Resumo: O texto faz referências aos problemas ambientais planetários e propõe que as atividades desenvolvidas através de práticas sustentáveis e o efetivo investimento na educação ambiental das populações humanas sejam a base das mudanças que poderão proporcionar a recuperação da Terra a melhoria da qualidade de vida da humanidade.
INTROITO
“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.”
Johann Goethe
“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.”
Eleanor Roosevelt
Após ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o seguinte texto.
Senhoras e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da humanidade.
INTRODUÇÃO
Para que seja possível introduzir de uma
maneira clara a importância do tema desse encontro, existe a necessidade
imperante de se evidenciar objetivamente algumas constatações ambientais que se
encontram na ponta da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem
ser consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as outras. A
primeira dessas constatações diz respeito ao fato da humanidade se utilizar dos
recursos naturais como se eles fossem infinitos e a segunda diz respeito ao
crescimento populacional humano exponencial e insano que tem ocupando o planeta
de maneira totalmente descontrolada.
Historicamente a humanidade,
independentemente de qualquer teoria filosófica, tem vivido sobre a égide de que
um determinado Deus deu a Terra ao homem para que ele crescesse, multiplicasse
e dominasse sobre todas as demais criaturas do planeta e parece que nossa
espécie seguiu essas orientações direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido
feito pela humanidade em relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o
homem seguiu o curso de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo
patrimônio natural, utilizando todos os recursos naturais planetários
disponíveis aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e
como se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para
espécie humana.
É triste e lamentável, mas a grande
maioria do absurdo contingente de mais que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio)
de humanos existentes no planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim.
Em suma, é preciso entender de uma vez
por todas que o planeta não é propriedade dos seres humanos, tem recursos
definidos qualitativa e quantitativamente e, principalmente, que é impossível
crescer infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da
população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural da Terra
e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam ser minimizadas e
quem sabe até estabilizadas no futuro.
Essas são as duas grandes e nefastas
constatações, que não podem ser deixadas de lado e das quais a humanidade deve
estar segura e consciente de que precisam ser rigorosamente solucionadas. A
humanidade também deve partir sempre da certeza de que se não houver mudança
nesse paradigma errôneo, de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer
discussão sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois
não levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou melhor, a
situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim. É preciso que a
humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que assuma a sua
responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da vida planetária e com
continuidade da vida humana, exatamente nessa ordem de prioridade: o planeta, a
vida e o homem.
Considerando que esse encontro, assim
como tantos outros, se propõe a discutir exatamente Sustentabilidade e Educação
Ambiental, então fundamentalmente há de se começar por entender, aceitar,
imaginar, desenvolver e multiplicar mecanismos planetários abrangentes que
permitam colocar essa realidade necessária na mente dos demais seres humanos,
para que seja possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer
as mudanças necessárias. Na verdade, a humanidade precisa de uma nova filosofia
que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui conhecidas e praticadas, particularmente
na metade ocidental do planeta. O desafio que está posto é claro e simples: ou
pensamos diferente, para assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo
errado.
Não se trata de querer negar as
possibilidades de projetos e trabalhos que se coadunem com os ideais da
Sustentabilidade e da Educação Ambiental. Ao contrário, qualquer proposta nesse
sentido será sempre muito bem-vinda e certamente vai trazer resultados
positivos. Entretanto, essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental
que se faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental
como referências no comportamento humano.
Não tenho dúvida nenhuma de que as
pessoas que estão aqui neste evento e que obviamente estão preocupadas com a
temática ambiental, são cientes da importância da Sustentabilidade e da
Educação Ambiental e o que está se tentando dizer é que a realidade desse grupo
precisa ser expandida para os demais segmentos da sociedade humana. É
importantíssimo lembrar que esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no
contingente humano e assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução
do “trabalho de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo,
porém sem praticamente nenhum resultado significativo.
Na verdade, o grande trabalho está em
fazer toda humanidade compreender e tomar as decisões promissoras para a
continuidade da vida, em particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa
é uma tarefa difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão
é muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e principalmente que
as ações individuais pequenas podem ser preponderantes para o resultado
cumulativo que possa ter significado planetário.
