17 set 2016

APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Resumo: Este artigo diz respeito ao risco que se anda correndo com a aplicação da metodologia intitulada “aprender fazendo”, que, para muitos, desobrigou o professor da condição de ter que ensinar e o aluno de ter aprender, bastando apenas repetir determinada ação. Entendo que essa metodologia, da forma como está sendo conduzida em muitos casos, seja muito perigosa, porque traz um retrocesso no processo de ensino-aprendizagem e na formação intelectual do aluno e assim, esse mecanismo precisa ser melhor trabalhado para que seja evitada a tendência que se observa de “coisificação do ensino” e a “robotização do aluno”.


APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Nos últimos tempos, não sei bem o porquê, mas a maioria dos professores, educadores e outros profissionais ligados direta ou indiretamente à Educação têm reforçado a ideia de que “aprender fazendo” é a melhor maneira de aprender. Eu confesso que tenho minhas dúvidas sobre isso e, por isso mesmo, estou aqui para dar minha modesta opinião sobre a questão e colocar minha cara exposta aos tapas, embora saiba que as críticas muito provavelmente virão.

Para começar, eu quero dizer que o ser humano é uma entidade biológica dotada de uma grande massa cefálica, a qual, dentre outras coisas, lhe permite a capacidade de pensar e que essa capacidade deve ser incentivada, pois o ser humano precisa utilizar bastante essa massa cefálica, até mesmo para se completar como humano. Por outro lado, embora seja inquestionável a nossa condição animal, não devemos ser tratados como animais de circo ou coisas semelhantes, cujo treinamento e a repetição leva ao “aprendizado”, sem o uso da massa cefálica, ou seja, que permite a realização das coisas, porém sem quase nenhuma atividade neurossensorial que justifique o entendimento dessas coisas.

Nós humanos não nascemos para ser apenas adestrados a fazer coisas. Penso que nascemos principalmente para pensar, criar e aplicar ações sobre as diversas coisas e questões, exatamente nessa ordem. Isto é, primeiro pensamos e entendemos, depois criamos e por fim aplicamos o conhecimento pensado. Aliás, me parece que é exatamente isso mesmo que nos difere dos demais animais, ou seja, a nossa capacidade efetiva de aprender e ter a consciência real (conhecimento) daquilo que verdadeiramente aprendemos. Adestramento não é algo bom para os seres humanos, ou, pelo menos, não deveria ser, porque certamente não é bom para humanidade, haja vista que não agrega nenhum valor a nossa verdadeira condição de seres humanos.

Cada um de nós tem, ao seu modo, necessidade de aprender e de entender as coisas e os seus respectivos porquês. Isso é intrínseco de nossa espécie, pois somos curiosos e criativos por natureza. Temos necessidade de compreender para que serve? Onde se aplica? Como se aplica? E qual o resultado efetivo daquilo que estamos aprendendo e de sua aplicação? Precisamos saber se o desenvolvimento dessa prática terá um resultado positivo ou negativo para os demais humanos. A teoria aliada à prática é fundamental para que seja possível completar o aprendizado.

Infelizmente, acho que as pessoas estão confundindo o objetivo verdadeiro das ideias John Dewey* de ensinar através de projetos com esse tipo de “aprender fazendo”, pois eu tenho observado muitas situações em que o aprendiz tem sido levado a resolver problemas (fazer coisas) sem nenhuma preocupação com as causas e nem com as consequências desses problemas, pois as atividades são meras formalidades impostas para serem resolvidas, apenas se faz e não se discute e obviamente assim não se entende, de fato, aquilo que se faz. Essa é uma prática viciante e infundada, que, embora possa produzir um resultado efetivo, no que se refere ao trabalho, não gera praticamente nenhuma cognitividade. Ora, me desculpem os leitores, mas efetivamente esse procedimento não implica em aprender e assim também não pode descrito como “aprender fazendo”. Isso é apenas e tão somente repetição sem discussão e essa repetição não agrega conhecimento nenhum, apenas “macaqueia” algo que já existe.

Assim, a meu ver, esse “aprender fazendo” é muito pouco, porque muitas vezes não permite ao aprendiz, a possibilidade de responder nenhum dos questionamentos citados acima. “Aprender fazendo”, muitas vezes, apenas coloca o aprendiz na condição de resolver (geralmente sem entender) uma determinada situação, sem qualquer consideração ulterior. Assim, penso que essa situação de “aprender fazendo” é uma possibilidade real de “fazejamento” (desculpem o termo) sem planejamento, o que acaba levando a acabamento sem envolvimento e o que é pior, sem nenhum entendimento, o que me parece ser indesejável e extremamente perigoso à mente humana, principalmente as mentes dos mais jovens, que tendem a ficar viciadas ao repetir ações inconsequentemente.

Desta maneira, embora eu seja ciente de que é fundamental fazer, pois, como disse Aristóteles: “é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”.  Entretanto, por outro lado, sempre será necessário um mínimo de informação sobre aquilo que se faz, pois do contrário, a emenda pode sair pior que o soneto e ao invés de levar o indivíduo a aprender, se desperdiça a capacidade de aprendizado, pois se acostuma com a realização da ação e se pensa que sabe, quando na verdade, se desaprende, porque apenas se repete algo que não se é capaz de explicar. Não há conhecimento nesse tipo de situação, ocorre apenas um praticismo. O que é mais significativo desse fato é que, na verdade, se desaprende cada vez mais, exatamente aquilo que nem se quer se foi capaz de tentar aprender, porque apenas se repetiu.

Vou esclarecer melhor, porque está parecendo muito confuso, mas essa questão é confusa mesmo. O que eu quero dizer é o seguinte: “pior do que não saber e achar que se sabe alguma coisa, quando se é capaz de resolver algumas questões puramente operacionais sobre essa coisa”. Esse conhecimento puramente empírico nos permite “alguns direitos”, nos evidencia “alguns poderes” e, por conta disso mesmo, infelizmente também nos leva a cometer inúmeros erros, muitos dos quais, talvez, por força do hábito, ocasionalmente condicionem à compreensão e entendimentos errados, a partir de procedimentos corretos.

Em suma, entendo que a ideia de “aprender fazendo”, em certo sentido e em muitos casos, acaba sendo uma falácia do aprendizado que não condiz com a realidade necessária ao indivíduo humano e nem mesmo justifica, muitas vezes, à realidade que se objetiva alcançar. “Aprender fazendo” pode ser e lamentavelmente muitas vezes é, apenas um mero adestramento do ser humano para uma determinada função que ele passa a exercer como um autômato qualquer.

Baseado nos argumentos apresentados e como já foi dito, ciente de que sofrerei muitas críticas, eu quero chamar a atenção para algumas situações reais que têm decorrido dessa pretensa condição de “aprender fazendo”, que tem sido estabelecida por muitos profissionais da educação, sem a devida preocupação do aprendizado em si.

Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) em todos os seus diferentes textos disciplinares falam constante e repetidamente em contextualizar o conteúdo, o que obviamente é muito importante e necessário na formação do aprendiz, além de condizer com a realidade cotidiana necessária. Entretanto também é necessário se mentalizar o conceito que se quer manifestar por trás do contexto, pois é isso que na verdade justifica a necessidade, além de implicar e induzir à sua aplicabilidade, além de apresentar e demonstrar os efeitos costumeiros das atividades. Contextualizar não é apenas praticar, mas é traduzir uma ação real e próxima do cotidiano do indivíduo. Para que essa tradução se dê a contento é preciso conhecimento e discussão do ambiente, da parafernália instrumental e de todas as questões envolvidas.

Quando o aluno apenas repete e não faz nenhuma reflexão devida sobre aquela aplicação da realidade à sua volta, não está havendo contextualização efetiva, está acontecendo apenas e tão somente uma atividade prática, muitas vezes viciada que, além de não determinar nenhum tipo de aprendizado real, “coisifica” a pessoa que a pratica e não condiz com a necessidade efetiva do entorno. Aquela ação se repete sem controle e o que é pior, sem causa e nem consequência aparente. Não existe nenhuma aquisição de conhecimento na repetição de uma prática efetuada, apenas e tão somente, pela simples repetição. Essa ação é, quando muito, mais um treinamento, um adestramento de uma técnica que não agrega valor intelectual a quem pratica e principalmente não fornece nenhuma vantagem perceptiva aos demais seres humanos envolvidos direta ou indiretamente.

Vou dar um exemplo bem brasileiro, para tentar esclarecer melhor o que estou tentando dizer.

Jogar futebol é uma prática interessante e existem alguns indivíduos que são efetivamente fantásticos e geniais com essa prática, mas muitos desses indivíduos, a despeito de toda as qualidades técnicas que possuem, não conseguem, se quer, entender dos seus instrumentos de trabalho, ou seja, do campo, da tática, da bola, do juiz etc…. O jogador precisa saber que todas essas coisas, além do fato dele ser um excelente prático (habilidoso jogador de futebol), atuam no intuito de transformar a habilidade prática que ele possui a seu favor, ou melhor, a favor de seu time, já que futebol é um esporte coletivo, ou mesmo a favor da sua torcida ou de toda a comunidade envolvida.

Entender que o futebol é um esporte coletivo e que não dá para ganhar qualquer partida sozinho por mais qualidade técnica que qualquer jogador tenha, é uma condição fundamental para quem joga futebol, independentemente da capacidade prática que qualquer jogador possa ter. Entender também que o futebol é uma atividade que envolve milhões de pessoas e uma infinidade de recursos, além daquelas que estão em campo é fundamental para que o jogador possa ter sucesso pessoal e profissional.

Em suma, o melhor jogador do mundo, não venceria no pior time, nem num país pobre de futebol e sem nenhuma torcida. Posso até estar errado, mas contextualizar para mim é isso, ou seja, é trazer a maior abrangência possível daquilo que faz, para que haja compreensão exata da importância da ação que se desenvolve e isso só pode ser possível com algum entendimento da ação. Um grande jogador, além de técnica apurada, tem que conhecer um mínimo sobre o futebol, tem que se enquadrar em algumas normas regimentais do futebol e também tem que ser capaz de opinar e discutir sobre sua função como jogador de futebol na sociedade. Não basta apenas, correr atrás da bola, dar belos dribles e fazer gols.

O comprometimento, o profissionalismo, a ética, a intelectualidade são valores pertinentes ao humano, que precisam estar envolvidos em qualquer ação antrópica. Nenhum jogador de futebol e nenhum outro profissional de qualquer área pode ser um idiota, que faz, mas não sabe explicar o que faz. Nenhum ser humano se basta por si só, apenas fazendo algo. Com certeza, qualquer questão relacionada com a aprendizagem, que é uma atividade humana fundamental e característica de nossa espécie, pois nos difere dos demais animais, obviamente acontece a mesma coisa, inclusive com o agravo de que o aprendiz, como o próprio nome diz, ainda está efetivamente aprendendo a fazer algo.

Um aluno (aprendiz), a priori, não pode apenas responder questões corretas ou realizar tarefas, pois é fundamental que ele seja capaz de saber porque está respondendo as questões e realizando as tarefas e ainda, quais são as aplicabilidades atuais e futuras que elas atividades podem ter. Ou seja, onde essas respostas e tarefas se inserem dentro dos interesses humanitários e sociais. Alguém já disse que: “mais difícil do que dar respostas é fazer perguntas” e eu quero aqui também afirmar que “mais difícil do que fazer tarefas e saber porque elas são feitas”. Certamente, apenas o conhecimento permite a elaboração de perguntas diversas e esclarecedoras sobre os determinados assuntos e também a elaboração de tarefas convenientes à sociedade. O ser humano só começa a entender, quando é capaz de questionar (fazer perguntas) e saber por que, para que e para quem servem as questões e tarefas desenvolvidas

Respostas corretas e ações óbvias nem sempre são mecanismos oriundos de atividades compreendidas mentalmente, porque muitas vezes são ações mecânicas e automatizadas que não garantem a existência de nenhum incremento intelectual no âmago do aluno (aprendiz). Desta maneira, como já foi dito, a ideia pura de “aprender fazendo”, pode ser apenas um vício que se tem, que se repete e que até se pode melhorar progressivamente, mas que na verdade não se conhece e consequentemente não se é capaz de entender e muito menos de explicar.

Resumindo, eu quero dizer que a ideia de “aprender fazendo”, embora possa ser boa por um lado, é sim, por outro lado, uma ideia perigosa, que embora possa produzir excelentes práticos, tende a produzir também muitos profissionais intelectualmente inferiores e creio que a humanidade não precisa trabalhar para produzir seres humanos desse naipe. Isto é, “gente que sabe fazer, mas não sabe explicar conceitualmente aquilo que faz”. Ao contrário, a humanidade deve procurar produzir seres humanos progressivamente mais capazes. Por conta disso, certamente existe necessidade de se avaliar e se adequar melhor um verdadeiro mecanismo de “aprender fazendo”, para evitar a má formação e mesmo a “coisificação” da pessoa por trás do estudante (aprendiz), do técnico ou do profissional, seja ele qual for.

Humanos não podem e nem devem ser adestrados, entretanto no mecanismo proposto de simplesmente “aprender fazendo”, pelo que pude observar em várias situações reais, na vida escolar cotidiana, pelo menos, em tese, existe grande possibilidade de que isso ocorra. Não somos autômatos, nem animais de circo, ao contrário, somos seres pensantes e capazes de criar novos mecanismos a partir do conhecimento que temos e precisamos trabalhar isso cada vez mais e não nos limitarmos a somente repetir coisas.

