado, mormente agora que estamos discutindo e preparando o Plano Nacional de Recurso Hídricos, o qual se encarregará de definir as diretrizes da gestão das águas, a partir de 2021 até 2040. Cabe lembrar, que além da União, o Brasil tem 26 estados, 1 Distrito Federal e 5.570 Municípios. Como fazer com que os estados e municípios se adequem incondicionalmente ao que será estabelecido, deixando muitas vezes os seus interesses locais de lado? A situação é realmente muito complicada, porém precisa ser resolvida antes do estabelecimento efetivo do Plano Nacional.

Aqui no Vale do Paraíba, nosso problema é mais complicado ainda, porque o Rio Paraíba do Sul e sua Bacia Hidrográfica são pertencentes à União, mas muitos de seus afluentes são estaduais e alguns são exclusivamente de domínio municipal, mas a Constituição, no Artigo 24, item VI, estabelece que somente a União e os Estados podem legislar sobre à agua. Assim, como resolver esse imbróglio e fazer a gestão das águas? Os municípios terão seus interesses mantidos dentro do que os estados estabelecerem? Os rios municipais serão deixados aos interesses às legislações municipais, em condições especiais de uso? Isso será legal? Os rios estaduais seguirão a legislação estadual que terá ressalvas para permitir a ação dos municípios? Isso será legal? Enfim, existem várias questões que precisam ser bem definidas, pois O Plano Nacional é previsto para os próximos 20 anos e precisa estar bem adequado para não trazer mais transtornos do que soluções.

Observem bem o tamanho do problema que teremos na nossa frente e que ninguém na comunidade está discutindo. Eu vou ainda dar uma de “advogado do diabo” e colocar mais sério um complicador. O Plano Nacional é para 20 anos, mas os estados e Municípios trocam seus administradores a cada 4 anos e obviamente os interesses políticos mudam com essas mudanças. Assim, como manter os municípios “fiéis” ao Plano Nacional depois dele aprovado? Como será realizada a fiscalização dessa “fidelidade”? Isso não é brincadeira, o problema realmente existe e precisa ser pensado e evitado, se possível. O princípio da prevenção nos indica que: “é melhor prevenir do que remediar”. Assim, que ações estão sendo e serão tomadas para evitar as situações controversas que decorrerão desse problema?

Aliado a tudo isso, ainda é bom lembrar que o governo federal está estudando a possibilidade legal de unir alguns municípios brasileiros. Se essa união acontecer, de fato, e se o Plano Nacional de Recursos Hídricos já tiver sido aprovado, considerando o demarcação territorial anterior à fusão dos municípios, como ficará a situação? Acredito que o Plano Nacional de Recursos Hídricos, deverá se estabelecer dentro de um critério geográfico para os próximos 20 anos, assim esse plano terá que considerar a fusão, se é que ela vai mesmo acontecer.

Em suma, com a fusão (união) dos municípios ou sem a fusão dos municípios, o Plano Nacional deverá ser único e qual será ele? De qualquer maneira o Plano tem data certa e a fusão ainda não tem. Assim, o Plano não deverá, a priori, seguir os pressupostos da fusão dos municípios, o que poderá produzir problemas operacionais futuros, caso ocorra mesmo a fusão proposta.

Eu confesso que não sou capaz de resolver todos esses problemas e acredito mesmo que ninguém sozinho tenha essa capacidade. Entretanto, vou me atrever e deixar aqui a minha modesta opinião e manifestar algumas sugestões sobre como imagino deveria ser tratada a questão, a fim de que o Plano Nacional de Recursos Hídricos possa ter êxito, além da efetiva abrangência Nacional e não se dissocie numa imensa colcha de retalhos mal feita, por conta dos diferentes interesses locais, regionais ou estaduais aqui e ali.

1 – Primeiramente penso que a União deveria estabelecer uma consulta pública aos Estados e Municípios, a fim de se informar sobre as pretensões locais quanto ao uso da água, obviamente de acordo com os preceitos estabelecidos na legislação vigente.

2 – Estabelecer o Plano Nacional de Recurso Hídricos considerando princípios gerais, respeitando a segurança hídrica e procurando atender, dentro das possibilidades reais, as pretensões locais que forem condizentes com a legislação.

3 – Como não haverá acordo total, porque certamente os interesses serão muito diversos, deverão ser estabelecidas regras legais claras, baseadas em análises técnicas e sanções rígidas aos Estados e Municípios que, por acaso, não quiserem cumprir o que estiver estabelecido.

4 – Estados e Municípios vizinhos e que pertencem à Bacias Hidrográficas comuns, deverão ter acordos legais estabelecidos para garantir o cumprimento devido da gestão da águas de interesse comum.

5 – A União deverá criar um órgão fiscalizatório específico para tratar da água e seus múltiplos usos, o qual possa atuar efetiva e eficazmente no controle do cumprimento do Plano Nacional em todo território brasileiro.

6 – No caso efetivo de haver uma nova divisão territorial, se houver tempo, esta divisão deverá ser considerada pelo Plano Nacional, pelo simples fato de que não podemos desconsiderar a realidade geopolítica na gestão dos recursos hídricos.

Como fazer para cumprir essas metas ou para se definirem outras que possam ser necessárias eu realmente não sou capaz de responder, mas, por outro lado, é certo que se nada for feito, também não adiantará absolutamente nada estabelecer um Plano Nacional de Recursos Hídricos, que, como tantos outros que existem no país, passará a ser mais um “plano de papel”. Aliás, o mal do Brasil em certas áreas tem sido exatamente esse: “se planeja muito, mas se constrói efetivamente pouco, porque se esbarra na burocracia e nos interesses difusos”. Está na hora de acabar com esse ranço e de mudar essa história. Está na hora de cumprir efetivamente aquilo que se escreve, sem ressalvas, lembrando que o Plano consiste numa legislação é nacional e que “dura lex sed lex”.

No caso específico da água, do jeito que a coisa anda, hoje ainda temos muito, mas amanhã, com todas essas mudanças climáticas que estão acontecendo e com os políticos e administradores que o país possui, ninguém sabe o que pode acontecer. Assim, é fundamental que se estabeleça um Plano Nacional de Recursos Hídricos que seja realmente de interesse nacional e que privilegie a nação brasileira antes de qualquer outro interesse. Por conta disso, é fundamental que o povo brasileiro exerça a sua devida cidadania nesse contexto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, 1997. Lei Federal 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (Lei das Águas). Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Diário Oficial da União, Brasília, 09/01/1997.

BRASIL, 2008. Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto das Cidades). Senado Federal. Secretaria Especial de Editoração e Publicações, Subsecretaria de Edições Técnicas, 3ª Ed., Brasília.

SÃO PAULO, 2019. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. (Atualizada até a Emenda Constitucional nº 101, de 03 de julho de 2019). Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, São Paulo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

21 nov 2019
Porque a Educação é a única solução do país.

Porque a Educação é a única solução do país.

Resumo: Este texto tenta demonstrar que o grande problema do Brasil é a falta quase generalizada de Educação do povo brasileiro que acontece por questões puramente políticas e conclama a nação brasileira consciente a tomar as rédeas e assumir a grande revolução educacional que precisa ser feita no Brasil para o bem nacional presente e futuro.  


Existe um velho chavão, porém, mais que isso, uma grande verdade que diz: “sem educação não há solução”. Entretanto a postura política e administrativa das autoridades e governantes brasileiros, ao longo da história, tem sido apenas a de repetir o chavão, porém esquecendo da verdade que ele contém, porque não há envolvimento, de fato, e nem interesse em demonstrar essa realidade, para tentar mudar a cara do país. Infelizmente a Educação não tem sido, nem de longe, prioridade para os diferentes administradores brasileiros, ao longo da história contemporânea desse país.

O propósito desse pequeno artigo é exatamente tentar explicar às autoridades constituídas no Brasil, que a frase acima não é apenas um chavão para ser repetido, mas sim uma verdade e que a verdade contida na frase é uma tarefa que precisa ser assumida e cumprida por todos os administradores públicos e seguida pela sociedade brasileira. A Educação tem que ser uma busca constante de qualquer coletividade e uma obrigação efetiva das autoridades no país, assim ela precisa ser privilegiada na aplicação dos recursos públicos. É preciso entender de uma vez por todas que todo e qualquer recurso utilizado na educação não significa custo, mas sim investimento, porque a Educação sempre traz retorno.

Dito isso, vamos aos porquês que, imagino eu, possam esclarecer melhor que o velho chavão, a verdadeira necessidade da educação, para que todos, principalmente os administradores e políticos desse país, possam entender.

1 – Uma pessoa educada é uma pessoa de fato, já uma pessoa não educada não pode se distinguir muito de outros organismos vivos, porque apenas vive e praticamente age por instintos, tentando suprir suas necessidades vitais e não por consciência e reflexão nas suas ações.

2 – Quem tem educação pode perceber a realidade histórica do mundo à sua volta e discernir entre o certo e o errado, as mentiras e as verdades, que são ditas por aí. Pode até fazer confusão, mas sempre terá o direito de escolher a sua opção. Os erros ou acertos conscientes são bem diferentes daqueles produzidos por ação dos outros, através de massificação. A pessoa educada não age como marionete, a não ser que queira.

3 – “Somente a educação liberta a pessoa”. Acredito que essa seja uma frase tão verdadeira quanto o surgimento de um novo dia após cada noite. O problema é que as informações e os “ensinamentos” de áreas que são apresentados às pessoas, por conta de uma mídia safada e infeliz, mostra que as coisas erradas podem e devem prosperar em relação as coisas certas. Não vou dar exemplos, para que não digam que estou sendo preconceituoso ou até mesmo partidário, mas os educados sabem muitos exemplos do que estou falando.