Mas como fazer isso sem uma revolução filosófica
global de cunho social e político, passando por cima de questões culturais e
econômicas, haja vista que os interesses individuais, locais, regionais,
nacionais são sempre colocados acima dos interesses planetários pelos
diferentes grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de
180 graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento humano
tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir produzir essa
façanha.
Infelizmente, por vários aspectos que
todos conhecem e não precisam ser discutidos aqui, não há consenso sobre uma
linguagem planetária que possa produzir uma postura humana única em relação às
questões ambientais e por isso mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem
intencionados que nós, aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito
pequeno e vem lutando de maneira inglória, contra a maré. Aliás, na verdade, contra
um tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e que
se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais o
patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer consenso à
humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver esta situação?
Essa é a dura realidade em que nos
encontramos; precisamos mudar o paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente
e nem a interesse real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso.
Talvez, apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu
descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que são
necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos últimos anos, a
natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e mais contundente,
porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para convencer a grande mancha de
humanos céticos e ignorantes. Por outro
lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus dê um
jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele que nos deu o
planeta.
VIDA E
QUALIDADE DE VIDA
Vários autores, em diferentes momentos
da história humana tentaram conceituar a palavra vida e cada um deles, a seu
modo, procurou expressar o seu interesse primário na sua conceituação. Todos
esses autores disseram verdades, mas nenhum deles foi suficientemente
abrangente para criar uma definição efetiva. Assim, é possível dizer que a
palavra vida possui vários significados e por isso mesmo é muito difícil
estabelecer uma definição precisa. Porém, numa ideia geral mais ampla, todos
parecem concordar que a vida está relacionada com a existência natural e
própria de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além
disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma particularidade
única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém conseguiu demonstrar a
existência de vida em qualquer outro lugar do universo.
A vida na Terra não só foi possível,
como se desenvolveu e se diversificou extremamente pelos cantos do planeta em
consequência de um longo processo evolutivo. Como resultado desse processo,
hoje estima-se que existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e
nós ainda estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem
muitas que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais
e outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos
produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a diversidade da
vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir por ação exclusiva das
atividades humanas.
Da mesma maneira que ocasionalmente os
seres humanos aceleraram o processo de extinção natural ou criaram mecanismos
que levaram a extinção de algumas espécies, também foi possível ampliar
determinadas populações e mesmo modificar algumas delas de acordo com o
interesse da humanidade. Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser
humano também pode modificar bastante a conformação natural da vida no planeta,
no que diz respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas
condições naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem
propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que não foi
programada pelos processos naturais.
Assim, o homem tenta melhorar o que lhe
interessa e acaba por destruir o que não lhe interessa, como se fosse o “dono”
absoluto do planeta, seguindo aquele princípio, já citado, de que Deus teria
criado o planeta para uso dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta”
ficou tão clara nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos
não parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos. Essa condição
“superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas permitiu inclusive
que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto melhores fossem as suas
possibilidades de matar, porque isso ampliaria a sua chance de se alimentar
melhor, ser mais forte e até de viver mais, desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade
de vida”.
Vejam bem, porque é isso mesmo que eu
quis dizer. Para a maioria dos humanos “qualidade de vida” é a capacidade de
viver melhor, independentemente do que se tenha que fazer para alcançar isso,
porque para esses humanos, apenas a vida pessoal de cada um deles é a única
vida que importa. Matar outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um
fator que contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse
conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da humanidade a
agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem dar nenhuma importância
às demais espécies vivas do planeta e, pior ainda, é que alguns desses
indivíduos não dão importância nem a vida de outros seres humanos.
Alguns humanos traduzem a expressão
“qualidade de vida” como sendo um conceito aplicável exclusivamente aos humanos
e esquecem que a vida humana é apenas uma entre milhões de espécies planetárias
e que todas essas espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade.
Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana só foi
possível por conta da evolução a partir da vida de outras espécies ancestrais
da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a qualidade de vida que deveria ser
um direito de qualquer organismo vivo na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio
e uma prerrogativa exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie
Homo sapiens.
Hoje, existe uma necessidade cristalina de
que se pense na qualidade de vida do planeta Terra, aquele que permite, abriga
e mantêm as vidas dos organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser
humano não é melhor e nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma
espécie na Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual
também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos nele
viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser entendida por
muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem letradas e consideradas
de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma prerrogativa planetária e não
apenas humana.