As escolas, os educadores e os professores sejam eles quais forem, têm um compromisso com a humanidade de trabalhar para criar homens cada vez melhores e mais capazes e não apenas de tentar favorecer condições para manter os homens sempre iguais. O desenvolvimento do conhecimento humano é o que permite o verdadeiro crescimento da humanidade e precisamos investir todos esforços possíveis nessa realidade. Temos que buscar sempre o aprimoramento e a melhora do conhecimento humano e nada que seja diferente disso pode prosperar no que se refere ao aprendizado.

 

*Leitura Recomendada
DEWEY, John. Experiência y Educación, Buenos Aires: Editorial Losada, 1958, 125p.
DEWEY, John. Democracia e Educação, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959, 3a. edição. 416p.
DEWEY, John. Vida e Educação, São Paulo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978, 113p.
 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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05 set 2016

QUANDO A BIOLOGIA TEM QUE FAZER A DIFERENÇA

Resumo: O texto atual é na verdade uma homenagem em comemorativa do Dia do Biólogo (03/09) e também um chamamento aos Biólogos brasileiros para que invistam melhor e divulguem mais sobre a importância da Biologia e do conhecimento biológico nos tempos atuais. O texto ressalta a necessidade do governo e da mídia promoverem e intensificarem as ações em prol da manutenção da vida humana sobre a Terra e indica que a Biologia e os Biólogos devem ser os principais protagonistas dessas respectivas ações.


QUANDO A BIOLOGIA TEM QUE FAZER A DIFERENÇA

Nos tempos atuais é relativamente comum encontrarmos aleatoriamente, aqui e ali, pessoas envolvidas com as questões ambientais e particularmente preocupadas e com a degradação ambiental em escala planetária causada pelas atividades antrópicas. A Terra já não suporta mais o “bicho homem” e por conta das nossas ações, o ano que deveria durar 365/366 dias completos, “tem terminado cada vez mais cedo”. Este ano de 2016, até aqui o mais curto, chegou ao fim no dia 8 de agosto. Vou esclarecer melhor, pois obviamente o ano continua, de fato, tendo 365/366 dias, mas os recursos possíveis de serem utilizados pela humanidade por ano, têm progressivamente acabado bem antes do final do ano. Embora o ano não tenha acabado, os recursos teoricamente disponíveis deste ano já se foram.

Assim, dos 365 dias deste ano de 2016, os últimos 145, já foram tomadores de recursos que seriam programados para o ano que vem. O pior é que esses recursos também estão se perdendo na ampliação do passivo ambiental que a humanidade tem construído ao longo da história. Na verdade temos vivido uma ilusão semelhante ao “cheque especial”, você gasta aquilo não tem e depois tem que pagar os débitos, com os devidos juros. O problema é que na natureza não existe juros, para cobrir o rombo e o que está perdido, está real e efetivamente perdido. Ou seja, a cada ano perdemos um pouco mais do planeta e de acordo com a maneira como vivemos, não temos como recuperar essa perda e assim o débito só aumenta. Essa situação, obviamente precisa ter um fim, porque se isso continuar, muito brevemente a coisa vai ficar totalmente inviável e aí ninguém, de antemão, pode afirmar o que irá acontecer.

Obviamente existem vários profissionais, das mais diversas áreas do conhecimento e atividades, envolvidos direta ou indiretamente com as questões ambientais em todo o mundo e obviamente todo esse pessoal está bastante preocupado com a situação crítica que se apresenta na Terra. Entretanto, a maior parte desse contingente de ambientalistas, constitui-se de pessoas abnegadas, as quais, por puro “feeling”, ou por fatores e interesses próprios, se engajaram na luta pela melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente, mas sem nenhum jeito e principalmente, sem qualquer conhecimento de causa. Na realidade, não existe quase nada institucionalizado na maioria dos países e assim essas pessoas lutam por que querem, por causa própria ou como se fossem rebeldes sem causa.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a partir de agosto de 2000, criou os 8 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), os quais foram recentemente substituídos e ampliados pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e incluídos na chamada “Agenda 2030”. Porém, esses ODS parecem ter sido criados, muito mais como justificativa para apresentar trabalho do que efetivamente para resolver problemas. A “Agenda 2030”, embora muito interessante, não parece ter contagiado a maioria dos 165 países signatários e assim, tudo continua como “dantes no quartel de Abrantes”.

Na área estritamente ambiental, de fato, nada se faz para reduzir o uso dos recursos naturais e reduzir os impactos planetários, ao contrário a exploração insana continua progressivamente. Na área econômica, nada se faz para conter o consumismo inconsequente, ao contrário a propaganda praticamente obriga o cidadão comum a comprar e consumir. Na área social as coisas continuam seguindo praticamente da mesma maneira que estavam antes da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio, 92) e pouco se fez para melhorar de fato a vida das comunidades mais carentes do mundo. Quer dizer, na realidade nós continuamos na mesma balada de violência contra o planeta e as ações efetivas de mudança são muito tímidas ou não acontecem. É claro que existiram melhorias pontuais, mas essas foram pouco significativas para mudar a tendência do quadro drástico que se vivencia.

Por outro lado, nós Biólogos, somos profissionais que temos a devida dimensão da desgraça, pois sabemos exatamente ou deveríamos saber, o que está realmente acontecendo e temos a responsabilidade maior de informar a verdade, de maneira clara e correta, para os demais setores da sociedade, além de exigir a postura adequada dos administradores públicos e sugerir as mudanças efetivas. Cabe lembrar que, pelo menos aqui no Brasil, o governo e a mídia não cumprem bem a obrigação de proteger e divulgar sobre o meio ambiente e tudo que a ele se relaciona.

A Constituição Federal no artigo 225 diz que: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (Grifo nosso), porém isso tem sido mais “para inglês ver”, do que para orientar os cidadãos brasileiros sobre as verdades. É aquele binômio antagônico que todos já conhecem: “a lei é boa, mas o governo é ruim” e assim o que está no papel, continua apenas e tão somente no papel.

Por conta desse lamentável clima de irresponsabilidade generalizada do governo e pelo desinteresse da mídia, só sobraram a Biologia, o conhecimento biológico e os Biólogos para tentar informar sobre como proceder nas questões ambientais e assim tentar separar o joio do trigo, entre a picaretagem imposta por setores do governo e principalmente da mídia, que só se manifesta quando tem algum interesse significativo, mas sempre tangenciando a questão para não se envolver e correr o risco de perder alguma vantagem adicional. É preciso estar atento à Legislação que anda em constante mudança para atender aos interesses escusos e inverídicos e também a propaganda perniciosa que circula por aí deformando a realidade das questões ambientais.

Recentemente foi encaminhado ao Congresso, o Projeto de Lei (PL) 3200/15, do deputado Covatti Filho (PP-RS). O citado deputado tratava agrotóxico (veneno), com o singelo nome de “produto fitossanitário” e pretendia substituir a atual Lei de Agrotóxicos (Lei Federal 7.802/1989) e ninguém ouviu falar nada sobre isso, tão pouco a imprensa publicou alguma coisa, sobre a tal “comissão especial” que seria criada para analisar o referido projeto e muito menos sobre o andamento desses trabalhos. Em março de 2016, o referido projeto foi apresentado e aprovado por unanimidade no Parlamento do Mercosul sob coordenação do senador Roberto Requião (PMDB-PR) e teria sido aprovado no Senado se não fossem as pressões dos ambientalistas e da sociedade civil em geral, através das redes sociais e também através de cobranças mais diretas sobre alguns parlamentares. Mas, por felicidade, os ambientalistas, aqueles abnegados de quem falei acima, ganharam mais uma batalha e o projeto foi arquivado.

Entretanto, não dá para esmorecer, porque outros do mesmo nível, visando facilitar os interesses das empresas produtoras desses venenos estão embrionados por aí e breve vão tentar eclodir. É preciso ficarmos atentos, porque os interesses são muitos e a mídia não fala nada sobre o assunto. O lobby do setor agroquímico é muito grande e muito forte, pois cala a boca da imprensa, ludibria alguns setores do governo que deveriam impedir certas leis e “gratifica” outros setores governamentais para conseguir seu intento. Então, a diferença para tentar equilibrar essa balança absurda de interesses perniciosos para alguns ambientes específicos, ou para o planeta como um todo, só pode ser feita pelos setores mais radicais do ambientalismo e por setores técnicos e científicos da Biologia Ambiental (Ecologia) como ciência e pelos respectivos profissionais dessa área.

As questões ambientais necessitam ser tratadas como prioridades científicas, antes de interesse políticos e principalmente devem ser entendidas especificamente como necessidades ambientais e sociais, antes de quaisquer interesses puramente econômicos. Essas questões precisam ser consideradas como prioridades máximas, dentro de preceitos estritamente biológicos, porque do contrário, não haverá solução para a maioria das questões planetárias e para a continuidade da espécie humana na Terra.

É necessário que sejam desenvolvidos programas de orientação e divulgação verdadeiros, com boas técnicas de linguagem e comunicação, para que o Brasil possa recuperar o passivo ambiental, além de promover e aplicar novos padrões tecnológicos no setor de meio ambiente. Esses programas deverão divulgar, informar e principalmente transmitir para as comunidades todas as alternativas possíveis nas diferentes questões. Os órgãos ambientais precisam cumprir as suas obrigações legais e desta maneira se estabelecerem como órgãos ambientais de fato e de direito, deixando de fazer concessões absurdas para grupos de interesses.

Como já foi dito, no atual estado de coisas, além dos ambientalistas, apenas a Biologia e nós Biólogos, somos os responsáveis primários por levantar os problemas, identificar suas causas e propor metodologias para as respectivas soluções, encaminhando essas informações aos governos (nas 3 esferas do Poder) e à mídia. Por outro lado, existe a necessidade de que essas coisas sejam efetivamente promovidas pela mídia e tratadas com a devida austeridade pelos governos. Os setores de meio ambiente dos governos foram criados e existem para garantir a manutenção dos ambientes em condições sadias e equilibradas, perpetuando a qualidade ambiental e não para defender interesses corporativistas de quem quer que seja.

Transparência nas ações é a condição primária para a manutenção da qualidade ambiental e somente a Biologia, como ciência da vida, desobrigada de qualquer envolvimento com outras causas e interesses, será capaz de produzir ressonância e trazer as respostas comunitárias e sociais, integralmente compatíveis com os verdadeiros interesses planetários. Os anseios de vida longa para a nossa espécie, dependem totalmente das condições planetárias favoráveis e somente atitudes biocêntricas poderão conduzir a humanidade à possibilidade de uma existência mais longa no planeta.

Nós Biólogos, temos, pois, que fazer o dever de casa, que consiste em: introduzir o cérebro na pesquisa, enfiar a mão na massa e a colocar a boca no trombone. Só nós, profissionais da Biologia, de fato e de direito, somos capazes de entender que a extinção prematura da espécie humana se aproxima de forma clara e rápida. Por outro lado, também só nós somos capazes de interceder e tentar impedir que essa desgraça ocorra tão rápido quanto se desenha. Parece incrível, mas o mundo necessita de nós e conforme o tempo passa, essa dependência está ficando cada vez maior e não é possível que apenas alguns de nós participem mais ativamente dessa luta pela manutenção da vida humana na Terra.

Essa verdade insofismável e também bastante inconveniente, de que a espécie humana está perto do fim, ainda não parece ter sido entendida pelas comunidades pelo mundo afora e aqui no Brasil menos ainda. Aliás, a sociedade em geral, nem tem, absolutamente, nenhum conhecimento de que esse é um risco real iminente, até porque, além da própria mídia não acreditar nisso e dos governos não estarem nem aí para esse fato, muitas religiões atuam na contramão da humanidade e a favor da extinção da espécie, porque se mantêm arcaicas e reforçam os erros produzidos ao longo da história. Assim, ninguém encara as questões ambientais globais dentro da realidade e seguimos “brincando com fogo”, até que o fim da humanidade chegue.

Somente com uma mudança radical de comportamento é que vamos conseguir nos manter vivos no planeta por um tempo mais significativo. A Biologia tem que fazer a diferença para que essa mudança aconteça. Isto é, as verdades biológicas relacionadas com a dinâmica das populações, com o crescimento exacerbado das populações, com a resistência do meio, com a limitação física dos ambientes e outras, precisam ser ditas e evidenciadas para toda população humana, independentemente de qualquer interesse contrário.

É preciso dar uma chance a humanidade para que ela, pelo menos, possa tentar não sucumbir tão rápida e assustadoramente. Questões individuais ou mesmo de grupos específicos não podem mais ser respaldadas ou consideradas interessantes e nem devem servir de modelos, pois apenas os interesses planetários coletivos e a manutenção da espécie humana têm que ser as únicas prioridades para a humanidade e o povo brasileiro precisa estar efetivamente engajado nesse princípio.

