Tag: Desenvolvimento Sustentável

19 maio 2019
Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária

Resumo: O texto faz referências aos problemas ambientais planetários e propõe que as atividades desenvolvidas através de práticas sustentáveis e o efetivo investimento na educação ambiental das populações humanas sejam a base das mudanças que poderão proporcionar a recuperação da Terra a melhoria da qualidade de vida da humanidade.


INTROITO

“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de    sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Goethe

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt

Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.

Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.

INTRODUÇÃO

Para que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente descontrolada.

Historicamente a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para espécie humana.

É triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim.  Em suma, é preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.

Essas são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. É preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.

Considerando que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as mudanças necessárias. Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.

Não se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental como referências no comportamento humano.  

Não tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém sem praticamente nenhum resultado significativo.

Na verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado planetário.

Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa façanha.

Infelizmente, por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. Aliás, na verdade, contra um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?

Essa é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes.  Por outro lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o planeta.

VIDA E QUALIDADE DE VIDA

Vários autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma definição precisa. Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do universo.

A vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das atividades humanas.

Da mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi programada pelos processos naturais.

Assim, o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. Essa condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.

Vejam bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa. Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos. 

Alguns humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade. Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.

Hoje, existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não apenas humana.

CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO

Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.

Por outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas.

Também não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a espécie humana.

Se não houver controle populacional humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.

Outro problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.

Desta maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.

Pois é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!

A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO

Todas as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir sobre isso agora.

Como já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.

Isto é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material. Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso naturais.

Não fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.

A propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.

Fazer riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria das compras, além de mera ostentação.

Lamento, mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa direção.  

O mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da humanidade.

SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA

O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. O compromisso fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com o planeta.

A distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.

A Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.

Nós humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los. Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.

No mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na superfície da Terra.

EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)

Obviamente para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação ambiental, então que assim seja. Mas, eu tenho uma preocupação mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.

Temos que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia.

Atitudes antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos evolutivamente de outras espécies vivas.

A Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.

A chamada educação ambiental será também a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. A noção de Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.

A educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.

CONCLUSÕES

Por fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às diferentes populações humanas.

Esses mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições sociais.

A prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.

A educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana.     

O dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a humanidade.

É claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e justa.

É claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos.

Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)


*Artigo publicado no site http://www.ecodebate.com.br, Edição 3.142, 05 de fevereiro de 2019.*e Ambientalista (Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA).
30 out 2016

Os Novos Administradores Públicos e as Cidades Sustentáveis

Resumo: O artigo atual, diz respeito a importância premente de que os novos administrados públicos eleitos sejam capazes de entender e de efetivamente querer o desenvolvimento sustentável de suas respectivas cidades. Chamo a atenção para o comportamento observado por grande parte dos eleitores nas últimas eleições, quanto a questionável qualidade dos políticos brasileiros e da necessidade urgente de novos artifícios para os políticos do futuro e sugiro que o caminho seja trabalhar progressivamente para que as cidades possam se transformar em cidades sustentáveis.


Os Novos Administradores Públicos e as Cidades Sustentáveis

Para começar, devo dizer que é impossível pensar em cidades sustentáveis, sem pensar em administradores públicos capazes e competentes. Infelizmente, nesse sentido, nossa região e grande parte do Brasil, ainda têm muito que aprender, pois a maioria dos municípios continua elegendo os seus representantes e líderes políticos e administrativos por conta de interesses outros que não sejam a própria administração pública. Mas, de qualquer maneira temos, obviamente melhorado muito. Nesse último pleito eleitoral, algumas de nossas cidades tiveram efetivamente um ganho bastante significativo, deixando de lado velhos políticos que pouco ou nada fizeram por elas, nem pela região onde estão inseridas e elegeram pessoas diferentes e aparentemente imbuídas do firme propósito de desenvolver e progredir.

O Vale do Paraíba é sem nenhuma dúvida uma das regiões mais desenvolvidas do país, além de ser um grande marco na história da ocupação e do desenvolvimento do Brasil. Hoje constituímos aqui uma região metropolitana, a RM Vale, numa área superior a 16 milhões de Km² (quilômetros quadrados), que engloba 39 municípios e cerca de 2.5 milhões de pessoas. Alguns desses municípios são muito pequenos (pouco desenvolvidos) e ainda estão bem fora das fortes tendências urbanas regionais, guardando paisagens bucólicas e condições tipicamente rurais. Entretanto existem outros municípios que são bem maiores e particularmente aqueles que margeiam a Rodovia Presidente Dutra, estão passando por processo intenso de urbanização e até de conurbação já bastante evidente em determinadas áreas.

Esses municípios maiores tem progressivamente apresentado novos problemas, cada vez mais ligados a questões relacionadas ao crescimento populacional das cidades e das necessidades maiores que acompanham esse crescimento. Transporte Público, Saneamento e Tratamento dos Resíduos, Geração de Postos de Trabalho e Emprego, Áreas para Loteamentos, Controle e Fiscalização de Poluição, Estabelecimento de Áreas Industriais, Segurança Pública, Centros de Comércio e Serviços Profissionais, Arborização Pública e Criação de Áreas Verdes, Limpeza Urbana, além dos tradicionais Serviços de Escolas, Hospitais e mais uma série de atividades e particularidades são algumas dessas necessidades que não param de aumentar.

Pior ainda é que, para muitos, ainda é apenas isso, que traduz aquela ideia de progresso e crescimento, mas que, na verdade, não têm demonstrado nem um pouco dessas características. Aliás, cabe lembrar que ao contrário do que muitos imaginam, quanto maiores são as cidades, maiores também são as necessidades e assim as dificuldades encontradas têm sido cada vez maiores e a qualidade de vida das populações tem progressivamente piorado, porque o aumento das necessidades sempre traz, por outro lado, novas necessidades, ligadas principalmente às questões físicas e químicas e desta maneira, diretamente relacionadas com as condições ambientais.

Por conta disso, torna-se preciso pensar a cidade de maneira integrada e efetiva, como um corpo único, porém articulado que seja capaz de se adaptar aos novos tempos e as novas necessidades, além de reagir com resiliência e eficácia para conseguir se manter, ter continuidade e se desenvolver. Por outro lado, também é necessário pensar a cidade como parte de um todo maior, destacando sua significância regional. Ou seja, é bastante importante integrar a cidade nos interesses prioritários regionais a fim de que haja possibilidade real de um desenvolvimento regional pleno.

A Sustentabilidade como conceito, certamente é única maneira que pode garantir o desenvolvimento das cidades da forma que se deseja, sem comprometimento da qualidade de vida das pessoas e sem deteriorar totalmente o ambiente. Sendo assim, os novos prefeitos e vereadores recém eleitos para a próxima legislatura deveriam ser pessoas que estivessem totalmente absorvidas pelo conceito de desenvolvimento sustentável, preocupadas e imbuídas do firme propósito de garantir uma cidade justa socialmente, equilibrada ambientalmente e eficiente economicamente.

Entretanto, nós sabemos que essa não é bem a verdade da maioria dos municípios brasileiros, pois, como já foi dito, a maioria de nós ainda escolhemos políticos e administradores por outros interesses e assim muitas cidades certamente continuarão na contramão da história. Obviamente também existem aquelas que investiram em políticos e administradores sérios e que consequentemente deverão deslanchar e melhorar muito suas respectivas condições de desenvolvimento. São essas últimas cidades, que estamos pretendendo chamar aqui de cidades sustentáveis.

As cidades sustentáveis são aquelas que deverão continuar a existir, mesmo depois de todas as tormentas sociais, ambientais e econômicas que passamos e que ainda estamos passando. Os administradores públicos dessas cidades deverão ser pessoas de visão globalizada, observando as ligações entre as questões locais, regionais, nacionais e mesmo mundiais. Além disso, eles também deverão ter conhecimento das necessidades prementes. Terão que saber fazer escolhas e principalmente desenvolver a capacidade de propor soluções simples para questões complexas e crônicas que se estabeleceram no passado e que estão por aí entravando o desenvolvimento.

Os novos dirigentes dessas cidades sustentáveis têm que estar conscientes de que são pessoas que foram eleitas para administrar as cidades para todos os moradores e mais nada além disso, pois qualquer outra maneira de pensar ou de agir levará à mesmice, que hoje significa um grande retrocesso, porque o passivo é enorme e precisa ser enfrentado, minimizado e vencido. Obviamente, os dirigentes das cidades sustentáveis têm que ser políticos diferentes da grande maioria dos políticos brasileiros que até aqui conhecemos.

As cidades sustentáveis são as cidades do futuro, mas tem que ficar claro que o futuro começa hoje. Nas cidades sustentáveis o futuro, que é atual e presente, estará sendo construído continua e ininterruptamente, para garantir a vida de quem nem nasceu ainda. A sustentabilidade prega a necessidade de garantir hoje o mundo de amanhã e de sempre e as cidades sustentáveis têm que se enquadrar nessa maneira de pensar. Os gestores das cidades sustentáveis têm que ser proativos. A pilhagem, o super poder do gestor, a venda e a degradação do patrimônio, o enriquecimento ilícito, o desajuste da sociedade e a apropriação indébita do espaço e dos bens públicos não têm mais lugar na visão do administrador público de uma cidade sustentável.

Dos nossos 39 municípios, quantos dos novos prefeitos eleitos tem a devida dimensão do que é ser um prefeito de uma cidade sustentável? Efetivamente eu não sei, mas creio que seja a minoria e isso é muito ruim para toda a região valeparaibana. A RM Vale deveria estar mais preocupada com essa questão, pois não adianta alguns bons administradores no meio de outros tantos ruins, porque a região é uma só e todos sofrem com os erros. É claro que certas questões são específicas e de interesses estritamente locais, mas a grande maioria delas é regional e uma ação errada pode prejudicar vários municípios da região e muitas vezes indo até além dos limites regionais.

Tenho dúvidas quanto a eficiência administrativa de qualquer gerente de empresa (prefeito) que não conheça bem sua empresa (cidade), seus parceiros e concorrentes (municípios vizinhos), porque certamente ele será um mal administrador e sua empresa tenderá a ruir e alguns de seus parceiros e mesmo alguns concorrentes, consequentemente também sofrerão os danos de sua má administração. A administração ruim acaba prejudicando a todos no entorno.

Está na hora de pararmos de brincar e tratar a gestão pública como algo que qualquer indivíduo pode resolver, porque hoje existe necessidade de administradores públicos sérios e compromissados com o interesse público. Aqueles que vivem de falcatruas e picaretagens estão irremediavelmente fadados ao insucesso e à vida política curta. Aliás, as últimas eleições já demonstraram esse fato, quando observamos que os costumeiramente considerados corruptos foram alijados das urnas na vontade popular. O Brasil acordou, o eleitor brasileiro começou a acordar, a sustentabilidade é palavra de ordem em todas as linhas do pensamento humano e as cidades não poderão ser diferentes dessas tendências sustentáveis.

O administrador público não pode mais ser qualquer um, ao contrário, ele tem que ser alguém devidamente bem preparado para ocupar essa função. Assim, já é possível ver a luz no fim do túnel e mais, é possível estabelecer uma linha de abrangência cada vez maior dessa luz, que certamente trará novos benefícios às comunidades municipais. O clarão que se produzirá, primeiramente nas áreas urbanas, porque essas são, por questões óbvias de interesse e de problemas, as mais difíceis de serem tratadas, trará certamente benefícios a todas as áreas dos municípios e consequentemente um futuro promissor.

Embora administrar cidades seja uma tarefa bastante difícil e complicada, se ela for realizada por pessoas capazes, com a função precípua de atender ao interesse público maior, certamente poderá se tornar uma ação simples e prazerosa. O administrador público deve se preocupar em ocupar os espaços municipais de maneira transparente e objetiva, garantindo equidade social no trato com as pessoas e produzindo condições melhores de subsistência e conforto, assim certamente não haverá dúvidas sobre o sucesso dos seus respectivos administradores também nas eleições futuras. Por outro lado, aqueles administradores que ainda têm a mente na pré-história, numa falsa noção de crescimento e não tem nenhum envolvimento com as ideias relacionadas a sustentabilidade, talvez nem consigam terminar os seus respectivos mandatos.

Se já tivemos um recorde de prefeitos que não tentaram a reeleição no último pleito eleitoral, por conta deles entenderem que está muito difícil administrar os municípios. Então, podem ter certeza que daqui para frente a coisa vai ficar muito pior, pois as dificuldades serão sempre maiores e para aqueles administradores arcaicos e retrógrados, com certeza as atuais dificuldades se transformarão em impossibilidades futuras. O Brasil efetivamente está mudando e a sustentabilidade é mais uma das coisas, talvez a mais importante delas, que está aí para fazer a diferença em prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas e da qualidade ambiental dos municípios brasileiros.

Parabéns aos novos prefeitos eleitos, mas parabéns principalmente àqueles que pretendem fazer de seus municípios, em particular das áreas urbanas de seus municípios, locais de convivência e de vivência entre as pessoas, pois esses serão os verdadeiros precursores do novo Brasil, que se estabelece sob a égide de novos fundamentos na administração pública e que certamente serão benéficos a todos. As cidades sustentáveis, como disse no início, dependerão de prefeitos sustentáveis, isto é, prefeitos com visão ambiental, social e econômica abrangente e responsáveis para tratar essas questões como esferas iguais de um mesmo mecanismo. Daqui para frente, somente dirigentes com esse tipo de visão serão capazes de administrar os seus municípios e de conseguirem se manter no poder.

O mundo melhor que todos nós sonhamos, passa pela cidade melhor em que todos nós vivemos. Só conseguiremos um mundo melhor, se cada indivíduo humano tiver uma cidade melhor, uma cidade sustentável. As cidades sustentáveis não são apenas possíveis, elas são sobretudo necessárias à humanidade, pois somente elas poderão garantir a continuidade da espécie humana na Terra.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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23 nov 2014

Consumo e Costumes Errados

Resumo: Nossa abordagem está mais uma vez relacionada ao consumismo e suas consequências desagradáveis ao planeta e a nós mesmos. Dessa vez estou me atendo um pouco mais a respeito da influência nefasta da mídia sobre a opinião pública incentivando cada vez mais o consumo e, por outro lado estou chamando a atenção para as respostas catastróficas que o planeta tem dado em relação às nossas ações. Além disso, estou sugerindo uma mudança de hábitos urgentemente para garantirmos nossa continuidade aqui na Terra.


Consumo e Costumes Errados

Não sei o porquê, mas nós humanos temos naturalmente uma tendência a nos atrairmos pelo que é belo e fútil e de nos esquecermos das coisas não tão belas, mas que muitas vezes são úteis e extremamente necessárias. Nossa dificuldade em entender e discernir entre o que é necessário e o que é acessório parece ser cada vez mais incontrolável e assim a maioria de nós se acostumou a simplesmente continuar consumindo as coisas, havendo ou não necessidade. Parece que consumimos pelo simples prazer de consumir ou que assumimos um terrível vício compulsório de consumir indefinida e desesperadamente.

O homem, particularmente aqui, do lado ocidental do planeta, histórica e independentemente do país e do regime político imperante no local onde ele esteja, quase sempre consome de forma errada, ou seja, contra os seus próprios interesses econômicos e principalmente contra os interesses ecológicos planetários. Entretanto, embora tardiamente, parece que mais recentemente, alguns de nós estamos acordando para esse detalhe importante e tentando nos redimirmos dessa situação comprometedora que criamos para nós mesmos e que tem favorecido cada vez mais ao aumento da degradação ambiental e do desperdício e que consequentemente tem posto o planeta e a nossa espécie em risco cada vez maior.

Nosso hábito de consumir, por si só, já não é algo que mereça muito crédito, porque quase sempre consumimos de maneira errada. Além disso, quando se trata de consumir exageradamente e esbanjar recursos naturais sem nenhum critério, o consumo passa a ser uma ação drástica e temerária aos interesses planetários. Na maior parte do mundo ocidental, o capitalismo incentivou tanto o consumismo, que ficamos reféns da necessidade do consumo para continuarmos a manter os empregos e a suficiência econômica.

Temos visto de tudo ó que é possível para o incentivo ao consumo. A Propaganda e o “Marketing” nos ludibriam e entram nas nossas casas nos impelindo a consumir. As crianças têm sido os alvos principais para convencer os mais resistentes ao consumo exacerbado e assim quase ninguém resiste. Infelizmente ainda não temos uma legislação específica que possa coibir esse crime contra a sociedade, mas isso precisa existir brevemente.

É bem verdade que o homem como qualquer espécie planetária precisa de alimentos e de território. Além disso, nós humanos, também precisamos mais especificamente comer, beber, morar, descansar, construir e vestir. Entretanto, não precisamos comer a comida mais cara todos os dias, beber as bebidas mais sofisticadas todos os dias e muito menos comprar roupas novas todos os dias ou ter duas ou mais casas para morar. Mas, é assim que a maioria de nós age, não se satisfazendo com o que tem e querendo sempre ter mais, independentemente de sua necessidade individual, ou mesmo familiar. Assim, o consumo não para. O planeta, as demais espécies vivas e os futuros humanos (aqueles que ainda não nasceram) que se danem para suportar a nossa pressão exploratória e o impacto ambiental progressivo e insano que temos causado a todos.

Estamos viciados em consumir recursos naturais, independentemente de avaliarmos a verdadeira necessidade de quaisquer que sejam esses recursos. Hoje já acabamos com alguns recursos naturais não renováveis, já estamos quase ultrapassando o limite de 50% daquilo que é possível ao planeta regenerar naturalmente, ou seja, os recursos renováveis, e estamos prestes a não conseguir os níveis mínimos de suprimento alimentar e de água potável que precisamos para sobreviver, pelas mais diversas situações.

Agora o planeta também já está cansado e não aguenta mais a nossa pressão exploratória e a nossa apropriação indevida. Alguns alimentos já começam a faltar, a água está ruim e está até mesmo escassa ou ausente em várias regiões. Muitas matérias primas já desapareceram totalmente e outras estão com os dias contados.

Como vamos fazer? Continuaremos comprando bolsas, tênis, sapatos e vestidos, mas morreremos de fome e sede? Continuaremos comprando vinhos e cervejas, mas morreremos de sede? Continuaremos comprando casas e carros, mas não teremos onde morar?

A situação está efetivamente muito complicada. Temos tudo por um lado e não temos nada por outro. O “rei consumo” e o “príncipe dinheiro” não nos permitem resolver as questões mais fundamentais para continuarmos a nossa existência, exatamente porque consumimos mais do que podíamos e muito acima do que devíamos.  Agora nosso caminho, que sempre seguiu na contramão dos interesses planetários, segue também na contramão de nossos próprios interesses como espécie viva. Não sabemos mais se conseguiremos resistir às pressões que nós mesmos impusemos ao planeta e a nós mesmos longo da história. Até porque o planeta também já vem reclamando e, de várias formas, ele está nos dizendo: “parem que eu não aguento mais”.

Diz o ditado que: “o futuro a Deus pertence”. Será que é isso mesmo ou será que nós mesmos deveríamos ser os protagonistas de nosso futuro. Deus talvez nem saiba ao certo sobre todos os males que temos causado ao nosso “planetinha azul”. De qualquer maneira, o futuro está aí batendo à nossa porta e nós estamos com medo de abri-la, porque não sabemos mais o que vai acontecer, pois perdemos o norte e não temos mais controle sobre a maioria das coisas. O aquecimento global é um fato que está aí. As catástrofes e eventos extremos são cada vez maiores e mais significativas. Os desastres ambientais matando seres humanos são cada vez mais comuns.

Em suma, considerando que somos a única espécie pensante e capaz de mudar, precisamos trabalhar no sentido de rever a nossa lógica de prioridades e voltar, enquanto ainda há tempo, para critérios que satisfaçam ao planeta, aos demais organismos vivos do planeta e a nós humanos, pois se mudarmos esta ordem de critério não teremos mais saída desta cilada em que nós mesmos nos inserimos. O uso de recursos naturais tem que ser feito a partir da efetiva necessidade desses recursos, para o nosso bem e principalmente para o bem do planeta e das gerações futuras. É preciso mudar costumes e gerar novas formas de consumo, que considerem prioritariamente a sustentabilidade planetária como mecanismo único a ser levado em consideração.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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15 nov 2014

Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Resumo: Nosso texto desse sábado diz respeito ao consumismo e suas consequências maléficas à Sustentabilidade e assim à humanidade e ao planeta como um todo. O consumo exacerbado da sociedade moderna precisa ser freado para que os recursos naturais possam ser preservado para as gerações futuras. O poder excessivo de compra precisa ser, de alguma maneira, controlado e o consumo deve limitar-se ao necessário. Nossa cultura esbanjadora necessita ter um fim, antes que seja tarde. A Sustentabilidade e Consumo Excessivo são coisas totalmente antagônicas e se quisermos efetivamente uma delas, teremos que abri mão da outra.


Desenvolvimento Sustentável X Consumo (In) Sustentável

Ultimamente o que mais se ouve falar são as expressões Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Entretanto, essa coisa de Desenvolvimento Sustentável, além de não ser tão simples assim, ainda esbarra no forte interesse comercial imperante e no consumismo consequente desse interesse. Infelizmente, embora seja necessária, a Sociedade Moderna ainda não está preparada para a verdadeira Sustentabilidade.

Como é possível falar em Sustentabilidade se os padrões de produção e consumo continuam sempre aumentando indiscriminadamente, se a população continua aumentando descontroladamente, se o lucro continua sendo o objetivo primário de toda a Sociedade? Ora, como falar de Sustentabilidade sem pensar em Conservação de Recursos Naturais? Como falar de Sustentabilidade se só pensamos em gerar energia inundando lugares ou queimando alguma coisa, ou ainda, o que é pior, fundindo núcleos de átomos radiativos? Como falar de Sustentabilidade sem objetivar o controle de resíduos? E principalmente, como falar de Sustentabilidade sem conter o Consumismo exacerbado que se instalou no mundo, por conta de uma visão caótica e deturpada da realidade planetária e de uma cultura errônea e autodestruidora?

A maioria de nós, humanos, somos manobrados e ludibriados por interesses estritamente econômicos e fazemos exatamente o que esses interesses querem. Fazemos dos desejos deles, os nossos desejos e assim somos marionetes na mão dos grandes grupos econômicos, que só objetivam o lucro. Nossas casas são invadidas todos os dias por uma infinidade de propagandas, a maior parte delas mentirosas, e nós como ovelhas desgarradas do bando não resistimos à tentação, somos levados a fazer aquilo que não devemos e o lobo nos engloba e se alimenta de nossa carne. O pior é que muitos (infelizmente a maioria) de nós, ainda acham que isso é um bom negócio.

Talvez o meu exemplo, o predatismo do lobo com a ovelha, não seja o melhor exemplo para explicar o que realmente acontece, por dois motivos: primeiro porque o lobo mata a ovelha imediata e instantaneamente para se alimentar; segundo porque que o lobo só mata a ovelha para porque precisa comer para sobreviver. Um exemplo de parasitismo, talvez seja mais verdadeiro. Pense numa solitária que cresce quase que indefinidamente dentro de um homem, mas que não quer matá-lo, porque a morte do homem é a sua morte também. Assim a solitária vai minando o homem, até que ele acaba mesmo morrendo, porém numa situação doentia deprimente e a solitária já viveu bastante para reproduzir milhões de filhos. A propaganda faz exatamente isso conosco, ela não quer nos matar, pois depende de nós e assim acaba nos matando vagarosamente, tirando tudo que pode até que ficamos à míngua, enquanto ela engordou e se multiplicou.

A ideia de Sustentabilidade requer atitudes harmônicas e assim, depende de ações mutualísticas entre os envolvidos, um ajudando o outro para que todos se mantenham vivos no ambiente e não um destruindo o outro. Não é à toa e nem é uma coincidência que o Desenvolvimento Sustentável seja um mecanismo ecologicamente correto e benéfico, isso é uma necessidade natural que só agora, alguns de nós, estamos começando a compreender. A natureza é harmônica e nós antes de tudo somos seres naturais e por isso precisamos estar em harmonia com o planeta. Temos que tirar os recursos que precisamos para viver como as demais espécies vivas e nada mais, além disso. Entretanto, somos egocêntricos, esbanjadores, compulsivos, alienados, ambiciosos e não conseguimos pensar no interesse coletivo de nós mesmos, de nossos descendentes, das demais espécies e do planeta como um todo.

Vejam bem, a própria noção de Sustentabilidade envolve a necessidade de manter o mundo com qualidade de vida para nós e principalmente para os que ainda virão. Entretanto, como conseguir esse intento, se mesmo a nossa qualidade de vida atual está ameaçada por conta dos erros históricos que temos cometido e que, infelizmente, ainda continuamos a cometer?

A ideia de Sustentabilidade guarda, em seu bojo, alguns atributos interessantes, os quais vão desde a redução dos usos de recursos naturais e minimização dos gastos energéticos, passando pela diminuição da ostentação, do uso de supérfluos e pela derrubada no consumismo, até atingir a redução progressiva do fluxo econômico. Essas coisas dependem fundamentalmente de menor consumo individual e coletivo.

As pessoas têm que pensar menos economicamente e mais naturalmente, ou seja, o poder econômico, representado pelo dinheiro, tem que dar lugar ao verdadeiro poder das coisas naturais, pois estas sim é que têm valor. Para tanto temos que mudar a filosofia de vida predominante na humanidade e certamente essa não é uma tarefa fácil. Aliás, essa tarefa, embora seja necessária, aparentemente é impossível de ser conseguida, principalmente por conta do nosso modo de vida atual. Quer dizer, não é fácil pensar em Sustentabilidade da maneira como a grande maioria dos humanos é levada a ver e entender o mundo atualmente.

No mundo globalizado, falar em diminuir consumo é criar um grande problema, é tentar produzir o maior obstáculo à Economia, porque manter o consumo aquecido é a grande sacada da globalização. Produzir mais, para vender mais, por preços menores e se possível para todos é o grande objetivo. É por conta disso que os produtos acabam ficando escassos no mercado e assim se desenvolvem novos produtos, cada vez um pouco menos obsoletos que substituem os anteriores indefinidamente. O mercado não pode parar de crescer, a tecnologia não pode parar de se sofisticar, novos produtos precisam nascer e a população precisa comprar esses produtos, para que outros produtos possam ser desenvolvidos.

Em suma, nunca se pensa no homem como espécie viva, no planeta como casa de todos e muito menos nas demais espécies com quem dividimos a nossa casa. O pensamento exclusivo é na manutenção do mercado, que gera recurso econômico para continuar mantendo o próprio mercado. O dinheiro só trabalha pelo dinheiro. É bom lembrar para todos que dinheiro não tem vida e para os mais religiosos que ele também não tem alma e nem espírito. Por que não fazemos a mesma coisa que o dinheiro faz e não passamos a trabalhar por nós mesmos, ao invés de trabalharmos também pelo dinheiro?

Infelizmente, a tecnologia tem sua parte de culpa, quando não para de criar e se desenvolver, pois os produtos novos, as novidades, são os maiores chamariscos ao consumo e lamentavelmente nós não paramos de lançar produtos novos no mercado. A tecnologia, que também é um produto do homem, deveria ser utilizada em benefício do homem e não do dinheiro. O “Homo economicus” está mascarando o “Homo faber” e ambos estão destruindo o Homo sapiens e todo o planeta.

O Consumismo é o pior mal da humanidade e para o planeta, porque ele nos mata com nossa autorização, ele destrói o planeta com nossa anuência. Nós, Homo sapiens, deixamos de lado a nossa pretensa sabedoria e voltamos à condição de nosso ancestral mais primitivo o Australopithecus afarensis, pois estamos literalmente enfeitiçados, como seres ignorantes, pelo mal do dinheiro. É difícil para a maioria dos humanos entender que dinheiro não vale nada. O dinheiro é apenas um simbolismo, o que vale é cada um dos diferentes tipos de recursos naturais que necessitamos para viver.

O pior é que o tempo urge e nós não temos agido da melhor maneira possível para mudar o quadro e tentar reverter essa situação. Continuamos falando de Sustentabilidade, mas até aqui, a maioria dos humanos não está, de fato, trabalhando nesse sentido e enquanto continuarmos a priorizar o dinheiro estaremos, cada vez, mais longe da Sustentabilidade e do verdadeiro Desenvolvimento Sustentável.

É fundamental que controlemos o consumo, controlando a produção bens artificiais, impedindo o crescimento população, minimizando o uso dos recursos naturais, decrescendo progressivamente a necessidade de energia, reduzindo significativamente a quantidade de resíduos e principalmente que respeitemos o planeta e a vida daqueles que ainda virão e que têm direito a viver num planeta saudável. Eles não precisarão de dinheiro se lhes dermos um planeta vivo e se começarmos a demonstrar que é possível viver sem consumo excessivo e sem dar valores sobrenaturais ao dinheiro.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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26 ago 2014

Existe apenas um Planeta Terra

O título desse artigo, por mais óbvio que possa parecer, de vez em quando precisa ser lembrado, para que todos os humanos possam manter esse pensamento efetivo e ativo nas suas respectivas mentes. Digo isso, porque a grande maioria das pessoas, embora saiba; que existe apenas um Planeta Terra e que todos os recursos naturais que nós humanos utilizamos são tirados direta e exclusivamente desse único planeta que habitamos; parece que se esquece desse detalhe fundamental na sua vida cotidiana e acaba usando os recursos naturais indevida e levianamente, desperdiçando esses recursos absurdamente e, o que pior, produzindo alguns resíduos que a natureza muitas vezes não conhece e que nós humanos resolvemos chamar de resíduos ou simplesmente lixo.

É bom lembrar que na natureza não existe lixo e assim o lixo é um produto de origem exclusiva da espécie humana. Existe uma boa parte desse material, que nós chamamos de lixo, que pode ser reaproveitado e reutilizado para outros fins e hoje há muitos humanos trabalhando no sentido de tratar melhor esses resíduos e conhecer suas diferentes utilidades. Mas, por outro lado, também existe uma boa parte desses resíduos que não pode ser reutilizada e outra que nem a natureza e nem nós mesmos sabemos como usar ou mesmo exterminar. Desta forma, esse tipo de material totalmente inútil e principalmente indesejável, vai se acumulando pelo planeta afora, ocupando espaço e degradando novas áreas que também poderiam ser utilizáveis.

Em suma, cuidamos muito mal do Patrimônio Natural, pois usamos pessimamente os recursos naturais e pioramos a qualidade do meio ambiente e da vida que nele se insere, inclusive e principalmente a nossa. Desta maneira, precisamos estar constantemente nos lembrando que temos apenas um Planeta Terra, do qual tiramos absolutamente tudo o que utilizamos, para sempre tentarmos agir no sentido de garantir que os recursos naturais sejam utilizados de maneira respeitosa, precisa, coerente e, sobretudo, sem desperdício.

O uso do planeta de forma precisa e coerente pelo homem recebeu recentemente o nome de SUSTENTABILIDADE e é sobre isso que vamos conversar um pouco. Primeiramente devo dizer que a Sustentabilidade consiste num princípio básico que determina que nenhuma geração tem direito de esgotar os recursos planetários, pois todos os humanos e as demais criaturas vivas que já viveram, que estão vivos hoje e aqueles que ainda irão viver tem os mesmos direitos ao uso do Planeta Terra e de seus recursos naturais.

A apropriação do planeta não é um direito exclusivo do homem, mormente do homem atual. Nenhuma espécie, em momento nenhum pode se considerar “dona do planeta”, até porque, na verdade nós e as demais coisas vivas é quem pertencemos a Terra. Isto é, a Terra é que a “dona de todos nós”. O Homo sapiens tem um compromisso maior com a preservação do planeta, primeiro porque é quem mais o explora e segundo porque é a única espécie capaz de explorar os recursos planetários até a exaustão, como já aconteceu em alguns casos.

Por outro lado, devo esclarecer que a ideia de Sustentabilidade transcende bastante essa nefasta capacidade de apropriação indébita que a espécie humana assumiu com o Planeta Terra. O conceito de Sustentabilidade tenta conter a progressão e mesmo impedir esse absurdo. A Sustentabilidade está basicamente contida num tripé que envolve o Ambiente, a Sociedade e a Economia, de forma tal que qualquer mecanismo só pode ser considerado sustentável se todos esses três itens estiverem satisfeitos de forma igualitária na sua composição. Sendo assim, não é possível conceber mais, nos tempos atuais, qualquer tipo de mecanismo que prestigie, mas esse ou aquele aspecto do tripé.

Durante muito tempo a humanidade sempre procurou priorizar o lado econômico, como sendo o mais importante para o seu desenvolvimento. Entretanto, nos últimos tempos, por conta da necessidade imperante e do crescimento do pensamento sustentável nas diferentes sociedades humanas, a visão estrita da Economia precisou perder um pouco de sua avidez. Desta maneira, o componente social passou a ser mais bem considerado nas diferentes situações e também, o componente ambiental, que antes nem era pensado pela maioria dos humanos, passou de insignificante para uma posição de igual importância na escala de prioridades a serem atendidas. Assim, o Desenvolvimento Sustentável passou a ser o mecanismo principal para que se possa tentar alcançar e garantir a Sustentabilidade planetária.

Algumas ações individuais e coletivas, não só podem como devem, ser estabelecidas pelas pessoas físicas (indivíduos humanos) e jurídicas (empresas e grupos socais) no sentido de trabalhar em prol da sustentabilidade e dentre essas, podemos destacar as seguintes:

1 – Desenvolver uma postura ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, visando o interesse das futuras gerações, ou seja, aqueles seres humanos que herdarão o planeta a partir de nossas ações atuais. Lembrar que o mundo não é só meu, nem é só dos outros seres humanos, mas que também existem inúmeras outras formas de vida que tem o mesmo direito que eu tenho ao planeta. Lembrar, principalmente que dinheiro é um meio e não um fim, o qual só interessa ao homem e não serve em absolutamente nada para as demais criaturas do Planeta.

2 – Redução do Consumo de Recursos Naturais, não comprando coisas supérfluas ou desnecessárias, investindo em Reutilização, no Reaproveitamento e na Reciclagem de materiais e minorando a produção de lixo e resíduos indesejáveis. Avaliar efetivamente a real necessidade do produto antes de adquirir. Não comprar por impulso, nem porque está na moda, ou porque o seu amigo tem aquele produto. É bom lembra que essa também é uma das principais causas da violência urbana. Se você tem uma bicicleta e o outro não tem, ele toma a sua.

3 – Redução e racionalização do Consumo de Energia, principalmente a energia oriunda da queima de Combustíveis Fósseis, que geram muita poluição, gases de Efeito Estufa e que atuam fortemente para o Aquecimento Global e consomem Recursos Naturais não renováveis. Reduzir o uso do carro, do chuveiro elétrico, da geladeira e mesmo da pilha e das baterias elétricas, as quais produzem resíduos tóxicos e altamente contaminantes. Se o quarto está vazio, por que a luz está acesa?

4 – Investimento em Tecnologias Limpas que propiciem novas formas alternativas de obtenção Energia não poluentes e que não ofereçam risco à saúde humana ou planetária. Ser proativo em relação a Energia Solar, Eólica, das Marés, das Correntes e outras não poluentes e naturais que possam existir. Ser atuante em práticas ambientalmente corretas. Pequenas ações como apagar a luz e usar mais a luz solar, desligar o computador, a TV e os demais eletrodomésticos quando não estão sendo usados, não desperdiçar água, reaproveitar o papel, as caixas, reduzir, ou mesmo acabar com o uso de sacolas plásticas e outros produtos descartáveis, que têm grande custo energético e levam anos para se decomporem na natureza.

5 – Buscar a ampliação das Áreas de Preservação Naturais e a Recuperação de Áreas Verdes Urbanas, no sentido de garantir a manutenção dos Ecossistemas Terrestres com seus respectivos Bancos Genéticos e sua Biodiversidade e também de melhorar a qualidade do ar nas cidades. Por exemplo, plantar árvores e não cortar as existentes é um mecanismo simples que garante a absorção da água pelo solo, diminui aquecimento global, refresca os ambientes, atrai pássaros e embeleza os ambientes sobremaneira.

6 – Recuperar, dentro do possível, os ambientes naturais degradados, a fim de minimizar as áreas comprometidas com ações antrópicas insustentáveis ocorridas no passado. Reaproveitar áreas antes impermeabilizadas, onde calçamento indevido ocorreu, aumentando as áreas de jardins e quintais. Nas áreas urbanas é onde mais há necessidade de melhorar a qualidade do ar, portanto faça a sua parte para que isso aconteça.

7 – Educar ambientalmente as populações dentro do preceito de que a sustentabilidade é a única maneira possível de garantir a qualidade e a continuidade da vida humana no planeta. A prática educativa tem que trazer no seu bojo os princípios de garantir a manutenção e a continuidade dos recursos naturais não renováveis e a recuperação efetiva dos renováveis; de não degradar; de não sujar e efetivamente de chamar a atenção de quem age de forma contrária aos interesses do Planeta e da Sociedade, independentemente da justificativa apresentada.

8 – Definir criteriosamente as áreas agricultáveis e as culturas nelas desenvolvidas, visando minimizar o uso indiscriminado de Agrotóxicos e Defensivos Agrícolas, garantindo a manutenção dos solos naturais como forma de produção agrícola. Isso começa na sua casa, não usando veneno nas suas plantas ornamentais e também desenvolvendo sua pequena horta orgânica, da qual você pode tirar a sua alface, o seu tomate e outros alimentos.

9 – No plano político-administrativo, devemos procurar apoiar políticos e administradores públicos que estejam determinados a investir em políticas públicas, que favoreçam a sustentabilidade e que priorizem o interesse ambiental planetário, antes de qualquer interesse econômico particular ou qualquer grupo social específico, de acordo com a máxima ambientalista que diz: “agir localmente, pensando globalmente”. Oriente as pessoas de que as suas ações cidadãs em prol do planeta começam nos seus respectivos votos. Lute e trabalhe para que os seus candidatos tenham postura proativa, para que proponham as mudanças devidas que são necessárias à Sustentabilidade.

10 – Enfim, como ação precípua, procure ser um exemplo daquilo que pregar. Ninguém vai acreditar em você, se realmente você não demonstrar aquilo que fala. Acredite e pratique a sustentabilidade em todas as suas ações, pois assim você estará demonstrando que não é impossível, basta apenas vontade, coerência e persistência. Se você consegue, certamente também é possível que outros consigam.

Por fim, quero dizer que é preciso repetir muito a frase: “Existe apenas um Planeta Terra” e esta é a única morada; o único planeta; a única nave espacial dentro da qual estamos todos nós, mergulhados no espaço universal. Todos nós somos passageiros e estamos na mesma viagem dentro do mesmo veículo denominado Terra. Não é muito pedir para que cada um faça a sua parte no processo de garantir que a viagem continue sem conturbações e realmente não é necessário nada mais que isso, porque se cada um fizer efetivamente a sua parte o todo estará sendo feito.

Sempre vale a pena ressaltar que “os maiores interessados em manter o planeta somos nós mesmos”, pois só assim garantiremos a nossa existência. Isto é: “o planeta não depende de nós, nós é que dependemos dele”. Então, cabe lembrar também, que para que o planeta continue seguindo em frente e com segurança, só depende de nós mesmos, os seres humanos. A nossa continuidade no mundo vivo está em nossas mãos, pois só nós temos o poder da escolha e da definição. Nossas atividades atuais definirão sobre a nossa existência planetária futura.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Este artigo foi inicialmente publicado em www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 23/06/2011, tendo sido modificado e atualizado para esta publicação.
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