CRESCIMENTO
POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO
Agora vamos nos ater um pouco sobre a outra
questão que contraria principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer
religião ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma
questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e não
deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer outra espécie
viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto qualquer outra espécie
planetária. Sendo assim, reproduzir é uma necessidade de cada espécie viva,
pois antes de tudo é uma garantia para a sua sobrevivência e perpetuidade.
Desta maneira a reprodução precisa efetivamente ser garantida aos humanos e às
demais espécies vivas.
Por outro lado, sempre é bom lembrar,
que o planeta não é apenas dos humanos e muito menos de algum grupo humano em
especial. Assim, é preciso equalizar o espaço físico planetário com a população
que lhe cabe. Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos
poderão deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não
antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas identifico a
reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária das espécies vivas.
Também não se trata aqui de definir
matematicamente um número mágico a ser estabelecido de habitantes humanos por
área geográfica, mas sim de se tratar o espaço físico considerando sua
capacidade ecológica de suporte. Além disso, ainda existe a consequente
dificuldade de manutenção de todos os organismos não humanos que também habitam
(vivem) nessa área considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem
algumas páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma
espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial das
espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não valem para a
espécie humana.
Se não houver controle populacional
humano não há como frear as necessidades, que serão cada vez maiores, de
desmatamento e de degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico
para as cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A demanda
de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e como
consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a aumentar. O
comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta, por causa da
necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim, cada humano a mais no
planeta traz consigo um contingente enorme de outras necessidades e quem paga
essa conta é o ambiente (o planeta), os demais seres humanos e principalmente os
seres vivos não humanos. A bola de neve cresce indefinidamente quanto mais
cresce a população, mas certamente o planeta tem um limite físico de capacidade
de suporte.
Outro problema é que, se não bastasse o
fato da população não parar de crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam
que o planeta pode tudo e que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a
tecnologia faça alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza
sempre e a continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que
algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por questões
físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá para pensar em
crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por conta das benesses
tecnológicas. Temos que entender que o planeta é finito e que sua capacidade
consequentemente também tem que ser.
Desta maneira, é necessário que se
comece a pensar em parar de crescer economicamente. Parece absurdo, mas isso é
pura lógica, embora a maioria da humanidade não queira pensar assim. Se por um
lado parar de crescer economicamente é complicado, crescer indefinidamente será
muito mais, porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir
dos recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma
representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem se
existirem as matérias primas que lhes permitem existir.
Pois é, há sim que se pensar numa
“deseconomia” ou numa maneira de viver com menos recursos naturais e,
consequentemente, com menos dinheiro. Se a população continuar crescendo isso
será impossível. Se, mesmo que a população esteja controlada, as pessoas não estiverem
adequadas e não forem educadas para essa realidade futura também será
impossível. O planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que
ser limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra possibilidade!
A HUMANIDADE
E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO
Todas as espécies vivas do planeta vivem
e sobrevivem, com boa qualidade de vida ou não, em função daquela parte do
patrimônio natural que elas conseguem transformar em recursos naturais para
seus respectivos interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente.
A ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os
humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e
assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a indústria, o
comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres humanos inventaram o
“lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A natureza não conhece lixo,
porque na natureza tudo “serve”, mas essa é outra questão e não vou discutir
sobre isso agora.
Como já foi dito, o dinheiro, tinha como
objetivo ser uma maneira de simbolizar o valor dos recursos, em condição
natural ou manufaturado, para facilitar os negócios nas transações comerciais,
mas transcendeu esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como
sendo o principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber,
morar, dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas passaram
a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.
Isto é, os humanos modificam os
recursos, processam os recursos modificados e vendem (trocam) esse material.
Para “facilitar” essas transações comerciais, os humanos inventaram o dinheiro,
que passou a servir como padrão de equivalência entre as mercadorias (os
recursos no comércio humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso
desenvolveu-se um ramo de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as
demais espécies do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi
denominado de economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que
passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria dos
seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os recurso
naturais.
Não fosse o absurdo de supervalorizar o
dinheiro, essa situação podia até ser uma forma mais conveniente de tratar os
recursos e até podia ter um objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível,
que foi a ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais
espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um bom negócio”,
os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e especificamente
visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não der lucro, não.
Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da atividade humana. Por
conta disso, alguns seres humanos passaram a comprar e vender exclusivamente dinheiro
ao invés de recursos naturais.
A propósito, não sou contra o lucro,
muito menos contra o capitalismo e nem quero voltar necessariamente ao escambo.
Estou apenas afirmando que o lucro como base exclusiva de interesse para
geração de renda e ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador
dos transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar que
dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.
Fazer riqueza (ter cada vez mais
dinheiro) passou a ser um compromisso dos seres humanos, que por conta dessa
“necessidade” trocou e continua trocando cada vez mais as verdadeiras
necessidades por dinheiro e não mede consequências para atingir esse intento. O
que importa é ter dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o
planeta que já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e
derivados atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas
por comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na maioria
das compras, além de mera ostentação.
Lamento, mas tenho nesse momento, que
fazer mais uma constatação terrível e que a maioria dos humanos não costuma querer
saber. A partir do conhecimento do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de
seus benefícios pessoais, a humanidade não parou mais de complicar a vida dos
seres humanos e não humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou
a ser mera contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais
lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É preciso
conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes dos interesses
estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a seguir nessa
direção.
O mundo precisa de mais ecologia e menos
economia, ou melhor, considerando que economia é uma questão ecológica, então a
economia tem que se fazer com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só
precisa de ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que
me parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no interesse
planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior interesse da
humanidade.
SUSTENTABILIDADE,
O FIEL DA BALANÇA
O Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento
Sustentável e hoje a Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo
gradativamente a partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase
da mesma maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por
uns poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver soluções plausíveis
para as questões planetárias que foram citadas anteriormente. O compromisso
fundamental desses conceitos foi criar mecanismos que associassem o desenvolvimento
econômico com a manutenção da qualidade do meio ambiente, pois os recursos
naturais precisavam ser garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As
ideias são muito boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus
administradores e suas populações também precisam estar envolvidos nessas
ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no compromisso com
o planeta.
A distância entre o pensar e o fazer
sustentavelmente ainda é muito grande, mormente quando se considera a relação
entre pobres e ricos. Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e
os recursos naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da
humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro para
comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os ricos não
querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os pobres não
aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem está efetivamente
disposto a caminhar nessa direção.
A Sustentabilidade é a única condição
possível de associar a natureza e a sociedade, garantindo crescimento
econômico, protegendo os recursos naturais e mantendo a qualidade de vida do
planeta. A vida humana deve ser protegida, mas principalmente deve ser planejada
para o futuro, para aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso
garantir que esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha
qualidade, mas é preciso principalmente que o planeta tenha condições de
abrigar vida no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não
houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim garantir
a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para nascer.
Nós humanos, somos a principal causa do
problema, mas, o lado bom da história, é que também somos a parte principal da
solução. Aliás, acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente
nossa, pois se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por
outro lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar resolvê-los.
Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente sejam capazes de
cumprir o compromisso planetário histórico que têm com eles. Para que isso seja
possível, há necessidade premente que trabalhar dentro dos padrões precípuos da
sustentabilidade, mas como já foi dito no início, essa é uma tarefa que precisa
ser assumida coletivamente por toda humanidade. Cada ser humano, enquanto
estiver vivo, é responsável pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do
planeta, pela sua própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do
planeta.
No mundo há pessoas em todas as áreas de
trabalho e em todas as regiões geográficas trabalhando efetivamente para que
esse ideal sustentável tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos
sociais e todos os grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de
melhorar as condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito
se não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade é a
única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um planeta
ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar como verdadeiro
fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos seres humanos na
superfície da Terra.
EDUCAÇÃO PARA
A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)
Obviamente para se chegar à
sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer será necessária uma carga
imensa de educação. Convencionou-se chamar de educação ambiental a educação
ligada ao meio ambiente e as questões ambientais, mas eu penso que educação
seja um termo que, por si só, já diz o que pretende. Se precisamos nos
preocupar com uma educação que deverá fazer o ser humano pensar e agir com
relação às questões genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos
isso de educação ambiental, então que assim seja. Mas, eu tenho uma preocupação
mais específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo
pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o ambiente em
que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de educação ambiental, mas
vamos deixar a semântica de lado e seguir em frente.