4 – A educação liberta a pessoa, porque o sonho efetivo da liberdade só existe mesmo, para quem tem a verdadeira dimensão do que seja a liberdade e isso só é possível de se estabelecer à luz da educação. O ser humano só é livre quando tem capacidade de escolha e só a educação permite o desenvolvimento consciente dessa capacidade.

5 – O sujeito possuidor de educação pode tudo, obviamente dentro da lei, mas o sujeito carente de educação, nem imagina o que pode, o quanto pode e nem sabe que existem leis impostas pela sociedade. Esse sujeito é digno de pena, pois vive à margem da sociedade e muitas vezes não sabe mesmo o que faz.

6 – Se o país quer crescer, antes de tudo, é preciso educar o seu povo. A Educação é uma causa de interesse nacional. A história de inúmeros povos ao redor do mundo está aí para provar essa verdade, apenas os políticos e administradores brasileiros não conseguem (querem) enxergar isso e preferem manter o status quo para garantir suas falcatruas e maracutaias.

7 – Friamente, dos mais de 210 milhões de brasileiros, estatísticas a parte, pelo menos, metade desse contingente é composto de analfabetos e de analfabetos funcionais. Como é possível falar em desenvolvimento e sustentabilidade para uma população com esse contingente educacional tão pífio?

8 – Um país só será realmente capaz de crescer sustentavelmente, quando sua população for efetiva e suficientemente educada, para entender a importância desse crescimento. Não sendo assim, quando muito, continuará apenas recebendo as benesses interesseiras dos “países amigos” que querem mantê-lo nessa condição inferior.

9 – No Brasil tudo é grande: a área geográfica, a população, a biodiversidade, os recursos hídricos e inúmeras outras coisas, inclusive a falta generalizada de educação e principalmente o egoísmo e a sem-vergonhice dos políticos e administradores públicos. Só mudaremos esses últimos itens se educarmos à população.

10 – Ou saímos do marasmo, acabando com esse ranço e investindo pesada e maciçamente na educação de nosso povo, ou estamos fadados a sermos uma eterna colônia dos países desenvolvidos e marionetes nas mãos dos países ricos e de alguns políticos safados, que historicamente comandam, usando e abusando das pessoas e das instituições desse país.

Enfim, o Brasil tem jeito, mas o país e sua gente estão à mercê de um complô de picaretas que assumiram o poder há décadas e que querem manter o “status quo” da ignorância nacional, para continuar fazendo farra com a coisa pública. Está na hora de darmos um basta nesse negócio e tratar o país e a nação brasileira como merecem. Entretanto, isso só acontecerá se o povo for educado o suficiente para entender que essa é uma grande necessidade nacional. Enquanto a educação for tratada como uma coisa vulgar, um mero encargo, mais um simples problema social, ou ainda, um setor ocasional e pouco importante que existe na administração pública, infelizmente não sairemos desse marasmo histórico e até aqui crônico.

É preciso entender que a cura para todos os problemas nacionais está na educação. A educação é a única prioridade, pois todas as demais coisas dependem dela. Não existe nenhuma maneira de resolver as questões públicas, TODAS ELAS, sem educação. Por conta disso é que precisamos entender que realmente: “sem educação não há (não houve e nunca haverá) solução”. Senhores políticos, tomem vergonha na cara e parem de brincar com o Brasil.

Meu amigo leitor, você que faz parte daquela metade que não é analfabeta funcional, por favor, exerça a sua função de  cidadão de bem e ajude a trabalhar em prol da educação da outra metade brasileira viva, que ainda não entendeu o óbvio e também daqueles tantos brasileiros que certamente ainda nem nasceram e que precisarão de um país melhor mais educado e estabelecido para viver. Afinal esses futuros brasileiros não devem pagar a conta por aquilo que nós e outras gerações anteriores deixamos de fazer.

Pensem nesse aspecto e façam as suas respectivas partes, porque isso não custa nada e o Brasil, a nação brasileira atual e futura, antecipadamente agradecem. Os futuros brasileiros, dentre esses, os meus e os seus netos e bisnetos, só poderão ser mais felizes se forem mais bem-educados e para isso temos que fazer a nossa parte hoje. Basta de burocracia e enrolação, está na hora da verdadeira educação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

03 nov 2019
Outubro Rosa e Novembro “quase” Azul

Outubro Rosa e Novembro “quase” Azul

Resumo: Apresento um pequeno Cordel, a fim de chamar a atenção para a prevenção do Câncer de Mama, o que mais mata mulheres e o Câncer de Próstata, o segundo que mais mata em homens no país. Embora, o texto seja alegre e cômico, como é comum na Literatura de Cordel, a questão é realmente séria e estou dando o meu recado.  


Outubro Rosa e Novembro “quase” Azul

Temos ouvido bastante sobre câncer,
De outubro rosa a novembro azul.
Temos recebido muita informação,
Que está vindo de todos os cantos,
Um tanto do norte e outro do sul.
Mas, por mais que se comente,
Infelizmente, a verdade é uma só:
O câncer continua matando gente.
E quem não quiser virar estatística,
É melhor procurar ir se adequando
para ter uma perspectiva otimista
e da coisa continuar se esquivando.

Nas mulheres é um pouco mais fácil,
Porque elas são muito mais corajosas,
Examinam seus próprios corpos,
Se acariciam e querem ficar vistosas.
E de uma maneira agradável,
Tudo vai bem no outubro rosa.
Através da massagem na mama,
elas sabem o que lhes convém
e se observam nódulos ou edemas,
correm logo para o médico,
pois não querem passar problemas
e muito menos seguir para o além.

No homem é mais complicado,
Porque não dá para avaliar sozinho,
Necessitam de uma mão amiga
Com um dedo que toque certinho.
Assim o mês de novembro,
ainda não está totalmente azulado,
porque a maioria dos homens,
não aceita o exame disseminado.
Falam muito sobre essa história
E dela fazem grande gozação
E alguns homens envergonhados
Preferem arriscar a sorte
Nunca fazendo uma avaliação.

Quando por fim descobrem o câncer,
Às vezes a situação já está feia
Fazem tudo, até mesmo cirurgia,
Mas a doença cresce e lastreia.
Quase sempre o fim é terrível
E está difícil um jeito de mudar.
Enquanto esses machões idiotas,
Não quiserem se examinar.
O médico está lá aguardando,
Basta apenas ir consultar,
Deixando a vergonha de lado,
Sendo tocado sem reclamar.

O toque que tanto envergonha
Deveria ser premiado com placa,
Porque é somente através dele
Que se vê a dilatação prostática.
Se a doença é descoberta cedo,
O câncer ainda pode ser tratado
E se o tratamento é bem feito
O homem pode mesmo ser curado.
E vai passar o resto da vida
Tranquilo e sem grandes preocupações
desenvolvendo com normalidade
a grande maioria de suas funções

Então, meus amigos machões,
escutem bem o meu recado,
Deixem de lado essa besteira
De achar que receber toque anal
É coisa de homem transviado.
Façam logo como as mulheres,
Encarem o exame, mesmo preocupados,
Porque o dedo do seu médico,
Pode ser um apêndice contundente
Mas talvez seja abençoado.
pois lhe dará segurança física
E vida longa, apesar de avexado.

Pense bem e reflita:
Sem o dedo posso morrer rápido,
Com o dedo posso viver mais
E gostando ou não da dedada,
Continuar vivendo sempre satisfaz.
Uma dedada ou outra,
Pode até ser bem desagradável,
Mas a garantia do tempo de vida
Ah! Isso é inegociável.
Meu amigo machão saia dessa
E pondere sobre sua vida:
Longa e feliz com o dedo do médico
Ou curta e infeliz sem sobrevida?

Prefira o primeiro caso,
Apesar do descaso e da dor.
Porque esse será um segredo
Entre você e seu examinador
E se você não gostar da experiência,
Porque doeu muito ou incomodou.
Não existe nenhum problema,
É só procurar por outro doutor,
Mas não deixe de fazer o exame,
Porque, antes de qualquer coisa
O exame, além de bom indicador
Também é um ato de amor.

As mulheres já sabem disso
E amam tocar os seus seios,
Mas você não se toca sozinho
E continua dependendo de terceiro.
Seu médico é um profissional.
Confie que ele sabe o que faz.
Agora se você não ama sua vida
Meu amigo machão, reze muito,
Porque você não terá paz.
O câncer não tem preconceito
Pode ocorrer em todos os homens
Tanto nos homo como nos heterossexuais.

E você meu amigo machão,
que tem medo de um dedo
Perde para aqueles que não ligam
E que, às vezes, até recebem mais.
Em suma, seu medo não faz sentido,
Sua crença é uma mera ilusão.
E se você não se ama o bastante,
Pense naqueles do seu coração.
Sua mãe, seu pai, sua filha,
Sua mulher, seu filho, seu irmão,
Pois todos eles, sem exceção,
Sabem que você não é uma ilha.

E todos mais contentes ficarão
Com você livre de um mal maior,
Ou de qualquer risco ou operação.
Por isso, eu estou insistindo:
Meu amigo, faça o exame,
Esqueça o macho que você diz ser
E seja bastante macho para viver
Independentemente de qualquer gozação
e das dedadas que receber.
O dedo pode até doer bastante,
Mas o câncer dói muito mais
E mata rápido, quase num instante.

Enfim, a escolha é apenas sua.
Mas manifeste-se rapidamente,
Tome logo uma decisão positiva,
Clara, lógica e consciente.
Porque talvez não haja tempo
Para que você se arrependa
De sua incerteza incoerente.
Precisamos ter novembro azulado,
Igualzinho ao outubro rosado,
Para que o câncer maligno
Que flagela os seres humanos
seja totalmente eliminado.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

15 out 2019
Dia do Professor

PROFESSOR: UM PROFISSIONAL MUITO ESPECIAL

Existe um profissional em que o tom das palavras, embora não aparente, é sempre o mesmo, mas o tom da voz, muitas vezes necessariamente se altera e isso tem várias explicações, que identificam esse profissional.

1 – Ele tem vontade de acertar.
2 – Ele tem o afã de convencer.
3 – Ele tem necessidade de ter razão.
4 – Ele tem que controlar a inconveniência da emoção.
5 – Ele tem muito desejo de ser compreendido.
6 – Ele pressupõe que o outro não conheça ou que esteja errado.
7 – Ele não quer que o outro se dane.
8 – Ele esbanja altruísmo e muita humildade.

Todas essas explicações podem momentaneamente estar certas ou erradas, mas isso você só conseguirá entender se existir um PROFESSOR na sua vida, porque apenas o PROFESSOR poderá lhe permitir entender e avaliar cada uma das situações do contexto, pois somente o PROFESSOR lhe dará argumentações abrangentes e motivos esclarecedores que lhe permitirão concluir, em qual das situações a questão se passa. Quem não teve PROFESSORES VERDADEIROS e adequados é carente de humanidade e sempre:

1 – Briga quando sabe que está errado.
2 – Se convence com o próprio erro.
3 – Acha que é um sabichão e nunca pode estar errado.
4 – Vive mais do coração, pois desconhece o cérebro.
5 – Quer ser superior às demais pessoas.
6 – Imagina que todos são incapazes.
7 – Não está nem aí para o que alguém pensa.
8 – Tem o egoísmo como meta de vida.

Apenas esse profissional, o PROFESSOR, é capaz de mostrar a cada indivíduo humano o seu referido lugar na sociedade e de fazer de cada ser humano no sentido biológico, uma pessoa no verdadeiro sentido sociológico da palavra. É por isso, que me orgulho muito de ser PROFESSOR, porque mesmo tendo sempre vontade de acertar eu sei que erro, por isso eu grito e fico nervoso, mas, sobretudo, eu sei pedir desculpas quando estou errado, eu penso e reflito e principalmente eu tento aprender um pouco mais daquilo que eu já pensava que sabia e acabo sempre descobrindo que o outro quase sempre tem alguma novidade para me contar e me trazer como novidade. Ou seja, como PROFESSOR, eu avalio que a humanidade é uma escola e tem muito a me dizer e me ensinar.

Um PROFESSOR é assim, alguém que no seu humilde afã de ensinar, acaba tendo que aprender, e nunca quer que essa alternância constante de ensinar aprendendo e aprender ensinando acabe, pois ele sabe que o aprendizado é infinito e que o melhor de qualquer pessoa é o fato dela ser pessoa, antes de qualquer outra coisa e somente uma pessoa pode ensinar a outra. Aquele sujeito que errou muito, mas sempre se dedicou, ao longo de sua vida inteira, a aprender com as demais pessoas, para poder saber mais e assim ensinar a algumas outras pessoas é o verdadeiro PROFESSOR.

Parabéns PROFESSOR por todos os dias de sua vida e felicitações particulares pela data de hoje (15/10), que merecidamente reconhece a sua importância para a nação brasileira e para o mundo. Feliz daquele que teve um PROFESSOR de verdade e que pode se inspirar nesse PROFESSOR para viver.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

12 out 2019
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO DO JOVEM

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO DO JOVEM

Resumo: Dessa vez estou aproveitando um texto que escrevi e li num evento que participei recentemente, discutindo sobre a Importância da Leitura na Formação do Jovem. Faço citações e me atrevo a fazer “complementações” em poesias de outros autores, além de criar e também complementar uma poesia a partir de minha própria opinião, sobre o Cidadão Brasileiro e sua relação pessoal com a Leitura.


Monteiro Lobato afirmava que: “um país se faz com homens e livros” e justificava essa sua argumentação dizendo que “a pessoa que mal lê, mal fala, mal ouve, mal vê”. Pois então, meus amigos, penso que Monteiro Lobato tem razão e posso afirmar que “a leitura é fundamental”. Aqueles que não leem, não sabem o que perdem e nem quanto perdem. Não ler é, em certo sentido, deixar de viver como ser humano.

Paulo Leminski, em sua relativamente breve passagem pela vida terrena, quando questionado sobre a leitura disse o seguinte:

Leite, leitura
Letras, literatura,
Tudo o que passa,
Tudo o que dura
Tudo o que duramente passa
Tudo o que passageiramente dura
Tudo, tudo, tudo
Não passa de caricatura
De você, minha amargura
De ver que viver não tem cura.
Paulo Leminski (1944 – 1989, Curitiba)

E eu complementaria:
Mas, existe um remédio,
Que cura, como água na fervura,
Que afaga como carinho na amargura,
E que enobrece bastante toda criatura,
O nome do remédio só pode ser leitura.

Clarice Pacheco, jovem poetisa que morreu com apenas 13 anos, mas que viveu bastante para entender a importância de ler, disse o seguinte sobre “Viajar pela leitura”.

Viajar pela leitura
Sem rumo, sem intenção.
Só para viver a aventura
Que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso
Quem gosta de ler.
Experimente!
Assim, sem compromisso,
Você vai me entender.
Mergulhe de cabeça
Na imaginação!
Clarice Pacheco (1889 – 2002, Porto Alegre)


E eu, mais uma vez, acrescentaria:
Mas antes faça uma reflexão
E viaje com direção,
Porque a leitura tem ser reta
Firme e com pé no chão,
Seu norte é o conhecimento
E seu porto é a glorificação.

Já Bruno Bezerra, poeta baiano e porreta, nascido em Feira de Santana, resolveu fazer o seu “Tributo ao livro”, ao qual ele mesmo deu o subtítulo de “poeminha do prazer”, afirmando o seguinte:

O sumo prazer humano
Sente o ser que é seduzido
Não apenas pela leitura
Mas, sobretudo, pelo livro
Porque o livro é o corpo
E a leitura, o espírito…
Bruno Bezerra (1977 – Feira de Santana)

E eu, mais uma vez, abusando, ainda incluiria e consagraria:
E o autor do livro equivale ao próprio Deus,
Que inventou e deu vida a criatura.
Criatura que só pode ser traduzida,
Depois de analisada através da leitura.

Enfim, são tantos exemplos e tantas situações em que a gente pode enfocar a importância da leitura, que de repente passa a ser lugar comum, num evento como esse, nós falarmos sobre o tema. Até porque, certamente todos, aqui presentes, são interessados e cientes da importância desse assunto. Entretanto, essa não é a realidade da grande maioria de nossos compatriotas brasileiros, que mesmo sem saber, exatamente porque não têm leitura, sofrem as mazelas dessa terrível lacuna nas suas respectivas formações pessoais.

Penso eu, levianamente, que a grande maioria dos brasileiros se perguntada sobre a importância da leitura diria, mais ou menos assim:

Ler, ler para quê?
O que eu vou ganhar com essa tal leitura?
Serei ao menos capaz de conseguir me livrar da tortura,
De compensar a minha vida de penúria,
E morar com mais prazer e frescura?
De sair do barraco quente em que vivo?
De poder olhar de frente e altivo,
Para aqueles com quem convivo?
De ter minha casa própria e porventura,
Quem sabe até conseguir uma viatura?
Não, eu não quero andar a ler,
Pois tenho mais com que me preocupar,
Tenho mais o que fazer.
Antes ler, eu tenho que viver.
Ler, ler para quê?
Para me enganar sobre aquilo
Que certamente não poderei ter.

E eu, humildemente, mais uma vez, insistiria, dizendo:
Não meu amigo, não é nada disso,
Você está muito enganado sobre a leitura.
Ler, ler, apenas por ler, para ter prazer.
Ler para relaxar, descansar e imaginar,
Ler para sonhar, refletir e discernir.
Ler para melhor entender e escrever,
Ler para crescer, viver e conviver,
Pois basta ler, acreditar e aprender,
Para todo resto começar a acontecer.
Acredite em mim, pois eu sei que:
“O mundo muda, quando a gente lê”.
A leitura é capaz de mudar você.
Você e todo mundo que você vê.
E a mudança é sempre para melhor.
Claro, talvez ela não resolva tudo,
Mas, certamente, o sofrimento será menor.
Aquele que lê, aprende mais e sabe mais.
Mas, ele também reage mais, aceita mais,
Absorve mais, responde mais, discute mais
E, sobretudo, acaba compreendendo mais.
Por que ele se comunica mais,
Porque ele é mais livre e discute mais,
Ele observa mais e percebe melhor.
Assim, a cada leitura, ele se torna maior,
Passa a ser um humano mais capaz de viver
De lutar, de buscar, de amar, de perdoar.
Enfim, de progressivamente se engrandecer.

Meus amigos, o crescimento individual tem tudo a ver com a leitura. O que todo ser humano busca é a felicidade, mas eu quero aqui, deixar claro que somente a leitura, ainda que não garantindo a felicidade de ninguém, pode nos trazer a verdadeira dimensão da felicidade. A leitura cria a verdadeira liberdade individual de pensar e agir de acordo com preceitos pensados e definidos pelo próprio indivíduo. A leitura traz liberdade de opinião e de escolha sobre as diferentes situações.

Cecília Meireles já nos informou que: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Pois então, meus amigos, quem não lê, não é livre, porque vive diretamente sobre a influência daqueles que leem e que criam as diferentes situações. Muitas vezes, quem não lê, nem consegue sequer sonhar, de tão preso que está aos preceitos impostos pelos seus falsos mentores, ou melhor, dominadores. Quem não lê vive a mercê de manipuladores que induzem as ações a serem tomadas.

