23 jul 2021
Posturas-em-Debates-e-Eventos-Publicos

Posturas em Debates e Eventos Públicos

Resumo: O autor emite sua opinião sobre que postura as pessoas devem tomar quando estão participando de um evento (seminário) qualquer. Eventos abertos em plataformas virtuais pela INTERNET são cada vez mais comuns, entretanto a qualidade desses eventos não tem melhorado na mesma proporção da quantidade. Acredito que isso se deva a certos detalhes (“males sociológicos”), alguns dos quais resolvi comentar nesse artigo.


“TODO EVENTO TEM DOIS LADOS, O APRESENTADOR E OS EXPECTADORES E NUMA MESMA PALESTRA, O INDIVÍDUO SÓ PODE ESTAR NUM DESSES LADOS. ASSIM, PARA O BOM FUNCIONAMENTO E EFETIVO SUCESSO DE QUALQUER EVENTO, É PRECISO QUE CADA LADO SAIBA EXATAMENTE SUA FUNÇÃO NO EVENTO”.
L.E.C. LIMA

INTRODUÇÃO

Ao longo de minha vida participei de centenas de eventos e de atividades, nas quais ocorreram inúmeros debates e discussões, muitas vezes interessantes e fundamentais para o meu aprendizado e dos participantes. É bom que saibam ainda, que como a maioria dos senhores leitores, participei ativamente dos dois lados desse tipo de situação. Isto é, atuei tanto na função de palestrante, como na de espectador. Assim, penso que posso emitir alguma opinião sobre essa questão, cada vez mais comum na modernidade.

Por outro lado, também devo dizer que, quanto mais velho eu fico, mais chato e impaciente eu estou. Talvez, por isso mesmo é que cada vez mais, eu fico incomodado com a atitude de certas pessoas ao longo da palestra, da conferência, do debate ou de qualquer discussão nesses eventos onde existe uma troca de informações ou um diálogo qualquer. As discussões estão progressivamente mais incomodas, mais longas e menos efetivas e, sobretudo, menos objetivas. Muitas acabam virando diálogos particulares, onde se discute sobretudo, menos sobre o tema e o resto da plateia que se lasque.

Os palestrantes, salvo alguns profissionais específicos dessa área, infelizmente são pessoas cada vez são mais superficiais, limitadas, menos profícuas e pouco eficazes. A maioria deles parece estar mais a fim de agradar a plateia do que de apresentar e discutir sobre o assunto em pauta. Por sua vez, os espectadores estão cada vez mais desinteressados, confusos e menos contundentes e assim, são pouco eficientes nas suas respectivas funções como participes dos eventos. Em suma, ao longo do tempo, o diálogo tem sido empobrecido e cada lado tem a sua parte na culpa dessa constatação. Obviamente, é claro que ainda existem exceções a esse fato, mas essas exceções estão ficando mais raras.

Nos tempos atuais, por conta da pandemia, e pelo que parece, daqui para frente mesmo sem essa mazela, cada vez mais as palestras serão feitas através de plataformas virtuais. Ora, se o tempo já era importante nas atividades reais, agora nas virtuais ele é fundamental. Tudo tem que estar planejado e muito bem definido, para que não haja problemas. Além disso, ainda existe a necessidade de contar com a sorte da INTERNET não cair e de não haver nenhum problema técnico na aparelhagem. Desta maneira, o tempo é cada vez mais escasso e precioso, por isso precisamos ter maior objetividade nos eventos para a efetividade, eficiência e eficácia deles.

Assim, após de pensar bastante, resolvi assumir a posição de “advogado do diabo” e vou dizer o que penso sobre essa questão. É bem provável que eu arrume novos inimigos, depois que alguns dos meus amigos tenham contato e leiam esse pequeno artigo. Às vezes, alguém tem que colocar a cara para bater, para que as coisas comecem a acontecer de maneira mais eficiente. Que fique claro, desde já, que não estou procurando briga com ninguém, apenas estou tentando chamar a atenção de todos os envolvidos, para tentar melhorar o padrão de nossas palestras e discussões.

O PALESTRANTE

A regra fundamental para qualquer palestrante é estar atento ao fato de que: conceitos e definições existem para serem utilizados, desde que estejam entendidos, pois do contrário serão apenas palavras estranhas e diferentes perdidas no meio do discurso. É muito comum o palestrante (professor, orador ou instrutor) falar palavras pouco comuns para a grande maioria dos espectadores na plateia, como se fossem termos corriqueiros.O palestrante precisa saber que geralmente grande parte da plateia nunca ouviu aquela palavra e por isso ela precisa ser definida e, às vezes até esclarecida detalhadamente. Portanto, sempre que o palestrante se utilizar uma palavra ou termo técnico qualquer é fundamental que seja feita a sua definição e o esclarecimento sobre sua utilização naquele momento. Esse cuidado deve ser tomado, mesmo quando o palestrante esteja falando para pessoas que teoricamente já deveriam conhecer aquele conceito.

Outras coisas comuns que o palestrante costuma fazer, além da automatização de ideias e conceitos, dizem respeito a utilização de siglas sem esclarecê-las. Existem siglas em todas as áreas, muitas delas exatamente iguais e somente as pessoas das respectivas áreas tem conhecimento dessas siglas. Quando o palestrante fala, por exemplo, a sigla “ABC”, ele sabe ao que está se referindo, mas quem houve não tem a obrigação de saber, portanto o palestrante tem a obrigação de dizer do que se trata, porque “ABC” pode ter vários significados e o espectador precisa saber o correto para aquele momento.

Por outro lado, se o expectador nunca tiver ouvido a sigla “ABC”, ele continuará sem saber do que se trata, isso é, continuará não significando nada para ele. Assim, é fundamental, em qualquer situação e numa palestra principalmente, que antes de assumir o uso de uma sigla, o palestrante, deva explicar o seu significado exato, para identificar precisamente do que se trata e assim, não confundir o espectador e evitar possíveis problemas posteriores.
Evitar gírias e palavras de baixo calão, a não ser para fazer uma piada ou algo jocoso que possa ser traduzido como um mecanismo adicional de auxílio à aprendizagem naquele contexto específico. Aliás, piadas quase sempre são bem-vindas, mas é preciso que se esteja atento ao fato de que a palestra é uma atividade séria e muita graça pode comprometer a seriedade do trabalho.

Os espectadores são atraídos às palestras pelos mais diversos interesses e curiosidades e geralmente a maioria da plateia está composta de expectadores que não têm domínio daquele assunto. Por conta desse fato, que é real, o palestrante sempre deve partir do princípio de que a maioria da plateia não sabe nada, absolutamente nada, sobre o assunto que você ele está abordando e sobretudo, deve ter efetivamente em mente que o óbvio não existe. O que é óbvio para você, quase nunca é óbvio para outra pessoa, principalmente se ela trabalhar numa área de atuação diferente da sua.

Um palestrante tem a função de tentar informar algo a quem não sabe e não pode partir do pressuposto de que as pessoas que estão na plateia já têm certo conhecimento sobre algumas das coisas que deverão ser ditas. Assim, o palestrante deve procurar ser efetivamente claro, o mais claro possível. Isto é, se for necessário seja até detalhista. Mas, não se esqueça que clareza e detalhe não são sinônimos de redundância, portanto não subestime a inteligência das pessoas e nem seja muito repetitivo no seu discurso.

Algumas vezes a repetição pode até ser útil, mas somente como maneira de chamar a atenção sobre um detalhe específico do assunto em questão. Assim, ao contrário da repetição ineficaz, seja coerente e sempre o mais objetivo possível que puder ser. Na grande maioria das vezes, o exemplo, depois da definição, além de ilustrar o conceito, também é melhor do que qualquer simples repetição para esclarecer sobre um determinado conceito.

O palestrante deve ser capaz de tomar a palavra de quem fala o que não deve e de recusar-se a responder uma pergunta fora do assunto em discussão. Obviamente, esse tipo de postura poderá ser considerado como uma grosseria ou uma deselegância, mas a vale a pena ser deselegante em benefício do aproveitamento da maioria efetivamente interessada no assunto. Lembre-se que o palestrante é um instrutor e deste modo, sua função é informar e instruir, portanto ser agradável, embora seja benéfico e salutar, não é sua obrigação, enquanto palestrante. Não se preocupe muito em “rasgar seda” para a plateia, pois vale mais, para tudo e para todos no evento, que o palestrante seja coerente e objetivo.

O ESPECTADOR

Primeiramente vou me ater as questões básicas que devem ser consideradas pelo espectador durante os eventos virtuais, pois como o expectador está literalmente em casa (no seu espaço), muitas vezes ele acredita que esteja sozinho. Entretanto, é bom lembrar que, na verdade, todos que estão naquele evento podem ouvir ou ver o que se passa com todos, se não forem tomados alguns cuidados básicos. Portanto, existem algumas observações importantes quanto à postura dos expectadores frente ao computador ou ao celular durante os eventos.

É fundamental os cuidados com a aparência, principalmente com a vestimenta, com a manutenção do microfone desligado, para evitar sons estranhos à palestra, com as pessoas do local, onde o expectador se encontra e suas possíveis passagens na frente da câmera. Talvez a utilização de um ambiente isolado e a manutenção da câmera desligada também sejam de bom alvitre, para evitar situações constrangedoras, como conversas paralelas ou imagens desagradáveis e garantir a segurança quanto ao áudio e o vídeo durante o evento. Uma coisa que ajuda bastante, é utilizar o fone de ouvido ligado ao computador, porque assim fica garantida e certeza de que sons estranhos não serão passados ao público do evento.

Como espectador num evento, o indivíduo deve ter em mente que a regra básica de qualquer evento em que ele está presente na plateia, é lembrar que o expositor é o palestrante e não você, portanto limite-se a falar apenas o necessário e somente quando for autorizado, para não prejudicar o andamento do evento. Assim, quando for fazer uma pergunta ou comentário, espere a autorização para fazer uso da palavra, mantenha-se efetivamente no tema em questão e não divague, pois o tempo é fundamental em qualquer evento.

Infelizmente é muito comum os espectadores, antes de objetivarem as suas perguntas ou comentários, fazer saudações às autoridades, parabenizar o palestrante e os organizadores do evento, além de uma série de pequenas práticas desnecessárias, que só atrasam, atrapalham e comprometem a qualidade do evento. Essas práticas, podem ser formalmente interessantes, mas têm que ser definitivamente abolidas das falas de qualquer expectador. As autoridades já foram nominadas e os parabéns podem ficar escritos no “chat” (bate papo) e não há nenhuma necessidade de ficar repetindo. Se vinte espectadores falam, os vinte fazem as mesmas saudações. Isso é uma grande bobagem do passado, que precisa ser esquecida nos tempos atuais.

Outra coisa fundamental, o espectador deve fazer todo esforço possível para evitar falar de si mesmo. Questões pessoais não interessam aos outros, principalmente num evento aberto ao público. Então, o espectador não deve se usar como exemplo de nada, a não ser se for realmente inevitável para esclarecer determinada situação, pois é bem possível que a experiência dele e seus problemas particulares não interessem a mais ninguém da plateia, além dele mesmo, pelo menos naquele momento.

Algumas pessoas gostam de falar, o que pode ser bom, porém elas têm muita dificuldade para serem objetivas e às vezes falam muito, enrolam, enrolam, complicam e acabam não dizendo nada, numa pergunta e principalmente conseguem dizer menos ainda, quando resolvem fazer algum comentário sobre o assunto em questão. Infelizmente, essas coisas costumam ser mais comum do que possam parecer a princípio. É preciso ser claro, objetivo, ter noção de ridículo e senso de coerência ao fazer uma pergunta ou um comentário qualquer.

Se o espectador foi mal-entendido, ou se tomou uma “paulada”, ele deve calar a boca e evitar ampliar a discussão. Quando muito, o expectador deve agradecer a oportunidade de falar. Depois do evento o expectador pode comentar o que quiser, com quem quiser, mas ele não pode estragar o evento com discussões infundadas, de maneira nenhuma, pois existem inúmeras pessoas envolvidas, além do expectador aborrecido e do palestrante. É realmente difícil, mas é necessário respeitar o direito da maioria, que está ali para participar do evento. Assim, considere que se a sua fala não irá colaborar, sempre será melhor não dizer nada.

Se o espectador costuma ser um desses indivíduos enrolados ou que tem dificuldade de se expressar quando fala e quer fazer uma pergunta ou um comentário, sempre será mais interessante escrever aquilo que se quer dizer e apenas ler o que está escrito ou mandar pelo “chat” (bate papo), sem fazer qualquer comentário adicional. Essa atitude certamente evita problemas subsequentes. O tempo que se perde com discussões ineficazes, por conta de perguntas sem nenhuma coerência e comentários irrelevantes é exatamente o que determina a qualidade de um bom evento, de uma boa palestra ou de uma discussão qualquer.

CONCLUSÕES

1 – Daqui para frente cada vez mais teremos eventos virtuais com discussões e assim é fundamental que sejamos capazes de falar apenas e tão somente o necessário.
2 – Nossa fala deve estar restrita aos interesses do evento, qualquer questão ou comentário além desse limite deverá ser considerada uma postura inoportuna, indesejável ao evento e por isso mesmo deve ser desconsiderada e descartada.
3 – A organização do evento, pode e deve impedir qualquer postura do expectador que contrarie o interesse do evento ou atrapalhe a participação dos demais espectadores, inclusive cortando a fala daqueles que estejam eventualmente provocando os problemas.
4 – Por outro lado, o próprio palestrante também pode e muitas vezes até deve, excluir-se terminantemente de responder perguntas e recusar os comentários desvinculadas com o assunto em questão.
5 – O espectador deve se colocar única e exclusivamente na condição de assistente durante todo o transcurso do evento e assim, sua participação deve se limitar, quando for possível, aos questionamentos e discussões, os quais devem visar sempre melhorar e não complicar os trabalhos.
6 – Essas tarefas parecem ser relativamente fáceis, mas como o ser humano é bastante eficiente em criar problemas, precisamos nos policiar cada vez mais, para evitar ou, pelo menos, minimizar a quantidade desses problemas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

23 jun 2021
Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Mais Humanidade Real e menos Ilusões Virtuais

Resumo: Agora estou me atrevendo a emitir minha opinião sobre o que acontece com as pessoas muito envolvidas nas redes sociais. Acredito que as pessoas precisam refletir um pouco mais sobre sua verdadeira humanidade, porque acredito que as chamadas redes sociais de INTERNET têm criado mecanismos que levam a criação de fantasias, além de maior divergência e intransigência entre as pessoas. Assim, questiono se a humanidade precisa realmente se envolver nessas redes e sugiro alguns medidas que possam minimizar os problemas. Como eu já disse em outro artigo: “penso que é preciso entrar no mundo real, antes que seja tarde”.


No dia 02 de junho de 2021, o jornalista Alexandre Garcia publicou um artigo (As Bolhas), em vários jornais do país e comentou sobre o citado artigo num vídeo, em seu canal do Youtube. Mas, e daí, o que eu tenho a ver com isso? Pois então, na verdade, eu já estava matutando exatamente sobre essa questão, de que as pessoas, de uma maneira geral, vivem num mundo exclusivo e diferente, que só interessa a elas próprias e os seus amigos ou afins, mais próximos.

Alexandre Garcia chamou isso de “bolha”, eu prefiro chamar de “grande ilusão”.  Embora a ideia seja a mesma, é preciso deixar claro que, com o tempo, a “bolha” sempre acaba estourando, mas a “grande ilusão”, geralmente perdura por toda a vida do indivíduo e isso é bastante ruim, porque, por conta disso, o indivíduo quase nunca consegue assumir a realidade. Em suma, a “bolha”, pelos mais diversos mecanismos, um dia acaba e o indivíduo acorda para a realidade, mas a “grande ilusão” geralmente morre com ele.

Enfim, “bolhas” ou “grandes ilusões” são resultantes de males sociológicos bastante comuns nas sociedades modernas. Doravante tratarei apenas como “grande ilusão”. Muitas vezes, a “grande ilusão” é criada propositalmente por um interesse qualquer dentro do grupo social, a fim de resolver uma determinada situação, como uma espécie de convenção, onde todos passam a assumir aquilo. Outras vezes, ela aparece em consequência da visão limitada do grupo do próprio grupo, que é incapaz de sair de seu mundo restrito e entender que existem outras coisas no entorno.

A diversidade do mundo, as diferentes ações e funções humanas, constituem uma gama impossível de ser analisada e avaliada por um indivíduo qualquer, ou mesmo por um grupo social, porque sempre há algo que não é conhecido e por isso existe necessidade de “especialistas” que possam esclarecer as dúvidas e orientar caminhos. Entretanto, a maioria dos grupos sociais acreditam que eles se bastam e que não precisam da opinião de outros e assim criam seus fantasmas, suas “grandes ilusões” e as assumem como verdadeiras.

Nos assuntos do trabalho essa questão é muitíssimo comum, como bem citou Alexandre Garcia em seu artigo, por exemplo jornalistas só têm contato com jornalistas, médicos com médicos, economistas com economistas e vai por aí. Dessa maneira, parece que o restante do mundo e das funções, simplesmente não existem e assim, todas as verdades são limitadas à capacidade daquele grupo. Pois então, a sociedade está caolha. Aliás, está praticamente cega, porque não enxerga quase nada do real e se ilude com aquilo que pensa ser verdade, dita por algum dos “especialistas”

A constatação acima cria uma série de deformidades, verdadeiras “monstruosidades sociais”, que faz com que, por exemplo, os jornalistas pensem saber mais sobre a medicina do que os médicos, a ponto de apontarem e julgarem as ações médicas dentro de seus parcos conhecimentos jornalísticos. Ora isso, além de ser um abuso e uma arbitrariedade sem tamanho. Mas, o pior de tudo, é que essa deformidade é imposta e distribuída pela mídia como algo concreto e efetivo, tornando-se uma “verdade”.

Por favor, não prejulguem o que eu não disse, com o meu exemplo, até porque isso acontece em qualquer profissão e em qualquer grupo social fechado, onde existam pessoas com interesses comuns e que estejam de alguma maneira isolados de outros grupos. O tamanho desse problema é maior ou menor, quanto maior ou menor for o grau de influência desse grupo na sociedade como um todo.  Infelizmente esse mal sociológico tem aumentado bastante com os grupos nas redes sociais da INTERNET, onde só se discute aquilo que é de interesse do próprio grupo. Qualquer coisa diferente, simplesmente é posta de lado ou totalmente desconsiderada, como se não existisse, e assim, as “verdades” são sempre as mesmas. Quem duvidar, que faça um teste e coloque uma questão diferente dentro de um grupo qualquer, pois aí poderá observar que praticamente ninguém irá se manifestar. Será como se aquilo fosse uma pequena sujeira na tela, mas que não interfere na imagem e assim, logo “desaparece”.

Em tempos de COVID e de muitas mortes, lamentável e tristemente fizemos isso várias vezes. Isto é, fomos informados de tantos doentes e de tantas mortes, que “escolhemos” aqueles com quem efetivamente nos preocupamos, mas a grande maioria passou em brancas nuvens. Vejam bem, eu sei que não existe maldade nesse tipo de ação, o que existe mesmo é falta de envolvimento com o mundo. Todos estão tão envolvidos com suas questões e com seus interesses, que priorizam ações e não dão importância efetiva à outras. É claro que do ponto de vista social, isso não é nada bom e do ponto de vista estritamente humano é pior ainda. Mas, como resolver esse problema?

Obviamente eu não tenho receita de bolo para resolver essa questão, mas imagino que estar atento a tudo que acontece e observar particularmente as opiniões contrárias é o primeiro passo a ser dado. Depois, deve ser feito um esforço para entender que os seus amigos ou os seus grupos sociais (profissionais) são pessoas iguais as demais, obviamente com características próprias, mas não são necessariamente melhores ou piores que outras pessoas e muito menos podem são “os donos das verdades”. As ações e funções, apesar de diferentes daquelas de seus interesses próximos, também são importantes ao todo da sociedade e, deste modo, também precisam ser aceitas e respeitadas. Por outro lado, os espaços físicos, os ambientes, sejam eles quais forem, também merecem cuidado e respeito.   

Se passarmos a investir numa política pessoal de nos antenarmos um pouco melhor com o restante do mundo, certamente isso será bom para todo mundo, mas podem acreditar que será especialmente bom para cada um de nós mesmos. A preocupação com o outro, um pouco mais de humildade e zelo, menos egoísmo e arrogância são características valiosas no trato com o outro, mesmo nos grupos sociais de INTERNET.

Precisamos parar de criar “grandes ilusões”, precisamos ouvir mais para entender mais e aprender efetivamente mais. Nosso grupo social (profissional), por melhor que seja, é apenas mais um dos milhares (milhões) de grupos que existem. Nossos interesses são simplesmente mais alguns dentro da infinidade de interesses que podem ser identificados. Mas tanto nossos grupos, quanto nossos interesses envolvem pessoas, seres humanos, e nossa humanidade é que deve ser sempre valorizada nas relações sociais. Pois então, esse detalhe final, que tem passado despercebido da grande maioria, talvez seja o mais importante de todos.

Antes de terminar, quero deixar quatro sugestões estratégicas, que talvez, possam ser bastante positivas para evitar as “grandes ilusões”, as quais, como foi visto, podem trazer problemas sociais intensos e algumas vezes até causar conflitos mais sérios.

  1. – Antes de emitir uma opinião, por mais certeza que você tenha sobre ela, pense bem na maneira de como ela deve ser referida, às vezes é melhor sugerir uma reflexão sobre o assunto.
  2. – Não assuma verdades pessoais como como situações imutáveis e invioláveis. Aquilo que você crê não tem que ser aquilo que outro tem que crer, seja humilde, principalmente quando o outro parece conhecer mais do assunto em questão que você.
  3. – Diversifique seus grupos sociais, evite as “rodinhas” e as “panelinhas”, diversifique seus contatos e suas relações, porque isso, ao menos teoricamente, lhe tornará naturalmente mais eclético e intelectualmente mais capaz de questionar certas coisas.
  4. – Aprenda um pouco de tudo, mas lembre-se, principalmente, que você não precisa necessariamente emitir opinião sobre tudo. Deixe que os verdadeiros especialistas discutam as questões para as quais se especializaram. Quanto aos outros “especialistas”, talvez seja melhor dar de ombros para eles.

Meus amigos essas sugestões talvez não façam vocês pessoas mais felizes, mas certamente elas ajudaram a que você seja uma pessoa mais agradável às outras pessoas e isso vai naturalmente fazer com que vocês produzam progressivamente menos “grandes ilusões”, o que fará você e seus grupos sociais mais felizes ou, pelo menos, mais capazes de suportar as adversidades da vida, mormente da vida na INTERNET.   

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

17 maio 2021

A CONSTRUÇÃO DE UM “MUNDO MELHOR”

Resumo: Nesse texto proponho uma análise generalizada da situação atual do mundo, da humanidade e das possíveis alternativas que, de fato, nunca aparecem para solucionar as questões mais básicas. Concluo que a humanidade precisa realmente se envolver mais nas questões globais e deixar de simplesmente ouvir opiniões. Deixo um recado aos que almejam o “mundo melhor”, solicitando que se envolvam nas questões e que sejam exemplos visíveis do que querem. A Humanidade está repleta de “heróis de vitrine” e precisamos entrar no mundo real, antes que seja tarde demais.


“A palavra convence, o exemplo arrasta.”

Quando uma pessoa diz: “eu faço a minha parte pela construção de um mundo melhor”, na verdade essa pessoa está apenas tentando dizer, que faz aquilo que que ela pensa que pode ser o melhor para a sua própria concepção de mundo. Entretanto, três perguntas surgem a partir dessa situação:

1 – A concepção de “mundo melhor” dessa pessoa é, de fato, o “mundo melhor” que a maioria da humanidade deseja e que todos precisam ter?

2 – Admitindo que essa pessoa tenha, de fato, uma boa concepção de “mundo melhor”, será que o que ela efetivamente diz que faz é suficiente, dentro daquilo que poderia ser feito para a construção de um verdadeiramente “mundo melhor”.

3 – Será que a concepção de “mundo melhor” pode ser definida e concebida a partir da mente de uma única pessoa?

Quer dizer, simplesmente acreditar que se está agindo certo e procurar fazer coisas boas, não é necessariamente trabalhar para um “mundo melhor”. Talvez, isso até possa ser uma condição básica para não piorar o mundo, mas certamente não garante a melhora dele. Aliás, eu acho que dependendo de que coisas estejamos nos referindo, muitas vezes fazer essas coisas, é, tão somente, uma obrigação moral do ser humano. Na verdade, fazer coisas boas, pode livrar alguma responsabilidade pessoal, que a pessoa envolvida acredita ser benéfica (útil) à humanidade, mas será que isso é mesmo verdade? Então, eu gostaria de discutir um pouco sobre essa questão: como realmente trabalhar para um mundo melhor?

Primeiramente há de pensar se um indivíduo pode, por si só, trabalhar para um mundo melhor. Sim, me parece que ele pode, mas apenas como exemplo a ser multiplicado. Porém, se esse indivíduo se omite, naquilo em que deveria ser exemplo, certamente sua contribuição ao mundo melhor não existe. Deste modo, não adianta realizar nenhuma ação isolada e distante do grupo social. Toda ação que visa melhorar o mundo deve ser divulgada, pois, do contrário, o mundo não toma conhecimento e assim, não pode se conscientizar daquilo que não conhece.   

Por outro lado, vários indivíduos (grupos sociais) podem efetivamente idealizar, propor e produzir manifestações diversas que gerem comportamentos diferentes, que levem à mudanças e que condicionem o enriquecimento socioambiental da humanidade (mundo melhor) ou o empobrecimento socioambiental da humanidade (mundo pior). Mudar pensamentos, muda atitudes e muda comportamentos. Esse é um conceito muito forte na mídia e no “marketing”.

Infelizmente, do ponto de vista histórico, parece que temos investido nesse conceito, apenas na direção do empobrecimento socioambiental. Penso que seja uma pena, que o interesse pela melhoria do mundo não esteja na pauta de prioridades da grande mídia e do “marketing”, que não produzem absolutamente nada para tentar melhorar o mundo. Aliás, esses setores têm trabalhado efetivamente em contrário da melhoria do mundo, investindo fortemente em “fake news” e inverdades. Quer dizer, para agir no sentido de melhorar o mundo, de fato, é preciso, além da vontade individual, um grande poder coletivo e fortemente contrário aos interesses midiáticos e marqueteiro atuais, cujo intuito passa muito longe do mundo melhor.

Considerando que hoje o mundo tem quase 8 bilhões de pessoas, há de se convir que, individualmente, a priori, ninguém tem nível de poder capaz de causar impacto global positivo, ou trazer vantagens socioambientais para o mundo isoladamente. Então, como construir, se é que é possível construir, esse tal mundo melhor? O “novo mundo” fantástico e cheio de benesses, que todos falam, esperam e almejam pós COVID-19 e que, aliás, deve ser o mesmo que era esperado depois da gripe espanhola ou mesmo depois da segunda guerra mundial.

Pois é, nesses dois exemplos acima, no primeiro caso, o “novo mundo” foi a primeira guerra mundial e no segundo caso foi a guerra fria e o medo generalizado. E agora, o que será esse “novo mundo”, a terceira guerra mundial e a destruição total da humanidade?  Ou não haverá necessidade de guerra, basta apenas mais um novo vírus ou um pouco mais do próprio aquecimento global pelo excesso de C02?

Peço vênia, mas eu, particularmente, não acredito nessas sonhadas mudanças radicais que irão produzir o tão sonhado “novo mundo”, que muitos têm falado. Acredito que após o COVID-19, se existir realmente um após-COVID-19, as pessoas irão gradativamente voltando as suas atividades e principalmente às suas atitudes comportamentais costumeiras, até que algum tempo depois, tudo volte a ficar como Dante no quartel de Abrantes, porque infelizmente a espécie humana é assim e as mudanças, quando existem, são sempre muito gradativas.

A humanidade não gosta de sofrer, mas prefere sofrer ao invés de agir de maneira que contrarie alguns princípios básicos e costumeiros. Assim, qualquer mudança exige progresso, aprimoramento e sobre tudo muito tempo. Nada vai acontecer de imediato, ou seja, não existe esse novo mundo pós COVID-19. Um desse princípios básicos, talvez o mais importante deles, seja o afã do ser humano por liberdade individual e isso, me perdoem, nunca vai permitir uma ação coletiva e uníssona imediata sobre qualquer atitude que possa melhor viabilizar o mundo.

Por favor, que fique claro, que obviamente isso não é feito e pensado pretensamente para acontecer assim, definitivamente não. Isso é apenas uma necessidade vital presente nos indivíduos de nossa espécie.  Infelizmente, nós ainda não temos e pode até ser que um dia venha existir, um gene que nos permita agir de maneira diferente. Assim, vamos continuar nossa vida sem grandes mudanças, até que se prove o contrário e que se estabeleça, por aprendizado gradativo ou por evolução genética. De qualquer maneira, isso levará algum tempo e, lamentavelmente, tempo é o que a humanidade menos tem.

Deste modo, na atual conjuntura, pensar em fazer a sua parte para a construção de um mundo melhor, acaba sendo uma grande balela, além de aparentemente também ser uma inverdade natural, que a maioria dos seres humanos na realidade não quer que aconteça. Existem pessoas altruístas e boas, eu gostaria que a maioria fosse assim, mas existem também pessoas otimistas demais, pessoas pessimistas ao extremo e ainda existem pessoas egoístas e ruins (maldosas), que querem manter o atual status quo e se aproveitar da situação.

Geralmente esse último tipo de pessoa, a pessoa ruim, até pelos seus interesses acaba sendo mais capaz de modificar momentaneamente o mundo. Basta que se olhe a história da humanidade para ver a que grupo pertence a maioria dos sujeitos que, de alguma maneira, mudaram ou interferiram significativamente na história humana. Certamente existem honrosas e maravilhosas exceções, como Jesus, Buda, Gandhi e outros, mas a regra são as pessoas de “má índole”, nas quais o interesse coletivo não existe.

Coloquei a expressão “má índole” entre aspas, porque não possa afirmar que essas pessoas ruins tinham “má índole” de fato, entretanto a história parece dizer que sim. Bem, a verdade é que esses sujeitos não foram bons para a humanidade e assim, certamente nunca almejaram o “mundo melhor”, apenas trabalharam para si próprias, explorando outra característica bastante marcante da maioria dos indivíduos de nossa espécie, que é o egoísmo.

Enfim, construir o “mundo melhor” é o desejo de muitos, inclusive o meu, mas creio que nenhum humano tenha realmente o poder para fazer isso sozinho. É claro que, como disse François La Rochefoucauld: “nada é tão contagioso como o exemplo”, e assim, obviamente, os bons exemplos sempre serão muito bem-vindos no interesse da humanidade, mas certamente eles nunca garantirão nada, se a própria humanidade não se manifestar e se contagiar positivamente em relação a eles.

Então, trabalhemos com afinco e sejamos exemplos verdadeiros do “mundo melhor” que a maior parte de nós, seres humanos, de alguma maneira, continua desejando. Levará tempo, mas a seleção natural, que nos trouxe até aqui, certamente nos direcionará e nos tornará melhor, na medida que a nossa necessidade de adaptação for maior. O resultado almejado, obviamente nunca chegará em absoluto, mas continuaremos sempre caminhando na sua direção. Isto é, progressivamente seguiremos para o “mundo melhor”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

26 abr 2021

Desabafo de um “Velho Mestre”

Resumo: O artigo chama a atenção para o fato de que muitas das pretensas “modernidades educacionais” que estão sendo apresentadas para melhorar a Educação, não passam de mera enganação e de maquiagem que servem apenas para esconder a péssima qualidade da Educação no país, além de  desprestigiar os professores e de favorecer a outros interesses não ligados à Educação. 


Ultimamente tenho pensado bastante a respeito do que estão atualmente chamando de “Metodologias Ativas” para a Educação e sinceramente não estou vendo nada que eu, com todo meu conservadorismo, já não tenha feito há, pelo menos, 50 anos atrás.  Na verdade, o que mudou foram os alunos e a escola que, querendo, não sei o porquê, evoluir, acaba ficando cada vez mais retrógrada, quando precisa se modernizar. A propósito modernizar a escola não é fazer modismos na escola ou na sala de aula. Mudar a escola é tentar trazê-la para a realidade do seu tempo, sem comprometer seus interesses primários, isto é, o processo ensino-aprendizagem e a educação como um todo. 

Pelo que tenho observado, em muitos casos, a escola está querendo deixar de ser escola para virar espetáculo artístico e muitas vezes circense, mas não vamos discutir sobre esse aspecto nesse momento. Cabe apenas lembrar que, o professor e a sala de aula, dentro ou fora da escola, são os mesmos e as metodologias, os artifícios e mecanismos para ensinar, também são os mesmos que sempre existiram, pois ensinar continua sendo, apenas e tão somente ensinar. Quer dizer, a escola em essência não mudou e nem pode mudar, porque se isso acontecer ela em entrará em contraste com seus preceitos básicos.

O que tem mudado bastante são as tecnologias aplicáveis ao ensino e algumas destas realmente são muito boas, para quem sabe fazer uso delas. Eu confesso que tenho imensa dificuldade com certos materiais, mas não me sinto inferior por causa disso, até porque costumo saber do que estou falando, quando ministro minhas aulas, o que, infelizmente, não costuma ser verdade para grande parte dos professores que andam por aí. Assim, a ferramenta, o acessório e toda parafernália instrumental que deveria favorecer ao processo ensino-aprendizagem, acaba não funcionando da maneira como seria esperado e consequentemente atrapalhando, porque não existe mágica. 

A verdade é uma só, ninguém é capaz de ensinar aquilo que não sabe, com ou sem parafernália tecnológica e o que temos visto por aí é um festival de absurdos, onde os materiais acessórios atrapalham mais que ajudam, por conta da incapacidade profissional de muitos “professores”, além da passividade e do desinteresse da maioria dos alunos. O que está faltando, de fato, é conhecimento por parte de quem deveria ensinar e vontade de adquirir conhecimento por parte de quem deveria aprender.

É claro que eu sei e todo mundo sabe, que os tempos são outros, que os jovens de hoje têm pensamentos e anseios diferentes e que existe muita dificuldade de atraí-los para as aulas, até porque, para muitos, “aula é uma coisa chata”, “estudar toma tempo e é bastante complicado” e várias outras coisas poderiam ser ditas para confirmar que, lamentavelmente, hoje existem inúmeras opções mais atraentes para os alunos do que a escola e as aulas. O problema está exatamente aí: como fazer para tornar as aulas e as escolas mais interessante aos alunos, sem ridicularizar a escola como entidade formadora de indivíduos melhores moral, social e culturalmente?

Certamente o aluno é o sujeito mais importante da escola e isso não é moderno, pois só existe escola porque existem alunos. Ao aluno se deve todo o processo educacional, então esse sujeito foi, continua sendo e sempre será a parte mais fundamental no processo. Entretanto, o aluno atual tem visado outros interesses, deixando a escola para planos inferiores na sua escala de prioridades. Cabe ao professor a missão de redirecionar o aluno aos interesses primários da escola e obviamente a parafernália instrumental pode e deve ajudar nessa missão. Mas, a figura do professor deve dirigir os instrumentos de acordo com os objetivos do ensino e não fazer espetáculos tecnológicos infundados.

Não existe essa história de que a escola hoje é centrada no aluno e a escola de ontem era centrada no professor, pois escola nenhuma nunca foi centrada no professor. Se existiu escola assim, em algum momento, ela estava muito errada e desconexa de seu interesse primário. O que talvez existisse, no passado, era uma pretensa “superioridade” do professor como indivíduo, sobre o aluno, o que também, na minha maneira de entender, sempre foi uma falácia desagradável, perigosa e que contraria a própria noção de educação.

Outra coisa que também poderia ser considerada, é que antes o respeito à pessoa do professor era muito maior e hoje, em muitos casos, simplesmente esse respeito deixou de existir. Mas, eu quero crer que isso também tenha a ver, lamentavelmente com a falta de competência do próprio professor. Entretanto, não vou me ater a essas discussões no momento e vou deixá-las para outra oportunidade. Vamos em frente.

Ainda que o aluno seja o sujeito mais importante em qualquer escola, o agente principal da sala de aula sempre foi e continuará sendo é o professor. As técnicas didático-pedagógicas podem e devem mudar e evoluir sempre, mas o professor continuará sendo imprescindível. Pois então, o que está faltando nas escolas é mais trabalho profissional efetivo dos professores, que hoje, na maioria das vezes, são pessoas totalmente despreparadas e, o que é pior, sem conhecimento efetivo de sua matéria e sem cultura geral. 

Lamentavelmente, a própria profissão de professor está bastante desgastada pela sociedade, pois atualmente, para a maioria das pessoas, o professor é tido como alguém que não conseguiu fazer outra coisa mais importante e assim foi “ministrar” aulas. Infelizmente a má qualidade do professor é que acaba sendo realmente o grande problema, porque quando o professor tem interesse real e prazer em ensinar, ele procura efetivamente saber o que tem que saber e aí, com ou sem ferramentas de última geração, ele consegue ensinar. Com seriedade profissional, algumas vezes, ele consegue ensinar até mesmo aquele aluno que não quer aprender.

Cabe lembrar que esse tipo de aluno que, não quer aprender, sempre existiu. O que acontece é que hoje o contingente é aparentemente maior, porque a escola concorre e obviamente acaba perdendo de longe para outras coisas mais interessantes no pensamento do aluno. Coisas, que lamentavelmente são reforçadas pela sociedade atual, principalmente através da mídia e que acabam tomando grande parte do lugar que deveria ser ocupado pela escola, como já foi dito. 

Por outro lado, não adianta toda a parafernália instrumental se o professor não conhece do assunto que deveria ensinar. É triste o quadro, mas hoje, infelizmente, qualquer um está ministrando aula de qualquer coisa, em qualquer lugar e, dessa maneira, realmente não é possível continuar, principalmente no terceiro grau, onde é relativamente comum encontrarmos professores lendo “slides” para os alunos e coisas parecidas. Tudo bem; quer dizer, na verdade, tudo mal; porque existem muitos alunos que são analfabetos funcionais no Ensino Superior e assim, não sabem ler, mas isso, além de ser uma incongruência, também é uma enorme indecência que a escola e o sistema educacional permitem. Mas, essa também é outra história que fica para depois.

Uma aula tradicional, sem enganação, ainda é capaz de atrair muitos alunos, mas uma aula tecnológica sem coerência, sem lógica e sem relacionamento, certamente não atrai ninguém. Ou melhor, talvez atraia apenas aos “festeiros de plantão”. Qualquer aula necessita ser estimulante para vencer a concorrência, mas o estímulo tem que ser dado pelo professor e não pela parafernália instrumental. O professor como principal agente do processo educacional tem a obrigação de criar os mecanismos para atrair o público da escola presente na sua aula, mas obviamente sem exageros.

Cabe lembrar que não é qualquer um que pode ser professor. Em toda área profissional existem exigências mínimas para o exercício profissional, porque com a função de professor essa questão é diferente. O verdadeiro professor tem que ser um sujeito devidamente preocupado com a educação e preparado para ensinar, possuindo conhecimento efetivo de sua disciplina e visão genérica do processo educacional. Ser professor vai muito além de estar à frente de uma turma e tentar ministrar aulas.

Então, me desculpem, mas essas “Metodologias Ativas” não existem, o que existe é incompetência generalizada e por isso se criou um subterfúgio para mascarar as deficiências do ensino. É claro que muitas vezes funciona, se quem aplica é sério, tem conhecimento de sua área, sabe o que faz na aplicação do recurso e está mesmo a fim de ensinar. Entretanto, na maioria das vezes é só mais uma enrolação moderna sem tamanho, acerca de coisa nenhuma, como sempre existiu, mas agora com muito atrativo, que acaba sendo uma cilada da alta tecnologia moderna. 

Na verdade, muitas vezes o professor acaba esquecendo que está numa escola e procura chamar a atenção dos alunos, apenas para os modismos tecnológicos, que são interessantes e algumas vezes até fantásticos, mas que, sozinhos, não têm capacidade de levar ninguém a aprender alguma coisa se esse alguém não quiser. Aliás, pelo que tenho visto, para enganar, de ambos os lados fundamentais da escola, o aluno ou o professor, com tecnologias brilhantes é mais fácil e mais interessante do que parece. 

Talvez, por isso o mundo esteja cheio de mascates, mercadores, marreteiros, embusteiros, “hackers” e outros picaretas tecnológicos, vendendo bugigangas para as escolas. Além disso, sempre é bom lembrar que, para muitas escolas, isso acaba sendo bastante interessante, haja vista que investir na aquisição dessas bugigangas costuma ser mais barato, a longo prazo, do que pagar melhor os professores e possuir em seu quadro profissionais mais competentes. Mas, essa também é outra história. 

A tecnologia compõe-se de algumas ferramentas muito boas, mas elas devem ser usadas e tratadas apenas como ferramentas para auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem e não como truque fantástico de ilusionismo. Essas ferramentas devem ser usadas por quem sabe, para servir ao interesse a que se propõem, no caso os interesses da Educação, mas infelizmente não é isso que se tem observado, em grande parte das “escolas modernas”. 

Em alguns casos e momentos o “professor” fica totalmente dependente da ferramenta e passa, desgraçadamente, a ser ele a ferramenta. Isto é, o sujeito vira objeto e assim, a ferramenta passa a ser o ator mais importante da escola. O pior é que no meio do caminho tem o aluno e entre esses alunos, existem alguns que realmente querem aprender, mas não encontram base e nem respaldo na figura do professor, que está ali apenas para “quebrar um galho” ou para “ganhar um dinheirinho” que lhe permita sobreviver.

Ensinar é uma tarefa nobre e algo realmente prazeroso e sensacional, mas precisa de gente séria, bem-intencionada, bem-preparada, com capacidade e sobretudo com conhecimento de causa, o resto se consegue na conversa, na troca de informação, com os alunos. Obviamente que: uns vão aproveitar e outros não vão. Sempre foi assim e continuará sendo, mas a escola tem que parar de querer justificar o injustificável e transferir problemas inventando novos nomes para coisas velhas que e sempre existiram. 

O uso do computador, do celular, da INTERNET e dos mais diversos recursos audiovisuais são excelentes para auxiliar as aulas e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Particularmente nesse momento, em que temos que trabalhar com aulas remotas, por conta a da quarentena condicionada pelo Pandemia de Corona Vírus (COVID-19), toda parafernália de material tecnológico tem sido grande aliada e tem demonstrado sua importância à educação. Porém, é preciso que fique claro, que todas essas coisas são ferramentas e como tal, devem ser usadas com parcimônia e coerência. 

Por outro lado, é fundamental que se entenda e que não se deixe de dar a devida importância a principal ferramenta para o ensino e que por isso mesmo, é a mais importante ferramenta para que a escola possa cumprir bem a sua missão de ensinar, que é o professor. O professor sempre foi e certamente continuará sendo, a única ferramenta efetivamente capaz de cumprir a missão de ensinar a alguém.

Então, ao invés de ficar dando nomes novos a coisas velhas e de ficar desenvolvendo novos programas de informática e novas técnicas eletrônicas, talvez fosse muito melhor investir mais na formação de professores de qualidade e respeitar um pouco mais aos “velhos” professores. Isto é, se preocupar em adquirir e manter professores que tenham conhecimento e que sejam capazes de ensinar sem a mágica da tecnologia. Cabe lembrar que, o professor, independente da sua área específica de conhecimento, tem que ter conhecimento geral, tem que ter cultura, pois só quem tem cultura pode realmente ensinar. 

Temos que parar com esse negócio de achar que qualquer um pode ensinar, porque na verdade, ninguém ensina aquilo que não sabe. Muitas vezes o espetáculo (“show”” teatral) da aula é muito bom, mas não há aprendizado absolutamente nenhum, porque a aula (qualquer aula em qualquer nível) não é e não pode ser apenas um “show” teatral, principalmente quando está se falando em formação de novos professores. Aula tem que ser coisa séria, que pode e deve até ser alegre e divertida, mas não pode fugir ao seu propósito fundamental de ensinar e formar o aluno. 

As técnicas obviamente são importantes, mas elas não são preponderantes, pois a importância maior, salvo melhor juízo, tem que estar a cargo do professor, seu conhecimento e toda sua bagagem cognitiva. O exercício da atividade profissional de professor exige profissionais competentes e cônscios da importantíssima função social que é atribuída ao magistério. Assim, a prática efetiva do magistério não pode ficar à mercê de qualquer curioso ou picareta ornamentado de parafernálias eletrônicas.

O dia que todos os envolvidos na escola, inclusive os alunos em todos os níveis de ensino e formação, estiverem realmente preocupados com a escola e com suas respectivas formações, certamente as coisas começarão a acontecer de maneira correta e obviamente os resultados do processo ensino-aprendizagem serão melhores. Entretanto, eu penso que isso ainda seja uma utopia, porque estamos falando de seres humanos e nada é mais complexo do que o ser humano, particularmente o ser humano brasileiro. 

O ser humano é dotado de vontade e deve ser sempre respeitado nesse direito. Mas, por outro lado, é preciso ficar evidente à toda sociedade que o direito de um termina quando começa o do outro. Na escola o direito é estudar e o aluno que não quer estudar, não deve, a priori, fazer parte da escola. Da mesma forma, o professor que não quer ou que não pode ensinar, também não pode estar na escola e a escola que não quer formar bem seus alunos não deve existir. O resto é balela. As coisas só funcionarão bem quando a principal preocupação de todos na escola for, apenas e tão somente, a educação para fazer o aluno estudar e aprender. 

Deste modo, peço vênia pelo meu radicalismo, pela minha impetuosidade e pela minha veemência nessas afirmativas, mas acredito que as mudanças necessárias efetivas não são de “Metodologias Ativas” ou de “Técnicas Modernas de Ensino”, mas sim de comportamento, de interesse real, de comprometimento, de seriedade e de competência de todos envolvidos no processo educacional. Ou seja, eu acredito que se existirem governantes sérios, dirigentes comprometidos, professores capacitados e alunos ávidos por saber, com ou sem parafernália tecnológica, conseguiremos fazer uma escola de qualidade. 

Mas, a pergunta que fica é seguinte: será que existe interesse verdadeiro e efetivo de que essa escola de qualidade realmente exista no Brasil? Ou será que, como disse o saudoso e eterno Darcy Ribeiro: “a crise da educação no Brasil, não é uma crise, é um projeto”?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

07 abr 2021
Religiosidade, Doutrinação, Proselitismo, Intolerância e Conflitos Religiosos

REFLEXÕES SOBRE CRENÇA, RELIGIOSIDADE, PROSELITISMO E DOUTRINAÇÃO

Resumo: Parece que está cada vez mais próximo um conflito entre certos grupos religiosos, mesmo aqui entre nós, por conta de questões ideológicas oriundas de aspectos e fontes religiosas. Essa situação é esdrúxula, perigosa, preocupante, absurda e precisamos estar atentos para que esse problema continue longe de nós, aqui no Brasil. 


A ideia do religioso e do sagrado sempre existiu naturalmente na grande maioria das várias civilizações humanas e na atualidade isso não é diferente. Assim, a maioria das pessoas possui algum tipo de crença. Essas crenças são as mais diversificadas possíveis e muitas delas crenças podem ser definidas dentro do conceito mais estrito de religiões. Entretanto, as maneiras como cada um desses grupos de pessoas veem (entendem ou assumem) uma ou mais situações determinadas de crenças é o que produz realmente as diferentes religiões.

Desta maneira, existem várias religiões definidas e várias seitas religiosas ainda não definidas ou identificadas sociologicamente como religiões de fato, mas em todas essas situações existem crenças, que devem ser respeitadas por todos. Assim, também existem diferentes formas do ser humano individual ou coletivamente se ligar ou se relacionar, ou não, com o sagrado e toda humanidade deve respeitar esse fato, concordando ou não com a ideia que ele apresenta.

Essa é uma realidade da humanidade que precisa ser entendida e legalmente garantida em todos os lugares, mas, infelizmente, não é isso que temos visto. Deste modo, a intolerância religiosa tem se intensificado progressivamente na humanidade e está ficando cada vez mais difícil que determinados grupos religiosos aceitem o direito à religiosidade de outros grupos. A partir disso, surge a intolerância e os conflitos por questões religiosas.

Na maioria dos países da Terra, os grupos sociais humanos sempre foram livres para escolherem entre o que consideram sagrado e o que consideram não sagrado à sua maneira e consequentemente assim definir a sua crença religiosa específica. Porém, dentro daquilo que se tem como sagrado, algumas religiões se assumiram no “direito” de entender que elas são as mais responsáveis diretamente por muitas dessas situações.

Isto é, tem religiões achando que só elas têm direito e razão. Ou seja, parecendo querer ser mais religião do que outras. Esse problema, se é que se pode chamar essa situação caótica, apenas de problema, é que muitas religiões em seus respectivos dogmatismos criaram líderes, que são seres humanos como quaisquer outros, mas que acreditam que são “seres superiores”, porque lideram grupos que acreditam ter os únicos princípios religiosos corretos.

Esses indivíduos que se assume pretensamente como “seres superiores” costumam ser carismáticos e em função disso, passam a ser muito mais proselitistas, preocupados em arrebanhar mais seguidores de sua causa e da sua vontade, do que propriamente religiosos e seguidores de sua pretensa fé naquilo que primitivamente idealiza sua religião. Assim, muitos deles terminam por esquecer os propósitos religiosos primitivos relacionados ao sagrado e enveredam por questões ideológicas pessoais ou de grupos de interesse próximos. O pior é que, essa condição cria muitos fanáticos que seguem esses líderes sem nenhuma contestação.

Nesse padrão, a “religiosidade do líder” termina por ver a si mesma como solução, quando, na verdade, ele deveria ser o caminho que poderia levar a solução verdadeiramente religiosa, que, para a grande maioria delas deveria ser Deus, Alá, Oxalá ou algum outro nome que identifique, o verdadeiro ser superior, ou uma entidade equivalente. Essa situação conflitante do sagrado com o pessoal, acaba criando conflitos sociais e ideológicos, os quais geram conflitos religiosos, a partir de líderes proselitistas mais radicais e se irradia por seus infelizes seguidores.

Historicamente muitos desses conflitos pessoais se transformaram em guerras sangrentas que ocorreram em vários momentos da humanidade. Mas, nós estamos no século XXI e não deveria mais ser possível que alguns de nós ainda quisessem guerrear por causa exclusiva de divergências religiosas. Entretanto, ainda não estamos livres dessas mazelas e muitas guerras ainda fluem pelo mundo afora, por conta exclusiva das religiões e principalmente de seus líderes.

Esses líderes proselitistas passam a se sentir como emissários de Deus ou de qualquer Ente Superior e se acham capazes de resolver as questões, simplesmente exterminando seus desafetos e suas causas, enquanto os seguidores acompanham piamente os líderes. Na verdade, Deus, o Ente Superior, seja lá que nome tenha, não entra nessa briga, porque as “Guerras Santas” ou “Jihads” não têm nenhum sentido religioso, são meras visões ideológicas de alguns indivíduos, que criam fanatismos em determinados grupos sociais.

Essa situação se acentua mais ainda, quando os proselitistas passam efetivamente também a ser tipos de doutrinadores. Isto é, aquele que disciplina e orienta o preceito “religioso”. Normalmente isso acontece, quando o líder já aumentou bastante o rebanho e agora assume a postura autoritária de obrigar o rebanho a fazer o que ele quer e da maneira que ele quer, mesmo contrariando preceitos da sua pretensa religião. Esse é o grande perigo dos líderes religiosos tendenciosos e de má índole. Esses sujeitos acham que seus respectivos pensamentos são os únicos pensamentos certos e assim não aceitam outras maneiras de pensar.

De qualquer maneira, um indivíduo acreditar que seu pensamento esteja correto é uma coisa que até pode ser salutar, boa e obviamente natural, mas querer que o outro obrigatoriamente pense exatamente como ele é que consiste numa arbitrariedade e num autoritarismo. As “guerras santas” derivam principalmente desse fato, até porque muitas vezes elas acontecem dentro de religiões que possuem a mesma base e o mesmo fundamento religioso. Se os líderes entram em conflito e os seguidores também acabam entrando.

Pois então, talvez por isso, apesar do proselitismo, as religiões têm perdido valor e adeptos valorosos exatamente nesse ponto, porque o sagrado e verdadeiramente religioso acaba desaparecendo no meio da confusão ideológica e dos interesses escusos de seus líderes. A questão toma novos rumos e acaba se perdendo nas mais diversas teias ideológicas, gerando alguns conflitos insanos e intermináveis, onde a culpa é sempre do outro que pensa diferente e que não aceita aquilo que se quer impor a ele.

A noção teológica, sagrada ou religiosa fica de lado, sendo relegada a segundo ou terceiro plano e a essência da religião acaba se desintegrando totalmente. Muitas vezes, a própria religiosidade do grupo se perde nesse contexto e o culto vira uma espécie de “teatro do absurdo”, sem nenhuma conexão com o sagrado, passando a ser uma simples dramatização da vida a serviço de alguém, sem nenhuma conotação religiosa.

Mas aí vem a pergunta; existe solução para essa questão? Obviamente, eu acredito que sim. Tem que existir. Entretanto a solução quase sempre dependerá do aparecimento de novas lideranças que possuam novas ideias sobre as questões e que se proponham a discuti-las. Mas, ainda assim, dificilmente um líder concordará integralmente com o outro. Mas, essa concordância parcial, se existir, até poderá criar outra seita, com uma nova maneira de pensar, o que, poderá resolver os problemas, mas também poderá trazer novos conflitos para o futuro.

Em suma, é bastante difícil estabelecer condições que propiciem respeito mútuo entre os grupos religiosos, não por culpa das religiões, nem mesmo pelos cultos religiosos em si, mas pelas pessoas que delas fazem parte, principalmente os líderes. Desta maneira, é preciso que as diferentes religiões, coloquem um pouco mais de humildade em seus preceitos, de humanidade em suas práticas e um pouco mais de sanidade na indicação e escolha de seus líderes, para evitar situações de confronto, tanto efetivamente religioso, quanto pessoalmente ideológico. Se o sagrado visa o bem, por que criar conflitos por religiões, já que, a priori, todas elas são boas e preocupadas com o bem?

A vida humana não pode ser menosprezada e muito menos posta em risco, por conta da irresponsabilidade de alguns líderes e seguidores religiosos preconceituosos, inescrupulosos e fanáticos que se sobrepõem ao credo que dizem praticar e defender. Qualquer preceito religioso deve, antes de qualquer coisa, partir da premissa do respeito ao seu semelhante, pois caso contrário as pessoas de religiões diferentes serão sempre consideradas como adversárias e algumas vezes até mesmo como inimigas e, por isso mesmo, deverão ser excluídas de alguma maneira do ambiente próximo.

O proselitismo religioso, ainda que necessário ao crescimento das religiões, tem que ser contido e a doutrinação religiosa não pode ir além da escolha pessoal de cada indivíduo. Inclusive, também tem que ser claramente preservado o direito daqueles que não querem professar ou aderir a nenhum credo religioso. Religião é objeto de escolha e aceitação e não de imposição de quem quer que seja. O ser humano é livre para optar entre ser religioso ou não da forma como melhor lhe convier e essa é uma questão de foro íntimo, que não pode ser questionada e nem combatida por nenhum outro ser humano ou grupo social.

Pois então, meus amigos, esse assunto para muitos dos senhores deve ter soado como algo longe da maioria de nós aqui no Brasil. Entretanto, é preciso que fiquemos mais ligados aos nossos atos comuns, muitos dos quais são hábitos originários de nossa religiosidade, para evitarmos situações de intolerância. Essas situações já estão mais próxima de nós do que somos capazes de perceber e começam a existir problemas e preconceitos mais contundentes em determinados locais, que vez por outra alardeiam a mídia nacional.

A sociedade necessita estar atenta ao fato de que quaisquer das religiões existentes, a priori, devem atuar e se envolver na busca maior do bem comum e não na priorização efetiva de um determinado grupo religioso, principalmente do próprio grupo. Pensem nisso, porque estamos vendo cada vez mais, que, a exemplo de outros tipos de preconceitos, o preconceito religioso também está se exacerbando e já está deixando máculas perigosas ao convívio social e esses fatos não podem continuar prosperando.

Temos o mal hábito de comentar sobre o fanatismo religioso dos outros, mas precisamos olhar um pouco mais para dentro de nós mesmos, quando nos referimos às condutas humanas relacionadas com as religiões. A História nos mostra que conflitos religiosos sempre existiram, mas quero crer, que hoje e doravante, com o grau de informação e conhecimento que a humanidade alcançou, eles não podem mais ser justificados de maneira nenhuma. Hoje sabemos que qualquer forma forçada de doutrinação, além de não garantir nada religiosamente, também não oferece vantagem e muito menos segurança a quem quer que seja.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (65)

17 jan 2021
NA ERA DA BIOLOGIA O BIOCENTRISMO PRECISA PROSPERAR

NA ERA DA BIOLOGIA O BIOCENTRISMO PRECISA PROSPERAR

Resumo: O texto traz uma reflexão sobre a necessidade de uma visão biocêntrica e da manutenção de posturas sustentáveis para garantir a permanência da Espécie Humana na Terra. É feita uma discussão breve e genérica do conhecimento científico que nos propiciou grandes avanços tecnológicos, mas nos privou de qualidade de vida e nos propiciou riscos planetários, por conta do desleixo com o planeta e os organismos vivos aqui existentes.


Como eu tenho dito, histórica e repetidamente, para os meus alunos, a verdade é que, de fato, estamos vivendo à era da Biologia, como previram NAISBITT & ABURDENE (1990) e nós, Biólogos, temos que tirar toda vantagem possível desse momento. Quero deixar claro que a palavra vantagem nesse contexto, não quer trazer nenhuma conotação de benefício pessoal ou profissional, até porque estou me referindo à Biologia como ciência, cuja preocupação primária é a vida na Terra.

Nesse contexto, estritamente científico, a Biologia e os Biólogos consequentemente não querem, não devem e não podem determinar uma vantagem exclusiva para a espécie humana e muito menos ainda admitir uma vantagem específica para um indivíduo ou um grupo social único isolado dentro de determinado ecossistema, de qualquer bioma do planeta.

A Biologia e os Biólogos estão preocupados com a vida e com o planeta e nesse momento, com a Biologia em alta, nós devemos criar os mecanismos que permitam garantir a vida planetária, inclusive a vida humana.

Estou apenas me referindo ao fato de que a realidade física e química dos diferentes ecossistemas planetários não consegue se manter sem os organismos vivos, suas atividades e suas peculiaridades, como se pensava em outros tempos, quando a Biologia ainda estava por baixo. Ou seja, na atualidade, quando o mundo científico finalmente entendeu, que qualquer ambiente resulta, além das condições físicas e químicas, também da influência exercida pelas diferentes ações dos organismos vivos nele existente a sociedade precisa fazer coro com essa condição. Deste modo, a Biologia e os Biólogos têm que demonstrar, cada vez mais à Humanidade, a importância de todos os organismos vivos para o equilíbrio ambiental do planeta.

Os organismos vivos importam, explicam, atuam e em determinado sentido, até condicionam certos mecanismos e ações planetárias. Esse fato, que ficou esquecido e não foi considerado pela humanidade ao longo da história, atualmente é protagonista das preocupações humanas e das ações dos pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento. A Biologia deixou de ser considerada uma ciência pouco importante e agora tem começado a explicar melhor o seu papel, além de obrigar a física e a química a se explicarem de maneira mais efetiva no contexto planetário, onde a vida se manifesta.

Se, primitivamente, a física e a química podiam explicar o planeta, sua composição, sua estrutura e seus mecanismos, hoje nós sabemos que a ação dos organismos vivos pode modificar e certamente modifica todo o contexto inicial e isso pode interferir significativamente nos diferentes ecossistemas. Pior ainda, quando consideramos os efeitos produzidos por uma espécie tremendamente adaptável e modificadora da condição planetária e por isso mesmo cosmopolita, como é a espécie humana, principalmente nos tempos modernos com os efeitos tecnológicos influindo diretamente nos diferentes ambientes de toda Terra.

Na verdade, nossa era tecnológica, só passou a ser assumida efetiva, real e totalmente, quando passamos a aceitar e começamos a entender os padrões biológicos nela contidos. Nossa compreensão sobre os vírus e os demais microrganismos, nossa condição de qualificar e quantificar a biodiversidade orgânica, nosso entendimento do DNA e suas consequências, nossa capacidade de encarar e aceitar realmente a evolução biológica como um processo natural da vida.

O momento crucial das ações tecnológicas humanas só se efetivou quando aceitamos o fato de que os fenômenos e atividades físicos e químicos não existem apenas aleatoriamente e que, de alguma maneira, eles estão ligados à possibilidade e à existência da vida no planeta. Em suma, a presente onda tecnológica só acontece verdadeiramente, porque entendemos que Ecologia, Genética e Evolução são partes importantes da Biologia, que atuam na composição de qualquer mecanismo planetário, independentemente daquilo que possamos, a priori, pensar ou querer demonstrar sobre esse mesmo mecanismo, suas causas e suas consequências.

Quando finalmente passamos a conversar mais proximamente com Newton, Lavoisier, Proust, Einstein, Haeckel, Mendel, Darwin e alguns outros estudiosos e cientistas naturais não menos importantes, todos eles ao mesmo tempo, é que começamos a compreender um pouco mais das coisas que acontecem no nosso planeta Terra. Antes disso, criávamos “monstros tecnológicos” puramente físico-químicos, sem nenhuma possibilidade biológica e obviamente o resultado era sempre fictício e improvável, ainda que até pudéssemos dirigir alguns desses resultados aos nossos interesses. Entretanto, hoje sabemos que a realidade biológica vai além daquilo que podemos controlar e estamos meio perdidos no controle de determinadas ações.

Nos últimos anos, entretanto, a evolução da Biologia como ciência natural e a demonstração, cada vez maior, de sua necessidade na “tecnologização” do mundo, trouxe à baila resultados significativos e nos levou a um momento histórico fundamental, que nos permite afirmar que a física e a química não são capazes de produzir o “mundo ideal” sem a presença dos organismos vivos, sejam eles quais forem e que assim o homem não pode assumir seu pretenso poder absoluto sobre as atividades no planeta. Aliás, talvez, até por isso, é que a vida tenha se desenvolvido aqui na Terra, da maneira como nós a conhecemos, mas essa é outra questão, que não queremos e não vamos discutir aqui e agora.

Ao longo dos anos da história humana, sempre nos preocupamos exclusivamente com a vida humana e isso não nos permitiu, em muitos casos (a maioria deles), estabelecer parâmetros comparativos até confiáveis em comparação com a realidade natural. Criamos sempre uma cultura egoísta e antropocêntrica, na qual só tinha valor aquilo que basicamente era referente ao ser humano, as outras espécies vivas não tinham absolutamente nenhum significado na grande maioria das vezes.
Desta forma, colocamos a Sociologia à frente da Biologia e trabalhamos a natureza pela Física e pela Química caminhando sempre na direção e no interesse da humanidade. Na realidade era como se a Biologia, a exceção dos seres humanos, não existia na natureza, para a grande maioria dos pensadores e estudiosos. Tudo era sempre pensado, produzido e dirigido para a espécie humana.

O Homo sapiens, a espécie superior, sempre esteve no centro e acima de todas as demais espécies. Todo o restante do mundo vivo não era importante, pois era meramente considerado. O mundo vivo não humano, consistia apenas de uma “consequência natural” para as nossas necessidades materiais, as espécies vivas que nos servem como recursos e das nossas benesses e virtudes antrópicas, as espécies vivas que nos são agradáveis e por isso nós as deixamos dividir o nosso espaço planetário.

Isto é, toda a inteligência humana, historicamente, foi usada a serviço exclusivo dos seres humanos, como se fôssemos efetivamente a única espécie viva de importância significativa para o planeta. Nunca questionamos os seguintes fatos: por que o mecanismo evolutivo da natureza permitiu a produção de alguns milhões de espécies no planeta? Será mesmo que elas são necessárias? Para que tanto desperdício de matéria orgânica? Ou ainda, como eu já ouvi algumas vezes, para que serve, por exemplo, a barata?

Caramba! Quanto se deixou de entender e fazer sobre o planeta e sobre a vida por conta dessa arrogância humana. Por outro lado, quando se deixou de lado essa visão deturpada e caolha do planeta e dos demais organismos vivos, as coisas passaram vagarosamente a mudar. Finalmente, o mundo, na metade final do Século XX, talvez um pouco tarde, começou a pensar diferente e hoje estamos vivenciando um momento de muitas dificuldades, por um lado, mas de grandes expectativas e de crescentes possibilidades por outro. Certamente ainda existe saída para os erros cometidos pela nossa espécie, mas essa saída será difícil e bastante complicada.

Enquanto a Física e a Química desenvolveram tremendamente e a Sociologia se diversificou muito, a Biologia, até a metade do século XIX, continuava sendo puramente descritiva e informativa, apesar de algumas tentativas de cientistas importantes, como Georges Cuvier e Jean Baptiste Lamarck. Apenas em 1859, com a publicação da Origem das Espécies de Charles Darwin, onde ele apresentou a Teoria da Seleção Natural, desenvolvida com a colaboração de Alfred Wallace, houve uma sacudidela no mundo e só aí, a Biologia começou, mas ainda de maneira rudimentar, a se manifestar como ciência.

Depois vieram Gregor Mendel, Hugo de Vries, Thomas Morgan, Theodosius Dobzhansky, Ernest Mayr, Francis Crick, James Watson, Eduardo Wiley. Richard Dawkins, Edward Wilson, Stephen Gould e vários outros Biólogos menos famosos, mas não menos importantes, que com seus trabalhos contribuíram muito para a ascensão da Biologia. Assim, os Físicos e os Químicos também passaram a observar novos aspectos e outras possibilidades de aplicações de seus respectivos interesses.

A era tecnológica que já se vislumbrava e que já vinha sendo incrementada, desde a invenção da lâmpada, do telefone, do motor, do rádio, da televisão, do cinema, do transistor, do fax e com o conhecimento e aperfeiçoamento do átomo e dos estudos nucleares, passou incluir as ideias da Biologia no seu universo, e aí vieram os submarinos nucleares, os foguetes espaciais, o computador (“cérebro eletrônico”), o computador pessoal, o “chip”, o “notebook”, o telefone celular, os “vírus” e as “vacinas eletrônicas” e tantos outros artefatos assumiram conceitos de base biológica.

Entretanto, a humanidade sempre se esqueceu, ou melhor, não percebeu, que tudo vem da natureza e que todas as coisas, mesmo aquelas produzidas pelo trabalho da própria humanidade, demandam recursos naturais e que os recursos naturais não são eternos. Isto é, essas coisas criadas pela mão humana, também são feitas a partir da natureza e toda vez que se cria algo, são utilizados recursos naturais, e em contrapartida são destruídos (transformados) esses mesmos recursos. Na verdade, em essência, nada é artificial, porque tudo vem da natureza. Além disso, o homem, não sei o porquê, demorou mais enfim, também terminou descobrindo que o uso contínuo e exacerbado de recursos naturais pode levar ao esgotamento de alguns deles.

O homem pode modificar umas coisas e produzir outras, mas a base para a produção é sempre um ou mais recursos naturais e não há como fugir disso. Tudo que existe vem da própria natureza planetária. As maravilhas que a tecnologia cria seriam impossíveis se não existissem os recursos naturais. A Biologia vem gritando isso para a humanidade já faz muitos anos, mas muitos indivíduos dentro dos diferentes setores das sociedades humanas têm sido renitentes e alguns deles parecem que ainda não estão querendo ouvir.

A Humanidade nunca se preocupou muito (na verdade, não se preocupou praticamente nada) em saber, se aquele artefato ou produto que estava sendo feito (produzido ou transformado), era necessário, ou se era muito ou pouco importante, ou se era apenas algo acessório, ou ainda se era tão somente um apetrecho diletante. Quase nunca se avaliou, o quanto a existência desse artefato ou produto se contrapunha a algo (recurso natural) que poderia deixar de existir e que talvez fosse tão importante ou mais que o produto em si.

O que interessava era somente o produto, porque a “mãe natureza” foi uma dádiva do Criador, que está aí apenas para servir a humanidade. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda existem muitos seres humanos que acreditam piamente que os recursos naturais do planeta, foram postos por Deus, simplesmente para servir aos interesses do homem. Para esse tipo de ser humano, os recursos estão aí para serem usados e as demais espécies são contingências desagradáveis da própria existência humana. E não se preocupem, porque Deus sempre nos dará recursos.

Entretanto, nós sabemos que tudo aquilo que se usa sem critério um dia acaba e esse fato já aconteceu com vários recursos naturais. Muitos recursos naturais foram destruídos e exterminados em produtos que muitas vezes acabaram sendo também inutilizados posteriormente, pela mesma tecnologia que os havia criado. Foi nessa hora que o homem entrou mais seriamente num conflito incoerente e direto com a natureza. Isto é, no exato instante em que o homem passou a produzir aquilo que não precisa, gastando sem sentido o recurso que a natureza possui pouco ou que já não possui mais. De repente, o recurso natural em questão acabou e aí, também foi o fim também daquele produto.

Além disso, é preciso considerar outro aspecto fundamental, que, no passado, foi costumeiramente deixado de lado. Todo o processo de transformação e produção ocasiona alguma sobra, algum resíduo (poluição e lixo) desinteressante, que muitas vezes é contaminante ou tóxico e pode ser danoso à saúde. Porém, mesmo não sendo prejudicial à saúde, o resíduo ocupa espaço e geralmente não tem onde ser devidamente guardado e muito menos, como ser tratado de maneira segura ao ambiente.

Aliás, aqui cabe lembrar que esse resíduo (poluição e lixo) também é uma invenção exclusiva da humanidade, porque a natureza não produz poluição e nem lixo, porque tudo que a natureza produz, ela mesma desenvolveu um mecanismo para decompor e transformar. O problema é que tem coisas que o homem produz, que natureza não conhece e assim a natureza não conhece e não tem como decompor ou que o processor de decomposição é demasiadamente lento.

Por isso mesmo, ao longo do tempo, o homem sempre teve o problema de se livrar do resíduo e sempre quis se livrar do resíduo e “jogar o lixo fora”. Entretanto, a questão é bem mais complicada, porque não existe “fora”, porque o planeta é um só e tudo fica mesmo aqui dentro mesmo.

Historicamente, nós apenas conseguimos mudar o resíduo de posição. Sendo assim, há necessidade de tratar os resíduos para resolver alguns problemas. Recomendo a leitura dos artigos anteriores, LIMA (2014a e 2014b), onde discuto melhor essa questão.

A humanidade se acostumou com essa triste situação: usar recurso natural e produzir poluição e lixo. Entretanto, ao acabar o recurso, automaticamente ela passava a se utilizar de outro e produzia mais poluição e lixo. Assim, este ciclo infeliz tem continuado indefinidamente até quando o Planeta puder aguentar e, ao que parece, a Terra já não está aguentando e tem, cada vez mais, produzido provas desse fato.

O momento que estamos vivenciando é exatamente esse: já chegamos (na verdade, já passamos) ao limiar do suporte planetário. Muitos dos recursos já acabaram ou estão acabando e muitos de nós, seres humanos, parece que não conseguimos ou não queremos entender que existe necessidade de parar de utilizar esses recursos naturais e de produzir poluição e lixo ou de usar os recursos com parcimônia e com coerência, impedindo ao máximo à formação de poluição e do lixo e reaproveitando de alguma maneira os resíduos possíveis. Precisamos mudar o nosso comportamento em relação ao planeta e ao uso dos recursos naturais.

Por outro lado, com o reconhecimento desses fatos, muitos seres humanos têm tentado frear o abuso do consumo indiscriminado de recursos naturais e da produção de lixo. Ao contrário do que alguns dizem, esses seres humanos não são contra as benesses da tecnologia, mas estão preocupados com a destruição e com o desperdício inconsequente dos recursos naturais.

Finalmente, muitos dos líderes e aficionados da tecnologia já perceberam os riscos e tem feito tudo o que podem para gastar menos recursos naturais. Isto é, usar apenas o necessário e gerar a menor quantidade de resíduos possível. Entretanto, alguns setores da sociedade continuam insistindo em manter o “status quo”, alegando interesses dúbios e se justificando com coisas e situações absurdas.

Desta maneira, estamos numa encruzilhada na qual temos duas alternativas: ou a Sociologia assume as mesmas posições da Física e da Química, fazendo coro com os interesses da vida e do planeta, antes de promover os diletantismos da humanidade ou a espécie humana está fadada à extinção precoce, por conta da carência dos recursos naturais que ela tanto necessita e por conta do acúmulo de resíduos que ela produz. Sempre é bom lembrar, que o resultado do impasse depende única e exclusivamente de nós.

Se a segunda alternativa vier realmente acontecer, a própria humanidade será a única responsável pelo fim da espécie humana. Entretanto, o problema não reside só aí, pois muitas outras espécies, que não têm nenhuma culpa no que se refere ao caos planetário instalado, também perecerão em consequência dessa ocorrência. A Biologia também permite afirmar que o planeta é resiliente e seguirá mantendo os organismos vivos que resistirem e obviamente as novas formas que ao longo do tempo surgirão. Há até quem diga que essa será a “Terra ideal”, ou seja, a Terra sem os seres humanos, mas essa também é outra discussão que fica para depois.

Para concluir, quero registrar que se essa postura for realmente assumida pelo Homo sapiens, ela será ao mesmo tempo criminosa, porque destrói e degrada parte significativa do planeta; assassina, porque mata indivíduos e extermina outras espécies vivas e suicida, porque acabará por extinguir a humanidade. Somente com uma atitude biocêntrica efetiva da sociedade, com respeito a todas as espécies vivas da Terra, com o uso parcimonioso dos recursos naturais e controle efetivo da produção de resíduos e que teremos algumas perspectivas de sobrevivência.

Enfim, na Era da Biologia temos que ter coragem para entender que somente com o desenvolvimento de uma tecnologia sustentável, favorável ao planeta e respeitando a vida nele existente é que poderemos escapar desse futuro degradante e terrível que já está assombrando a muitos seres humanos e que se aproxima rapidamente.

REFERÊNCIAS

LIMA, L. E. C., 2014. O Consumismo e o Grande Erro da Expressão; “jogar o lixo fora”,
www.profluizeduardo.com.br, 2014a.
LIMA, L. E. C., 2014. O Lixo na Natureza e a Guerra Homem X Terra, www.profluizeduardo.com.br, 2014b.
NAISBITT, J. & ABURDENE, P. Megatrends 2000 – Ten New Directions for the 1990’s. New York, William Morrow and Co., 1990.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

15 nov 2020
As Doenças e o Meio Ambiente

As Doenças e o Meio Ambiente

Resumo: O texto faz referências aos tipos e as causas fundamentais de doenças e relaciona a questão do aumento acentuado do número de doenças nos últimos tempos diretamente com a Degradação Ambiental Planetária. O aparecimento de “novas doenças” é uma das muitas consequências oriundas dos desequilíbrios ambientais ocasionados pelas ações produzidas pela Humanidade ao Planeta Terra. 


No que diz respeito às moléstias e doenças humanas, é possível afirmar que se excetuarmos as doenças genéticas (hereditárias), as doenças congênitas e umas poucas doenças degenerativas e metabólicas, além dos traumatismos e dos acidentes, todas as demais doenças conhecidas e muitas ainda não conhecidas, podem ser consideradas como diretamente ligadas ao Meio Ambiente, isto é, são devidas às questões ambientais. Isto acontece, porque a maioria das doenças está relacionada com agentes externos infecciosos (micro ou macrorganismos) que se veiculam para dentro dos organismos humanos, parasitando esses organismos, causando complicações e produzindo modificações metabólicas que se estabelecem alterando a condição de normalidade orgânica.

Porém, nem sempre a contaminação se dá por conta direta de outros organismos vivos e muitas doenças são oriundas de contaminação química ou de influências de ação física. De maneira geral, as doenças mais comuns estão relacionadas com as interferências que ocorrem no ambiente físico, tanto as causadas por agentes biológicos, quanto por componentes químicos. Assim, os meios físicos: a água, o ar e o solo, constituem os principais meios de contaminação e propagação das doenças de origem biológica e de muitos dos componentes químicos maléficos. As formas de contágio e de contaminação são bastante diversificadas.

No que tange a contaminação biológica, alguns dos organismos causadores de doenças são ingeridos de alguma maneira natural. Outros penetram no corpo humano diretamente do ambiente por ação própria ou por mecanismos dinâmicos do próprio ambiente. Outros ainda podem ser eliminados a partir de líquidos internos e resíduos oriundos de outros indivíduos contaminados (humanos ou não humanos) e que assim contaminam outros seres humanos, causando moléstias e doenças.

Muitas dessas doenças também são veiculadas, causadas e disseminadas por agentes biológicos, os denominados parasitas, como as viroses (causadas por vírus), as bacterioses (causadas por bactérias), as protozooses (causadas por protozoários), as micoses (causadas por fungos) e as verminoses (causadas por vermes). Além disso, também existem algumas doenças causadas a partir da ação efetiva e direta de outros organismos, como as picadas de animais peçonhentos ou ainda as mordeduras e até mesmo a veiculação de toxinas e substâncias contaminantes através de simples contato físico.

Muitos dos agentes biológicos causadores de doenças estão presentes em vários tipos diferentes de organismos, sem causar nenhum mal a eles. Esses organismos que vivem e dependem de outros sem causar doenças, às vezes são chamados de simbiontes (mutualistas), quando trocam benefícios com os hospedeiros. Outras vezes são chamados de comensais, quando apenas não prejudicam os hospedeiros. Entretanto, esse mesmo organismo que não faz mal para determinado ser vivo, numa determinada situação, poderá produzir doenças em outras situações ou poderá fazer mal a outro organismo.

Enfim, sempre é bom lembrar que nada é absoluto na natureza e, particularmente, no que se refere aos organismos vivos, tudo pode acontecer, principalmente no que diz respeito aos mecanismos de contaminação. É exatamente por conta desse fato que novas doenças infecciosas têm surgido nos seres humanos, por exemplo. O microrganismo vivo que estava num determinado animal, sem causar nenhum mal, mas por algum motivo, conseguiu passar para o homem e causou uma doença. Foi assim que aconteceu com inúmeras doenças, como a AIDS na década de 1980, com a gripe suína recentemente e agora com a COVID-19.

Por outro lado, é preciso entender que todos os tipos de doenças e moléstias que podem existir não são exclusividade dos seres humanos, ou dos animais domésticos ou dos Vertebrados. Doenças podem ocorrer e ocorrem em quaisquer organismos vivos, tanto em microrganismos, quanto em plantas ou em quaisquer animais. A manifestação das diferentes doenças se dá da mesma maneira em quaisquer das formas vivas, isto é, por contaminação direta ou veiculada pelo ambiente ou por outros organismos. Quer dizer o mundo vivo está naturalmente repleto de doenças e todas elas, de alguma maneira podem produzir traumas imediatos, sequelas temporais ou perenes e até mesmo a morte dos seus portadores.

Outra questão que precisa ficar esclarecida é que algumas doenças que acontecem numa determinada espécie de animal podem ou não acontecer em outras espécies vivas pelas mais diversas situações, que vão desde simples adaptações comportamentais, passando por questões anatômicas, fisiológicas e chegando até mesmo às especifidades funcionais de diferentes afinidades bioquímicas. Os agentes contaminantes (químicos ou biológicos) estão naturalmente presentes no ambiente e os organismos vivos, pelos mais diversos motivos e maneiras, estão sempre tendo contato direto ou indireto com esses agentes.

A ingestão de água e de alimentos, ou mesmo a inspiração de ar atmosférico, por exemplo, são umas importantes formas de entrada de agentes infecciosos em nosso corpo e algumas doenças dos aparelhos digestório e respiratório têm aumentado quantitativa e qualitativamente na população humana exatamente por conta de contaminação química, oriunda da alimentação ou da respiração. O excesso de substâncias e componentes químicos estranhos ao ar atmosférico, à água ou adubação química e também o excesso do uso de agrotóxicos no solo ou mesmo o aumento da quantidade de alimentos transgênicos podem ser causas de algumas dessas doenças.

Entretanto, cada organismo, por mais parecido que seja de outro organismo semelhante, costuma ser metabolicamente diferente e assim, muitas doenças podem se manifestar em determinados organismos e não existirem em outros. Não há nenhuma obrigatoriedade de que algum componente necessariamente faça mal ou faça bem para esse ou para aquele organismo. Alguns organismos são natural e totalmente imunes a determinados agentes contaminantes, outros são mais ou menos resistentes e isso deve ser um fator que pode justificar a ocorrência maior ou menor de certas doenças em espécies iguais ou diferentes que habitam determinados locais.

Assim, fica bastante claro o entendimento de que as doenças estão efetivamente relacionadas às questões ambientais e que essa não é uma situação ou um acontecimento momentâneo atual, porque, na verdade, isso sempre ocorreu desta maneira na natureza.  Obviamente que o desequilíbrio gradativo das condições ambientais piorou a qualidade do Meio Ambiente e isso parece ter facilitado mais à possibilidade de aquisição de velhas doenças, antes desconhecidas da humanidade e também do surgimento efetivo de novas doenças.

Se antes isso acontecia menos ou isso era menos observado anteriormente, é provavelmente porque existiam menos seres humanos no planeta e também porque o grau de contaminação ou de diferenciação resultante das modificações planetárias era muito menor. As condições planetárias estavam mais equilibradas e isso, de certa maneira, minimizava ou garantia e até controlava melhor a ocorrência das possíveis contaminações, pois havia maior uniformidade na conformação do todo nos distintos ambientes.

Deste modo, o aumento da degradação ambiental e do contato cada vez maior do homem com os animais domésticos ou silvestres, acabam sendo fatores que favorecem e consequentemente ampliam a possibilidade de doenças que antes não ocorriam ou que não eram conhecidas em seres humanos e que agora parecem progressivamente ser mais comuns, pois estão afetando mais a nossa espécie. Todas essas “novas doenças” infectocontagiosas recentes Gripe do Frango, Gripe Suína, SARS, Covid-19 e outras se desenvolveram a partir do contato do homem com os animais. Essas doenças, oriundas desses contados são chamadas genericamente de zoonoses, porque resultam exatamente da relação direta dos homens com os animais.

O aumento progressivo das zoonoses também acaba sendo uma consequência da degradação ambiental e do descuido dos seres humanos nas suas relações diretas ou indiretas com outros animais. Esses contatos precisam ser estabelecidos dentro padrões de segurança para evitar o surgimento e impedir a propagação desse tipo de doenças nos seres humanos. Algumas zoonoses se desenvolvem naturalmente, ao longo de adaptações evolutivas, mas outras, certamente são consequências imediatas das diversas ações humanas nos diferentes ecossistemas do planeta.

Em suma, a manutenção do Meio Ambiente equilibrado é sim um fator significativo para a manutenção da qualidade de vida, porque certamente minimiza a possibilidade de modificação e consequente adaptação a novas situações dos organismos potencialmente causadores de moléstias e doenças de origem biológica. Além disso, o aumento progressivo de componentes e substâncias químicas naturalmente desconhecidos, também propicia maiores possibilidades de contaminação e desenvolvimento de novas doenças de origem química.

A Humanidade precisa ser orientada para ficar ciente de que a degradação ambiental não é apenas a modificação do ambiente, mas é também uma abertura de novas possibilidades, inclusive para o estabelecimento de novos mecanismos de contaminação e geração de doenças e moléstias. Ou seja, quanto mais se polui, se destrói, se degrada e se deteriora o ambiente natural, mais se diversificam as possibilidades de doenças e moléstias na humanidade. Desta maneira, as questões relacionadas ao Meio Ambiente também precisam ser encaradas e entendidas como problemas importantes para a Saúde Pública.

Infelizmente nossa forma errada de entender o mundo observando as coisas de maneira isolada, muitas vezes nos coloca, por exemplo, as questões ambientais distantes das questões de saúde. Esse hábito de separar e pontuar questões que muitas vezes comuns, para justificar outros interesses, além de ser uma prática política errônea e lamentável, não tem nos permitido identificar muitas situações que, talvez, pudessem ser facilmente resolvidas ou, pelo menos, restringidas na origem ou ainda minimizadas depois de praticadas. Essa visão caolha da realidade tem sido uma maneira errada de traçar políticas públicas nesse país e talvez no mundo, mas isso precisa mudar.

A Humanidade precisa compreender que o planeta, embora seja um espaço grande, é limitado e dentro dessa limitação precisam ser consideradas as diferentes ações humanas que interferem nesse espaço físico, principalmente aquelas de grande abrangência, e que isso tem grande significado no que se refere a ocorrência e disseminação de doenças e moléstias. Os administradores públicos e demais propositores de políticas públicas têm que promover uma ação mais integradora das diferentes áreas sociais e incluir as modificações ambientais como fundamentais em vários aspectos das atividades humanas, principalmente na área da saúde pública.

Estamos vivendo um momento em que a natureza nos diz: “pense antes de fazer”, mas nós estamos insistindo, por um vício sociológico, em continuar fazendo sem pensar. O resultado desse fato levou o planeta ao estado extremo de degradação, onde as respostas planetárias são cada vez mais agressivas à humanidade e estão tornando nossa espécie cada vez mais vulnerável e perigosamente mais próxima de uma extinção prematura. É preciso que deixemos de lado outros interesses e que pensemos na vida em geral e na vida humana em particular e que cuidemos da restauração progressiva do planeta para garantir a manutenção de nossa espécie. Entretanto, ainda está muito difícil um consenso nessa questão e, por outro lado, o tempo está cada vez mais curto.

Enquanto ficamos, por conta de nosso egoísmo, discutindo sobre o nosso afã de poder, deixando as questões ambientais de lado e considerando apenas as preocupações políticas e econômicas que, pelo menos até aqui, não estão parecendo que vão nos levar a algo significativamente benéfico, continuamos nos suicidando coletivamente todos os dias. As moléstias e doenças vão continuar aparecendo até que nós não tenhamos mais condições de resolver as pendências e de estancar os problemas existentes.

Ainda há tempo, mas é preciso mudar de postura. Temos que ter atitudes proativas em relação à minimização e extermínio dos danos planeta e a garantia da qualidade de vida de todas as formas vivas. O respeito ao Meio Ambiente, o incremento de ações ambientais positivas e a inclusão das questões ambientais efetivas nas pautas administrativas são as melhores maneiras de vislumbrar ganhos efetivos na saúde pública e talvez a única condição de garantir a sobrevivência da espécie humana no planeta.

A nossa saída se resume a seguinte frase: “o cuidado com o Meio Ambiente tem que deixar de ser algo interessante para alguns e passar a ser algo fundamental para todos”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

15 out 2020

DIA 15 DE OUTUBRO DE 2020: UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA

Resumo: O texto tem o objetivo de homenagear os Professores na passagem de mais um 15 de outubro (“Dia do Professor”), além de reconhecer e enaltecer o trabalho especial desenvolvido por esses profissionais ao longo desse período de Pandemia. Em que pese a má vontade de alguns administradores públicos e de setores da imprensa, os professores produziram um verdadeiro espetáculo de improvisação, criatividade e profissionalismo, para garantir o funcionamento das escolas e a continuidade das aulas, nesse momento conturbado que o país e o mundo estão passando.  


Quando o ano de 2020 começou, pelo menos aqui no Brasil, ninguém imaginava o que ainda estava por acontecer, nesse ano atípico. O início do ano foi normalíssimo e transcorreu dentro do que se espera comumente, com as festas de ano novo e as férias de verão da maioria das pessoas, durante o mês de janeiro. Passada a normalidade festeira e festiva do mês de janeiro, começou fevereiro e como sempre o carnaval foi o destaque nacional e ele também aconteceu normalmente, embora já se ouvisse falar, ao longe (“bem longe”), sobre um vírus oriundo da China que poderia trazer consequências mundiais desagradáveis. Porém, como estamos a quase 17.000 Km da China, por vários aspectos, esse vírus não deveria para nos preocupar, ao menos naquele momento e o carnaval transcorreu festivo como sempre.

Logo após ao carnaval, as aulas começaram nas escolas, em todos os níveis de ensino. E foi aí que o bochicho sobre o vírus chinês começou a crescer, inicialmente o problema já estava sério lá pela Europa. A distância agora era de apenas 1/3 da citada anteriormente, pois estava em cerca de 6.500 e não mais os 17.000 Km de distância iniciais, mas, ainda assim, tudo seguia aparentemente dentro da normalidade aqui no Brasil. Até que, no início da terceira semana de março (do dia 15 ao 21), precisamente no dia 17 de março (terça-feira), tudo mudou da água para o vinho ou se preferirem, da certeza de que o ano seria apenas mais um, igual a tantos outros já vividos, para o estranho, perigoso e assustador ano de 2020, que estamos vivendo.

De repente, foi decretada uma parada geral e estabelecida uma quarentena no país. Todos tinham que ficar em casa, porque a doença, denominada COVID 19, que é causada pelo Corona vírus, SARS-CoV-2, já estava por aqui e embora ela tivesse baixa taxa de letalidade, por outro lado, o vírus possuía grande poder de transmissibilidade. Assim, se não houvesse cuidado, muita gente seria contaminada ao mesmo tempo e os setores de saúde não teriam, o suporte físico e estrutural, para resolver todas as questões e o caos seria instalado no país. A recomendação foi ficar todo mundo em casa isolado, esperando que o pico da pandemia passasse.

O setor da Educação é o que envolve o maior número de pessoas no país, com mais de 25% da população. São mais de 50 milhões de estudantes, quase 3 milhões de professores e mais de 1 milhão de funcionários. Isso diretamente, mas se considerarmos, os gestores, os transportadores, os fornecedores de alimentos, os administradores de cantinas, os geradores de matériais didáticos e vários outros, certamente esse número chegará a quase 40% da população brasileira, ou seja, mais de 80 milhões de brasileiros, a grande maioria jovens.

De repente tudo parou e obviamente a educação, com os já citados, quase 80 milhões de pessoas envolvidas nesse setor, tendo que parar também. As aulas foram suspensas em todos os níveis de ensino. E agora o que e como fazer? Não vou me ater aos demais 130 milhões de brasileiros, mas quero falar desses 80 milhões que vivem direta ou indiretamente na dependência da educação nesse país. Em especial vou me referir aos 3 milhões de professores desse país.

Bem, na fatídica semana de 15 a 21 de março de 2020, que foi a mais conturbada que já presenciei do alto dos meus 64 anos, mais de 60 deles dentro de escolas. Desde então, houve de tudo que se possa imaginar de problemas nas escolas. E agora? Como vai ser? O que vai acontecer? Como deixar mais de 40 milhões de crianças e jovens em casa sem atividade?  É interessante, mas como um passe de mágica, já na semana seguinte, praticamente tudo já estava relativamente solucionado e muitas escolas já estavam definindo e trabalhando numa nova rotina, porque os professores não perderam tempo e sabiam muito bem de suas respectivas responsabilidades.

Aulas remotas, aulas virtuais e pesquisas na INTERNET, rapidamente saíram da cartola, porque a educação não pode parar. O profissional do Ensino, o PROFESSOR, tal qual um camaleão, teve que se travestir, se mascarar, se camuflar e se adaptar às novas necessidades imperantes. E assim, um novo modelo de escola e de ensino começou a surgir e seguiu até o final do Primeiro Bimestre Letivo, porque ainda havia esperança de que a “coisa” fosse passar depressa. No entanto, a crise se agravou e o país, entrou por inteiro dentro dela. Ou seja, a “coisa” não passou e houve necessidade de se manter o padrão diferenciado das aulas.

Veio o Segundo Bimestre Letivo e a situação continuou se agravando e ainda no final do primeiro semestre o Ministério decidiu que as aulas continuariam remotas, também para o Segundo Semestre Letivo (a portaria estabelecida foi obrigatória somente para as Instituições de Ensino Superior). Em julho houve férias dos professores, mas em agosto a situação permaneceu a mesma e assim está transcorrendo o ano letivo de 2020 até agora. As escolas estão vazias, mas as aulas, os professores e os alunos, salvo aquela semana de março, NUNCA PARARAM e estão em plena atividade.

Estamos em outubro e somente agora, é que algumas escolas e alguns setores escolares estão começando a voltar à condição anterior àquela que se estabeleceu em março. Mas, mesmo assim, essa é uma condição provisória, porque a situação ainda é bastante preocupante e, de repente tudo pode retornar. De qualquer maneira, as Instituições de Ensino Superior e a maioria das escolas de Ensino Fundamental, vai continuar funcionando remotamente até o fim do ano.

A separação, o isolamento, o afastamento do convívio social, enfim o confinamento produzido pela quarentena não conseguiu parar as escolas e sua importância para a sociedade, embora tenha mudado notoriamente suas aparências. As escolas viraram espaços imensos sem pessoas, prédios vazios, grandes desertos arquitetônicos. De repente, se descobriu que a escola não tem que ser necessariamente um prédio cheio de pessoas. Muito embora a socialização das pessoas também seja parte importantíssima do processo educacional e obviamente a escola também tem que se ligar nessa questão. Entretanto, esse aspecto foge ao propósito desse texto.

Com o prosseguimento da mudança dessas aulas diferentes do padrão que estava até então estabelecido, ou seja, com as aulas presenciais passando a ser aulas remotas e virtuais, iniciou-se uma nova realidade nas escolas. Os professores tiveram que, literalmente, se virar e aprender muito além de suas especialidades e habilidades. Os eletrônicos passaram a ser importantes ferramentas de ensino e bem naquela situação do ditado que diz: “a condição faz o ladrão”, o computador, o “tablete” e o celular (antes tão discutido sobre seu uso nas escolas), passaram a ser ferramentas obrigatórias da educação e do processo ensino-aprendizagem.

Mas, não foi tão simples assim, porque essa necessidade dos eletrônicos e da informática, gerou outros tipos de problemas, que tiveram que ser superados e que ainda não foram totalmente resolvidos. Além da grande quantidade de analfabetos e semianalfabetos digitais e dos muitos carente de conhecimentos de informática do país, também existe uma questão socioeconômica real nessa situação, haja vista que nem todos, tanto as escolas, quanto os alunos e os professores, tinham possibilidade de acesso e de aquisição dessas ferramentas.

Vejam bem, a situação era bastante complicada e a dificuldade era tríplice: não possuir o equipamento, não saber usar o equipamento a contento e transformar o uso mal visto do equipamento em algo útil, importante e necessário ao ensino. Mas, ainda assim, o resultado foi (está sendo) muito bom. Muitos professores e eu me incluo nesse grupo, teve e continua tendo, muita dificuldade, mas não houve esmorecimento e todos continuaram trabalhando, um ajudando ao outro naquilo que era possível. Tudo isso, porque os professores sabem que o aluno, as aulas, a escola e a educação são as coisas efetivamente mais importantes, pois só elas podem mudar esse país e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Meus amigos, depois de toda essa exposição, eu quero dizer o seguinte: nesse dia 15 de outubro de 2020, em que se comemora mais um DIA DO PROFESSOR, é muito simples. Quero lembrar desse verdadeiro Herói Nacional, que apesar das divergências políticas, num ano complicado, foi à luta e se virou em adquirir ou em arrumar o material para trabalhar, estudou e está estudando e aprendendo sobre coisas que nada tem a ver com sua formação e muito menos com sua disciplina de interesse didático-pedagógico. Professor, parabéns. Quero que esse dia seja, de fato, um dia bastante especial na sua vida

O professor fez e está fazendo isso tudo, porque ele acredita e sabe que a educação precisa ter continuidade e embora o país tivesse parado a educação tinha que seguir seu rumo, como se tudo continuasse igual aos anos anteriores. O professor, esse profissional camaleão, mostrou que que sua função é insubstituível, que seu valor é indiscutível e que sua responsabilidade com a nação brasileira está muito acima da miséria de salário que lhe pagam na maioria das vezes. Aliás, cabe lembrar que a maioria dos professores está, de fato, trabalhando muito, alguns além da própria capacidade física. Mas por que isso?

Porque os professores sabem que sem educação não há solução e agora esperam que as autoridades, os poderes constituídos do país, e a sociedade como um todo entendam de uma vez por todas que sem professor não há educação e que sem educação não há nada. Não fosse o professor esse sujeito especial e esse país do absurdo e das maracutaias também estaria efetivamente fadado a ser o país da desgraça e da ignorância. Graças a Deus, que a maioria dos professores é constituída de pessoas do bem.

O país quase todo de quarentena e o Professor trabalhando mais e recebendo menos pelo seu trabalho. Trabalhando mais, porque teve que correr para tentar aprender novas técnicas e usar novos aparelhos eletrônicos para desenvolver seu ofício e recebendo menos porque por decreto todos os trabalhadores do país, inclusive os professores, tiveram seus salários diminuídos. Só houve exceção para os administradores e políticos safados e picaretas desse país, muitos dos quais quase nunca trabalham, nem mesmo em tempos de normalidade. Porém, os professores que trabalharam (estão trabalhando) muito mais, que foram além, assim como o pessoal da saúde, não fizeram parte das exceções e tiveram seus salários reduzidos. 

E agora, quais as perspectivas para o final de 2020 e para 2021? Infelizmente nós não sabemos ainda o que irá e como irá acontecer. Entretanto, temos certeza de que os professores já estão preparados e se novas mudanças se fizerem necessárias, certamente os professores, como soldados em guerra, estarão na linha de frente e outra vez se reinventarão ou se camuflarão para defender a educação desse país.

O que mais dizer de pessoas e de profissionais dessa ética, desse quilate e desse grau de nacionalismo? Quero crer que devo apenas pedir aplausos e reconhecimento pelo trabalho essencial, preponderante e necessário de quem tenta manter uma sociedade mais justa e sobretudo as pessoas intelectualmente mais capazes de discernir, que o Brasil pode e deve ser o maior país da Terra e que o caminho para isso é a educação de seu povo.

Feliz Dia dos Professores e meus efusivos parabéns a todos aqueles que estão tentando ajudar a construir cotidianamente a melhora da educação desse país, independentemente de qualquer calamidade, pandemia, ou mesmo de qualquer governante irresponsável ou profissional de mídia mentiroso que usam seus trabalhos como forma de enganar a população, alguns até levianamente dizendo absurdos do tipo: “os professores estão recebendo sem trabalhar”.  Pois então, esses picaretas deveriam ter vergonha na cara e trabalhar mais pelo país, ao invés de emitir opinião sobre aquilo que desconhecem.

Mais uma vez, PARABÉNS COLEGAS PROFESSORES pelo nosso dia e por todos os dias, em que somos capazes de exercer a nossa profissão e cumprir o nosso compromisso profissional com a educação desse país, independentemente do que dizem e pensam alguns idiotas que estão por aí.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

06 out 2020
Didática e Conhecimento2

Falta de Didática ou Falta de Conhecimento?

Resumo: Mais uma vez estou trazendo um texto que procura observar e comparar o que mudou na formação dos professores e consequentemente na qualidade da educação do país nos últimos anos. A pretensão aqui é apenas demonstrar que estamos caminhando, cada vez mais, para uma educação midiática, mas quase sem formação técnica específica e sem a devida conotação da importância do conhecimento efetivo da matéria na postura e na orientação didática dos profissionais de ensino.


Ainda lembro quando eu estava no quarto ano do Curso de Graduação de Licenciatura em Ciências Biológicas, das Faculdades de Humanidades Pedro II – FAHUPE (1978), lá na cidade do Rio de Janeiro, onde me formei, embora já faça mais de 42 anos.  Lembro-me bem daquela Professora de Didática que, logo no primeiro dia, começou sua aula dizendo: “Didática não se ensina”. Infelizmente não consigo recordar o nome dela, embora recorde do apelido que possuía, o qual infelizmente não devo (não posso) citar aqui. Coisas particulares (segredos) da vida de estudante, que não vem ao caso no momento, mas que sempre é bom recordar para manter a mente alegre e ativa.  Mas, ela continuou dizendo: “Didática se tem ou não se tem” e “para ser Professor é fundamental se ter Didática”.

Com certeza, tanto eu, quanto meus colegas de Faculdade, já sabíamos que a frase era verdadeira, porque embora estivéssemos iniciando o último ano de nossa graduação, todos nós já tínhamos mais de 15 anos de vivência escolar e já havíamos passado por inúmeros professores em nossas vidas escolares. Assim, nós, não só sabíamos como podíamos confirmar a veracidade daquela afirmativa, pois éramos capazes de rapidamente fazer uma análise de todos os professores que passaram pelas nossas vidas e avaliar a postura e a competência didática de cada um desse professores. Entretanto, nós adorávamos, eu particularmente me realizava, quando ouvia a Professora da Disciplina de Didática afirmar didaticamente que “Didática não se ensina”. E ela dizia esta frase quase sempre.

Peço, desde já, que me desculpem pela repetição da frase inúmeras vezes no texto, mas para mim é profundamente interessante ver a coragem e ao mesmo tempo o contrassenso de alguém abertamente dizer que aquilo que faz, nesse caso, ensinar Didática, seja uma utopia, ou melhor, um absurdo, uma ilogicidade, porque é algo que não pode ser feito. Mas, vou me basear nesse argumento para tentar chamar a atenção do fato de que tem muita gente fazendo confusão sobre o que efetivamente seja Didática.

Comecei a ministrar aulas regulares em setembro de 1976, quando estava no segundo ano da Faculdade, no Colégio e Curso Regente, na Praça da Bandeira, na cidade do Rio de Janeiro e nessa época eu ainda não conhecia aquela que seria a minha Professora de Didática. Aliás, para ser bem sincero: acho que naquela época eu nem sabia o que era Didática, se é que hoje realmente sei? Mas, de qualquer forma, quero acreditar que hoje compreendo um pouco melhor sobre esse assunto e vou me atrever a falar um pouco sobre a minha experiência didática.

Naquela época, lá no Colégio Regente, eu tinha que ministrar aulas de Ciências para o Ensino Fundamental, além de Citogenética e Genética para o Ensino Médio. Para conseguir cumprir essa obrigação eu tive que estudar, estudar e estudar bastante. Ora, isso foi muito importante, porque me permitiu efetivamente aprender aquilo que eu precisava ensinar, até porque algumas partes das matérias sob minha responsabilidade eu nunca tinha visto na vida e outras, que até tinha visto, simplesmente não me lembrava de quase nada, porque não faziam parte da minha área próxima de interesse. Assim, a solução era uma só, como já disse, tive que estudar muito para aprender e tentar desenvolver condições para ensinar aos meus alunos.

Comecei muito jovem, com apenas 20 anos, porém, deixando a modéstia de lado, me atrevo a dizer que sou um bom professor desde aquela época. Acho que tenho grande facilidade de comunicação e argumentação, o que me permitiu desenvolver uma Didática muito boa e pelo que percebo, pelo tratamento e pelas homenagens que recebo todos os anos, a grande maioria dos meus alunos concorda plenamente com esse meu pensamento.  Entretanto, devo reconhecer que antigamente eu era muito melhor, porque eu sabia que não tinha conhecimento suficiente sobre muita coisa que deveria ensinar e por isso mesmo eu procurava aprender essas coisas e como já disse, estudava bastante.

Hoje, quase 45 anos depois, erradamente, eu imagino que como já tenho conhecimento, como efetivamente já sei algumas coisas, eu já não procuro tanto pelas informações e estou estudando cada vez menos. Isto é, tenho que admitir: eu já fui melhor, pois me dedicava mais. Posso estar enganado, mas acredito que infelizmente isso acontece com quase todos os professores ao longo do tempo. Mas, com o conhecimento que temos, ainda conseguimos seguir em frente.

Nesses quase 45 anos de magistério, eu me orgulho de dizer que NUNCA tive problemas com alunos por questões didáticas, até porque eu sempre fiz questão de conhecer muito bem sobre o assunto que tinha para ensinar e por isso mesmo, como já disse: eu estudava, estudava e estudava bastante. Vou mais além, embora NUNCA tenha tido problemas, eu penso que, se por acaso tivessem ocorridos alguns problemas, tenho a convicção de os meus alunos poderiam reclamar de qualquer coisa que fosse possível acontecer nas minhas aulas, menos falta de conhecimento do assunto a ser ensinado, porque sempre me preparei a contento para ministrar as minhas aulas, pois, como profissional do magistério, sempre entendi esse aspecto como sendo preponderante ao bom andamento do ensino.

Quando conheci, na faculdade, quase dois anos depois de que eu já estava ministrando aulas regulares, a minha Professora de Didática, a única Professora de Didática que tive em toda a minha vida e quando ela disse, pela primeira vez, para mim e para os meus colegas de classe que “Didática não se ensina”, pois “Didática se tem ou não se tem” e mais, que “para ser Professor é fundamental se ter Didática”, eu quase tive um colapso e fiquei temporariamente perturbado. Imaginem que eu já ministrava aulas há quase dois anos e não sabia que tinha que ter a tal da Didática. Caramba! E eu que me dedicava muito e pensava que estava fazendo a minha tarefa de professor corretamente, o que seria de meu trabalho e de toda minha ação profissional?

No entanto, com o passar das aulas de Didática, eu pude entender melhor o que ela estava querendo dizer com aquela frase contundente e aparentemente ilógica sobre sua disciplina. Na verdade ela estava se referindo ao fato de que a Didática em si não produzir conhecimento específico para ninguém, o que ela faz é propiciar a forma e os mecanismos que permitam a aquisição e a consequente transmissão desses conhecimentos.

Assim, gradativamente fui me acalmando e me restabelecendo daquele impacto negativo inicial. Ao final daquele ano, quando terminei a Disciplina de Didática eu pude claramente compreender que Didática é a maneira pela qual se transmite os conhecimentos ao aluno e cheguei à conclusão que eu fazia a minha parte, pois estudava, aprendia e procurava desenvolver mecanismos que permitissem e facilitassem aos meus alunos o entendimento da matéria que eles precisavam conhecer. Como já disse, acho que tenho feito isso bem até hoje.

Porém, ao concordar com a ideia de minha Professora de que a “Didática não se ensina”, o que se ensina é o conhecimento em si, comecei a questionar outra coisa: como alguém que não tem conhecimento pode ensinar alguma coisa a alguém? Pois então, daí para frente essa questão tem sido a minha cruz, porque além de ser professor, assim como minha Professora de Didática, eu também sou formador de outros professores e vejo que a safra de novos professores ao longo do tempo tem sido, lamentável e infelizmente, cada vez pior.

Será que está mesmo faltando Didática? Creio que não, até porque a parafernália de recursos didáticos (multimeios) que favorecem as técnicas de ensinamento e aprendizado é cada vez melhor e mais eficiente, porém, ao que parece, está faltando muito conhecimento, mormente nos professores. Lamento dizer, mas estamos investindo demais nos meios (aparelhos) e pouco nos fins (pessoas). Hoje temos muitas maneiras que nos facilitam a tarefa de trabalhar o conhecimento, mas não temos conhecimento suficiente para desenvolver essas tarefas a contento. Está faltando exatamente o conhecimento. A maioria dos professores de hoje está mais para contadores (narradores) de histórias do que para artistas criadores e aperfeiçoadores de situações, pois fazem relatos, mas não vivem, não conhecem realmente, aquilo que pregam em suas aulas.

Os “Data Shows” da vida e outros inúmeros equipamentos acessórios ao ensino, que deveriam ser ferramentas auxiliares, valiosas e algumas vezes fantásticas para permitir o bom andamento do processo de transmissão do conhecimento, passaram a ser muletas sobre as quais muitos dos professores se debruçam para poder andar. Na verdade, existem muitos professores, hoje, sem as “pernas do conhecimento”. Ou seja, o que era para ser acessório passou a ser essencial. Infelizmente, o conhecimento está no “PowerPoint” do computador e é projetado numa tela, mas não está na mente e nem no intelecto do professor e assim necessita ser lido e repetido.

Lamentavelmente eu estou cansado de ouvir a seguinte frase, oriunda de muitos professores: “sem “Data Show” eu não dou aulas”. O que é mais triste e me assusta bastante é o fato de que realmente, sem o “Data Show”, muitos deles não conseguem mesmo ministrar as suas respectivas aulas. Por que será? Será que esse é um problema da Didática? Posso estar errado, mas penso que não, não falta Didática. Penso que, na verdade, o que está faltando é conhecimento.

Aí eu volto a lembrar da minha Professora de Didática: como é possível ensinar aquilo que não se sabe? E o que é pior, como é possível avaliar, exigir e cobrar dos alunos aquilo que não se conhece? Há alguns anos atrás, por volta de 1990, eu escrevi um pensamento que está inserido na terceira página de um livro que publiquei em 1996* e que embora não traga nada de novo, acredito que precisa ser repetido aqui: “É impossível ensinar o que não se sabe. É impossível saber o que não se aprende. É impossível aprender o que não se estuda”. **

Pois é, meus amigos. Muitos professores estão precisando estudar para aprender, adquirir conhecimento e assim poder ensinar melhor. Didática não se ensina, ou se tem ou não se tem e para ser professor é fundamental que se tenha Didática. Desta maneira, para ter a Didática necessária e ser bom Professor, o conhecimento é fundamental, pois só pode passar conteúdo quem tem algum. Vamos por as mãos na massa e voltar ao tempo em que a gente estudava, estudava e estudava para aprender e consequentemente poder ensinar alguma coisa aos nossos alunos.


*LIMA, L.E.C., 1996. A Qualidade do Livro Didático no Brasil: Considerações Gerais e o Caso da Biologia, Centro Cultural Teresa D’Ávila – CCTA, Lorena, 84p.

** Esse pensamento também ficou escrito e gravado em letras grandes, como um grande mural, por muitos anos, na parede de uma escola na cidade de Taubaté (Colégio Novo Rumo), a qual infelizmente hoje não existe mais.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Este artigo foi publicado originalmente na página do autor no “site” do Recanto das Letras, em 17/05/2010, tendo o texto sido revisado, corrigido e atualizado em 28/09/2020 para esta nova publicação.

28 set 2020
A Formação Equivocada dos Professores

A Formação Equivocada dos Professores

Resumo: O título do artigo pode levar o leitor a fazer uma ideia errada do seu objetivo. Na realidade, quando se fala em formação do professor, a pretensão é a formação do profissional de Educação e de Ensino em nosso país. Na verdade, o que se pretende é chamar a atenção para a dificuldade enfrentada pelas Instituições de Ensino Superior que formam professores e por seus alunos (pretensos e futuros professores) para produzir e desenvolver profissionais de ensino capazes de atuar no mercado educacional com competência e possibilidade de desenvolver um trabalho profissional eficiente e eficaz. 


INTRODUÇÃO

Talvez o título desse artigo possa levar o leitor a fazer uma ideia errada do seu objetivo. Na realidade, quando se fala em formação do professor, a pretensão é a formação do profissional de Educação e de Ensino em nosso país. Na verdade, o que se pretende é chamar a atenção para a dificuldade enfrentada pelas Instituições de Ensino Superior que formam professores e por seus alunos (pretensos e futuros professores) para produzir e desenvolver profissionais capazes de atuar no mercado educacional com competência e com possibilidade de desenvolver um trabalho profissional eficiente e eficaz.

As evidências e a prática comum têm demonstrado que os profissionais de Educação e de Ensino são formados de maneira genérica, sem qualquer preocupação com a atividade profissional que irão exercer, principalmente com a função específica dos professores na sociedade. Essa questão é discutida nesse artigo, avaliando alguns de seus aspectos e propondo um mecanismo genérico que possa providenciar melhorias na formação dos professores.

CONSTATAÇÕES

Tenho dito em minhas palestras que: “um professor, assim como qualquer profissional, não se forma ocasionalmente e muito menos, da noite para o dia”. Isto é, não é qualquer pessoa que pode ser um professor e há de se ter uma formação específica para os indivíduos que procurem essa atividade profissional. Embora a afirmativa pareça ser óbvia, no caso dos professores isso não costuma ocorrer.

Entretanto, parece que, finalmente, o Governo Federal está começando a entender isso e resolveu investir em mecanismos que efetivamente pretendem melhorar a formação do Professor. Na outra extremidade, as Instituições de Ensino Superior (IESs) ainda estão muito aquém daquilo que se deveria preconizar como condição mínima para tal formação e a questão está muito longe de uma solução. Existem várias profissões em que as pessoas, antes de ingressar nas suas respectivas preparações, passam por testes especiais de aptidão, para ver se vão ser capazes ou não de desenvolvê-las. No caso do exercício da função de Professor, quero crer que também fosse necessário haver um teste de habilidade e aptidão. No entanto, não conheço e creio que não exista em nenhuma das IESs, qualquer prova desse tipo que avalie a aptidão para a função de professor.

Por outro lado, é sabido que ensinar também é uma arte e certamente nem todos os humanos são capazes de desenvolver essa arte. As escolas de formação de professores, também não possuem cursos específicos sobre oratória, dicção, impostação de voz e muito menos, sobre o pensamento lógico e o desenvolvimento da capacidade de argumentação, que são condições fundamentais para os professores, em todas as áreas. Também não existem diferenciações nos métodos e processos de formação nas diferentes áreas e, por exemplo, um professor de línguas certamente requer interesses e habilidades muito diferentes de um professor de ciências.

Além disso, é interessante salientar que grande parte das pessoas que atuam no ensino como professores, em todas as áreas, não têm se quer, formação pedagógica. Isto é, grande parte dos professores não são professores na realidade, são apenas pessoas que ministram aulas, mas cujas formações específicas relacionam-se com outras atividades profissionais. Isto, certamente, é um complicador maior da questão, mas não vou me ater a esse aspecto no momento.

Sempre é bom lembrar, que um professor é, antes de tudo, um comunicador, que precisa ser capaz de informar e convencer. É necessário que o professor tenha crédito (confiança) de seus alunos, se não o aprendizado não será possível. Sem comunicação não há convencimento, sem convencimento não há aprendizado e sem aprendizado não há ensino. Ninguém aprende o que não quer e o professor, principalmente nos últimos tempos, tem que ajudar o aluno a querer aprender. A concorrência é muito difícil, pois hoje existem muito mais coisas que agradam os alunos do que umas “simples” aulas.

O professor é um “comerciante de palavras e ideias” e tem que estar preparado para convencer seu freguês (o aluno), vender o seu produto (a informação) e garantir a sua empresa (a escola) e o seu trabalho (a educação). Para tanto, ele deve usar todos os recursos disponíveis, mas precisa estar preparado para isso. Quer dizer, a formação dos professores necessita ser mais bem trabalhada, tanto pelas autoridades constituídas na área educacional, como pelas IESs e principalmente pelo próprio estudante que vislumbra ser um Professor e está cursando uma Licenciatura.

O Governo Federal, através da Resolução do CNE/CP Nº 2 de 19/02/2002, deu um novo enfoque à questão, o qual é oportuno e muito bem-vindo. Entretanto, ainda é pouco, pois a questão precisa ser entendida e digerida de maneira melhor pelas instituições de ensino que cuidam da formação dos professores, a fim de que sua aplicabilidade possa ser efetiva.

OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

Muito tem sido falado acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os quais são, certamente, um grande avanço no ensino do país e estão aí para serem usados pelos professores na orientação e na composição dos conteúdos a serem ministrados aos seus respectivos alunos. Entretanto, os PCNs não fazem milagres e ainda não existem parâmetros para a formação dos Professores. Talvez seja isso mesmo que esteja faltando, isto é, PCNs específicos visando orientar a formação de Professores e Educadores, nos quais estejam previstas todas as possibilidades de tratar e de esclarecer aos interessados, qual a melhor maneira de informar sobre determinado assunto, em dada situação.

Como essa ferramenta ainda não existe, infelizmente, cada IES faz, praticamente, aquilo que quer fazer, no que diz respeito às Licenciaturas e à formação dos profissionais de ensino que diplomam e lançam no mercado de trabalho anualmente. Cabe lembrar aqui, que o Mercado de Trabalho para Professor é praticamente inesgotável e está sempre deficitário, ou seja, há empregos para Professores sobrando nesse país e cada Professor formado é um novo empregado automaticamente.

Vejam bem investir num profissional de Educação de melhor qualidade é investir numa melhor qualidade de todos os outros setores, pois todos dependem de professores, principalmente nos níveis básicos de formação. Mas, é precisamente nesses níveis em que a situação é mais caótica e, portanto, precisa ser mais bem trabalhada. Em síntese, pensar em PCNs para a formação dos Professores não é uma coisa tão absurda como muitos poderiam estar pensando.

Em suma, a formação de professores tem sido uma verdadeira Torre de Babel e temos visto quadros lamentáveis, com referência à formação dos professores por causa desta falta de ação metodológica definida. É preciso que sejam tomadas atitudes urgentes para que se possa modificar o atual quadro.

Ensina-se ao professor o que ele deverá ensinar, através dos PCNs, porém não se ensina como ele deverá aprender aquilo que deverá ensinar e, muito menos, como ele deverá ensinar aquele conteúdo.

Ou seja, há um hiato entre o ideal e a ação na aplicabilidade dos PCNs. Essa falha precisa ser urgentemente compensada para a eficácia na utilização dos programas. Até porque, a contextualização tão requisitada pelos PCNs, depende de conhecimento e principalmente de vivência educacional (prática de ensino) que os professores, na maioria das vezes, saem da escola sem ter e que quando têm, não sabem como aplicá-la no processo didático-pedagógico.

Sendo assim, como o conhecimento é diferente e o entendimento mais diferente ainda, de professor para professor, as suas respectivas formações acabam sendo muito deficientes, pois as escolas não podem fazer um curso para cada indivíduo. Por outro lado, como há uma carência generalizada de professores no país, temos que formar mais gente nessa área e vamos empurrando o absurdo com a barriga. Com isso, a Educação, que já não anda muito bem, fica pior e os alunos tendem a ser cada vez mais mal formados, pois os seus professores também não são formados devidamente.

Infelizmente, o ciclo vicioso apresentado no quadro descrito acima é verdadeiro e precisamos desenvolver mecanismos para mudá-lo, em benefício do ensino e da educação como um todo. Mas, como fazer? Esta é a grande questão. Sabemos onde está o problema, mas continuamos com ele, pois não temos orientação de um mecanismo que permita resolvê-lo. A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) publicada no início de 2020 atentou-se para essa necessidade e tentou minimizar essas dificuldades, mas ainda é cedo para que se possa fazer uma efetiva determinação do resultado alcançado.

UMA POSSÍVEL PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

Sou de opinião e quero deixar claro que estou apenas dando uma opinião, pois não sou especialista no assunto, tenho apenas alguma sensibilidade sobre a questão e gostaria de tentar ajudar a resolvê-la. Penso que é preciso que se desenvolvam programas modelos e padrões metodológicos regionalizados que permitam formar professores habilitados nas diferentes áreas, de acordo com a real situação em que vivem, isto é, contextualizados (regionalizados).

As questões gerais da região devem ser abordadas como problemas gerais de cada disciplina e devem ter resoluções específicas em cada uma delas e esses temas devem ser trabalhados pelas IESs nos seus diferentes cursos de formação de professores. Obviamente, esses problemas devem estar diretamente associados com os conteúdos específicos das diferentes disciplinas. As questões nacionais e mesmo as internacionais devem ser focos para discussões comparativas, mas não devem ser as mais importantes no que tange à formação dos professores.

Vejam bem, não estou dizendo para que sejam esquecidas as questões que não são regionais. Estou sim, dizendo que estas questões deverão ser tratadas de forma menos abrangente e mais superficial, até porque o cotidiano da informação é uma obrigação dos professores e cada um deverá, a seu modo, procurar se informar. A ecleticidade, além de ser muito bem-vinda, para qualquer profissional, deveria ser uma característica fundamental aos professores em especial. Porém, não é a escola que deve formar ecléticos, até porque ela não tem como fazer isso.

A escola deve sim, preparar os futuros professores que está produzindo, a partir da realidade próxima (do seu entorno) e orientá-los, no sentido de que busquem a sua melhor formação e seu aprimoramento sociocultural, a fim de que possam desenvolver ao máximo o seu intelecto e a sua capacidade cognitiva. A ecleticidade é uma necessidade que o Professor deve obter, a partir de suas próprias experiências e de seus próprios interesses.

Esse é um outro aspecto fundamental que precisa estar evidente nos pretensos candidatos a Professores. Ninguém, que não goste de estudar, deve ensinar, até porque eu entendo que uma coisa puxa a outra. A Educação e o Ensino devem ser realizados por pessoas habilitadas, mas antes disso, por pessoas interessadas em Educação, preocupadas com o Ensino, envolvidas com a aprendizagem e, principalmente, felizes com a função (condição) de Professor (Educador).

Essa é outra questão que existe no cenário nacional e que depõem contra o que se quer, pois grande parte dos professores não está satisfeita com a função que exerce, outra parte nem mesmo é habilitada como Professor e apenas “quebra um galho” dando aulas, outra parte ainda, é composta por pessoas que por estarem desempregadas assumem a regência de determinadas turmas e vão dar aulas daquilo que não sabem o que é, mas juram que irão aprender. O tempo passa, o provisório fica efetivo e o que se ia aprender, na verdade, nem se estudou e o diabo fica cada vez mais feio. Enfim, está tudo errado nesse aspecto, mas vamos voltar ao assunto anterior.

Aprender, além de ser uma condição fundamental para poder saber mais e ensinar melhor é sempre uma experiência interessante, enriquecedora e extremamente benéfica, pois satisfaz ao ego e a saúde como um todo. No que diz respeito ao Professor, aprender é uma experiência fundamental. O Professor tem que ser, antes de tudo, uma pessoa que possua cultura e, para tanto, deve estar sempre buscando novas informações.

Todo Professor tem que ter consciência desse fato para explorá-lo e praticá-lo diuturnamente, até porque a formação do professor continua por toda a sua vida e aprender será sua missão eterna. O conhecimento é ilimitado e a geração de novos conhecimentos é infinita. Sendo assim, sempre haverá algo novo para ser aprendido sobre determinado assunto e o Professor tem que se manter atualizado ad eternum. Desta forma, estudar é fundamental para poder aprender e consequentemente, para poder ensinar.

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR (IESs)

No que se refere às IESs, há dois aspectos fundamentais que precisam ser considerados: o primeiro está relacionado ao dimensionamento desses cursos que variam no tempo e no espaço mais do que a velocidade de um carro de fórmula 1 e o segundo diz respeito ao tipo de curso de formação de professores que elas desenvolvem. No primeiro caso, a situação é muito complicada, pois existem cursos que variam desde 1 ano, com aulas só aos sábados (devem ser cursos para Santos, porque para mim isso é milagre), de 2 anos (meio milagre), de 3 anos (quase milagre, mas dependem de muita fé) e de 4 anos. Nesses últimos é possível fazer um trabalho de razoável a bom, mas, ainda assim, é pouco tempo para formar um professor.

No segundo caso, embora haja muitas variantes, existem alguns cursos que não chegam a ser terríveis e outros até bem razoáveis. O problema está na maneira de agir da IES, quando esta é uma instituição efetivamente interessada na formação de professores e encara este processo dentro da realidade brasileira e da necessidade local, acabam existindo cursos de bom nível. Por outro lado, se a IES resolver continuar a se preocupar primariamente com questões econômicas e com fatores externos (não regionalizados) na formação do professor, aí mesmo é que ela se mantém na condição de não formar ninguém. O conhecimento humano cresce assustadoramente a cada dia e as escolas e mesmo os bons professores, por mais que tentem, não conseguem acompanhá-lo efetivamente.

A função das IESs, além de diminuir o hiato entre o conhecimento de ontem, de hoje e do futuro, é dar uma boa base específica na disciplina pretendida pelo futuro professor, destacando os princípios fundamentais das diferentes áreas de interesse e um bom treinamento na habilidade de ensinar e de relacionar com pessoas, seus futuros alunos ou não, dentro e fora das escolas. É claro que as informações, tanto às novas, quanto às velhas, devem ser contextualizadas e por isso a regionalização delas é fundamental. A realidade regional deve ser a premissa de toda atividade educacional, pois este é o mais próximo e mais direto contato do professor. Isto é, a realidade regional é a sua própria realidade, aí ele vive, aí ele tem que aprender e aí ele deverá ensinar.

A formação específica nas diferentes disciplinas, mal ou bem, sempre foi feita, o treinamento como professor e a contextualização das informações é que ficaram condicionados a um segundo plano. Na maioria das vezes, esses itens acabam não existindo, porque eles nunca foram considerados importantes e o professor se forma totalmente fora da realidade educacional, sem nenhuma experiência de sala de aula, do contato com os alunos e, principalmente, desinformado da necessidade regional, pois desconhece o local onde vive e os problemas que têm maior significado para ele e para a comunidade escola que ele irá encontrar pela frente. Isto é, o professor tem sido formado sem uma preparação específica como educador, fora da realidade local e sem nenhuma contextualização do conhecimento que lhe foi passado. Desta forma, este “professor” é lançado no Mercado de Trabalho e vai “ensinar”. Ora, a Educação não pode ser melhor, se o problema continuar dessa maneira.

É preciso que as IESs resolvam investir um pouco mais nos cursos de Formação de Professores, para evitar esses grandes saltos de qualidade que existem entre elas. Que fique claro, investir nesse caso não é obrigatoriamente gastar mais dinheiro, mas é criar mecanismos diferenciados utilizando a criatividade e principalmente a competência do seu corpo docente, ouvindo os mais influentes profissionalmente e os mais preocupados com o processo e não somente os “superiores”.

Em geral, soluções simples costumam trazer resultados melhores do que grandes projetos. Algumas vezes são desenvolvidos projetos faraônicos, apenas porque “alguém” sugeriu, em detrimento de excelentes ideias que funcionariam muito mais e cujos resultados seriam muito melhores. As IESs devem estar atentas para poder trabalhar bem essas questões e não gastar dinheiro desnecessariamente.

O PAPEL DOS PODERES PÚBLICOS

A questão da contextualização do ensino aqui no Brasil é muito séria, pois somos um país continental que apresenta peculiaridades regionais divergentes e bastante significativas. Além disso, há muita migração, tanto de professores, quanto de estudantes e às vezes é muito difícil contextualizar efetivamente as coisas, mas, no que tange à Educação é preciso que seja feito um esforço adicional para que se consiga atingir esse intento. Tive oportunidade de escrever sobre esse assunto (LIMA,2018), considerando a Educação Ambiental como principal referência da questão.

Muitas vezes os futuros professores saem de uma região e vão estudar em outra e, posteriormente voltam para a região anterior para ensinar aquilo que aprenderam na região onde se formaram. Obviamente isso é muito ruim, pois geralmente há significativas diferenças entre as duas regiões. Pior ainda, é quando o Professor nascido e formado numa determinada região vai trabalhar em outra totalmente diferente, como foi o meu caso.

Às vezes, até a língua, ou melhor, a linguagem, a forma de falar e o sotaque são diferentes e, obviamente a comunicação e o entendimento acabam ficando mais difíceis. Os alunos desses professores ficam perdidos e não conseguem contextualizar as informações porque elas estão fora da realidade regional, pelo menos no contexto linguístico. Mas, nada disso é capaz de justificar a não regionalização como princípio efetivo e apropriado para a contextualização.

Eu mesmo sofri esse tipo de problema quando vim para a região do Vale do Paraíba do Sul dar aulas de Zoologia na Universidade de Taubaté, em 1980. Alguns dos nomes vulgares atribuídos aos animais eram bastante diferentes daqueles pelos quais eu os conhecia lá na cidade do Rio de Janeiro e veja que são menos de trezentos quilômetros de distância entre as duas cidades. O pior de tudo é que os alunos não admitiam que eu, Professor de Zoologia, não conhecesse aqueles animais (os nomes populares daqueles animais) tão conhecidos para eles. Que tipo de professor era eu, que não era capaz de reconhecer e identificar animais tão comuns?

Hoje, 40 anos depois, já estou totalmente inserido na região e obviamente não tenho mais desses problemas. Entretanto, tive que trabalhar e estudar muito para aprender. Imaginem, então, quando as distâncias são maiores o que pode acontecer. Eu me regionalizei (conheci a região, os seus problemas e soluções) e aprendi, mas isso só foi possível porque estudei, porque resolvi ficar na região e porque gosto do que faço e queria ampliar os meus conhecimentos regionais, para poder contextualizar minhas aulas para os meus alunos. Entretanto, a minha realidade não precisa ser a realidade de todos os professores.

Bom, eu sei que será difícil, mas, de qualquer forma, é fundamental que se comece a pensar mais seriamente na questão da formação regionalizada (contextualizada) dos professores, que a educação desse país tanto necessita, pois do contrário, ainda iremos sofrer muito para alcançar o local que merecemos no cenário internacional. O Brasil não pode esperar mais para ser o principal país do mundo, entretanto há de se lembrar que sem educação não há solução e sem professor não se faz educação.

Sendo assim, urge que os Poderes constituídos, nas três esferas, passem a pensar a profissão de professor como o caminho mais efetivo e eficiente para o desenvolvimento do país. Ainda, que dando apenas um palpite, estou convencido da necessidade da contextualização do ensino e tenho certeza de que a resolução desse problema está diretamente ligada à regionalização. Todos os problemas desse país se resumem a uma só causa: a nossa falta de educação generalizada. Só resolveremos os problemas se resolvermos à causa dos problemas. Para corte do cabelo, usa-se o barbeiro, para roupa rasgada usa-se a costureira, para dor de dentes usa-se o dentista, para defesa jurídica usa-se o advogado, para doenças usa-se o médico.

Enfim, para cada coisa tem um profissional específico capaz de resolvê-la. Pois é, então para falta de Educação só se pode usar o Professor e esse professor tem que estar em totais condições de informar e de formar cidadãos críticos, capazes e conscientes da importância que têm no desenvolvimento do país. Entretanto, do jeito que a coisa anda, está cada vez mais difícil, pois não estamos formando o Professor que o país necessita. E o pior é que está parecendo que não estamos nos importando muito com esse fato.

Recentemente vimos os jornais noticiando que algumas IES da capital paulista estiveram dispensando os seus Professores Doutores e contratando Professores com qualificação inferior, pois estes últimos custam mais barato às instituições. Ora, esse é o caminho do absurdo e assim além de não resolvermos os problemas que já temos, estaremos também, arrumando outros bem maiores, quando esquecemos que educação não tem preço e que por isso mesmo deve estar dissociada de questões puramente econômicas.

É preciso que se tenha professor de qualidade sob todos os aspectos. Não basta apenas formar melhores professores, esta é somente a ação inicial, é necessário também que a profissão resgate a sua credibilidade e a sua autoridade perante a comunidade, em particular o público jovem que frequenta as escolas. As condições infra estruturais da educação e, principalmente, os salários dos professores devem ser condizentes com a qualificação que esses profissionais precisam passar a ter. E a qualificação dos Professores deve ser efetivamente premiada, até mesmo para motivá-los a investir em sua formação e aprimoramento. Professores melhores certamente representam escolas melhores, alunos melhores e uma Educação melhor.

Lamentavelmente, hoje qualquer um está sendo capaz de “dar aulas” e a profissão de Professor virou motivo de chacota, pois perdeu a sua identidade profissional e há efetivamente poucos Professores no Mercado de Trabalho, embora haja muita gente dando aulas.

CONCLUSÃO

Se o País quer mudar e quer crescer, então é preciso reverter esse quadro. Para começar, poderia colocar “Verdadeiros Professores” nas salas ministrando aulas e tentando ensinar aos futuros professores. Desta maneira, é fundamental que esses professores sejam pessoas capazes, com cultura suficiente, não só para informar sobre suas respectivas disciplinas, mas principalmente para formar novos professores. Para tanto, quero crer que a minha proposta de regionalizar o mais possível os cursos de Pedagogia e as Licenciaturas existentes no país possa ser o pontapé inicial.

A grande dimensão geográfica do Brasil, aliada à sua imensa diversidade cultural, social e natural me permite afirmar que se a regionalização não é o melhor caminho, certamente é um caminho bastante viável e que certamente trará resultados positivos à formação dos professores em curto prazo e obviamente à educação como um todo em médio prazo. Precisamos formar professores que sejam mais que simples passadores de informações e repetidores daquilo que não conhecem e, principalmente, que não vivem.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9394/96 (Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Ministério da Educação, Brasília, 1996.

*BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica, Brasília, 174 p., il.,1998.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Ministério da Educação, Secretaria da Educação Média e Tecnológica, Brasília, 364 p., il.,1999.

BRASIL. Resolução do Conselho Nacional de Educação /CP Nº 2 de 19/02/2002, Ministério da Educação, Brasília, 2002.

*BRASIL. Base Nacional Curricular Comum: Educação é a Base, Ministério da Educação, Brasília, 596 p., 2020.

LIMA. LUIZ EDUARDO, C., Particularidades do Ensino de Ciências, Ângulo, Lorena, (107): 01- 05, 2006.

*LIMA. LUIZ EDUARDO, C., Contextualização e Regionalização da Educação Ambiental, www.profluizeduardo.com.br , 30/04/2018.

SCHWARTZMAN, SIMON, Educação: a Nova Geração de Reformas In Giambiagi, Fabio; Reis, José Guilherme; Urani, André (org.), Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira (2004).


Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)

*Não consta na listagem da publicação original.
***Este artigo foi publicado originalmente na página do autor no “site” do Recanto das Letras, em 01/09/2008, tendo o texto sido revisado, corrigido e atualizado em 28/09/2020 para esta nova publicação.