Temos que trabalhar numa maneira de educação
que motive as pessoas que estiverem bem nos locais onde estão a continuarem
querendo estar bem e por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos
ambientes, sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se
cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará caminhando
para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação ambiental: trabalhar
para a perfeição do ambiente planetário, ainda que isso seja um utopia.
Atitudes antropocêntricas não terão
lugar na educação. O biocentrismo terá que ser o objetivo fundamental e a
prioridade primária será a manutenção da vida no planeta, independentemente de
qual seja a espécie, pois se essa espécie existe é porque ela é importante ao
planeta e assim precisa ser mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões
que possam levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que
cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é uma
parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos
evolutivamente de outras espécies vivas.
A Terra é a meta única e tudo deve ser
relacionado aos interesses planetários primários e preponderantes, todo o resto
será consequência daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir
agir dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja
qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse maior da própria
humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao cooperativismo e o
egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão mais preocupadas em fazer
para todos do que para si, porque a Terra e avida serão os interesse maiores das
diferentes comunidades.
A chamada educação ambiental será também
a educação social, a educação econômica a educação cultural, porque toda
educação envolverá questões que implicarão sempre a sustentabilidade
planetária. Não haverá nenhum mecanismo destoante desse critério básico e
assim, tanto o estudante, quanto o educador estarão atentos e implicados no
firme propósito de garantir vida e qualidade de vida ao planeta. A noção de
Terra é única e que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo,
certamente será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará
sempre nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores
serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em formar
profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente
viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.
A educação com certeza irá se direcionar
para mudar o rumo do planeta e consequentemente das possibilidades da natureza
seguir seu caminho evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente,
pois essa educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a
realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também participar da
melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A responsabilidade
social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos largos e trará o fim de
muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser humano, que sobre tudo, sempre
respeitará os demais seres humanos, porque terá consciência de que não existe
ser melhor que outro.
CONCLUSÕES
Por fim, quero mais uma vez deixar claro
que o mais importante de tudo não é fazermos encontros desse tipo, com as
pessoas interessadas e já conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não
adianta absolutamente nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações
políticas que se fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais
e legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos para
que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos paradigmas, que
trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das questões ambientais às
diferentes populações humanas.
Esses mecanismos educacionais e legais é
que poderão estabelecer os comportamentos novos que almejamos e que poderão
permitir que as práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam
efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A
sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes culturas
humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e das instituições
sociais.
A prática sustentável possivelmente
exigirá até ações mais enérgicas sobre alguns países e determinados grupos
sociais, mas urge que essa prática se torne costumeira da humanidade como um
todo. Penso eu que o futuro da humanidade seja uma questão mais importante que
todas as demais e assim deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse
fim e certamente a sustentabilidade é a principal dessas ações.
A educação ambiental, por sua vez,
deverá preparar o homem do futuro, objetivando as consequências posteriores e
mais ainda, antevendo as novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai
nascer com a educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá
com uma mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies
que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental, porque esse
será um compromisso intrínseco dentro da própria condição humana.
O dinheiro, o lucro e o consumo é claro
que continuarão existindo, até porque as atividades sociais humanas não
deixarão de acontecer, mas a importância desses aspectos será tão insignificante
quanto uma gota de água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida
e não nas riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o
dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e comprar
será uma contingência da necessidade e não uma necessidade contingente. O
Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá existir em situação
nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente aquilo que precisa e não
haverá porque ter mais que isso. O lucro será reinvestido em benefício da
própria humanidade e não haverá essa guerra econômica do capitalismo selvagem
que causa grande infortúnio a humanidade.
É claro que e educação não conseguirá
mudar tudo, pois continuarão existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os
pobres, as diferenças entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano
e assim diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto,
que não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A
educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente igualitária e
justa.
É claro que não conseguiremos atingir
todo o nosso intuito, até porque não depende somente da gente, mas quem dera
que fosse verdade! É eu sou realmente um sonhador e todos aqui nesse evento,
que estão querendo sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas,
vamos acreditar, pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que
almejamos sejam possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres
melhores hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de culpa,
porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós ainda somos
cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos problemas sozinhos.
Por favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro melhor para o planeta e para toda humanidade.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)
*Artigo publicado no site http://www.ecodebate.com.br, Edição 3.142, 05 de fevereiro de 2019.*e Ambientalista (Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA).