14 abr 2019

Verdades e Mentiras a Respeito dos Escorpiões

Resumo: Algumas informações básicas e objetivas, tentando trazer a verdade sobre os possíveis problemas relacionados aos acidentes com escorpiões.


Os Escorpiões são animais representantes do Filo dos Artrópodes, da Classe dos Aracnídeos e da Subclasse dos Escorpionídeos. Esse tipo de animal é aparentemente bem conhecido das populações, sendo bastante temido pelas pessoas em geral, haja vista que possui uma glândula de veneno localizada no interior do último segmento de seu abdome, que se comunica com o exterior através de um aguilhão (ferrão), por onde o animal pode inocular a toxina (veneno) que produz. Os Escorpiões se utilizam desse mecanismo de inoculação de veneno fundamentalmente para duas situações: matar suas presas e se defender de seus possíveis agressores (inimigos).

Existem cerca de 1600 espécies de escorpiões descritas no mundo, cerca de 200 dessas espécies de escorpiões são encontradas no Brasil, mas apenas 10 dessas espécies brasileiras são consideradas perigosas para o homem. Isto é, a toxina (veneno) da maioria dos escorpiões brasileiros não causa nenhum risco ou dano aos seres humanos. Entretanto, existem algumas que podem realmente produzir problemas sérios.

Aqui na região são encontradas duas dessas espécies consideradas perigosas: Tytius serrulatus, a mais comum e conhecida como “escorpião amarelo” e Tytius bahiensis, conhecido como “escorpião preto”, mas isso tem pouco significado, porque praticamente todas as espécies de escorpiões brasileiros são de coloração principalmente amarela ou preta. Para identificar a espécie Tytius serrulatus, talvez fosse mais interessante observar a serrilha característica no dorso desses animais e para identificar Tytius bahiensis, talvez fosse melhor observar que embora seu dorso seja negro, suas patas são amarelas e seu palpo (o apêndice maior da parte anterior do escorpião) tem manchas pretas na parte terminal, antes de suas quelas (pinças ou garras).

As populações desses animais têm crescido, em função direta do crescimento das áreas urbanas e consequentemente o número de casos de envenamento produzidos pelas picadas em humanos e em animais domésticos também. Hoje, o número de acidentes registrados com escorpiões já superou o número de acidentes ocorridos com as cobras, aqui no Brasil, o que tem tornado os escorpiões em mais uma questão de saúde pública. 

É bom lembrar que os escorpiões existem a cerca de 400 milhões de anos, isto é, muito antes de qualquer ser humano e que, ao contrário do que andam dizendo, não está havendo uma invasão de escorpiões, porque eles já viviam aqui muito antes de nós e certamente eles vão continuar vivendo, independentemente da nossa vontade. O que precisamos é conhecer um pouco melhor o hábito de vida desses animais, tentar evitar o contato direto com eles e controlar o crescimento acentuado de suas populações e ainda, dentro do possível, aprender a conviver com eles evitando que os acidentes possam acontecer.

Pois então, em consequência desses vários aspectos, como foi dito acima, os acidentes com escorpiões se transformaram progressiva e assustadoramente em casos cada vez mais sérios de saúde pública. Entretanto, é preciso que se esclareçam algumas coisas, porque ainda existe muita lenda, muita inverdade sobre os riscos de acidentes produzidos por esses animais. Na realidade, os maiores problemas resultam da desinformação das populações e das inúmeras crendices que existem sobre o perigo relacionado aos escorpiões. Por conta disso, resolvi fazer está pequena explicação para elucidar algumas dessas inverdades que lamentavelmente, ao invés de serem esquecidas, acabam sendo intensificadas pela mídia e reforçadas pelas próprias autoridades. Infelizmente, a ignorância e o desconhecimento são as principais causas dos problemas, no que se refere aos escorpiões.

Eis aqui algumas perguntas e respostas que eu reputo como esclarecedoras sobre as principais questões relacionadas aos escorpiões.

1 – Picada de escorpião mata?

Se o indivíduo tomar uma única picada, na imensa maioria das vezes não. Registros de mortes por conta de picadas de escorpiões são extremamente raros, em torno de 1% dos casos, e geralmente estão associados a outros aspectos. Isto é, além da picada o indivíduo atingido, deve apresentar outros problemas, como alergia, problemas renais, subnutrição, problemas neurológicos. Talvez a toxina do escorpião possa agravar o quadro e assim conduzir ao óbito, mas ela não é a causa única que gera o óbito. Porém, se o indivíduo tomar várias picadas ao mesmo tempo, assumindo grande quantidade de veneno, obviamente a ação da toxina será ampliada e assim a chance de óbito certamente também será magnificada. Entretanto, se a possibilidade do indivíduo tomar uma picada já é muito rara, então a probabilidade dele tomar mais de uma picada e quase desprezível.

2 – Picada de escorpião dói?

Sim, dói e dói muito, o local pode ficar acentuadamente vermelho, pode até necrosar, pode produzir dor de cabeça, vômitos, queda da pressão e trazer inúmeras outras complicações momentâneas. Entretanto, normalmente não vai além disso, porque existe o soro antiescorpiônico que age como antídoto contra o efeito da toxina (veneno) e num espaço de tempo relativamente curto, acaba inibindo seus efeitos. Sendo assim, se o indivíduo for picado, basta correr ao centro médico (hospital ou posto de saúde) e tomar o soro, que gradativamente tudo voltará ao normal.

3 – Qual o verdadeiro perigo com os escorpiões?

O perigo real é que, como os escorpiões brasileiros são animais relativamente pequenos, pois raramente ultrapassam 6 centímetros e os maiores não passam de 7 centímetros, eles têm grande facilidade de se esconder de nossa vista. Espécies de “escorpiões gigantes”, com cerca de 20 centímetros de comprimento, não existem aqui no Brasil. Sendo pequenos, os animais entram facilmente, sem serem vistos, dentro dos sapatos e botas, dos bolsos e das bolsas, das caixas de joias e bijuterias, das caixas de remédio, enfim de várias coisas comuns nas nossas casas. Desta maneira, eles acabam não sendo vistos e as pessoas, ocasionalmente, acabam acidentalmente pisando, apertando ou mesmo pegando esses animais, que se sentem agredidos e eles se defendem através das picadas.

Podem estar certos, que não existe nenhum escorpião pretensamente “mal intencionado” e que deliberadamente programe atacar o ser humano, pois logicamente ele não vai querer gastar seu rico veneno, numa coisa tão grande como o ser humano, da qual ele não poderá se utilizar como alimento. É lenda essa história de dizer que o escorpião atacou alguém, que não seja uma presa sua. Na verdade o ser humano é quem ocasionalmente ataca o escorpião, quando vai dar um tapa no escorpião ou quando vai calçar o sapato que tem um escorpião dentro e assim acaba recebendo uma picada ao tocar ou pisar no animal.

Outra coisa que precisa ser dita e tornada óbvia a todos é que, se nós excluirmos os bebês e alguns idosos com problemas motores crônicos, todos os demais seres humanos são capazes de dar uma chinelada num escorpião, da mesma maneira como se costuma fazer com as baratas. Pois então, depois da chinelada, assim como acontece com a barata, certamente o escorpião estará morto. Quer dizer, também não faz muito sentido, apesar do escorpião ser um animal perigoso, que o ser humano tenha esse medo estarrecedor do animal, haja vista que uma simples chinelada pode acabar com qualquer escorpião. Na verdade, falta apenas bom senso, desmistificação do escorpião e orientação da população.

O escorpião é perigoso sim, mas ele é um animal como outro qualquer e infinitamente menor que o ser humano. Vou continuar usando a barata como exemplo. Se você é capaz de matar a barata, certamente você é capaz de matar o escorpião e por mais escorpiões que existam, certamente o número de baratas é muito maior. Isto quer dizer que, se você consegue controlar as baratas com as chineladas, obviamente você conseguirá controlar os escorpiões também. O problema é que você não tem medo da barata, mas tem medo do escorpião, porque colocaram na sua cabeça, uma grande quantidade de crendices e inverdades sobre os escorpiões. O que precisa acontecer é a desmistificação do escorpião.

As pessoas precisam entender que escorpiões são animais perigosos, mas que os acidentes com esses animais são acidentes e assim são, antes de tudo, raros e facilmente evitáveis. Basta que se tenha o cuidado necessário no possível encontro desses animais. Na verdade, precisamos apenas mudar alguns dos nossos hábitos para diminuir significativamente o número de casos de picadas de escorpiões. Antes de vestir sua roupa, antes de calçar o seu sapato ou antes de mexer na sua caixa de joias, observe se há escorpiões. Se não encontrar o animal, tudo bem e se encontrar é só matar ou espantar o animal. Lembre-se que ele é apenas um pequeno animal invertebrado, que pesa algumas gramas e que você é um grande vertebrado que costuma pesar mais de 60 Quilogramas em média e que ele, a princípio, não tem nenhum interesse em gastar seu rico veneno em você, haja vista que o veneno “custa caro” e leva tempo para ser metabolizado (fabricado) pelo escorpião. O escorpião é apenas um animal verdadeiro e real, ele não possui superpoderes.

4 – A galinha é um predador natural dos escorpiões?

Não, até porque na natureza uma galinha e um escorpião provavelmente nunca se encontrariam se o homem não tivesse produzido esse encontro, mas uma galinha até pode comer alguns escorpiões, se conseguir encontra-los. Mas que fique claro, a chance da galinha encontrar um escorpião é menor do que a de você encontrar. É lenda essa história de que galinha é um inimigo natural e um predador do escorpião, até porque, além de tudo, a galinha tem hábito diurno e escorpião tem hábito noturno e assim dificilmente eles se encontram. Em certo sentido, as lagartixas talvez sejam mais eficientes que as galinhas no combate aos escorpiões. Sendo assim, não mate as lagartixas, pois isso já minimizará as possibilidades de aparecerem escorpiões na sua casa.

5 – O que se deve fazer para não ter mais escorpiões nas casas?

As pessoas devem manter a casa limpa e higienizada, sem restos de comida, restos de construção civil, sem lixo acumulado em geral e, principalmente, sem pequenos lugares quentes e úmidos que possam abrigar escorpiões, como por exemplo, aquela meia usada que está jogada num canto do quarto desde a semana passada. Você não deve favorecer à produção de ambientes interessantes aos escorpiões e nem as baratas, porque os escorpiões vêm atrás delas. As baratas são os alimentos preferidos dos escorpiões e assim, onde tem barata deve ter escorpião. Mas, os escorpiões também podem comer outros artrópodes, como insetos, aranhas e mesmo outros escorpiões. É claro que a dedetização das casas, ainda que não resolva totalmente o problema, também minimiza a possibilidade do aparecimento de escorpiões.

6 – Devo acreditar nas informações oriundas de vídeos da INTERNET?

Na grande maioria das vezes não, pois muitas são mentirosas e outras são totalmente equivocadas. Agora vou esclarecer um detalhe técnico que a maioria das pessoas não conhece. Existem vários grupos de artrópodes aracnídeos cujos animais são parecidos (têm a mesma forma corpórea básica) dos escorpiões. Por exemplo, recentemente andou circulando um vídeo em que um sujeito apresentava uma grande quantidade de escorpiões no interior de uma caixa de ovos. Pois então, aqueles animais não são escorpiões e sim pseudoescorpiões.

Os Pseudoescorpiões sãos um grupo de Aracnídeos que tem uma forma semelhante aos escorpiões, mas que não possuem o aguilhão na parte final do abdome. Desta forma, eles são totalmente inofensivos, pois não possuem e não inoculam nenhuma toxina (veneno). Cuidado, com as informações da INTERNET, até porque além de muita maldade proposital, existe também muito desconhecimento. Quando você tiver dúvida sobre algo, procure alguém que conheça daquele assunto e possa explicar algum detalhe mais claramente. Desconhecer alguma coisa é normal, o que não deveria ser normal é fazer afirmativas sobre aquilo que não se sabe, por isso pergunte a quem entende.

Bom, penso que, depois desse pequeno texto, tenha sido possível esclarecer algumas dúvidas, mas certamente devem ter sido criadas outras. Por favor, não tenham vergonha e sintam-se à vontade para perguntar e desde já podem ter certeza que, aquilo que eu também não souber responder, vou simplesmente dizer não sei ou irei procurar com algum especialista no assunto. Aliás, esse é outro problema comum, que só aumenta a nossa ignorância. A pessoa tem medo de dizer que não sabe alguma coisa e aí ela inventa uma resposta e aquela pessoa que recebeu a informação acredita e passa a resposta inventada para outra pessoa e assim por diante. De repente, uma coisa errada (mentira) é repetida inúmeras vezes e acaba virando certa (verdade). Também é preciso acabar com isso, porque essa situação só aumenta a nossa ignorância. Como eu disse no início, a ignorância e o desconhecimento sobre a nossa fauna estão entre os piores de todos os problemas que nós brasileiros temos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (62)

04 abr 2019
A Escola na Sociedade atual e futura

A Escola na Sociedade atual e futura

Resumo: Resolvi escrever apresentando minha opinião a respeito daquilo que imagino que a escola deve ser como principal entidade social e as expectativas futuras que podem decorrer desse pensamento.


INTRODUÇÃO

Considerando a minha modesta condição de professor e livre pensador, resolvi escrever um pouco sobre a humilde opinião que tenho de como acredito deva ser a escola (qualquer instituição de ensino) como entidade social e que expectativas eu imagino possam decorrer da influência que essa escola é capaz de produzir na sociedade atual e o que isso pode representar, de fato, em melhorias efetivas para toda a humanidade no futuro próximo.

Para começar, quero dizer que considero a escola como sendo a mais importante instituição da sociedade e por mais óbvio que possa parecer, creio que seja fundamental essa afirmação até para justificar, desde já, algumas questões que vou discutir ao longo desse texto. Entendo que a escola é a única instituição social capaz de mudar as pessoas, entretanto também entendo que é chegado o momento em que essa instituição precisa reavaliar o seu compromisso social para poder continuar cumprindo esse mesmo compromisso.

A escola, embora tenha toda a relevância que já destaquei acima, não deve e nem pode estar fechada em si mesma por alguns motivos. Primeiramente porque é uma instituição social e assim necessariamente ela se relaciona e trabalha com pessoas e toda a sorte de atributos que essas pessoas podem ter e que podem demonstrar, ou não, a cada momento. Em segundo lugar porque a escola é uma instituição de ensino e como tal precisa ter uma definição clara de por que ensina, do que ensina, como ensina e a quem ensina. Isto é, a escola necessita ter um processo pedagógico que demonstre claramente quais são os seus princípios, que indique objetivamente suas pretensões e que determine efetivamente suas obrigações. Em terceiro lugar porque a escola é uma instituição que identifica, gera, concentra e divulga saberes e culturas e, por isso mesmo deve estar implicada numa dimensão histórica dentro da comunidade próxima em que está inserida, mas sem se afastar (sem deixar de lado) a realidade humana, num contexto social maior de toda a sociedade planetária, isto é, das questões próprias da humanidade e de todas as suas dimensões sociais ou não.

Assim, acredito que a escola não pode se afastar do tempo e como o tempo atual é de mudanças profundas em toda sociedade, entendo que a escola também precisa se adequar às novas necessidades imperantes. A humanidade precisa continuar sua história planetária e a escola é deverá ser a entidade destacada que permitirá a perpetuação desse fato, independentemente das possíveis rupturas e efeitos colaterais. Entretanto para que isso ocorra serão necessários alguns ajustes, porque os tempos mudam e a escola, desde que foi inventada, até aqui infelizmente não mudou. Já está passando da hora de efetuar as mudanças que se fazem tão necessárias.   

A IDENTIDADE DA ESCOLA

Considerando os aspectos básicos e fundamentais destacados na introdução acima para idealizar a escola é possível generalizar, dizendo que a escola é uma instituição que tem caráter social, cognitivo, cultural, histórico, político e comunitário. Assim, a mescla desses caracteres é que forma, de fato, a instituição social denominada de escola e essa instituição não deve e nem pode se sentir ou agir com tendências maiores ou menores nesse ou naquele caráter. Pois então, essa é a grande dificuldade da escola, pois ela tem que se fazer parte integrante de tudo, sem poder, de fato, tomar parte direta de nada.

Essa é uma condição muito complicada e difícil de ser assumida e desenvolvida da maneira devida e correta, porque certamente existem sobreposições entre os aspectos e principalmente, porque quem faz as escolas são pessoas e naturalmente as pessoas (seres humanos e sociais) não conseguem “controlar” (conter) seus instintos e impulsos, criando situações conflitantes. Muitas vezes, as pessoas, nem ao menos, tentam ou conseguem tentar balizar exatamente as dimensões (caracteres) do processo pedagógico fundamental na escolarização a que a escola deveria se propor como entidade social. Possivelmente, talvez, seja por isso que não existe possibilidade de encontrarmos duas escolas iguais. A identidade da escola é um caráter próprio, individual e exclusivo, que a própria escola desenvolve e conquista ao longo de sua história.

Por mais próximas e parecidas que as escolas possam ser, elas sempre são diferentes.  Existem inúmeros aspectos que garantem esse fato e me permitem fazer essa afirmativa, mas eles podem ser grupados genericamente em dois grupos fundamentais. O primeiro deles está centrado na questão didático-pedagógica da escola, que relaciona-se com o currículo disciplinar e o segundo está relacionado com as raízes culturais, históricas e políticas da comunidade local. Entretanto, volto a dizer, ainda que se imagine escolas vizinhas, com a mesma estrutura curricular básica e com a mesma comunidade histórica, sobre a mesma influência cultural e política, ambas certamente serão diferentes, porque serão compostas por pessoas distintas. Volto a afirmar, não existem duas escolas iguais.

Da forma como tratamos e entendemos a instituição escola até hoje, é impossível pensar na existência de uma escola sem uma proposta curricular, sem um elenco de disciplinas didático-pedagógicas, sem um conteúdo programático, sem um corpo docente e logicamente sem um corpo discente. Mas, por outro lado, também é impossível pensar uma escola sem a cultura do entorno e sem o envolvimento sócio regional de sua localização ou, pelo menos, de sua “população mais característica”. Aliás, essa questão da “população mais característica” também é bastante complexa, por isso constitui-se em algo que precisarei me aprofundar um pouco mais, para depois continuar e discutir a questão curricular.

OS AGENTES SOCIAIS E A “POPULAÇÃO MAIS CARACTERÍSTICA” DA ESCOLA

Numa escola existem pessoas de todos os tipos e em todos os níveis: alunos, professores, funcionários, pais de alunos, e outros visitantes informais menos comuns, porém presentes e constantes no ambiente escolar, como por exemplo, o supervisor de ensino ou o entregador de refrigerante da cantina. Toda essa população faz parte da “comunidade intraescolar”, porque de uma forma ou de outra, eles acabam estando sempre dentro da escola. Entretanto, também existem os “vizinhos” da escola, que por um motivo ou por outro, têm alguma relação com ela, que são o restante da população da rua ou do bairro, os quais também interferem ou são interferidos pela presença da escola naquele local, por exemplo o menino que vai pegar a bola que caiu dentro da escola ou o vidraceiro que foi arrumar o vidro da janela quebrada. Esse pessoal, que não é frequente, mas que existe e participa do espaço escolar, consiste na “comunidade extraescolar”.

Quer dizer, a comunidade da escola se compõe de pessoas que se apresentam em dois segmentos distintos: pessoas efetivamente de dentro da escola, ou melhor, envolvidas diretamente na escola (“comunidade intraescolar”) e pessoas ocasionalmente envolvidas na escola (“comunidade extraescolar”). Todas essas pessoas constituem os chamados “stakeholders” (Freeman, 1984) da comunidade da escola. A escola apesar de seu objetivo maior de educar e ensinar, possui no seu corpo de “stakeholders” inúmeras pessoas que nada têm a ver com a educação.

Pois então, essas pessoas são de raças, sexos e cores diferentes, têm hábitos e costumes diferentes, têm crenças distintas, têm ligações ou interesses políticos diversificados, torcem para diversos times de futebol, gostam de assuntos variados, têm quase que um contingente infinito de inúmeras outras atividades diversas que poderiam ser consideradas aqui. Pois então, como traçar um modelo de “população mais característica” (principal), sem comprometer os interesses das demais pessoas envolvidas? Bem, essa é uma situação própria das escolas, que elas intencionalmente ou não, progressivamente buscam resolver, através das políticas que estabelecem ao longo do tempo. Parece incrível, mas, quase sem perceber, as escolas vão se adequando gradativamente a essa sua “população mais característica”.

É exata e precisamente isso que faz com que escolas próximas possam ser extremamente diferentes. Embora essas escolas muitas vezes até estejam inseridas, por exemplo, numa mesma comunidade de um determinado bairro, essas escolas, ainda assim, se constituem através de públicos alvos principais e perspectivas sociais, históricas e culturais diversificadas, porque seus problemas são diferentes, haja vista que os “stakeholders” que as compõem são pessoas distintas. Mais uma vez, parece incrível, mas são as pessoas que mais causam, quantificam, dimensionam ou imaginam os problemas que dificultam o funcionamento das escolas e assim, são as pessoas da comunidade da escola, que tornam as escolas mais diversas e também muito mais complicadas. O pior e mais triste de tudo é que, a grande maioria dessas pessoas não têm, ao menos diretamente, nada a ver com a função educacional da escola, entretanto elas estão aí causando situações que interferem na engrenagem escolar.

OS CURRÍCULOS E CONTEÚDOS DISCIPLINARES

Existe uma preocupação natural quanto a faixa etária do cliente da escola, o aluno, e a informação a ser “passada para” (discutida com) ele. É evidente que não se pode dizer qualquer coisa para qualquer um em qualquer momento, principalmente quando se fala com jovens estudantes. Aliás, acredito que os meus colegas, professores de Biologia, possam explicar melhor sobre esse aspecto aos leitores mais interessados, porque não vou discutir sobre isso, pois perderemos muito tempo e texto com detalhes que não cabem nesse momento. Mas quero crer que a grande maioria dos leitores, de alguma maneira, tenham a devida dimensão da relação da idade com o grau de informação a ser informada (ministrada) ao aluno.

Por conta dessa questão: idade X grau de informação, lá trás, nos tempos idos, alguém “inventou” um negócio chamado currículo escolar e, o que é pior, estabeleceu regras para que esse currículo fosse ensinado (passado, informado, ministrado ou introduzido) para os alunos. Pois então, currículo escolar e regras de como ministra-lo são realmente duas grandes bobagens que precisam deixar de existir, pelo menos da maneira como são estabelecidos, para o bem da educação.

É evidente que muita gente não vai gostar dessa minha afirmativa, por vários aspectos, mas a mim só está preocupando aqueles que poderão perder o emprego por causa disso, porque infelizmente tem gente entendida e “especializada” em fazer apenas e tão somente isso. Essas são pessoas, que não me conhecem e que já não irão gostar de mim, mesmo sem me conhecer e certamente ficarão deveras assustadas se lerem o que acabo de escrever. Mas, infelizmente essa é uma grande verdade e precisa ser enfrentada para o bem da educação e da escola.

A propósito, passei inúmeras vezes por essa situação em minha vida, pelo simples fato de que: “costumo falar a verdade e o que penso sobre as coisas e isso incomoda a muita gente”.  Quero dizer as pessoas que podem ter ficado assustadas com minha afirmação que não se preocupem, pois basta apenas aprender, trabalhar e ser competente. Por outro lado, cabe ressaltar que: “competência não se mede pelo exercício de apenas uma função definida, mas sim pela capacidade de assumir corretamente múltiplas funções.” Isto é, se essas pessoas forem competentes, certamente elas não perderão seus empregos, porque conseguiram exercer outras funções. Aliás, essa noção de competência deve ser um dos atributos da escola abrigada pelo currículo escolar. Mas, vamos voltar ao assunto.

Nessas alturas, alguém já deve estar dizendo: “esse sujeito é (ou está ficando) maluco”. Como vai ser a escola? O que vamos ensinar se não houver currículo pedagógico e se não houver critério disciplinar rígido estabelecido? Como vamos ensinar? Meu Deus! A escola vai virar um pandemônio.

Pois é, meus amigos, eu estou muito ciente do que estou falando e não vai acontecer nada de anormal na instituição escola. Vou tentar explicar melhor, para todos aqueles que quiserem e que se derem o direito de tentar entender. Aqueles que não quiserem entender podem parar por aqui e desistir da leitura, porque minha loucura está apenas no início.

O programa da disciplina certamente existirá, mas terá apenas temas gerais a serem discutidos e o conteúdo específico será definido dia a dia, aula a aula, de acordo com o interesse dos alunos sobre aquele tema. Podem ter certeza, sempre (sempre mesmo) haverá alguém querendo saber algo sobre alguma coisa e a partir desse algo e da criação do professor, obviamente a discussão se faz, o assunto cresce e os conceitos aparecem. Desta forma o currículo se faz e a disciplina (matéria) é de alguma forma aprendida. O professor exige um relatório ou faz algumas perguntas sobre o assunto e o conteúdo programático está estabelecido. Mais uma vez, a propósito, antes que alguém diga que isso é impossível, eu posso afirmar que não é, porque já fiz essa experiência algumas vezes e podem acreditar: isso funciona, dá muito certo. Aliás, o único risco que se corre, é que muitas vezes o tempo da aula não é suficiente para suprir as discussões, sendo necessário continua-las em outra ou outras aulas. Por outro lado, devo ressaltar que o aproveitamento é ótimo.

O professor não tem que estar preocupado em cumprir um programa, ele apenas apresenta um tema e o programa se faz, a partir das opiniões, das questões, das discussões e do interesse direto e imediato dos alunos, os clientes, aqueles que precisam estar satisfeitos com o produto. As questões são tiradas das próprias interlocuções e os conceitos são aplicados para que se esclareçam sobre os termos. Parece incrível, mas é real. Eu já fiz e volto a dizer, o resultado é fantástico, isto é, o aproveitamento (aprendizado) dos alunos é muito maior, porque o aluno é o agente (protagonista) da história tratada e assim, ele aproveita, guarda e aprende muito mais. Colegas professores, por favor, duvidem do que eu digo e façam o teste vocês mesmos.

Agora, tem um outro lado complicado e mais uma vez, alguém vai perder ou alguém vai ganhar um novo emprego. Aquela discussão inócua em nível, às vezes nacional, de qual deve ser o currículo para o Ensino Médio, como se está vivenciando nesse momento, passa a não ser mais tão importante, porque a partir dos temas básicos e do interesse local da comunidade da escola e da população mais característica, a discussão se estabelecerá, sempre dentro dos valores e principalmente dos problemas próximos, condizentes com a contextualização que se faz necessária. Essa metodologia implica em abandonar a escola fictícia, inventada por alguém e partir para o trabalho na escola real, que acontece no cotidiano daquela comunidade.

Volto a afirmar: eu sei que isso funciona, porque eu já experimentei. Entretanto, precisa ser tentado por quem não acredita. Já disse que fiz essa experiência várias vezes e deu muito certo. Infelizmente alguns ainda vão preferir dizer que, na verdade, eu sou um preguiçoso que andei enrolando meus alunos e cabulando aula. Mas, por favor, senhores professores, façam essa experiência também.

Infelizmente, estamos presos a uma legislação e a algumas obrigações idiotizantes que não nos permitem fazer isso sempre, porque temos que cumprir os programas, os prazos estabelecidos e outras “bobagens burocráticas” em de cada bimestre do ano letivo com suas 200 horas obrigatórias de atividades. Vejam bem, eu disse “bobagens burocráticas” porque isso não tem efetivamente nada a ver com a escola ou com a educação. Isso é uma arbitrariedade imposta por alguém, dentro do sistema, e não tem valor pedagógico absolutamente nenhum. 

Aliás, em 1991, o ministro da educação era uma sujeito que o Presidente Collor inventou, Carlos Chiarelli, e que achou que ia acabar com todos os problemas da educação, quando ampliou o número de dias letivos de 180 para 200. Naquela oportunidade, eu publiquei um artigo (LIMA,1991), no Boletim da Universidade de Taubaté, onde chamava a atenção para o fato de que não são 180 ou 200 dias letivos que fazem a diferença e muito menos a melhora da educação, mas sim a postura do aluno, do professor, da escola e do ministro. Isso faz 27 anos e como eu disse, naquela época, até aqui nada mudou, além dos 20 dias a mais. Naquela época se discutiu sobre os números de dias do ano letivo, mas não tratou efetivamente de educação e hoje nem os números de dias letivos são mais discutidos.

Mas, eu quero dar mais um exemplo, na minha área (Biologia), daquilo que estou chamando de “bobagens burocráticas”, para que meus colegas possam entender melhor. De acordo com o programa o professor está ministrando uma aula sobre Biologia Celular e tratando de questões energéticas celulares e de repente, ele tem que se referir e tentar explicar sobre o “Ciclo de Krebs” (Ciclo do Ácido Cítrico), que é um assunto tão complicado, que nem 10% dos professores de Biologia consegue entender, quanto mais explicar. Aí, depois de uma aula inteira cheia de confusão e de nomes de substâncias químicas que ninguém entendeu nada e principalmente que não serviu para nada na vida do aluno, o professor avisa que o aluno tem que saber aquele assunto porque vai cair na prova.

Ora, com licença do termo, isso é uma grande sacanagem, porque como eu disse, a grande maioria dos professores de Biologia também não sabem nada sobre esse assunto e se não fosse “obrigado”, a maioria dos professores nem falaria disso, porque não é algo que seja importante para quem não trabalha diretamente com Bioquímica Celular. Isto é, não agrega valor à vida de quase nenhum indivíduo na sociedade. Então, porque expor o aluno a esse martírio e perder uma aula inteira ou mais falando de algo que não interessa a ninguém, nem mesmo ao professor de Biologia, na maioria das vezes?

Pois é, meus amigos, tem muita coisa que se ensina na escola que não serve para absolutamente nada, mas como está escrito num determinado papel orientador do ensino (currículo escolar) que aquilo deve ser ensinado, ou pior ainda, como está contido no “livro didático” daquela disciplina, então o “professor” pensa que é obrigado a seguir. Será que não seria mais interessante chegar para o aluno e dizer o seguinte: hoje nós vamos discutir sobre a Respiração Celular, deem uma boa lida no livro e conversaremos sobre o assunto depois. Mas é para conversar sobre o assunto mesmo e não para deixar o aluno na expectativa ou na espera eterna. Depois o professor pode fazer alguns questionamentos mais específicos para serem respondidos pelo aluno ou pode solicitar um relatório da discussão.

Para aqueles que se interessam por essa discussão, recomendo a leitura de dois artigos que publiquei, nos quais discuti um pouco mais sobre essa questão, das coisas desnecessárias que a escola, o programa e consequentemente o professor, têm que “ensinar”, por questões burocráticas, mas que não servem para coisa nenhuma no que diz respeito à formação do aluno (LIMA, 2017 e LIMA, 2018).

Sinceramente, qual das duas situações vocês acreditam que gera mais interesse, é mais sincera, mais verdadeira e que produz melhor aproveitamento e conduz a melhores resultados por parte dos alunos: a primeira que é opressora, ditatorial, decorativa, repetitiva e que já vem pronta por alguém ou a segunda que é questionadora, democrática, discursiva, construtiva e que se desenvolve a partir dos questionamentos imediatos?  Acredito que todos vão concordar comigo, que a segunda situação é claramente a mais efetiva, eficiente e eficaz.

Pois então, é disso que estou falando, não precisa mais existirem essas regras medíocres do século XVIII em pleno século XXI e nem esses assuntos irrelevantes que alguém resolveu achar que são importantes e colocar num currículo escolar, mas cuja importância é altamente questionável, principalmente para um jovem estudante. Precisamos adequar as nossas necessidades didáticas ao nosso tempo e precisamos dosar a informação, considerando a importância relativa que ela tem para os nossos jovens. Além disso, temos que fazer a devida contextualização dessa importância, pois do contrário, não faz nenhum sentido a informação que estamos “passando”, pois ela efetivamente passará e não será absorvida pelo aluno. Ao invés de “passarmos” a matéria, temos que discutir os assuntos de maneira criativa e interessante, tentando demonstrar suas respectivas importâncias.

OS OBJETIVOS DA ESCOLA

Por outro lado, o objetivo primário e fundamental de qualquer escola é sempre o mesmo, qual seja, formar, instruir e educar o cidadão para uma vida melhor, ou como se dizia antigamente “educar e preparar para a vida”. Pois então, é nesse argumento que vou, a princípio, me apoiar para continuar minha argumentação. Preparar para vida é muito mais que informar sobre temas de disciplinas (matérias) específicas, mas também é muito mais do que desenvolver procedimentos sociais e comportamentais específicos e ainda é tremendamente mais que desenvolver a possibilidade maior de garantir uma função na sociedade, seja ele profissional ou pessoal. Preparar para vida pode ser um pouco disso tudo, mas não é nada disso exclusivamente.

Penso eu que preparar para a vida seja dar condições mínimas necessárias à sobrevivência no ambiente em que se vive e demonstrar as possibilidades de melhorá-las progressivamente, através das mais diversas ações. Obviamente para isso é necessário conhecimento e orientação sobre muitas coisas e a instituição escola está aí para suprir essas necessidades, dentro de suas devidas possibilidades. A escola ideal deveria fornecer todas as necessidades, mas certamente a escola ideal não existe e o aluno tem que fazer a parte dele criando e procurando cada vez mais. Então, a escola também deve estimular e incentivar o aluno nessa busca ulterior de informação e conhecimento.

Na verdade a escola precisa criar condições para que as pessoas sejam capazes de discernir e ter capacidade de escolha e de emissão de opinião sobre as diferentes situações que essas pessoas terão que passar ao longo de sua existência, antevendo previamente que certamente haverá situações boas e ruins. Isto é, nem sempre os resultados serão os esperados, mas sempre existirão novas oportunidades. Preparar para a vida e produzir a capacidade de acertar, mas também a possibilidade de errar e aí levantar a cabeça e aprender com os erros. É óbvio que o conhecimento dessa ou daquela disciplina auxilia mais ou menos nos diferentes contextos e por isso esse conhecimento é bastante importante, mas ele certamente não é sempre o mais fundamental no aprendizado, pois vivências, convivências, afinidades e afeto também têm grande relevância no contexto da formação do indivíduo (aluno).

A escola tem que ser ciente de seu papel estritamente pedagógico, mas ela também tem que ser ciente de seu papel social maior, mas me parece que é exatamente nesse aspecto que a coisa se complica, porque nesse caso não há avaliação e principalmente não há mérito considerado nesse aspecto. Aquilo que não é disciplinar acaba não tendo valor na escola, aquela instituição que tem que preparar para a vida é, na verdade, a instituição que simplesmente aprova indistintamente ou reprova taxativamente por conta meritória e estritamente disciplinar. Que escola é essa que construímos ao longo da história?

Porque não nos baseamos na “população característica” que já descrevemos para avaliar os alunos? É claro que aí existe muita subjetividade nesse tipo de avaliação e será muito difícil avaliar. Entretanto, quando a avaliação é reduzida apenas a um número ou a um conceito ela fica objetiva demais e acaba não condizendo com a verdade, como acontece até hoje. Infelizmente ainda existem muitos educadores que não conseguem visualizar a avaliação fora desse padrão de objetividade. Alguns desses educadores, mais tacanhas ainda, chegam ao extremo de não conseguirem, se quer, ir além do limite das próprias disciplinas que ministram. Professores do tipo: “não passou na minha disciplina, então não pode ser aprovado, porque a minha disciplina é fundamental”.  Esse tipo de radicalismo infundado não pode mais ter lugar na instituição escola.

Mas, então, como agir para preparar o cidadão (aluno) para a vida?  A primeira coisa a lembrar é que a vida do cidadão pertence ao cidadão e que tutela não faz bem a ninguém. Ah! Então é para a escola passar a ser um “vai-da-valsa” e o aluno pode fazer o que quiser? Obviamente que também não é assim. A instituição escola necessariamente tem uma ordem, uma formalidade, um padrão de conduta típico daquilo que se convencionou definir como escola e que aqui já foi citado. Talvez o velho chavão liberdade com responsabilidade possa ser considerado aqui como o princípio básico a ser estabelecido na escola.

O CONTRATO SOCIAL DA ESCOLA

Pois então, essa formalidade da escola com a sociedade tem que estar clara no contrato social do aluno (cidadão interessado na escola) com a própria escola, que deve manifestar sua intenção objetiva em preparar esse cidadão e o aluno, por sua vez, deve estar ciente que procurou a escola para efetivamente se preparar para a vida. Esse contrato certamente tem gerar uma interdependência intelectual, social e moral entre as duas partes, dentro de todos os preceitos normativos que forem cabidos a ambas, com a responsabilidade mútua do cumprimento. Se não for assim, o contrato deve ser rescindido.

Entretanto, afirmo mais uma vez, a escola não pode assumir a tutela ou paternidade do aluno, se entendendo no direito de “saber” o que é melhor para ele, impondo condições aqui e ali que tentem justificar a manutenção do contrato. Infelizmente é isso que costuma acontecer e por conta desse fato, algumas vezes a situação foge ao controle e surgem problemas mais sérios. Se o aluno não respeita o que está estabelecido e nem se enquadra na sua parte do acordo, ele não pode fazer parte da escola.

Precisamos acabar com esse negócio de achar que a escola é para todo mundo, porque lamentavelmente isso não é nem pode ser uma verdade absoluta. Escola não é um ambiente de recuperação de conduta de quem quer que seja, para isso existem as prisões, penitenciárias e outras instituições disciplinares e corretivas. A escola é um lugar para gente livre, que quer continuar livre e que acredita que pode ser melhor passando pela experiência escolar. Isso é e tem que ser uma questão de vontade e não de imposição.

Eu até entendo e penso que a escola realmente deveria ser para todos, mas infelizmente, existem aqueles que não querem, não se adaptam, não tem nenhum interesse e até mesmo capacidade de se integrar socialmente. Por mais que eu discorde dessa situação, esses indivíduos existem e são pessoas que devem ter a sua vontade respeitada, enquanto não ultrapassam os limites das normais legais estabelecidas para toda a sociedade. Apenas não querer estudar, não pode ser considerado crime. Ao contrário, eu até acho que é um direito do cidadão, mesmo que eu não concorde com esse cidadão, eu não posso imaginar que ele não tenha esse direito.

Obviamente aqui cabe uma pequena discussão, enquanto for menor, esse cidadão já possui uma tutela legal, que são os seus pais ou responsáveis. Assim, qualquer ação deve incidir sobre eles, os pais, e não sobre os seus tutelados. A mesma escola que pune as crianças, não pode punir os pais das crianças que não cumprem as normas e assim não adianta propor regra, porque se os pais não cumprem, porque as crianças irão cumprir? Há que se estabelecer regras que obriguem os pais e tomarem posturas de seus tutelados ou que simplesmente determinem legalmente, que eles não são mais seus tutelados e eu vejo que isso também é um direito, que infelizmente parece não ser reconhecido no Brasil.

Aliás, é por isso que eu não acredito muito nessa tal de inclusão, hoje tão falada nos meios educacionais. Pelo menos, na inclusão da maneira que está sendo proposta, porque ela esquece principalmente a identidade e a individualidade do incluído e ele acaba sendo considerado um coitado e sem vontade própria no meio das demais pessoas, ou seja, é um tipo de inclusão que acaba não incluindo nada e nem ninguém. Não sou preconceituoso, mas também não sou demagogo e essa inclusão que está sendo proposta não é boa para o incluído, embora ela seja pretensamente “boa” para quem a projeta. É bom lembrar que, como disse Samuel Johnson “a cadeia e o inferno estão cheios de gente bem intencionada”. Aquilo que a gente pensa que é bom para alguém, nem sempre é bom mesmo. Aliás, na maioria das vezes não costuma ser.

Antes da inclusão propriamente deveria existir uma autorização formal do indivíduo a ser incluído, indicando primeiramente se ele quer ser incluído ou não e se a resposta fosse afirmativa, o próprio indivíduo faria uma indicação de como gostaria de ser incluído. Mas, na verdade, o “pacote inclusivo” já está pronto e alguém joga o indivíduo dentro dele, como se ele fosse um objeto qualquer. Por que não deixar o sujeito se incluir por si só, da maneira dele, na sociedade? Por que a sociedade tem que querer ser mãe daqueles que são diferentes do padrão considerado normal? Mas, vamos deixar isso de lado, porque eu acabei fugindo do meu tema primário.

Então, as funções desenvolvidas pela escola são inúmeras e cada vez mais surgem outras, advogadas pelos teóricos da sociedade e até mesmo da pedagogia, muitos dos quais nunca estiveram dentro de uma escola, nem numa sala de aula, ou melhor, só estiveram quando eram alunos e ao que parecem não aprenderam nada sobre a instituição escola nessas referidas oportunidades. É preciso parar com essa coisa de que sempre existe alguém que sabe e que tem a solução para tudo. Isso é uma falácia, particularmente numa escola, onde tratamos direta e exclusivamente com pessoas, as quais são diferentes e assim, respondem da maneira diferente. Não pode existir uma receita pronta, quando nem os ingredientes utilizados são devidamente conhecidos.

A escola moderna que estou imaginando seria uma entidade social voltada principalmente para discutir questões, o que possivelmente desenvolveria jovens mais interessados em esclarecer situações e em pesquisar, buscando o entendimento cada vez maior das coisas. O futuro da educação a meu ver passa por essa nova escola, a qual deverá trazer respostas promissoras e principalmente deslumbrar um novo mundo aos interesses pessoais dos diferentes alunos.

O aguçar do conhecimento deverá ser uma constante nesse aluno contestador e questionador que se fará com essa escola moderna. Por outro lado, a sociedade em geral só obterá ganhos, porque com alunos mais interessados, certamente a escola se desenvolverá de uma maneira melhor e isso trará uma grande possibilidade de surgirem melhores profissionais em todos os níveis e ramos de atividade. A sociedade deverá se engrandecer e a humanidade tenderá a ser mais justa, com pessoas mais eficazes nas suas funções e mais preocupadas com a qualidade de vida no planeta.

A ESCOLA DO FUTURO

Tenho pensado muito numa escola diferente e aberta. E quando eu digo aberta, quero dizer exatamente isso. A escola não pode se fechar em si mesma e se padronizar publicamente, porque o público é diversificado e grande parte desse público, pelos mais diversos motivos, não concorda e não aceita os padrões arcaicos já estabelecidos na escola. As definições das funções escolares devem ser claras e precisas para que os indivíduos que procuram uma escola tenham a certeza de que encontram a escola certa aos seus interesses. Eu costumo dizer que: “nenhuma escola é naturalmente boa”, porque quem faz a escola é o aluno e assim é o aluno que determina se a escola é boa ou ruim.  Se o aluno se satisfizer com a escola ela será boa, mas se não for assim ele será ruim, independentemente de quem sejam os demais atores sociais que existam naquela escola. Os melhores professores, engrandecem a escola, mas certamente não fazem a melhor escola.

A máxima do comércio diz que: “o cliente tem sempre razão”. O cliente da escola é o aluno e ele deve ditar as regras mínimas da entidade social que existe por conta dele. O balizamento escolar deve se ater as questões organizacionais regulamentares e legais que abrangem qualquer entidade social. A escola não pode fugir as regras éticas da sociedade, mas deve se interessar mais pela satisfação de seus alunos. Óbvia e principalmente daqueles alunos que assumirem o contrato social estabelecido a partir da população mais característica daquela escola. Mas, a escola não pode interferir em outras questões que se relacionem com situações particulares.

A escola aberta a que eu me refiro certamente é uma utopia para muitos que me chamarão de débil mental ou qualquer coisa do gênero, mas pensem nela como algo possível. Pensem, por exemplo, que o programa de uma determinada disciplina é feito a cada aula, onde se discute aquilo que é interessante aos alunos e não aquilo que está estabelecido por uma regra esdrúxula que vem se mantendo desde o século XVIII. A escola tem que evoluir como instituição social do século XXI, onde tudo que existe do ponto de vista disciplinar e informativo, certo ou errado, já está no “Google” e o aluno certamente tem essa informação disponível a hora que ele quiser. Cabe a escola esclarecer, discutir, orientar e talvez até fomentar um pouco mais sobre esses assuntos.

É claro que sair do conservadorismo secular e entrar na modernidade como escola aberta trará um custo efetivo muito grande para a instituição escola em todos os níveis. Os prédios terão que ser melhores, mais modernos e arejados; a informatização deverá ser total, o que diminuirá tremendamente a burocracia dos processos; os funcionários deverão ser de melhor nível sociocultural; os professores terão que ser realmente conhecedores de suas disciplinas, além de pessoas cultas e capazes de mediar discussões e discutir efetivamente sobre os diversos assuntos que serão trazidos ao debate nas salas de aula. Enfim, não vai ser fácil, mas a sociedade atual não quer mais saber dessa escola que existe até hoje.

Eu estou com quase 63 anos, 60 deles foram passados dentro das escolas, os iniciais como aluno e a grande maioria deles como professor. Hoje ainda sou um agente ativo dessa escola arcaica, fechada, conservadora e pretensamente séria. Sempre procurei ser vanguardista e estive muito à frente dos alunos e dos professores do meu tempo. Sempre procurei provocar, desenvolver e criar coisas diferentes e novas. Certamente, como eu não sou herói, não consegui mudar quase nada, até porque o sistema é muito grande e gente como eu, geralmente é mal vista pelo sistema e consequentemente tende a acabar sendo desvalorizada em sua essência.

Mas, eu segui em frente tentando fazer a minha parte e não dei muita trela para as opiniões da maioria conservacionista e retrógrada que compõem o sistema, embora tenham ocorrido alguns desentendimentos mais significativos, eu sobrevivi muito bem. Obviamente sofri muito com minha forma diferente de pensar, ser e de agir, mas ganhei muita consideração daqueles que estavam do outro lado e que como eu já disse, são os verdadeiros “donos da escola”, os alunos. Assim, penso que valeu, ou melhor, ainda está valendo a pena.

Pois então, é por eles e para eles (os alunos) que a instituição escola existe. Todo o restante da comunidade escolar, inclusive o professor, é acessório na escola, apenas o aluno é fundamental. O aluno é o cliente da instituição escola e essa instituição tem que se preocupar em entender e atender bem esse cliente, pois do contrário a escola poderá (deverá) perder prestígio. Em certo sentido é exatamente isso que estamos observando, cada vez mais, nos últimos tempos. A escola deixou de ser algo interessante, se é que algum dia foi, para a maioria dos seus clientes.

A escola é cada vez mais distante aos anseios, menos atraente e pouco interessante aos alunos, os quais, por isso mesmo, estão cada vez menos envolvidos com a escola e com o aprendizado. Mas, será que os alunos não querem aprender? Obviamente que isso não pode ser verdade, porque o aprendizado é fundamental em qualquer situação e os alunos sabem disso. Isto é, qualquer coisa para ser feita com eficácia precisa ser aprendida, sendo assim, os alunos continuam querendo aprender e assim essa nova escola, diferente e aberta, é uma necessidade da sociedade moderna. Atualmente os alunos querem aprender outras coisas diferentes, de outras maneiras diferentes daquelas que a escola tradicionalmente procurou ensinar aos longo do tempo e se a escola não mudar e se abrir a situação ficará cada vez pior.

CONCLUSÕES

Em suma, está bastante claro e indiscutível que o aluno já mudou e vai mudar cada vez mais. Ora, se o cliente mudou e continuará mudando, está na hora da organização comercial que depende desse cliente, isto é, a instituição social escola, a mais importante instituição social, se adaptar às novas e progressivas necessidades e também mudar para continuar existindo no mercado. A sociedade moderna não pode deixar a escola caminhar para a extinção como instituição social, antes de tentar mudar e estabelecer um novo (diferente) contrato social com os alunos que estão aí, ainda ávidos por aprender, mas à moda deles. A escola tem que deixar de ser conservadora, estática e retrógrada, ela deve se ajustar, modificando o seu padrão arcaico e tradicional, ela tem que progressivamente ir se adequando às novas situações e necessidades da sociedade moderna.

A escola do nosso tempo já passou, agora é o tempo deles, os alunos modernos, e daqui para frente vai ser cada vez mais difícil manter esse conservadorismo histórico e esse tradicionalismo arcaico, porque os alunos necessitam de uma escola diferente. A escola do futuro precisa começar a ser construída, ouvindo integralmente os anseios dos atuais alunos e da modernidade. É fundamental e preponderante que o processo de abertura dessa nova escola para a sociedade tenha início o mais rápido possível. Nós não podemos mais continuar com essa padronização esdrúxula do Século XVIII sendo imposta às gerações dos Séculos XXI e muito menos às gerações dos séculos vindouros.  A sociedade necessita rever o seu conceito do que efetivamente significa escola nos tempos atuais e o que significará no futuro.

Devemos pois, nos preocuparmos em criar essa nova escola, projetada nos interesses maiores da sociedade, particularmente centrada na população mais característica de sua comunidade para fazer sentido prático e operacional, mas que ela seja pensada, projetada, construída e principalmente querida e desenvolvida pelos estudantes atuais e por aqueles que ainda virão, adequando-se paulatinamente ao tempo. A escola deve caminhar em paralelo com a sociedade, para que possa continuar cumprindo o seu papel social de destaque a contento, mas ela não pode perder a noção de que o aluno é o seu principal agente social e por isso mesmo ele deve ser a fonte primária de referência para o desenvolvimento contínuo desse tipo de instituição.

O aluno deverá continuar sendo cada vez mais importante na constituição da escola e, por isso mesmo, há necessidade de que a escola pare de ser gerida por ideias estranhas ao seu contexto real. Os problemas e as soluções da escola encontram-se nela mesma e os alunos são as referências primordiais do entendimento e das necessidades que possam existir. É preciso ficar claro que daqui para o futuro, qualquer maneira de pensar e principalmente de agir, que não prestigie e nem privilegie a opinião discente na escola, certamente não deverá prosperar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREEMAN, R. E., 1984. Gestão Estratégica: uma abordagem de “stakeholders”. Boston,  Pitman.

LIMA, L. E. C., 1991. Uma Questão de Coerência, Boletim Informativo da Universidade de Taubaté, Ano III (9), março/abril de 1991.

LIMA, L. E. C., 2017. A Escola Brasileira e a Necessidade do Ensino de Ciências”, http://oblogdowerneck.blogspot.com.br/2017/11/a-escola-brasileira-e-necessidade-do.no.html, 25 de novembro de 2017.

LIMA, L. E. C., 2018. A Burocracia e a Padronização nas Escolas Brasileiras, www.profluizeduardo.com.br, 13 de março de 2018.

27 mar 2019
As relações entre a Sustentabilidade e os Recursos Naturais

As relações entre a Sustentabilidade e os Recursos Naturais

Resumo: O texto apresenta uma abordagem sobre o mal uso que a humanidade tem feito do Patrimônio Natural e da Proteção da Biodiversidade e dos efeitos desastrosos dessas ações sobre a Sustentabilidade Planetária e da necessidade de mudar esse procedimento para garantir a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.


Introdução

Nos tempos atuais a Sustentabilidade passou a ser palavra de ordem em quase todas as atividades humanas, mas o verdadeiro conceito de sustentabilidade passa muito longe do que efetivamente tem sido visto como modelos sustentáveis. Lima (2015), comentou sobre o fato do conceito de sustentabilidade ser usado indevidamente, chamando a atenção para uma possível ação programada para tentar enganar a população e desvirtuar a essência do conceito.

Entretanto, além das falcatruas e dos embusteiros, ainda existe realmente muita dificuldade de entender o conceito de sustentabilidade por grande parte da população e assim, muitas pessoas acabam confundindo as coisas em nome da sustentabilidade. É claro que aqui também existem os aproveitadores, que se utilizam dessa condição, mas, por outro lado, também existem aqueles que até querem ajudar e pensam que estão fazendo certo e, se até fazem errado, certamente é por falta de conhecimento em consequência principalmente da má informação.

Nesse sentido está se e propondo a fazer uma pequena síntese do atual estado de coisas sobre aplicação correta do conceito de sustentabilidade, para que se possa ter uma verdadeira imagem do que acontece e do que deveria estar acontecendo em benefício do planeta e da sociedade. Alguns conceitos se tornam necessários para que eu possa dar andamento ao que quero dizer e por isso mesmo os cinco termos (expressões) presentes no título serão objetivamente definidos. Não há pretensão de que paire dúvidas sobre o que está efetivamente se querendo dizer e por isso mesmo, é preciso que sejam esclarecidas e clarificadas todas as questões conceituais.

Nesse sentido, é preciso que sejam apresentados e discutidos as principais palavras chaves envolvidas na questão da sustentabilidade, para que se possa ter um parâmetro comparável e se possa compreender o sentido exato dos termos e as possibilidades concretas de aplicação da noção de sustentabilidade nas práticas antrópicas. Também é discutido o fato de que a sustentabilidade é uma necessidade premente para a manutenção e a continuidade da vida humana na Terra.    

Sustentabilidade

A Sustentabilidade é uma palavra oriunda da ideia de Desenvolvimento Sustentável (SACHS, 1986), isto é, aquele desenvolvimento que se faz hoje, mas que visa garantir o amanhã. Quer dizer, a sustentabilidade implica na garantia de que os recursos naturais que estão sendo usados pela população hoje, deverão ser suficientes para serem usados pelas populações futuras, sem que haja prejuízo ambiental ou econômico. Assim, a sustentabilidade se embasa sobre três vertentes fundamentais: a sociedade, o meio ambiente e a economia.

 Só existe sustentabilidade efetiva, quando são considerados essas três vertentes de maneira equitativa e complementar. Mas, ainda assim, existem muitas atividades ditas sustentáveis, que na verdade não contemplam a noção real e efetiva de sustentabilidade. A imagem que melhor representa a ideia concreta da sustentabilidade é representada por três esferas que indicam o meio ambiente, a sociedade e a economia, e que se intercruzam equitativamente, determinando uma área de interseção. Essa área de interseção é que consiste na verdadeira sustentabilidade (figura 1). Qualquer coisa diferente desse padrão não pode ser enquadrada totalmente dentro do conceito de sustentabilidade.

Figura 1 – O Tripé da Sustentabilidade.

Nos últimos anos inúmeros autores já citaram e representaram essa imagem ou algo parecido, além de terem trabalhado e discutido bastante sobre esse verdadeiro conceito de sustentabilidade. Há até alguns autores que são contrários à ideia restrita do desenvolvimento sustentável, haja vista que é impossível continuar crescendo economicamente de maneira infinita, dentro de um planeta que é finito (Latouche, 1994). Para esses autores a sustentabilidade propriamente é uma utopia econômica. Entretanto essa utopia econômica, deve ser buscada, no que se refere ao meio ambiente e à sociedade, para garantir a vida humana no planeta.

Pensar em sustentabilidade é pensar na continuidade da vida humana, nas futuras gerações e também na manutenção de inúmeras espécies planetárias que convivem com a espécie humana. Agir dentro da sustentabilidade, sendo esta uma utopia ou não, é a única condição que poderá garantir a continuidade da vida humana no planeta Terra, pois só garantiremos a sociedade, se mantivermos o ambiente onde é possível mantê-la. A economia parece ser o que menos importa no tripé que mantém a sustentabilidade.

É bom lembrar que ninguém vai resolver nada agindo da mesma maneira sempre. É preciso mudar o foco e os procedimentos para se resolver problemas que insistem em continuar existindo. Talvez esteja aí a grande questão humana: queremos sobreviver como espécie por um tempo geológico bem razoável ou queremos apenas ganhar mais e ficar ricos por um tempo extremamente curto?  

Recurso Natural

O conceito de recurso natural é uma questão mais concreta e assim mais simples de ser entendida. O recurso natural é tudo aquilo que existe na natureza (no planeta) e que, de alguma forma está disponível e pode ser utilizado pelas diferentes espécies de organismos vivos para garantir as suas respectivas necessidades e assim garantir a sobrevivência das espécies. Os recursos naturais portanto são a água, o ar, o solo, as plantas, os animais e os minerais (figura 2). O uso desses recursos naturais pode ser mais ou menos impactante ao ambiente local e ao planeta como um todo, em função da pressão exercida pelas espécies vivas e pela disponibilidade total do recurso em questão.

Figura 2 – Representação de alguns Recursos Naturais Planetários.

Obviamente a espécie humana é a que mais se utiliza dos recursos naturais, por conta de sua imensa população, da grande diversidade de recursos usados e da quase infinita possibilidade desses usos. A maioria das espécies vivas, ao contrário dos humanos, usa limitados recursos e de maneira também limitada, pois só usa o estritamente necessário ao seu consumo. Na natureza não há desperdício de absolutamente nada, só os seres humanos são capazes de desperdiçar recursos naturais.

Existem dois tipos básicos de recursos naturais: os renováveis, aqueles que são naturalmente refeitos em relativo tempo curto e os não renováveis, aqueles que não podem ser naturalmente refeitos em tempo curto. Para critérios estritamente antrópicos considera-se como recursos renováveis aqueles que podemos renovar, como uma árvore, por exemplo. Por outro lado, considera-se recursos não renováveis aqueles que não podemos renovar, como um minério qualquer.

O homem, ao longo de sua história evolutiva no planeta, de alguma maneira, procurou tornar útil quase tudo que encontrou e assim, transformou a Terra em sua pretensa fonte “inesgotável” de recursos. A espécie humana se assumiu “dona do planeta” e tem usado os recursos da forma como quer, sem considerar os limites naturais estabelecidos da existência dos mesmos. O resultado dessa usurpação é a degradação planetária quase total em consequência do conjunto das atividades humanas, relacionadas a exploração dos recursos naturais.

É preciso ficar claro à humanidade que existe apenas um planeta Terra e que todos os recursos que utilizados são retirados única e exclusivamente desse planeta. Isto é, a Terra é finita e tudo que tem nela também é finito, inclusive a espécie humana e que o ato de apenas tirar e usar os recursos indefinidamente, só irá levar à escassez dos mesmos mais rapidamente. Assim, é preciso pensar o como e o porquê se deve fazer uso dos recursos naturais, antes de efetivamente utilizá-los.

Consumismo

Consumismo é uma expressão bastante antiga, pois se originou  no início do capitalismo, ainda na idade média, entretanto modernamente essa expressão ressurgiu com o intuito de alarmar os seres humanos sobre o excesso de consumo desnecessário de recursos naturais, que é cada vez maior. Aqui será tratada essa noção moderna, oriunda de hábitos de compra exagerados de determinados grupos sociais, que têm produzido uma grande quantidade de consumo de supérfluos e assim utilizado (desperdiçado) significativa quantidade de recursos naturais, sem a devida parcimônia. O consumo excessivo produzido pelas sociedades modernas talvez seja o pior dos males ambientais da atualidade, porque leva ao uso indiscriminado de produtos supérfluos. A figura 3, tenta apresentar a verdadeira dimensão entre o consumo e o consumismo.

Consumir recursos naturais é uma necessidade de qualquer organismo vivo, entretanto, apenas a espécie humana usa mais que precisa e, o que é pior, também deteriora grande parte daquilo que não usa, por conta de outros interesses. Por exemplo, para extrair um minério qualquer muitas vezes é necessário que seja destruída toda área do entorno, a qual possui várias coisas que normalmente não precisariam ser destruídas e poderiam estar sendo aproveitadas para outros fins. Entretanto, quem faz exploração mineral dificilmente atenta para esse fato, assim não se preocupa com o entorno e destrói tudo para conseguir o minério que objetiva.

Esse desperdício é a base da degradação ambiental planetária e também é a porta de entrada da do consumismo. A situação é mais ou menos assim: “só me interessa o que me interessa e o resto que se dane”. Com essa visão se consome tudo o que se quer irresponsável e inconsequentemente, sem avaliar o gasto planetário que essa atitude pode representar. Isso começa na exploração do recurso natural e vai até o comércio do produto dele derivado, onde a situação é efetivamente muito mais grave. Se retira o recurso natural sem o devido critério e o comércio dos produtos tem menos critério ainda, pois no comércio, o que se quer é vender para lucrar cada vez mais e não importa se isso pode trazer algum prejuízo ao ambiente ou mesmo à sociedade. Infelizmente, o lucro a qualquer custo é o motor que move o consumo e que cria o consumismo e não a necessidade real do uso de determinado recurso como deveria ser.

Figura 3 – Comparação entre Consumo e Consumismo.

O consumismo exacerbado e cruel que vivenciamos é fruto direto da propaganda e do marketing promocional, muitas vezes exagerados e indevidos, que acompanham a maior parte dos produtos. Se isso traz alguma vantagem e apresenta um lado bom para a economia, no que se refere ao comércio dos produtos, por outro lado, acaba sendo bastante ruim, pois reforça a degradação ambiental e intensifica o uso desnecessário de recursos naturais pelos seres humanos. Assim, ainda que muitos, iludidos pela propaganda e desinformados da realidade planetária, não percebam, o consumismo acaba sendo um grande mal para a humanidade e uma praga terrível para o planeta, pois acaba por exaurir recursos planetários progressiva e inconsequentemente, por isso mesmo é que o consumismo exagerado que domina, principalmente os ambientes urbanos, precisa ser melhor esclarecido e energicamente combatido por toda a sociedade.

Obsolescência Programada

A obsolescência programada surgiu em meados do século passado como sendo um mecanismo que tentava garantir as vendas e o comércio. Na verdade como o nome diz, a obsolescência programada faz referência a criação de produtos programados para ficar obsoletos dentro de um determinado período de tempo. Desta maneira, a obsolescência programada, garantiria concomitantemente o emprego nas fábricas, na geração dos produtos e nas lojas, no comércio dos mesmos. Em tese, essa era, a priori, uma ideia nobre para a humanidade, pois garantiria o trabalho para todos.

Por outro lado, a necessidade de produzir e de comercializar produtos, leva a cada vez mais necessidade de recursos e assim quem sofre é o ambiente natural, a Terra, pois tem que fornecer níveis sempre maiores desses recursos, até que em dado momento esses recurso se esgotem. Foi assim que aconteceu com vários tipos de recursos naturais não renováveis e mesmo com recursos naturais renováveis, que, embora pudessem, nunca foram efetivamente renovados. Depois que esses produtos acabam, ou se arruma outro que possa suprir a necessidade ou os empregos também acabam porque sem recursos naturais não há mais como e nem o que produzir.

Uma fábrica, qualquer que seja ela, desde que Henry Ford criou a linha de montagem, é exatamente igual a outra. Tem um recurso que entra, uma linha de montagem que transforma progressivamente o recurso e vai elaborando o produto final que é desenvolvido pela fábrica. O que muda é o recurso que entra e produto que sai, mas o processo é sempre o mesmo. Bem, enquanto existir recurso, certamente existirá produto, mas se em dado momento faltar o recurso, aí faltará o produto e também o emprego, porque não haverá mais trabalho a ser feito, haja visto que não existirá mais o que produzir.

Olhando por esse lado, a obsolescência programada acaba sendo um grande mal, pois objetiva produzir constantemente e cada vez mais, haja vista que a população aumenta e a necessidade de empregos também. Assim, a tendência é que mais rapidamente os recursos naturais que levam a produção dos produtos se extingam na natureza e a carência desses recursos vai produzir o fechamento das fábricas, o fim da produção daquele produto e consequentemente o fim do comércio.

A obsolescência programada é uma falácia que está por aí a iludir alguns empresários tolos e apenas preocupados com o lucro, pois só serve para aumentar o consumo e assim estimular o consumismo (Figura 4). Mesmo a economia, depois de crescer rapidamente num primeiro momento, vai acabar perdendo muito com a obsolescência programada. É melhor produzir produtos duradouros e de qualidade pois garante a manutenção dos recursos naturais e o emprego por muito mais tempo, além do fato de que a natureza agradece e as gerações futuras também. A sustentabilidade e a obsolescência programada não combinam de maneira nenhuma.

Figura 4 – O verdadeiro objetivo da Obsolescência Programada é o lucro.

Reciclagem

A palavra reciclagem aqui estampada está representando muito mais uma ideia do que um conceito propriamente, porque a reciclagem passou a ser modelo generalizado quando a maioria das pessoas pensa ou fala em sustentabilidade. É como se a reciclagem fosse a própria sustentabilidade. Mas, vou tentar esclarecer melhor essa história, a princípio bastante confusa.

Na verdade, a palavra reciclagem surgiu na década de 1970, quando as indústrias foram encurraladas por estavam sendo generalizadamente consideradas e com razão, como os principais degradadores do meio ambiente. Naquela época, a indústria produzia quase 50% menos do que hoje, gastando cerca de 50% mais e de energia, de água e de seus recursos naturais básicos. Além disso, a indústria daquela época não se preocupava com a geração dos resíduos que produzia e muito menos com destinação desses resíduos.

A ideia da reciclagem surgiu da seguinte maneira. Primeiro foram os três Rs (reduzir, reutilizar, reciclar), apresentados no texto da agenda 21, na Conferência das nações Unidas, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. De lá para cá, tanto a ideia de reciclagem, quanto os três Rs, modificaram bastante. A ideia de reciclagem ganhou muito espaço na indústria e se espalhou, mas também ganhou bastante corpo na sociedade e se diversificou para as mais diversas atividades humanas educacionais, comerciais e culturais. Os três Rs, passaram a ser 4, depois, 5 e hoje já são pelo menos 6 Rs (respeitar, repensar, recusar, reduzir, reutilizar, reciclar), mas há quem proponha até 7 Rs (Figura 5). Enfim, como já foi dito, a reciclagem e as ideias oriundas dela passaram a ser ícones dentro da sociedade, em particular das pessoas mais sensíveis à causa ambiental.

Realmente a reciclagem é algo muito importante e precisa ter seu conceito efetivamente discutido e cada vez mais ampliado no imaginário popular. É necessário de fato que as comunidades tenham a verdadeira dimensão de reduzir, reutilizar e reciclar, como nos três Rs iniciais. Entretanto, existem os outros três termos aqui utilizados, devem ter preferência no que diz respeito à sustentabilidade. Antes de reduzir, reutilizar e reciclar, certamente é preciso aprendera a respeitar a natureza, a repensar sobre sua importância e a recusar a utilização de certos recursos naturais.

Figura 5 – Uma das concepções dos 7 Rs.

Quem tem verdadeira consciência ecológica sabe que a reciclagem, que ficou tão famosa e que levou a noção de aproveitamento melhor dos recursos naturais, na realidade, deve ser a última das tarefas a desenvolvida, quando se pensa nos recursos naturais, porque só será reciclado mesmo aquele recurso natural que já tiver sido fonte de análise e mesmo de aplicação de todos os cinco termos anteriores. Isto é, a reciclagem é boa, mas tem muita coisa mais importante que ela e a sustentabilidade necessita ser pensada dessa maneira, pois do contrário se cairá no mesmo marasmo de acabar com os recursos naturais, degradar o meio ambiente e destruir o planeta.

Só é possível reciclar aquilo que já foi usado e se já foi usado, certamente é um recurso natural que veio do planeta e que talvez não precisasse ter sido utilizado, se os três primeiros termos tivessem sido abrangentemente considerados. É preciso trocar a expressão usar livremente pela expressão necessitar vitalmente, pois só será possível fazer uso devido daquilo que efetiva e comprovadamente for necessário. A humanidade já consumiu demais indevidamente e agora já passou da hora de parar, pois atualmente se consome muito mais do que o planeta pode naturalmente repor.

O ano está progressiva e perigosamente mais curto, porque os recursos para um ano têm quantitativamente terminado sempre antes de 31 de dezembro. Esse ano (2016) por exemplo, o ano acabou no dia 8 de agosto, o que significa dizer que já estamos usando recursos naturais do ano que vem e essa tem sido uma prática costumeira nos últimos 20 anos. Até onde será possível chegar? Quanto tempo mais a Terra terá que fornecer esse fundo extra, esse “cheque especial” para humanidade? Quando a humanidade vai finalmente entender que isso não pode acontecer?

Discussão

Como foi visto até aqui a dimensão entre os conceitos estabelecidos é demasiadamente próxima para ser desconsiderada da sociedade. Toda a questão relacionada a sustentabilidade tem que perpassar pelo meio ambiente, pela sociedade e pela economia, além de ser projetada numa perspectiva futura. Isto é, o tripé da sustentabilidade só pode ser evidenciado e projetado realmente pensando naqueles seres humanos que ainda vão nascer e que têm o direito de herdar o planeta com condições necessárias para que possam se manter vivos.

O relatório Brudtland,1987 (“Our common future”), chamou a atenção da humanidade para as consequências do estava sendo feito ao planeta e da necessidade da busca de um modelo de Desenvolvimento Sustentável. Já se passaram quase 30 anos da publicação e quase nada de muito significativo havia sido realizado, do ponto de vista global, embora a natureza estivesse dando os seus avisos. Recentemente, a partir da COP 2015 parece que as coisas começam realmente a acontecer. A humanidade está acordando e pretende prosseguir sua história evolutiva no planeta Terra, porém o passivo ambiental é extremamente grande e precisa ser minimizado.

Por outro lado, os conceitos aqui apresentados e discutidos também demonstram que não é possível observar qualquer efeito de sustentabilidade real se não houver “contenção” (racionalidade) no uso dos recursos naturais. Usar os recursos naturais racionalmente é fazer uso da tão falada racionalidade humana. O ser humano tem que entender, que por ser (segundo ele próprio) a única espécie racional deveria ter uma responsabilidade maior com o planeta e que, por isso mesmo, não poderia simplesmente dar fim a todos os recursos naturais. E deveria principalmente saber que o interesse da humanidade tem que ser maior do que o interesse específico de qualquer indivíduo ou grupo social, porque os futuros seres humanos terão que viver nesse mesmo planeta, utilizando os mesmos recursos que ele ainda puder fornecer.

Figura 6 – Será essa a condição que a humanidade quer deixar para os filhos e netos?

Nesse sentido a sustentabilidade é um conceito bastante democrático e cooperativista, porque prestigia o todo da humanidade e não apenas uma parte definida, inclusive projetando e promovendo os que ainda nem existem. Ainda que tenha sido um erro arbitrário e indevido, o planeta já foi apropriado indebitamente pelos seres humanos, os quais se fizeram proprietários da Terra e resolveram modifica-la a bel-prazer, porém os humanos, tanto do passado, quanto os do presente ou do futuro não são melhores e nem piores e portanto devem ter os mesmos direitos sobre a “posse” do planeta.

Percebe-se aqui que mesmo na ilegalidade, na falta de justiça e na irresponsabilidade do ato de usurpação do planeta, ainda parece existir moralidade dos humanos entre si, embora certamente não haja entre os humanos e as demais criaturas, as quais foram consideradas seres menos importantes e cujo valor, lamentavelmente, é definido pela própria humanidade. Estranho isso, mas, infelizmente, é isso mesmo. O ser humano não apenas se sente “dono do planeta”, como também se colocou acima do bem e do mal e entende que pode decidir sobre a existência das demais coisas vivas e, ao longo da história, realmente tem assumido essa postura.

Mesmo que hoje sejam garantidas algumas áreas de preservação permanente e que nelas sejam guardados e preservados alguns ecossistemas naturais e toda a biodiversidade neles contida, a história demonstra claramente que muito da biodiversidade natural já se extinguiu por conta das mais diversas ações antrópicas planetárias e não parece que a humanidade tenha se importado significativamente com esse fato. A espécie humana, até por força da religiosidade, se sente efetivamente “superior” e acredita que deve ter “prioridades” em relação às demais espécies vivas. Embora não esteja sendo discutido aqui, esse mal sociológico, também precisa ser combatido.

É interessante notar que o ser humano só consegue pensar o planeta sobre uma ótica exclusivamente humana, que privilegia e supervaloriza o humano. Talvez aqui esteja o grande problema filosófico da humanidade, que aparentemente parece querer sair de uma postura antropocêntrica histórica, mas na prática não consegue ser diferente do que sempre foi. Isto é, um espécie dominadora, que não mede esforços para alcançar seus objetivos e que nesse afã, está sempre destruindo o planeta num caminho contínuo e unidirecional, o qual fatalmente irá leva-la à extinção, ao lado de muitas outras que nada fizeram para isso.

Nesse momento e nesse contexto, mais uma vez surge a sustentabilidade, eivada de retalhos dos vícios humanos, mas preocupada com a humanidade, com o planeta Terra e com a biodiversidade existente. O humano só sobreviverá se o planeta tiver condições de mantê-lo e assim é fundamental que se guarde o planeta. Não há nenhum altruísmo na defesa da sustentabilidade, existe sim interesse e intenção de se manter vivo, até mesmo para perpetuar o poder do ser humano sobre a Terra. A sustentabilidade passa assim a ser uma necessidade antrópica de vida e transcendência, sem a qual nada faz sentido. É fundamental ter sustentabilidade hoje e continuar tendo vida e poder sempre.

Aliás, deve ser lembrado que a Biologia, como ciência dos organismos vivos, ensina que o mais interessa às formas vivas é continuar vivendo, ou seja, a vida tem um interesse primário (único) que é viver. Por outro lado, do ponto de vista filosófico, se há algum interesse numa ação, obviamente não existe nenhum altruísmo efetivo nela. A atitude biológica dos organismos vivos em trabalharem para continuar vivendo não tem nada de altruísta. Quer dizer, nenhuma espécie viva, continua vivendo simplesmente por viver, porque isso não justifica nem a própria existência dessa espécie. Assim, fica evidente que todos os organismos vivos querem, antes de tudo viver, porque de alguma maneira, isso é fundamental para si próprio. Desta maneira, se essa afirmativa for verdadeira, como parece ser, realmente não existe altruísmo puro, nem mesmo numa condição estritamente natural.

Os seres humanos, do ponto de vista biológico, não são melhores e nem piores que as outras espécies vivas, são organismos vivos como os demais, talvez apenas um pouco mais organizados em alguns aspectos anatômicos e fisiológicos. Quer dizer, os seres humanos, apesar dos inúmeros erros cometidos, não são bons nem maus. Na verdade, o que o ser humano também quer é viver e se, por acaso, descobrir que a sustentabilidade é o caminho que leva a vida, não há dúvida que a humanidade caminhará nessa direção. Desta maneira, a sustentabilidade deverá ser a condição imperante e obrigatória que regerá a espécie humana doravante, simplesmente porque não existe outra maneira de se manter no planeta.

Realmente é difícil de perceber que esse pensamento possa ter qualquer significado prático, a julgar pelo que tem sido demonstrado pelas atitudes humanas no planeta até aqui, mas certamente essa situação mudará, pois um novo Homo sapiens sapiensestá surgindo nos últimos tempos. Esse novo ser humano, ainda tem dificuldade de encarar e de entender o que está acontecendo à sua volta, mas a sustentabilidade vagarosa e progressivamente se implanta como uma necessidade orgânica que auxiliará na manutenção e continuidade da espécie humana aqui na Terra.

Já existem muitos cientistas que apresentam esse pensamento e que acreditam na efetiva mudança dos tempos. Tem gente trabalhando cada vez mais em novas tecnologias de baixo carbono; discutindo limites naturais de controle da população; propondo mais criação de unidades de conservação, promovendo a restauração florestal e efetivando a recuperação de áreas degradadas e até mesmo investigando mecanismos de redução de crescimento econômico. Já há mesmo quem assegure que é impossível crescer infinitamente num planeta finito, independentemente de ser ou não ambientalista.

Serge Latouche (2007), em seu livro, afirmou taxativamente que “não se quer voltar a idade da pedra, mas é possível se viver bem como se viveu em passado não muito longínquo”. Com uma boa condição de vida e sobretudo com expectativa das boas linhagens genéticas, que continuarão produzindo um novo homem, embasado na sustentabilidade, preocupado com a vida e com o planeta, certamente o futuro da humanidade parece ser promissor e ainda será possível demonstrar que a ideia de Latouche não é absurda.

Obviamente nem tudo serão flores, porque certamente haverá situações de escassez, até porque o passivo ambiental apresentado no atual cenário produziu algumas marcas irreparáveis e outras sequelas que não serão sanadas tão facilmente. Mas, a busca constante da sustentabilidade garantirá melhoras progressivas ao planeta e a humanidade e quem sabe até mesmo poderá permitir soluções para algumas situações existentes que, a priori, pareciam ser irreparáveis.

Considerações Finais

É claro que esse artigo se baseia num cenário imaginário, mas não é impossível sua realização, desde que se queira efetivamente manter a espécie humana vivendo por mais alguns anos no planeta Terra. Para tanto há necessidade de se pensar e principalmente de que sejam realizadas ações dentro dos padrões propostos e estabelecidos pelos fundamentos da sustentabilidade.

A sustentabilidade se apresenta hoje como uma necessidade à existência antrópica e mesmo sendo teoricamente utópica, essa perspectiva terá que se tornar real, porque serão ações sustentáveis que levarão a humanidade a viver em equilíbrio, garantindo a segurança ecossistêmica planetária dos ambientes naturais e artificiais. É preciso que a humanidade prossiga seu caminhar tendo o desenvolvimento sustentável como princípio e a sustentabilidade planetária como objetivo único.

Doravante, é imprescindível que os recursos naturais renováveis sejam sempre renovados na proporção devida e os não renováveis sejam utilizados sempre com a devida parcimônia e seus respectivos usos deverão ser efetivados apenas quando não houver nenhuma outra possibilidade para resolver a questão que se apresenta naquele momento. Isto é, recurso natural não renovável só poderá ser usado quando for estritamente necessário. Repensar o uso dos recursos naturais será sempre uma premissa obrigatória.

O consumismo deverá ser controlado, através de campanhas publicitárias massivas e até mesmo do estabelecimento de legislação internacional específica que proíba essa prática errada e danosa ao planeta e a humanidade. As práticas de recuperar, reutilizar e reciclar garantirão que os empregos sejam mantidos, independentemente da haver ou não nova produção de produtos. Os produtos deverão ter a vida mais longa que for possível, a obsolescência programada deve ter fim e deve ser punida criminalmente.

Para a proteção da biodiversidade e manutenção dos ecossistemas e dos bancos genéticos, as áreas protegidas e as unidades de conservação deverão ser realmente protegidas e progressivamente ampliadas. Além disso, a recuperação florestal nas áreas degradadas de significativa importância, deverão ser priorizadas e terão que acontecer de maneira rápida para permitir a maior regeneração ainda possível. A preservação dos ecossistemas com seus bancos genéticos naturais e a manutenção de áreas verdes naturais ou não, são fundamentais para garantir a sustentabilidade planetária.

Por fim, toda a energia consumida deverá levar em conta a baixa emissão de carbono, projetando, dentro do possível, a redução do acréscimo de carbono na atmosfera e amenizando o aquecimento global. Desta maneira, o investimento em fontes de energias alternativas não degradantes, mormente solar e eólica, deve passar a ser absolutamente prioritário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referências

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13 mar 2019

A Burocracia e a Padronização nas Escolas Brasileiras

Resumo: O texto apresenta uma abordagem referente a questão do atraso sistemático da Educação Brasileira,quando comparada a países efetivamente menos importantes que o Brasil no cenário internacional e considera que grande parte desse atraso resulta diretamente da imensa burocracia e da padronização ilógica que existe no Sistema Educacional.


Não sei bem o porquê, mas a verdade é que eu nunca gostei de padrões. Padronizar as situações, entidades ou mesmo os objetos sempre me pareceu algo desagradável e estranho, além de ser uma maneira de descaracterizar essas mesmas situações, entidades ou objetos. Aliás, na minha maneira particular de entender, considero que padronizar é um absurdo, porque padronizar é artificializar as situações, as entidades e objetos num interesse qualquer, definido por alguém, que muitas vezes não tem a ver e nem sabe nada sobre a situação, a entidade ou o objeto em questão. No que se refere as escolas, que são entidades que tratam com pessoas (seres humanos), isso me parece mais estranho, mais ilógico e mais absurdo ainda. Até porque a escola é uma entidade diferente e especial, que trata sobre a educação e o aprendizado de pessoas e sempre é bom lembrar que pessoas, além de não serem objetos quaisquer, pensam e respondem a estímulos e obviamente não podem nem devem ser tratados de uma maneira comum e padronizada.
Padronizar é uma atitude comum aos burocratas, os sujeitos que praticam e adoram a burocracia, aqueles indivíduos que criam entraves e sempre se acham mais importantes do que de fato são. A burocracia é algo que me incomoda muito e o burocrata é alguém que procura padronizar tudo o que pode. Isto é, um sujeito que sempre cria uma condição artificial no seu próprio interesse, tornando as questões quase sempre mais complicadas do que fato elas realmente são. E mais, esse sujeito faz isso, sempre visando o seu próprio interesse, mudando a realidade à sua volta e principalmente, deixando de lado, muitas vezes, por puro capricho, a verdadeira natureza das coisas e das pessoas envolvidas, as quais passam a ter que seguir a nova condição criada artificialmente por ele.
Se fizermos uma rápida investida ao dicionário à procura de encontrar um melhor conceito para as palavras burocracia e padronização, certamente encontraremos algumas definições que, em certo sentido, nos dirigirão a uma quase sinonímia entre ambas por vários aspectos. Essas duas palavras, embora tenham grafias muito distintas, tratam de assuntos muito próximos e comuns no que se refere a organização das instituições. Ambas visam estabelecer obediências hierárquicas organizacionais dentro de um sistema classificatório. Mas isso, na grande maioria das vezes, não condiz com a verdade que se observa nos sistemas institucionais em questão.
Uma cria a regra (padronização) e a outra desenvolve o modelo rígido dentro daquela regra (burocracia), entretanto, nenhuma das duas procura saber especificamente sobre a natureza daquilo que está sendo trabalhado. É como se fosse um saco genérico cheio de coisas distintas, mas onde tudo o que está dentro desse saco é considerado exatamente igual, sob todos os aspectos e assim, tudo é tratado da mesma maneira, sem nenhum respeito às peculiaridades e às individualidades.
Por outro lado, é preciso que seja dito, que a educação e as escolas têm feito com as pessoas, ao longo da história, é exatamente isso, ou seja, artificializar as suas naturezas, criando padrões imaginários que se supõem sejam corretos. Isto é, as escolas vêm padronizando, ou melhor, “coisificando” as pessoas histórica e progressivamente e consequentemente burocratizando (complicando) o ensino.
Mas, a questão educacional está entravada exatamente aí. O que deve ser considerado correto? Por que isso deve ser considerado correto? Qual o critério para definir o que é correto? Quem estabeleceu que esse critério ou essa condição como correta? Enfim, por que tem que existir uma padronização curricular, se a realidade e a necessidade podem ser e geralmente são diferentes?
É claro e óbvio que há necessidade de se estabelecer um mecanismo de orientação e um certo balizamento, quando se fala de ensino e educação, mas isso não quer dizer que se deva engessar toda a educação dentro de normas rígidas e intransponíveis, como se o processo educacional estivesse numa redoma totalmente fechada. Até porque, ao meu ver, isso além de restringir a capacidade individual, acaba mascarando a inteligência e obstruindo a criatividade do aluno (estudante), o que certamente são atitudes antipedagógicas, ou melhor, são atitudes que deseducam.
A história tem nos mostrado que nem sempre os grandes gênios das artes e das ciências foram “bons alunos”. Aliás, ao contrário, em geral esses gênios foram (são) pessoas inconformadas e insatisfeitas com as escolas e com os padrões nelas estabelecidos. Esses sujeitos eram (são) pessoas avessas às normas das escolas e por isso mesmo não eram (são) “bons alunos”, ou pelo menos não eram (são) “bons alunos” no conceito padronizado esperado pelas escolas e seus tutores. Há inclusive quem defenda que eles só foram efetivamente gênios porque fugiram aos padrões tradicionais estabelecidos.
Assim, tem me preocupado bastante o fato de que o país está criando e estabelecendo (já estabeleceu) um “novo modelo” curricular para o Ensino Médio, desenvolvido por burocratas e que pretende ser mais um “padrão nacional”. Será que o Brasil, o quinto país do mundo em área geográfica (muito maior que toda a Europa), com a sexta população do planeta (208 milhões de habitantes) deve mesmo estabelecer um “novo modelo” curricular assim?
Peço vênia, aos mais entendidos no assunto, mas penso que isso é mais uma ilogicidade nacional e, o que é pior ainda, trata-se de uma inconveniência grotesca com a nação brasileira. Penso que ao invés de um “novo modelo” rígido, deveríamos ter critérios amplos e deveríamos estabelecer possibilidades de favorecimento àquilo que transcendesse aos padrões criados. Um país como o nosso não precisa e não pode ter padrões curriculares e vou tentar demonstrar porque penso assim.
Na educação, infelizmente estamos cheios de burocratas e assim a questão educacional emperra e se complica muito mais por conta dessa burocracia idiotizante do que qualquer outra coisa pertinente. Mas, obviamente, eu e quero crer que a maioria das pessoas de senso, acredita que isso não deveria, de maneira alguma, ser dessa forma. Isto é, o processo educacional deveria ser mais leve, mais flexível e menos emperrado. Até porque a educação é uma questão especial, que destaca o homem das demais formas vivas e não deveria ser tratada como uma questão qualquer dentro de um saco onde existem outras coisas. A educação tem que ser algo de trato diferenciado e a burocracia, filha pródiga da padronização, com sua característica genérica, vulgariza a educação e só complica e prejudica o processo educacional.
A educação é certamente a mais importante das questões humanas e deve ser considerada como prioridade absoluta sobre todas as demais questões que dizem respeito a humanidade, mormente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. A burocracia educacional atravanca todo o processo e isso é inadmissível num país que precisa educar seu povo para se desenvolver mais e galgar um lugar melhor entre as diferentes nações do mundo.
Estou convencido de que; “quanto mais se burocratiza e padroniza a educação, menos se educa efetivamente”. Assim, a ideia de desenvolver e investir em modelos únicos num país como o nosso, além de ser uma falácia impraticável e um retrocesso sociológico, também significa esquecer os possíveis padrões naturais do Brasil e culturais do povo brasileiro. Ora, certamente, esse esquecimento não é nada conveniente, principalmente quando se trata de educação, pois como será possível educar as pessoas desconsiderando a realidade à sua volta?
Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecidos pelo Ministério da Educação como modelos educacionais para o país, falam o tempo todo na necessidade de contextualização, mas agora mesmo, só para dar um exemplo, o governo está estabelecendo a padronização do currículo do Ensino Médio e gritando aos quatro ventos que isso é um grande negócio. Ora, isso não faz nenhum sentido. Talvez até seja preciso padronizar mecanismos (procedimentos) de ensino, mas não se deve padronizar currículos jamais, haja vista que os currículos devem surgir da necessidade próxima.
Penso que deveriam ser estabelecidos princípios educacionais claros e suficientemente abrangentes, a partir dos quais seriam desenvolvidos os currículos, de acordo com as realidades e as necessidades regionais, ou mesmo locais, desse país continental. A padronização curricular, imposta pela burocracia governamental, a meu ver, certamente irá prejudicar o processo educacional como um todo. Os alunos terão sua realidade modificada por um conhecimento irreal e muitas vezes aviltada por informações menos importantes do que aquelas que lhes são mais próximas. Por sua vez, os professores deverão ter sérias dificuldades de adequação dos seus conteúdos disciplinares aos diferentes interesses estabelecidos pela nova ordem legal imposta, apesar de todo apelo promocional mentiroso feito pela propaganda que circula na mídia, pois os modelos estabelecidos são genéricos e não consideram a regionalização.
Meus Deus, será que é tão difícil entender que a informação fornecida no Rio Grande do Sul não pode ser a mesma que a do Amazonas? Mas, é melhor eu me explicar, antes que me critiquem e me chamem de preconceituoso ou mesmo separatista. O nível do ensino deve ser o mesmo, a metodologia pode até ser a mesma, mas a informação necessariamente é diferente, porque as realidades ambientais, sociais e culturais são diferentes, por vários motivos. Temos que parar com esse negócio de achar que todo mundo é igual, porque isso acaba sendo uma afirmação mais perigosa e comprometedora do que simplesmente entender que todos são diferentes e que devem ser aceitadas, respeitadas, entendidas e trabalhadas essas diferenças.
A cultura humana se forma da diversidade e a padronização interfere drasticamente nesse processo. A padronização é bastante preconceituosa, quando trata todos de uma única maneira, porque ela pressupõe uma maneira (certa ou errada) a ser tratada e assim desconsidera as outras maneiras, não respeitando a diversidade cultural e isso sim, me desculpem os entendidos, é que se traduz numa forma de preconceito. Por isso mesmo, é que, a meu ver, a educação tem que ser livre de padrões que possam engessá-la, mesmo que seja parcialmente.
A educação presa e engessada obviamente é antipedagógica e sobre tudo preconceituosa e anticultural. Desta forma esse tipo de educação não deve servir para um país com tamanha diversidade como o Brasil e que pretende e precisa crescer no cenário internacional. Baseado nesse fato, creio que precisamos regionalizar a educação brasileira para poder torna-la mais verdadeira e para que a nação possa colher os frutos dessa educação mais produtivamente.
A burocracia é um mecanismo que sobremaneira e costumeiramente tem atrapalhado, cada vez mais, ao processo ensino-aprendizagem com sua “coisificação” humana e a padronização, quando põe tudo dentro da mesma regra, acaba fazendo o mesmo. Assim, esses dois conceitos, não deveriam ter tanta importância na educação. Aliás, não deveriam ter importância nenhuma. Desta maneira, devo concluir que tanto a burocracia quanto a padronização não servem aos interesses da educação desse país e por isso resolvi produzir essa pequena reflexão.
Por favor, tentem avaliar o meu raciocínio e, se puderem, digam que estou errado. Precisamos ter coragem de “sair da caixinha”, se é que queremos realmente melhorar a educação desse país e sair do marasmo do subdesenvolvimento. Os exemplos que outros países emergentes nos trazem pelo mundo afora são diametralmente opostos ao que se está pretendendo fazer aqui no Brasil e observem ainda que esses outros países têm tamanhos, populações, ambientes e condições culturais, extremamente menores e menos diversificadas que as nossas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Ambientalista
e Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL)

05 jan 2019

Sobre a ocorrência de “cópula” entre indivíduos do sexo masculino em determinadas espécies animais

Resumo: O texto reúne as ideias que confrontam os interesses midiáticos e o conhecimento científico sobre a questão relacionadas as possíveis atividades sexuais entre os animais do mesmo sexo. Essa é uma questão bem polêmica, mas que precisa ser discutida mais tecnicamente, até porque muito tem sido falado pela mídia e por outros interessados, porém os assuntos são fornecidas à sociedade sem nenhuma base científica.


Sobre a ocorrência de “cópula” entre indivíduos do sexo masculino em determinadas espécies animais

Ultimamente tem sido muito comum surgirem artigos tentando demonstrar a existência de homossexualidade em animais e mais ainda, tentando relacionar esse pretensa existência com a homossexualidade humana. Devo dizer, de imediato, que tudo isso não passa de uma grande confusão que estão fazendo, alguns por desconhecimento e ao que parece, outros apenas para tentar criar problemas onde eles não existem e assim tentar justificar o injustificável a partir de exemplos da natureza, ou ainda para buscar o amparo natural para explicar determinadas situações sociológicas conflitantes e questionáveis de certos comportamentos humanos.
Na verdade é extremamente comum a ocorrência e consequentemente a observação de uma aparente cópula ou coito (talvez fosse melhor chamar de pseudocópula), entre machos de várias espécies de animais, nos mais diversos grupos zoológicos, mormente entre os mamíferos e os insetos. Entretanto, essa situação não condiz, de maneira nenhuma e nem se  aproxima biologicamente, com uma verdadeira cópula por vários aspectos, os quais tentarei demonstrar nesse breve texto.
Primeiramente deve ficar claro que muitas vezes não existe penetração e mesmo quando até ocasionalmente existe, ninguém pode efetivamente afirmar que essa condição tenha algo a ver com sexo ou com sexualidade, até porque o sexo na natureza e nos animais especificamente tem função única e exclusivamente reprodutiva. Num segundo momento é preciso
ficar claro definitivamente também, que existem situações comportamentais em algumas espécies, nas quais acontece de um indivíduo simplesmente trepar sobre outro, mas isso não se caracteriza como uma atividade sexual. Na verdade, essa situação costuma ser considerada como uma indicação de sua superioridade ou mesmo de inferioridade perante o outro e obviamente, isso também não tem nada a ver com sexo.
Existe ainda uma terceira situação que pode ocorrer em algumas espécies, relacionada ao transtorno produzido pelo excesso de hormônio sexual nas épocas reprodutivas, o que leva o indivíduo em questão a querer ter uma relação, a fim de se livrar do transtorno produzido pelos hormônios sexuais. Nesse caso chega mesmo a ocorrer uma “cópula”. Entretanto, em nenhuma dessas situações parece existir afinidade e nem interesse entre um macho e outro da mesma espécie na natureza e muito menos, qualquer situação relacionada ao prazer sexual efetivo ou ao mero hedonismo individual de certos humanos. Na verdade são situações comportamentais e
fisiológicas momentâneas e não condições perenes assumidas pelos indivíduos.
Quer dizer, de qualquer maneira, nenhuma dessas situações de “coito ou cópula” pode ser considerada como uma condição homossexual efetiva no animal que momentaneamente as apresenta, como pretendem alguns indivíduos. Aliás, é bom que se repita e se esclareça, que todas essas situações citadas são momentâneas. Isto é, nenhum animal não assume essa pretensa condição homossexual por toda a sua vida. Mesmo alguns Anfíbios Anuros (sapos da família dos Bufonídeos) que podem efetivamente trocar de sexo, pois nascem machos e posteriormente viram fêmeas, não podem ser considerados como homossexuais, porque eles passam a agir efetiva e
fisiologicamente como fêmeas. Isto é, eles tornam-se fêmeas real e funcionalmente.
Obviamente que esses animais não fazem isso deliberadamente, ao contrário essa é uma necessidade imposta em certas situações para dimensionar a paridade dos sexos entre os indivíduos das populações locais dos animais. Essa é uma condição populacional imposta naturalmente, que é controlada genética, fisiológica e ecologicamente que efetivamente existe em algumas espécies de Anuros.
Existem vários outros casos de hermafroditismo (presença dos dois genitais num único indivíduo) animal, onde a atividade funcional do sistema genital varia, como acontece em alguns Gastrópodes Pulmonados (caracóis terrestres), mas não vou discutir sobre isso no momento, porque vai fugir ao propósito desse ensaio. Situações de hermafroditismo são comuns no Reino Animal, mas elas não têm nada a ver com homossexualismo, porque não existem indivíduos machos ou fêmeas, haja vista que todos indivíduos possuem os dois genitais e, dependendo da espécie, pode ocorrer uma autofecundação ou então uma fecundação cruzada.
Os animais só fazem sexo porque isso é uma necessidade da espécie. Isto é, da mesma maneira que se alimentam, que dormem, que respiram, que migram, enfim que sobrevivem e por isso mesmo, eles não têm tempo para brincar com sexo, como muitos humanos costumam fazer. Em suma, o sexo entre os animais é coisa séria e não pode ser comparado com qualquer
manifestação sexual humana, até porque os humanos, além da efetiva prática consciente da manifestação homossexual, extrapolaram e transcenderam bastante a verdadeira questão sexual como maneira prioritariamente reprodutiva.
Falar de homossexualidade em animais, exige, antes de qualquer coisa, que, além da sodomia (“sexo anal”), se pense também em felação (“sexo oral”) e ainda em inúmeras formas de masturbação, atividades tipicamente humanas e que lógica e indiscutivelmente não têm como existir nas diferentes espécies animais. Assim, não pode haver homossexualismo real e efetivo, embora até possam ocorrer coitos ou cópulas (pseudocópula) fortuitas entre alguns indivíduos machos de uma mesma espécie, como já foi dito.
Cabe lembrar ainda que o ato sexual (coito ou cópula) entre humanos do mesmo sexo, em certo sentido, nem sempre pode ser considerado como uma atividade realmente sexual, exatamente porque essa ação supera a necessidade reprodutiva e implica em outras necessidades, ligadas ao hedonismo, que nada têm a ver com o sexo propriamente dito. Se me permitem, eu posso até afirmar que, por exemplo, a cópula ou coito com o uso de preservativos é uma atividade ligada ao sexo, mas não é sexo verdadeiro, porque visa exatamente impedir a função primária do sexo que é a reprodução.
Assim, mecanismos anticoncepcionais, na verdade são atividades antissexuais, ao menos nas suas origens (intenções), porque objetivam prazer (hedonismo), mas não reprodução e assim não se constituem em sexo verdadeiro. Na realidade o sexo com qualquer tipo de preservativo parece mais com uma maneira sofisticada de masturbação, pois pode satisfazer aos indivíduos envolvidos, mas não se traduz definitivamente em reprodução no sentido efetivo da palavra. Eu sei que essa afirmação é muito discutível, difícil de ser entendida e muito mais difícil ainda de ser aceita, mas é perfeitamente possível se pensar assim.
Outra coisa que precisa ser dita é que em todos os animais mamíferos, exceto nos seres humanos, as fêmeas têm o seu período sexualmente ativo, denominado de estro ou cio, em tempo definido e relativamente bastante curto, durante determinadas etapas de suas vidas. Fora desse período é como se o sexo não existisse para os indivíduos e na verdade ele não existe mesmo, pois não interfere em nada na vida dos animais fora do período do cio. Apenas as fêmeas dos seres humanos não apresentam esse período específico e assim, elas estão susceptíveis ao sexo durante o ano todo, em grande parte de suas vidas.
Acredito que a existência do cio nas outras fêmeas de mamíferos seja também para que o sexo não “suba à cabeça”, como acontece com muitas fêmeas de humanos, haja vista que para essas demais fêmeas de mamíferos existem outras necessidades vitais, que são cotidianas e mais importantes ou pelo menos mais prementes que o sexo. Aliás, cabe dizer aqui também, que o ato sexual é desagradável e dolorido para a grande maioria (senão todas) as fêmeas de mamíferos. Para as fêmeas de mamíferos o sexo é uma obrigação incomoda e que só será possível se todas as outras atividades vitais estiverem sendo satisfeitas a contento.
Em suma, antes de qualquer animal se preocupar com a reprodução é necessário que se esteja vivo. Assim, viver é o mais importante, ainda que a reprodução e o ciclo de vida sejam necessários eles não são vitais para o indivíduo. A reprodução é necessária à espécie, mas o indivíduo precisa estar vivo para concorrer à atividade reprodutiva e por vários fatores, nem
sempre é possível reproduzir, mas sempre é importante manter-se vivo, até mesmo para reproduzir, se este for o caso.
O fundamental, o preponderante é estar vivo e assim tudo é feito para permanecer vivo. Reproduzir é importante, mas definitivamente não é essencial a nenhum indivíduo animal. Nenhum animal do sexo masculino “comete loucuras” pelo desejo do sexo e muito menos vai ter uma relação com outro indivíduo macho, se não conseguir encontrar uma fêmea reproduzir, apenas porque se interessa por outro macho, ou porque tem que copular ou para satisfazer sua necessidade hedonista. Ora, pensar isso é um absurdo e certamente tal fato não tem nenhum cabimento fisiológico e não ocorre na natureza.
Obviamente, a princípio, todos os indivíduos terão o direito de tentar reproduzir, mas precisam estar em condições físicas para isso e deste modo, na época certa, no cio, eles deverão estar saudáveis, bem alimentados e muitas vezes têm que passar por uma competição com outros indivíduos para provar ser o indivíduo que deverá reproduzir com aquela fêmea especial da sua espécie e que deverá ser a mãe de seus futuros filhos que darão continuidade a espécie em questão. Qualquer coisa diferente disso é idiotice ou balela, ou ainda um grande delírio de quem se dá o direito de pensar diferente disso.
Meus amigos, a verdade é a seguinte, as atividades antrópicas relacionadas ao sexo, não podem, de maneira nenhuma, ser comparadas com as atividades sexuais efetivas dos animais. Sexo sem objetividade sexual (reprodutiva) efetiva, ou seja, sexo sem meta de procriação não é sexo. Quando muito, será apenas prazer e os animais “sabem” disso, não têm tempo e nem condições para perder nesse aspecto. A vida animal é uma “guerra” constante entre comer ou ser comido e não há como brincar de sexualidade com um indivíduo do mesmo sexo.
Os animais precisam viver, pois a vida que é o mais importante, sempre é muito complicada e extremamente curta aos interesses de quem está vivo. Assim, meus amigos, para o indivíduo de qualquer espécie animal continuar vivendo é o que consiste no mais importante de suas vidas. Obviamente, se for possível, quem sabe, ele pode reproduzir e trabalhar para dar continuidade à espécie, tentando gerar indivíduos fortes, cada vez melhores e mais bem adaptados. Isso até pode ser um bom negócio, mas certamente não é algo vital.
Apenas o Homo sapiens, atualmente com seus 75 anos em média de muita inutilidade temporal e mental, tem muito tempo para perder em pensar e fingir o sexo verdadeiro para satisfazer o seu prazer individual. Como eu disse antes, pensando naturalisticamente, qualquer atividade sexual que não vise a reprodução em si, acaba sendo uma forma diferenciada de masturbação, o que até pode satisfazer bastante ao corpo, mas que não produz nenhuma efeito reprodutivo real. Nos animais não existe nenhuma possibilidade de que isso aconteça, porque a vida do animal é uma luta interminável por permanecer vivo. Até mesmo para reproduzir existe luta e por isso mesmo nem todos os indivíduos conseguem reproduzir. Aliás, alguns estão tão preocupados em se manter vivos, que nem tentam reproduzir.
Espero que fique claro, de uma vez por todas, que copular ou “pseudocopular” não é reproduzir. Aliás, o que os humanos menos querem, quando eles “transam” é reproduzir. Os animais não têm essa dimensão de valor fisicamente e muito menos mentalmente, de copular por copular, sem querer reproduzir. A reprodução para os animais é algo inerente as suas respectivas vontades, a reprodução é algo que acontece, porque tem que acontecer, com um objetivo único, no momento certo, com o indivíduo certo e do sexo oposto. As espécies vivem e buscam continuar existindo através de seus indivíduos que demonstrem maior capacidade reprodutiva e isso está geneticamente condicionado nos indivíduos e em suas respectivas atividades reprodutivas, quando existentes, e não existe outra maneira de ser.
Posso estar enganado, mas entendo que quando alguém aplica o conceitode homossexualidade esse alguém está pensando na afinidade mútua entre indivíduos do mesmo sexo, muitas vezes até rejeitando o outro sexo, pois o indivíduo homossexual se interessa principalmente pelo indivíduo de sexo igual ao seu. Ora, esse tipo de situação simplesmente não existe na natureza animal. Nenhum indivíduo de uma determinada espécie animal deliberadamente fica atraído ou interessado em outro indivíduo de sexo igual ao seu. O sexo biológico é uma condição genética relacionada à vida e à continuidade da espécie e isso só é possível entre indivíduos de sexos diferentes. Por tanto é, no mínimo, um exagero comparar com a
homossexualidade a possível pseudocópula entre animais de uma mesma espécie.
Infelizmente certas buscas de padrões naturais para justificar ou para se tentar fazer entender melhor algumas situações sociológicas humanas acabam produzindo mais problemas e maior confusão. Além de também levar ao mal entendimento e mesmo à conceituações erradas dos fenômenos naturais. Os animais não têm culpa das necessidades humanas e vice- versa. É óbvio que somos biologicamente animais, mas a espécie humana desenvolveu padrões comportamentais exclusivos, os quais estão associados à cultura humana e que por isso mesmo não têm precedentes em toda a classificação zoológica, como vestir, cozinhar, rezar e outros.
Talvez a homossexualidade seja um desses padrões, justificáveis apenas pela cultura humana, pois ainda que alguns seres humanos queiram propositalmente empregar o termo homossexualidade erroneamente para os animais, certamente essa é mais uma das muitas falácias sociais impostas por determinados grupos à sociedade, para galgar outros objetivos. Eu só lamento que nesse caso, os bodes expiatórios que justificam essa ação infundada sejam os animais.
Repito mais uma vez: na natureza, em particular no Reino Animal, só existe atividade sexual com fins exclusivos de reprodução. Qualquer outra situação de coito, cópula ou pseudocópula não pode ser confundida e muito menos traduzida ou comparada com qualquer atividade existente na sexualidade humana, porque isso é, no mínimo, um abuso do direito e uma falta de respeito dos seres humanos com os animais.
É incrível, mas exatamente quando finalmente a sociedade humana parece estar conseguindo atingir um nível de percepção maior sobre a sua própria natureza animal, no qual os animais estão, cada vez mais, deixando de ser cobaias físicas, haja vista que cada vez menos se utiliza os animais em pesquisas laboratoriais, começam a acontecer essas situações absurdas. Pois é, exatamente nesse momento, que surge agora um novo modelo de cobaia para utilização dos animais. Agora os animais passam, lamentável e tristemente, a ser cobaias psicológicas ou virtuais, apenas para satisfazer o ego de alguns seres humanos. Estou aqui fazendo a minha parte para que
essa idiotice não prospere e não se propague.
Por fim, quero deixar claro a todos os leitores, que não tenho nada contra o interesse e muito menos a opção sexual de quem quer que seja, ao contrário, penso que cada ser humano é proprietário de sua mente, tem seu livre arbítrio e que pode e deve fazer o que quiser com seu corpo e principalmente com sua sexualidade, mas tenho vergonha de pessoas que se escondem atrás dos animais para tentar justificar suas dúvidas ou seu conflitos pessoais e assim minimizarem seus possíveis erros.
A homossexualidade, boa ou ruim, certa ou errada, moral ou imoral, até que provem o contrário, é uma característica exclusiva da espécie humana, essa é a realidade nua e crua, doa a quem doer. Não se trata aqui de defender a situação ou condição A ou B, na verdade o que se quer é apenas e tão somente defender os coitados dos animais das possíveis agressões físicas e éticas que lhes são arbitrariamente incutidas por pessoas que não têm absolutamente nenhum conhecimento biológico básico e muito menos conhecimento de etologia especificamente.
Para terminar, eu quero ainda dizer que não há prazer nenhum no sexo animal, o que existe é uma obrigação biológica, de causa genética e fisiológica das espécies animais na busca da continuidade da vida. Por conta disso, ao contrário do que muitos humanos pensam ou querem acreditar, para muitas espécies animais, particularmente para as fêmeas dessas espécies, o sexo algo muito ruim, dolorido e desagradável, mas que é necessário e que alguém (alguns indivíduos) precisam fazer, pois tem que acontecer para as espécies continuarem existindo.
Mas, se não fosse assim e se existisse outra alternativa, isto é, se o sexo não fosse uma questão de sobrevivência das espécies, provavelmente vários indivíduos animais de muitas espécies certamente prefeririam não ter que fazer relações sexuais. As fêmeas não sentiriam o incomodo do cio, não teriam que suportar o peso e a violência dos machos e muito menos a amamentação (no caso dos mamíferos), a criação e a orientação dos filhos. Os machos, por sua vez, não teriam que se desgastar fisicamente e nem travar batalhas violentas com seus pares e também não correriam o risco de se mutilarem. Além disso, todos poderiam dispor e utilizar o curto tempo de suas vidas em interesses particulares mais interessantes, como, por exemplo, se alimentarem quantitativamente mais e qualitativamente melhor.
Além disso é fundamental entender que, se o sexo com uma fêmea da sua espécie não é nenhuma maravilha para os indivíduos envolvidos e só acontece porque é obrigatório, me parece óbvio que o sexo com outro macho então deve ser bem pior. Desta maneira não dá para defender, de jeito nenhum essa lamentável e triste corrente que especulativamente vem tentando admitir a existência de uma homossexualidade deliberada entre certas espécies de animais.
Sinto muita tristeza e vergonha desse pretenso envolvimento dos animais para buscar justificativas de questões que são estritamente antrópicas e fico mais entristecido ainda, quando vejo alguns homens ligados às ciências naturais reforçando essas ideias absurdas e descabidas. As ciências naturais e a Biologia em especial, não deveriam ser lugares para esse tipo de sujeito que apoia, promove e proclama crendices em nome da ciência.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (62)
Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista;
Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL).

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03 set 2018

A Biologia e as Próximas Eleições

Resumo: O texto em questão é um lamento e ao mesmo tempo uma chamada aos Biólogos e pessoas sérias desse país, para que procurem votar coerentemente e de acordo com as necessidades efetivas do Brasil, considerando, além da falácia dos candidatos, principalmente os aspectos naturais e particularmente biológicos envolvidos nas suas respectivas candidaturas.


A BIOLOGIA E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

Meus amigos Biólogos, colegas de profissão, chegamos a mais um dia 03 de setembro e completamos 39 anos que a nossa profissão está regulamentada no Brasil, entretanto isso ainda não possibilitou que a maioria de nós, biólogos, se tornasse capaz de viver e sobreviver satisfatoriamente. Nesse país de complicações inúmeras, ainda continuamos buscando nossa posição de destaque entre as diferentes profissões de curso superior. Ainda somos vistos apenas como uns “carinhas românticos” que estudamos muito para não fazermos nada de importante, ou seja, a formação em Biologia é considerada como uma profissão menor ou puro diletantismo e isso precisa ter fim. Quero aqui lembrar ainda que não faço distinção entre os Biólogos da Educação (Licenciados) ou da Pesquisa (Bacharéis), porque tenho certeza que todos nós pensamos e atuamos da mesma maneira fundamental, isto é colocando a vida antes de qualquer outro aspecto. E não posso admitir que quem se dedica ao estudo da coisa mais importante que existe, a vida, seja considerado como coisa sem importância no cenário de um país, mormente num país como o Brasil, onde a vida pulula e diversifica mais que qualquer outro lugar no planeta. Por conta do que foi dito acima, estou aqui, mais uma vez, para lembrar e dizer que essa condição absurda de “paria da sociedade brasileira” ou de “inútil fiscal da natureza” tem me preocupado muitíssimo e mais, que eu não vou descansar enquanto essa imagem totalmente estereotipada não for mudada e banida do pensamento coletivo nacional. No momento, ainda não sei se choro raiva ou se dou gargalhadas de alegria, mas certamente estarei rindo no futuro, dos muitos idiotas que puderam pensar que fariam de nossa profissão uma “lona de circo”. Nós Biólogos, profissionais da Biologia, somos hoje, os sujeitos mais importantes do planeta e temos que fazer o Brasil também entender e acreditar nisso. Só para lembrar um pouco de outros textos que produzi e publiquei, ao longo dos meus 40 anos como Biólogo, devo ressaltar que tenho escrito muito sobre os seguintes fatos: 1- O Brasil é um país de Megabiodiversidade, a maior do planeta; 2 – Os Biólogos são os profissionais que deveriam estar cuidando desse fato ativamente; 3 – A Biologia é reconhecidamente no mundo inteiro a “mãe das ciências” na atualidade; 4 – A população brasileira ter grande afinidade pelo trabalho dos biólogos; 5 – Os Biólogos são os guardiões da vida no planeta.  Entretanto, nada disso tem importado e muito menos justificado o nosso crescimento como profissão nesse país. Os nossos problemas maiores acabam sendo com os governos (em todos os níveis) e com certos setores empresariais. Os governos porque parecem não querer ver a importância no fato de possuirmos a maior biodiversidade planetária e nem na nossa existência profissional, que deveria estar cuidando ativamente desse patrimônio. Os empresários porque muitos deles pensam que nós não queremos deixá-los ganhar mais dinheiro, quando na verdade o nosso objetivo é exatamente o contrário disso, pois queremos que todas as pessoas ganhem muito dinheiro, inclusive os empresários. Bem, mas e daí? Por que será que, nesse momento, eu resolvi lembrar e comentar sobre essas coisas? Meus amigos, estamos às vésperas de mais um grande pleito eleitoral, no qual deveremos eleger o novo Presidente da República, novos Governadores, 2/3 de novos Senadores, novos Deputados Federais e novos Deputados Estaduais. Pelo que temos visto, em consequência do mar de lama que o Brasil se transformou, por conta da comprovação de inúmeros casos de corrupção e de várias prisões de políticos, o país inteiro está clamando por mudanças políticas, ou pelos menos mudanças nas posturas dos políticos. Embora muitos de nós Biólogos, lamentavelmente, sejamos avessos à política, temos que nos conscientizar de que é a política quem decide o caminho do país e assim temos que ter em mente de que a nossa participação e seriedade dentro desse processo eleitoral será de fundamental importância, para que a mudanças requeridas sejam efetivadas e quiçá para que nossos anseios específicos sejam ao menos minorados. Assim, dentro dessa mudanças, precisamos incluir também uma importância maior para a Biologia como ciência e à ação dos Biólogos como profissionais da Biologia, pois talvez sejamos uma das partes mais fundamentais das mudanças que se fazem necessárias, até porque somos os únicos profissionais capazes de solucionar certos problemas. Nesse sentido, nós precisamos estar atentos às escolhas que iremos fazer. A rigor, temos três caminhos que poderemos seguir: ou pensamos somente em nós e nossos interesses profissionais; ou pensamos somente no país e suas macro necessidades; ou fazemos uma mescla unindo as duas primeiras situações. Eu, particularmente, acho a terceira opção mais interessante, porque entendo que não devamos pensar apenas como Biólogos, porque também somos cidadãos brasileiros e devemos lutar para o desenvolvimento sustentável do país e para o bem cada vez maior da população brasileira. Obviamente, nós sabemos que é muito difícil conciliar os interesses estritamente biológicos com os demais interesses nacionais, mas temos que procurar ser sensíveis e coerentes com a maioria da população e pensar, talvez um pouco mais, no macro nível das necessidades nacionais, enquadrando a maior parte possível dos nossos interesses específicos dentro dessas necessidades. Historicamente o nosso país e a nossa população nunca foram muito preocupados com Ciência, Educação, Cultura, Tecnologia, Meio Ambiente e Biodiversidade, ou seja, as nossas áreas de interesse profissional, nunca foram nacionalmente interessantes, ou pelo menos, não foram interessantes até aqui, mas nós temos conseguido sobreviver. Os políticos brasileiros, ao contrário de políticos de outros países, não têm o hábito de ouvir os profissionais das diferentes áreas, e no nosso caso específico, quase sempre são avessos aos nossos reclamos, porque os “lobbies” sempre são na direção contrária e nós não podemos esperar que as coisas mudem radicalmente, da água para o vinho, numa única tacada. Seja lá quem for que vier presidir o país, com ou sem mudança aparente, certamente não acontecerá imediatamente nada de muito diferente do que temos visto até aqui, mormente no que se refere à Biologia e aos recursos naturais e aos interesses biológicos. Desta maneira, pensar no nível nacional parece ser mais interessante “a priori”, pois tentando garantir a melhoria do país, consequentemente estaremos criando condições e maiores espaços para melhorar também os nossos interesses profissionais. Considerando o que foi dito, devemos nos dirigir mais as candidaturas que tenham um viés genérico mais nacionalista do que um viés mais estritamente setorizado. Não devemos priorizar puramente os interesses biológicos, mas devemos priorizar os interesses nacionais de cunho biológico primariamente. Eu sei que é difícil colocar isso numa balança, mas essa é a função do âmago de cada um de nós quando votamos. Meus amigos, o Brasil tem jeito, até porque conhecemos uma infinidade de outros países que, apesar de tudo, tiveram jeito. Porém, o Brasil precisa de nós e de nossos votos para caminhar na direção correta e até mesmo de nosso interesse profissional. Assim, reflitam bem, antes de definir seus respectivos votos e votarem, antes de fazer qualquer bobagem em nome de ser contra os políticos e a política. É bom lembrar que a política não tem nada a ver com os políticos. A política é boa e necessária, os políticos é que costumam ser ruins e desnecessários, eles são colocados na condição de políticos, porque alguém (alguns de nós) vota neles. Talvez, apenas talvez, nós Biólogos possamos nos tornar os profissionais mais importantes do país, como acontece no resto do mundo, mas isso não acontecerá se virarmos as costas para a eleição e se o Brasil continuar sendo conduzido como tem historicamente tem sido até aqui. Se você quer mudança seja a mudança, mas se você é indiferente, por favor não reclame daquilo que virá. Você, amigo Biólogo, tem nas mãos a decisão sobre o que pode acontecer. É claro que eu sei que você sozinho não irá decidir uma eleição com cerca de 150 milhões, mas por favor, faça a sua parte coincidentemente. Isso será bom para o país, para você e para a sua profissão. Poderemos nos tronar, a exemplo do mundo, nos profissionais maia importantes do país, mas isso não acontecerá se o Brasil continuar sendo conduzido como foi até aqui e se nós não nos manifestarmos politicamente.  Amigos, só para lembrar, nós estamos vivos e somo sensíveis precisamos demonstrar isso claramente. Somos poucos em número, mas podemos ser muitos em ações e precisamos acreditar nisso para o nosso bem e o bem do país. Nossa Megabiodiversidade, nossa florestas, nossa fauna, nossos ambientes naturais, nosso ar, nossos recursos hídricos, enfim, nossa natureza depende de nós, dependem de nossa ação política ou, pelo menos, da expressão de nossa vontade política. Obviamente o nosso contingente não é significativo ao ponto de definir as eleições do Presidente, ou dos Governadores e Senadores, mas podemos e certamente devemos fazer bem as nossas escolhas para Deputados Federais e Estaduais, porque aí podemos interferir no resultado significativamente e assim garantir as eleições de alguns desses candidatos interessantes, considerando os nossos interesses nacionais e profissionais. O que a maioria dos brasileiros ainda não entendeu é exatamente isso: mais importante do que o voto para presidente é o voto para deputado, porque, num estado democrático de direito, são os deputados que decidem o que o Presidente vai fazer ou não. Se escolhermos pessoas boas, preocupadas com os interesses nacionais, certamente elas estarão preocupadas com os nosso interesses profissionais, porque o Brasil depende imensamente de seu patrimônio natural e de sua biodiversidade. Até onde eu sei, dos que estão aí, praticamente nenhum deles se mostrou efetiva e seriamente preocupado com o meio ambiente e com a biodiversidade brasileira, que deve ser a nossa meta primária, e tampouco com os profissionais Biólogos desse país. Assim, entendo que nenhum deles, a priori, salvo melhor juízo, mereça os nossos votos. Entretanto, independentemente disso, alguém será eleito e por isso temos que votar e votar bem. É preciso que escolhamos bem e que votemos e tenhamos critério, colocando o Brasil e a Megabiodiversidade Brasileira como condição básica e fundamental para a escolha de cada um de nossos candidatos, antes da definição do voto em si. Precisamos votar clara e objetivamente naquele sujeito que seja nacional e respeite o Brasil e que entenda que o Brasil só não é a mais importante nação do mundo se não quiser, porque detém o maior patrimônio natural planetário e por isso mesmo precisa ser respeitado pelo resto do mundo. A valorização de nossa profissão depende muito disso, portanto pesquisem a fundo a vida e os reais interesses do candidatos, antes de definirem seus votos. Independentemente dos resultados, que o Brasil possa sair vencedor e que a Biologia como Ciência possa ficar mais conhecida prelos políticos que virão, do que até aqui tem sido. Assim, talvez, a nossa profissão possa deslanchar no Brasil e atingir o seu verdadeiro local de destaque aqui no Brasil, como acontece pelo mundo afora. Estou casado de sermos vistos como “bonzinhos” e “pessoas muito bem intencionadas” pela comunidade; por “bobos da corte” ou “idiotas de plantão” pelos empresários e principalmente por “grandes idiotas românticos” pelos administradores públicos. Meus amigos, chega! Eu quero ser reconhecido pela importância do trabalho que exerço nesse país, por todos os setores nacionais e espero que os Biólogos, como eu, realmente passem a pensar da mesma maneira. Acreditemos na nossa força e independentemente do que alguns possam dizer ou do que a imagem ainda possa transparecer. Vamos continuar a nossa luta por importância para a sociedade e para o planeta e vamos, sobretudo, ocupar o nosso espaço profissional e desbancar tudo que nele existe atualmente. Mas, principalmente, vamos votar seriamente nas próximas eleições. Nós, melhor que ninguém, sabemos que na natureza tamanho não é documento e que podemos demonstrar, até mesmo inferiorizados numericamente, a nossa importância antrópica e nossa condição intelectual e sensitiva maior. Por favor, os Senhores não têm que concordar comigo, mas pensem nisso que acabam de ler e ótima eleição para todos vocês.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (62) Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista; Presidente da Academia Caçapavense de Letras.

29 jul 2018

A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

Resumo: O texto em questão é uma crítica que visa chamar a atenção da sociedade, tentando identificar os atores envolvidos e suas respectivas responsabilidades sobre o lamentável estado de carência da educação brasileira. Além disso, também destaca e comenta sobre algumas experiências ocorridas que poderiam ter evitado ou, pelo menos minimizado, o atual quadro generalizado de descaso com a educação por parte de quase toda a sociedade.


A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

” A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Constituição da República Federativa do Brasil/1988, artigo 205)   Antes de qualquer coisa, eu quero deixar bem claro que não sou advogado e muito menos estudioso do direito. Sendo assim, é bem possível que eu cometa alguns erros e diga algumas besteiras na minha dissertação, mas tenho minha maneira de pensar e vou continuar meu raciocínio assim mesmo, tentando demonstrar minha visão sobre o assunto em questão, até que alguém, talvez algum especialista em direito, possa demonstrar e me esclarecer claramente acerca dos meus erros, se, por acaso, efetivamente existirem erros no raciocínio. Todos certamente já ouviram a afirmativa que encabeça esse texto ou alguma coisa bem parecida com o seu significado e eu devo dizer que, apenas em parte, eu concordo com a tendência generalizada que a opinião pública parece ter sobre o entendimento dessa afirmativa. Concordo em parte, porque tenho ciência absoluta de que a Educação é verdadeiramente um direito de todos, entretanto, penso que a educação não é e nem pode ser uma obrigação do estado ou da família. Assumir que aquilo que todos têm como direito é obrigação de alguns (o estado e a família no caso), a meu ver, consiste num grande erro, é exatamente aquilo que algumas pessoas chamam de “lógica burra”. É óbvio que o estado e a família (muito mais que o estado) devem providenciar as condições mínimas para o estabelecimento da educação das pessoas. O estado deve investir em promover a educação da população e estimular o máximo para que toda a população se eduque, enquanto a família deve fornecer os padrões morais básicos que permitam desenvolver uma convivência social cortês e ética para os indivíduos nela nascidos, particularmente durante o período infantil desses indivíduos. Entretanto, nem o estado e nem mesmo a família, a partir de determinado momento, não podem e nem devem obrigar as pessoas a se educarem, porque se a educação é um direito, ela não pode ser imposta por nada e nem por ninguém, principalmente pelo estado, principalmente quando se pretende viver num estado democrático de direito. Eu quero entender que o direito é algo que se manifesta como uma prerrogativa que pode ou não ser utilizada por quem a tem. Desta maneira, um direito não pode ser uma obrigação de quem quer que seja e sim uma opção de cada indivíduo numa sociedade. E se é uma opção, não existe porquê alguém se obrigar de cumprir e muito menos uma outra pessoa (entidade ou instituição) deverá “obrigar o cumprimento desse direito”. A pessoa é quem tem direito de se educar, se quiser, pois também pode não se educar, se quiser, e o estado e a família, quando muito, poderão apenas servir como orientadores de que esse ou aquele talvez não devesse ser o melhor caminho a ser seguido, mas, o estado e a família não podem de maneira nenhuma obrigar que a pessoa se eduque, se esta pessoa não quiser ser educada.  A tutela do estado ou da família sobre a pessoa não pode ser prioritária aos interesses da própria pessoa, a não ser no caso de transgressão do direito ou de uma agressão direta à sociedade. Sou consciente de que eu acabo de fazer uma afirmação complicada, dura, perigosa, sujeita à críticas e que certamente será propositalmente mal entendida por alguns ou ocasionalmente mal interpretada por muitos indivíduos, principalmente àqueles que não defendem nada, porque são ligados a partidos políticos ditos socialistas e acreditam que o estado tem que fazer absolutamente tudo na vida do cidadão e assim só sabem criticar as pessoas que pensam. Minha afirmação ainda deverá, pelo menos num primeiro momento, também ser bastante criticada por aqueles que defendem o ensino público e gratuito para todos e em todos os níveis de ensino.  Nesse sentido solicito a todos que não tirem conclusões prematuras e que leiam o texto até o fim, para poder avaliar exatamente o que estou tentando dizer. Infelizmente ao contrário de alguns seres humanos, eu sou um indivíduo que além de pensar, também resolvo falar e escrever, porque gosto de expressar minha opinião e de discutir para procurar melhor entendimento das coisas. Isso obviamente tem me criado inúmeros problemas e me feito muito mal dentro da sociedade em que estamos vivendo, haja vista que, por um grande mal sociológico, em geral as questões polêmicas não são discutidas, simplesmente alguém diz que é de uma maneira e os demais costumam seguir esse alguém. Sendo assim, fiquem à vontade, porque eu já estou acostumado a sofrer críticas. A propósito, é bom que fique claro, desde já, que eu também sou a favor do ensino público e gratuito, mas não sou a favor de que haja absurdos, como uma gratuidade generalizada, até porque, como já foi dito, a educação é um direito e o estado deve trabalhar para que esse direito possa ser efetivado na totalidade da população ou pelo menos para a maioria das pessoas, dentro de um mecanismo democrático. Mas, por outro lado, o estado não tem que ser tutor de todas as pessoas. A família, como já foi dito, tem uma responsabilidade maior com seus filhos nesse aspecto, mas o estado não é pai e muito menos mãe de quem quer que seja. O estado tem que fazer o que pode e o cidadão interessando deve trabalhar, buscar e conquistar os seus direitos. Não acredito que um direito deva ser encarado como uma benção da sociedade para o indivíduo. Durante minha vida educacional, até o dia em que ingressei na faculdade, sempre estudei em instituições totalmente públicas e mesmo a faculdade em que estudei era parcialmente pública. Sou do tempo em que a gente tinha que fazer exame de admissão para passar do primário para o ginásio, se quisesse continuar estudando numa escola pública e poucos passavam porque o número de escolas era relativamente pequeno. Para ingressar numa faculdade (raríssimas naquela época), independentemente do curso escolhido, havia um vestibular muito competitivo e não era qualquer indivíduo que conseguia passar e ingressar. Ou seja, eu não tive a vida fácil que alguns desconhecidos da história poderiam pensar de imediato. Ao contrário, tive que estudar e correr atrás para conseguir me manter na escola pública e não culpo o estado por conta disso, porque entendo que isso é correto e, naquela época, era sobretudo necessário, pois havia muitas crianças, muitos jovens e poucas escolas, mas hoje ocorre exatamente o contrário, porque o número de escolas aumentou e o número de crianças e jovens proporcionalmente diminuiu. Estudar em escolas públicas na minha época era, sobretudo, um prêmio oferecido àqueles que se dedicavam ao estudo e acreditavam que só assim poderiam projetar um “futuro melhor”. Grande parte de minha infância transcorreu numa época complicada, em que o país vivia sob a égide de uma ditadura militar. Porém, se esse fato era ruim, certamente era ruim apenas para quem também era ruim, pois a vida do cidadão comum se manteve do mesmo jeito e não se alterou por conta da ditadura, salvo raríssimas exceções. Se os militares erraram e também ficaram muito tempo no poder, foi porque houve necessidade ou talvez porque não fossem políticos e não tivessem o tino para a administração pública, mas com certeza eles não eram deliberadamente mal intencionados, como muitos administradores que vieram depois da chamada “abertura política”. Sobre vários aspectos aquela ditadura era muito mais democrática do que a pretensa democracia que a sucedeu até os dias de hoje. Hoje, eu não conheço pessoas boas que reclamem da época da ditadura militar, ao contrário, apenas os picaretas e os bandidos ainda reclamam. O que eu quero dizer é o seguinte: gente boa não reclama daquele tempo, embora possam ter ocorrido alguns exageros, certamente esses não foram de maneira nenhuma uma regra para a sociedade em geral. Naquele tempo, as escolas públicas não eram muitas, como eu já disse, mas o ensino era bom e quem queria estudar e aprender, com certeza conseguia. Sou um exemplo vivo desse fato e conheço vários indivíduos como eu. Mas, o que aconteceu depois de 1985, com a famigerada “abertura política”? O país, com raríssimas exceções, foi entregue na mão de um monte de vigaristas, que inventaram e, o que é pior, se debruçaram em cima de ideias idiotas preconcebidas por “gênios do mal” e sonhos de socialismos improváveis, para enganar a maioria das pessoas, que até hoje não conseguiram ser educadas, no sentido literal da palavra e estão por aí procurando “Papai Noel” e outras figuras mitológicas. O pior é que muitos realmente acreditavam e alguns ainda acreditam nessas coisas e infelizmente parece que não sabem que “Papai Noel” não existe. Alguns desses “gênios do mal” acabaram sendo eleitos e assim foram alçados ao poder. Desta maneira eles passaram a sugerir um caminho irreal, uma forma de educação que só interessava a eles mesmos e os seus instintos cada vez maiores de poder e de domínio. Eles criaram mitos modernos sobre questões morais e atribuíram conceitos absurdos sobre as inter-relações pessoais, fazendo as comunidades pensarem que o errado é que estava certo. Além disso, esses indivíduos resolveram, a bel-prazer, que os absurdos que eles inventavam é que deveriam ser conduzidos na educação a ser ministrada e ensinada nas escolas no país. Ora, é óbvio que isso não poderia dar certo e o desastre culminou, quando um grande idiota, semianalfabeto e declaradamente alheio à educação assumiu a direção maior do país. Nessa situação, a educação que já era ruim, ficou muito pior e passou, de fato, a ser um dever (uma obrigação) do estado. Mas graças a Deus o estado, nesse aspecto, não cumpriu o seu dever e grande quantidade dos absurdos não chegou a sair dos planos e projetos, mas infelizmente alguns foram publicados e até mesmo distribuídos nas escolas. Por favor, nesse momento, eu preciso esclarecer, que se antes a educação era ruim porque o estado era inoperante, nesse instante ela ficou bastante pior, porque o estado resolveu operar de maneira propositalmente errada. Foi exatamente nesse momento infeliz da história brasileira, que um apedeuta e sua trupe passaram a reger uma orquestra ruim e desafinada, onde a educação deveria ser a partitura e na verdade nunca foi, porque a estrutura educacional foi criada e dirigida dentro de uma forma de interesses estritos, que visavam apenas colocar nas comunidades somente aquilo que agradava a quem “administrava” (roubava, talvez fosse melhor) o país. Meus amigos, assim chegamos ao atual “status quo”, onde os políticos safados fazem o que querem e os cidadãos de bem pagam a conta, onde a “Lei de Gérson” é imperante, onde bandidos comandam o país de dentro das cadeias, onde o certo está errado e o errado está certo. Isto é, passamos a viver numa total inversão de valores morais. Tudo isso porque alguns malfeitores resolveram e decidiram que esse país seria propriedade deles eternamente. Mas, graças a Deus, nada é perene e o castelo dessa corja começou a ruir e espero que caia de uma vez por todas. Quero acreditar que esteja na hora de mudar e começar a reconstruir o Brasil. Aquele Brasil sonhado por Paulo Freire e por Darcy Ribeiro, senhores que, com toda a visão progressista, esquerdista ou mesmo comunista, nunca deixaram a educação de lado, porque não tinham um projeto de poder e sim um projeto de governo, de melhoria das pessoas e de desenvolvimento do país. Ao contrário, esses senhores sempre priorizaram a educação, porque, antes de tudo, eram brasileiros diferentemente de outros embusteiros. O que continuamos precisando hoje é exatamente isso, um projeto que possibilite a nacionalização do Brasil, que vislumbre primeiramente o desenvolvimento do país e de sua população e isso só acontecerá quando a educação for, de fato, uma prorrogativa, uma prioridade e um direito claramente estabelecido na mente de todos os brasileiros. O Governo atual, certo ou errado, parece que está tentando fazer a sua parte ao propor a mudança do ensino médio. Quero deixar claro que eu não votei nesse governo e consequentemente não votei no que acaba de sair, haja vista que é o mesmo governo, só mudaram algumas pessoas de lugar. Tenho minhas críticas e minhas dúvidas sobre ambos, ao governo e à reforma do ensino proposta, e até já publiquei minha opinião a esse respeito (LIMA, 2016a). Entretanto, tenho que concordar que essa proposta é algo que não se via nesse país desde a ditadura militar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (5692/1971), que ficou em vigor até 1996, quando foi substituída pela atual (Lei 9394/1996), foi essa lei que, dentre outras coisas, criou o ensino profissionalizante e começou a tirar esse país do marasmo e da incompetência generalizada, permitindo nos colocar no nível de capacitação mínima entre as nações do mundo civilizado. Essa lei é da época do governo militar e queiram os senhores ou não, foi essa lei, não por coincidência, relacionada à educação, que permitiu mudar a cara desse país no cenário internacional. O chamado “milagre brasileiro” certamente é o grande fruto dos resultados da Lei 5692/1971. A criação dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEP no Rio de Janeiro e dos Centros de Atenção Integral à criança e ao Adolescente – CIAC no Brasil, graças ao trabalho de Darcy Ribeiro, na década de 1980 e 1990, também foram algumas grandes obras, as quais rapidamente foram sucateadas e destruídas, com duvidosos argumentos econômicos e financeiros, exatamente quando começavam a dar certo e produzir alguns frutos. É claro que educação custa caro, pois esse é exatamente o preço que tem que ser pago para que a nação possa se desenvolver e o país possa entrar verdadeira e integralmente no cenário internacional. Não adianta bradar que somos a sexta economia do mundo, se continuamos a amargar a condição de octogésima qualidade de vida do planeta e com uma das piores distribuições de riqueza da Terra. Como pode um país de 205 milhões de habitantes, ter cerca de 27 mil milionários, os quais concentram quase 30% de toda a riqueza financeira possuída nacionalmente? Cabe salientar que essas informações são fornecidas e publicadas pelo próprio Governo Federal (Brasil,2016). É preciso distribuir melhor e principalmente roubar menos, porque por mais caro que possam ser os gastos com a educação, certamente o seu custo total ainda será muito baixo, porque esse custo será tremendamente mais barato aos cofres públicos do que foram os “mensalões”, os “petrolões” e todos os inúmeros golpes (esses sim, foram golpes) e assaltos aplicados pelos governos recentes do país, os quais se diziam democráticos, progressistas e preocupados com os mais humildes. Além do que, obviamente, a população, de maneira nenhuma, estaria reclamando se os recursos financeiros que desapareceram do país, tivessem sido investidos e gastos totalmente na educação. É meus amigos, é isso mesmo. O que posso afirmar, como testemunha ocular é que a educação nesse país já foi muito melhor, mas isso ocorreu quando o roubo era menor e quando as pessoas, mormente as crianças, iam deliberadamente à escola e estavam preocupadas apenas em aprender e não em discutir questões outras que não cabem no cotidiano escolar. As pessoas que não queriam ir à escola, simplesmente não iam. Os pais mantinham as crianças sob suas respectivas guardas e isso não era crime. Algumas crianças trabalhavam e outras ficavam na vadiagem, mas, ainda assim, havia ordem no país e os problemas sociais, em todos os níveis, certamente eram infinitamente menores do que hoje. Não existia a demagogia da obrigação de estar na escola para se ouvir aquilo que não se quer ouvir e tampouco de se impedir que se pudesse, de alguma forma, trabalhar e ajudar a família para tentar melhorar de vida. Nesse país, nos últimos anos, tentaram fazer a doutrinação do povo com uma educação de mentira e não fosse a ganância insana e absurda, talvez esses malfeitores tivessem conseguido atingir o propósito estabelecido. Está na hora de voltarmos lá atrás, ainda na época do governo militar. Eu me lembro do então Ministro Eduardo Portela (1979/1980), que foi nomeado Ministro pelo Presidente Figueiredo e depois demitido pelo mesmo Presidente Figueiredo, apenas por ter se mostrado claramente favorável a uma greve estabelecida pelos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pois é, se vivia numa ditadura militar, mas havia a possibilidade de pensar diferente dos administradores. Obviamente podia se perder o emprego, como aconteceu com o ministro, e nada mais. Certamente isso era mais democrático do que se viu recentemente, pois o grande educador e Ministro Eduardo Portela ainda está por aí, vivendo até hoje. Antes de qualquer coisa, a escola tem voltar a ser um local de interesse da sociedade e de pessoas capazes de, por direito, escolherem o que é certo e o que é errado. A sociedade cabe o direito de julgar, mas nunca de impor. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), no seu artigo primeiro: “todo ser humano nasce livre e igual aos demais seres humanos” e no artigo terceiro reafirma que, além disso: “o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança”. Da mesma forma que o Ministro Portela teve o direito de escolher e ficou do lado oposto ao governo, hoje nós estamos sendo convidados a escolher entre a educação e a bestialidade. Espero que não sejamos bestas, apenas para agradar a quem quer que seja e nem por medo. É preciso ter coragem e parar de culpar alguns pelos erros de todos, porque o problema é generalizado e não existem responsáveis específicos. A família certamente tem muita culpa, o estado também, mas a questão transcende a esses dois agentes especiais, como relatei no artigo anterior (Lima, 2016b). A educação, embora não esteja escrito na Constituição Federal, ao mesmo tempo que é um direito, também um dever moral de toda sociedade e por isso mesmo é fundamental parar de apenas dizer não ao que é ruim, pois existe uma necessidade principal maior de que se diga sim para o que pode e deve ser melhor. Até aqui, a sociedade tem se mantido apática, ou só tem criticado e negado todas as possibilidades de melhoras educacionais preferindo continuar caminhando na desgraça eterna e obviamente isso é um erro que precisa ser corrigido. Graças a Deus que qualquer mudança real na questão da educação, até pelo seu efeito modificador da sociedade como um todo, acaba sendo necessariamente progressiva, pois do contrário, esse país de dirigentes safados e sem interesse na educação da coletividade, de famílias descomprometidas com seus filhos e de sociedade egoísta e alienada, já teria sucumbido totalmente e a situação poderia estar muito pior. É exatamente por conta dos efeitos graduais e progressivos que as mudanças educacionais produzem nas pessoas, mesmo aquelas sem educação formal, que lamentavelmente ainda são muitas nesse país, que a sociedade aprende a ver e a sentir o que é melhor para o Brasil e para si mesmas. Desta maneira, apesar de tudo, obviamente estamos sempre avançando, mas ainda estamos dando passos curtos e lentos, porém, se as pessoas e o governo quiserem acelerar o processo, o Brasil, em tempo relativamente curto, poderá sair do calabouço da brutalidade, do submundo da ignorância e da incompetência educacional generalizada. É lógico que o governo só vai querer acelerar o processo se a sociedade significativamente continuar querendo, ou seja, é fundamental que haja cobrança e imposição popular de toda a sociedade em prol da educação. Vamos acreditar e esperar que a mudança do ensino médio, mesmo modesta, defeituosa e ainda claudicante, seja um novo marco que conduzirá o Brasil anos luz à frente, porque nos últimos 50 anos, essa proposta está sendo a única coisa sugerida com vistas à melhoria generalizada da educação brasileira. Continuo acreditando que temos que priorizar a educação e que ela, dentro do possível, deve ser pública e gratuita, mas é preciso parar com esse negócio, essa demagogia, de achar que o governo tem que fazer tudo por todos. John Kennedy, em seu discurso inaugural como presidente dos Estados Unidos (20/01/1961) disse o seguinte: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.  Pois então, nós brasileiros precisamos fazer alguma coisa pelo Brasil e a educação, por vários aspectos que já citei neste e em outros artigos e, principalmente, por conta de ser um direito do cidadão, a educação tem que passar a estar destacada de maneira efetiva dentro das prioridades nacionais. A nossa realidade é que somos um país continental, o quinto maior do mundo e com a sexta maior população, mas precisamos assumir a nossa responsabilidade sobre essa condição brasileira no planeta. A educação tem que ser a mola mestra desse país e para tanto ela tem que deixar de ser uma máscara usada pelo estado para justificar uma obrigação que, a meu ver, o estado não tem, pelo menos direta e totalmente. Tiremos a máscara do estado e também aquela que colocamos em nós mesmos e vivamos a realidade que o país necessita. Isto é, mostremos a nossa cara e partamos para um Brasil infinitamente melhor, com um povo educado, que respeita as diversidades, garante os direitos e exige os deveres, mas sem tentar criar nenhum modelo absurdo, principalmente aqueles de interesses particulares ou oriundos de outras realidades. Referências
BRASIL, 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 5692, de 11/08/1971). Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências, Legislação Informatizada da Câmara dos Deputados, Brasília.
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil (1988), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, 35ª ed., Brasília.
BRASIL, 2016. Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira (Dados do IRPF 2015/2014), Ministério da Fazenda, Brasília.
LIMA, L. E. C., 2016a. A “Medida Provisória” para o Ensino Médio e o “Notório Saber”, www.profluizeduardo.com.br , 27 de setembro de 2016.
LIMA, L. E. C., 2016b. Por que a Educação não dá certo no Brasil?,  http://oblogdowerneck.blogspot.com.br/2016/12/por-que-educacao-nao-da-certo-no-brasil.html , 17 de dezembro de 2016.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1998. Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), Biblioteca Virtual dos Direitos Humanos/USP, São Paulo.
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06 jun 2018

A Recuperação da Área Florestada na Região do Vale do Paraíba

Resumo: O texto faz menção as notícias veiculadas na mídia indicando que a região paulista do Vale do Paraíba, ampliou suas áreas florestadas com vegetação nativa e o autor sugere que as notícias, ainda que boas e necessárias, podem não ser de todo verdadeiras, por conta da grande quantidade de área reflorestada com essências exóticas na região.


A Recuperação da Área Florestada na Região do Vale do Paraíba

Mapeamentos feitos a partir de imagens de satélite revelam que,
entre 1985 e 2015, as áreas de floresta passaram de 250 mil para 455 mil hectares,
o que representa um acréscimo de 83% em floresta nativa na porção paulista do Vale do Paraíba
(EMBRAPA, novembro de 2016).
Trabalhos recentes (GALINARI, 2016) nos têm dado conta de que a região do Vale do Paraíba tem sido a que mais tem conseguido crescer no que se refere a recuperação de sua cobertura vegetal no Estado de São Paulo. Obviamente, para nós cidadãos vale-paraibanos, essa é realmente uma notícia alvissareira, pois nos coloca à frente das demais regiões do estado, numa área de significativo interesse e preocupação nos tempos atuais, que é a questão da recuperação das áreas desmatadas, haja vista que São Paulo é o estado mais desenvolvido e, por isso mesmo, também é ambientalmente um dos mais desmatados do país. Entretanto, por outro lado, é preciso que se discuta e avalie muito bem os detalhes que norteiam esses resultados que nos colocam nessa condição de superioridade quanto e esse considerável aspecto.   Nossa região, em seu estado primitivo, possuía quase 90% de sua área totalmente florestada (LIMA, 2015a), mas a partir da chegado do homem branco a coisa começou a ficar complicada, pois o desmatamento aconteceu contundente e progressivamente, por conta da ocupação desordenada, do plantio do café, das fazendas de gado leiteiro e inúmeros erros. Depois de 1920, com o fim da cultura intensiva do café, pouca coisa sobrou e a vegetação nativa praticamente desapareceu nas áreas de várzea e nas encostas mais baixas das serras que margeiam o vale. No que se refere aos cuidados com a vegetação nativa, praticamente nada aconteceu, pois historicamente apenas desmatamos, degradamos e destruímos a região e sua vegetação primitiva.   O que a natureza levou séculos, talvez milênios para produzir, nós destruímos quase completamente em pouco mais de 200 anos.  A região que outrora era coberta de matas naturais e de vegetação exuberante em vários lacais, ficou com áreas totalmente desmatadas em consequência do fim da exploração do café e depois, muitas dessas áreas ainda foram pisoteadas e compactadas pela ação do gado, o que inviabilizou totalmente qualquer possibilidade de recuperação natural.   Algumas dessas áreas inviáveis chegaram mesmo ao nível total de desertificação em algumas localidades específicas e por volta de 1980, a região chegou atingiu menos de 20% de áreas naturais florestadas. E essas parcas áreas florestadas que foram mantidas se deveram principalmente à dificuldade de plantio e pastoreio em algumas localidades do topo da Serra do Mar, onde hoje se localiza grande parte do Parque Estadual da Serra do Mar do Estado de São Paulo. Assim, nesses 200 anos, secaram inúmeros olhos d’água e muitas nascentes, foi derrubada quase toda a mata ciliar e foram desmatados os morros de fácil acesso e solapadas muitas de suas bases. Várias das marcas produzidas pala erosão sofrida ainda estão por aí, muito bem visíveis em diferentes áreas da região.   A partir de meados dos anos 1980 foi iniciado um grande programa de “reflorestamento” da região, inicialmente com Pinus elliottii, originária do Sul dos Estados Unidos, e mais recentemente com Eucalyptus grandis, oriundo do Leste da Austrália. Apenas a partir do início dos anos 1990 é que a região começou a se preocupar realmente com o que aqui se estava plantando em larga escala e aí se passou a dar ênfase e a se preocupar um pouco com a necessidade do plantio de essências nativas, mormente nas áreas de mananciais e nas proximidades de parques e reservas.   Resumindo tudo, nós destruímos até 1980 e de lá para cá resolvemos começar a recuperara região e hoje temos mais de 30% de área florestada no Vale do Paraíba, o que realmente é um índice muito bom e bastante expressivo. Entretanto, o fato de ser muito bom essa grande ampliação da área vegetada, não garante nada quanto à recuperação florestal da região, porque esse número esconde outro aspecto relevante, que é a grande massa de eucaliptos plantados na região. Existem municípios que possuem mais de 20% de suas áreas cobertas com plantação de eucalipto (LIMA,2015b).   O Vale do paraíba constitui-se efetivamente numa monocultura de eucalipto (LIMA, 2016). Só como exemplo, existe uma empresa de papel e celulose na região, que por conta dessa necessidade faz plantio de eucalipto e que possui cerca de 250 fazendas exclusivas para esse fim. Os números da área total vegetada aumenta, mas muito dessa ampliação é apenas e tão somente de eucaliptais e não vegetação nativa como sugerido pela EMBRAPA (2016).   A vegetação é maior, porém a imensa maioria das áreas florestadas está coberta de eucaliptos, que além de exótica, é uma essência que exige grande quantidade de água, principalmente nos primeiros anos de vida e como se trata de uma produção florestal estritamente comercial, essa florestas são cortadas e replantadas alternada e constantemente. É óbvio que entre nenhuma cobertura vegetal e uma floresta de eucalipto, certamente a preferência será pela floresta de eucalipto, mas sempre é bom lembrar que isso está longe de ser o ideal que a região necessita.   É necessário que faça uma avaliação apurada dessa acentuada monocultura regional de eucalipto, sem paixões e sem interesses, para que se possa estabelecer os devidos critérios de plantação no interesse regional e não empresarial e também entender os devidos benefícios e malefícios desse plantio. A monocultura de eucalipto, da maneira que se estabelece, só traz vantagens significativas para as empresas de exploração dessa essência para produção de papel e celulose, além de acabar iludindo as pessoas, quando ajuda a produzir números significativos de ampliação e recuperação de nossas áreas de “vegetação natural”.   Quero deixar claro, que eu pessoalmente não tenho nada contra o eucalipto, que obviamente é uma madeira realmente importante, pois além da produção de papel e celulose, assume inúmeras outras utilidades, na construção civil, na indústria moveleira, na indústria química, na medicina e mesmo na produção de carvão vegetal. Por outro lado existe a necessidade de que se tenha em mente que esse mesmo eucalipto que dá números positivos a área vegetada na região é uma planta exótica, que requer água, que é extremamente competitiva, que empobrece o solo e principalmente não é uma árvore que será perene no local onde foi plantada, ao contrário ela será cortada periodicamente em intervalos relativamente rápidos.   É preciso que tenha sempre em mente essa imagem de que o eucalipto que acaba dando números positivos a área total vegetada na região não é uma cultura perene e que as áreas onde essa cultura se encontra são limpas a cada 6/7 anos e novos eucaliptos são plantados no local ou não, porque esta é uma “floresta comercial”. Quer dizer, o objetivo da floresta de eucalipto é produzir eucalipto e não reconstruir floresta. Desta maneira, quase nunca se deixa a “floresta” atingir um estágio adulto, considera-se apenas o tamanho comercial interessante para o corte da planta, que leva em média 6/7 anos.   É preciso dizer ainda que uma planta jovem está sempre requerendo muitos nutrientes e muita água e assim acaba retirando muitos recursos do solo na área onde está plantada. Como essas plantas são plantadas e cortadas ainda jovens, a área acaba sendo explorada em excesso e seus recursos naturais tendem a estagnar. Além disso é bom ressaltar que qualquer monocultura explora sempre o mesmo tipo de recurso natural e isso também vicia o solo do local. Em suma, o excesso de florestas jovens numa mesma área tende a esgotar o solo em alguns nutrientes muito exigidos e em água. O resultado disso é que depois de alguns cortes sucessivos (3 a 4) o solo estará praticamente estagnado e seco, necessitando de muito investimento para sua recuperação e para seguir sendo capaz de manter uma floresta qualquer.   Que bom que temos aumentado nossas áreas florestadas, mas que ótimo seria se plantássemos mais essências nativas ou se cortássemos menos eucaliptos e deixássemos as florestas terem continuidade temporal. A experiência tem demonstrado que, mesmo em florestas de eucaliptos, depois de 30 a 40 anos, o sub-bosque se refaz e os processos sucessórios acontecem naquele ecossistema. É claro que esse será sempre um ecossistema artificial, mas muitos dos trâmites ecológicos naturais se reestabelecem, pois progressivamente o solo se refaz, a água reaparece, a biodiversidade aumenta, a fauna gradativamente aumenta e algumas espécies nativas vão novamente se desenvolvendo.   Por outro lado, enquanto plantamos e cortamos somente eucaliptos, estamos apenas tendo a impressão de que a vegetação está aumentando, porque, na verdade, o que está aumentando progressiva e assustadoramente é a área geográfica total plantada de eucaliptos, já que é cada vez maior o espaço total ocupado por essa monocultura. Se amanhã ou depois o homem descobrir outros mecanismos para substituir as funções produzidas pelo eucalipto e essa essência deixar de ser tão útil quanto tem sido até aqui, fico imaginando e tenho medo do grande vazio que resultará com o desmatamento que ocorrerá no Vale do Paraíba com a retirada do eucalipto hoje existente, mais de 10% de toda região (Carriello & Vicens, 2011) sem nenhuma substituição.   Infelizmente estamos habituados a pensar somente em lucro econômico e não em lucro ambiental, até porque muitos de nós, por conta do imediatismo, ainda não compreendemos que o lucro ambiental tem como consequência o lucro econômico. Assim, enquanto existir somente preocupação com o lucro estritamente econômico numa determinada atividade, certamente essa se manterá, porém quando a atividade deixar de ser interessante por parar de produzir esse tipo de lucro, ela tenderá a acabar rapidamente e nesse caso a região vale paraibana, que hoje é uma grande monocultura de eucalipto (“um deserto verde”), no futuro, poderá vir a se transformar num deserto de fato. É bom lembrar que o Vale do Paraíba já viu esse filme e já vivenciou exatamente esse tipo de história com a monocultura cafeeira. O plantio de café aqui se estabeleceu no final do século XVIII e que teve seu auge entre 1830 e 1880, até se extinguir totalmente em 1920 (CONCEIÇÃO, 1984).   Vamos cair na realidade lembrar que a recuperação da região exige muito mais do que apenas plantar eucalipto para fins puramente comerciais. É preciso de grandes projetos de recuperação e restauração florestal para garantir a verdadeira ampliação de áreas florestadas nativas na região.   O fim do desmatamento, que lamentavelmente ainda existe, alcançando efetivamente o desmatamento zero na região, a recuperação das matas do entorno das nascentes, a recuperação das matas ciliares dos rios, o estabelecimento de corredores ecológicos e a ampliação das Unidades de Conservação são algumas das ações que se fazem necessárias para nos permitir um efetivo incremento de áreas vegetadas na região do Vale do Paraíba.   Além disso, a recente criação da Câmara Técnica de Restauração Florestal pelo Comitê das Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul (CBH-PS, 2017), também deverá trazer significativos benefícios e consequentes avanços à recuperação da vegetação da região, mas, salvo melhor juízo, ainda estamos muito longe de nossas necessidades reais e de celebrarmos qualquer grande melhoria nessa questão.   Referências Bibliográficas e Eletrônicas
CBH-PS, 2017. DELIBERAÇÃO CBH-PS 13 de 14 de dezembro de 2017. “Cria a Câmara Técnica de Conservação dos Recursos Hídricos e Restauração Florestal”, no âmbito do CBH-PS e especifica suas ações.
CARRIELLO. F & VICENS. R. S, 2011. Silvicultura de eucalipto no vale do Paraíba do Sul/SP no período entre 1986 e 2010, Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril a 05 de maio de 2011, INPE p.6403.
CONCEIÇÃO, A. A. B. & SANTOS, A. P. 2014. O Café no Vale do Paraíba: Origem e Decadência, III Congresso Internacional de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, 20 a 22 de outubro de 2014, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Universidade de Taubaté.
GALINARI, G. 2016. Florestas nativas crescem mais de 805 no Vale do Paraíba Paulista
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
LIMA, L. E. C., 2015a. A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã, www.profluizeduardo.com.br
LIMA, L. E. C., 2015b Considerações sobre a Monocultura de Eucalipto no Vale do Paraíba, www.profluizeduardo.com.br
LIMA, L. E, C., 2016 A Monotonia e o Perigo das Monoculturas, www.profluizeduardo.com.br
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30 abr 2018

CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Resumo: O texto trata da real necessidade de regionalização da Educação Ambiental como mecanismo norteador (orientador) de uso sustentável dos recursos naturais. É uma abordagem abrangente que propõe uma avaliação contextualizada para o Patrimônio Natural Regional e os diferentes usos dos recursos naturais encontrados nesse patrimônio.


CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ultimamente, muito tem sido discutido sobre a Educação Ambiental e como se poderia e se deveria fazer para colocar esse modelo de Educação dentro dos conteúdos curriculares das escolas brasileiras, mas até aqui a tarefa de concluir essa discussão ainda não se demonstrou objetivamente tão clara e eficiente como deveria se supor que fosse num primeiro momento. Ao contrário da expectativa, do modo em que a situação se encontra, na verdade se fala muito e acaba se fazendo muito pouco sobre educação ambiental de fato. Alguns dos muitos envolvidos nessa questão resolveram decidir que educação ambiental é orientar para se fazer reciclagem, outros que educação ambiental é cuidar e tratar do lixo, outros ainda assumiram que a Educação Ambiental é despoluir as águas e conservar a natureza e vai por aí afora, porém ninguém produziu um mecanismo suficientemente abrangente para estabelecer um bom programa educacional. Em suma, cada um vê a Educação Ambiental daquela forma que quer ver ou daquela forma que acha mais significativa e importante, mas sempre com um olhar sectário e caolha da realidade maior a sua volta. Desta maneira a Educação Ambiental segue sendo um ideal a ser atingido, mas que ainda está bastante longe da realidade necessária. De certa forma, todos estão parcialmente certos, mas por limitarem o foco, também acabam estando grandemente errados, porque a Educação Ambiental não pode ser dirigida diretamente a esse ou aquele aspecto, ela deve ser abrangente e globalizante. As ideias por trás das práticas educativas devem ser ampliadas, ainda que as ações e a eficácia devam ser localizadas. A Educação Ambiental precisa ser trabalhada dentro de um conceito mais amplo, numa visão mais generalista, de acordo com os padrões precípuos da sustentabilidade. Os aspectos considerados são importantes, mas só podem fazer sentido se forem avaliados dentro de um contexto geral, que envolve todos concomitantemente, ou que os individualizem na temática, mas globalizem nas ações a serem postas em prática, considerando todas as três vertentes fundamentais da sustentabilidade (ambiental, social e econômico), obviamente priorizando a temática (o viés) ambiental do referido tripé. Entretanto, na maioria das vezes, não é isso que tem acontecido, porque cada aspecto considerado é individualizado e especificado para determinada questão e isso não alcança os objetivos maiores propostos na Educação Ambiental. Assim, os temas a serem tratados podem ser boas premissas como enfoques principais, mas precisam ser considerados no seu todo e nas suas relações com as demais questões ambientais e não serem isolados e tratados separadamente. Além disso, também é fundamental que as questões a serem trabalhadas pela Educação Ambiental digam respeito à realidade próxima do grupo envolvido. Não adianta tentar trabalhar Educação Ambiental fora da realidade próxima e imediata da comunidade, porque desse jeito não vai haver percepção real. A contextualização é preponderante para que o entendimento daquilo que se quer demonstrar seja efetivamente alcançado. A ordem a ser priorizada deve seguir o seguinte sequencial: primeiro a realidade contingente do local, depois a realidade próxima do regional e por fim, a realidade intencional do estadual, do nacional, do internacional e do global (planetário). A Educação Ambiental também tem que ser produzida a partir dessa premissa, isto é, quanto mais próximo do local em que se está, mais interessante, mais oportuno e principalmente mais prioritário. Os grandes problemas planetários começam a ser resolvidos por cada um de nós, na nossa própria casa, ou seja, no lugar mais próximo, dentro daquela máxima que diz: “pensar globalmente, agindo localmente”. Chega de pensar numa Educação Ambiental imaginária, irreal e para outro mundo. É preciso pensar, trazer e fazer uma Educação Ambiental para dentro da realidade cotidiana que se vive. Nossa região é o Vale do Paraíba e aqui estão as nossas cidades e nossas comunidades, então esses devem ser os nossos norteadores da Educação Ambiental que precisa ser desenvolvida. Nossos problemas prioritários dizem respeito às nossas necessidades imediatas e não se trata de puro egoísmo, mas sim da real manifestação daquilo que é preciso resolver em primeiro plano, para garantir o verdadeiro envolvimento com as questões ambientais e tratar essas questões dentro das possibilidades situacionais que podem ser verdadeiramente operadas na região. Até porque em regiões diferentes da nossa, existem condições diferentes e obviamente as soluções possíveis também tenderão a ser bem diferentes. Assim, apenas o contexto real poderá lançar luz efetiva sobre a necessidade devida da Educação Ambiental a ser ensinada no local. As soluções são locais e por isso mesmo, as orientações também têm que ser locais. Não posso me preocupar com os problemas dos outros, por mais importantes que eles possam ser, enquanto os meus problemas não estiverem resolvidos. É uma grande utopia, um sonho, achar que a minha preocupação resolve qualquer problema longe de mim. Contextualizar é exatamente o contrário disso, ou seja, contextualizar é trazer para si próprio o problema e buscar a solução a partir das condições ambientais externas e internas do próprio problema, sem qualquer importação de valores e outras condicionantes. É claro que grande parte dos modelos existentes conhecidos e que são aleatoriamente aplicados sempre poderão ser úteis, mas na maioria das vezes eles não serão aplicáveis “in loco”, até porque são modelos e não podem ser verdades absolutas. Obviamente os modelos devem sim ser considerados, mas mudar o meio para adequar o modelo é uma tarefa irrisória e idiotizante, porque certamente isso não vai permitir resolver o problema. A solução está exatamente na postura contrária, isto é, deve ser adequada ao meio para começar a funcionar. Além do mais, transferir a mudança do meio para a adequação do modelo, sobretudo é artificial e antiecológica. Desta maneira não pode ser identificada em essência como Educação Ambiental. Pois então, até aqui o muito que se viu da Educação Ambiental foi exatamente isso: alguém propunha um modelo e todos repetiam aquele modelo em diferentes lugares. Ora isso, salvo melhor juízo, não pode ser considerado como Educação Ambiental, isso, quando muito é aplicação de modelos genéricos para Educação Ambiental, o que, na maioria das vezes, é extremamente artificial. O Meio Ambiente não é como a Matemática que eu posso teorizar para qualquer lugar ou situação. O Meio Ambiente é muito diverso e infelizmente não existem padrões totalmente aplicáveis.  Assim, é preciso que sejam construídos modelos locais, que identifiquem e interpretem as situações próximas e permitam solucionar problemas intrínsecos a esses mesmos locais, para se possa fazer Educação Ambiental de fato.   CONCEITOS AMBIENTAIS Na área do Meio Ambiente, como em qualquer área, existem muitos conceitos genéricos aplicáveis, entretanto é preciso que se dimensione exatamente a abrangência daquilo que se quer operacionalizar. Por exemplo, aqui no Vale do Paraíba existe uma questão que afeta a todos os envolvidos na região e até mesmo fora dela, que é a situação da água da Bacia Hidrográfica. Sendo assim, obviamente é necessário e interessante se trabalhar com os conceitos de Bacia Hidrográfica, de Ecossistema Hídrico Limnológico, com o conceito de ambientes lóticos e lênticos. Enfim, há várias terminologias que precisamos ter em mente e aplicar no interesse da Educação Ambiental para a região. Entretanto, não são apenas esses os conceitos que podem interessar, porque muitas vezes a questão local transcende a questão regional, fazendo com que a terminologia seja outra e outros conceitos adicionais sejam necessários. O Meio Ambiente é uma espécie de caixa preta que o homem ainda não conseguiu entender na sua plenitude. Na verdade, o homem tem apenas uma vaga ideia de algumas coisas, mas não conhece a maioria das verdades ambientais próximas, principalmente num país com diversidade geológica, biológica e cultural que o Brasil possui. Aqui no Brasil, nós ainda não somos capazes de identificar grande parte das espécies a nossa volta, quanto mais saber exatamente as respostas que elas poderão dar às diferentes situações naturais ou artificiais produzidas e muito menos nos casos de mudanças ambientais, os quais, infelizmente, têm sido cada vez mais comuns. Muitos conceitos ambientais regionais e particularmente locais, ainda terão que ser construídos, definidos, entendidos e por fim popularizados a partir de suas ideias genéricas, para que a população tome ciência e consciência exata daquilo que possui, daquilo que existe à sua volta e de como deve proceder no seu interesse próximo para garantir que aquilo continue existindo. As noções de bem natural, de patrimônio ambiental e de manejo ambiental ainda estão muito distantes da realidade próxima das pessoas nas diferentes comunidades e enquanto for assim não será possível falar em Educação Ambiental efetiva. É preciso que as pessoas saiam do empirismo e do continuísmo sociológico no uso dos recursos naturais e que se apropriem conscientemente desses recursos, inclusive e principalmente considerando a finitude desses recursos. Para que isso ocorra, a noção de patrimônio ambiental e sua transformação em recurso e ainda a maneira de utilizar esse mesmo recurso, têm que ser noções precípuas que a Educação Ambiental necessita produzir e orientar nas diferentes comunidades. Outro aspecto a ser considerado no que diz respeito aos conceitos ambientais é aquele que se relaciona com o próprio conceito ambiental em si. Nos ecossistemas antrópicos, essa é uma falha extremamente comum, quando se pensa em Educação Ambiental, porque o homem muda as condições de acordo com seus interesses particulares e os demais, inclusive os demais humanos que partilhem o ambiente em questão, que se danem. A Educação Ambiental precisa considerar essa questão dentro do modelo educacional que se quer propor naquele momento ou situação. Por exemplo, se o meu negócio é gado e se o seu é horta, nós não temos os mesmos requisitos básicos quanto a qualidade de alguns recursos naturais. De repente, o que é poluição hídrica para uma comunidade pode ser uma condição natural essencial para outra comunidade. Essas situações têm que ser pensadas e esclarecidas pela Educação Ambiental com toda a parcimônia necessária, considerando a relação de custo e benefício ambiental, social e econômico. Obviamente, essa não é uma tarefa simples, entretanto existe grande necessidade de sua consideração, se é que se quer mesmo fazer Educação Ambiental. Veja por exemplo, a água tratada que serve as populações humanas, esse tipo de água não presta para ser utilizada por determinados tipos de organismos vivos, porque o tratamento que é vital para os humanos, pode tornar essa água tóxica para outros organismos. Por outro lado, algumas vezes acontece o contrário, os agrotóxicos que um fazendeiro usa na sua plantação, pode ser vital para suas plantas, mas certamente será letal para os humanos que por ventura tenham contato estrito com essa material. Assim, como já foi dito, é preciso que sejam estabelecidos alguns critérios de prioridade. A situação é realmente bastante complexa e fica mais conflitante ainda quando se considera que infeliz e lamentavelmente, embora o patrimônio natural seja de todos, os recursos naturais “pertencem” a alguns proprietários que tem esse ou aquele interesse e aí já se está falando de sociedade, de relacionamento interpessoal e de economia. Nessas alturas, na maioria das comunidades, o Meio Ambiente e a Educação Ambiental passam para um plano inferior, mas a situação não pode continuar sendo assim, se é que existe pretensão real em fazer Educação Ambiental. Ora, se não houver concordância no mecanismo de exploração do patrimônio e no uso dos recursos naturais, obviamente não haverá bom relacionamento social e muito haverá vantagens econômicas compatíveis para todos os envolvidos. É por isso que as questões ambientais têm que ser tratadas com visão sustentável e generalizada, considerando todos os problemas possíveis e também é por isso que o Meio Ambiente tem que ser a base principal do tripé da sustentabilidade. Se não houver recurso, não há sociedade organizada e não há lucro econômico. Em suma, tudo pode ficar insustentável e ruir se o Meio Ambiente ruir. A Educação Ambiental tem que estar concatenada com essa situação, pois do contrário não existirá Educação Ambiental de fato e assim, o problema continuará não sendo entendido e muito menos resolvido.   CONTEXTUALIZAÇÃO Considerando que existe consenso sobre o tamanho do problema que é a necessidade de construir um efetivo trabalho de Educação Ambiental, agora vem o que acabaria sendo mais simples, isto é, trazer à realidade daquilo que se quer demonstrar para uma condição tangível e verdadeira para os aprendizes. A contextualização deveria ser a parte mais fácil, desde que as demais condições estejam estabelecidas a contento. Quer dizer, depois que se tem a verdadeira dimensão do local, das suas possibilidades, das suas necessidades e das suas aplicações e ainda depois que se sabe exatamente aquilo que se quer dispor ou degradar para adquirir lucro com os recursos daquele lugar, aí é que a gente deveria contextualizar as diferentes situações possíveis. O problema é que historicamente os processos foram atropelados e as coisas quase nunca aconteceram dentro dos princípios que se tentou demonstrar aqui nesse ensaio como sendo os mecanismos corretos de ação, de ocupação e principalmente de uso dos recursos oriundos do patrimônio natural. Infelizmente os ambientes foram usurpados, ocupados e explorados indevidamente sem nenhum critério e sem nenhuma parcimônia. Mas, por outro lado, Educação Ambiental exige que os acontecimentos se deem dentro de padrões que priorizem a utilização e manutenção do patrimônio natural dentro de preceitos claros. O patrimônio natural só pode ser transformado em recurso natural dentro de critérios muito bem estabelecidos, para que o não haja dana significativo ao patrimônio e que seja garantida a sustentabilidade do Meio Ambiente e a continuidade dos recursos e da comunidade. Ou seja, que seja garantida a manutenção daquele mecanismo que gera o uso do patrimônio como recurso, ao longo das gerações, produzindo condições sociais e econômicas, mas sem o comprometimento integral daquilo que se fez recurso e também sem que haja uma degradação do local onde se explora a atividade. A degradação não é só do recurso, mas é do ambiente como um todo. Na verdade, quando se explora algo, se compromete todo o local (ambiente) onde esse algo se encontra. A Educação Ambiental tem que estar atenta a esse detalhe e tem que ser capaz de demonstrar que isso é um fato e também deve tentar transformar esse fato numa forma menos degradante possível, por isso há que procurar as, já citadas, alternativas locais para a resolução dos problemas. Os materiais explorados devem mesmo ser explorados? Essa é uma questão que muitos jamais aceitarão que a resposta possa ser não. Entretanto, cabe a Educação Ambiental permitir a interpretação real dessa possibilidade e produzir mecanismos que façam os envolvidos entenderem essa necessidade ambiental, porque esse é o contexto real que se estar vivendo. Aqui se chegou numa condição de verdadeira contextualização que desagrada e aí como se resolve o problema? Como eu disse no início contextualizar é fácil, o que é difícil é aceitar aquilo que a contextualização pode pedir para que se faça. Muitas vezes a Educação Ambiental deixa de ser interessante e assim, sempre é possível se dar um “jeitinho” para agradar a quem quer que seja e o patrimônio ambiental que se lasque. A sustentabilidade que se exploda, pois o ambiente não vai ser protegido, a sociedade não vai deixar de fazer o que sempre fez e a economia não pode parar de crescer. É aquele velho sonho absurdo do crescimento ilimitado num planeta limitado. Isso é impossível e a Educação Ambiental tem que demonstrar esse fato a todos os envolvidos pelas diferentes situações! É preciso entender que não há como manter crescimento eterno e a sociedade e a economia precisam estar prontas para isso, porque o Meio Ambiente já está ciente de que não dá mais. A Educação Ambiental precisa informar e caracterizar isso. A Terra está gritando por socorro das ações humanas e a Educação Ambiental tem que demonstrar essa verdade. A pergunta que fica é a seguinte: será que vai se querer mesmo contextualizar a Educação Ambiental?   REGIONALIZAÇÃO Ainda que já tenha sido dito, que não se pode partir de situações específicas para fazer Educação Ambiental, é preciso que se concorde que há necessidade de algum ponto de partida para que a prática da Educação Ambiental possa se estabelecer. Por outro lado, como também já foi dito, é fundamental que aquilo que se trabalha tenha a ver com a realidade próxima e nada é mais próximo do que aquilo que acontece localmente. Desta maneira, se existir algum aspecto que seja local e que, por contingência geopolítica ou mesmo situacional também seja regional, esse aspecto deve ser priorizado e considerado como possuidor de uma forte capacidade de interesse comunitário e consequentemente de grande contextualização. Aqui na região existem vários aspectos que podem se enquadrar nessa condição de local, com interesse regional e facilmente contextualizado para a Educação Ambiental. O principal desses aspectos certamente é o Rio Paraíba do Sul, que empresta o nome e atravessa toda a região e, por isso mesmo, acaba sendo o elo comum a todos e um fator preponderante à região como um todo. O Rio Paraíba do Sul e toda a sua Bacia Hidrográfica, certamente têm mais detalhes regionais em comum do que contrastantes, embora esses também existam. Assim, talvez as questões hídricas possam e devam ser o ponto de partida para um estudo ou mesmo para um programa básico de Educação Ambiental regional. Vejam bem, não vai aqui qualquer referência sobre esse ou aquele pedaço do rio, mas sim sobre a sua importância que é comum a todos, porque suas águas é que atendem direta ou indiretamente às necessidades regionais. O Rio Paraíba do Sul integra e qualifica interesses regionais e assim se apresenta como uma das características mais importantes no interesse de toda a coletividade da região. Ele está em todas as comunidades e mais, todas as comunidades dependem direta ou indiretamente dele. O Rio Paraíba do Sul é, por assim dizer, um ícone capaz de definir aspectos locais e regionais, além de ser forte indicador de como proceder para garantir a qualidade ambiental regional. Quer dizer, o Rio Paraíba do Sul é sim um excelente parâmetro para servir de base a qualquer projeto de Educação Ambiental na região do Vale do Paraíba, haja vista que de uma forma ou de outra, ele interessa e participa na vida de todas as comunidades locais, que compõem a população da região como um todo. Outros dois bons aspectos para definir padrões peculiares e desenvolver programas e projetos de Educação Ambiental na região são a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, que abrigam formas vivas de grande biodiversidade, riquezas geomorfológicas e belezas cênicas incomparáveis. Ambas acompanham e margeiam de cima, lá do alto, o Rio Paraíba do Sul e toda a região. Assim, essas serras, de alguma forma, também estão associadas direta ou indiretamente a quase todos os municípios, porque derramam seus nutrientes diretamente em alguns deles. Suas realidades geomorfológicas também são bem parecidas e ambas guardam peculiaridades históricas bastante semelhantes. Ou seja, ambas as serras são fatores comuns de interesse regional, mas que também apresentam importância local em grande parte dos municípios da região. Enfim, além desses, existem vários outros aspectos que depois de muito bem trabalhados, podem servir de ponto de origem para demonstrar o que deve ser feito com a região do Vale do Paraíba e em cada um dos seus municípios, usando, preservando e também mantendo as condições básicas e fundamentais da região como um todo. Qualquer programa ou projeto de Educação Ambiental a ser desenvolvido e implantado no Vale do Paraíba tem que partir desses tipos generalizados de aspectos ou, pelo menos, de um pressuposto integrador que reúna todas as características que aglutinam a região como uma unidade, apesar das individualidades específicas e das diferenças notórias.   CONCLUSÃO Pois então, a situação de fazer Educação Ambiental não é tão simples quanto aparentemente se gostaria que fosse, porque na verdade existe uma grande montanha de questões que se contrapõem à Educação Ambiental. Até aqui o que tem sido feito, como foi dito no início é apenas “perfumaria”, os problemas são muito mais profundos e suas possíveis soluções são muito mais drásticas e conturbadoras do que alguns pensam. Tratar de Educação Ambiental com seriedade vai envolver uma gama muito maior de argumentos e de dispositivos que possam justificar as ações e além disso, vai necessitar de muita vontade política de quem administra e de quem acredita “ser dono” de alguns produtos naturais. O patrimônio natural é do planeta e não do homem e o planeta deve ser a prioridade máxima na questão da Educação Ambiental, mas não se pode ter dois pesos e duas medidas na hora de decidir sobre como proceder. O Meio Ambiente SEMPRE deve estar em primeiro lugar, porque somente o que for bom para o ambiente poderá ser bom para toda a sociedade e poderá trazer avanços econômicos reais até um determinado limite, o qual também SEMPRE será imposto pelo próprio Meio Ambiente. A Educação Ambiental de verdade deverá contemplar claramente o que está aqui proposto, porque do contrário ela será mera falácia sobre o Meio Ambiente, sem nenhuma vinculação efetiva com a realidade que precisa existir. O ser humano é a espécie mais dependente do planeta e do patrimônio natural, mas usurpou a Terra sem nenhum cuidado e agora está na hora de se preparar para tratar o planeta como ele merece, porque começou a entender o óbvio. Somente uma Educação Ambiental coerente e verdadeira, sem falsas alternativas, poderá mudar o comportamento humano e conduzir a humanidade um pouco mais à frente. Do contrário a espécie humana está fadada a extinção prematura. Somente uma vivência com implicação direta na sustentabilidade poderá conduzir a humanidade para um futuro um pouco mais longínquo. A Educação Ambiental regionalizada é exatamente o caminho metodológico que poderá permitir que isso aconteça dentro de padrões convincentes e esclarecedores, porque esta é a única maneira objetiva de envolver toda a comunidade na questão ambiental e assim fazer com que haja um efetivo interesse na resolução dos problemas ambientais, locais, regionais, estaduais, nacionais, internacionais e globais.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (61) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

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30 jan 2018

Discurso aos Formandos de Licenciatura Plena em Biologia do Centro Universitário UNIFATEA/2017

Resumo: Discurso proferido, como Paraninfo da Turma de Formandos do Curso de Licenciatura Plena em Biologia (2017) do Centro Universitário Teresa D´Ávila – UNIFATEA, em 24/01/2018, Lorena/SP.


Discurso aos Formandos de Licenciatura Plena em Biologia do Centro Universitário UNIFATEA/2017

Senhor Reitor, Professores e Professoras, Pais e Amigos dos Formandos, Senhoras e Senhores, Meus caros ex-alunos e colegas de profissão, Boa Noite. Meus queridos formandos, não sei se vocês estão lembrados, mas no primeiro dia de aula eu disse para vocês: “doravante vocês são meus colegas de profissão, eu vou fazer a minha parte tentando passar um pouco do que aprendi sobre a Biologia, mas espero que vocês façam sua parte também. Para mim, todos aqui já estão aprovados e eu não gostaria que se preocupassem muito com notas, mas sim que se dispusessem a estudar e aprender”. Pois então, como eu disse, eis que minha previsão estava certa e vocês estudaram, procuraram aprender e hoje estão confirmando o que eu já sabia, desde o primeiro dia em que vi vocês. Posso dizer, sem medo, que certamente vocês constituem uma das melhores turmas que já passaram nesses 15 anos do Curso de Biologia do UNIFATEA.  Muito obrigado por terem me permitido fazer parte dessa bela história que vocês estão escrevendo. Por outro lado, eu também disse para vocês que: “eu sou muito bom naquilo que faço e desafio a quem quiser mostrar o contrário e gostaria que vocês também fossem assim”. Certamente vocês se assustaram com a minha audácia e pretensão. Alguns até disseram para si mesmo: “qual é a desse “velho metidão?” Porém, mais uma vez, parece que eu estava certo, porque se hoje vocês me colocaram na condição de Paraninfo da turma é porque concordaram com aquela afirmativa. Obviamente, que eu fico feliz e envaidecido, porque depois de 62 anos de idade, 42 anos de magistério e quase 40 anos formando Biólogos, ainda sou capaz de ser lembrado e homenageado pelos meus alunos. Muito obrigado mesmo e podem ter certeza que é exatamente isso que me dá força e anima a continuar falando da nossa Biologia. Bem, mas vamos ao que interessa, isto é, a mensagem do Padrinho aos Afilhados. Diz a lenda que o Padrinho é o segundo Pai e que na falta do Pai, o Padrinho assume a responsabilidade de seu afilhado. Sendo assim, quero desde já reafirmar o meu compromisso e no que tange à Biologia e à Educação, podem continuar contando comigo, enquanto eu ainda estiver por aqui, vivendo nesse planeta, o único que parece abrigar essa coisa maravilhosa denominada vida e que hoje está poluído, degradado e esquecido, graças às ações de indivíduos de nossa espécie.  Pois então, vou conduzir minha fala exatamente nesse tema da degradação ambiental planetária pelo Homo sapiens e da grande possibilidade de que brevemente desapareçamos da superfície terrestre, por conta exclusiva de nosso egoísmo e de nossa pretensa superioridade sobre as demais formas vivas. Enganados e pretensamente apoiados por Deus, por conta de uma leitura errada e mal entendida do livro do Gênesis, os seres humanos resolveram se assumir como “Herdeiros de Deus” e “Donos do Planeta”. Nos apropriamos da Terra de forma tal, que não medimos as consequências dos nossos atos. Particularmente, nos últimos 100 anos, reproduzimos e crescemos a população humana de maneira tão absurda, que mesmo com duas grandes guerras e outros flagelos significativos, dos pouco mais de 2 bilhões que haviam nos idos de 1930, hoje já passamos dos 7,5 bilhões de seres humanos e precisamos de espaço para ocupar, de casas para morar, de água para beber, de ar para respirar, de alimentos para comer, de roupas para vestir e de inúmeras outras coisas que a Terra nos fornece gratuitamente. É bem verdade que, apesar de tudo o que fazemos de errado, temos vivido mais tempo, porém às custas daqueles que ainda não nasceram e que talvez nem consigam nascer, porque talvez esgotemos tudo antes de suas vindas e nem tenhamos muito tempo para produzir novos seres humanos para o futuro. Nunca nos preocupamos coletivamente com a espécie, só nos preocupamos individualmente, como se fôssemos seres absolutos. Nossos maiores problemas são o “Rei Dinheiro” e o “Imperador Consumo”, que nos iludem e nos levam rapidamente ao caos, esgotando os recursos naturais. Esquecemos do “Ser” e só pensamos no “Ter”. É preciso lembrar que antes de ter precisamos ser e que só seremos realmente, enquanto o planeta, nosso verdadeiro e único eldorado, nos permitir, porque tudo que utilizamos é o planeta quem nos fornece. Entretanto, a maioria dos humanos não está nem aí com as coisas de natureza, nem com a diversidade planetária. O que a história geológica e toda a evolução levou de 5 bilhões de anos para produzir, nós destruímos em poucas séculos, particularmente no último, e nem demos uma parada para descansar e olhar para trás. Na verdade, somos um grande foguete à busca do “armageddon” que infelizmente deverá levar nossa espécie ao apocalipse final, ao extermínio e a extinção. Em suma, estamos acabando com todo o patrimônio natural, utilizando os recursos de maneira insana e inconsequente. Ocupamos os espaços a nosso bel prazer sem considerar o equilíbrio e a manutenção dos ecossistemas naturais. Passamos toda a nossa história humana produzindo resíduos de todo tipo e nunca nos preocupamos efetivamente em entender o grande mal que isso causa ao planeta, à todas espécies vivas e principalmente à nossa própria espécie, que é a mais dependente de todas. Victor Hugo, famoso poeta francês, que viveu entre 1802 e 1885 já dizia: “é triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”. Pois então, tem gente, assim como Victor Hugo, preocupada com a situação planetária faz mais de 200 anos, mas os governantes historicamente pertencem ao grupo daqueles que não ouvem a natureza e assim nada fazem para minorar essa situação caótica. Bem, meus amigos, essa é uma formatura de Biólogos, de Licenciados em Biologia e eu também sou Biólogo e Licenciado em Biologia e nós homens da Biologia, melhor que ninguém, sabemos que a humanidade tem caminhado de maneira errada e acreditamos que ainda é possível mudar o rumo, minorar a situação e progressivamente caminhar na linha contrária de tudo que temos visto e feito até aqui. A tecnologia que nos levou ao caos, há de ser a mesma tecnologia que nos levará ao “éden” novamente e que garantirá a vida, além da vinda efetiva e da sobrevivência dos futuros seres humanos. Nós, biólogos do mundo inteiro, temos uma obrigação com o planeta e com a humanidade, porque nós somos os mensageiros da “boa nova”, que permitirá a continuidade da espécie humana na Terra. Infelizmente, temos que estar sempre mostrando o lado ruim, para que as pessoas entendam, mas também temos que apresentar os caminhos que permitirão as devidas soluções. Poucos seres humanos e pouquíssimos profissionais tem a dimensão real da vida como nós temos. Nós sabemos que a Terra é uma grande aeronave e que todos que nela estão são apenas passageiros. Precisamos continuar a nossa viagem evolutiva nesse planeta fabuloso, junto com outras espécies vivas. Aqui no Brasil, nossa responsabilidade é maior ainda, porque apesar de sermos o país possuidor da maior biodiversidade planetária, suportamos os piores administradores públicos do planeta. Um bando de políticos embusteiros e incompetentes que não visualizam, nem de longe, a importância e o significado do Brasil ser um país de megabiodiversidade. Além disso, adicione-se o fato desses sujeitos serem corruptos contumazes e insaciáveis que só se preocupam consigo mesmo, com suas contas bancárias e que se aproveitam do patrimônio natural brasileiro, apenas para aumentar suas riquezas pessoais. Mas, deixemos essa discussão para outro momento. Nós Biólogos sabemos que a Evolução é uma imensa viagem e também sabemos que nossa espécie ainda está muito jovem para chegar ao fim de sua linha evolutiva. A nossa extinção não pode e nem deve continuar sendo antecipada nesse um suicídio coletivo que a humanidade está cometendo e o tempo, cada vez mais curto, segue na direção contrária aos interesses da continuidade de nossa espécie. Nós, os amantes da Biologia, não podemos desistir e temos que lutar firmemente para mudar esse quadro. Para tanto, necessitamos de vontade efetiva, de uma fé imensa, de muito conhecimento e de bastante esperança. Pois então, além de Biologia, foi exatamente isso que procurei colocar na cabeça de vocês, ao longo desse quatro anos de convivência efetiva: “nós Biólogos, temos um compromisso com a vida e com o planeta e não podemos desistir dele”. Meus amigos, colegas de profissão, tenham fé na humanidade, trabalhem para que ela continue existindo e desenvolvam todo o conhecimento possível para demonstrar que tudo pode ser diferente e melhor. É bom lembrar que o impossível não existe, que a esperança é a última que morre e, principalmente, que enquanto há vida há esperança e nós ainda estamos vivos. Desta maneira, enquanto houver vida humana e esperança, tudo sempre será possível. Eu já estou naquela fase em que a gente tem menos tempo para viver do que já viveu e por isso mesmo brevemente não estarei mais aqui na Terra, pelo menos nessa forma humana, mas tenho vontade que a humanidade prossiga e acredito piamente no desenvolvimento científico e na ampliação do conhecimento humano para o bem maior da humanidade. Espero sinceramente que os netos, bisnetos, tataranetos e toda a linhagem evolutiva daqueles que herdarão a Terra, constituam uma plêiade de seres humanos renovados e preocupados com a planeta e com a continuidade de nossa espécie na Terra. Doravante, na condição de Biólogos e Professores de Biologia, cada uma de vocês tem uma missão que vai além da vida de todos nós e de muitas gerações à frente. Biólogos, façam o dever de casa e trabalhem duro para cuidar do planeta para garantir o bem de nossa espécie. Conto com vocês e espero ter feito a minha parte, como exemplo vivo, daquilo que acredito. Vocês me fizeram de espelho ao me escolher Paraninfo, então acreditem como eu e, por favor, façam as suas respectivas partes, porque Deus e a própria humanidade certamente um dia agradecerão a todos aqueles que não mediram esforços para manter a vida no planeta, em particular a vida humana. Abraços a todos e sejam felizes. Lorena, 24 de janeiro de 2018

Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima

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