Que nesse 3 de setembro, em que completamos 37 anos de regulamentação de nossa profissão, nós Biólogos brasileiros, sejamos capazes de levar a cabo essa ideia da importância da Biologia na luta pela preservação do planeta e da vida, particularmente aqui no Brasil, onde ainda existe bastante falta entendimento e interesse dos governantes, da mídia e consequentemente das comunidades. E necessário também, que esse 3 de setembro seja um marco para que nossa profissão possa crescer para tentar alcançar o mesmo nível de importância que já conseguiu em outros países.  Se a Biologia como ciência e possivelmente a única alternativa viável para as soluções planetárias, o Biólogo como profissional da Biologia tem que ser o ator principal no solucionamento dos problemas planetários e o Brasil precisa saber disso. Parabéns a todos e vamos à luta.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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28 ago 2016

A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E AS RELIGIÕES OCIDENTAIS

Resumo: O texto atual faz uma abordagem sobre as diferentes posições das religiões ocidentais no que diz respeito à Evolução Biológica. O texto chama a atenção das religiões, principalmente as mais conservadoras de que a Evolução Biológica é um fato científico comprovado e que tentar negar esse fato é andar na contramão da história e isso não pode ser benéfico nem mesmo para essas religiões.


A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E AS RELIGIÕES OCIDENTAIS

Infelizmente ainda existem inúmeras pessoas que insistem em contestar, algumas vezes até energicamente, a Evolução Biológica, o fato evolutivo, quando na verdade, este é o único fenômeno que age como mecanismo integrador e orientador da vida e de toda diversidade biológica planetária. Assim, a evolução, que deveria ser o argumento norteador de qualquer referencial relacionado à vida, ainda sofre críticas absurdas, infundadas e principalmente baseadas em crendices já desmistificadas cientificamente. Salvo raras exceções, a grande maioria das pessoas, quando questionadas sobre o assunto Evolução Biológica, apenas nega a possibilidade da existência desse mecanismo, ou faz alguns gracejos, relacionando, algumas vezes até violentamente, qualquer relação do homem com o macaco.

Na realidade, até por conta de certas religiões reforçarem essa ideia na cabeça de grande parte dessas pessoas, parece que a Evolução Biológica se resume exclusivamente a esse pretensa questão, de que o homem tenha surgido do macaco, o que obviamente é uma falácia. Por conta desses desencontros e dessa grande inverdade repetitiva e até religiosamente apoiada, resolvi escrever um pouco sobre a questão, no intuito de tentar diminuir a distância entre a verdade, as crendices e as mentiras deliberadamente ditas e repetidas sobre o mecanismo de Evolução Biológica. Obviamente, sou ciente de que não vou esgotar o assunto e nem acabar com os questionamentos, mas penso que, ainda assim, devo manifestar minha opinião e estou aproveitando esse espaço, que é meu, para fazer isso.

Para começar, devo dizer que as ideias de Evolução Biológica são muito mais antigas do que a maioria das pessoas pensam, pois, de alguma maneira, já eram consideradas nos livros sagrados dos Vedas, que foram escritos por volta de 1500 a.C. e que determinam as bases do Hinduísmo e das vários outras religiões resultantes dessas bases. Entretanto, aqui entre nós ocidentais, que ficamos presos por dogmas e outras situações religiosas poderosas que nos foram impostas ao longo da história, as ideias evolucionistas foram mantidas de lado, esquecidas e afastadas da sociedade e geral, por interesses outros.

Aqui no Ocidente, somente uns poucos pensadores ousaram fazer referências às possibilidades evolutivas. Dentre esses cabe lembrar principalmente Jean-Baptiste de Lamarck, Charles Robert Darwin, Charles Lyell e Alfred Russel Wallace, mas mesmo assim, isso só ocorreu depois do fim da Idade Moderna (1789). Na realidade, as ideias de Lamarck, encontradas no livro “Philosophie Zoologique”, onde o autor expõe seu pensamento e apresenta seus argumentos evolucionistas (a transmutação das espécies ao longo do tempo), só foram publicadas em 1809. Quer dizer, nossa civilização ocidental só começou a tomar contato com as ideias evolucionistas a pouco mais de 200 anos.

Quer dizer, para nós ocidentais, Evolução é realmente uma maneira nova (diferente da que existia) de pensar e que só se tornou possível a partir do rompimento com certos pressupostos, oriundos de pensamentos religiosos. Por outro lado, ao que parece, o evolucionismo também passou a ser mais admitido em decorrência de novos pensamentos religiosos. Engraçado e curioso o fato de que, enquanto existem religiões que se antagonizam fortemente com as ideias da Evolução Biológica, em contra partida existem outras que simplesmente se congregam e até se justificam com as ideias da Evolução.  De qualquer maneira, como tudo que é novo (diferente) assusta, o fato de muitos indivíduos ainda não admitirem a Evolução Biológica não chega a causar estranheza total e nem traz nenhuma grande novidade, porque o comportamento humano é assim mesmo.

A maioria de nós, aqui no ocidente, tem a origem religiosa, principalmente a partir das ideias judaico-cristãs, as quais, desde o início, sempre foram totalmente contrárias à Evolução Biológica e a qualquer preceito evolutivo, haja vista que fomos criados sobre a égide de que: “Deus criou todas as criaturas e fez homem à sua imagem e semelhança, para reinar sobre as demais criaturas”. Nesse caso, o mundo foi produzido (criado) do jeito que está e sempre esteve, por um demiurgo e continuará sempre sendo assim. Obviamente nesse tipo de pensamento fixista, não tem como caber qualquer noção de Evolução Biológica.

Entretanto, as coisas mudaram e algumas religiões, infestadas de preceitos contidos em seitas orientais adentraram o ocidente, trazendo novas (diferentes) ideias. A partir do século XVI, com as viagens transoceânicas, com os descobrimentos e com o nascimento daquilo que hoje se conhece como Ciência Moderna, as coisas começaram a mudar mais acentuadamente. Pretensas verdades das escrituras sagradas do Gênesis caíram por terra. O Cristianismo e o Judaísmo foram questionados e alguns de seus pilares que ainda não caíram, ficaram significativamente estremecidos. O Cristianismo se fragmentou em dois blocos iniciais: o Catolicismo e o Protestantismo e depois o Espiritismo que também se estabeleceu dentro na base do pensamento cristão, embora ainda haja algumas contestações a esse respeito, por parte de alguns cristãos, mas isso não nos interessa neste momento.

A Ciência, por sua vez, cada vez mais incrédula, materialista, implacável e eficaz, na busca do conhecimento e da verdade, foi trazendo novas dimensões ao pensamento humano, demonstrando e comprovando os fatos. Obviamente, ainda não explicou tudo e possivelmente nunca vá explicar algumas coisas, até porque existem situações que não dependem de comprovação científica, pois se constituem em puro ato de fé.  Essas situações são inquestionáveis, até porque ato de fé, sempre será ato de fé e não adianta explicação lógica para quem põe a fé acima da realidade.

Por outro lado, a Filosofia, não pode mais ficar restrita a alguns pensadores do passado e assim novos pensadores surgiram e outros do passado, que estavam esquecidos, porque tinham pensamentos diferentes dos padrões que interessavam aos poderosos, renasceram e ganharam o direito de ter suas ideias postas nas mesas de discussões. Porém, ainda hoje, independente daqueles que assumem o ato de fé, há quem desconfie da verdade, porque, como já foi dito, o ser humano é assim mesmo e se as verdades levam muito tempo para se estabelecerem, certamente elas levam muito mais tempo ainda para se solidificarem.

Enfim, é nesse contexto confuso e cheio de contradições e discordância entre Filosofia e Religião, que em meados do século XVII nasce a Ciência Moderna e no início do século XIX, Jean-Baptiste Lamarck ousa escrever e publicar a sua “Philosophie Zoologique” e aí surge o primeiro texto efetivamente evolucionista, onde o autor defende abertamente a progressão das formas vivas. Lamarck foi o primeiro ocidental a defender clara e abertamente numa publicação, a possibilidade da existência de um mecanismo evolutivo responsável pela origem, desenvolvimento e manutenção da vida no planeta, quando observou e sugeriu que os ambientes impõem necessidades aos organismos que neles habitam. Porém, coitado do Lamarck, por infelicidade e por falta de informação mais consistentes àquela época, ele baseou suas ideias em argumentos frágeis e hoje, sabida e realmente errôneos, que foram: a Herança de Caracteres Adquiridos e a Lei do Uso e Desuso.

Desta maneira, suas ideias foram alvos de inúmeras críticas, algumas dessas críticas originárias de poderosos e conceituados cientistas daquela época, como Georges Cuvier e August Weismann, e acabaram sendo definitivamente derrubadas. Mas, é bom lembrar que foram essas ideias erradas de Lamarck que mantiveram a noção da existência da Evolução Biológica e do evolucionismo sobrevivendo no pensamento humano por mais de 50 anos. O valor de Lamarck e de sua obra, apesar do embasamento errôneo, são fundamentais e incontestáveis a causa evolucionista. Entretanto, a teoria evolucionista só se estabeleceu efetivamente em 1859, quando Charles Darwin publicou a sua obra máxima, “On the Origin of Species”, na qual apresenta novos fatos, novas informações e principalmente um argumento coerente, a Seleção Natural, como base para tentar explicar a Evolução Biológica e ainda considerando que a Seleção Natural consiste na própria necessidade para que a vida tenha continuidade planetária.

Obviamente não preciso mais falar de Darwin e nem de seu livro famoso, porque todos (evolucionistas ou não) já conhecem, haja vista que seu livro é o livro não religioso mais lido no mundo, até hoje. Entretanto, eu quero lembrar que o seu argumento, a Seleção Natural, não é ideia exclusiva sua, porque existe outro pesquisador, menos famoso, pois é quase sempre esquecido dos livros e assim quase nunca aparece nas discussões e nem é muito conhecido da maioria da população, mas que é coautor desse argumento, trata-se de Alfred Russel Wallace. Ambos, Darwin e Wallace “trabalharam unidos” na elaboração e na publicação da Teoria da Evolução através da Seleção Natural.

A partir do momento da publicação da Origem das Espécies, o pensamento evolutivo criou corpo e disseminou-se pelo mundo afora e hoje, a grande maioria dos seres humanos ocidentais e todo o mundo, pensam exatamente como Darwin e Wallace, ou seja, que a Evolução Biológica é um fato que ocorre, porque precisa ocorrer, haja vista que o ambiente “impõe obrigações e exigências” aos organismos vivos (como já havia sido sugerido por Lamarck). Os organismos para sobreviverem necessitam se adaptar as “ações impostas” e assim as modificações vão surgindo naqueles que estão aptos para assumirem essas mudanças, enquanto aqueles que não estão aptos, não se adaptam e acabam perecendo e tudo isso é diretamente controlado e tratado pela Seleção Natural.

A frase acima resume relativamente bem a grande ideia da Evolução Biológica, que hoje é algo praticamente incontestável para a esmagadora maioria dos cientistas sérios do planeta e consequentemente pela maioria dos seres humanos. Entretanto, há necessidade de esclarecer que, na verdade, não existe uma “imposição efetiva”, por isso mesmo as afirmações estão entre aspas, mas mesmo por condições naturais, sempre ocorrem ocasionalmente mudanças no código genético das espécies vivas e aquelas que são benéficas, isto é, que tem significativo valor de sobrevivência para aquela espécie e naquele ambiente, têm forte tendência a serem repetidas e assim são reproduzidas e acabam por se manter.

Ao longo do tempo (cerca de 160 anos), com o progresso popular do pensamento evolutivo, algumas religiões foram se projetando mais e outras foram sendo esquecidas. Dentro do Cristianismo, o Catolicismo, depois de quase 100 anos de resistência, assumiu a ideia evolucionista, com a Encíclica Humani generis do Papa Pio XII, em 12/08/1950, sendo apoiado e promovido pelo Papa João Paulo II (25/10 1996) e recentemente corroborado pelo Papa Francisco (28/10/2014). Entretanto, ainda existem alguns grupos católicos renitentes e resistentes, que ainda torcem o nariz quando alguém os relaciona, ainda que por brincadeira, com macacos. Pois então, esses católicos que fogem aos preceitos doutrinários não deveriam ser considerados católicos verdadeiros, mas essa é outra questão que não cabe ser discutida aqui.

O Protestantismo em suas mais diversas vertentes, ainda não aceita o Evolucionismo e o que é pior, algumas dessas vertentes se embasam em crendices absurdas, além de produzir argumentos contrários fraudulentos, sem nenhuma conotação científica, para tentar derrubar argumentos científicos, o que não faz o mínimo sentido. Desta maneira, a questão que deveria ser tratada de maneira séria, chega ao nível mais baixo do ridículo. Bem, não vou discutir sobre isso, mas a verdade é que não se consegue entender o porquê dessa necessidade quase vital de manter o pensamento criacionista nas religiões protestantes, haja vista que o fato de aceitar o evolucionismo como mecanismo que mantém e diversifica a vida na Terra, não implica em negar a existência de um Deus e muito menos diminui a importância da existência de um ente maior.

O Espiritismo é a única das religiões cristãs que já nasceu com a convicção evolucionista. Aliás, coincidência ou não, Alan Kardec e Charles Darwin publicaram suas obras clássicas na mesma época: o Livro dos Espíritos (1857) e a Origem das Espécies (1859) e essas duas correntes de ideias cresceram paralelamente no pensamento popular.  Ao contrário das outras duas religiões cristãs, o Espiritismo não só concorda com o evolucionismo, como considera a Evolução uma característica preponderante para sua fundamentação.

Estamos no século XXI e a Evolução Biológica hoje é entendida como um fato científico aceito pela maioria das pessoas, mas ainda existem alguns indivíduos que, por crendices, ignorância, questões religiosas, ideológicas ou mesmo por qualquer situação de foro íntimo, não admitem o processo evolutivo e alguns ainda criam os mais diversos argumentos e motivos para tentar explicar essa forma de pensar. Além disso, nós ainda temos muitas besteiras e asneiras escritas em inúmeros livros, mesmo em livros escolares de ciências, porque muitas pessoas ainda não entendem bem essa questão.

Por exemplo, aquela imagem conhecidíssima da “escalada para o progresso”, onde aparecem várias figuras enfileiradas, que vão se transformando, a partir da primeira delas, que é um macaco, até a última, que é um homem moderno. Ora, essa imagem não tem absolutamente nada a ver com a Evolução Biológica, mas muitas pessoas, mesmo algumas pretensamente evolucionistas, utilizam essa imagem como uma maneira para explicar a Evolução Biológica, o que é mais lamentável ainda. Aliás, também existem várias piadas, evolucionistas ou antievolucionistas, que foram desenvolvidas a partir dessa mesma imagem ridícula.

A Evolução só acontece por meio de mutação em organismos assexuados ou por meio de mutação ou reprodução em organismos sexuados. Desta maneira, nenhum macaco vira homem e nem vice-versa, mas a modificação ocasional de alguma forma macaco anterior pode ter produzido um macaco diferente, mas os outros não tiveram necessariamente que desaparecer. Ambos as formas derivadas podem e geralmente continuam coexistindo, vivendo e se adaptando as novas situações e necessidades que lhes são “impostas”.

Assim, o homem não veio do macaco, mas ambos têm um ancestral comum, que permitiu a formação de outros primatas, inclusive da espécie humana. Quer dizer, o macaco e o homem tem a mesma origem ancestral e nesse sentido, somos todos primatas, ou seja macacos, mas “eu não acredito que os atuais macacos estejam preocupados ou se sintam ofendidos com esse fato”, então também não vejo motivo para que os homens tenham tanta preocupação com essa situação ou que fiquem desconfortáveis com isso. Infelizmente a questão real, reside no fato de que a maioria de nós ainda acredita que “somos feitos a imagem e semelhança de Deus” e obviamente Deus não pode ser uma macaco.

A “escalada para o progresso” não é a única imagem e nem a única besteira que está por aí impressa nas informações referentes à Evolução Biológica, porém certamente é a mais conhecida e esse tipo de coisa precisa ser combatido para que sejam esclarecidas as situações conflitantes. A Evolução Biológica não é um programa que caminha numa direção de progresso, a Evolução Biológica é uma situação de tentativa e erro, em que as espécies se ajustam (adaptam) aleatória e ocasionalmente em função das diferentes possibilidades que estão ambientalmente estabelecidas, buscando assim, a melhor maneira de viver no local em que se encontram.

O que dá certo, isto é, aquilo que tem valor de sobrevivência maior para a espécie, tende a ficar e se manter e o que não dá certo tende a continuar se modificando. É isso mesmo, a Seleção Natural, como o nome diz, seleciona naturalmente aqueles que possuem as melhores condições para aquela situação naquele momento, no entanto as coisas estão sempre mudando, inclusive a base física muda por condições climáticas e geomorfológicas. Assim, o que está bom hoje, pode não estar bom amanhã e as espécies que obviamente querem continuar vivendo têm que estar sempre se adaptando, por isso a Seleção Natural também está sempre agindo. Em suma, a Evolução Biológica é o resultado da melhor tendência num dado momento e isso não tem necessariamente um padrão ou uma ordem progressiva, cada situação diferente pode produzir um caminho diferente.

Na Evolução Biológica não existe determinismo, não é uma coisa programadamente dando outra melhor, a Evolução Biológica é uma coisa tentando uma condição de viver em melhores condições e que não está obrigatoriamente determinada de ser algo progressivamente melhor, dentro de uma linha de orientação continua. A melhora adaptativa, não tem que significar obrigatoriamente uma melhora morfológica, fisiológica, estrutural, comportamental ou coisa parecida. A melhora adaptativa é apenas uma questão de ajuste, orientado pela Seleção Natural, que nunca para de acontecer, porque sempre é possível modificar alguma coisa num determinado lugar e se estabelecer de maneira mais adaptada e isso é continuo em todas as espécies do planeta, inclusive em nós, os seres humanos. Alguns desses ajustes, quando vantajosos, são repetidos (reproduzidos) e acabam por se fixarem e outros não.

Não é possível, de antemão, afirmar como a Evolução Biológica vai se portar, ou seja, para que lado ela vai ou que resultado ela vai produzir. A única certeza que se tem é que, mais cedo ou mais tarde, mudanças sempre irão naturalmente ocorrer com os organismos vivos, porque a Seleção Natural é imperativa e terminante. Os seguidores das religiões ocidentais, principalmente aqueles das várias vertentes do Protestantismo, precisam assumir a realidade evolutiva e entender que Deus independe da Evolução, mas negar a realidade científica nos tempos atuais é, no mínimo, um contrassenso que as pessoas, independentemente religiões que sigam, não precisam cometer.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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11 ago 2016

A Monotonia e Perigo das Monoculturas

Resumo: O texto atual faz uma comparação genérica e levanta um alerta para a questão perigosa do crescente aumento e áreas de monocultura e da redução progressiva das áreas naturais.São destacados alguns dos principais problemas que se originam dessa situação e também são citadas algumas questões preocupantes em relação ao assunto, como a preocupação exclusiva com o aumento da produção agrícola e o uso indiscriminado de agrotóxicos, que compromete o ambiente e os organismos.


A MONOTONIA E O PERIGO DAS MONOCULTURAS

Quem já esteve no interior de uma mata natural e no interior de uma Monocultura, quaisquer que sejam, além da monotonia da paisagem na monocultura, certamente também conseguiu perceber que não são apenas dois ambientes distintos. Na verdade, a diferença que se estabelece entre uma área de monocultura e uma área de mata natural é imensa. São efetivamente dois mundos extremamente distintos e a discrepância entre esses mundos é semelhante àquela que ocorre da água para o vinho. Embora ambos sejam ambientes vegetados como duas formas de florestas, assim como a água e o vinho são substâncias líquidas, mas os componentes presentes em cada um deles, nos permitem concluir que o vinho é mais denso, mais complexo e consequentemente mais completo e mais organizado que a água.

A monocultura e a mata natural apresentam claras diferenças na complexidade, na conformação e na organização, em consequência do enorme hiato entre a biodiversidade de ambas. A fauna e a flora tanto quantitativa, quanto qualitativamente são extremamente distintos. Além disso, o piso (chão) é diferente, a temperatura média é diferente, a umidade relativa é diferente, o cheiro é diferente e até mesmo o humor das pessoas dentro de cada uma dessas áreas vegetadas fica diferente.

Na monocultura praticamente não existe nenhuma diversidade, pois tudo é muito semelhante. A pessoa anda, anda, anda e parece que que não saiu do lugar, porque a paisagem é sempre a mesma. Enquanto que na mata natural (qualquer mata natural), a pessoa não consegue dar nenhum passo sem observar coisas e situações extremamente distintas. A riqueza de biodiversidade numa mata natural, por menor que seja, é imensa, se comparada a qualquer monocultura. Principalmente quando se trata de uma região tropical como a nossa.

Entretanto, além da observação desses aspectos puramente visuais e também dos sensoriais, que talvez sejam menos atraente e perceptivos, a monocultura traz inúmeros outros problemas, os quais são muito mais sérios ao ambiente e necessitam ser informados e discutidos em alguns de seus detalhes, para que possam ser progressivamente minorados e sanados.

Por exemplo, o solo que suporta uma monocultura tende a ser fraco e estar viciado, porque sempre sofre exploração dos mesmos recursos básicos (nutrientes) ficando cada vez mais carente desses nutrientes específicos e consequentemente sobrecarregado de outros. Com o passar do tempo, periodicamente o solo da monocultura necessita ser arado e adubado para garantir sua fertilidade, a manutenção do cultivo e a consequente produção. O custo de manutenção desse solo é muito caro.

Por outro lado, os insetos e demais animais que, por ventura, vivem na região dessa determinada monocultura, são sempre os mesmos e quando, por qualquer motivo, não são os mesmos, as formas diferentes que aparecem acabam se tornando pragas terríveis, porque não existe competitividade com outras espécies, haja vista que a variabilidade de espécies é muito pequena nesse tipo de ambiente. Praticamente não existe biodiversidade e assim, o ambiente da monocultura como um todo é frágil e sempre está perigosamente sujeito ao desequilíbrio e ao extermínio, pois basta apenas um pequeno deslize para que esse ecossistema artificial acabe rapidamente.

Já nos ambientes com matas naturais, o risco de extermínio natural é praticamente inexistente e só poderá ocorrer por conta de situações catastróficas naturais muito severas, haja vista que a própria biodiversidade desse tipo de ambiente sempre garantirá a sobrevivência de algumas espécies e a manutenção de parte do ambiente primitivo, o qual poderá se regenerar e se recompor ao longo do tempo. Quanto mais diversificado for um determinado ambiente, certamente maior também será a sua vitalidade. Por isso mesmo, os ecossistema naturais são mais resistentes do que os artificiais e essa resistência é, em grande parte, uma consequência da própria biodiversidade do ecossistema.

Mas, ao longo da história da humanidade, o homem, em sua ação usurpadora e colonizadora dos ambientes naturais, tem transformado ativamente muitos ambientes naturais em áreas de monocultura, de maneira perigosa e comprometedora à capacidade de suporte dessas áreas e isso tem se repetido em todo o planeta, por conta da necessidade cada vez maior de novas áreas de monoculturas. Como a população humana não para de crescer, as necessidade de recursos naturais para alimentação, construção e outras atividades produtivas de interesse exclusivo da humanidade são progressivamente mais necessárias.

Além disso, não sei explicar o motivo real e penso que não ninguém que saiba explicar fora de um contexto econômico, mas, independentemente da necessidade real, sempre se trabalha no sentido de uma produção maior do que de fato se precisa. Assim, novas áreas estão continuamente sendo transformadas em áreas de monocultura para a produção. Cabe ressaltar ainda que, para que a produção seja garantida, existe também a necessidade de que vários tipos de venenos (Agrotóxicos) sejam colocados diretamente sobre a cultura ou sobre o solo onde a mesma está se desenvolvendo, no sentido de impedir ou controlar a ação de possíveis pragas.

Em suma, a monocultura é ruim e nociva por vários aspectos concomitantes, pois enfraquece e envenena o solo acabando com a diversidade de microrganismos, homogeneíza a demanda de nutrientes e assim esgota certos recursos rapidamente. Além disso, a monocultura empobrece toda a biodiversidade área, pois os animais em geral tendem a desaparecer do local, porque com a mudança drástica da vegetação, também diminuem sensivelmente as possibilidades alimentares. Somente as espécies de animais relacionadas com a monocultura conseguem se manter, o que também homogeneíza a fauna.

Se não bastasse isso, com essa homogeneização da fauna na monocultura, as espécies consideradas pragas tendem a produzir resultados mais significativos aos seus interesses, em detrimento da própria monocultura que se quer explorar, porque não existindo competição e quase nenhum inimigo natural ou predador dessa espécie, ela tende a se multiplicar mais ainda. O resultado disso é a necessidade de aplicação de mais veneno na cultura para evitar que as populações de pragas aumentem, o que seleciona ainda mais as formas resistentes, contamina mais o solo e consequentemente a água.

O Brasil é lamentavelmente já faz algum tempo, o “campeão mundial no uso de agrotóxico” e continuamos crescendo no consumo dessas substâncias, envenenando cada vez mais novas áreas e nos intoxicando paralela e progressivamente. É nesse momento que surgem os contrários e questionam: “mas, sem as monoculturas nós não conseguiremos viver, sem elas, como

vamos produzir a madeira, o alimento, o papel, as essências, as coisa em geral que tanto necessitamos”?

Bem, eu quero dizer que que isso infelizmente ainda é uma verdade. Nós ainda precisamos muito de algumas monoculturas tradicionais, mas essa situação pode e deve ser modificada gradativa e progressivamente, se houver interesse de se investir pesadamente em Agroecologia, em Silvicultura Natural e em Cultivo Orgânico. Enfim, investir em Economia Verde. É óbvio que nossa dependência do atual modelo ainda é muito grande, mas já está bem claro que esse modelo nos levará seguramente a estagnação dos solos e ao fim dos ecossistemas naturais. O pior é que levará também, ao envenenamento da água, das pessoas e de grande parte dos animais, principalmente dos grandes predadores, aqueles que ocupam o topo das Cadeias Alimentares nos diferentes ecossistemas, por conta da Magnificação Trófica.

Não será possível desintoxicar todas as pessoas e animais já intoxicados, mas é possível intoxicar cada vez menos e garantir o aumento gradual da fertilidade dos solos, manter a diversidade dos microrganismos e contaminar menos as águas. Já possuímos conhecimento tecnológico suficiente para produzir quase sem poluir, mesmo em larga escala. Só precisamos mudar o modelo, que só pensa na produção quase exclusivamente, como fonte de lucro e não como necessidade social humana e muito menos como garantia de continuidade dos ecossistemas naturais. Temos que programar uma forma de produção embasada no conceito de sustentabilidade no seu sentido mais estrito. Isto é, o futuro da espécie humana tem que ser garantido pelas populações do presente.

Apesar de tudo, ainda assim continuarão existindo determinadas culturas agrícolas em que serão necessárias as aplicações das práticas tradicionais em algumas situações e em alguns lugares. Nessas situações, enquanto não for possível empregar novas tecnologias específicas, obviamente deverão ser mantidas e desenvolvidas algumas atividades da tecnologia agroecológica já conhecidas, como rotação de culturas, adubação verde e as áreas de plantios intercaladas com áreas “in natura”, para minimizar os danos e as sequelas. Certamente levará algum tempo para recuperar o passivo ambiental, mas com o desenvolvimento de trabalho sério, continuidade e perseverança, vamos chegar lá.

Até levamos pouco mais de 150 anos de uso dos agrotóxicos, se levarmos o dobro ou mesmo o triplo desse tempo para recuperar algumas áreas envenenadas e principalmente, se deixarmos de envenenar novas áreas, certamente já terá valido à pena. A natureza não precisa de nossa colaboração mais efetiva, se indicarmos a direção devida e o sentido desejado, a natureza seguirá no caminho do nosso interesse corretamente. Até aqui, nós temos atuado contra a natureza, mas a partir de agora temos que andar do seu lado.

As gerações futuras desde já agradecem a nossa consideração e preocupação. Só garantiremos a manutenção biodiversidade natural, se pararmos de degradar, de poluir, de contaminar e em particular, se trabalharmos com afinco para minimizar as monoculturas e o uso de agrotóxicos. Dizem que o futuro a Deus pertence, mas é preciso trabalhar na linha certa, porque milagres só acontecem com quem acredita neles. Precisamos urgentemente, fazer a nossa parte. Tenho certeza que Deus estará olhando e cuidando do restante.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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23 jul 2016

“COBRAS” QUE NÃO SÃO OFÍDIOS

Resumo: O texto atual traz pequenas descrições e imagens de alguns animais morfologicamente parecidos com Ofídios (cobras ou serpentes) e que até são conhecidos da população como se fossem cobras verdadeiras, mas que na realidade não são Ofídios. O objetivo do artigo é tentar minimizar ou mesmo evitar as confusões entre as verdadeiras cobras e esses animais.


“COBRAS” QUE NÃO SÃO OFÍDIOS

Os Ofídios constituem animais Vertebrados pertencentes a Classe dos Répteis, da Subclasse dos Escamados, vulgarmente conhecidos por cobras (serpentes), que se caracterizam por apresentar o corpo coberto por escamas ósseas envolvendo o corpo, assim como os seus primos os Lacertílios (lagartos), dos quais se diferem pela presença do palato quadrado que permite uma impressionante abertura bucal. Os Ofídios apresentam um corpo alongado, geralmente sem patas, que se locomove através de ondulações oriundas das fortes contrações da musculatura associada à grande coluna vertebral, na qual se ligam uma infinidade de costelas. Habitam os mais diversos ambientes terrestres e aquáticos e são naturalmente adaptados como animais predadores.

A dentição é, talvez a principal característica dos Ofídios, porque embora todas as serpentes sejam venenosas, é a partir da dentição que pode se considerar se uma serpente peçonhenta ou não. As serpentes peçonhentas são aquelas capazes de inocular o veneno diretamente e é somente com essas que devemos ter cuidados especiais. Existem quatro padrões de dentição: áglifa (sem dente inoculador de veneno), opistóglifa (dente inoculador posterior), proteróglifa (dente inoculador anterior e sulcado), solenóglifa (dente inoculador anterior e canalizado).

Os dois primeiros tipos envolvem serpentes que não têm como inocular veneno e assim não são consideradas perigosas e a grande maioria das cobras pertencem a esses grupos, particularmente o segundo. Os outros dois grupos envolvem as cobras que efetivamente oferecem perigo. As proteróglifas compõem o grupo das corais e najas, que apresentam dente inoculador pequeno e com uma calha externa por onde escorre o veneno durante a picada. As solenóglifas compõem o grupo das cascavéis, jararacas, urutus e jararacuçus, que apresentam dente inoculador grande e com um canal interno por onde passa o veneno durante a picada. Desta maneira, a eficiência das solenóglifas e maior que a das proteróglifas na introdução do veneno, mas isso não quer necessariamente dizer que suas toxinas sejam mais ou menos perigosas.

Os Ofídios lamentável e injustamente são, assim como outros animais pouco conhecidos, historicamente muito perseguidos pela maioria das pessoas, as quais por conta exata do desconhecimento, se limitaram a mata-los sem nenhum constrangimento. Atualmente essa carnificina tem diminuído, mas ainda existe muito desconhecimento e muita crendice sobre a realidade das serpentes e isso acaba complicando inclusive outros animais parecidos com serpentes. Esse artigo pretende tratar exatamente sobre esses outros animais que são confundidos com as serpentes e acabam sendo vitimados também por puro desconhecimento da população. Se matar as serpentes, pelo simples fato delas serem serpentes, já é um grande erro, então matar outros animais apenas por serem parecidos com elas é um absurdo muito maior.

OS DIVERSOS ANIMAIS ASSEMELHADOS ÀS SERPENTES

Como foi dito acima, existem vários animais que se assemelham morfologicamente com serpentes e por conta dessa “infeliz” semelhança, acabam sendo vitimados pelas pessoas e nesse artigo existe a pretensão de tentar esclarecer sobre essas situações e assim evitar, ou pelo menos minimizar, que se continue matando alguns desses animais indevida e indefinidamente. Se as serpentes merecem viver, mesmo sendo serpentes, certamente os demais animais também.

Tenho dito em minhas aulas, palestras e mesmo em alguns de meus textos que: “a ignorância (o desconhecimento) é o maior dos males da humanidade”. No caso em questão, em função das diferentes fobias que as pessoas podem apresentar em relação às serpentes, o nível da ignorância acaba produzindo inúmeros crimes contra a fauna, contra a natureza e contra a vida. Desta maneira, entendo que existe necessidade de explicar um pouco mais sobre essa questão.

Os animais que são perecidos com serpentes podem pertencer a diversos grupos zoológicos, pois podem ser desde anelídeos até mesmo outros répteis. O medo das serpentes é tal que, de maneira geral, quando uma pessoa observa qualquer animal de corpo alongado e ápode (sem patas), automaticamente imagina que se trata de uma serpente e, obviamente uma serpente peçonhenta, e assim a preocupação é imediatamente matar o animal. Entretanto, se as pessoas se derem o direito de, mesmo de longe, tentarem observar esses animais, certamente poderão identificar inúmeras diferenças entre eles e as verdadeiras serpentes e assim não precisarão mata-los.

Os diversos animais que se assemelham às serpentes, aqui no Brasil, são os seguintes:

1 – No filo do Nematomorfos existe o grupo dos Gordioideos, que se compõem de espécies de vermes parasitas de Artrópodes, principalmente Insetos e Crustáceos, que vivem na água doce ou na proximidade de ambientes hídricos. Os hospedeiros ingere os ovos dos Nematomorfos e as larvas se desenvolvem até atingirem o estágio jovem, quando saem através da abertura anal dos hospedeiros. Os hospedeiros morrem e a partir de então os Nematomorfos assumem a vida livre nos ambientes aquáticos, mas essa é uma vida curta, porque seu trato digestivo e atrofiado e praticamente vivem da reserva alimentar que trazem do hospedeiro, tendo tempo apenas para reproduzir e depois morrem.

Esses animais são conhecidos como “cobras-de-cabelo”, porque seu corpo longo (podem atingir 1 metro de comprimento) e fino (cerca de 1milímetro de espessura). De fato eles se assemelham aos fios da crina dos cavalos e a crendice popular imaginava que na verdade eram originados diretamente delas, Além disso, a crendice também sugere serem animais perigosíssimos e extremamente venenosos, o que obviamente não é verdade, pois são totalmente inofensivos.

[caption id="attachment_1100" align="alignleft" width="300"]figura 1 FIGURA 1[/caption] [caption id="attachment_1099" align="alignright" width="251"]FIGURA 2 FIGURA 2[/caption]


As figuras 1 e 2 apresentam dois exemplares de Nematomorfos do Gênero Gordius, na figura 1 observa-se uma animal adulto e na figura 2 um animal saindo pelo ânus de um grilo.

2 – No filo dos Anelídeos existem os Oligoquetos gigantes da família dos Glossoscolecídeos (os Minhocões ou Minhocuçus), que são animais exclusivos da América do Sul. Algumas dessas minhocas gigantes podem atingir 2 metros de comprimento e embora sejam totalmente inofensivos e não pareçam nada com cobras assustam aos menos avisados. As Minhocuçus são animais terrestres encontrados geralmente enterrados em galerias em locais úmidos, apresentam um corpo todo anelado e mole, com uma região diferenciada evidente (Clitelo), que guarda seus órgão reprodutivos. Tem uma cutícula externa fina, mas não existem nenhumas escamas e também não possuem nenhum tipo de estrutura esquelética, sendo portanto animais ainda invertebrados.

[caption id="attachment_1102" align="alignright" width="215"]figura 4 FIGURA 4[/caption] [caption id="attachment_1101" align="alignleft" width="229"]figura 3 FIGURA 3[/caption]

                        

 


As figuras 3 e 4 apresentam dois exemplares de Glossoscolecídeos (Minhocuçus).

3 – No Filo dos Cordados, na Classe dos Peixes, existem os Sinbranquídeos (Muçuns) e os Gimnotídeos (Tuviras), os Murenídeos (Moreias) e os Anguilídeos (Enguias).

Os Muçuns (Peixes-Cobras) são encontrados na água doce, não possuem as nadadeiras pares características dos peixes e têm pele lisa e sem escamas. As Tuviras também são peixes ósseos de agua doce, que também têm a pele lisa e uma longa nadadeira anal. A esse grupo pertence o famoso “Poraquê” (peixe-elétrico) da Amazônia. O movimento serpenteante é a característica mais chamativa na comparação desses animais com Ofídios, mas as diferenças são bastante fáceis de identificar.

As Enguias e as Moreias são peixes marinhos de corpo assemelhado aos muçuns, que algumas pessoas confundem com serpentes. Na verdade existem serpentes marinhas realmente perigosas, mas aqui na Costa Atlântica do Brasil não são encontradas nenhuma dessas espécies de Ofídios marinhos que ocorrem nas regiões asiáticas.

[caption id="attachment_1104" align="alignright" width="300"]FIGURA 6 FIGURA 6[/caption] [caption id="attachment_1103" align="alignleft" width="300"]FIGURA 5 FIGURA 5[/caption]        








 
 
[caption id="attachment_1105" align="alignleft" width="300"]FIGURA 7 FIGURA 7[/caption]
[caption id="attachment_1106" align="alignright" width="300"]FIGURA 8 FIGURA 8[/caption]
 
 
 
 
 
 



As figuras 5, 6, 7 e 8 apresentam, respectivamente, exemplares de Muçum, Tuvira, Moreia e Enguia.

4 – No Filo dos Cordados, na Classe dos Anfíbios, existem os Gimnofionos, da família dos Cecilídeos (Cobras-Cegas ou Minhocões). Esses animais, embora tenham o corpo alongado como o das serpentes, possuem uma anelação característica, que não é encontrada em nenhuma serpente verdadeira e não apresentam escamas dérmicas características dos Ofídios.

[caption id="attachment_1108" align="alignleft" width="300"]FIGURA 9 FIGURA 9[/caption] [caption id="attachment_1107" align="alignright" width="300"]FIGURA 10 FIGURA 10[/caption]






As figuras 9 e 10 apresentam dois exemplares de Cecilídeos (Cobras-cegas).

5 – No Filo dos Cordados, na Classe dos Répteis, na Subclasse dos Escamados, na Ordem dos Lacertílios, existem duas Famílias, os Anguilídeos (Cobras-de-Vidro) e os Anfisbenídeos (Cobra-de-Duas-Cabeças), que apesar de serem até conhecidos como cobras, não são ofídios e sim lagartos ápodes (sem patas). No caso dos Anguilídeos, ainda é possível identificar os vestígios das patas posteriores, mas os Anfisbenídeos são efetivamente sem patas.

O nome Cobra-de-Vidro resulta da semelhança com os Ofídios e da capacidade de quebrar (autotomia) e depois regenerar a parte posterior do corpo nesses animais, o que é muito comum nos Lacertílios. Já o nome Cobra-de-Duas-Cabeças resulta da pretensa semelhança que esses animais aparentemente apresentam entre a cabeça e a parte terminal do corpo, o que efetivamente é um exagero, porque as duas extremidades são bastante distintas.

[caption id="attachment_1112" align="alignleft" width="300"]FIGURA 11 FIGURA 11[/caption] [caption id="attachment_1111" align="alignright" width="300"]FIGURA 12 FIGURA 12[/caption]






As figuras 11 e 12 apresentam exemplares de Cobras de Vidro, destacando-se os vestígios das patas na figura 12.

[caption id="attachment_1110" align="alignleft" width="300"]FIGURA 13 FIGURA 13[/caption] [caption id="attachment_1109" align="alignright" width="300"]FIGURA 14 FIGURA 14[/caption]






As figuras 13 e 14 apresentam exemplares de Cobras de Duas Cabeças, procurando demonstrar a semelhança entre a cabeça e a cauda.

Por mais semelhança que possa existir, é preciso deixar claro todos esses animais são praticamente inofensivos, a exceção do Poraquê, que só existe na Bacia Amazônica e de algumas enguias que podem produzir descargas elétricas e das moreias que podem morder seriamente, que só ocorrem nos mares. Os demais não oferecem qualquer tipo de perigo aos indivíduos da espécie humana e principalmente nenhum deles possui glândula de veneno. Além disso, se for observado atentamente todos eles apresentam características inúmeras externas muito distintas dos verdadeiros Ofídios, basta olhar um pouco mais atentamente que essas diferenças podem ser facilmente identificadas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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25 maio 2016

Biodiversidade Brasileira, uma questão que precisa de cuidados

Resumo: O texto atual pretende ser um alerta para a população no que diz respeito à Biodiversidade Brasileira e a necessidade de informação sobre essa questão. O Brasil, historicamente nunca se preocupou com o fato de ter a maior biodiversidade planetária e já passou da hora de nos envolvermos mais proximamente com essa situação. É bom saber e lembrar que 1/5 das coisas vivas da Terra estão no Brasil e que isso é um problema da nação brasileira.


Biodiversidade Brasileira, uma questão que precisa de cuidados

Biodiversidade é uma palavra relativamente nova, pois até alguns anos atrás utilizávamos mais a expressão Diversidade Biológica para tratar das diferentes formas vivas da Terra, entretanto o conceito de Biodiversidade é antigo e bem conhecido da comunidade científica e dos interessados na questão, mas essa “nova” palavra expressa claramente significado que se quer abranger, Assim, Biodiversidade diz respeito a inúmera diversidade de organismos vivos existentes no planeta. A palavra Biodiversidade expressa então uma ideia geral sobre as diferentes espécies vivas que compõem todo o contingente de organismos vivos que em algum momento da história evolutiva da vida tenham ocupado a Terra.

Pois então, o Brasil é o país que possui a maior Biodiversidade do planeta, mas nem de longe, nós brasileiros, somos a nação mais preocupada com esse fato, porque a grande maioria da população brasileira não sabe disso e nem tem nenhuma informação sobre o que isso representa. Aliás, ao que parece, infelizmente, nós temos dado cada vez menos importância à Biodiversidade, a qual na verdade, consiste na nossa maior riqueza e a maioria dos brasileiros não tem nem condições de avaliar esse fato. Não sei se isso ocorre por desleixo, por desconhecimento ou por ambos, mas acredito que a falta de conhecimento sobre o tema e sua respectiva importância sejam fatores preponderantes nessa apatia sobre o assunto.

É lamentável afirmar, mas, aqui no Brasil, culturalmente sempre tratamos mal ou fomos indiferentes a nossa natureza e aos valores naturais. Vejam bem nossa postura histórica. Chamamos a mata de mato e esse mato é considerado assustador, feio e degradante, portanto precisa ser destruído. A Mata Atlântica e a Amazônia conhecem bem essa situação de destruição. Achamos nossos animais asquerosos, desinteressantes e preferimos os estranhos à nossa fauna. O coala é lindo e o gambá é nojento! Até mesmo nossa diversidade puramente antrópica (cerca de 220 tribos remanescentes, das mais de 1300 do passado e as 170 línguas ainda existentes) é totalmente desconhecida da imensa maioria da população brasileira. Legal mesmo são os Apaches e os Moicanos, que se danem os Tupiniquins. Enfim, de maneira geral, o cidadão comum não conhece a Biodiversidade, não se interessa e nem é levado a se interessar por ela.

Quando a ONU instituiu oficialmente o dia internacional da Biodiversidade, em 22 de maio de 1992, nós brasileiros ainda não tínhamos muita noção do que o termo significava e hoje, embora já saibamos o significado da palavra, ainda não temos a verdadeira dimensão do que isso implica e da responsabilidade que temos, por sermos abrigadores de cerca de 20% de todas as espécies vivas do planeta. Vejam bem, 20% de tudo aquilo que é vivo no planeta é brasileiro. Isto é, 1/5 das espécies da Terra estão no espaço geográfico brasileiro, aqui na Sub-região Brasiliana da Região Neotropical.

Lamentavelmente não se divulga esse fato e sua importância com a devida frequência e muito menos com a necessária ênfase, para fazer com que a população brasileira assuma uma posição proativa em relação a preservação da Biodiversidade nacional. Pouquíssimos brasileiros estão realmente cientes e envolvidos dessa situação e, aparentemente, cada vez mais esse contingente tem decrescido por falta de informação. Ou seja, nossa Biodiversidade é grande, mas nossa atenção e interação com esse fato é pequena e progressivamente tem ficado menor.

Em outras palavras, eu quero dizer o seguinte: os nossos bisavós, conheciam e se envolviam mais com a biodiversidade brasileira do que os nossos avós, e estes por sua vez, se envolviam mais do que nossos pais e os nossos pais mais do que nós”. Não posso falar dos meus bisavós taxativamente e exatamente, mas posso falar um pouco dos meus avós, dos meus pais, de mim e dos meus filhos. Ou seja, as quatro gerações com que tive contato próximo e acredito que isso permita confirmar a minha tese, de que cada vez mais se sabe menos sobre a nossa Biodiversidade, pelo menos aqui no Brasil.

A maioria das informações que tive sobre diversidade de fauna, flora e mesmo de tribos indígenas, me foram passadas pelos meus avós e pelos meus pais. Aliás, sou amante da natureza por questões “talvez genéticas”, haja vista que meu avô materno e minha mãe são a minha fonte primária de interesse pelos organismos vivos e pela natureza em geral. Embora eu tenha nascido e crescido numa grande cidade, ainda sou do tempo em que a gente andava descalço, mexia na terra, entrava na mata, tomava banho no mar, na cachoeira e no rio. Enfim, fazia todas essas “coisas absurdas”. Pois é, a gente vivia na natureza e aprendia quase tudo com ela, ou, pelo menos, a partir dela. Nossos avós e pais eram apenas para nos esclarecer dúvidas sobre plantas e animais e nos informar sobre os riscos potenciais, que naquela época não eram considerados tão importantes ou tão arriscados quanto hoje.

Assim, vivíamos mais ligados com as coisas naturais e aprendíamos mais com a própria natureza. Conhecíamos os animais e as plantas e fazíamos nossas brincadeiras a partir da nossa realidade natural, embora nunca tivéssemos ouvido falar de Biodiversidade. Confesso até que algumas vezes fazíamos coisas muito erradas, pois degradávamos ambientes e até mesmo judiávamos drástica e penosamente de alguns animais. Entretanto, essa nossa vivência nos ajudava a conhecer e consequentemente aprender relativamente bastante sobre os organismos vivos, que naquela época eram muito mais abundantes e conspícuos do que hoje, por inúmeros motivos que não cabem aqui serem discutidos.

Estudei Biologia e me formei como Biólogo não por acaso, mas porque eu sempre gostei dos organismos vivos, em particular os animais, e porque a grande diversidade e beleza deles, particularmente dos moluscos e suas conchas fabulosas, sempre me atraiu. O tempo foi passando e mesmo os meus filhos já não acompanharam os meus interesses pela natureza e suas formas. Sinto também que progressivamente os meus alunos, mesmo os do curso de Biologia, também estão cada vez mais distantes da realidade natural às suas voltas e cada vez conhecem e identificam menos as formas vivas.  A pouca convivência com a natureza tem afastado o homem da biodiversidade e do interesse por ela. Algumas dessas formas vivas, mesmo hoje, ainda extremamente comuns, a maioria dos alunos diz que nunca viu.

Observaram bem essa frase? Bem, eu vou repetir: “formas vivas, mesmo hoje, ainda extremamente comuns, a maioria dos alunos diz que nunca viu”.  Mas, como nunca viu, se ainda são extremamente comuns? Na verdade, os alunos viram sim, mas como eles não conhecem, não prestaram a devida atenção. As pessoas são incapazes de perceber e identificar o que não é interessante e aí algumas coisas passam despercebidas, porque não são importantes e não têm nenhum significado efetivo para elas. A memória não armazena ou, se armazena, não manifesta aquilo que não é importante e assim certas coisas não são gravadas ou são totalmente apagadas da nossa memória, porque não guardam relação com nada. A memória não tem registro efetivo dessas coisas e assim, elas passam despercebidas, como se simplesmente não existissem.

Vocês perceberam a gravidade dessa última frase? Vou repetir também, para que seja possível caminhar no meu raciocínio: “a memória não tem registro efetivo dessas coisas e assim, elas passam despercebidas como se simplesmente não existissem”. É exatamente isso que tem acontecido conosco, no que se refere à natureza e a Biodiversidade. Nossos valores mudaram, não se observa e não se contempla a natureza, a qual certamente não é mais um valor tão significativo e importante no pensamento coletivo, como foi para os nossos antepassados, por isso progressivamente temos dado menor importância a ela. A natureza não atrai mais como antes. Desta maneira, mesmo ocasionalmente vendo certos coisas e aspectos, não identificamos a grande maioria dessas coisas que a natureza nos apresenta, porque os nossos olhos estão lamentavelmente voltados para outros interesses.

Meus amigos, isso é um grave erro e um grande mal, particularmente num país que tem a maior biodiversidade do planeta e que precisa preservar, estudar e conhecer todo esse material natural. Como podemos fazer para que as pessoas possam agir de maneira diferente e procurem conhecer a Biodiversidade brasileira? Como preservar e proteger aquilo que não se conhece e que não se acha importante? Como é possível fazer com que as pessoas amem aquilo que não conhecem, ou melhor, que nem percebem, porque não dão nenhum valor significativo?

O Brasil tem que promover ativa e efetivamente a sua Biodiversidade e colocá-la no pensamento coletivo da sociedade brasileira, até porque o mundo lá fora sabe o que temos aqui e tem muita gente de olho nesse nosso patrimônio natural, enquanto nós mesmos aparentemente não estamos preocupados e nem interessados nas nossas riquezas naturais. É preciso inverter esse quadro e voltar aos valores antigos. Temos que divulgar e conhecer nossa fauna, nossa flora, nossos índios, nossos biomas naturais, nossas belezas cênicas, enfim, temos que propagandear nossa diversidade natural e destacar nossa condição de líderes mundiais de biodiversidade. Temos que criar mecanismos para apresentar nossa biodiversidade para os cidadãos brasileiros, para gerar uma noção de pertencimento e uma vontade de conhecer e preservar esse patrimônio na população brasileira.

O mundo hoje é quase totalmente tecnológico e eletrônico, por isso mesmo, a maioria de nós, age como máquinas e não sobra tempo para nada, principalmente no que se refere a contemplação da natureza. É claro que existem exceções e alguns abnegados, mas esse número está proporcionalmente diminuindo. Não sou contra os novos tempos e nem contra a tecnologia, ao contrário acho mesmo que a tecnologia é fundamental. Entretanto, a tecnologia é a parafernália instrumental. Isto é, a tecnologia são as ferramentas que deveriam nos ajudar a viver melhor e não pode ser nada diferente disso. Não podemos esquecer da natureza e trocar os valores naturais em prol de bens artificiais. Já inventaram até “bichinhos virtuais”. O pior é que a gente parece mesmo nem se importar com os valores naturais, pois eles acabam mesmo passando despercebidos da maioria das pessoas.

Nossa sociedade mata animais e destrói plantas como se fossem coisas de pouca ou nenhuma importância, porque nossa abundância de formas vivas é tal, que não temos a verdadeira dimensão da Biodiversidade brasileira e de seu significado para o Brasil. É preciso mudar esse quadro e construir uma nova visão que traduza para a nossa população a realidade de que a Biodiversidade brasileira é a maior riqueza nacional e que ela pode levar o país ao auge do desenvolvimento sustentável, muito mais facilmente do que pode ser imaginado no senso comum. A sociedade brasileira precisa estar engajada e inserida no contexto de que precisamos conhecer e preservar a nossa biodiversidade, até para que o Brasil possa tirar os devidos proveitos que ela permitir.

Nós Biólogos e Professores desse país temos uma obrigação maior na realização da tarefa de informar sobre a Biodiversidade à população brasileira, porque nós somos, por um lado, os geradores desse conhecimento e por outro, também os porta-vozes que deverão leva-lo, de maneira clara, comunidades. Para tanto precisamos estar devidamente capacitados sobre o que é a nossa Biodiversidade e sua verdadeira importância. Por conta disso, é necessário e urgente voltar a escrever sobre nossa natureza, para que nossas crianças, nossos jovens e nossos atuais e, principalmente, futuros professores fiquem interessados em conhecer melhor nossos recursos naturais e nossa biodiversidade.

No passado, alguns cientistas e divulgadores das ciências, como EURICO de Oliveira SANTOS, Cândido Firmino de MELO LEITÃO, RODOLPHO Von IHERING, CARLOS Nobre ROSA, José CÂNDIDO de Melo CARVALHO, AUGUSTO RUSCHI e também alguns outros escritores, como o próprio José Bento Renato MONTEIRO LOBATO e tantos outros que fizeram seus trabalhos famosos divulgando a natureza e assim os jovens liam e aprendiam sobre a Biodiversidade brasileira, mas isso ficou lá trás. Hoje, existe necessidade de que esse mecanismo de contar histórias e descrever a natureza seja renovado e ampliado para que a Biodiversidade brasileira não seja esquecida e permaneça inserida no pensamento comum de toda sociedade brasileira.

Eu, de cima dos meus 60 anos, estou aqui trazendo o meu chamamento, fazendo o meu alerta e dando minha contribuição pela nobre e importantíssima causa. Espero que mais pessoas capazes e envolvidas na questão também se manifestem em prol de chamar a atenção do país sobre a importância de conhecer e proteger a Biodiversidade brasileira.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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09 maio 2016

Liberdade cadê você?

Resumo: O texto atual é uma poesia sobre a “Liberdade”, que escrevi há 17 anos e nunca publiquei, mas continua bem atual. O atual momento político brasileiro e o 13 de maio nesta semana justificam esta publicação, a qual simplifica bem a nossa realidade histórica e questiona o que lamentavelmente vem acontecendo no Brasil.


Liberdade cadê você?

Escravatura! Faz escrava a criatura. Cria um entrave e leva a loucura. É uma verdadeira exaltação à tortura.

Abolição! Muda a ação e acaba com a punição. Traz no bojo muita esperança e ventura. Gera o amor, mas mantém penúria e a preocupação.

Liberdade! Produz o pensamento livre em todas as idades. Incrementa e desenvolve quase todas as verdades. Permite alcançar as licenças e conduz à felicidade.

Brasil! Somos um país branco, negro e índio na origem. Portanto, não há como negar, somos mestiços de nascimento. Temos que ser mestiços também no desenvolvimento e no crescimento. Não dá para entender, por que ainda há preferidos e preteridos.

Pois é! Fizemos a Independência, Saímos das garras da Escravidão. Estamos chegando muito perto da efetiva Abolição. Mas, quando será que atingiremos a verdadeira Liberdade?

Luiz Eduardo Corrêa Lima Caçapava, 13 de maio de 1999

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23 abr 2016

22 de abril de 2016, mais um “Dia do Planeta Terra”

O texto atual é mais uma citação sobre o Dia da Terra, na qual questionada a data em relação a realidade planetária. Há necessidade de que se reflita sobre e verdadeira necessidade de uma data planetária, quando na realidade a história tem demonstrado que a preocupação com o planeta praticamente inexiste, pois as ações humanas não são condizentes com essa condição.


22 de abril de 2016, mais um “Dia do Planeta Terra”

Pois então, hoje estamos comemorando mais um “Dia do Planeta Terra”, uma data estabelecida pela ONU, no ano de 2009, para lembrar a humanidade da responsabilidade que tem com o planeta que nos abriga. É muito estranho que o planeta Terra, que tem cerca de 5 bilhões de anos, hoje comemore apenas o sétimo aniversário. Mas, para a ONU isso não deve ter nenhuma significância, o importante é comemorar efusivamente a data. Entretanto, apesar disso, hoje foi um dia igual aos outros, onde nada de excepcional aconteceu, nem mesmo em relação ao próprio planeta, que continua sofrendo violentamente nas mãos do homem. Nos últimos 44 anos, desde que o Relatório do Clube de Roma (Os Limites do Crescimento, 1972) foi publicado e que passamos (ou deveríamos ter passado) a tomar efetiva consciência de que os recursos naturais planetários não são perenes e que a espécie humana, assim como todas as espécies vivas, também não viverá para sempre, deveríamos estar promovendo posturas em benefício do planeta, mas não é exatamente isso que temos visto. Mas, é claro que exatamente a partir da publicação do relatório começamos efetivamente a trabalhar um pouco mais com as questões ambientais e correr atrás do prejuízo e a criação e comemoração do “Dia da Terra” fazem parte desse pequeno progresso. Não sei o quanto isso pode ser benéfico ao planeta, mas satisfaz o ego, conforta o coração e ameniza a mente conturbada de alguns seres humanos. O homem é certamente a espécie mais dependente do planeta, porque ao contrário de outras espécies, possuímos uma voracidade pelos recursos naturais extremamente diversificada e bastante abrangente. Nossa necessidade de recursos quase infinita e alguns desse recursos há muito tempo já estão às mínguas no planeta e outros já se exterminaram. Assim, já faz tempo que estamos em dificuldade com a usurpação planetária. Por outro lado, grande parte dos recursos que necessitamos, são recursos renováveis e muitos desses nós aprendemos a reproduzir, o que nos permitiu alguma margem de segurança na sua utilização. Mas, é importante lembrar que não existe mágica na natureza e reações químicas não são milagres. Isto é, para fazer alguma coisa, sempre precisamos de alguma outra coisa e assim nos apropriamos do planeta e o transformamos exclusivamente ao nosso bel prazer, considerando apenas o interesse de nossa espécie. Algumas vezes, por questões várias, nem consideramos os interesses da espécie, mas apenas o de alguns grupos de indivíduos. Pois então, foi assim que criamos muitos dos problemas, além do simples consumo de uma infinidade de recursos da Terra. Já faz algum tempo que estamos tendo muita dificuldade para manter a qualidade do ar, da água e do solo, os três meios físicos que nos garantem a sobrevivência. Temos sérios problemas com a produção de alimentos, com novas doenças infectocontagiosas.  As cidades são sempre maiores, com mias necessidades e mais problemas, além da imensa dificuldade de transporte, o que dificulta sensivelmente a qualidade de vida. Temos investido cada vez mais na produção de novos mecanismos químicos que possam gerar novos materiais para a fabricação de roupas, calçados e inúmeras outras coisas, que há muito deixaram de ser questões estritamente naturais. Hoje somos levados a produzir cada vez mais, para garantir a nossa necessidade cada vez maior, até porque também não paramos de consumir. Por outro lado, nossa necessidade só cresce, haja vista que também não paramos de reproduzir (fabricar novos seres humanos). Já superamos a fantástica marca dos 7.3 bilhões de humanos e continuamos assustadoramente crescendo sem parar, embora com um leve declive na curva de crescimento, mas que nada significa no contexto geral. Verdade é que, quanto mais o tempo passa, vamos progressivamente precisando cada vez mais do planeta e apesar de todo o nosso imenso desenvolvimento tecnológico, nós somos uma espécie carente que depende diretamente de um planeta onde os recursos são limitados. Faz 44 anos que já sabemos que a Terra, além de ser a nossa fonte única de recursos, pois é dela que tiramos tudo que necessitamos, também não é um planeta infinito e que seus recursos também se esgotam ao longo do tempo. Resta agora saber, até quando ele nos aguentará e nos manterá sobre sua superfície, apesar do dano irreparável que temos causado ao longo de nossa curta história natural. Bem, por enquanto, vamos ficando por aqui, festejando mais um “Dia da Terra” e rezando para que esse planeta fantástico e que parece ser o único com vida, possa continuar suportando a investida violenta da espécie humana sobre seus recursos. Eu estou no fim da vida e confesso que tenho muito medo do que poderá ser daqueles que ainda virão se a humanidade não se comprometer rapidamente em mudar a postura e começar a construir uma “Nova Terra”, onde o fator humano seja significativamente menos impactante e possa viver no planeta sem acabar com os recursos que precisa e recuperando aquilo que for possível.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica MEADOWS, D. H; MEADOWS, D.L.; RANDERS, J & BEHRENS III, W.W. The Limits to Growth, Universe Books, New York, 1972.]]>

10 abr 2016

Refletindo sobre a Assiduidade (Frequência) e a Pontualidade como Mecanismos Significativos de Avaliação

Resumo: O texto atual envolve questões ligadas a Avaliação Escolar e considera que assiduidade e a pontualidade sejam aspectos significativos dentro dos diferentes mecanismos de avaliação que devem ser estabelecidos no contexto do processo ensino-aprendizagem. É discutida a pequena importância dada a esses aspectos, discutido o possível erro existente nesse pouco crédito e sugerido que esses aspectos são fundamentais para uma participação maior dos alunos e mesmo para o conhecimento melhor entre alunos e professores.


Refletindo sobre a Assiduidade (Frequência) e a Pontualidade como Mecanismos Significativos de Avaliação

A maioria esmagadora dos profissionais, pesquisadores e pensadores da área de educação é unânime em concordar que a avaliação é um dos atributos mais importantes dentro do processo ensino-aprendizagem e obviamente eu também não penso diferente. Entretanto, quero colocar um pouco mais de pimenta nesse assunto, pois tenho visto que cada vez mais as questões relacionadas a assiduidade e a pontualidade têm sido deixadas de lado, no que se refere a avaliação e isso não me parece correto. Ou melhor, a assiduidade e a pontualidade ultimamente têm deixado de ser consideradas como atributos importantes no processo avaliativo do aluno, o que a meu ver é extremamente preocupante, haja vista que em todas as tarefas futuras na vida profissional, o indivíduo certamente terá que cumprir os compromissos assumidos, dentro dos prazos e horários estabelecidos.

Embora nenhum dos dois aspectos aqui considerados (assiduidade e pontualidade) possam isoladamente ser responsáveis exclusivos por uma avaliação definitiva dos alunos, com certeza ambos são mecanismos importantíssimos e como tentarei demonstrar, sempre devem ser considerados em qualquer processo de avaliação em todas as escolas nos diferentes níveis de ensino do país. Além disso, eu entendo que a escola é o primeiro local onde esses aspectos devem realmente começar a ser cobrados e consequentemente considerados no processo avaliatório, até porque ao longo da vida, essa cobrança será uma constante. O aprendiz precisa entender que cumprir os compromissos assumidos é a primeira das missões do cidadão de bem e que esse aspecto será sempre observado no seu comportamento.

Por outro lado, torna-se importante salientar que existe uma necessidade fundamental do entendimento correto e preciso dessas duas palavras antes que elas sejam efetivamente incorporadas e consideradas no processo avaliatório. Sendo assim, antes que possa ocorrer qualquer confusão, vamos fazer um pequeno esclarecimento conceitual sobre os dois termos.

A assiduidade consiste na frequência propriamente dita dos alunos na sala de aula durante o ano letivo, participando ativamente, desenvolvendo as atividades e discutindo os assuntos. O aluno assíduo é aquele que está sempre presente e quase nunca falta. É aquele aluno que, além de frequente, cumpre todas as suas obrigações didático-pedagógicas a contento. Por sua vez, a pontualidade; que em certo sentido, também tem relação direta com a frequência, haja vista que só pode ser pontual quem está presente; é aquela característica do aluno que cumpre as atividades propostas dentro dos critérios, limites e prazos previamente estabelecidos.

Assim, devo dizer que aluno assíduo não é necessariamente pontual, mas aluno pontual precisa ser assíduo, porque o aluno pode estar sempre presente (ser assíduo) e ainda assim, deixar de cumprir os compromissos (ser pontual) didático-pedagógicos. Desses fatos deriva o seguinte: “no processo de ensino-aprendizagem a frequência (assiduidade) e o cumprimento de prazos (pontualidade) devem sempre ser considerados mecanismos de avaliação, porque estar presente e cumprir deveres em prazos estabelecidos são duas regras fundamentais das atividades humanas e a escola certamente deve considerar essas condições como sendo importantes e significativas na formação do indivíduo.

Nesse momento de minha argumentação, já devem existir alguns leitores questionando o seguinte: “mas, o aluno não tem direito a faltar?” É óbvio que os alunos têm esse direito. Entretanto, deve ficar muito claro, tanto para o aluno, como para os professores, que se faltar é um direito, estar presente é um dever (uma obrigação) e obviamente as obrigações devem se sobrepor aos direitos, porque só se pode exigir direitos, quando se cumpre as obrigações. Assim, quando o aluno usa o direito de faltar, ele deixa de cumprir o dever (obrigação) de estar presente.

A falta deve ser sempre entendida como algo eventual no processo ensino-aprendizagem, uma possibilidade que só poderá ocorrer por efetiva necessidade. Em momento nenhum a falta deve ser considerada como algo normal ao processo, pois o normal é estar presente e a falta é uma anomalia que ocasionalmente pode ocorrer durante o processo. Faltar é uma possibilidade e não uma obrigação planejada, estabelecida no limite das faltas programáveis legalmente permitidas pelo sistema, como fazem alguns alunos e, o que é pior, algumas vezes até indevidamente orientados por determinados professores.

O direito de faltar tem que ser entendido como algo que não se quer usar e que só se deve fazer uso desse direito, apenas e tão somente, quando não existe efetivamente nenhuma possibilidade de se estar presente. A assiduidade deve ser sempre de 100% das aulas, ainda que haja um direito (uma possibilidade) de que se cumpra apenas 75% do total de aulas do ano ou da disciplina. Muitos alunos, infelizmente usam esse direito (possibilidade); que em minha maneira de entender é bastante exagerado e necessita ser revisto; como uma regra absoluta e se programam deliberadamente para faltar aos 25% do total das aulas a que têm direito.

Se analisarmos friamente, observaremos que o aluno pode faltar em uma de cada quatro aulas, o que é um grande absurdo, porque esses 25% que ele não acompanha, certamente serão perdidos e obviamente farão significativa falta na sua formação. Vejam bem que dessa maneira, num curso de quatro anos, o aluno só precisa estar presente em apenas três anos. Isso não pode ser bom para ninguém de jeito nenhum e o maior prejudicado é o próprio aluno. Assim, me parece que fica bem claro que o aluno assíduo tem formação mais completa (abrangente) e consequentemente tende a ser melhor formado que o aluno não assíduo. Esse aspecto tem que ser considerado e deve ter alto grau de significância no processo avaliatório, porque, além do mais, quem se envolve e se preocupa mais com a escola, deve ter, pelo menos em tese, um reconhecimento maior do seu respectivo trabalho escolar.

A pontualidade, como já foi dito, é uma característica a ser exigida por dois aspectos. Primeiro, pelo fato de que o aluno ser assíduo não é garantia obrigatória de sua pontualidade e segundo, porque cumprir compromissos assumidos é uma regra de vida e a escola, como entidade social educadora, tem a obrigação moral de exigir esse comportamento de todos os seus alunos. Assim, tarefa não cumprida, ou não cumprida a contento, ou ainda tarefa cumprida em prazo extemporâneo, não deve ser considerada na avaliação e se, por acaso for considerada, deverá ser avaliada de maneira inferior aos padrões que haviam sido estabelecidos para os alunos que foram pontuais. Ou seja, deve existir alguma forma de penalização aos não pontuais.

Vejam bem, numa classe escolar tudo é possível, porque normalmente sempre vão existir alunos frequentes, alunos pontuais, alunos frequentes e pontuais e ainda alunos não frequentes e não pontuais. Acredito que essa classificação deva ser o primeiro critério para a avaliação dos alunos. Obviamente o aproveitamento cognitivo do aluno deve ser a principal preocupação no processo de ensino-aprendizagem, mas a assiduidade e a pontualidade não devem nunca ser deixadas de lado, até porque a ordem, a disciplina e a própria capacidade cognitiva dependem muito da frequência e da pontualidade dos alunos. É bom lembrar que a ordem (organização) e a disciplina (regras e foco) também são atributos importantes a serem identificados e considerados na avaliação dos alunos.

Em suma, no que diz respeito à avaliação, existem inúmeros mecanismos e várias são as tendências e os encaminhamentos dados nesse processo. Para muitos professores (educadores) a única coisa que efetivamente importa, ainda é o cumprimento integral dos programas, independentemente da capacidade de aprender e principalmente da participação ativa e efetiva do aluno e a avaliação deve estar restrita àquilo que o aluno conseguiu “aprender” do conteúdo. Esse é o grupo do chamado professor passador de matéria ou professor ministrador de conteúdo. Para esse tipo de professor, avaliar e apenas medir através de um instrumento, uma prova, por exemplo, o que o aluno “aprendeu”, daquilo que lhe foi informado no conteúdo ministrado.

Para outros, apenas o resultado medido através do conceito obtido pelo aluno nas diferentes formas de avaliações aplicadas são suficientes, pois constituem um conjunto significativo de fatores mensuráveis, que classificam os alunos entre si. Esses são professores mais exigentes, que cobram “tudo” dos alunos e muitas vezes, cobram até aquilo que nem eles próprios sabem, mas como está no livro, o aluno tem que saber. “O aluno que se vire, faça os seus trabalhos e tire as notas que precisa, porque essa é a parte dele no processo”.

E sobretudo, ainda existem aqueles professores radicais mais ferrenhos, que ainda dizem assim: “eu ensinei e se o aluno não aprendeu é problema dele, porque eu tenho certeza que fiz a minha parte e ele que faça a parte dele”. Esses últimos, além de tudo, contrariam drasticamente o famoso pressuposto pedagógico que diz: “se não houve aprendizagem é porque não houve ensinamento”, ou melhor, “se o aluno não aprendeu é porque o professor não ensinou”. É óbvio que essas duas afirmativas são extremamente subjetivas, mas é possível considerar que ambas sejam verdadeiras, pelo menos em parte, e que o professor é talvez, o principal responsável pela capacidade do aluno aprender, pois afinal essa é a função precípua do professor.

Bom, não quero aqui tomar nenhum partido absoluto de qualquer dos grupos, porque entendo que cada um, a seu modo, acaba tendo razão por alguns lados e certamente deixando de ter por outros, até porque existe, de fato, muita subjetividade implícita nessas questões. De qualquer maneira, neste momento, eu quero apenas me reportar aos aspectos aqui relacionados, independentemente das inúmeras indagações, das diferentes teorias e práticas pedagógicas.

Mas, antes de continuar, quero lembrar ainda, que antigamente era comum se ouvir a seguinte frase: “educar é preparar para a vida” e ainda que eu não seja um adepto assim, tão famigerado desse velho chavão, eu também não posso simplesmente desconsiderar que ele traga uma grande verdade no seu bojo e, por isso mesmo, eu vou explora-lo no interesse de minha argumentação. Considerando que a educação deve efetivamente ser uma aprimoração progressiva do indivíduo, visando melhorar a sua vida cada vez mais, então eu não posso de maneira nenhuma negar o velho chavão. Aliás, penso que nem eu e nem ninguém possa negar absolutamente a verdade implícita nessa frase.

Por outro lado, a vida está constantemente nos cobrando e avaliando, por isso mesmo é preciso considerar que é a própria vida quem às vezes nos educa, pois nos ensina e nos obriga a fazer reflexões, as quais nos levam a manifestar novas atitudes, as quais nos imprimem determinadas mudanças comportamentais. Nossas possibilidades de “sucesso” na vida, acabam sendo maiores ou menores exatamente em função das cobranças e das avaliações cotidianas oriundas de nossa própria vivência e muitas dessas cobranças são bastante tangíveis e, sobretudo, acabam sendo amplamente vitais para cada um de nós.

Nesse contexto, quando se fala em avaliação, sempre se deve ter em mente, que, como já foi dito, em certo sentido, é a parte mais importante da Educação, ou pelo menos do processo de ensino-aprendizagem, não se pode desconsiderar o aspecto, de que as cobranças cotidianas também devam ser avaliadas, ou pelo menos observadas de perto, embora não tenham necessariamente a ver com a escola ou com a educação formal. Ou seja, a avaliação é uma necessidade da vida e não apenas um atributo do processo educacional. Por conta disso, a avaliação deve ser feita a todo instante em todos os aspectos, inclusive, mas não exclusivamente, no ambiente escolar onde o processo educacional normalmente transcorre.

O aluno (aprendiz), de maneira geral, ainda não tem idade e nem discernimento sobre a maioria das coisas, por isso mesmo, ele deve ser sempre observado pelo professor (educador) em todo o seu caminhar rumo ao conhecimento e em todas as atividades e atitudes que, de alguma forma, se impliquem com esse caminhar, dentro e fora da escola. É claro que, na maioria das vezes, o professor não tem condições de acompanhar o aluno fora da escola, mas pode indagar questões, criar situações e conversar com o aluno e assim, saber um pouco mais de sua vida e de suas atividades extraclasse, pois certamente isso auxiliará bastante no momento de fazer a avaliação.

De minha parte faço minha avaliação do aluno, procurando acompanhar e observar os progressos existentes ou não no cotidiano escolar do aluno, além de discutir o máximo possível sobre seus interesses, suas aptidões e suas atividades externas à escola. Acredito que todo professor bem intencionado é capaz de fazer isso e assim também deve ser capaz de medir, ainda que subjetivamente, os progressos e retrocessos dos seus alunos, porque o professor sabe onde ele quer que o aluno chegue e pode perceber a caminhada desse aluno, com todos os seus avanços e percalços.

Além daquilo que o professor costuma observar e medir objetiva e diretamente, ele deve constantemente questionar o seu aluno sobre o que ele está achando de seu próprio aprendizado, pois certamente isso traz respostas significativas, tanto positivas, quanto negativas para a avaliação daquele aluno. Isso acontece porque o aluno obviamente sabe se auto avaliar e assim consegue perceber quando está melhor ou está pior e o professor que o acompanha também é capaz de saber.

 Essas questões são bastante subjetivas, porque acabam sendo situações mais de sensibilidade do que situações de valorização numérica imediata. Entretanto, essas situações são verdadeiras e na maioria das vezes acabam informando muito mais do que as notas oriundas de avaliações apenas medidas (quantificadas). Posso estar errado, mas entendo que a presença efetiva do aluno e sua participação costumeira, regrada e compromissada às atividades escolares, devem ser fatores relevantes e, muitas vezes, preponderantes no processo de avaliação, porque, sobretudo, permitem esse contato maior que leva a troca de informações mais próximas entre os professores e os alunos.

Acredito piamente que a convivência próxima entre professores e alunos também seja uma condição bastante importante na avaliação do processo ensino-aprendizagem e estou convicto que a assiduidade e a pontualidade são fatores indispensáveis à boa convivência. Entretanto, como não sou dono da verdade, estou apenas manifestando minha opinião sobre um assunto que reputo de suma importância à Educação e que precisa ser muito discutido. Por isso, deixo aqui um espaço aberto para que os colegas professores critiquem e opinem à vontade sobre essas minhas modestas reflexões e tragam outras observações interessantes sobre o assunto.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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20 mar 2016

A Mineração e os Riscos ao Meio Ambiente

Resumo: O texto atual discute sobre a mineração, os riscos ao meio ambiente por elas produzido e o Novo Código de Mineração que tramita no Congresso Nacional. O texto chama a atenção de que a mineração é uma prática muito lucrativa, bastante degradadora e que os interesses econômicos e financeiros costumam ser prioritários. Desta forma, é preciso ficar atento, porque existe grande possibilidade de que os riscos, relacionadas ao meio ambiente, oriundos de atividades mineradoras sejam drasticamente ampliados.


A Mineração e os Riscos ao Meio Ambiente

Os diferentes processos de Mineração, ainda que tragam vantagens necessárias ao desenvolvimento econômico de determinadas áreas e locais, além de melhoria nas condições materiais de vida das diferentes comunidades pelo mundo afora, é preciso refletir que a mineração sempre traz desvantagens ambientais. Não há como fazer mineração, sem produzir danos irreversíveis ao ambiente explorado. Desta maneira, a mineração é disparadamente o “principal inimigo” do meio ambiente. Assim, a humanidade tem vivido um impasse histórico, entre a necessidade de explorar os recursos minerais e garantir a qualidade do ambiente em que esses recursos são explorados e principalmente tentar garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas que trabalham e vivem nessas áreas de mineração. Obviamente, essa dicotomia de interesses consiste numa tarefa extremamente difícil, mas é uma equação que precisa ser resolvida para o bem da humanidade e do planeta.

No passado, nunca houve qualquer preocupação com os efeitos oriundos da exploração dos recursos minerais e a prática minerária sempre aconteceu sem absolutamente nenhuma preocupação ambiental. Nos tempos recentes, graças a preocupação ambiental planetária e a escassez cada vez maior dos recursos minerais, a prática minerária teve que ser determinada e prevista por ações e mecanismos legais que orientam e indicam como proceder para a retirada dos diferentes tipos de minérios que a humanidade constantemente necessita. Assim, surgiram pelo mundo afora, os diferentes Códigos de Mineração e as demais leis que regem a exploração mineral. Aqui no Brasil, não foi diferente e, por isso mesmo, aqui também foi produzido o Decreto Lei Nº 62.934, de 2 de julho de 1968 (Código de Mineração), que definiu os padrões legais para a exploração mineral em nosso país, naquela época, mas que, 48 anos depois, está em vigência até hoje.

Por outro lado, as necessidades ambientais atuais são cada vez mais prementes e as exigências legais, por sua vez, devem ser maiores e mais efetivas, tanto nos mecanismos de concessão das licenças e autorização para exploração mineral, como na fiscalização das ações desenvolvidas pelas empresas mineradoras, antes, durante e depois das respectivas explorações. A Constituição Federal Brasileira (1988) determinou que qualquer atividade minerária necessita apresentar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que demonstre a situação do local de lavra antes, durante e depois do processo exploratório, bem como as possíveis propostas e ações de minimização e compensação dos impactos e ainda a recuperação da área degradada depois de realizada toda a exploração mineral.

Pois então, o atual Código de Mineração, feito em 1968, está fora da realidade proposta pela Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6938 de 31 de agosto de 1981, que determina os procedimentos fundamentais na área ambiental no Brasil, e também está em desacordo com a própria Constituição Federal, que como já foi dito, é de 1988. Assim o Código de Mineração precisa ser atualizado e melhorado, para que sejam garantidas as práticas minerárias dentro de padrões factíveis aos interesses ambientais planetários, nacionais, estaduais, regionais e, principalmente, que essas práticas possam ser particularmente benéficas às comunidades próximas localizadas nas áreas de mineração. Eventos como os rompimentos das barragens recentemente acontecidos em Mariana /MG e em Jacareí/SP, aqui no Vale do Paraíba, poderiam ter sido evitados se a legislação brasileira sobre mineração fosse mais moderna, mais rígida e se houvesse efetivo acompanhamento e fiscalização dos projetos de mineração que são desenvolvidos no Brasil.

Por conta disso, foi elaborado pelo governo federal e está tramitando no Congresso Nacional, um Novo Código de Mineração, para definir novas práticas operacionais e novas possibilidades de ação das atividades minerárias.  Entretanto, é bom lembrar que os interesses ambientais costumam ser contrários aos interesses dos empresários e também não refletem obrigatoriamente os interesses de agentes e setores políticos, principalmente num país como o nosso, onde se compram leis como está sendo comprovado pela OPERAÇÂO ZELOTES da Polícia Federal. Além disso, também é bom ter em mente que nem sempre novas leis devam indicar melhores práticas, principalmente no que se refere a mineração. Um texto novo não quer dizer um texto melhor. Desta forma é preciso acompanhar proximamente os trâmites do Novo Código de Mineração no Congresso Nacional e exigir que o meio ambiente e a comunidade sejam contemplados prioritariamente no novo texto. Aos interessados devo finalmente dizer que o Novo Código de Mineração que está tramitando no Congresso Nacional é o Projeto Lei 5807/2013 e que a necessidade de ler o referido texto, acompanhar sua tramitação e propor as devidas mudanças e um direito de qualquer cidadão brasileiro. O texto pode ser conseguido na INTERNET e as propostas de mudanças devem ser encaminhadas ao Congresso Nacional, em Brasília.    Luiz Eduardo Corrêa Lima]]>