Resumo: Neste artigo o autor fala de suas experiências e procura atentar para o fato de que a atividade do Biólogo deve ser continua, perene, independente de sua condição trabalhista e ainda tenta demonstrar que é possível e continuar prestando um trabalho voluntário e útil como Biólogo, mesmo depois de aposentado. Atualmente, com tantas questões biológicas em evidência, talvez o Biólogo seja um dos profissionais mais necessários nos diferentes setores da sociedade.
Depois de trabalhar profissionalmente por mais de 40 anos como Biólogo (Zoólogo) e Professor de Biologia, no final do ano passado, precisamente no dia 18 de dezembro, efetivamente me aposentei. Assim, passei todo este ano de 2021, pela primeira vez depois de formado, efetivamente afastado das minhas funções profissionais como Biólogo. Minha formatura aconteceu em 18 dezembro de 1978, portanto exerci profissionalmente minha profissão de 1979 a 2020, ou seja, por exatos 42 anos. Nesse dia 03 de setembro (Dia do Biólogo) a profissão também está completando, curiosa e coincidentemente, 42 anos de regulamentação no Brasil. Quer dizer, embora tenha 43 anos de formado, como parei no ano passado, tenho exatamente o mesmo tempo de trabalho profissional que a profissão tem de regulamentação.
Pois então, meus amigos e colegas de profissão, depois de trabalhar por 42 anos, de publicar 15 livros, mais de mil de artigos, proferir centenas de palestras, ajudar a formar milhares e orientar dezenas de alunos, estou passando meu primeiro ano distante da Biologia como profissão. Se, por um lado tenho sentido muitas saudades daquela vida cotidiana intensa, mormente do contato com os meus alunos, por outro lado, penso que nesse momento, tenho produzido muito mais para a sociedade, como voluntário, do que quando estava na ativa.
Aliás, semana passada, no dia 28 de agosto, foi comemorado o “dia nacional do voluntariado” e eu, que sempre atuei como voluntário, colaborando com várias Organizações Governamentais e Não Governamentais em grande parte do meu tempo útil, agora estou exercendo todas as minhas atividades voluntariamente. Meus amigos, ainda que alguns duvidem, a coisa mais importante que nós temos é o nosso tempo e se fizermos bom uso dele, no interesse social, certamente caminharemos na direção de dias melhores para a humanidade.
Aprendi sobre o voluntarismo com meus pais. Meu pai se distraia brincando com madeira e construía móveis simples (mesas, cadeiras, bancos, casinhas para cachorros), que distribuía para população mais carente graciosamente. Minha mãe, além de ser rezadeira da criançada do bairro onde ela nasceu e viveu por mais de 80 anos e onde eu cresci, também colaborava com inúmeras atividades com as entidades assistenciais e os mais necessitados. Com esses exemplos, desde menino, sempre me envolvi em atividades comunitárias voluntárias e ao longo de minha vida nunca abandonei o voluntarismo.
Pois então, fui Professor voluntário em várias escolas e instituições, ministrei cursos e palestras graciosamente, atuei como Membro de inúmeros Colegiados Públicos e colaborei com muitas ONGs e entidades assistenciais. Atualmente tenho faço parte de duas entidades principais, onde exerço atividades totalmente voluntárias. A primeira, onde atuo desde novembro de 1991, ou seja, há 30 anos, é Rotary, uma organização civil humanitária International, que há 116 anos presta serviços atuando nas mais diversas atividades e tenta minimizar as mazelas pelo mundo afora. Atuei no Rotary Club de Caçapava-Jequitibá, desde a sua fundação em 1991 até 2014, mas a partir de janeiro de 2015 me transferi para o Rotary Club de São José dos Campos – Urupema.
A segunda entidade em que atuo voluntariamente é o Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, onde também colaboro desde a sua fundação em 1994, mas onde passei a participar mais ativamente a partir de 1999. Portanto, estou no comitê há mais de 26 anos. Enfim, me afastei da Biologia como exercício profissional, mas continuo na Biologia como atividade voluntária principal, haja vista que continuo atuando primariamente como Biólogo e Professor, ensinando, orientando e pesquisando dentro da instituições que acabo de citar.
Desde 2015, que minha atividade no Comitê da Bacia é consequência de minha vivência rotária, porque eu sou exatamente o representante do Rotary Club em sou associado no Comitê deBacia e em ambas as entidades, hoje, o que eu continuo, efetivamente, fazendo são atividades biológicas. Isto é, mesmo aposentado profissionalmente, continuo com minhas ações atividades voluntárias e sigo trabalhando com questões referentes à Biologia.
No Comitê da Bacia estou envolvido com as questões relacionadas aos recursos hídricos e os organismos de ambientes límnicos (água “doce”), algo que sempre fiz profissionalmente, ainda que nos primórdios da minha carreira a água do mar e a Biologia Marinha fossem os meus interesses prioritários. Para quem não sabe, nos primeiros anos de meu exercício profissional, eu trabalhei especificamente com Moluscos marinhos do Sudeste brasileiro e fauna acompanhante desses animais.
No Rotary, além da água, mais especificamente, eu faço parte da Comissão de Meio Ambiente do Distrito 4.571 de Rotary International. Nos últimos dois anos assumi a Coordenação dessa Comissão e tenho tentado interferir positivamente em algumas coisas na área geográfica do Distrito, que envolve toda a Região Metropolitana do Vale do Paraíba Paulista e Litoral Norte do Estado de São Paulo e todo o Estado do Rio de Janeiro. Deste modo, mesmo como rotariano voluntário, o que não me faltam são questões e problemas ambientais para estudar, discutir, informar, ensinar, sugerir ações e dentro do possível, interferir.
Tenho participado e opinado em muitas palestras, seminários e encontros virtuais e reais sobre os mais diversos assuntos na área ambiental, aqui na região, no estado, no país e no mundo. Tenho proferido palestras, ministrado cursos, produzido artigos e orientado pessoas, organizações governamentais e não governamentais, além de clubes rotários, sobre vários assuntos de interesse ambiental relacionados com a área geográfica do Distrito 4.571. Enfim, estou aposentado, mais continuo na ativa (em grande atividade) e minha mente continua pensando na Biologia e nos
organismos vivos prioritariamente.
Entretanto, tenho que admitir uma questão ainda complicada, que é a existência de uma imensa lacuna. Sinto uma enorme falta da convivência com os meus alunos, como já foi dito, e das atividades escolares na sala e no campo. Afinal, depois de 45 anos ininterruptos do exercício do magistério da Biologia Animal, a vida longe das escolas, dos colegas de trabalho e principalmente dos alunos, tem sido bastante difícil de me acostumar. Porém, até mesmo nessa situação diferente e nessa condição distante, tenho me esforçado muito e continuo atuando com a Educação e com a
Biologia, porque quase sempre, algum colega ou ex-aluno me liga fazendo uma pergunta, pedindo uma orientação ou opinião sobre determinada situação, ou ainda solicitando a identificação de um animal.
Enfim, apesar da mágoa e da saudade, continuo me sentindo bastante útil, mesmo estando sem vínculo empregatício profissional e direto. Ou seja, as únicas coisas que mudaram é que, como aposentado, hoje eu não tenho um salário definido mensalmente para receber no fim do mês, por conta do meu exercício profissional e claro, eu também não sou obrigado a ter que aguentar alguns incompetentes, invejosos, vigaristas e descarados de plantão me “enchendo o saco” com suas artimanhas, embustices e baboseiras.
Meus amigos, para terminar, quero desejar os parabéns para todos vocês que sabem a responsabilidade que têm e que seguem na carreira com afinco, seriedade e competência. Torço muito para que todos se deem bem e para que nossa profissão continue crescendo no país e que, deste modo, nosso trabalho profissional continue ampliando o seu significado humanitário e seu valor científico e socioambiental.
Quanto a mim, creio que apesar de todas as dificuldades que enfrentei, por questões alheias à Biologia, quero salientar que não houve interferência séria na minha pessoa e nem no exemplo que procurei ser, como Biólogo e Professor. Eu continuo sendo o mesmo sujeito, que incomoda, porque trabalha duro e gosta do que é certo. Hoje posso afirmar que, na minha carreira, consegui aquilo que costuma ser o mais difícil para qualquer profissional. Eu consegui, mesmo contra a vontade de muitos picaretas, um grande respeito dos meus colegas de profissão e mais particularmente dos meus alunos, que são aqueles que sempre dependeram diretamente de meu trabalho como Biólogo e Professor.
Ao longo de minha carreira, conheci muita gente boa, fiz alguns amigos e muitos colegas, formei e orientei inúmeros alunos. Grande parte dessa gente que me conheceu e conviveu pessoal ou profissionalmente comigo, ao que parece continua, apenas por escolha, mesmo sem precisar, acreditando em mim e no meu trabalho até agora, depois de minha aposentadoria. Minha opinião e minhas ideias ainda pesam e têm significados importantes para muitos colegas de profissão e isso me vangloria bastante. Mas, sobretudo, esse fato me enche de vontade de continuar estudando e aprendendo cada vez mais, para poder seguir ajudando as pessoas a atuarem e principalmente a refletirem sobre nossa profissão e nossa condição profissional.
Àqueles que se preocupam, quero dizer ainda que não estou doente, ao contrário, fisicamente acredito que nunca estive tão bem. Estou mais vivo do que nunca. Mas, também não sei quanto tempo ainda me resta de vida, ainda mais com essa pandemia absurda que assusta a todos e parece não acabar nunca. Entretanto, se precisarem de mim, fiquem à vontade, porque eu ainda posso e quero auxiliar, principalmente no que tange à Biologia Animal e a Ecologia. Por outro lado, tenho absoluta certeza de que isso também é importante para continuar me mantendo vivo.
Meus amigos, neste dia 03 de setembro, espero que todos possam refletir sobre as perspectivas do país, de nossa data profissional e do futuro de nossa profissão. Lembrem-se que, como disse Maximiliano Wouters: “o trabalho enobrece o homem e o faz merecedor da própria dignidade”. Reflitam também sobre o conteúdo deste meu artigo e das declarações nele contidas. Trabalhem sério, mas principalmente, dividam parte de seu precioso tempo com a comunidade, para que lá na frente, depois que também estiverem aposentados, vocês possam chegar as mesmas
conclusões que eu cheguei e assim, dizer abertamente: “valeu e ainda está valendo à pena”. Quer dizer, eu faria tudo outra vez e da mesma forma.
Por conta disso é que eu quero continuar a minha atividade profissional como Biólogo, estudando, pesquisando, escrevendo e produzindo, mesmo estando na inatividade funcional. Eu continuo sendo um voluntário a serviço da Biologia, da Educação e da Humanidade. Assim, se precisarem do “Tio Luiz” é só ligar, mandar um recado no “WhatsApp” ou no “Facebook”, que, enquanto Deus permitir, estarei sempre interessado e disponível para colaborar. Abraços a todos e feliz dia do Biólogo.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.