A leitura é sobretudo o verdadeiro fim da escravidão e do domínio de uns homens sobre outros. A leitura é única forma de liberdade, portanto leiam, leiam muito, leiam mais, leiam sempre.  As capacidades de escrever e ler são as características mais exclusivas da espécie humana e esses atributos estritamente humano não podem ser deixados de lado por nenhum de nós. Os povos mais antigos e as nações mais evoluídas já sabem disso há muito tempo, mas os brasileiros ainda estão tentando descobrir essa realidade cristalina.

O jovem que lê, certamente será um adulto mais capaz de resolver os seus próprios problemas e os problemas daqueles que estão em seu entorno ou que vivem na sua dependência direta. O jovem que lê será um adulto melhor e muito mais bem preparado para passar pelas mais diversas vicissitudes e vencer as inúmeras dificuldades que certamente vão surgir ao longo de sua vida.

Meus jovens alunos, aqui presentes, eu sou professor há mais de 40 anos e acredito bastante em vocês e quero ter certeza que o Brasil dos próximos anos deverá ser muito diferente do que tem sido até aqui, porque vocês serão adultos capazes de fazer um país melhor. Obviamente isso só começará a acontecer através do investimento pessoal de vocês na educação e na cultura. Aqui no Brasil, temos o mal hábito de esperar que o governo faça tudo por nós, mas eu quero lembrar, mais uma vez, que o ato de ler é um ato individual, que não depende de nenhuma ação do governo.

John F. Kennedy já dizia: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país”. Pois então, ler é uma atitude somente sua, de mais ninguém e o Brasil necessita de leitores. Leia e você fará algo de bom para você e pelo seu país. Você pode ler o que quiser, quando quiser e quanto quiser. A decisão é sua, o que pesa nessa decisão é apenas a vontade de cada um.

Estejam cientes que, o ato de ler, a leitura, é a principal arma de educação e de cultura e será esta arma que levará nosso país ao nível que ele merece e vocês, os jovens leitores, deverão ser os grandes responsáveis por operar essa obra de condução do Brasil ao topo. A nação brasileira dos próximos anos será diferente da atual, será realmente livre e será culta, porque será educada e principalmente porque irá ler e aprender mais que o resto do mundo.

Conto com vocês pelo cumprimento dessa tarefa.
Muito obrigado pela atenção.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista; Presidente da Academia Caçapavense de Letras.

Caçapava, 26 de junho de 2019

26 set 2019
O Poder e a Realização no Ambientalismo

O Poder e a Realização no Ambientalismo

Resumo: Nesse artigo, apresento minha proposta para aqueles que têm real e efetiva preocupação com a vida no planeta, visando as eleições municipais que acontecerão em outubro de 2020. Posso estar errado, masconto aqui um pouco da história, que tive a oportunidade de viver na luta pela regulamentação de minha profissão, que completou 40 anos de legitimidade no país. Estou certo que os jovens e futuros colegas de profissão, principalmente os meus ex-alunos, vão gostar de conhecer um pouco mais dessa história. Desta forma, leiam, reflitam, discutam e divulguem.


Certamente a grande maioria das pessoas já se viu numa situação em que teve que se espremer entre a necessidade de realizar alguma coisa e o poder para efetivamente fazer o que era necessário. Pois então, a falta de poder muitas vezes (quase sempre) acaba impedindo a possibilidade de realizar alguma coisa. Por outro lado, esse fato acaba por trazer grande frustração e sofrimento. É claro que essa é uma situação muito comum, que, como já foi dito, lamentavelmente muitas pessoas têm vivenciado.

Por isso mesmo é que resolvi escrever um pouco sobre esse tema, tentado fazer um paralelismo entre essa situação de necessidade do poder e da terrível situação atual, referente à questão ambiental planetária que todos nós estamos presenciando. Infelizmente a imensa maioria da humanidade não detém o poder para tentar resolver os problemas ambientais e os poucos que até são possuidores desse poder necessário, não parecem estar preocupados com a questão.

Em suma, a situação atual é a seguinte: enquanto muitos dos que podem nada fazem, porque não sabem como, ou não conseguem, ou mesmo não querem fazer nada; os que sabem e querem fazer alguma coisa, como não têm poder, também não conseguem fazer absolutamente nada. Das duas uma: ou o poder está em mãos erradas ou há verdadeiramente um grande desinteresse dos “donos do poder” em resolver questões ambientais, porque provavelmente, para eles, essas questões não são importantes, haja vista que muitas vezes elas acabam atrapalhando os interesses escusos dos poderosos picaretas.

Desta maneira o cenário global que temos, consiste numa ampliação progressiva das questões problemáticas ambientais, numa situação cada vez mais desoladora e perigosa, cujas perspectivas de melhoras ficam lamentavelmente sempre mais difíceis e longínquas. As questões ambientais trazem no seu bojo a ideia errônea e infeliz de que ajudar o meio ambiente é perder tempo e principalmente dinheiro e esse tipo de perda sempre desagrada a quem tem o poder e os incautos que ainda acreditam que “o dinheiro é a solução para tudo”. Então, como é possível resolver essa triste e descabida situação?

As possibilidades de solução envolvem direta e indiretamente alguns aspectos e pelo menos algumas perguntas contundentes.  A primeira delas é como fazer para colocar o poder nas “mãos certas”? E depois de colocar o poder nessas “mãos certas”, num segundo momento, deveremos efetivamente questionar o seguinte: como será possível fazer para começar a solucionar os problemas? Isto é, como devemos proceder para não continuar produzindo mais problemas, que só ampliam o nível da desgraça e realmente começar a resolver as questões, sem criar outras que possam ser entendidas como mais importantes? Em suma, como demonstrar e convencer à comunidade, que os problemas ambientais são realmente aqueles que mais importam a todos?

Essas perguntas necessitam ser respondidas para que se possa colocar um final no crescimento continuado dos problemas ambientais planetários. A primeira das perguntas tem a ver com a eleição de pessoas vinculadas e preocupadas com o Meio Ambiente e a Qualidade de Vida no planeta. Essa primeira questão já está sendo resolvida em muitos países, na medida em que cada vez mais se elegem pessoas manifestamente envolvidas direta ou indiretamente com a questão ambiental. Entretanto, países como o Brasil, ainda não estão caminhando nessa direção e os políticos eleitos raramente têm qualquer compromisso significativo com o Meio Ambiente. Aliás, no Brasil, infelizmente os políticos depois de eleitos, costumeiramente não têm mais compromisso com quase nada e fazem o querem sem dar a mínima importância à população que os elegeram.

Assim, do ponto de vista teórico, para começar o trabalho, basta apenas votar em candidatos ligados à causa ambiental, independentemente de Partido Político, pois existe uma necessidade grande e premente de que sejam escolhidos candidatos com essa vocação e esse perfil. Mas, também é necessário analisar bem e ter cuidado para não servir de cobaia para os oportunistas de última hora, que sempre aparecem querendo tirar proveito da situação. Não se impressione com o Partido Político, já que existem alguns deles que até trazem a premissa ambiental manifestada no próprio nome. Porém, lembre-se que você irá votar em alguns sujeitos (candidatos) que, por força constitucional, necessitam de um Partido, ou melhor de uma sigla política, para serem candidatos.

Entretanto, é preciso estar atento de que, isso não quer dizer que esse sujeito tenha, de fato, qualquer compromisso com a sigla escolhida. Não se esqueça que, aqui no Brasil, na grande maioria das vezes, a sigla política é mera contingência, que serve apenas para cumprir algumas formalidades processuais e não há nenhum compromisso efetivo do candidato com ela. Assim, observe bem a história pregressa do candidato, antes de votar nele, para não correr o risco de se arrepender depois. É bom lembrar que, em tempos de eleição sempre aparecem os ambientalistas por contingência política ou por interesse momentâneo de votos.

A segunda pergunta será resolvida a partir da cobrança efetiva das políticas públicas que deverão ser propostas e estabelecidas pelos candidatos depois de eleitos, haja vista que, ao elegermos esses candidatos, nós colocamos o nosso poder pessoal nas mãos deles e precisamos ter certeza que eles irão utilizar esse poder no interesse maior do Meio Ambiente e da Qualidade de Vida. Se assim acontecer, começaremos a minimizar os problemas e poderemos começar a partir para impedir que novos problemas possam surgir.

Nenhum de nós individualmente detém o poder, mas todos nós coletivamente, somos poderosos se fizermos escolhas certas e exercermos as pressões devidas. Assim, se elegermos as pessoas envolvidas com a questão ambiental e se acompanharmos e cobrarmos o trabalho político e administrativo desses nossos candidatos depois de eleitos, poderemos ter sucesso na nossa empreitada pela causa ambiental. Participação política e exercício de cidadania são fundamentais para que possamos atingir os nossos intentos. Não podemos esquecer que político é movida à pressão e que não há pressão maior do que a do próprio eleitor.

Daqui a pouco mais de um ano teremos novas eleições municipais e, sempre é bom lembrar que “tudo acontece exatamente no município”, como já dizia o saudoso Governador André Franco Montoro. Pois então, o município é a menor esfera do poder e consequentemente também é a que mais sofre, porque é no município que as coisas efetivamente acontecem. Ou seja, é o município quem mais sofre com os problemas. Deste modo, nós devemos, desde já, estabelecermos um trabalho na escolha de candidatos que se adequem àquilo que estamos pretendendo e não podemos fazer concessões absolutamente nenhuma. Os votos têm que ser destinados para candidatos verdadeiramente vinculados à causa ambiental, ou então continuaremos a caminho da extinção, porque se as coisas continuarem como estão, resta pouquíssimo tempo para a humanidade continuar existindo no planeta Terra.

A realização daquilo que queremos, nos posiciona em duas situações antagônicas: ou nos tornamos candidatos e nos elegemos ou votamos em alguém que sabemos que irá trabalhar pelas nossas pretensões, que em última análise, não são somente nossas, mas sim planetárias e principalmente humanitárias. Desta maneira, aqueles que puderem se envolver diretamente, está aí uma excelente oportunidade, mas, antes de tudo, é bom lembrar que aqui também está um grande compromisso, um contrato ímpar com o seu município, com a sua comunidade próxima e sobretudo, com Humanidade e com o Planeta através de um mandato diretamente atrelado ao Meio Ambiente e à Qualidade de Vida. Por outro lado, aqueles que não irão se envolver diretamente têm que assumir posturas proativas e ajudar a eleger um candidato engajado na causa ambiental e posteriormente, cobrar as ações previstas.

Se existe necessidade de poder, que se busque o poder, mas que isso se faça em nome de causas nobres coletivas, no interesse da humanidade e não de causas efêmeras pessoais ou no interesse de grupos privilegiados, pois só haverá realização real e efetiva se a humanidade e o planeta puderem se tornar melhores a partir da ação política. Qualquer coisa em contrário será mais uma falácia, mais uma mesmice, um continuísmo sem sentido social e sem nenhum valor moral. O verdadeiro resultado só será obtido se as propostas feitas e as políticas implementadas forem vantajosas para todos e o poder só deverá existir se for para comtemplar esse fato.

O exercício do poder tem de servir a todos, ou seja, o efeito dos resultados sempre tem que ser coletivo, até porque o meio ambiente não pertence individualmente a ninguém. Como diz o “caput” do artigo 225 da Constituição Federal (1988): “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.  Por favor, atendem bem para esse fato: aqui no Brasil, defender o meio ambiente não é uma opção, mas sim um dever, ou seja, é uma obrigação de todos os brasileiros.

Sendo assim, a existência de políticos engajados com as questões ambientais é uma obrigação nacional e, por mais incrível que possa parecer, nós não estamos esse item constitucional desde outubro de 1988, há 31 anos, porque acabamos votando em qualquer indivíduo, sem nos preocuparmos com suas intenções e preocupações, no que se refere ao meio ambiente. Acabamos dando poder a quem não merece poder algum, porque não cumpre os preceitos constitucionais básicos, como o artigo 225 da Constituição Federal, nem como indivíduo e nem como administrador público.

Por conta disso, espero que em 2020, os cidadãos brasileiros votem pelo planeta e pela vida, escolhendo candidatos que realmente entendam que a causa ambiental é uma questão premente e que precisa estar na pauta de prioridades municipais. Ainda temos tempo e só depende de nós, basta que também cumpramos a Constituição Federal e votemos em candidatos envolvidos com a causa ambiental.

Referência Bibliográfica
BRASIL, 2016, Constituição da República Federativa do Brasil/05/10/1988, Senado Federal, Brasília, 496p.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

14 set 2019
Meio Ambiente, Políticas Públicas Ambientais, Desenvolvimento Regional

Políticas Públicas Municipais para o Meio Ambiente

Resumo: Nesse artigo, que foi escrito para provocar uma discussão durante a Mesa Redonda sobre Políticas Públicas Ambientais Municipais, promovida pelo Centro Universitário Teresa D´Ávila – UNIFATEA, são apresentados vários exemplos, que demonstram como o cidadão e grande parte dos administradores são enganados, pela mídia, quanto às questões ambientais. Também fica claro que há muitos administradores que se aproveitam desse “status quo” e deixam de lado às políticas públicas ambientais.


Senhoras e senhores, exatamente em setembro de 2008, publiquei no portal do Recanto das Letras e na Revista Eletrônica Veja São José um artigo intitulado “As Políticas Públicas para o Meio Ambiente”, artigo que continua na INTERNET para quem quiser ler, já foi lido até aqui, cerca de 11 mil vezes no portal do Recanto das Letras e outras quase 5 mil vezes na Revista Veja São José, que foi extinta, em 2014. Além disso, ele certamente foi lido outras tantas mil vezes, considerando outras publicações, que o republicaram, e ainda a distribuição de centenas de cópias impressas que muitas pessoas pediram e eu autorizei.

Sou suspeito, mas penso que o artigo é realmente muito bom. Inclusive fui homenageado num evento aqui na Câmara Municipal de Lorena, em 2011, num debate sobre o tema Políticas Públicas para o Meio Ambiente, onde o citado artigo foi lido e assumido como documento base para o estabelecimento das discussões que nortearam o evento. Bem, imagino que o artigo tenha sido lido, até aqui, pelo menos 30 mil vezes, entretanto creio que poucos administradores públicos tenham lido, além dos de Lorena daquela época, a quem aproveito para agradecer a homenagem.

Confesso que depois de 11 anos passados, duas eleições municipais transcorridas e mais uma chegando, acredito que nesse período quase nada mudou, porque os administradores públicos continuam não dando muita trela para a questão ambiental. Mas, a questão que fica é, por que isso acontece? Por que os administradores públicos de maneira geral e salvo raras exceções, aparentemente não estão nem aí com os problemas ambientais?

Bem, considerando o que acontece em outras áreas, acredito que o setor de Meio Ambiente deveria decidir sobre os interesses relacionados ao Meio Ambiente, entretanto não é exatamente isso que tem sido visto em nenhuma das esferas de governo. Lamentavelmente o meio ambiente tem sobrevivido administrativamente a reboque de outras áreas. Isto é, áreas onde os setores efetivos e reais do meio ambiente têm abrangência, mas que, na verdade, são obrigados a negociar com outros interesses dessas áreas, por exemplo, saúde, agricultura, planejamento, transporte, educação e outras.

É óbvio que dessa maneira torna-se muito difícil que sejam definidas políticas públicas ambientais efetivas, principalmente na esfera municipal, onde, além de tudo, existe uma carência generalizada de recursos públicos, tanto financeiros, quanto humanos. No caso específico dos municípios da região do Vale do Paraíba a situação se agrava ainda mais, por conta de outros interesses locais ou mesmo externos à região serem considerados mais importantes. Logicamente isso não deveria acontecer dessa maneira, até porque o Artigo 30 da Constituição da República Federativa do Brasil garante ao município o direito de legislar nos assuntos de interesse local, mas questões ambientais aparentemente não costumam ser do interesse local para a maioria dos municípios.

Por outro lado, é fundamental que se diga, que o município é, de fato, o único espaço físico que realmente existe, pois tudo acontece, em última análise, no espaço físico do município. O saudoso Governador André Franco Montoro já dizia: “nada acontece na União ou no Estado, tudo acontece no município”. E certamente o Montoro tem razão na sua fala. Por uma questão aparentemente fortuita, a grande maioria dos administradores e governantes municipais ainda não se aperceberam dessa realidade e assim, muitos desses administradores insistem em se submeter, principalmente na área ambiental, aos interesses e muitas vezes aos desmandos da União ou do Estado.

O Município de Lorena tem sido uma das raras exceções a essa questão, pois o trabalho do Secretário Willinilton Portugal, dentro de suas limitações, tem sido bastante profícuo e merece ser destacado. O nosso ex-aluno Luiz Marcelo Marcondes, em sua passagem pela Diretoria de Meio Ambiente da Prefeitura de Aparecida, também fez um bom trabalho. Quer dizer, temos aqui duas exceções, porque essa não a regra para a grande maioria dos municípios da região. Muitos dos municípios, lamentavelmente, ainda nem possuem setores específicos para tratar o Meio Ambiente em suas estruturas organizacionais. Sendo assim, a grande maioria dos municípios do Vale do Paraíba ainda tem questões ambientais sendo tratadas por outros setores, pois, como já foi dito, “não existem recursos financeiros e nem pessoal técnico na área”. Em suma, o meio ambiente é relegado a segundo e terceiro planos no interesse político municipal, ou simplesmente é deixado de lado e esquecido. Há de se convir que desse modo é quase impossível que sejam estabelecidas políticas públicas municipais de meio ambiente. 

Na maioria das vezes, no que se refere ao meio ambiente, literalmente, os administradores municipais tentam “apagar os incêndios, quando eles surgem” ou, quando muito, apenas seguem os procedimentos genéricos definidos pela Legislação Federal ou Estadual, para dizer que estão cumprindo a lei. Mas, mesmo assim, essa segunda hipótese geralmente só ocorre, quando essa condição, de alguma maneira é conveniente a outros interesses que a justifiquem, porque o, já citado, artigo 30 da Constituição Federal propicia esse direito ao município. Isto é, quando interessa ao município o artigo 30 é praticado, pois no interesse público local o município pode legislar e geralmente estabelece uma lei municipal que resolve a situação omitindo o problema ou arrumando outro maior.

Quer dizer, em termos de políticas públicas ambientais, os municípios ficam semelhantes aos “cachorros correndo atrás dos respectivos rabos” e quase nada se resolve ambientalmente. Por sorte, de vez em quando acontece uma catástrofe ou um evento anormal e algo precisa ser providenciado de maneira mais efetiva. Mas, aí já foram vidas perdidas e ambientes destruídos. A nova preocupação só vai surgir, quando nova catástrofe acontecer, por isso algumas pessoas até torcem para que as catástrofes aconteçam mais regularmente. Enfim, enquanto a coisa seguir assim, com esse descomprometimento generalizado da maioria dos administradores públicos e da falta de cobrança efetiva e contundente das comunidades pela solução dos problemas ambientais, dificilmente haverá o estabelecimento das políticas públicas ambientais que se fazem necessárias.

Por outro lado, existem alguns municípios que têm áreas protegidas por Unidades de Conservação ou por outros aspectos particulares (represas, usinas, quarteis, margens de rodovias e ferrovias, áreas de segurança e outras) e por isso acabam sendo mais bem cuidados. Mas, é bom lembrar que isso também é resultado das legislações específicas federais e estaduais que existem para cada caso desses e obviamente a União e o Estado fiscalizam melhor aquilo que lhes interessa. Entretanto, mesmo assim, tudo costuma ser muito superficial ou extremamente específico aos interesses próximos e às necessidades intrínsecas dos administradores. Os possíveis relacionamentos e as questões próximas servem apenas como válvulas de escape e não importam muito. Aliás, essa é uma prática bastante comum aos interesses administrativos, muda-se o foco central para minimizar os danos, tentado demonstrar que o problema real não ocorre efetivamente.

A máxima ambientalista que diz: “pensar globalmente e agir localmente”, costuma ser esquecida, mascarada e até mesmo invertida, pois as pessoas são levadas a pensar e agir sobre realidades distantes com as quais elas não têm nenhuma relação ou qualquer poder para tentar atuar. O foco muda e são transferidos os problemas, como se eles não acontecessem exatamente naquele local. A barulheira que se está fazendo sobre as queimadas na Amazônia é um bom exemplo desse fato. É claro que os incêndios na Amazônia são problemas ambientais gravíssimos e precisam ser impedidos, combatidos e os causadores têm que ser presos, entretanto eles sempre aconteceram e em algumas épocas em níveis mais violentos que os atuais e nunca houve nada parecido com essa barulheira que está aí. Na verdade, a questão não são os incêndios, eles apenas estão servindo ao propósito de alguém e a mídia safada se aproveita disso. Mas, vamos deixar isso de lado e voltar ao nosso tema. 

Hoje temos muitos outros problemas mais graves, mais prementes, mais próximos de nós e talvez até mais fáceis de serem resolvidos. Mas, desses problemas, muitas vezes, nós nem ficamos sabendo, porque a mídia não nos informa, pois não há interesse da mídia e também porque ninguém sabe que esses são problemas ambientais, haja vista que não existem políticas públicas preocupadas com essas questões e elas passam despercebidas como problemas pequenos e muitas vezes nem são consideradas problemas, quanto mais relacionadas ao meio ambiente. É tudo muito bem feito e se não há alarde de ninguém e nem denúncia, obviamente não há crime e assim a mídia continua informando o que não interessa e caravana passa como se não existissem problemas locais.

Meus amigos, nós estamos andando na contramão dos interesses públicos ambientais e criando, cada vez mais, problemas a qualidade de vida das pessoas e ao meio ambiente, com a conivência de administradores públicos, da mídia e principalmente da falta de participação comunitária, de exercício pleno de cidadania das populações que, na maioria das vezes, prefere não se envolver. Temos que acabar com o “jeitinho brasileiro” e a permissibilidade nesse país, porque isso não nos permite conhecer as coisas e obras absurdas e ambientalmente incorretas que acontecem na frente dos nossos narizes. É incrível, mas muitos de nós realmente não vemos e outros, que não querem mesmo ver, fazem tudo para que continuemos não vendo, a fim de as coisas continuem assim. Além disso, a vida, o meio ambiente e o planeta que se danem, desde alguém possa ganhar alguma coisa.

Vou dar alguns exemplos de algumas dessas coisas absurdas que aconteceram na região para reforçar um pouco a memória dos senhores: desmatamentos em Unidades de Conservação à revelia da lei e com justificativas infundadas, construção de teleférico sobre autoestrada, supermercado e loteamentos em Áreas de Preservação Permanente, degradação de centenas de hectares de terra para construção de aeroporto sem nenhuma autorização, tentativas de implantação de Usinas Termelétricas para favorecer multinacionais, autorização de construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas em áreas indevidas e contra a vontade do Comitê da Bacia Hidrográfica, criação de centros religiosos sem  nenhum critério ambiental e secando nascentes, implantação de “Shoppings Centers” sem estrutura viária compatível, construção de estradas e represas sem autorização, impermeabilização do solo, mineração de areia em área proibida e indevida, poluição atmosférica e hídrica visível sem nenhum constrangimento, transposição de água por decreto e vai por aí afora.

Mesmo municípios velhos, grandes e potencialmente ricos não fazem o dever de casa direito. Projetos e programas ambientais comprovadamente bem planejados, interessantes, benéficos e até premiados internacionalmente são destituídos e extintos por outros interesses menores. Por exemplo, o Projeto Sementes do Amanhã e a Casa Ambiente de Guaratinguetá, a liberação das margens dos rios para a exploração de areia sem critério em vários municípios, o desrespeito às áreas protegidas e seus respectivos entornos, até mesmo por parte dos administradores públicos. Administradores públicos que burlam, esquecem ou mudam leis para valorizar suas áreas e outros criam zonas especiais em seus municípios sem nenhum critério técnico. Emancipação e criação de novos municípios, a despeito da real capacidade econômica, sem nenhuma coerência lógica e principalmente sem nenhuma análise técnica que justifique o ato.

Meus amigos, nós brasileiros, somos campeões mundiais em desatenção ao interesse coletivo e desfaçatez. Somos os verdadeiros “caras de pau” e só olhamos para o nosso umbigo. Assim, como poderemos fazer políticas públicas ambientais municipais de qualidade?

Lamentavelmente estou cada vez mais cético quanto a qualidade e a competência da maioria dos nossos administradores e acho que enquanto nós não votarmos em administradores públicos com visão regional, preocupados com o meio ambiente e comprometidos com o devido interesse em proteger a coletividade na ocupação do espaço físico dos municípios, dificilmente teremos melhoras no quadro. Aliás, penso que a coisa tende a piorar e só a população entendendo que os problemas locais são mais importantes, participando do processo e cobrando as ações devidas poderá mudar essa situação calamitosa e cujas perspectivas em alguns municípios, pelo que temos visto, infelizmente, são as piores possíveis.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

10 ago 2019
Educação, Meio Ambiente, Educação Ambiental, Recursos Naturais, Consumismo.

Educação e Meio Ambiente: dois assuntos e uma abordagem

Resumo: Desta vez estou trazendo um texto reflexivo, através de uma crítica, a meu ver necessária, aos mecanismos que têm sido utilizados como modelos de Educação Ambiental. Esses modelos precisam ser repensados, pois na verdade eles estão progressivamente colaborando para que os recursos naturais continuem sendo explorados sem critério ou de maneira indevida


Se houver uma necessidade objetiva e real de se identificar e de definir qual é a área do conhecimento mais prioritária à formação e ao desenvolvimento humano, certamente haverá um consenso de que esta é a área da Educação. Por outro lado, se também houver uma necessidade real e objetiva de se identificar e de definir qual é a área mais importante para a manutenção dos padrões de segurança e de qualidade de vida dos organismos e dos grandes ecossistemas planetários, obviamente também haverá um consenso de que esta é a área do Meio Ambiente.

Na verdade, essas duas áreas compreendem todos os grandes problemas humanos, pois tudo decorre dessas duas bases operacionais. Ou não se tem educação e assim não se sabe tratar o meio ambiente, ou não se trata devidamente o meio ambiente porque se desconhece a educação. Embora, aparente mente distintas, essas duas áreas são extremamente associadas e conseguem unidas responder por todos as questões pendentes e preocupantes da humanidade ao longo da história.

A Educação é muito antiga, sendo entendida como necessária desde o surgimento da humanidade. Ensinar e aprender são verbos obrigatoriamente presente em todas as atividades humanas e tanto os progressos como os retrocessos humanos, obviamente são frutos da educação ao longo da existência da humanidade. Já o meio ambiente é um aspecto novo que começou a ser colocado formalmente dentro dos parâmetros humanitários nos últimos 50 anos e de repente se espalhou e se misturou por todas as atividades humanas.

Há alguns anos foi criado um termo, muito em moda na atualidade, Educação Ambiental, cujo intuito era o de tentar associar a educação ao meio ambiente, mas sempre se reduziu essa ideia a meras formalidades e situações específicas e, na verdade, a Educação Ambiental continua sendo, até aqui, muito artificial, porque ela se ocupa de situações problemáticas específicas e locais. Entretanto, o mundo hoje é globalizado e não adianta eu me referir a determinado caso de um determinado setor de uma certa localidade, porque isso não é educativo e muito menos é ambientalmente correto. A educação tem que ser preventiva e o meio ambiente tem que estar também previamente prevenido das ações antrópicas potencialmente causadoras de dano.

Quer dizer, não adianta se desenvolver um programa sobre uma questão localizada qualquer. Há necessidade de que se trate o problema de maneira genérica, projetando uma maneira desse problema não ter como existir. O planeta é um só e as demais entidades vivas sobre o planeta, inclusive e preferencialmente os humanos, precisam estar propensos a ter boa qualidade de vida em qualquer lugar ou situação da Terra. Se não for assim, não se está devidamente educado e tampouco está se cuidando do meio ambiente da maneira correta. Em suma, o termo Educação Ambiental, acaba não sendo, nem educação e nem meio ambiente, apenas se ocupa das duas áreas para justificar um determinado problema. Portanto, essa ideia de Educação Ambiental é pequena para a necessidade e muito pouco abrangente para a necessidade real.

Quando se está falando de Educação existe a preocupação de que se esteja instruindo, guiando, ensinando. A palavra Educação vem do latim educere (ex + ducere), que significa “guiar para fora”, ou seja, conduzir para além das necessidades próximas, ou melhor, instruir para resolver outros problemas. No seu sentido mais amplo a palavra quer dizer: “levar uma pessoa para fora” de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.

A expressão Meio Ambiente, que é uma redundância e um pleonasmo, “o meio do meio” ou o “ambiente do ambiente”, porque meio e ambiente, em certo sentido são palavras sinônimas, ou seja, têm exatamente o mesmo significado. Ambas as palavras que compõem a expressão, também vem do latim ambiens, que significa “andar ao redor” ou “ir em volta” e medius, que significa “meio” ou “lugar acessível a todos”. Talvez um termo apenas, como no idioma inglês, environment, fosse mais correto. Mas, nós não vamos discutir etimologia aqui, até porque a noção geral da expressão parece ser bem clara a todos.  

Então, a educação visa “guiar para fora”, o ambiente visa “andar ao redor”, ambos conceitos que saem do indivíduo e que dizem respeito ao seu exterior, objetivando exatamente o entendimento do que está fora. Desta maneira, eu não posso fazer Educação Ambiental apenas daquilo que está no meu entorno, se o mundo é muito maior e mais abrangente do que o meu limite físico. Certamente um exemplo pode será mais bem interpretado.

Imagine que você é um professor de Educação Ambiental e trabalhou a coleta do lixo e a reciclagem, aliás esse é efetivamente um tema muito comum, nessa chamada educação ambiental. Durante sua aula você demonstrou que a latinha de alumínio é um resíduo que pode ser reciclado e recolocado na produção, para tanto é necessário apenas quer alguém que coleta as latinhas usadas. Desculpe-me, mas não há nenhuma educação e muito menos ambiental nesse fato.

Ao contrário, existe sim um fato lamentável, que demonstra que o alumínio é reciclável e que   usar as latinhas de alumínio é algo legal porque gera “emprego” para alguém. Aliás, existe até algumas pessoas que pensam (se iludem) e juram que reciclar é um bom negócio porque dá lucro.  Então, está tudo errado e eu vou pontuar alguns dos motivos, porque está errado.

1 – Reciclar não dá lucro, quando muito, consegue diminuir o prejuízo de alguém e permite o lucro para outro alguém, mas de qualquer maneira a perda para quem produziu, no caso a natureza, sempre é maior do que o lucro de quem usou e vendeu, de quem reciclou e revendeu (“ganhou”).

2 – Reciclável ou não a latinha de alumínio é um produto oriundo da alumina (óxido de alumínio) que é o principal componente bauxita, que é o principal minério formador do alumínio. Portanto o alumínio é um recurso natural não renovável e como tal, depois de retirado da natureza não há como retorná-lo à condição inicial. Desta maneira sua exploração não deve ser incentivada, pois à hora que acabar, simplesmente acabou.

3 – Não há nada de interessante na utilização constante e predatória de um recurso natural não renovável, principalmente quando existem alternativas cabíveis para resolver o mesmo problema, a custos ambientais e muitas vezes também econômicos, mais vantajosos.

4 – Reciclar é bom e necessário, pois reaproveita material, diminui custos energéticos e outros. Entretanto, reciclar não é fundamental para o meio ambiente, antes é melhor repensar certas práticas e certos usos de determinados recursos. As tecnologias e os usos alternativos, além de produzirem um desincentivo cada vez maior ao consumo de recursos naturais, devem ser as verdadeiras orientações e premissas básicas da Educação Ambiental.

5 – Por fim, não se deve partir para falar de Educação Ambiental já assumindo a reciclagem como uma prioridade, pois as prioridades educacionais para o meio ambiente devem ser: não utilizar recursos indevidamente e não produzir resíduos.

A partir do exemplo dado, vejam bem que, se até houve alguma educação, não foi mito boa para o Meio Ambiente, isto é não foi Educação Ambiental. Talvez tenha sido boa educação comercial ou educação industrial ou sei lá o quê, ou ainda educação de como conseguir obter algum dinheiro com o resíduo dos outros, através da degradação do planeta. Ambientalmente então, na verdade, se estimulou para que se continue usando latinhas, porque elas vão gerar recursos para alguém. Aliás, aqui a coisa é mais complicada ainda, porque sempre se pensa, infelizmente, em alguém pobre que vai conseguir alguma coisa através do resíduo de alguém rico e isso, a meu ver é até preconceituoso e deveria ser evitado.

Quero crer que haveria educação se fosse informado e trabalhado o fato de que o uso do alumínio é apenas conveniente para quem vende o produto e que o custo da lata já está inserido no referido produto, portanto não houve perda econômica, houve apenas perda ambiental. Por outro lado, deve ser dito também que o lixo (resíduo produzido), isto é, a latinha, que pode dar lucro para alguém, acaba, infelizmente, atraindo as pessoas mais necessitadas ou menos esclarecidas e indiretamente intensificando mais a desqualificação profissional e prejudicando o desenvolvimento de outras formações e profissões, que talvez possam produzir melhores salários às pessoas.

O melhor lugar para a bauxita, assim como de qualquer recurso natural, é onde ela se formou, isto é, na própria natureza. Se o homem decidiu se apropriar e utilizar a bauxita porque esse é um tipo de minério interessante, que se presta a vários produtos de interesse humano, então que o seu uso seja exatamente do mesmo tamanho de sua necessidade e que não haja excesso na sua exploração. A sustentabilidade é um conceito que deve fazer parte primária de qualquer ação ligada à questão ambiental e a Educação Ambiental, para cumprir seu propósito de maneira efetiva, não pode deixar a sustentabilidade de lado.

O consumo exacerbado não cabe dentro do conceito de sustentabilidade e os humanos que ainda não nasceram têm tanto direito de usar a bauxita quanto nós temos, mas se o uso continuar do jeito que está, eles só poderão conhecer o minério bauxita num Museu de História Natural. Mas, isso também só será possível se alguém lembrar de guardar uma porção de bauxita para tal fim. Muitos recursos naturais não renováveis já não existem mais na natureza e nem estão presentes na maioria dos museus.

Mas, vejam bem, me utilizei de um recurso natural não renovável como exemplo, mas eu também poderia utilizar de exemplo um recurso natural renovável. Por exemplo o Jacarandá-da-Bahia é (ou era) uma árvore frondosa, de madeira nobre e dura, bastante utilizada na indústria moveleira e na construção civil. Pois então, por conta de seu uso indiscriminado está em processo crônico de extinção na natureza e já desapareceu totalmente em alguns estados, como São Paulo, por exemplo. Restam poucas áreas no estado da Bahia e praticamente desapareceu no restante do Leste brasileiro. Primitivamente, ocorria de Pernambuco até o Paraná. Será que o neto do seu filho será capaz de ver um Jacarandá na natureza?

A Educação Ambiental deveria ensinar primeiro o que é o Jacarandá-da-Bahia como espécie de planta, depois dizer como manter a espécie e da importância das reservas naturais da espécie por questões biológicas e só depois deveria falar de sua utilidade paro o interesse humano. Mas, infelizmente não é assim que se costuma proceder e por isso progressivamente espécies são extintas, tanto as espécies vegetais, como é o caso do Jacarandá, mas, principalmente, as espécies animais, que estão por aí, sendo dizimadas sem nenhum critério, para atender a vontades infundadas e utilidades indevidas (algumas vezes absurdas) de quem quer que seja.

Já passou da hora de brincar com Educação Ambiental. Está na hora de fazer coisa séria, entendendo que educação é um processo genérico e que o meio ambiente é diferente de um local para o outro, mas que qualquer local é um meio ambiente e que há necessidade de uma maneira devida e certa de tratar com esse local. Entretanto, é preciso estar claro que essa maneira não pode e não deve ser a mesma em locais diferentes, exatamente porque esses locais são diferentes, a dinâmica é diferente, os organismos são diferentes as condições físicas e químicas são diferentes. E mesmo nas cidades ou nas indústrias, os mecanismos e os processos são diferentes e assim o procedimento em cada caso deve e tem que ser diferente. A Educação ambiental deve levantar e discutir os problemas, mas para resolvê-los, cada situação será uma situação e assim, terá certamente uma resposta diferente.

Não é possível tratar educação e meio ambiente isoladamente ou apenas como causa e efeito de um processo local. O ambiente é teoricamente tudo e a educação teoricamente tem que ser capaz de resolver ou pelo menos de pensar a cerca de tudo, pois do contrário não é educação é apenas e tão somente treinamento, ou melhor adestramento. Isto é, ensina e resolver um problema, mas não cria a possibilidade de gerar novas situações a partir daquela. No meio ambiente sempre vão existir novas situações e o homem precisa estar preparado para atendê-las da melhor maneira, sempre atentando para o fato de que a natureza e os inúmeros ambientes planetários são para todos os organismos, atuais e futuros, terem vida com qualidade.

Educação e Meio Ambiente têm que ser tratados de uma maneira globalizada, porque ainda que os interesses primários sejam locais, o interesse de qualquer questão ambiental planetário, pois atinge direta ou indiretamente todos no planeta. A educação que se presta a esse tipo de interesse planetário tem que ser interessante para toda humanidade, porque deverá servir como forma de orientação para todo e qualquer ser humano e não como simples modelo de uso de uma situação ou localidade, que necessita de uma solução momentânea.

Continuarei sendo um crítico desse modelo de Educação Ambiental que se limita a fazer curativos em situações, mas que não se preocupa de fato com a origem da doença. Precisamos pensar preventivamente antes de propor qualquer programa de Educação Ambiental. Não devemos apenas resolver problemas, a profilaxia ambiental tem que ser o objetivo primário da Educação Ambiental. Ao invés de controlar a dengue matando mosquitos, porque não ensinamos aos nossos alunos e pesquisamos o porquê da dengue não se transmitir a partir das bromélias, se elas estão cheias de água parada e repletas de larvas de mosquitos.

Quando nós partirmos para esse tipo de Educação Ambiental, que envolve o todo e não as partes isoladamente, veremos que não haverá diferença na abordagem entre a Educação e o Meio Ambiente, porque ambos estão relacionados ao cuidado com o entorno, com o que está ao redor. Mas, é bom lembrar ainda que a expressão “ao redor”, também é relativa, porque esse “ao redor” está limitado ao espaço planetário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

26 jul 2019
O Peso do Tempo Sobre a Vida do Homem

O Peso do Tempo Sobre a Vida do Homem

Resumo: Nesse artigo, procuro fazer uma reflexão oportuna sobre as preocupações comuns da vida humana, sua temporalidade frágil, sua condição compulsória natural e a consequente preocupação humana generalizada com o “pouco tempo” para o desenvolvimento e a realização da grande maioria das coisas.  


O tempo talvez seja a única coisa que todos nós temos de maneira exatamente igual, mas infelizmente a maioria de nós não se percebeu desse fato e se contradiz a cada instante, perdendo esse precioso tempo que todos realmente dispomos, com coisas menores e às vezes sem nenhuma significância. A vida é feita para ser vivida em sua integralidade e o tempo é para ser consumido com as coisas que efetivamente importam na vida. Entretanto, parece que nossa vivência conturbada e efêmera de viver, nos coloca diante de tantas picuinhas que a maioria de nós acaba trocando os valores das coisas e terminamos não tendo tempo para aquilo que é realmente importante. Por que será que agimos assim?

Eu realmente não sei como responder à pergunta acima, mas vou apresentar algumas ideias que possam tentar ajudar no esclarecimento da mesma e quem sabe possam até permitir algumas projeções próximas das possíveis verdades por trás de nossa “tendência natural” ao mal uso que fazemos do precioso tempo que temos. Até porque, eu acredito que o tempo seja valoroso demais para ser mal utilizado ou perdido inconsequentemente como lamentações.  Mas, é claro que eu não sou dono da verdade e nem conselheiro mor de ninguém. Estou aqui apenas para dizer o que acredito e para dar alguns palpites que podem ser interessantes.

Vivemos num mundo louco e veloz, além disso partimos da premissa que nossa vida é curta e assim fazemos de tudo para esticar a vida e aumentar o tempo disponível, mas, na verdade, só ampliamos a velocidade do tempo perdido. Nós não assumimos diretamente, mas em nosso íntimo, nós temos a absoluta certeza de que queremos realizar mais do que efetivamente podemos. Isso acontece, porque obviamente sempre faltará tempo para fazer alguma coisa, de tudo aquilo que queremos fazer.

Em contra partida, a vida tem que ser vivida de uma maneira boa, ou pelo menos, da forma mais razoável e satisfatória possível, pois sabemos que ela é curta e que ali na frente ela terminará. Sendo assim, fazemos de tudo para que as coisas aconteçam dentro dos nossos interesses primários da maneira mais imediata. Pois então, é exatamente aí que nós “damos com os burros n’água” e nos estrepamos, porque como temos pressa, na maioria das vezes acabamos não conseguindo fazer as coisas corretamente.

Assim, comemos com pressa, dormimos com pressa, amamos com pressa. Fazemos tudo com pressa e esquecemos que a natureza não tem pressa e que o tempo é uma espécie de observador ilustre, perene e contínuo que acompanha todas as coisas naturais ou não. Isto é, o tempo, sempre está ali, dono de si mesmo e, em certo sentido, manobrando toda situação. O tempo não tem pressa e atua sempre da mesma maneira, numa constância e numa monotonia que chegam a dar nojo a quem observa ou depende dele e nós, seres imperfeitos, que ainda não estamos preparados para essa frieza do tempo, atropelamos tudo e deixamos as coisas imperfeitas por sua causa.

A natureza é perfeita e o homem, ao longo da história, tem tentado imitá-la nas mais diversas situações e muitas vezes quase tem conseguido, desenvolvendo modelos e mecanismos tecnológicos progressivos, que cada vez mais, se comparam com os padrões naturalmente estabelecidos. Em alguns casos, certos humanos, até acham que são capazes de superar a condição natural. Entretanto, isso é um ledo engano, pois quando muito alcançamos apenas o plano básico do delineamento das ações e atividades naturais. Chegamos apenas a fazer sombra, uma imitação grotesca dos padrões naturais, mas, eu quero crer, que poderíamos ser efetivamente bem melhores do que temos sido até aqui.

Pois então, o que não nos permite ser melhores é exatamente a fatídica pressa, em consequência da nossa preocupação e da nossa briga particular e constante contra o tempo. Se tivéssemos menos envolvidos em correr e mais preocupados em aprender e interessados efetivamente em fazer corretamente, não nos importaríamos muito com o tempo e assim apenas faríamos as coisas e, embora ainda ficássemos muito longe dos padrões naturais, certamente estaríamos caminhando bem mais próximos daquilo que é real e efetivamente natural.

Vivemos buscando milagres e padrões diferenciados de comportamentos, de posturas, de procedimentos e de condutas que possam nos permitir viver mais, para podermos fazer mais. Enfim, queremos esticar a vida e viver eternamente, mas isso é impossível. Isso é uma falácia comercial para iludir aqueles que estão muito preocupados com o tempo. O que podemos é tentar utilizar melhor o tempo, sem pressa com parcimônia e com coerência, realizando as coisas sempre da melhor maneira possível. Entretanto, necessitamos entender que nosso limite não nos permitirá superar nunca os limites naturais. Somos apenas parte da natureza e não senhores dela.

Não tenham dúvida, que quando fazemos qualquer ação com dedicação, respeitando os nossos limites e sem a preocupação de acabar logo, o resultado é sempre melhor e rende mais, pois “o tempo nos ajuda”, ou melhor, “o tempo não nos atrapalha”. Diz o ditado que:  “a pressa é a maior inimiga da perfeição”, mas isso não é verdade, pois a pressa é apenas inimiga do tempo e a perfeição, como já foi dito, é impossível para qualquer um de nós.

A natureza desprezou o tempo e por isso ela alcançou grandes resultados, nós, as diferentes sociedades humanas, estamos tão atrelados ao tempo que acreditamos que não temos tempo para realizar as coisas e ficamos eternamente presos a essa ideia que nos martiriza triste e violentamente. Precisamos entender, antes de qualquer coisa, que nosso tempo é definido e compulsório e que nós não vamos viver mais do que aquilo que for possível. Assim, devemos fazer do tempo uma questão de vontade e desta maneira quanto mais vontade de realizar, maior será o tempo para fazer e consequentemente mais coisas serão realizadas.

Nossa busca da felicidade nos levou a esse embate infrutífero com o tempo e certamente não haverá jeito de ganharmos a contenda, porque certamente vamos ficar e ele vai seguir. Em função disso temos que procurar viver independentemente de nossa inquietação com relação ao tempo. Cada minuto vivido é único e fundamental, por isso mesmo deve ser intenso. Cada minuto deve ser vivido como se fosse o último, pois esse minuto só terá valor para nós, se chegarmos a viver o minuto seguinte. Esse objetivo só será conseguido se desfrutarmos cada minuto intensamente, sem nenhuma preocupação com o que virá daí para frente, porque esse não é problema nosso e sim uma contingência natural de nossa existência.

Não temos nenhum domínio sobre o futuro, nós apenas podemos e obviamente devemos sonhar, pensar, imaginar e até projetar o futuro, mas efetivamente não saberemos nunca o que de fato vai acontecer. Diz o ditado que: “devagar se vai ao longe”. Então, por que e para que tanta pressa?  

Como disse Mario Lago: “Eu fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Qualquer dia a gente se encontra e dessa forma, vou vivendo intensamente cada momento”. Acredito que essa deveria ser uma regra fundamental e absoluta para todos os seres humanos. Entretanto, acredito que esse pensamento só faça sentido real, se houver efetiva preocupação com a humanidade, porque viver, simplesmente por viver, não nos remete a condição de verdadeiros seres humanos.

A continuidade física da vida é apenas uma questão da natureza e nós podemos espernear à vontade, mas infelizmente não temos e nunca teremos o poder sobre a vida e a morte, como gostaríamos de ter e certamente o tempo também não tem nada a ver com isso. A única certeza é que: tudo o que está vivo, um dia vai morrer. O tempo apenas segue seu curso e nos acompanha ou nos persegue, como preferem entender alguns de nós. A morte é compulsória, mas o que fazemos enquanto estamos vivos é algo que só depende única e exclusivamente de cada um de nós.

A princípio, o tempo é igual para todos, embora alguns vivam mais e outros menos. Entretanto, o que se precisa é usar o tempo da maneira mais adequada e abrangente, pois ele sempre será escasso e pequeno aos nossos interesses, porém será longo e grande na medida das diferentes coisas que fizermos com ele, ao longo de nossa vida. Por outro lado, também é fundamental lembrar que nós não precisamos, necessariamente, estar vivos para que continuemos tendo qualquer relevância ou sendo importante nos diferentes motivos ou atividades humanas.

Sendo assim, deixar um legado significativo, talvez possa ser a melhor maneira de aproveitar bem o tempo que se tem ou a melhor maneira de se manter “vivo” ao longo do tempo, mesmo após à morte. A memória humana e a história da humanidade são os grandes depositários do tempo e muitos humanos, que já viveram em outros tempos, continuam “vivos” até hoje, graças aos seus respectivos legados. Deixe de preocupar com o tempo e invista seriamente em deixar um legado à humanidade, que desse modo, você caminha para a eternidade.

Talvez, se parássemos de querer competir com o tempo e apenas nos associássemos a ele, possivelmente teríamos algumas vantagens. O tempo é eterno e nós, somos reles mortais, mas podemos ser levados por ele à eternidade. Estejam certos de que nossas ações definirão nosso verdadeiro valor e nosso mérito pessoal e temporal, independentemente da quantidade de tempo que vivamos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima