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Artigos Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

12 jul 2019
Comemorando 5 Anos do meu “Site”

Comemorando 5 Anos do meu “Site”

Meus amigos, estou aqui com muito prazer e orgulho para agradecer a todos que têm, de alguma maneira, me acompanhado no “site” e faço isso da única maneira que sei e que gosto de fazer, ou seja, escrevendo.

Agradecimento

Nesse mês, precisamente no próximo dia 27 de julho, o meu “site” (www.profluizeduardo.com.br) estará comemorando 5 anos de existência, isto é, estará completando 60 meses ininterruptos no ar. Coincidentemente, nessa mesma semana (dia 10 ou 11/07), o site também estará ultrapassando o contingente numérico expressivo de 60.000 (sessenta mil) acessos, entre visitas, sessões e leituras, o que demonstra exatamente uma relação exata de 1.000 (mil) acessos por mês.

Obviamente não é um número fantástico ou magnífico, mas é um número extremamente expressivo e significativo, principalmente se for levado em conta que o site é pessoal, pois só apresenta textos escritos por mim e mais ainda, que a grande maioria desses textos são bastante longos e abordam assuntos que discuto por interesse primário exclusivamente meu. Isto é, eu apresento os assuntos, os quais aparecem e se desenvolvem por conta de questões propostas, vividas e apreciadas exclusivamente por mim.

Sinto-me, mais uma vez, muito orgulhoso e agradecido por ver que tem muita gente que pensa como eu e também que muita gente que acha que vale a pena ler o que eu escrevo. Assim, estou orgulhoso, porque posso ver que meu trabalho, de alguma maneira, tem sido acompanhado e respeitado pelos leitores. Também estou agradecido, porque a cada dia o público que lê meus artigos fica maior e mais fiel. Isso me anima mais, porque me faz acreditar que tenho conseguido agregar mais gente às minhas ideias e às minhas causas. Digo isso, porque o “site” não cresce apenas em número, mas cresce também em fidelidade. Isto é, os leitores retornam ao “site” num índice de retorno bastante significativo para um site aberto.

Nesses 5 anos, as visitas ao site veem progressivamente crescendo e se estabelecendo num patamar, cada vez mais abrangente de acessos, de sessões de leituras e principalmente da fidelidade dos leitores. Isto é, quem lê os meus artigos tem, gradativamente voltado outras vezes e lido outros artigos cada vez mais. Desses 60 mil, tenho um público fiel que hoje, gira em torno de 5 a 6 mil leitores. Quer dizer, não é só o número que aumenta, mas o interesse dos leitores que já me conhecem também é significativamente maior. Em outras palavras, dos artigos existentes no “site”, há uma grande quantidade de leitores que já retornaram ao “site” por várias vezes e leram inúmeros desses artigos.

Compartilho com vocês alguns números sobre o “site”: 125 artigos publicados, acessados por leitores de 116 países, de 2.459 cidades diferentes e traduzido em 83 idiomas pelo mundo afora. Números que são bastante expressivos, principalmente sendo um “site” individual, informativo e absolutamente sem fins lucrativos, onde são discutidas questões de interesse geral e onde eu proponho as questões e as coloco abertamente às críticas.

Meus amigos, o que posso mais dizer, além de muito obrigado e pedir que continuem comigo, porque não pretendo parar de dizer e escrever o que penso sobre as coisas que acontecem e quero que vocês continuem participando comigo dessa aventura fantástica de questionar, de propor e de abrir fóruns de discussão sobre diversos assuntos que impactam nossa sociedade e o meio ambiente. Costumo dizer em minhas aulas, que a gente só sabe mesmo alguma coisa, quando é capaz de discutir sobre ela.

Pois então, o que tenho feito é tentar aprender um pouco mais sobre as coisas que me incomodam, me preocupam e que, por isso mesmo, entendo que preciso conhecer melhor. Vocês, que são os meus leitores, têm sido meus interlocutores e também minha orientação para aprender mais e continuar fazendo esse trabalho que abracei por puro prazer, por gostar de produzir textos e discutir as questões cotidianas que de alguma maneira interferem no comportamento das comunidades locais e da sociedade como um todo. O ser humano precisa ser capaz de diagnosticar melhor a sua humanidade e eu gosto de me sentir um sujeito propenso a tentar aguçar vontades e estabelecer situações que possam conduzir a um melhor entendimento das coisas da humanidade e consequentemente a produzir um ser humano e um mundo melhor.

Obviamente, não tenho superpoderes e nem tenho a pretensão de ser maior ou melhor que ninguém, mas tenho muita vontade de sugerir e de promover ideias que possam garantir esse mundo melhor que desejo, através do diálogo e da discussão de variados temas. Acredito que esses temas se tornam complexos por conta de falta de conhecimento e de participação e parece que vocês tem me acompanhado nessa missão, porque leem, avaliam e de alguma maneira, também aprendem mais sobre eles.

Mais uma vez, muito obrigado a todos vocês.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

29 jun 2019
PARA VALORIZAR A MULHER NÃO PRECISA EXCLUIR O HOMEM

Para valorizar a mulher não precisa excluir o homem

Resumo: Um aspecto muito discutido nos últimos tempos que é a Valorização da Mulher, porém o autor avalia que certos grupos sociais parecem estar confundindo a necessária valorização da mulher com uma possível exclusão do homem e alerta que essa atitude acaba sendo um grande mal para a humanidade.


Outro dia participei de um evento muito interessante sobre questões culturais, enfocando principalmente a cultura regional e em dado momento do evento uma determinada mulher, apoiada por duas outras, se levantou e fez questão de dizer, com certo sarcasmo e muito vanglorismo, que havia conseguido promover e realizar uma determinada atividade cultural na sua cidade sem a participação de nenhum homem e que, apesar das críticas e reclamações dos homens, a atividade foi perfeita e que os homens morreram de raiva. Ela disse ainda, que seu grupo está planejando e vai realizar a mesma atividade novamente sem a presença de homens, para comprovar que “eles não são importantes”.  Isso, segundo a oradora, é “para demonstrar a valorização da mulher” e as outras duas concordaram plena e efusivamente com aquela situação.

Confesso que não falei nada naquele momento, porque eu era um estranho no ninho, um convidado de última hora que não conhecia a imensa maioria das pessoas presentes (cerca de 40 pessoas, sendo a maior parte mulheres) e talvez minha fala fosse criar uma situação mais desagradável ainda. Mas, eu não só me senti muito ofendido, como fiquei com uma grande preocupação em relação ao rumo que essa chamada luta pela valorização da mulher está tomando. Sinceramente, acho que devo ser muito burro, pois não consigo entender o porquê do simples fato de excluir os homens de uma atividade qualquer, possa ser a melhor maneira de valorizar a mulher. Por conta disso, resolvi escrever esse texto e apresentar o meu pensamento sobre o assunto.

Antes de qualquer coisa, quero dizer que não tenho absolutamente nada contra a valorização da mulher, até porque vejo que essa é, de fato, uma tarefa bastante importante e necessária. Aliás, penso que, realmente, essa é uma necessidade para a sociedade e também, do ponto de vista estritamente biológico, para a espécie humana. Nesse texto, vou tentar discutir sobre isso mais detalhadamente e obviamente já estou preparado para as críticas que certamente irei receber. Por outro lado também quero deixar claro que não estou querendo criar polêmica, estou apenas fazendo um constatação e demonstrando minha preocupação com a questão.

Assim, devo dizer que entendo que quando se fala de valorizar a mulher, o entendimento deve ser de única e exclusivamente valorizar a mulher. Então, quem quer valorizar a mulher, deve realmente valorizar a mulher como entidade biológica representante da espécie humana, assim como o homem. Entretanto, não é bem isso que se tem visto por aí, porque na grande maioria das vezes que se comenta sobre a valorização da mulher.

Na verdade, está se fazendo a desvalorização do ser humano indiretamente, sob a máscara da pretensão de valorização da mulher. Isso acontece porque se quer tentar, por um lado, valorizar a mulher, o que obviamente é muito bom. Entretanto, por outro lado, muitos se aproveitam, deliberada ou ocasionalmente, para simplesmente desvalorizar e excluir o homem e isso não é bom para a espécie humana, nem do ponto de vista social, pois cria um antagonismo social entre os sexos e muito menos do ponto de vista biológico, porque separa a espécie humana em dois grupos distintos e rivais. Vou tentar esclarecer melhor o que estou querendo dizer.

Quando se quer promover a mulher, muitas vezes se esquece que ela é parte de um todo maior, que é a sociedade humana, a qual se compõe de homens e mulheres. Ou seja, a mulher não está, nunca esteve e jamais estará isolada, ela faz parte de um grupo maior que é a humanidade. Ainda que quantitativamente as mulheres componham a maior parte da humanidade, torna-se imprescindível considerar que a totalidade de seres humanos se compõe indistintamente de mulheres e homens. Feliz ou infelizmente nossa é espécie não é como as espécies de minhocas, por exemplo, onde cada indivíduo apresenta os dois sexos. A espécie humana tem dois indivíduos distintos que a compõem, cada um deles com seu sexo, um é o macho (chamado de homem) e outro é a fêmea (chamada de mulher).

Em Biologia, essa condição é definida como espécie dioica, isto é, que possui dois tipos diferentes de seres. As espécies de minhocas são monoicas, porque apresentam um único tipo de ser que abriga naturalmente os dois genitais e assim possui os dois sexos. Esses seres que apresentam os dois genitais num único corpo são biologicamente denominados de hermafroditas. Desta maneira, as espécies de minhocas são hermafroditas e a espécie humana é unissexuada, isto é, possui os sexos separados.

Assim, as minhocas não necessitam criar um “absurdo sexual” para defender os interesses de suas espécies, até porque os indivíduos das diferentes espécies de minhocas devem ser, antes de qualquer coisa, necessariamente, “pró-minhocas”, já que não tem como existir conflito sexual entre eles, haja vista que apresentam os dois sexos no mesmo corpo. A espécie humana, ainda que ocasionalmente, está tentando criar uma situação “pró-mulher” dividindo a espécie humana, além de biologicamente, também sociologicamente, como se mulher e homem fossem espécies distintas. Ora, isso é um absurdo, pois homem e mulher são biologicamente indivíduos da mesma espécie, a qual, por ser dioica, apresenta seres morfologicamente distintos quanto ao sexo, como já foi dito. 

Alguns segmentos da espécie humana, diferentemente das minhocas, parece que não querem ser “pró-humanos”, porque esses segmentos estão, cada vez mais, tentando ser “pró-sexo feminino”. No passado era o sexo masculino (machismo – “pró-homem”) e agora é o sexo feminino (feminismo – “pró-mulher”). Ora, isso não faz nenhum sentido biológico e acaba sendo uma grande idiotice social. É claro que existe uma triste e lamentável verdade histórica, na qual a mulher foi muito prejudicada pela sociedade machista, mas isso não obriga a essa tentativa atual absurda que alguns têm pleiteado, de criar uma ruptura sociológica contundente da mulher com o homem. Até porque, isso certamente é muito ruim para a espécie humana como um todo.

Com certeza, nesse momento, muita gente já está me xingando e dizendo que estou dizendo essas coisas porque sou homem e ainda que certamente eu não conheço, ou não ligo para as dificuldades das mulheres. Mas, eu quero dizer que penso exatamente ao contrário desse padrão, pois sou extremamente ciente dos males e preconceitos que as mulheres sofreram e muitas ainda sofrem, ao longo da história humana e, como já afirmei no início desse texto, não concordo em absolutamente nada com isso. Entendo que a mulher, deve sim, se valorizar e se mostrar para a sociedade, que lamentavelmente ainda é machista em muitos casos, demonstrando sua importância para a espécie humana, tanto do ponto de vista biológico, como social.

Mas, por outro lado, eu também não acredito que abrindo oficial e declaradamente uma “guerra dos sexos” essa situação (questão) será resolvida. Isso, considerando que exista mesmo uma questão nesse contexto, porque talvez haja apenas rusgas de sentimentos e exageros comportamentais, que lamentavelmente aconteceram e ainda acontecem. Até porque, o fato da história ter dado privilégios ao homem ao longo do tempo, não significa que doravante qualquer indivíduo do sexo masculino deva ser punido ao nascer pelo simples fato de ter nascido homem. É certo que existem homens contrários às mulheres, mas isso não é uma regra atual. Aliás, acredito que nunca foi.  

Em sema, eu não acredito que haja necessidade de querer combater e exterminar os homens, até porque se isso acontecer a nossa espécie, que não consegue se reproduzir por nenhum dos mecanismos de Partenogênese*, acabará se extinguindo. Deste modo, acredito que se vangloriar apenas e tão somente, pelo fato de trabalhar para excluir os homens de determinadas situações não me parece ser correto. Aliás, parece ser algo inútil, além de desagradável, malévolo e muito ruim, que ainda soa mais como uma forma de tentar se vingar dos homens, do que efetiva e propriamente de valorizar as mulheres.

Não vale a pena lutar pela exclusividade feminina, o que vale a pena é demonstrar que a mulher pode fazer certas coisas, em certos momentos, muito melhor que os homens e vice-versa, apenas porque a nossa espécie é assim. Existem homens brilhantes e obviamente também existem mulheres brilhantes e nós não podemos nos esquecer disso e nem tentar impedir que as coisas continuem naturalmente sendo e acontecendo assim, porque essa é uma condição fundamental para a manutenção da espécie humana.

Por favor, pensem nisso e vamos tentar parar com esse negócio absurdo de querer excluir os homens e se vangloriar com isso. Lembrem-se que homens e mulheres são dois lados de uma mesma moeda, que é a espécie humana. Só manteremos a força e o valor dessa moeda se protegermos e preservarmos os direitos individuais de ambos. O melhor para a espécie humana é que o homem e a mulher sejam iguais em direitos e deveres e que esta isonomia passe a ser real e verdadeira em todas as situações. Espero, sinceramente, e sem nenhuma maldade, que minha mensagem aqui expressa seja avaliada e entendida. Somos seres humanos e não apenas homens e mulheres. Toda vez que um homem se vangloria de ser superior a uma mulher ou vice-versa, a espécie humana morre um pouco.

Estou certo de que o feminismo é bom e o antimachismo é melhor ainda para as mulheres, porém a tentativa de prevalência exclusiva de um sexo sobre o outro é um mal lamentável, terrível e perigoso, porque pode produzir o extermínio da nossa espécie muito mais rapidamente do que seria de se esperar pelas condições naturais. Acredito que, nessa questão de valorização da mulher, temos que pensar coletivamente como espécie humana e não como separadamente como indivíduos desse ou daquele sexo da espécie. Tomara que a mulher seja realmente mais valorizada, mas é preciso tomar cuidado para que essa valorização da mulher não implique, ainda que indiretamente, na exclusão do homem.  Somos uma só espécie. Pensem nisso.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

*Partenogênese é um tipo de reprodução assexuada presente em
inúmeras espécies de animais, na qual as fêmeas dessas espécies se reproduzem
por si sós, isto é, sem nenhuma participação efetiva dos machos, ou seja os
óvulos das fêmeas desenvolvem-se sem ter que ser fecundados pelos machos.
31 maio 2019
Bacia do Rio Paraíba do Sul

À CETESB, sobre a Bacia do Paraíba do Sul

Resumo: Apresento aqui a cópia do documento que apresentei, na condição de Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), durante a 375ª Reunião Ordinária (30/06/2019), solicitando que a CETESB fornecesse um relatório informando algumas questões referentes a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.  


Senhor Presidente e Senhores Conselheiros, eu sou morador da parte paulista do Vale do Paraíba e assim como cerca de 3 milhões de outras pessoas, em 184 municípios, de 3 estados brasileiros, vivo na dependência direta das águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Bacia esta, que abrange mais de 600 rios, riachos, ribeirões e córregos, além da calha maior, que é o próprio Rio Paraíba do Sul.

Mas, as águas dessa Bacia Hidrográfica, que talvez seja a mais importante do Brasil, não alimentam apenas a nossa população valeparaibana de seres humanos. Essas águas têm que alimentar também, além de todas as outras populações de organismos vivos, um imenso parque industrial e inúmeras propriedades agrícolas em toda sua área de abrangência.

Além disso, as águas do Rio Paraíba do Sul e sua Bacia, são ainda responsáveis por abastecer, nutrir e manter toda a área geográfica da “Região Metropolitana do Grande Rio de Janeiro”, que envolve a capital daquele estado e mais 17 municípios de seu entorno. Aliás, cabe aqui lembrar, que isso só é possível, por conta de uma transposição de águas realizada no início da década de 1950, numa grande obra de engenharia que transfere 2/3 de toda água do Rio Paraíba do Sul, para o Rio Piraí, o qual passou a correr em sentido inverso e teve suas águas represadas na Represa do Ribeirão das Lajes, na Serra das Araras, entre os municípios de Piraí e Paracambi.

A transposição acontece exatamente na Usina Elevatória de Santa Cecília, no município de Barra do Piraí/RJ. Sem essa transposição, toda “Região Metropolitana do Grande Rio de Janeiro”, que hoje engloba cerca de 13 milhões de pessoas, certamente não seria como é, não possuiria nem cerca de 20% da população que hoje possui. Eu, que nasci na cidade do Rio de Janeiro e outros milhares (milhões) de pessoas, que nascemos depois de concluída a transposição, possivelmente nem existiríamos, simplesmente porque não haveria água na região para manter a população e a infraestrutura, se não fosse o Rio Paraíba do Sul e a transposição de suas águas.

Por outro lado, é oportuno e necessário lembrar que, recentemente também começou a acontecer a transposição de águas do Rio Jaguari (Bacia do Paraíba do Sul) para o Rio Atibainha (Bacia do Rio Piracicaba), através de outra grande obra de engenharia, para o Sistema Cantareira, que abastece pouco mais de 50% da população da Região Metropolitana da Grande São Paulo, ou seja, cerca de 15 milhões de pessoas. Nossas águas que já iam para o Rio de Janeiro, agora vão também para São Paulo.

Assim, somando tudo, isto é, o Vale do Paraíba, o Grande Rio e a Grande São Paulo, temos uma população aproximada superior a 30 milhões de pessoas que dependem diretamente das águas do Rio Paraíba do Sul e de sua da Bacia Hidrográfica para viver e sobreviver no dia a dia, efetuando todas as funções e atividades nas quais a água é utilizada. Esses números me permitem afirmar, que a Bacia do Rio Paraíba do Sul, além de alimenta diretamente cerca de 15% de toda população brasileira e, embora pequena no tamanho, se comparada com outras de muito maior porte geográfico, parece ser a mais importante, do ponto de vista social, por conta do grande contingente populacional que suporta.

Mas, não fica só por aí, porque além de tudo isso, todos os estabelecimentos indústrias, comerciais, escolas, hospitais, propriedades agrícolas, centrais hidrelétricas e tudo mais que existe dentro dessa área de abrangência, também depende diretamente das águas da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul. Esses fatos também me permitem afirmar que a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul também é, dos pontos de vista ecológico e econômico, a mais importante do país, porque possui o maior parque industrial brasileiro e se situa entre os três maiores centros urbanos do país e abrange uma área que foi historicamente ocupada de maneira errada, além de ter sido progressivamente degradada em vários momentos, por várias situações distintas. Obviamente que uma área com tanta gente e com tanta coisa tem que apresentar inúmeros problemas ambientais, mas eu vou me ater apenas a questão da água.

Parece incrível, mais as outorgas de água para os diferentes usos e serviços não param de acontecer e de se ampliarem em quantidade e modalidade. Assim, produzindo mais trabalho, mais riqueza, as águas da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul são cada vez mais utilizadas, amplificando, em contra partida as populações e os problemas. Bom, eu quero crer que deva existir um nível máximo de resistência, uma capacidade de suporte da Bacia Hidrográfica, e penso que, se esse nível ainda não foi atingido, ele deve estar muito próximo do limite de saturação.

Se não bastasse tudo isso, ainda existem alguns projetos ilógicos e absurdos, além de algumas autorizações de uso totalmente equivocadas e mal esclarecidas sendo aprovadas. Por exemplo, a autorização para a instalação de Grandes Centrais Termelétricas, que demandam imensas quantidades de água e são extremamente poluidoras. As instalações de várias Pequenas Centrais Hidrelétricas, que perturbam a biodinâmica natural dos rios e das águas da bacia e que se forem colocadas numa balança de custo/benefício, embora tragam energia elétrica causam muito mais problemas ambientais e acabam não sendo vantajosas, ao menos para a região e para a população local, embora possam ser vantajosas para alguém, do ponto de vista econômico estrito.

Mas, existem inúmeros outros problemas, como o estabelecimento de vários Loteamentos Clandestinos e Empreendimentos Imobiliários em áreas de risco aos mananciais e nas margens dos rios, inclusive do próprio Rio Paraíba do Sul, em áreas de Preservação Permanente, numa afronta acintosa ao Código Florestal Brasileiro. E ainda existe o estabelecimento de Práticas Agrícolas questionáveis, principalmente aqui na parte paulista do Vale do Paraíba, onde a Monocultura do Eucalipto já supera 10% de toda área plantada na região. Junta-se a isso, a existência de mais de 300 Cavas localizadas nas margens e na várzea do Rio Paraíba do Sul para a Exploração de Areia. Essas cavas, depois da extração ficam abandonadas à sorte, como é a situação de mais 220 delas hoje, sem nenhuma utilidade ou talvez, apenas servindo como foco de animais vetores transmissores de doenças. Municípios com Jacareí, Caçapava (meu município) e Tremembé talvez sejam os piores exemplos desse descaso ambiental, moral e social.

Para terminar, ainda existe o uso indiscriminado de Agrotóxicos e toda a diversidade dos venenos eufemisticamente chamados de Defensivos Agrícolas e adubos químicos que são utilizados para garantir a sobrevivência das poucas culturas agrícolas locais que sobrevivem, como o arroz, a cana e obviamente o grande eucaliptal. É óbvio que também há necessidade de muito veneno para manter as pastagens para o gado da região, que outrora era de leite e servia a muitos, mas que hoje é principalmente de corte e serve apenas a alguns.

Enfim, baseado nessas e em inúmeras outras situações, que não citei para não cansar os senhores e não complicar muito o triste quadro da região, mas que acredito, sejam do conhecimento de todos aqui presentes é que venho solicitar que a CETESB, como órgão responsável pelo controle da qualidade ambiental do Estado de São Paulo, nos forneça um RELATÓRIO SOBRE A VERDADEIRA SITUAÇÃO DA QUALIDADE E DA QUANTIDADE DAS ÁGUAS DA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL NO TRECHO PAULISTA.

É sabido que os rios e córregos que cortam as cidades e que desaguam no Rio Paraíba do Sul, como são os casos do Turci, em Jacareí; do Vidoca e do Pararangaba, em São José dos Campos; do Manolito e dos Mudos, em Caçapava; do Una, em Taubaté; do Ribeirão dos Mottas, em Guaratinguetá; do Taboão, em Lorena; do Barreirinha, em Cruzeiro e tantos outros que estão totalmente poluídos e praticamente mortos, devido a imensa carga poluidora que recebem. Entretanto, não é de conhecimento da maioria da população local, o quanto isso compromete efetivamente na nossa água.

A população do Vale do Paraíba paulista está assustada com tanta “desinformação” sobre sua água. Damos nossa água, sim nossa água, nascida aqui no alto da Serra do Mar, no município de Areias, onde estão as nascentes do rio Paraitinga e mais à frente, no município de Cunha, onde está a nascente do Rio Paraibuna. Ambos correm junto pelo topo da Serra do Mar e no passado, se encontravam naturalmente no município de Paraibuna, formando o Rio Paraíba do Sul. Hoje não existe mais o encontro natural e ambos despejam suas águas no grande lago da represa de Paraibuna, que concentra mais de 62% de toda água da Bacia Hidrográfica.

Pois então, damos nossa água para tudo e para todos rio abaixo e agora também rio acima, fora de nossa Bacia Hidrográfica, mas não temos nenhuma informação a respeito dessa água e nem a devida compensação de quem a recebe usa, principalmente na Região do Grande Rio e agora na Região da Grande São Paulo. Na verdade, de fato, nós não sabemos direito de absolutamente nada do que se passa com nossa água e nem do risco que podemos estar correndo com seu fornecimento sem nenhum critério definido, com a falta de cuidados de sua manutenção e principalmente com o comprometimento de sua qualidade em consequência do excesso de poluição.

Como maridos traídos, ouvimos falar várias histórias de problemas que não sabemos se são e o quanto são verdadeiras. Essas histórias vão desde o desaparecimento da água da região por causa do assoreamento da calha dos rios, o que está impedindo sua navegação em vários trechos, passando pelo desmatamento da Mata Ciliar e da degradação das margens dos rios, em particular do próprio Rio Paraíba do Sul e indo até a grande contaminação química e envenenamento por conta dos agrotóxicos e também pela feminização dos machos de várias espécies de animais, inclusive da espécie humana, por conta do excesso de hormônios femininos e outros componentes químicos nas águas.

Contam também da presença, em grande quantidade, das chamadas “línguas negras”, que são facilmente vista e identificadas, porque algumas são quilométricas. Essas “línguas negras” são oriundas do excesso de esgoto das diferentes habitações humanas, que é lançado nas águas “in natura”. Para muitos as “línguas negras” seriam as principais áreas causadoras das mais diversas condições contaminantes que produzem inúmeras doenças na população. Enfim, são muitas as histórias que nos assustam e que precisam ser desmistificadas ou confirmadas a contento.

Assim, estou aqui, como morador da região do Vale do Paraíba, em nome da população que represento nesse egrégio Conselho, para solicitar que a CETESB nos informe basicamente o seguinte:

1 – Qual a verdadeira situação da contaminação, da poluição e da degradação química, Física e Biológica da Bacia do Rio Paraíba do Sul no trecho paulista do Vale do Paraíba?

2 – A Bacia do Rio Paraíba do Sul aguenta (resiste) à novas outorgas de água para novos empreendimentos, da maneira como ela já se encontra hoje?

Precisamos dessas respostas em prazo relativamente rápido para poder informar, acalmar e contar a verdadeira situação das águas da região para nossa população com respaldo efetivo do órgão competente na área, que é a CETESB. Só assim, poderemos divulgar informações reais na mídia regional e tentar acabar, minimizar ou mesmo confirmar algumas dessas histórias que circulam por aí. Somente desta maneira poderemos ter a verdadeira dimensão de nossos problemas e poderemos efetivamente pensar na definição dos rumos que deveremos tomar para começar a resolver as possíveis pendências.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA
Conselheiro Ambientalista – Vale do Paraíba

*Texto encaminhado à Secretaria de Infraestrutura e
Meio Ambiente, em 08/05/2019.
19 maio 2019
Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Resumo: O texto faz referências aos problemas ambientais planetários e propõe que as atividades desenvolvidas através de práticas sustentáveis e o efetivo investimento na educação ambiental das populações humanas sejam a base das mudanças que poderão proporcionar a recuperação da Terra a melhoria da qualidade de vida da humanidade.


INTROITO

“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de    sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Goethe

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt

Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.

Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.

INTRODUÇÃO

Para que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente descontrolada.

Historicamente a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para espécie humana.

É triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim.  Em suma, é preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.

Essas são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. É preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.

Considerando que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as mudanças necessárias. Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.

Não se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental como referências no comportamento humano.  

Não tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém sem praticamente nenhum resultado significativo.

Na verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado planetário.

Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa façanha.

Infelizmente, por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. Aliás, na verdade, contra um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?

Essa é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes.  Por outro lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o planeta.

VIDA E QUALIDADE DE VIDA

Vários autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma definição precisa. Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do universo.

A vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das atividades humanas.

Da mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi programada pelos processos naturais.

Assim, o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. Essa condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.

Vejam bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa. Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos. 

Alguns humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade. Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.

Hoje, existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não apenas humana.

CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO

Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.

Por outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas.

Também não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a espécie humana.

Se não houver controle populacional humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.

Outro problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.

Desta maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.

Pois é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!

A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO

Todas as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir sobre isso agora.

Como já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.

Isto é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material. Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso naturais.

Não fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.

A propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.

Fazer riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria das compras, além de mera ostentação.

Lamento, mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa direção.  

O mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da humanidade.

SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA

O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. O compromisso fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com o planeta.

A distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.

A Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.

Nós humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los. Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.

No mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na superfície da Terra.

EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)

Obviamente para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação ambiental, então que assim seja. Mas, eu tenho uma preocupação mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.

Temos que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia.

Atitudes antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos evolutivamente de outras espécies vivas.

A Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.

A chamada educação ambiental será também a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. A noção de Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.

A educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.

CONCLUSÕES

Por fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às diferentes populações humanas.

Esses mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições sociais.

A prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.

A educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana.     

O dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a humanidade.

É claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e justa.

É claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos.

Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)


*Artigo publicado no site http://www.ecodebate.com.br, Edição 3.142, 05 de fevereiro de 2019.*e Ambientalista (Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA).
08 maio 2019
EXISTE DIFERENÇA ENTRE FAZER E DIVULGAR CIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR?

Existe diferença entre fazer e divulgar ciência no ensino superiro?

Resumo: A exigência histórica imposta pelo MEC nas Avaliações das Instituições de Ensino Superior, quanto à necessidade de publicação de artigos científicos por parte do corpo docente dessas instituições.


Introdução

Hoje em dia, a questão que mais se discute nos meios acadêmicos é a produção de publicações do professor e mesmo quem nunca produziu absolutamente nenhuma linha de nada está às voltas com a mesma obrigação dos outros e agora também tem que produzir alguma coisa. Caramba! Esse negócio, está virando um negócio de fato e já tem gente até pagando para que outros produzam suas publicações. Mas, além das publicações, agora também são necessárias as citações das mesmas nas publicações de outros autores. Isto é, não adianta “apenas” escrever os artigos, também é necessário que alguém leia e cite (referencie) o artigo em questão.

Ora, se o pessoal, de uma maneira geral, já não gosta muito de escrever, imagina então que agora, pois depois de escreverem a contragosto, ainda terão que ser obrigatoriamente lidos e citados por outros autores. Enfim, na atualidade o que interessa são os números dos artigos produzidos e o número das citações desses artigos. Aliás, não sei e não consigo entender o porquê, porém mais recentemente as citações estão sendo consideradas muito mais importantes que os próprios artigos.

Essa história, além de estranha e engraçada, certamente também é bastante absurda, mas infelizmente o pessoal que realiza as avaliações dos professores nos meios acadêmicos está cada vez mais preocupado com essa questão, ao invés de se preocupar com a qualidade do Ensino Superior, que está cada vez pior. Nesse pequeno artigo, vou tentar discutir e, se possível, esclarecer ou complicar mais ainda, um pouco dessa história da necessidade quantitativa das publicações e citações.

Primeiramente eu quero manifestar alguns questionamentos que me angustiam, no que diz respeito a essa problemática: por que têm que existir as publicações dos professores do ensino superior? Qual o verdadeiro objetivo das publicações dos diferentes documentos produzidos pelos professores de ensino superior? As publicações são efetivamente os melhores qualificativos para avaliar os professores do ensino superior?

Bem, de qualquer maneira as publicações obviamente sempre existem e eu entendo que, por mais que se queira criar situações diferenciadas entre os diferentes tipos dessas publicações, elas podem ser resumidas fundamentalmente em três condições básicas com objetivos distintos.

 A primeira é produzir resultados das pesquisas científicas e isso geralmente é feito através de publicações em revistas científicas indexadas que identificam e quantificam as publicações. A segunda é produzir artigos de divulgação científica, procurando levar a informação às diferentes comunidades que interagem com os meios acadêmicos e também a população em geral que se interessa pela ciência, procurando promover, descomplicar e popularizar o conhecimento científico. A terceira é gerar relatórios técnicos e mesmo livros das atividades didático-pedagógicas que estão sobre as suas devidas afinidades e responsabilidades, demonstrando o conjunto dos trabalhos desenvolvidos e as consequências oriundas desses trabalhos. 

Qualquer outra situação adicional que se queira discutir, certamente poderá ser enquadrada numa dessas acima. Assim, vou discutir e apresentar meus argumentos, considerando essa três situações fundamentais.

Artigos (Trabalhos) Científicos

Os artigos ou trabalhos científicos são documentos produzidos a partir das conclusões totais ou parciais das pesquisas desenvolvidas pelos professores em suas respectivas áreas de atuação e linhas de pesquisa científicas. Obviamente, do ponto de vista quantitativo, deve ser esperado que o número de artigos com resultados de pesquisas científicas seja proporcionalmente menor, haja vista que a pesquisa requer maior tempo e trabalho para sua elaboração e assim, os resultados das pesquisas devem, a priori, ser menos frequentes.

Entretanto não é isso que sido visto nos últimos tempos. Atualmente é possível observar que tem pesquisador que produz dezenas de artigos científicos num único ano e orienta outras dezenas de alunos, os quais também produzem os seus trabalhos científicos, naquele mesmo ano. Assim, no fim do ano o professor em questão publica dezenas de artigos científicos. Ora, isso só pode ser uma grande inverdade ou uma mera brincadeira. Mas, o negócio é produzir e assim, o que importa são os números e não existe muita (nenhuma) preocupação com a qualidade ou mesmo com a possibilidade física e operacional da realização de todos esses trabalhos e das respectivas publicações em tão pouco tempo.

Os artigos científicos constituem o mecanismo pelo qual o cientista se comunica com a comunidade científica e deveria também se comunicar com a comunidade próxima, entretanto esses artigos dificilmente são entendidos e muito menos assimilados pela população em geral. A linguagem própria das diferentes áreas da ciência, o texto técnico, específico e pouco conhecido são fatores que dificultam o fácil entendimento dos artigos científicos pelo cidadão comum. Assim, na grande maioria das vezes, há necessidade de que alguém, outro autor ou outro veículo de comunicação, facilite as coisas e coloque o texto numa maneira mais palatável e inteligível.

Artigos de Divulgação Científica

Esses artigos são aqueles que se preocupam em informar ao público em geral sobre questões da ciência ou que propõem discutir sobre essas questões, tentando envolver as comunidades nos assuntos de interesse científico. A divulgação científica é uma forma de informação dos acontecimentos científico às comunidades. Sem a divulgação científica a sociedade, que em última análise é quem financia a ciência e o cientista, não seria informada sobre os acontecimentos científicos.

No que tange aos números, os artigos de divulgação devem ser quantitativamente mais numerosos, até porque eles diretamente não envolvem pesquisas, pois são apenas relatos menos técnicos das ideias contidas nos artigos científicos ou resultam da somatória do conhecimento acumulado pelo professor daquela área da ciência sobre um ou mais determinados assuntos.  Muitas vezes os artigos de divulgação acabam sendo mais importantes que os artigos científicos, porque são eles que levam a informação científica até as comunidades e assim acabam por popularizar o conhecimento científico, transformando-o em atividade cotidiana e comum. A divulgação científica não é menos importante do que a descoberta científica em si, porque sem divulgação a ciência se mantém acadêmica e não ingressa e nem caminha no seio da humanidade.

Aqui é bom que se seja dito que a pesquisa é feita pelo cientista, mas ela não pertence a ele, pois a pesquisa é uma atividade da sociedade e portanto quando um artigo é publicado, o seu autor, embora dono intelectual, não é mais o proprietário daquela informação, que passa a ser pública, isto é, de uso comum. A descoberta é do pesquisador, mas o conhecimento produzido é da humanidade. Pois então, o que, ou o como, ou ainda o quanto a comunidade próxima ou a humanidade como um todo se beneficiam de uma pesquisa e do novo conhecimento que a mesma traz é o que que deveria ser analisado numa avaliação e não quantos trabalhos ou quantas citações quem quer que seja teve.

O verdadeiro significado e a efetiva importância daquilo que o Professor (autor) produziu é que deveria estar sendo avaliado e não apenas a quantidade das publicações em si e quantas vezes essas teriam sido referenciadas por outros autores. Muitas vezes os resultados de uma ou mais pesquisas assemelhadas só conseguem ser entendidas pela sociedade e passam a adquirir capilaridade pelas comunidades quando apresentadas de uma maneira menos técnica e mais simplificada e isso só é possível com artigos de divulgação científica. O cientista, aquele que produz o trabalho científico ainda é um sujeito que está muito longe da sociedade, enquanto o divulgador científico, aquele que conta a história e que faz os relatos das descobertas é muito mais próximo e fala muito mais na linguagem que o cidadão comum pode compreender e absorver.

Relatórios Técnicos e Obras Científicas

Os relatórios técnicos são obras e textos produzidos em função de análise comparativa das diferentes atividades exercidas pelo professor ou da experiência e do acúmulo de informação sobre determinado assunto (área), que permite condensar a informação e produzir textos documentos abrangentes sobre as mais diversas situações.

Os documentos desse terceiro grupo estão relacionados as atividades desenvolvidas e assim estão diretamente ligados ao que é feito pelo professor na sua área específica e nas diferentes atividades operacionais que desenvolve em sua instituição de trabalho e obviamente isso varia, no que se refere ao tempo, a função, a capacidade e mesmo a vontade pessoal do professor em publicar. Isto é, em determinado momento podem existir muitos relatórios, muitas obras e informações, mas em outros momentos existem poucos e isso é o que menos deveria importar na hora da avaliação.

Mas, esses documentos também são produção do professor e precisam ser considerados com publicações, porque envolvem tempo, trabalho e principalmente eles são as provas efetivas das atividades desenvolvidas pelos diferentes professores, além de serem suas contribuições pessoais ao ensino superior e à educação como um todo. Ou será que ministrar aulas, desenvolver funções administrativas, promover eventos e participar de congressos e similares, fornecer entrevistas à imprensa, atender público interno e externo, orientar alunos em diferentes níveis, desenvolver ações comunitárias e outras inúmeras coisas são atividades menos importantes da função de professor universitário? 

Bem, eu acredito que depois dessa pequena síntese, deva ter ficado evidente que quem mais produz no ambiente universitário não é necessariamente quem mais publica, haja vista que a universidade tem inúmeras atividades e que cada professor está mais afeito e envolvido com algumas delas e assim não é possível que sejam avaliados exclusivamente pelas suas “publicações científicas”. As aspas aqui são propositais, porque também tem o fato de que muitas dessas pretensas publicações científicas não saem da mesmice, não têm nada de científicas e muitas vezes chegam às raias do ridículo.

De qualquer maneira, é preciso deixar evidente que existem outros aspectos a serem considerados e discutidos, como por exemplo, os seguintes: para quem são feitas as publicações científicas? Quem, de fato, lê as publicações e os artigos científicos? E por que as pessoas leem, se é que leem esses artigos?   

Analisando e Discutindo a Questão

Em geral um artigo científico só é lido e entendido por outro especialista da área de quem escreveu, ou mais raramente por um especialista de área próxima. Deste modo, a artigo científico é lido por pouquíssimas pessoas e em muitas situações um artigo científico não é lido efetivamente por quase ninguém. Eu vou tentar ser um pouco mais claro no que estou afirmando e no significado dessa afirmativa. Para cada assunto específico, dentro de uma determinada área de conhecimento, certamente não existe no mundo nem 1000 pessoas interessadas diretamente, isto é, leitores em potencial e obviamente nem todas essas 1000 pessoas lerão todos os artigos escritos.

Assim, eu efetivamente tenho muitas dúvidas se, apenas produzir e ler artigos científicos, mesmo de boa qualidade, seja uma forma correta e eficaz de avaliar o potencial de um professor ou de uma Instituição de Ensino Superior, pois geralmente os cientistas só leem exatamente sobre aquilo que eles escrevem e quantitativamente isso é insignificante. Além disso, devo dizer ainda que economicamente falando, muitas vezes essa publicação é muito cara e não compensa o trabalho envolvido e muito menos o custo operacional de sua realização. Sempre é bom lembrar que quem paga a pesquisa e consequentemente o cientista também é a sociedade e sendo assim, a sociedade tem que ser informada sobre o andamento daquilo que o cientista faz.

Por outro lado, a divulgação científica atinge certamente dezenas, centenas de milhares de pessoas e muitas vezes até milhões. Ora, então o que faz mais sentido? A publicação científica pura e técnica ou a publicação da divulgação científica adaptada à realidade de entendimento da população? Notem bem, eu não estou querendo desprestigiar a ciência e nem o cientista, mas estou chamando a atenção da realidade. Ou seja, estou querendo esclarecer que a publicação científica, efetivamente não é lida por quase ninguém e mesmo que fosse lida, talvez não pudesse ser entendida. Assim, certamente ela não atinge o interesse maior da própria ciência que é orientar e informar a sociedade e consequentemente melhorar a vida da humanidade.

É necessário que se diga que sem a divulgação científica o conhecimento científico não penetra e nem caminha no pensamento popular. Isto é, sem a divulgação científica a descoberta científica não existe de fato, embora ela já possa ter acontecido de fato e de direito a sua inserção na vida cotidiana das comunidades, porém torna-se difícil e em muitos casos, até mesmo impossível identificar o avanço (a melhoria) produzida. Derrubar crendices, por exemplo, é uma tarefa bastante difícil da divulgação científica e que só se torna possível com a popularização demorada e tardia de alguns fatos científicos

Por incrível que pareça, as publicações científicas só alcançam as pessoas, nos artigos de divulgação, nos livros e relatórios técnicos em que são apresentadas, porque é nesse momento que elas tem contato com a realidade cotidiana e a com a linguagem popular. Mas, é bom que se diga que quem faz essas “atividades secundárias” também são professores universitários e cujo valor é lamentavelmente considerado inferior. Eu até posso entender que exista menos brilho no divulgador do que no descobridor, mas não acho que haja importância menor. Até porque o autor da descoberta sempre será o autor da descoberta, independentemente de quem esteja falando dessa descoberta.

Entretanto, fazer a descoberta ser assumida pela comunidade é uma tarefa que muitas vezes o cientista (pesquisador) não consegue (não sabe) fazer e necessita de alguém que possa colaborar nesse sentido. Às vezes a imprensa comum consegue dar o recado, mas na maioria das vezes existe necessidade de artigos de divulgação científica para tentar esclarecer melhor o assunto, haja vista que os repórteres e jornalistas nem sempre (na maioria das vezes) são capazes de explicar certas questões científicas.

O cientista (pesquisador) aquele que faz (produz) ciência tem seu artigo citado em outros artigos científicos, enquanto o divulgador científico, o escritor e o administrador público acaba não tendo a mesma sorte e assim, o pesquisador que é lido por meia dúzia de pessoas tem inúmeras citações e é considerado importante, enquanto os outros que foram lidos por milhares de pessoas, simplesmente não pessoas que não existem nos processos de avaliação do ensino superior. Meus amigos isso, como eu já disse, é um grande absurdo e precisa ser revisto.

Se o MEC, a CAPES ou o CNPq não veem essa deformação do processo de avaliação, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm que ver e precisam trabalhar ativamente para acabar com esse absurdo, pelo menos nos seus espaços internos elas devem acabar com essa situação esdrúxula. Situação na qual o indivíduo (professor) que ninguém conhece, que ganha várias horas de pesquisa no salário para não fazer absolutamente nada, alegando fazer “pesquisas”, sendo sempre citado, apenas por si mesmo e pelos seus alunos e enquanto aquele outro indivíduo (também professor) que todos conhecem, que produz muito para a instituição e que não ganha nada além de suas aulas, apenas porque não faz e nem finge fazer as tais “pesquisas”.

Vou me usar como exemplo para demonstrar o que estou tentando dizer. Tenho alguns livros, vários trabalhos de extensão produzidos, inúmeros relatórios e centenas de artigos, muitos dos quais já foram lidos, consultados e referidos mais de 10 mil vezes, mais de 50 mil vezes, alguns até mais de 100 mil vezes e essas consultas simplesmente não aparentam ter nenhum valor. A propósito, eu não estou inventado números, existe registro contábil dessas informações nos locais onde elas estão publicadas. Mas, é como se esses registros, essas consultas e as leituras não existissem, porque não estão registradas nas chamadas revistas indexadas.

Ora bolas! O que importa é se alguém lê alguma coisa ou se o “Doutor Fulano de Tal”, lê e cita alguma coisa? Aliás, essa é outra questão que precisa ser discutida, está cheio de “Doutor” por aí, que não sabe absolutamente nada de nada, produzindo “ciência” e eu conheço vários desse tipo. Mas, deixemos isso para outro momento e voltemos ao assunto em baila.

Um pesquisador que foi lido por três pessoas e referenciado pelas mesmas três numa revista indexada, mesmo que essas três pessoas sejam ele mesmo e dois de seus alunos, tem uma consideração profissional maior do que aquele que foi lido por mais de 100 mil pessoas, num único artigo. Aqueles mais 100 mil leitores que, por exemplo, leram um de meus artigos, são idiotas que andam lendo bobagens, mas aqueles 3 que leram o “trabalho científico” são seres humanos superiores e mais esclarecidos, porque leram o trabalho do “Doutor Fulano de Tal”.

Caramba! Isso não faz absolutamente nenhum sentido e não traz nada de benéfico à ciência ou ao ensino superior, ao contrário cria monstros que, além de não saberem nada sobre coisa nenhuma, se acham superiores aos demais colegas de trabalho, os quais muitas vezes são infinitamente mais competentes do que esses infelizes senhores “pesquisadores”. Alguém precisa olhar esse negócio mais proximamente e com urgência, porque a coisa está ficando insuportável e quem está perdendo é o Brasil, a educação brasileira e o estudante de nível superior.

É sabido que o ensino superior se embasa em três aspectos fundamentais o ensino, a pesquisa e a extensão. A avaliação docente deve se pautar nessas três esferas e não deve priorizar esse ou aquele aspecto em relação as demais. A produção científica é apenas um aspecto, dentro de uma das três áreas e não pode ser considerada mais importante que as demais atividades. Cada aspecto tem que ser analisado no seu todo e não é possível que seja dado destaque para um determinado efeito na hora de avaliar o professor ou mesmo a instituição, principalmente no caso de IESs pequenas e particulares, onde as dificuldades são inúmeras e onde quem faz alguma coisa é porque gosta e porque sabe fazer aquilo, independentemente de quanto receba ou não para fazer tal coisa. Mas, o pior não é o fato de deixar de ganhar por aquilo que faz bem e sim saber que tem gente ganhando pelo que não faz ou faz mal e enganando a Instituição, o CNPq, a CAPES, aos alunos, a direção da instituição e a outros tantos envolvidos direta ou indiretamente no processo.

Quando será que as escolas de Ensino Superior no Brasil passarão a ser somente escolas, preocupadas com a melhoria da educação da população brasileira e com a formação de bons profissionais? Quando será que um Professor de Ensino Superior, seja ele quem for, passará a ser avaliado apenas pelo seu trabalho e sua competência como Profissional de Ensino Superior? Quando será que a pretensa produção científica de alguns deixará de ser uma mentira que interessa a grande parte dos envolvidos no Ensino Superior?

Considerações Finais

Infelizmente eu creio que não viverei para poder ver a resposta de quase nenhuma dessas questões, mas sugiro que o MEC e as IES comecem a trabalhar nesses assuntos e procurar tais respostas para melhorar o Ensino Superior do Brasil e acabar com essa disparidade absurda que só causa prejuízo ao ensino, a formação dos alunos e principalmente, que desqualifica cada vez mais o Ensino Superior do país.  O Brasil precisa de cientistas, mas a população precisa saber o que os cientistas andam fazendo e como estão fazendo as coisas e os cientistas não podem e nem devem ser as pessoas indicadas para falar diretamente com a população.

No que se refere a pesquisa científica é preciso esclarecer, de uma vez por todas, aos avaliadores do Ensino Superior que o Brasil necessita de pesquisa, de pesquisadores e de suas publicações, mas necessita principalmente que se divulgue essas pesquisas e que se popularize a ciência para que as comunidades possam compreender sua importância. Além disso deve ser lembrado que qualquer documento sério produzido por um professor deve ser considerado dentro de sua produção intelectual, pois isso faz parte do contexto do ensino superior.

Por outro lado, também é preciso ser entendido que nossa carência científica, antes de ser quantitativa é qualitativa e que a necessidade não é fazer muito, mas sim fazer bem. Não são os números que dirão se estamos no caminho certo, mas sim a qualidade do trabalho científico é que poderá nos levar a um patamar superior no cenário internacional. A mera consulta e consequente citação de um trabalho não credencia o trabalho em questão como algo muito importante e tampouco a não consulta e não citação de um trabalho deve ser necessariamente considerada como uma reprovação.

Por fim, é necessário ficar claro de uma vez por todas, que aquele professor que não é pesquisador não pode ser avaliado e entendido como sendo inferior aos colegas, apenas por não produzir ou não escrever artigos científicos em revistas indexadas, até porque sua tarefa, seja ela qual for, no ensino, na extensão ou mesmo na administração, certamente é um tarefa bastante relevante dentro do processo do ensino superior como um todo.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

26 abr 2019

Os “Pets” e a Legislação Brasileira

Segundo um trabalho publicado pelo IBGE, em 2014 e ainda segundo uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo e veiculada pela imprensa no final de 2016, o Brasil é o 4º país do mundo em número de animais de estimação, num total de 132,4 milhões, sendo o 2º maior em número de cães, gatos e aves canoras e ornamentais, o 9º em número de répteis e pequenos mamíferos e o 10º em número de peixes ornamentais. E a taxa de crescimento desses números prevista para 2015 era superior de 7,8%.

Isto é, se a coisa continuou como estava sendo esperada naquele momento da pesquisa, hoje (considerando o final de 2018 e um crescimento médio de 7% ao ano), o Brasil deve ter, pelo menos, 173 milhões de animais de estimação. Se aliados a isso, também incluirmos o rebanho agrícola de bovinos (218,2 milhões de cabeças em 2016), que cresce por volta de 1,5% ao ano e hoje deve estar na casa de 224 milhões. E se ainda somássemos os mais de 42 milhões de porcos e mais os quase 2 bilhões de galináceos, poderíamos dizer que realmente existe um contingente imenso de animais de estimação e de animais de interesse agropecuário no país.

Além disso, também devemos considerar que o Brasil é o maior país do mundo em Biodiversidade e que possivelmente nosso país possua a maior quantidade de animais do planeta. Bem, essa fauna nativa, pelo menos em tese e em certo sentido, está (ou deveria estar) protegida pela Legislação Ambiental Brasileira. Pois então, a fauna nativa, os animais silvestres, se não estão totalmente protegidos, pelo menos têm algumas leis que permitem a sua proteção na natureza. Meu Deus, existe uma quantidade incomensurável de animais nesse país e a meu ver todos eles deveriam ser tratados da mesma maneira, mas, como sabemos não é assim que acontece e os animais de estimação (Pets) acabam sendo os mais esquecidos pela legislação, porque não há quase nenhum tipo de controle legal sobre eles e seus respectivos “donos”.

Por outro lado, é preciso dizer que os Pets e os animais de interesse agropecuários, embora vivos, ainda são entendidos aqui no Brasil e em grande parte do mundo apenas como objetos ou coisas, ou, o que é pior ainda, como produtos ou mercadorias pertencentes a alguém. Esse alguém pode teoricamente ser qualquer pessoa física ou jurídica, mas muitas vezes não é ninguém, porque esse sujeito não existe juridicamente, haja vista que ninguém é obrigado a declarar que possui animais de estimação ou mesmo alguns animas de interesse agropecuário para fins de subsistência em casa e muito menos qual o número desses animais.

Em suma, nativos ou não, o Brasil tem muitos animais e precisa moralizar o tratamento a ser dado a todos eles, independentemente de ser endêmico ou criado artificialmente, porque, por questões óbvias, acredito que a responsabilidade do ser humano perante a fauna, salvo melhor juízo, deve ser a mesma. Quer dizer, não é possível imaginar que um gambá ou uma onça sejam mais importantes que um cachorro ou um gato doméstico, apenas por serem animais nativos. Em contrapartida, também não se deve achar que um cachorro ou um gato também possam ser mais importantes apenas porque têm “pedigree”, ou porque custaram mais caro ao “dono”. Animais são animais e não há melhor e nem pior. Animais são seres biológicos assim como nós e merecem ser tratados com isonomia e com todos os mesmos cuidados que temos com os demais humanos.

Então, alguns consideram que um animal de estimação é como uma camisa, um sapato ou pior ainda, como um sabonete, que o “dono” usa na sua casa e pode fazer o que quiser, pode até matar e ninguém ficará sabendo ou perguntará porque matou, pois o animal era seu e não há necessidade de justificar o que ele faz com suas coisas de pouco valor. Sim, isso mesmo, de pouco valor, porque as de grande valor, carros, casas e outros, precisam ter os seus diferentes caminhos justificados. Mas, os animais de estimação, infelizmente, são coisas insignificantes na legislação brasileira e assim, o “dono” pode fazer o que quiser com eles.

Isto é, como o animal é uma propriedade do “dono”, da mesma maneira que ele trata aquela camisa velha que ele resolveu transformar em pano de chão ou incinerar, ele também pode tratar os animais sob sua tutela. Ou então, como aquele sapato, que depois de anos de uso, não serviu mais e ele optou por jogar no lixo. Ou, pior ainda, como aquele sabonete que se gastou por conta do uso e simplesmente sumiu. Lamentavelmente, ninguém questiona sobre os animais, que desaparecem como sabonetes, mas isso é mais comum do que se pode imaginar. Ora, essas ações de descarte são simples e comuns, quando se trata de objetos, como os citados, porém os animais são entidades orgânicas, vivas, que sentem e sofrem como nós e não podem ser comparadas com simples produtos de uso pessoal de quem quer que seja.

É bom lembrar que, do ponto de vista biológico, nós também somos animais e que até mesmo algumas religiões, inclusive dentre as mais ortodoxas, consideram e respeitam os animais, quaisquer que sejam, como criaturas de Deus e desta forma, como entidades importantes, que têm direito à vida e que não devem sofrer. Penso que já está passando da hora de revermos a nossa posição de seres humanos (“animais civilizados e racionais”) e também passar a tratar todos animais como eles devem. Ou seja, como entidades vivas, semelhantes a nós.

Como bom exemplo sobre essa questão, quero lembrar que está tramitando no Congresso Nacional um projeto de Lei (PL 3670/2015), que visa mudar a forma de entender os animais juridicamente, como já acontece em alguns países. Você, ser humano responsável, que tem seu “Pet” ou não, mas que também acredita que os animais merecem, ao menos, um pouco mais de respeito, precisa estar atento a esse tipo de legislação e deve estar apoiando essa e outras iniciativas desse mesmo gênero, exigindo o tratamento devido que os animais merecem. Precisamos de leis que deixem de considerar os animais como coisas e favoreçam o tratamento dos animais como criaturas vivas e dotadas de sensibilidade, pois essas leis certamente serão importantes para todos nós e não apenas para os animais de estimação

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

14 abr 2019

Verdades e Mentiras a Respeito dos Escorpiões

Resumo: Algumas informações básicas e objetivas, tentando trazer a verdade sobre os possíveis problemas relacionados aos acidentes com escorpiões.


Os Escorpiões são animais representantes do Filo dos Artrópodes, da Classe dos Aracnídeos e da Subclasse dos Escorpionídeos. Esse tipo de animal é aparentemente bem conhecido das populações, sendo bastante temido pelas pessoas em geral, haja vista que possui uma glândula de veneno localizada no interior do último segmento de seu abdome, que se comunica com o exterior através de um aguilhão (ferrão), por onde o animal pode inocular a toxina (veneno) que produz. Os Escorpiões se utilizam desse mecanismo de inoculação de veneno fundamentalmente para duas situações: matar suas presas e se defender de seus possíveis agressores (inimigos).

Existem cerca de 1600 espécies de escorpiões descritas no mundo, cerca de 200 dessas espécies de escorpiões são encontradas no Brasil, mas apenas 10 dessas espécies brasileiras são consideradas perigosas para o homem. Isto é, a toxina (veneno) da maioria dos escorpiões brasileiros não causa nenhum risco ou dano aos seres humanos. Entretanto, existem algumas que podem realmente produzir problemas sérios.

Aqui na região são encontradas duas dessas espécies consideradas perigosas: Tytius serrulatus, a mais comum e conhecida como “escorpião amarelo” e Tytius bahiensis, conhecido como “escorpião preto”, mas isso tem pouco significado, porque praticamente todas as espécies de escorpiões brasileiros são de coloração principalmente amarela ou preta. Para identificar a espécie Tytius serrulatus, talvez fosse mais interessante observar a serrilha característica no dorso desses animais e para identificar Tytius bahiensis, talvez fosse melhor observar que embora seu dorso seja negro, suas patas são amarelas e seu palpo (o apêndice maior da parte anterior do escorpião) tem manchas pretas na parte terminal, antes de suas quelas (pinças ou garras).

As populações desses animais têm crescido, em função direta do crescimento das áreas urbanas e consequentemente o número de casos de envenamento produzidos pelas picadas em humanos e em animais domésticos também. Hoje, o número de acidentes registrados com escorpiões já superou o número de acidentes ocorridos com as cobras, aqui no Brasil, o que tem tornado os escorpiões em mais uma questão de saúde pública. 

É bom lembrar que os escorpiões existem a cerca de 400 milhões de anos, isto é, muito antes de qualquer ser humano e que, ao contrário do que andam dizendo, não está havendo uma invasão de escorpiões, porque eles já viviam aqui muito antes de nós e certamente eles vão continuar vivendo, independentemente da nossa vontade. O que precisamos é conhecer um pouco melhor o hábito de vida desses animais, tentar evitar o contato direto com eles e controlar o crescimento acentuado de suas populações e ainda, dentro do possível, aprender a conviver com eles evitando que os acidentes possam acontecer.

Pois então, em consequência desses vários aspectos, como foi dito acima, os acidentes com escorpiões se transformaram progressiva e assustadoramente em casos cada vez mais sérios de saúde pública. Entretanto, é preciso que se esclareçam algumas coisas, porque ainda existe muita lenda, muita inverdade sobre os riscos de acidentes produzidos por esses animais. Na realidade, os maiores problemas resultam da desinformação das populações e das inúmeras crendices que existem sobre o perigo relacionado aos escorpiões. Por conta disso, resolvi fazer está pequena explicação para elucidar algumas dessas inverdades que lamentavelmente, ao invés de serem esquecidas, acabam sendo intensificadas pela mídia e reforçadas pelas próprias autoridades. Infelizmente, a ignorância e o desconhecimento são as principais causas dos problemas, no que se refere aos escorpiões.

Eis aqui algumas perguntas e respostas que eu reputo como esclarecedoras sobre as principais questões relacionadas aos escorpiões.

1 – Picada de escorpião mata?

Se o indivíduo tomar uma única picada, na imensa maioria das vezes não. Registros de mortes por conta de picadas de escorpiões são extremamente raros, em torno de 1% dos casos, e geralmente estão associados a outros aspectos. Isto é, além da picada o indivíduo atingido, deve apresentar outros problemas, como alergia, problemas renais, subnutrição, problemas neurológicos. Talvez a toxina do escorpião possa agravar o quadro e assim conduzir ao óbito, mas ela não é a causa única que gera o óbito. Porém, se o indivíduo tomar várias picadas ao mesmo tempo, assumindo grande quantidade de veneno, obviamente a ação da toxina será ampliada e assim a chance de óbito certamente também será magnificada. Entretanto, se a possibilidade do indivíduo tomar uma picada já é muito rara, então a probabilidade dele tomar mais de uma picada e quase desprezível.

2 – Picada de escorpião dói?

Sim, dói e dói muito, o local pode ficar acentuadamente vermelho, pode até necrosar, pode produzir dor de cabeça, vômitos, queda da pressão e trazer inúmeras outras complicações momentâneas. Entretanto, normalmente não vai além disso, porque existe o soro antiescorpiônico que age como antídoto contra o efeito da toxina (veneno) e num espaço de tempo relativamente curto, acaba inibindo seus efeitos. Sendo assim, se o indivíduo for picado, basta correr ao centro médico (hospital ou posto de saúde) e tomar o soro, que gradativamente tudo voltará ao normal.

3 – Qual o verdadeiro perigo com os escorpiões?

O perigo real é que, como os escorpiões brasileiros são animais relativamente pequenos, pois raramente ultrapassam 6 centímetros e os maiores não passam de 7 centímetros, eles têm grande facilidade de se esconder de nossa vista. Espécies de “escorpiões gigantes”, com cerca de 20 centímetros de comprimento, não existem aqui no Brasil. Sendo pequenos, os animais entram facilmente, sem serem vistos, dentro dos sapatos e botas, dos bolsos e das bolsas, das caixas de joias e bijuterias, das caixas de remédio, enfim de várias coisas comuns nas nossas casas. Desta maneira, eles acabam não sendo vistos e as pessoas, ocasionalmente, acabam acidentalmente pisando, apertando ou mesmo pegando esses animais, que se sentem agredidos e eles se defendem através das picadas.

Podem estar certos, que não existe nenhum escorpião pretensamente “mal intencionado” e que deliberadamente programe atacar o ser humano, pois logicamente ele não vai querer gastar seu rico veneno, numa coisa tão grande como o ser humano, da qual ele não poderá se utilizar como alimento. É lenda essa história de dizer que o escorpião atacou alguém, que não seja uma presa sua. Na verdade o ser humano é quem ocasionalmente ataca o escorpião, quando vai dar um tapa no escorpião ou quando vai calçar o sapato que tem um escorpião dentro e assim acaba recebendo uma picada ao tocar ou pisar no animal.

Outra coisa que precisa ser dita e tornada óbvia a todos é que, se nós excluirmos os bebês e alguns idosos com problemas motores crônicos, todos os demais seres humanos são capazes de dar uma chinelada num escorpião, da mesma maneira como se costuma fazer com as baratas. Pois então, depois da chinelada, assim como acontece com a barata, certamente o escorpião estará morto. Quer dizer, também não faz muito sentido, apesar do escorpião ser um animal perigoso, que o ser humano tenha esse medo estarrecedor do animal, haja vista que uma simples chinelada pode acabar com qualquer escorpião. Na verdade, falta apenas bom senso, desmistificação do escorpião e orientação da população.

O escorpião é perigoso sim, mas ele é um animal como outro qualquer e infinitamente menor que o ser humano. Vou continuar usando a barata como exemplo. Se você é capaz de matar a barata, certamente você é capaz de matar o escorpião e por mais escorpiões que existam, certamente o número de baratas é muito maior. Isto quer dizer que, se você consegue controlar as baratas com as chineladas, obviamente você conseguirá controlar os escorpiões também. O problema é que você não tem medo da barata, mas tem medo do escorpião, porque colocaram na sua cabeça, uma grande quantidade de crendices e inverdades sobre os escorpiões. O que precisa acontecer é a desmistificação do escorpião.

As pessoas precisam entender que escorpiões são animais perigosos, mas que os acidentes com esses animais são acidentes e assim são, antes de tudo, raros e facilmente evitáveis. Basta que se tenha o cuidado necessário no possível encontro desses animais. Na verdade, precisamos apenas mudar alguns dos nossos hábitos para diminuir significativamente o número de casos de picadas de escorpiões. Antes de vestir sua roupa, antes de calçar o seu sapato ou antes de mexer na sua caixa de joias, observe se há escorpiões. Se não encontrar o animal, tudo bem e se encontrar é só matar ou espantar o animal. Lembre-se que ele é apenas um pequeno animal invertebrado, que pesa algumas gramas e que você é um grande vertebrado que costuma pesar mais de 60 Quilogramas em média e que ele, a princípio, não tem nenhum interesse em gastar seu rico veneno em você, haja vista que o veneno “custa caro” e leva tempo para ser metabolizado (fabricado) pelo escorpião. O escorpião é apenas um animal verdadeiro e real, ele não possui superpoderes.

4 – A galinha é um predador natural dos escorpiões?

Não, até porque na natureza uma galinha e um escorpião provavelmente nunca se encontrariam se o homem não tivesse produzido esse encontro, mas uma galinha até pode comer alguns escorpiões, se conseguir encontra-los. Mas que fique claro, a chance da galinha encontrar um escorpião é menor do que a de você encontrar. É lenda essa história de que galinha é um inimigo natural e um predador do escorpião, até porque, além de tudo, a galinha tem hábito diurno e escorpião tem hábito noturno e assim dificilmente eles se encontram. Em certo sentido, as lagartixas talvez sejam mais eficientes que as galinhas no combate aos escorpiões. Sendo assim, não mate as lagartixas, pois isso já minimizará as possibilidades de aparecerem escorpiões na sua casa.

5 – O que se deve fazer para não ter mais escorpiões nas casas?

As pessoas devem manter a casa limpa e higienizada, sem restos de comida, restos de construção civil, sem lixo acumulado em geral e, principalmente, sem pequenos lugares quentes e úmidos que possam abrigar escorpiões, como por exemplo, aquela meia usada que está jogada num canto do quarto desde a semana passada. Você não deve favorecer à produção de ambientes interessantes aos escorpiões e nem as baratas, porque os escorpiões vêm atrás delas. As baratas são os alimentos preferidos dos escorpiões e assim, onde tem barata deve ter escorpião. Mas, os escorpiões também podem comer outros artrópodes, como insetos, aranhas e mesmo outros escorpiões. É claro que a dedetização das casas, ainda que não resolva totalmente o problema, também minimiza a possibilidade do aparecimento de escorpiões.

6 – Devo acreditar nas informações oriundas de vídeos da INTERNET?

Na grande maioria das vezes não, pois muitas são mentirosas e outras são totalmente equivocadas. Agora vou esclarecer um detalhe técnico que a maioria das pessoas não conhece. Existem vários grupos de artrópodes aracnídeos cujos animais são parecidos (têm a mesma forma corpórea básica) dos escorpiões. Por exemplo, recentemente andou circulando um vídeo em que um sujeito apresentava uma grande quantidade de escorpiões no interior de uma caixa de ovos. Pois então, aqueles animais não são escorpiões e sim pseudoescorpiões.

Os Pseudoescorpiões sãos um grupo de Aracnídeos que tem uma forma semelhante aos escorpiões, mas que não possuem o aguilhão na parte final do abdome. Desta forma, eles são totalmente inofensivos, pois não possuem e não inoculam nenhuma toxina (veneno). Cuidado, com as informações da INTERNET, até porque além de muita maldade proposital, existe também muito desconhecimento. Quando você tiver dúvida sobre algo, procure alguém que conheça daquele assunto e possa explicar algum detalhe mais claramente. Desconhecer alguma coisa é normal, o que não deveria ser normal é fazer afirmativas sobre aquilo que não se sabe, por isso pergunte a quem entende.

Bom, penso que, depois desse pequeno texto, tenha sido possível esclarecer algumas dúvidas, mas certamente devem ter sido criadas outras. Por favor, não tenham vergonha e sintam-se à vontade para perguntar e desde já podem ter certeza que, aquilo que eu também não souber responder, vou simplesmente dizer não sei ou irei procurar com algum especialista no assunto. Aliás, esse é outro problema comum, que só aumenta a nossa ignorância. A pessoa tem medo de dizer que não sabe alguma coisa e aí ela inventa uma resposta e aquela pessoa que recebeu a informação acredita e passa a resposta inventada para outra pessoa e assim por diante. De repente, uma coisa errada (mentira) é repetida inúmeras vezes e acaba virando certa (verdade). Também é preciso acabar com isso, porque essa situação só aumenta a nossa ignorância. Como eu disse no início, a ignorância e o desconhecimento sobre a nossa fauna estão entre os piores de todos os problemas que nós brasileiros temos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (62)

04 abr 2019
A Escola na Sociedade atual e futura

A Escola na Sociedade atual e futura

Resumo: Resolvi escrever apresentando minha opinião a respeito daquilo que imagino que a escola deve ser como principal entidade social e as expectativas futuras que podem decorrer desse pensamento.


INTRODUÇÃO

Considerando a minha modesta condição de professor e livre pensador, resolvi escrever um pouco sobre a humilde opinião que tenho de como acredito deva ser a escola (qualquer instituição de ensino) como entidade social e que expectativas eu imagino possam decorrer da influência que essa escola é capaz de produzir na sociedade atual e o que isso pode representar, de fato, em melhorias efetivas para toda a humanidade no futuro próximo.

Para começar, quero dizer que considero a escola como sendo a mais importante instituição da sociedade e por mais óbvio que possa parecer, creio que seja fundamental essa afirmação até para justificar, desde já, algumas questões que vou discutir ao longo desse texto. Entendo que a escola é a única instituição social capaz de mudar as pessoas, entretanto também entendo que é chegado o momento em que essa instituição precisa reavaliar o seu compromisso social para poder continuar cumprindo esse mesmo compromisso.

A escola, embora tenha toda a relevância que já destaquei acima, não deve e nem pode estar fechada em si mesma por alguns motivos. Primeiramente porque é uma instituição social e assim necessariamente ela se relaciona e trabalha com pessoas e toda a sorte de atributos que essas pessoas podem ter e que podem demonstrar, ou não, a cada momento. Em segundo lugar porque a escola é uma instituição de ensino e como tal precisa ter uma definição clara de por que ensina, do que ensina, como ensina e a quem ensina. Isto é, a escola necessita ter um processo pedagógico que demonstre claramente quais são os seus princípios, que indique objetivamente suas pretensões e que determine efetivamente suas obrigações. Em terceiro lugar porque a escola é uma instituição que identifica, gera, concentra e divulga saberes e culturas e, por isso mesmo deve estar implicada numa dimensão histórica dentro da comunidade próxima em que está inserida, mas sem se afastar (sem deixar de lado) a realidade humana, num contexto social maior de toda a sociedade planetária, isto é, das questões próprias da humanidade e de todas as suas dimensões sociais ou não.

Assim, acredito que a escola não pode se afastar do tempo e como o tempo atual é de mudanças profundas em toda sociedade, entendo que a escola também precisa se adequar às novas necessidades imperantes. A humanidade precisa continuar sua história planetária e a escola é deverá ser a entidade destacada que permitirá a perpetuação desse fato, independentemente das possíveis rupturas e efeitos colaterais. Entretanto para que isso ocorra serão necessários alguns ajustes, porque os tempos mudam e a escola, desde que foi inventada, até aqui infelizmente não mudou. Já está passando da hora de efetuar as mudanças que se fazem tão necessárias.   

A IDENTIDADE DA ESCOLA

Considerando os aspectos básicos e fundamentais destacados na introdução acima para idealizar a escola é possível generalizar, dizendo que a escola é uma instituição que tem caráter social, cognitivo, cultural, histórico, político e comunitário. Assim, a mescla desses caracteres é que forma, de fato, a instituição social denominada de escola e essa instituição não deve e nem pode se sentir ou agir com tendências maiores ou menores nesse ou naquele caráter. Pois então, essa é a grande dificuldade da escola, pois ela tem que se fazer parte integrante de tudo, sem poder, de fato, tomar parte direta de nada.

Essa é uma condição muito complicada e difícil de ser assumida e desenvolvida da maneira devida e correta, porque certamente existem sobreposições entre os aspectos e principalmente, porque quem faz as escolas são pessoas e naturalmente as pessoas (seres humanos e sociais) não conseguem “controlar” (conter) seus instintos e impulsos, criando situações conflitantes. Muitas vezes, as pessoas, nem ao menos, tentam ou conseguem tentar balizar exatamente as dimensões (caracteres) do processo pedagógico fundamental na escolarização a que a escola deveria se propor como entidade social. Possivelmente, talvez, seja por isso que não existe possibilidade de encontrarmos duas escolas iguais. A identidade da escola é um caráter próprio, individual e exclusivo, que a própria escola desenvolve e conquista ao longo de sua história.

Por mais próximas e parecidas que as escolas possam ser, elas sempre são diferentes.  Existem inúmeros aspectos que garantem esse fato e me permitem fazer essa afirmativa, mas eles podem ser grupados genericamente em dois grupos fundamentais. O primeiro deles está centrado na questão didático-pedagógica da escola, que relaciona-se com o currículo disciplinar e o segundo está relacionado com as raízes culturais, históricas e políticas da comunidade local. Entretanto, volto a dizer, ainda que se imagine escolas vizinhas, com a mesma estrutura curricular básica e com a mesma comunidade histórica, sobre a mesma influência cultural e política, ambas certamente serão diferentes, porque serão compostas por pessoas distintas. Volto a afirmar, não existem duas escolas iguais.

Da forma como tratamos e entendemos a instituição escola até hoje, é impossível pensar na existência de uma escola sem uma proposta curricular, sem um elenco de disciplinas didático-pedagógicas, sem um conteúdo programático, sem um corpo docente e logicamente sem um corpo discente. Mas, por outro lado, também é impossível pensar uma escola sem a cultura do entorno e sem o envolvimento sócio regional de sua localização ou, pelo menos, de sua “população mais característica”. Aliás, essa questão da “população mais característica” também é bastante complexa, por isso constitui-se em algo que precisarei me aprofundar um pouco mais, para depois continuar e discutir a questão curricular.

OS AGENTES SOCIAIS E A “POPULAÇÃO MAIS CARACTERÍSTICA” DA ESCOLA

Numa escola existem pessoas de todos os tipos e em todos os níveis: alunos, professores, funcionários, pais de alunos, e outros visitantes informais menos comuns, porém presentes e constantes no ambiente escolar, como por exemplo, o supervisor de ensino ou o entregador de refrigerante da cantina. Toda essa população faz parte da “comunidade intraescolar”, porque de uma forma ou de outra, eles acabam estando sempre dentro da escola. Entretanto, também existem os “vizinhos” da escola, que por um motivo ou por outro, têm alguma relação com ela, que são o restante da população da rua ou do bairro, os quais também interferem ou são interferidos pela presença da escola naquele local, por exemplo o menino que vai pegar a bola que caiu dentro da escola ou o vidraceiro que foi arrumar o vidro da janela quebrada. Esse pessoal, que não é frequente, mas que existe e participa do espaço escolar, consiste na “comunidade extraescolar”.

Quer dizer, a comunidade da escola se compõe de pessoas que se apresentam em dois segmentos distintos: pessoas efetivamente de dentro da escola, ou melhor, envolvidas diretamente na escola (“comunidade intraescolar”) e pessoas ocasionalmente envolvidas na escola (“comunidade extraescolar”). Todas essas pessoas constituem os chamados “stakeholders” (Freeman, 1984) da comunidade da escola. A escola apesar de seu objetivo maior de educar e ensinar, possui no seu corpo de “stakeholders” inúmeras pessoas que nada têm a ver com a educação.

Pois então, essas pessoas são de raças, sexos e cores diferentes, têm hábitos e costumes diferentes, têm crenças distintas, têm ligações ou interesses políticos diversificados, torcem para diversos times de futebol, gostam de assuntos variados, têm quase que um contingente infinito de inúmeras outras atividades diversas que poderiam ser consideradas aqui. Pois então, como traçar um modelo de “população mais característica” (principal), sem comprometer os interesses das demais pessoas envolvidas? Bem, essa é uma situação própria das escolas, que elas intencionalmente ou não, progressivamente buscam resolver, através das políticas que estabelecem ao longo do tempo. Parece incrível, mas, quase sem perceber, as escolas vão se adequando gradativamente a essa sua “população mais característica”.

É exata e precisamente isso que faz com que escolas próximas possam ser extremamente diferentes. Embora essas escolas muitas vezes até estejam inseridas, por exemplo, numa mesma comunidade de um determinado bairro, essas escolas, ainda assim, se constituem através de públicos alvos principais e perspectivas sociais, históricas e culturais diversificadas, porque seus problemas são diferentes, haja vista que os “stakeholders” que as compõem são pessoas distintas. Mais uma vez, parece incrível, mas são as pessoas que mais causam, quantificam, dimensionam ou imaginam os problemas que dificultam o funcionamento das escolas e assim, são as pessoas da comunidade da escola, que tornam as escolas mais diversas e também muito mais complicadas. O pior e mais triste de tudo é que, a grande maioria dessas pessoas não têm, ao menos diretamente, nada a ver com a função educacional da escola, entretanto elas estão aí causando situações que interferem na engrenagem escolar.

OS CURRÍCULOS E CONTEÚDOS DISCIPLINARES

Existe uma preocupação natural quanto a faixa etária do cliente da escola, o aluno, e a informação a ser “passada para” (discutida com) ele. É evidente que não se pode dizer qualquer coisa para qualquer um em qualquer momento, principalmente quando se fala com jovens estudantes. Aliás, acredito que os meus colegas, professores de Biologia, possam explicar melhor sobre esse aspecto aos leitores mais interessados, porque não vou discutir sobre isso, pois perderemos muito tempo e texto com detalhes que não cabem nesse momento. Mas quero crer que a grande maioria dos leitores, de alguma maneira, tenham a devida dimensão da relação da idade com o grau de informação a ser informada (ministrada) ao aluno.

Por conta dessa questão: idade X grau de informação, lá trás, nos tempos idos, alguém “inventou” um negócio chamado currículo escolar e, o que é pior, estabeleceu regras para que esse currículo fosse ensinado (passado, informado, ministrado ou introduzido) para os alunos. Pois então, currículo escolar e regras de como ministra-lo são realmente duas grandes bobagens que precisam deixar de existir, pelo menos da maneira como são estabelecidos, para o bem da educação.

É evidente que muita gente não vai gostar dessa minha afirmativa, por vários aspectos, mas a mim só está preocupando aqueles que poderão perder o emprego por causa disso, porque infelizmente tem gente entendida e “especializada” em fazer apenas e tão somente isso. Essas são pessoas, que não me conhecem e que já não irão gostar de mim, mesmo sem me conhecer e certamente ficarão deveras assustadas se lerem o que acabo de escrever. Mas, infelizmente essa é uma grande verdade e precisa ser enfrentada para o bem da educação e da escola.

A propósito, passei inúmeras vezes por essa situação em minha vida, pelo simples fato de que: “costumo falar a verdade e o que penso sobre as coisas e isso incomoda a muita gente”.  Quero dizer as pessoas que podem ter ficado assustadas com minha afirmação que não se preocupem, pois basta apenas aprender, trabalhar e ser competente. Por outro lado, cabe ressaltar que: “competência não se mede pelo exercício de apenas uma função definida, mas sim pela capacidade de assumir corretamente múltiplas funções.” Isto é, se essas pessoas forem competentes, certamente elas não perderão seus empregos, porque conseguiram exercer outras funções. Aliás, essa noção de competência deve ser um dos atributos da escola abrigada pelo currículo escolar. Mas, vamos voltar ao assunto.

Nessas alturas, alguém já deve estar dizendo: “esse sujeito é (ou está ficando) maluco”. Como vai ser a escola? O que vamos ensinar se não houver currículo pedagógico e se não houver critério disciplinar rígido estabelecido? Como vamos ensinar? Meu Deus! A escola vai virar um pandemônio.

Pois é, meus amigos, eu estou muito ciente do que estou falando e não vai acontecer nada de anormal na instituição escola. Vou tentar explicar melhor, para todos aqueles que quiserem e que se derem o direito de tentar entender. Aqueles que não quiserem entender podem parar por aqui e desistir da leitura, porque minha loucura está apenas no início.

O programa da disciplina certamente existirá, mas terá apenas temas gerais a serem discutidos e o conteúdo específico será definido dia a dia, aula a aula, de acordo com o interesse dos alunos sobre aquele tema. Podem ter certeza, sempre (sempre mesmo) haverá alguém querendo saber algo sobre alguma coisa e a partir desse algo e da criação do professor, obviamente a discussão se faz, o assunto cresce e os conceitos aparecem. Desta forma o currículo se faz e a disciplina (matéria) é de alguma forma aprendida. O professor exige um relatório ou faz algumas perguntas sobre o assunto e o conteúdo programático está estabelecido. Mais uma vez, a propósito, antes que alguém diga que isso é impossível, eu posso afirmar que não é, porque já fiz essa experiência algumas vezes e podem acreditar: isso funciona, dá muito certo. Aliás, o único risco que se corre, é que muitas vezes o tempo da aula não é suficiente para suprir as discussões, sendo necessário continua-las em outra ou outras aulas. Por outro lado, devo ressaltar que o aproveitamento é ótimo.

O professor não tem que estar preocupado em cumprir um programa, ele apenas apresenta um tema e o programa se faz, a partir das opiniões, das questões, das discussões e do interesse direto e imediato dos alunos, os clientes, aqueles que precisam estar satisfeitos com o produto. As questões são tiradas das próprias interlocuções e os conceitos são aplicados para que se esclareçam sobre os termos. Parece incrível, mas é real. Eu já fiz e volto a dizer, o resultado é fantástico, isto é, o aproveitamento (aprendizado) dos alunos é muito maior, porque o aluno é o agente (protagonista) da história tratada e assim, ele aproveita, guarda e aprende muito mais. Colegas professores, por favor, duvidem do que eu digo e façam o teste vocês mesmos.

Agora, tem um outro lado complicado e mais uma vez, alguém vai perder ou alguém vai ganhar um novo emprego. Aquela discussão inócua em nível, às vezes nacional, de qual deve ser o currículo para o Ensino Médio, como se está vivenciando nesse momento, passa a não ser mais tão importante, porque a partir dos temas básicos e do interesse local da comunidade da escola e da população mais característica, a discussão se estabelecerá, sempre dentro dos valores e principalmente dos problemas próximos, condizentes com a contextualização que se faz necessária. Essa metodologia implica em abandonar a escola fictícia, inventada por alguém e partir para o trabalho na escola real, que acontece no cotidiano daquela comunidade.

Volto a afirmar: eu sei que isso funciona, porque eu já experimentei. Entretanto, precisa ser tentado por quem não acredita. Já disse que fiz essa experiência várias vezes e deu muito certo. Infelizmente alguns ainda vão preferir dizer que, na verdade, eu sou um preguiçoso que andei enrolando meus alunos e cabulando aula. Mas, por favor, senhores professores, façam essa experiência também.

Infelizmente, estamos presos a uma legislação e a algumas obrigações idiotizantes que não nos permitem fazer isso sempre, porque temos que cumprir os programas, os prazos estabelecidos e outras “bobagens burocráticas” em de cada bimestre do ano letivo com suas 200 horas obrigatórias de atividades. Vejam bem, eu disse “bobagens burocráticas” porque isso não tem efetivamente nada a ver com a escola ou com a educação. Isso é uma arbitrariedade imposta por alguém, dentro do sistema, e não tem valor pedagógico absolutamente nenhum. 

Aliás, em 1991, o ministro da educação era uma sujeito que o Presidente Collor inventou, Carlos Chiarelli, e que achou que ia acabar com todos os problemas da educação, quando ampliou o número de dias letivos de 180 para 200. Naquela oportunidade, eu publiquei um artigo (LIMA,1991), no Boletim da Universidade de Taubaté, onde chamava a atenção para o fato de que não são 180 ou 200 dias letivos que fazem a diferença e muito menos a melhora da educação, mas sim a postura do aluno, do professor, da escola e do ministro. Isso faz 27 anos e como eu disse, naquela época, até aqui nada mudou, além dos 20 dias a mais. Naquela época se discutiu sobre os números de dias do ano letivo, mas não tratou efetivamente de educação e hoje nem os números de dias letivos são mais discutidos.

Mas, eu quero dar mais um exemplo, na minha área (Biologia), daquilo que estou chamando de “bobagens burocráticas”, para que meus colegas possam entender melhor. De acordo com o programa o professor está ministrando uma aula sobre Biologia Celular e tratando de questões energéticas celulares e de repente, ele tem que se referir e tentar explicar sobre o “Ciclo de Krebs” (Ciclo do Ácido Cítrico), que é um assunto tão complicado, que nem 10% dos professores de Biologia consegue entender, quanto mais explicar. Aí, depois de uma aula inteira cheia de confusão e de nomes de substâncias químicas que ninguém entendeu nada e principalmente que não serviu para nada na vida do aluno, o professor avisa que o aluno tem que saber aquele assunto porque vai cair na prova.

Ora, com licença do termo, isso é uma grande sacanagem, porque como eu disse, a grande maioria dos professores de Biologia também não sabem nada sobre esse assunto e se não fosse “obrigado”, a maioria dos professores nem falaria disso, porque não é algo que seja importante para quem não trabalha diretamente com Bioquímica Celular. Isto é, não agrega valor à vida de quase nenhum indivíduo na sociedade. Então, porque expor o aluno a esse martírio e perder uma aula inteira ou mais falando de algo que não interessa a ninguém, nem mesmo ao professor de Biologia, na maioria das vezes?

Pois é, meus amigos, tem muita coisa que se ensina na escola que não serve para absolutamente nada, mas como está escrito num determinado papel orientador do ensino (currículo escolar) que aquilo deve ser ensinado, ou pior ainda, como está contido no “livro didático” daquela disciplina, então o “professor” pensa que é obrigado a seguir. Será que não seria mais interessante chegar para o aluno e dizer o seguinte: hoje nós vamos discutir sobre a Respiração Celular, deem uma boa lida no livro e conversaremos sobre o assunto depois. Mas é para conversar sobre o assunto mesmo e não para deixar o aluno na expectativa ou na espera eterna. Depois o professor pode fazer alguns questionamentos mais específicos para serem respondidos pelo aluno ou pode solicitar um relatório da discussão.

Para aqueles que se interessam por essa discussão, recomendo a leitura de dois artigos que publiquei, nos quais discuti um pouco mais sobre essa questão, das coisas desnecessárias que a escola, o programa e consequentemente o professor, têm que “ensinar”, por questões burocráticas, mas que não servem para coisa nenhuma no que diz respeito à formação do aluno (LIMA, 2017 e LIMA, 2018).

Sinceramente, qual das duas situações vocês acreditam que gera mais interesse, é mais sincera, mais verdadeira e que produz melhor aproveitamento e conduz a melhores resultados por parte dos alunos: a primeira que é opressora, ditatorial, decorativa, repetitiva e que já vem pronta por alguém ou a segunda que é questionadora, democrática, discursiva, construtiva e que se desenvolve a partir dos questionamentos imediatos?  Acredito que todos vão concordar comigo, que a segunda situação é claramente a mais efetiva, eficiente e eficaz.

Pois então, é disso que estou falando, não precisa mais existirem essas regras medíocres do século XVIII em pleno século XXI e nem esses assuntos irrelevantes que alguém resolveu achar que são importantes e colocar num currículo escolar, mas cuja importância é altamente questionável, principalmente para um jovem estudante. Precisamos adequar as nossas necessidades didáticas ao nosso tempo e precisamos dosar a informação, considerando a importância relativa que ela tem para os nossos jovens. Além disso, temos que fazer a devida contextualização dessa importância, pois do contrário, não faz nenhum sentido a informação que estamos “passando”, pois ela efetivamente passará e não será absorvida pelo aluno. Ao invés de “passarmos” a matéria, temos que discutir os assuntos de maneira criativa e interessante, tentando demonstrar suas respectivas importâncias.

OS OBJETIVOS DA ESCOLA

Por outro lado, o objetivo primário e fundamental de qualquer escola é sempre o mesmo, qual seja, formar, instruir e educar o cidadão para uma vida melhor, ou como se dizia antigamente “educar e preparar para a vida”. Pois então, é nesse argumento que vou, a princípio, me apoiar para continuar minha argumentação. Preparar para vida é muito mais que informar sobre temas de disciplinas (matérias) específicas, mas também é muito mais do que desenvolver procedimentos sociais e comportamentais específicos e ainda é tremendamente mais que desenvolver a possibilidade maior de garantir uma função na sociedade, seja ele profissional ou pessoal. Preparar para vida pode ser um pouco disso tudo, mas não é nada disso exclusivamente.

Penso eu que preparar para a vida seja dar condições mínimas necessárias à sobrevivência no ambiente em que se vive e demonstrar as possibilidades de melhorá-las progressivamente, através das mais diversas ações. Obviamente para isso é necessário conhecimento e orientação sobre muitas coisas e a instituição escola está aí para suprir essas necessidades, dentro de suas devidas possibilidades. A escola ideal deveria fornecer todas as necessidades, mas certamente a escola ideal não existe e o aluno tem que fazer a parte dele criando e procurando cada vez mais. Então, a escola também deve estimular e incentivar o aluno nessa busca ulterior de informação e conhecimento.

Na verdade a escola precisa criar condições para que as pessoas sejam capazes de discernir e ter capacidade de escolha e de emissão de opinião sobre as diferentes situações que essas pessoas terão que passar ao longo de sua existência, antevendo previamente que certamente haverá situações boas e ruins. Isto é, nem sempre os resultados serão os esperados, mas sempre existirão novas oportunidades. Preparar para a vida e produzir a capacidade de acertar, mas também a possibilidade de errar e aí levantar a cabeça e aprender com os erros. É óbvio que o conhecimento dessa ou daquela disciplina auxilia mais ou menos nos diferentes contextos e por isso esse conhecimento é bastante importante, mas ele certamente não é sempre o mais fundamental no aprendizado, pois vivências, convivências, afinidades e afeto também têm grande relevância no contexto da formação do indivíduo (aluno).

A escola tem que ser ciente de seu papel estritamente pedagógico, mas ela também tem que ser ciente de seu papel social maior, mas me parece que é exatamente nesse aspecto que a coisa se complica, porque nesse caso não há avaliação e principalmente não há mérito considerado nesse aspecto. Aquilo que não é disciplinar acaba não tendo valor na escola, aquela instituição que tem que preparar para a vida é, na verdade, a instituição que simplesmente aprova indistintamente ou reprova taxativamente por conta meritória e estritamente disciplinar. Que escola é essa que construímos ao longo da história?

Porque não nos baseamos na “população característica” que já descrevemos para avaliar os alunos? É claro que aí existe muita subjetividade nesse tipo de avaliação e será muito difícil avaliar. Entretanto, quando a avaliação é reduzida apenas a um número ou a um conceito ela fica objetiva demais e acaba não condizendo com a verdade, como acontece até hoje. Infelizmente ainda existem muitos educadores que não conseguem visualizar a avaliação fora desse padrão de objetividade. Alguns desses educadores, mais tacanhas ainda, chegam ao extremo de não conseguirem, se quer, ir além do limite das próprias disciplinas que ministram. Professores do tipo: “não passou na minha disciplina, então não pode ser aprovado, porque a minha disciplina é fundamental”.  Esse tipo de radicalismo infundado não pode mais ter lugar na instituição escola.

Mas, então, como agir para preparar o cidadão (aluno) para a vida?  A primeira coisa a lembrar é que a vida do cidadão pertence ao cidadão e que tutela não faz bem a ninguém. Ah! Então é para a escola passar a ser um “vai-da-valsa” e o aluno pode fazer o que quiser? Obviamente que também não é assim. A instituição escola necessariamente tem uma ordem, uma formalidade, um padrão de conduta típico daquilo que se convencionou definir como escola e que aqui já foi citado. Talvez o velho chavão liberdade com responsabilidade possa ser considerado aqui como o princípio básico a ser estabelecido na escola.

O CONTRATO SOCIAL DA ESCOLA

Pois então, essa formalidade da escola com a sociedade tem que estar clara no contrato social do aluno (cidadão interessado na escola) com a própria escola, que deve manifestar sua intenção objetiva em preparar esse cidadão e o aluno, por sua vez, deve estar ciente que procurou a escola para efetivamente se preparar para a vida. Esse contrato certamente tem gerar uma interdependência intelectual, social e moral entre as duas partes, dentro de todos os preceitos normativos que forem cabidos a ambas, com a responsabilidade mútua do cumprimento. Se não for assim, o contrato deve ser rescindido.

Entretanto, afirmo mais uma vez, a escola não pode assumir a tutela ou paternidade do aluno, se entendendo no direito de “saber” o que é melhor para ele, impondo condições aqui e ali que tentem justificar a manutenção do contrato. Infelizmente é isso que costuma acontecer e por conta desse fato, algumas vezes a situação foge ao controle e surgem problemas mais sérios. Se o aluno não respeita o que está estabelecido e nem se enquadra na sua parte do acordo, ele não pode fazer parte da escola.

Precisamos acabar com esse negócio de achar que a escola é para todo mundo, porque lamentavelmente isso não é nem pode ser uma verdade absoluta. Escola não é um ambiente de recuperação de conduta de quem quer que seja, para isso existem as prisões, penitenciárias e outras instituições disciplinares e corretivas. A escola é um lugar para gente livre, que quer continuar livre e que acredita que pode ser melhor passando pela experiência escolar. Isso é e tem que ser uma questão de vontade e não de imposição.

Eu até entendo e penso que a escola realmente deveria ser para todos, mas infelizmente, existem aqueles que não querem, não se adaptam, não tem nenhum interesse e até mesmo capacidade de se integrar socialmente. Por mais que eu discorde dessa situação, esses indivíduos existem e são pessoas que devem ter a sua vontade respeitada, enquanto não ultrapassam os limites das normais legais estabelecidas para toda a sociedade. Apenas não querer estudar, não pode ser considerado crime. Ao contrário, eu até acho que é um direito do cidadão, mesmo que eu não concorde com esse cidadão, eu não posso imaginar que ele não tenha esse direito.

Obviamente aqui cabe uma pequena discussão, enquanto for menor, esse cidadão já possui uma tutela legal, que são os seus pais ou responsáveis. Assim, qualquer ação deve incidir sobre eles, os pais, e não sobre os seus tutelados. A mesma escola que pune as crianças, não pode punir os pais das crianças que não cumprem as normas e assim não adianta propor regra, porque se os pais não cumprem, porque as crianças irão cumprir? Há que se estabelecer regras que obriguem os pais e tomarem posturas de seus tutelados ou que simplesmente determinem legalmente, que eles não são mais seus tutelados e eu vejo que isso também é um direito, que infelizmente parece não ser reconhecido no Brasil.

Aliás, é por isso que eu não acredito muito nessa tal de inclusão, hoje tão falada nos meios educacionais. Pelo menos, na inclusão da maneira que está sendo proposta, porque ela esquece principalmente a identidade e a individualidade do incluído e ele acaba sendo considerado um coitado e sem vontade própria no meio das demais pessoas, ou seja, é um tipo de inclusão que acaba não incluindo nada e nem ninguém. Não sou preconceituoso, mas também não sou demagogo e essa inclusão que está sendo proposta não é boa para o incluído, embora ela seja pretensamente “boa” para quem a projeta. É bom lembrar que, como disse Samuel Johnson “a cadeia e o inferno estão cheios de gente bem intencionada”. Aquilo que a gente pensa que é bom para alguém, nem sempre é bom mesmo. Aliás, na maioria das vezes não costuma ser.

Antes da inclusão propriamente deveria existir uma autorização formal do indivíduo a ser incluído, indicando primeiramente se ele quer ser incluído ou não e se a resposta fosse afirmativa, o próprio indivíduo faria uma indicação de como gostaria de ser incluído. Mas, na verdade, o “pacote inclusivo” já está pronto e alguém joga o indivíduo dentro dele, como se ele fosse um objeto qualquer. Por que não deixar o sujeito se incluir por si só, da maneira dele, na sociedade? Por que a sociedade tem que querer ser mãe daqueles que são diferentes do padrão considerado normal? Mas, vamos deixar isso de lado, porque eu acabei fugindo do meu tema primário.

Então, as funções desenvolvidas pela escola são inúmeras e cada vez mais surgem outras, advogadas pelos teóricos da sociedade e até mesmo da pedagogia, muitos dos quais nunca estiveram dentro de uma escola, nem numa sala de aula, ou melhor, só estiveram quando eram alunos e ao que parecem não aprenderam nada sobre a instituição escola nessas referidas oportunidades. É preciso parar com essa coisa de que sempre existe alguém que sabe e que tem a solução para tudo. Isso é uma falácia, particularmente numa escola, onde tratamos direta e exclusivamente com pessoas, as quais são diferentes e assim, respondem da maneira diferente. Não pode existir uma receita pronta, quando nem os ingredientes utilizados são devidamente conhecidos.

A escola moderna que estou imaginando seria uma entidade social voltada principalmente para discutir questões, o que possivelmente desenvolveria jovens mais interessados em esclarecer situações e em pesquisar, buscando o entendimento cada vez maior das coisas. O futuro da educação a meu ver passa por essa nova escola, a qual deverá trazer respostas promissoras e principalmente deslumbrar um novo mundo aos interesses pessoais dos diferentes alunos.

O aguçar do conhecimento deverá ser uma constante nesse aluno contestador e questionador que se fará com essa escola moderna. Por outro lado, a sociedade em geral só obterá ganhos, porque com alunos mais interessados, certamente a escola se desenvolverá de uma maneira melhor e isso trará uma grande possibilidade de surgirem melhores profissionais em todos os níveis e ramos de atividade. A sociedade deverá se engrandecer e a humanidade tenderá a ser mais justa, com pessoas mais eficazes nas suas funções e mais preocupadas com a qualidade de vida no planeta.

A ESCOLA DO FUTURO

Tenho pensado muito numa escola diferente e aberta. E quando eu digo aberta, quero dizer exatamente isso. A escola não pode se fechar em si mesma e se padronizar publicamente, porque o público é diversificado e grande parte desse público, pelos mais diversos motivos, não concorda e não aceita os padrões arcaicos já estabelecidos na escola. As definições das funções escolares devem ser claras e precisas para que os indivíduos que procuram uma escola tenham a certeza de que encontram a escola certa aos seus interesses. Eu costumo dizer que: “nenhuma escola é naturalmente boa”, porque quem faz a escola é o aluno e assim é o aluno que determina se a escola é boa ou ruim.  Se o aluno se satisfizer com a escola ela será boa, mas se não for assim ele será ruim, independentemente de quem sejam os demais atores sociais que existam naquela escola. Os melhores professores, engrandecem a escola, mas certamente não fazem a melhor escola.

A máxima do comércio diz que: “o cliente tem sempre razão”. O cliente da escola é o aluno e ele deve ditar as regras mínimas da entidade social que existe por conta dele. O balizamento escolar deve se ater as questões organizacionais regulamentares e legais que abrangem qualquer entidade social. A escola não pode fugir as regras éticas da sociedade, mas deve se interessar mais pela satisfação de seus alunos. Óbvia e principalmente daqueles alunos que assumirem o contrato social estabelecido a partir da população mais característica daquela escola. Mas, a escola não pode interferir em outras questões que se relacionem com situações particulares.

A escola aberta a que eu me refiro certamente é uma utopia para muitos que me chamarão de débil mental ou qualquer coisa do gênero, mas pensem nela como algo possível. Pensem, por exemplo, que o programa de uma determinada disciplina é feito a cada aula, onde se discute aquilo que é interessante aos alunos e não aquilo que está estabelecido por uma regra esdrúxula que vem se mantendo desde o século XVIII. A escola tem que evoluir como instituição social do século XXI, onde tudo que existe do ponto de vista disciplinar e informativo, certo ou errado, já está no “Google” e o aluno certamente tem essa informação disponível a hora que ele quiser. Cabe a escola esclarecer, discutir, orientar e talvez até fomentar um pouco mais sobre esses assuntos.

É claro que sair do conservadorismo secular e entrar na modernidade como escola aberta trará um custo efetivo muito grande para a instituição escola em todos os níveis. Os prédios terão que ser melhores, mais modernos e arejados; a informatização deverá ser total, o que diminuirá tremendamente a burocracia dos processos; os funcionários deverão ser de melhor nível sociocultural; os professores terão que ser realmente conhecedores de suas disciplinas, além de pessoas cultas e capazes de mediar discussões e discutir efetivamente sobre os diversos assuntos que serão trazidos ao debate nas salas de aula. Enfim, não vai ser fácil, mas a sociedade atual não quer mais saber dessa escola que existe até hoje.

Eu estou com quase 63 anos, 60 deles foram passados dentro das escolas, os iniciais como aluno e a grande maioria deles como professor. Hoje ainda sou um agente ativo dessa escola arcaica, fechada, conservadora e pretensamente séria. Sempre procurei ser vanguardista e estive muito à frente dos alunos e dos professores do meu tempo. Sempre procurei provocar, desenvolver e criar coisas diferentes e novas. Certamente, como eu não sou herói, não consegui mudar quase nada, até porque o sistema é muito grande e gente como eu, geralmente é mal vista pelo sistema e consequentemente tende a acabar sendo desvalorizada em sua essência.

Mas, eu segui em frente tentando fazer a minha parte e não dei muita trela para as opiniões da maioria conservacionista e retrógrada que compõem o sistema, embora tenham ocorrido alguns desentendimentos mais significativos, eu sobrevivi muito bem. Obviamente sofri muito com minha forma diferente de pensar, ser e de agir, mas ganhei muita consideração daqueles que estavam do outro lado e que como eu já disse, são os verdadeiros “donos da escola”, os alunos. Assim, penso que valeu, ou melhor, ainda está valendo a pena.

Pois então, é por eles e para eles (os alunos) que a instituição escola existe. Todo o restante da comunidade escolar, inclusive o professor, é acessório na escola, apenas o aluno é fundamental. O aluno é o cliente da instituição escola e essa instituição tem que se preocupar em entender e atender bem esse cliente, pois do contrário a escola poderá (deverá) perder prestígio. Em certo sentido é exatamente isso que estamos observando, cada vez mais, nos últimos tempos. A escola deixou de ser algo interessante, se é que algum dia foi, para a maioria dos seus clientes.

A escola é cada vez mais distante aos anseios, menos atraente e pouco interessante aos alunos, os quais, por isso mesmo, estão cada vez menos envolvidos com a escola e com o aprendizado. Mas, será que os alunos não querem aprender? Obviamente que isso não pode ser verdade, porque o aprendizado é fundamental em qualquer situação e os alunos sabem disso. Isto é, qualquer coisa para ser feita com eficácia precisa ser aprendida, sendo assim, os alunos continuam querendo aprender e assim essa nova escola, diferente e aberta, é uma necessidade da sociedade moderna. Atualmente os alunos querem aprender outras coisas diferentes, de outras maneiras diferentes daquelas que a escola tradicionalmente procurou ensinar aos longo do tempo e se a escola não mudar e se abrir a situação ficará cada vez pior.

CONCLUSÕES

Em suma, está bastante claro e indiscutível que o aluno já mudou e vai mudar cada vez mais. Ora, se o cliente mudou e continuará mudando, está na hora da organização comercial que depende desse cliente, isto é, a instituição social escola, a mais importante instituição social, se adaptar às novas e progressivas necessidades e também mudar para continuar existindo no mercado. A sociedade moderna não pode deixar a escola caminhar para a extinção como instituição social, antes de tentar mudar e estabelecer um novo (diferente) contrato social com os alunos que estão aí, ainda ávidos por aprender, mas à moda deles. A escola tem que deixar de ser conservadora, estática e retrógrada, ela deve se ajustar, modificando o seu padrão arcaico e tradicional, ela tem que progressivamente ir se adequando às novas situações e necessidades da sociedade moderna.

A escola do nosso tempo já passou, agora é o tempo deles, os alunos modernos, e daqui para frente vai ser cada vez mais difícil manter esse conservadorismo histórico e esse tradicionalismo arcaico, porque os alunos necessitam de uma escola diferente. A escola do futuro precisa começar a ser construída, ouvindo integralmente os anseios dos atuais alunos e da modernidade. É fundamental e preponderante que o processo de abertura dessa nova escola para a sociedade tenha início o mais rápido possível. Nós não podemos mais continuar com essa padronização esdrúxula do Século XVIII sendo imposta às gerações dos Séculos XXI e muito menos às gerações dos séculos vindouros.  A sociedade necessita rever o seu conceito do que efetivamente significa escola nos tempos atuais e o que significará no futuro.

Devemos pois, nos preocuparmos em criar essa nova escola, projetada nos interesses maiores da sociedade, particularmente centrada na população mais característica de sua comunidade para fazer sentido prático e operacional, mas que ela seja pensada, projetada, construída e principalmente querida e desenvolvida pelos estudantes atuais e por aqueles que ainda virão, adequando-se paulatinamente ao tempo. A escola deve caminhar em paralelo com a sociedade, para que possa continuar cumprindo o seu papel social de destaque a contento, mas ela não pode perder a noção de que o aluno é o seu principal agente social e por isso mesmo ele deve ser a fonte primária de referência para o desenvolvimento contínuo desse tipo de instituição.

O aluno deverá continuar sendo cada vez mais importante na constituição da escola e, por isso mesmo, há necessidade de que a escola pare de ser gerida por ideias estranhas ao seu contexto real. Os problemas e as soluções da escola encontram-se nela mesma e os alunos são as referências primordiais do entendimento e das necessidades que possam existir. É preciso ficar claro que daqui para o futuro, qualquer maneira de pensar e principalmente de agir, que não prestigie e nem privilegie a opinião discente na escola, certamente não deverá prosperar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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27 mar 2019
As relações entre a Sustentabilidade e os Recursos Naturais

As relações entre a Sustentabilidade e os Recursos Naturais

Resumo: O texto apresenta uma abordagem sobre o mal uso que a humanidade tem feito do Patrimônio Natural e da Proteção da Biodiversidade e dos efeitos desastrosos dessas ações sobre a Sustentabilidade Planetária e da necessidade de mudar esse procedimento para garantir a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.


Introdução

Nos tempos atuais a Sustentabilidade passou a ser palavra de ordem em quase todas as atividades humanas, mas o verdadeiro conceito de sustentabilidade passa muito longe do que efetivamente tem sido visto como modelos sustentáveis. Lima (2015), comentou sobre o fato do conceito de sustentabilidade ser usado indevidamente, chamando a atenção para uma possível ação programada para tentar enganar a população e desvirtuar a essência do conceito.

Entretanto, além das falcatruas e dos embusteiros, ainda existe realmente muita dificuldade de entender o conceito de sustentabilidade por grande parte da população e assim, muitas pessoas acabam confundindo as coisas em nome da sustentabilidade. É claro que aqui também existem os aproveitadores, que se utilizam dessa condição, mas, por outro lado, também existem aqueles que até querem ajudar e pensam que estão fazendo certo e, se até fazem errado, certamente é por falta de conhecimento em consequência principalmente da má informação.

Nesse sentido está se e propondo a fazer uma pequena síntese do atual estado de coisas sobre aplicação correta do conceito de sustentabilidade, para que se possa ter uma verdadeira imagem do que acontece e do que deveria estar acontecendo em benefício do planeta e da sociedade. Alguns conceitos se tornam necessários para que eu possa dar andamento ao que quero dizer e por isso mesmo os cinco termos (expressões) presentes no título serão objetivamente definidos. Não há pretensão de que paire dúvidas sobre o que está efetivamente se querendo dizer e por isso mesmo, é preciso que sejam esclarecidas e clarificadas todas as questões conceituais.

Nesse sentido, é preciso que sejam apresentados e discutidos as principais palavras chaves envolvidas na questão da sustentabilidade, para que se possa ter um parâmetro comparável e se possa compreender o sentido exato dos termos e as possibilidades concretas de aplicação da noção de sustentabilidade nas práticas antrópicas. Também é discutido o fato de que a sustentabilidade é uma necessidade premente para a manutenção e a continuidade da vida humana na Terra.    

Sustentabilidade

A Sustentabilidade é uma palavra oriunda da ideia de Desenvolvimento Sustentável (SACHS, 1986), isto é, aquele desenvolvimento que se faz hoje, mas que visa garantir o amanhã. Quer dizer, a sustentabilidade implica na garantia de que os recursos naturais que estão sendo usados pela população hoje, deverão ser suficientes para serem usados pelas populações futuras, sem que haja prejuízo ambiental ou econômico. Assim, a sustentabilidade se embasa sobre três vertentes fundamentais: a sociedade, o meio ambiente e a economia.

 Só existe sustentabilidade efetiva, quando são considerados essas três vertentes de maneira equitativa e complementar. Mas, ainda assim, existem muitas atividades ditas sustentáveis, que na verdade não contemplam a noção real e efetiva de sustentabilidade. A imagem que melhor representa a ideia concreta da sustentabilidade é representada por três esferas que indicam o meio ambiente, a sociedade e a economia, e que se intercruzam equitativamente, determinando uma área de interseção. Essa área de interseção é que consiste na verdadeira sustentabilidade (figura 1). Qualquer coisa diferente desse padrão não pode ser enquadrada totalmente dentro do conceito de sustentabilidade.

Figura 1 – O Tripé da Sustentabilidade.

Nos últimos anos inúmeros autores já citaram e representaram essa imagem ou algo parecido, além de terem trabalhado e discutido bastante sobre esse verdadeiro conceito de sustentabilidade. Há até alguns autores que são contrários à ideia restrita do desenvolvimento sustentável, haja vista que é impossível continuar crescendo economicamente de maneira infinita, dentro de um planeta que é finito (Latouche, 1994). Para esses autores a sustentabilidade propriamente é uma utopia econômica. Entretanto essa utopia econômica, deve ser buscada, no que se refere ao meio ambiente e à sociedade, para garantir a vida humana no planeta.

Pensar em sustentabilidade é pensar na continuidade da vida humana, nas futuras gerações e também na manutenção de inúmeras espécies planetárias que convivem com a espécie humana. Agir dentro da sustentabilidade, sendo esta uma utopia ou não, é a única condição que poderá garantir a continuidade da vida humana no planeta Terra, pois só garantiremos a sociedade, se mantivermos o ambiente onde é possível mantê-la. A economia parece ser o que menos importa no tripé que mantém a sustentabilidade.

É bom lembrar que ninguém vai resolver nada agindo da mesma maneira sempre. É preciso mudar o foco e os procedimentos para se resolver problemas que insistem em continuar existindo. Talvez esteja aí a grande questão humana: queremos sobreviver como espécie por um tempo geológico bem razoável ou queremos apenas ganhar mais e ficar ricos por um tempo extremamente curto?  

Recurso Natural

O conceito de recurso natural é uma questão mais concreta e assim mais simples de ser entendida. O recurso natural é tudo aquilo que existe na natureza (no planeta) e que, de alguma forma está disponível e pode ser utilizado pelas diferentes espécies de organismos vivos para garantir as suas respectivas necessidades e assim garantir a sobrevivência das espécies. Os recursos naturais portanto são a água, o ar, o solo, as plantas, os animais e os minerais (figura 2). O uso desses recursos naturais pode ser mais ou menos impactante ao ambiente local e ao planeta como um todo, em função da pressão exercida pelas espécies vivas e pela disponibilidade total do recurso em questão.

Figura 2 – Representação de alguns Recursos Naturais Planetários.

Obviamente a espécie humana é a que mais se utiliza dos recursos naturais, por conta de sua imensa população, da grande diversidade de recursos usados e da quase infinita possibilidade desses usos. A maioria das espécies vivas, ao contrário dos humanos, usa limitados recursos e de maneira também limitada, pois só usa o estritamente necessário ao seu consumo. Na natureza não há desperdício de absolutamente nada, só os seres humanos são capazes de desperdiçar recursos naturais.

Existem dois tipos básicos de recursos naturais: os renováveis, aqueles que são naturalmente refeitos em relativo tempo curto e os não renováveis, aqueles que não podem ser naturalmente refeitos em tempo curto. Para critérios estritamente antrópicos considera-se como recursos renováveis aqueles que podemos renovar, como uma árvore, por exemplo. Por outro lado, considera-se recursos não renováveis aqueles que não podemos renovar, como um minério qualquer.

O homem, ao longo de sua história evolutiva no planeta, de alguma maneira, procurou tornar útil quase tudo que encontrou e assim, transformou a Terra em sua pretensa fonte “inesgotável” de recursos. A espécie humana se assumiu “dona do planeta” e tem usado os recursos da forma como quer, sem considerar os limites naturais estabelecidos da existência dos mesmos. O resultado dessa usurpação é a degradação planetária quase total em consequência do conjunto das atividades humanas, relacionadas a exploração dos recursos naturais.

É preciso ficar claro à humanidade que existe apenas um planeta Terra e que todos os recursos que utilizados são retirados única e exclusivamente desse planeta. Isto é, a Terra é finita e tudo que tem nela também é finito, inclusive a espécie humana e que o ato de apenas tirar e usar os recursos indefinidamente, só irá levar à escassez dos mesmos mais rapidamente. Assim, é preciso pensar o como e o porquê se deve fazer uso dos recursos naturais, antes de efetivamente utilizá-los.

Consumismo

Consumismo é uma expressão bastante antiga, pois se originou  no início do capitalismo, ainda na idade média, entretanto modernamente essa expressão ressurgiu com o intuito de alarmar os seres humanos sobre o excesso de consumo desnecessário de recursos naturais, que é cada vez maior. Aqui será tratada essa noção moderna, oriunda de hábitos de compra exagerados de determinados grupos sociais, que têm produzido uma grande quantidade de consumo de supérfluos e assim utilizado (desperdiçado) significativa quantidade de recursos naturais, sem a devida parcimônia. O consumo excessivo produzido pelas sociedades modernas talvez seja o pior dos males ambientais da atualidade, porque leva ao uso indiscriminado de produtos supérfluos. A figura 3, tenta apresentar a verdadeira dimensão entre o consumo e o consumismo.

Consumir recursos naturais é uma necessidade de qualquer organismo vivo, entretanto, apenas a espécie humana usa mais que precisa e, o que é pior, também deteriora grande parte daquilo que não usa, por conta de outros interesses. Por exemplo, para extrair um minério qualquer muitas vezes é necessário que seja destruída toda área do entorno, a qual possui várias coisas que normalmente não precisariam ser destruídas e poderiam estar sendo aproveitadas para outros fins. Entretanto, quem faz exploração mineral dificilmente atenta para esse fato, assim não se preocupa com o entorno e destrói tudo para conseguir o minério que objetiva.

Esse desperdício é a base da degradação ambiental planetária e também é a porta de entrada da do consumismo. A situação é mais ou menos assim: “só me interessa o que me interessa e o resto que se dane”. Com essa visão se consome tudo o que se quer irresponsável e inconsequentemente, sem avaliar o gasto planetário que essa atitude pode representar. Isso começa na exploração do recurso natural e vai até o comércio do produto dele derivado, onde a situação é efetivamente muito mais grave. Se retira o recurso natural sem o devido critério e o comércio dos produtos tem menos critério ainda, pois no comércio, o que se quer é vender para lucrar cada vez mais e não importa se isso pode trazer algum prejuízo ao ambiente ou mesmo à sociedade. Infelizmente, o lucro a qualquer custo é o motor que move o consumo e que cria o consumismo e não a necessidade real do uso de determinado recurso como deveria ser.

Figura 3 – Comparação entre Consumo e Consumismo.

O consumismo exacerbado e cruel que vivenciamos é fruto direto da propaganda e do marketing promocional, muitas vezes exagerados e indevidos, que acompanham a maior parte dos produtos. Se isso traz alguma vantagem e apresenta um lado bom para a economia, no que se refere ao comércio dos produtos, por outro lado, acaba sendo bastante ruim, pois reforça a degradação ambiental e intensifica o uso desnecessário de recursos naturais pelos seres humanos. Assim, ainda que muitos, iludidos pela propaganda e desinformados da realidade planetária, não percebam, o consumismo acaba sendo um grande mal para a humanidade e uma praga terrível para o planeta, pois acaba por exaurir recursos planetários progressiva e inconsequentemente, por isso mesmo é que o consumismo exagerado que domina, principalmente os ambientes urbanos, precisa ser melhor esclarecido e energicamente combatido por toda a sociedade.

Obsolescência Programada

A obsolescência programada surgiu em meados do século passado como sendo um mecanismo que tentava garantir as vendas e o comércio. Na verdade como o nome diz, a obsolescência programada faz referência a criação de produtos programados para ficar obsoletos dentro de um determinado período de tempo. Desta maneira, a obsolescência programada, garantiria concomitantemente o emprego nas fábricas, na geração dos produtos e nas lojas, no comércio dos mesmos. Em tese, essa era, a priori, uma ideia nobre para a humanidade, pois garantiria o trabalho para todos.

Por outro lado, a necessidade de produzir e de comercializar produtos, leva a cada vez mais necessidade de recursos e assim quem sofre é o ambiente natural, a Terra, pois tem que fornecer níveis sempre maiores desses recursos, até que em dado momento esses recurso se esgotem. Foi assim que aconteceu com vários tipos de recursos naturais não renováveis e mesmo com recursos naturais renováveis, que, embora pudessem, nunca foram efetivamente renovados. Depois que esses produtos acabam, ou se arruma outro que possa suprir a necessidade ou os empregos também acabam porque sem recursos naturais não há mais como e nem o que produzir.

Uma fábrica, qualquer que seja ela, desde que Henry Ford criou a linha de montagem, é exatamente igual a outra. Tem um recurso que entra, uma linha de montagem que transforma progressivamente o recurso e vai elaborando o produto final que é desenvolvido pela fábrica. O que muda é o recurso que entra e produto que sai, mas o processo é sempre o mesmo. Bem, enquanto existir recurso, certamente existirá produto, mas se em dado momento faltar o recurso, aí faltará o produto e também o emprego, porque não haverá mais trabalho a ser feito, haja visto que não existirá mais o que produzir.

Olhando por esse lado, a obsolescência programada acaba sendo um grande mal, pois objetiva produzir constantemente e cada vez mais, haja vista que a população aumenta e a necessidade de empregos também. Assim, a tendência é que mais rapidamente os recursos naturais que levam a produção dos produtos se extingam na natureza e a carência desses recursos vai produzir o fechamento das fábricas, o fim da produção daquele produto e consequentemente o fim do comércio.

A obsolescência programada é uma falácia que está por aí a iludir alguns empresários tolos e apenas preocupados com o lucro, pois só serve para aumentar o consumo e assim estimular o consumismo (Figura 4). Mesmo a economia, depois de crescer rapidamente num primeiro momento, vai acabar perdendo muito com a obsolescência programada. É melhor produzir produtos duradouros e de qualidade pois garante a manutenção dos recursos naturais e o emprego por muito mais tempo, além do fato de que a natureza agradece e as gerações futuras também. A sustentabilidade e a obsolescência programada não combinam de maneira nenhuma.

Figura 4 – O verdadeiro objetivo da Obsolescência Programada é o lucro.

Reciclagem

A palavra reciclagem aqui estampada está representando muito mais uma ideia do que um conceito propriamente, porque a reciclagem passou a ser modelo generalizado quando a maioria das pessoas pensa ou fala em sustentabilidade. É como se a reciclagem fosse a própria sustentabilidade. Mas, vou tentar esclarecer melhor essa história, a princípio bastante confusa.

Na verdade, a palavra reciclagem surgiu na década de 1970, quando as indústrias foram encurraladas por estavam sendo generalizadamente consideradas e com razão, como os principais degradadores do meio ambiente. Naquela época, a indústria produzia quase 50% menos do que hoje, gastando cerca de 50% mais e de energia, de água e de seus recursos naturais básicos. Além disso, a indústria daquela época não se preocupava com a geração dos resíduos que produzia e muito menos com destinação desses resíduos.

A ideia da reciclagem surgiu da seguinte maneira. Primeiro foram os três Rs (reduzir, reutilizar, reciclar), apresentados no texto da agenda 21, na Conferência das nações Unidas, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. De lá para cá, tanto a ideia de reciclagem, quanto os três Rs, modificaram bastante. A ideia de reciclagem ganhou muito espaço na indústria e se espalhou, mas também ganhou bastante corpo na sociedade e se diversificou para as mais diversas atividades humanas educacionais, comerciais e culturais. Os três Rs, passaram a ser 4, depois, 5 e hoje já são pelo menos 6 Rs (respeitar, repensar, recusar, reduzir, reutilizar, reciclar), mas há quem proponha até 7 Rs (Figura 5). Enfim, como já foi dito, a reciclagem e as ideias oriundas dela passaram a ser ícones dentro da sociedade, em particular das pessoas mais sensíveis à causa ambiental.

Realmente a reciclagem é algo muito importante e precisa ter seu conceito efetivamente discutido e cada vez mais ampliado no imaginário popular. É necessário de fato que as comunidades tenham a verdadeira dimensão de reduzir, reutilizar e reciclar, como nos três Rs iniciais. Entretanto, existem os outros três termos aqui utilizados, devem ter preferência no que diz respeito à sustentabilidade. Antes de reduzir, reutilizar e reciclar, certamente é preciso aprendera a respeitar a natureza, a repensar sobre sua importância e a recusar a utilização de certos recursos naturais.

Figura 5 – Uma das concepções dos 7 Rs.

Quem tem verdadeira consciência ecológica sabe que a reciclagem, que ficou tão famosa e que levou a noção de aproveitamento melhor dos recursos naturais, na realidade, deve ser a última das tarefas a desenvolvida, quando se pensa nos recursos naturais, porque só será reciclado mesmo aquele recurso natural que já tiver sido fonte de análise e mesmo de aplicação de todos os cinco termos anteriores. Isto é, a reciclagem é boa, mas tem muita coisa mais importante que ela e a sustentabilidade necessita ser pensada dessa maneira, pois do contrário se cairá no mesmo marasmo de acabar com os recursos naturais, degradar o meio ambiente e destruir o planeta.

Só é possível reciclar aquilo que já foi usado e se já foi usado, certamente é um recurso natural que veio do planeta e que talvez não precisasse ter sido utilizado, se os três primeiros termos tivessem sido abrangentemente considerados. É preciso trocar a expressão usar livremente pela expressão necessitar vitalmente, pois só será possível fazer uso devido daquilo que efetiva e comprovadamente for necessário. A humanidade já consumiu demais indevidamente e agora já passou da hora de parar, pois atualmente se consome muito mais do que o planeta pode naturalmente repor.

O ano está progressiva e perigosamente mais curto, porque os recursos para um ano têm quantitativamente terminado sempre antes de 31 de dezembro. Esse ano (2016) por exemplo, o ano acabou no dia 8 de agosto, o que significa dizer que já estamos usando recursos naturais do ano que vem e essa tem sido uma prática costumeira nos últimos 20 anos. Até onde será possível chegar? Quanto tempo mais a Terra terá que fornecer esse fundo extra, esse “cheque especial” para humanidade? Quando a humanidade vai finalmente entender que isso não pode acontecer?

Discussão

Como foi visto até aqui a dimensão entre os conceitos estabelecidos é demasiadamente próxima para ser desconsiderada da sociedade. Toda a questão relacionada a sustentabilidade tem que perpassar pelo meio ambiente, pela sociedade e pela economia, além de ser projetada numa perspectiva futura. Isto é, o tripé da sustentabilidade só pode ser evidenciado e projetado realmente pensando naqueles seres humanos que ainda vão nascer e que têm o direito de herdar o planeta com condições necessárias para que possam se manter vivos.

O relatório Brudtland,1987 (“Our common future”), chamou a atenção da humanidade para as consequências do estava sendo feito ao planeta e da necessidade da busca de um modelo de Desenvolvimento Sustentável. Já se passaram quase 30 anos da publicação e quase nada de muito significativo havia sido realizado, do ponto de vista global, embora a natureza estivesse dando os seus avisos. Recentemente, a partir da COP 2015 parece que as coisas começam realmente a acontecer. A humanidade está acordando e pretende prosseguir sua história evolutiva no planeta Terra, porém o passivo ambiental é extremamente grande e precisa ser minimizado.

Por outro lado, os conceitos aqui apresentados e discutidos também demonstram que não é possível observar qualquer efeito de sustentabilidade real se não houver “contenção” (racionalidade) no uso dos recursos naturais. Usar os recursos naturais racionalmente é fazer uso da tão falada racionalidade humana. O ser humano tem que entender, que por ser (segundo ele próprio) a única espécie racional deveria ter uma responsabilidade maior com o planeta e que, por isso mesmo, não poderia simplesmente dar fim a todos os recursos naturais. E deveria principalmente saber que o interesse da humanidade tem que ser maior do que o interesse específico de qualquer indivíduo ou grupo social, porque os futuros seres humanos terão que viver nesse mesmo planeta, utilizando os mesmos recursos que ele ainda puder fornecer.

Figura 6 – Será essa a condição que a humanidade quer deixar para os filhos e netos?

Nesse sentido a sustentabilidade é um conceito bastante democrático e cooperativista, porque prestigia o todo da humanidade e não apenas uma parte definida, inclusive projetando e promovendo os que ainda nem existem. Ainda que tenha sido um erro arbitrário e indevido, o planeta já foi apropriado indebitamente pelos seres humanos, os quais se fizeram proprietários da Terra e resolveram modifica-la a bel-prazer, porém os humanos, tanto do passado, quanto os do presente ou do futuro não são melhores e nem piores e portanto devem ter os mesmos direitos sobre a “posse” do planeta.

Percebe-se aqui que mesmo na ilegalidade, na falta de justiça e na irresponsabilidade do ato de usurpação do planeta, ainda parece existir moralidade dos humanos entre si, embora certamente não haja entre os humanos e as demais criaturas, as quais foram consideradas seres menos importantes e cujo valor, lamentavelmente, é definido pela própria humanidade. Estranho isso, mas, infelizmente, é isso mesmo. O ser humano não apenas se sente “dono do planeta”, como também se colocou acima do bem e do mal e entende que pode decidir sobre a existência das demais coisas vivas e, ao longo da história, realmente tem assumido essa postura.

Mesmo que hoje sejam garantidas algumas áreas de preservação permanente e que nelas sejam guardados e preservados alguns ecossistemas naturais e toda a biodiversidade neles contida, a história demonstra claramente que muito da biodiversidade natural já se extinguiu por conta das mais diversas ações antrópicas planetárias e não parece que a humanidade tenha se importado significativamente com esse fato. A espécie humana, até por força da religiosidade, se sente efetivamente “superior” e acredita que deve ter “prioridades” em relação às demais espécies vivas. Embora não esteja sendo discutido aqui, esse mal sociológico, também precisa ser combatido.

É interessante notar que o ser humano só consegue pensar o planeta sobre uma ótica exclusivamente humana, que privilegia e supervaloriza o humano. Talvez aqui esteja o grande problema filosófico da humanidade, que aparentemente parece querer sair de uma postura antropocêntrica histórica, mas na prática não consegue ser diferente do que sempre foi. Isto é, um espécie dominadora, que não mede esforços para alcançar seus objetivos e que nesse afã, está sempre destruindo o planeta num caminho contínuo e unidirecional, o qual fatalmente irá leva-la à extinção, ao lado de muitas outras que nada fizeram para isso.

Nesse momento e nesse contexto, mais uma vez surge a sustentabilidade, eivada de retalhos dos vícios humanos, mas preocupada com a humanidade, com o planeta Terra e com a biodiversidade existente. O humano só sobreviverá se o planeta tiver condições de mantê-lo e assim é fundamental que se guarde o planeta. Não há nenhum altruísmo na defesa da sustentabilidade, existe sim interesse e intenção de se manter vivo, até mesmo para perpetuar o poder do ser humano sobre a Terra. A sustentabilidade passa assim a ser uma necessidade antrópica de vida e transcendência, sem a qual nada faz sentido. É fundamental ter sustentabilidade hoje e continuar tendo vida e poder sempre.

Aliás, deve ser lembrado que a Biologia, como ciência dos organismos vivos, ensina que o mais interessa às formas vivas é continuar vivendo, ou seja, a vida tem um interesse primário (único) que é viver. Por outro lado, do ponto de vista filosófico, se há algum interesse numa ação, obviamente não existe nenhum altruísmo efetivo nela. A atitude biológica dos organismos vivos em trabalharem para continuar vivendo não tem nada de altruísta. Quer dizer, nenhuma espécie viva, continua vivendo simplesmente por viver, porque isso não justifica nem a própria existência dessa espécie. Assim, fica evidente que todos os organismos vivos querem, antes de tudo viver, porque de alguma maneira, isso é fundamental para si próprio. Desta maneira, se essa afirmativa for verdadeira, como parece ser, realmente não existe altruísmo puro, nem mesmo numa condição estritamente natural.

Os seres humanos, do ponto de vista biológico, não são melhores e nem piores que as outras espécies vivas, são organismos vivos como os demais, talvez apenas um pouco mais organizados em alguns aspectos anatômicos e fisiológicos. Quer dizer, os seres humanos, apesar dos inúmeros erros cometidos, não são bons nem maus. Na verdade, o que o ser humano também quer é viver e se, por acaso, descobrir que a sustentabilidade é o caminho que leva a vida, não há dúvida que a humanidade caminhará nessa direção. Desta maneira, a sustentabilidade deverá ser a condição imperante e obrigatória que regerá a espécie humana doravante, simplesmente porque não existe outra maneira de se manter no planeta.

Realmente é difícil de perceber que esse pensamento possa ter qualquer significado prático, a julgar pelo que tem sido demonstrado pelas atitudes humanas no planeta até aqui, mas certamente essa situação mudará, pois um novo Homo sapiens sapiensestá surgindo nos últimos tempos. Esse novo ser humano, ainda tem dificuldade de encarar e de entender o que está acontecendo à sua volta, mas a sustentabilidade vagarosa e progressivamente se implanta como uma necessidade orgânica que auxiliará na manutenção e continuidade da espécie humana aqui na Terra.

Já existem muitos cientistas que apresentam esse pensamento e que acreditam na efetiva mudança dos tempos. Tem gente trabalhando cada vez mais em novas tecnologias de baixo carbono; discutindo limites naturais de controle da população; propondo mais criação de unidades de conservação, promovendo a restauração florestal e efetivando a recuperação de áreas degradadas e até mesmo investigando mecanismos de redução de crescimento econômico. Já há mesmo quem assegure que é impossível crescer infinitamente num planeta finito, independentemente de ser ou não ambientalista.

Serge Latouche (2007), em seu livro, afirmou taxativamente que “não se quer voltar a idade da pedra, mas é possível se viver bem como se viveu em passado não muito longínquo”. Com uma boa condição de vida e sobretudo com expectativa das boas linhagens genéticas, que continuarão produzindo um novo homem, embasado na sustentabilidade, preocupado com a vida e com o planeta, certamente o futuro da humanidade parece ser promissor e ainda será possível demonstrar que a ideia de Latouche não é absurda.

Obviamente nem tudo serão flores, porque certamente haverá situações de escassez, até porque o passivo ambiental apresentado no atual cenário produziu algumas marcas irreparáveis e outras sequelas que não serão sanadas tão facilmente. Mas, a busca constante da sustentabilidade garantirá melhoras progressivas ao planeta e a humanidade e quem sabe até mesmo poderá permitir soluções para algumas situações existentes que, a priori, pareciam ser irreparáveis.

Considerações Finais

É claro que esse artigo se baseia num cenário imaginário, mas não é impossível sua realização, desde que se queira efetivamente manter a espécie humana vivendo por mais alguns anos no planeta Terra. Para tanto há necessidade de se pensar e principalmente de que sejam realizadas ações dentro dos padrões propostos e estabelecidos pelos fundamentos da sustentabilidade.

A sustentabilidade se apresenta hoje como uma necessidade à existência antrópica e mesmo sendo teoricamente utópica, essa perspectiva terá que se tornar real, porque serão ações sustentáveis que levarão a humanidade a viver em equilíbrio, garantindo a segurança ecossistêmica planetária dos ambientes naturais e artificiais. É preciso que a humanidade prossiga seu caminhar tendo o desenvolvimento sustentável como princípio e a sustentabilidade planetária como objetivo único.

Doravante, é imprescindível que os recursos naturais renováveis sejam sempre renovados na proporção devida e os não renováveis sejam utilizados sempre com a devida parcimônia e seus respectivos usos deverão ser efetivados apenas quando não houver nenhuma outra possibilidade para resolver a questão que se apresenta naquele momento. Isto é, recurso natural não renovável só poderá ser usado quando for estritamente necessário. Repensar o uso dos recursos naturais será sempre uma premissa obrigatória.

O consumismo deverá ser controlado, através de campanhas publicitárias massivas e até mesmo do estabelecimento de legislação internacional específica que proíba essa prática errada e danosa ao planeta e a humanidade. As práticas de recuperar, reutilizar e reciclar garantirão que os empregos sejam mantidos, independentemente da haver ou não nova produção de produtos. Os produtos deverão ter a vida mais longa que for possível, a obsolescência programada deve ter fim e deve ser punida criminalmente.

Para a proteção da biodiversidade e manutenção dos ecossistemas e dos bancos genéticos, as áreas protegidas e as unidades de conservação deverão ser realmente protegidas e progressivamente ampliadas. Além disso, a recuperação florestal nas áreas degradadas de significativa importância, deverão ser priorizadas e terão que acontecer de maneira rápida para permitir a maior regeneração ainda possível. A preservação dos ecossistemas com seus bancos genéticos naturais e a manutenção de áreas verdes naturais ou não, são fundamentais para garantir a sustentabilidade planetária.

Por fim, toda a energia consumida deverá levar em conta a baixa emissão de carbono, projetando, dentro do possível, a redução do acréscimo de carbono na atmosfera e amenizando o aquecimento global. Desta maneira, o investimento em fontes de energias alternativas não degradantes, mormente solar e eólica, deve passar a ser absolutamente prioritário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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13 mar 2019

A Burocracia e a Padronização nas Escolas Brasileiras

Resumo: O texto apresenta uma abordagem referente a questão do atraso sistemático da Educação Brasileira,quando comparada a países efetivamente menos importantes que o Brasil no cenário internacional e considera que grande parte desse atraso resulta diretamente da imensa burocracia e da padronização ilógica que existe no Sistema Educacional.


Não sei bem o porquê, mas a verdade é que eu nunca gostei de padrões. Padronizar as situações, entidades ou mesmo os objetos sempre me pareceu algo desagradável e estranho, além de ser uma maneira de descaracterizar essas mesmas situações, entidades ou objetos. Aliás, na minha maneira particular de entender, considero que padronizar é um absurdo, porque padronizar é artificializar as situações, as entidades e objetos num interesse qualquer, definido por alguém, que muitas vezes não tem a ver e nem sabe nada sobre a situação, a entidade ou o objeto em questão. No que se refere as escolas, que são entidades que tratam com pessoas (seres humanos), isso me parece mais estranho, mais ilógico e mais absurdo ainda. Até porque a escola é uma entidade diferente e especial, que trata sobre a educação e o aprendizado de pessoas e sempre é bom lembrar que pessoas, além de não serem objetos quaisquer, pensam e respondem a estímulos e obviamente não podem nem devem ser tratados de uma maneira comum e padronizada.
Padronizar é uma atitude comum aos burocratas, os sujeitos que praticam e adoram a burocracia, aqueles indivíduos que criam entraves e sempre se acham mais importantes do que de fato são. A burocracia é algo que me incomoda muito e o burocrata é alguém que procura padronizar tudo o que pode. Isto é, um sujeito que sempre cria uma condição artificial no seu próprio interesse, tornando as questões quase sempre mais complicadas do que fato elas realmente são. E mais, esse sujeito faz isso, sempre visando o seu próprio interesse, mudando a realidade à sua volta e principalmente, deixando de lado, muitas vezes, por puro capricho, a verdadeira natureza das coisas e das pessoas envolvidas, as quais passam a ter que seguir a nova condição criada artificialmente por ele.
Se fizermos uma rápida investida ao dicionário à procura de encontrar um melhor conceito para as palavras burocracia e padronização, certamente encontraremos algumas definições que, em certo sentido, nos dirigirão a uma quase sinonímia entre ambas por vários aspectos. Essas duas palavras, embora tenham grafias muito distintas, tratam de assuntos muito próximos e comuns no que se refere a organização das instituições. Ambas visam estabelecer obediências hierárquicas organizacionais dentro de um sistema classificatório. Mas isso, na grande maioria das vezes, não condiz com a verdade que se observa nos sistemas institucionais em questão.
Uma cria a regra (padronização) e a outra desenvolve o modelo rígido dentro daquela regra (burocracia), entretanto, nenhuma das duas procura saber especificamente sobre a natureza daquilo que está sendo trabalhado. É como se fosse um saco genérico cheio de coisas distintas, mas onde tudo o que está dentro desse saco é considerado exatamente igual, sob todos os aspectos e assim, tudo é tratado da mesma maneira, sem nenhum respeito às peculiaridades e às individualidades.
Por outro lado, é preciso que seja dito, que a educação e as escolas têm feito com as pessoas, ao longo da história, é exatamente isso, ou seja, artificializar as suas naturezas, criando padrões imaginários que se supõem sejam corretos. Isto é, as escolas vêm padronizando, ou melhor, “coisificando” as pessoas histórica e progressivamente e consequentemente burocratizando (complicando) o ensino.
Mas, a questão educacional está entravada exatamente aí. O que deve ser considerado correto? Por que isso deve ser considerado correto? Qual o critério para definir o que é correto? Quem estabeleceu que esse critério ou essa condição como correta? Enfim, por que tem que existir uma padronização curricular, se a realidade e a necessidade podem ser e geralmente são diferentes?
É claro e óbvio que há necessidade de se estabelecer um mecanismo de orientação e um certo balizamento, quando se fala de ensino e educação, mas isso não quer dizer que se deva engessar toda a educação dentro de normas rígidas e intransponíveis, como se o processo educacional estivesse numa redoma totalmente fechada. Até porque, ao meu ver, isso além de restringir a capacidade individual, acaba mascarando a inteligência e obstruindo a criatividade do aluno (estudante), o que certamente são atitudes antipedagógicas, ou melhor, são atitudes que deseducam.
A história tem nos mostrado que nem sempre os grandes gênios das artes e das ciências foram “bons alunos”. Aliás, ao contrário, em geral esses gênios foram (são) pessoas inconformadas e insatisfeitas com as escolas e com os padrões nelas estabelecidos. Esses sujeitos eram (são) pessoas avessas às normas das escolas e por isso mesmo não eram (são) “bons alunos”, ou pelo menos não eram (são) “bons alunos” no conceito padronizado esperado pelas escolas e seus tutores. Há inclusive quem defenda que eles só foram efetivamente gênios porque fugiram aos padrões tradicionais estabelecidos.
Assim, tem me preocupado bastante o fato de que o país está criando e estabelecendo (já estabeleceu) um “novo modelo” curricular para o Ensino Médio, desenvolvido por burocratas e que pretende ser mais um “padrão nacional”. Será que o Brasil, o quinto país do mundo em área geográfica (muito maior que toda a Europa), com a sexta população do planeta (208 milhões de habitantes) deve mesmo estabelecer um “novo modelo” curricular assim?
Peço vênia, aos mais entendidos no assunto, mas penso que isso é mais uma ilogicidade nacional e, o que é pior ainda, trata-se de uma inconveniência grotesca com a nação brasileira. Penso que ao invés de um “novo modelo” rígido, deveríamos ter critérios amplos e deveríamos estabelecer possibilidades de favorecimento àquilo que transcendesse aos padrões criados. Um país como o nosso não precisa e não pode ter padrões curriculares e vou tentar demonstrar porque penso assim.
Na educação, infelizmente estamos cheios de burocratas e assim a questão educacional emperra e se complica muito mais por conta dessa burocracia idiotizante do que qualquer outra coisa pertinente. Mas, obviamente, eu e quero crer que a maioria das pessoas de senso, acredita que isso não deveria, de maneira alguma, ser dessa forma. Isto é, o processo educacional deveria ser mais leve, mais flexível e menos emperrado. Até porque a educação é uma questão especial, que destaca o homem das demais formas vivas e não deveria ser tratada como uma questão qualquer dentro de um saco onde existem outras coisas. A educação tem que ser algo de trato diferenciado e a burocracia, filha pródiga da padronização, com sua característica genérica, vulgariza a educação e só complica e prejudica o processo educacional.
A educação é certamente a mais importante das questões humanas e deve ser considerada como prioridade absoluta sobre todas as demais questões que dizem respeito a humanidade, mormente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. A burocracia educacional atravanca todo o processo e isso é inadmissível num país que precisa educar seu povo para se desenvolver mais e galgar um lugar melhor entre as diferentes nações do mundo.
Estou convencido de que; “quanto mais se burocratiza e padroniza a educação, menos se educa efetivamente”. Assim, a ideia de desenvolver e investir em modelos únicos num país como o nosso, além de ser uma falácia impraticável e um retrocesso sociológico, também significa esquecer os possíveis padrões naturais do Brasil e culturais do povo brasileiro. Ora, certamente, esse esquecimento não é nada conveniente, principalmente quando se trata de educação, pois como será possível educar as pessoas desconsiderando a realidade à sua volta?
Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecidos pelo Ministério da Educação como modelos educacionais para o país, falam o tempo todo na necessidade de contextualização, mas agora mesmo, só para dar um exemplo, o governo está estabelecendo a padronização do currículo do Ensino Médio e gritando aos quatro ventos que isso é um grande negócio. Ora, isso não faz nenhum sentido. Talvez até seja preciso padronizar mecanismos (procedimentos) de ensino, mas não se deve padronizar currículos jamais, haja vista que os currículos devem surgir da necessidade próxima.
Penso que deveriam ser estabelecidos princípios educacionais claros e suficientemente abrangentes, a partir dos quais seriam desenvolvidos os currículos, de acordo com as realidades e as necessidades regionais, ou mesmo locais, desse país continental. A padronização curricular, imposta pela burocracia governamental, a meu ver, certamente irá prejudicar o processo educacional como um todo. Os alunos terão sua realidade modificada por um conhecimento irreal e muitas vezes aviltada por informações menos importantes do que aquelas que lhes são mais próximas. Por sua vez, os professores deverão ter sérias dificuldades de adequação dos seus conteúdos disciplinares aos diferentes interesses estabelecidos pela nova ordem legal imposta, apesar de todo apelo promocional mentiroso feito pela propaganda que circula na mídia, pois os modelos estabelecidos são genéricos e não consideram a regionalização.
Meus Deus, será que é tão difícil entender que a informação fornecida no Rio Grande do Sul não pode ser a mesma que a do Amazonas? Mas, é melhor eu me explicar, antes que me critiquem e me chamem de preconceituoso ou mesmo separatista. O nível do ensino deve ser o mesmo, a metodologia pode até ser a mesma, mas a informação necessariamente é diferente, porque as realidades ambientais, sociais e culturais são diferentes, por vários motivos. Temos que parar com esse negócio de achar que todo mundo é igual, porque isso acaba sendo uma afirmação mais perigosa e comprometedora do que simplesmente entender que todos são diferentes e que devem ser aceitadas, respeitadas, entendidas e trabalhadas essas diferenças.
A cultura humana se forma da diversidade e a padronização interfere drasticamente nesse processo. A padronização é bastante preconceituosa, quando trata todos de uma única maneira, porque ela pressupõe uma maneira (certa ou errada) a ser tratada e assim desconsidera as outras maneiras, não respeitando a diversidade cultural e isso sim, me desculpem os entendidos, é que se traduz numa forma de preconceito. Por isso mesmo, é que, a meu ver, a educação tem que ser livre de padrões que possam engessá-la, mesmo que seja parcialmente.
A educação presa e engessada obviamente é antipedagógica e sobre tudo preconceituosa e anticultural. Desta forma esse tipo de educação não deve servir para um país com tamanha diversidade como o Brasil e que pretende e precisa crescer no cenário internacional. Baseado nesse fato, creio que precisamos regionalizar a educação brasileira para poder torna-la mais verdadeira e para que a nação possa colher os frutos dessa educação mais produtivamente.
A burocracia é um mecanismo que sobremaneira e costumeiramente tem atrapalhado, cada vez mais, ao processo ensino-aprendizagem com sua “coisificação” humana e a padronização, quando põe tudo dentro da mesma regra, acaba fazendo o mesmo. Assim, esses dois conceitos, não deveriam ter tanta importância na educação. Aliás, não deveriam ter importância nenhuma. Desta maneira, devo concluir que tanto a burocracia quanto a padronização não servem aos interesses da educação desse país e por isso resolvi produzir essa pequena reflexão.
Por favor, tentem avaliar o meu raciocínio e, se puderem, digam que estou errado. Precisamos ter coragem de “sair da caixinha”, se é que queremos realmente melhorar a educação desse país e sair do marasmo do subdesenvolvimento. Os exemplos que outros países emergentes nos trazem pelo mundo afora são diametralmente opostos ao que se está pretendendo fazer aqui no Brasil e observem ainda que esses outros países têm tamanhos, populações, ambientes e condições culturais, extremamente menores e menos diversificadas que as nossas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Ambientalista
e Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL)