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29 jul 2018

A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

Resumo: O texto em questão é uma crítica que visa chamar a atenção da sociedade, tentando identificar os atores envolvidos e suas respectivas responsabilidades sobre o lamentável estado de carência da educação brasileira. Além disso, também destaca e comenta sobre algumas experiências ocorridas que poderiam ter evitado ou, pelo menos minimizado, o atual quadro generalizado de descaso com a educação por parte de quase toda a sociedade.


A Verdade nua e crua sobre a Educação no Brasil

” A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Constituição da República Federativa do Brasil/1988, artigo 205)   Antes de qualquer coisa, eu quero deixar bem claro que não sou advogado e muito menos estudioso do direito. Sendo assim, é bem possível que eu cometa alguns erros e diga algumas besteiras na minha dissertação, mas tenho minha maneira de pensar e vou continuar meu raciocínio assim mesmo, tentando demonstrar minha visão sobre o assunto em questão, até que alguém, talvez algum especialista em direito, possa demonstrar e me esclarecer claramente acerca dos meus erros, se, por acaso, efetivamente existirem erros no raciocínio. Todos certamente já ouviram a afirmativa que encabeça esse texto ou alguma coisa bem parecida com o seu significado e eu devo dizer que, apenas em parte, eu concordo com a tendência generalizada que a opinião pública parece ter sobre o entendimento dessa afirmativa. Concordo em parte, porque tenho ciência absoluta de que a Educação é verdadeiramente um direito de todos, entretanto, penso que a educação não é e nem pode ser uma obrigação do estado ou da família. Assumir que aquilo que todos têm como direito é obrigação de alguns (o estado e a família no caso), a meu ver, consiste num grande erro, é exatamente aquilo que algumas pessoas chamam de “lógica burra”. É óbvio que o estado e a família (muito mais que o estado) devem providenciar as condições mínimas para o estabelecimento da educação das pessoas. O estado deve investir em promover a educação da população e estimular o máximo para que toda a população se eduque, enquanto a família deve fornecer os padrões morais básicos que permitam desenvolver uma convivência social cortês e ética para os indivíduos nela nascidos, particularmente durante o período infantil desses indivíduos. Entretanto, nem o estado e nem mesmo a família, a partir de determinado momento, não podem e nem devem obrigar as pessoas a se educarem, porque se a educação é um direito, ela não pode ser imposta por nada e nem por ninguém, principalmente pelo estado, principalmente quando se pretende viver num estado democrático de direito. Eu quero entender que o direito é algo que se manifesta como uma prerrogativa que pode ou não ser utilizada por quem a tem. Desta maneira, um direito não pode ser uma obrigação de quem quer que seja e sim uma opção de cada indivíduo numa sociedade. E se é uma opção, não existe porquê alguém se obrigar de cumprir e muito menos uma outra pessoa (entidade ou instituição) deverá “obrigar o cumprimento desse direito”. A pessoa é quem tem direito de se educar, se quiser, pois também pode não se educar, se quiser, e o estado e a família, quando muito, poderão apenas servir como orientadores de que esse ou aquele talvez não devesse ser o melhor caminho a ser seguido, mas, o estado e a família não podem de maneira nenhuma obrigar que a pessoa se eduque, se esta pessoa não quiser ser educada.  A tutela do estado ou da família sobre a pessoa não pode ser prioritária aos interesses da própria pessoa, a não ser no caso de transgressão do direito ou de uma agressão direta à sociedade. Sou consciente de que eu acabo de fazer uma afirmação complicada, dura, perigosa, sujeita à críticas e que certamente será propositalmente mal entendida por alguns ou ocasionalmente mal interpretada por muitos indivíduos, principalmente àqueles que não defendem nada, porque são ligados a partidos políticos ditos socialistas e acreditam que o estado tem que fazer absolutamente tudo na vida do cidadão e assim só sabem criticar as pessoas que pensam. Minha afirmação ainda deverá, pelo menos num primeiro momento, também ser bastante criticada por aqueles que defendem o ensino público e gratuito para todos e em todos os níveis de ensino.  Nesse sentido solicito a todos que não tirem conclusões prematuras e que leiam o texto até o fim, para poder avaliar exatamente o que estou tentando dizer. Infelizmente ao contrário de alguns seres humanos, eu sou um indivíduo que além de pensar, também resolvo falar e escrever, porque gosto de expressar minha opinião e de discutir para procurar melhor entendimento das coisas. Isso obviamente tem me criado inúmeros problemas e me feito muito mal dentro da sociedade em que estamos vivendo, haja vista que, por um grande mal sociológico, em geral as questões polêmicas não são discutidas, simplesmente alguém diz que é de uma maneira e os demais costumam seguir esse alguém. Sendo assim, fiquem à vontade, porque eu já estou acostumado a sofrer críticas. A propósito, é bom que fique claro, desde já, que eu também sou a favor do ensino público e gratuito, mas não sou a favor de que haja absurdos, como uma gratuidade generalizada, até porque, como já foi dito, a educação é um direito e o estado deve trabalhar para que esse direito possa ser efetivado na totalidade da população ou pelo menos para a maioria das pessoas, dentro de um mecanismo democrático. Mas, por outro lado, o estado não tem que ser tutor de todas as pessoas. A família, como já foi dito, tem uma responsabilidade maior com seus filhos nesse aspecto, mas o estado não é pai e muito menos mãe de quem quer que seja. O estado tem que fazer o que pode e o cidadão interessando deve trabalhar, buscar e conquistar os seus direitos. Não acredito que um direito deva ser encarado como uma benção da sociedade para o indivíduo. Durante minha vida educacional, até o dia em que ingressei na faculdade, sempre estudei em instituições totalmente públicas e mesmo a faculdade em que estudei era parcialmente pública. Sou do tempo em que a gente tinha que fazer exame de admissão para passar do primário para o ginásio, se quisesse continuar estudando numa escola pública e poucos passavam porque o número de escolas era relativamente pequeno. Para ingressar numa faculdade (raríssimas naquela época), independentemente do curso escolhido, havia um vestibular muito competitivo e não era qualquer indivíduo que conseguia passar e ingressar. Ou seja, eu não tive a vida fácil que alguns desconhecidos da história poderiam pensar de imediato. Ao contrário, tive que estudar e correr atrás para conseguir me manter na escola pública e não culpo o estado por conta disso, porque entendo que isso é correto e, naquela época, era sobretudo necessário, pois havia muitas crianças, muitos jovens e poucas escolas, mas hoje ocorre exatamente o contrário, porque o número de escolas aumentou e o número de crianças e jovens proporcionalmente diminuiu. Estudar em escolas públicas na minha época era, sobretudo, um prêmio oferecido àqueles que se dedicavam ao estudo e acreditavam que só assim poderiam projetar um “futuro melhor”. Grande parte de minha infância transcorreu numa época complicada, em que o país vivia sob a égide de uma ditadura militar. Porém, se esse fato era ruim, certamente era ruim apenas para quem também era ruim, pois a vida do cidadão comum se manteve do mesmo jeito e não se alterou por conta da ditadura, salvo raríssimas exceções. Se os militares erraram e também ficaram muito tempo no poder, foi porque houve necessidade ou talvez porque não fossem políticos e não tivessem o tino para a administração pública, mas com certeza eles não eram deliberadamente mal intencionados, como muitos administradores que vieram depois da chamada “abertura política”. Sobre vários aspectos aquela ditadura era muito mais democrática do que a pretensa democracia que a sucedeu até os dias de hoje. Hoje, eu não conheço pessoas boas que reclamem da época da ditadura militar, ao contrário, apenas os picaretas e os bandidos ainda reclamam. O que eu quero dizer é o seguinte: gente boa não reclama daquele tempo, embora possam ter ocorrido alguns exageros, certamente esses não foram de maneira nenhuma uma regra para a sociedade em geral. Naquele tempo, as escolas públicas não eram muitas, como eu já disse, mas o ensino era bom e quem queria estudar e aprender, com certeza conseguia. Sou um exemplo vivo desse fato e conheço vários indivíduos como eu. Mas, o que aconteceu depois de 1985, com a famigerada “abertura política”? O país, com raríssimas exceções, foi entregue na mão de um monte de vigaristas, que inventaram e, o que é pior, se debruçaram em cima de ideias idiotas preconcebidas por “gênios do mal” e sonhos de socialismos improváveis, para enganar a maioria das pessoas, que até hoje não conseguiram ser educadas, no sentido literal da palavra e estão por aí procurando “Papai Noel” e outras figuras mitológicas. O pior é que muitos realmente acreditavam e alguns ainda acreditam nessas coisas e infelizmente parece que não sabem que “Papai Noel” não existe. Alguns desses “gênios do mal” acabaram sendo eleitos e assim foram alçados ao poder. Desta maneira eles passaram a sugerir um caminho irreal, uma forma de educação que só interessava a eles mesmos e os seus instintos cada vez maiores de poder e de domínio. Eles criaram mitos modernos sobre questões morais e atribuíram conceitos absurdos sobre as inter-relações pessoais, fazendo as comunidades pensarem que o errado é que estava certo. Além disso, esses indivíduos resolveram, a bel-prazer, que os absurdos que eles inventavam é que deveriam ser conduzidos na educação a ser ministrada e ensinada nas escolas no país. Ora, é óbvio que isso não poderia dar certo e o desastre culminou, quando um grande idiota, semianalfabeto e declaradamente alheio à educação assumiu a direção maior do país. Nessa situação, a educação que já era ruim, ficou muito pior e passou, de fato, a ser um dever (uma obrigação) do estado. Mas graças a Deus o estado, nesse aspecto, não cumpriu o seu dever e grande quantidade dos absurdos não chegou a sair dos planos e projetos, mas infelizmente alguns foram publicados e até mesmo distribuídos nas escolas. Por favor, nesse momento, eu preciso esclarecer, que se antes a educação era ruim porque o estado era inoperante, nesse instante ela ficou bastante pior, porque o estado resolveu operar de maneira propositalmente errada. Foi exatamente nesse momento infeliz da história brasileira, que um apedeuta e sua trupe passaram a reger uma orquestra ruim e desafinada, onde a educação deveria ser a partitura e na verdade nunca foi, porque a estrutura educacional foi criada e dirigida dentro de uma forma de interesses estritos, que visavam apenas colocar nas comunidades somente aquilo que agradava a quem “administrava” (roubava, talvez fosse melhor) o país. Meus amigos, assim chegamos ao atual “status quo”, onde os políticos safados fazem o que querem e os cidadãos de bem pagam a conta, onde a “Lei de Gérson” é imperante, onde bandidos comandam o país de dentro das cadeias, onde o certo está errado e o errado está certo. Isto é, passamos a viver numa total inversão de valores morais. Tudo isso porque alguns malfeitores resolveram e decidiram que esse país seria propriedade deles eternamente. Mas, graças a Deus, nada é perene e o castelo dessa corja começou a ruir e espero que caia de uma vez por todas. Quero acreditar que esteja na hora de mudar e começar a reconstruir o Brasil. Aquele Brasil sonhado por Paulo Freire e por Darcy Ribeiro, senhores que, com toda a visão progressista, esquerdista ou mesmo comunista, nunca deixaram a educação de lado, porque não tinham um projeto de poder e sim um projeto de governo, de melhoria das pessoas e de desenvolvimento do país. Ao contrário, esses senhores sempre priorizaram a educação, porque, antes de tudo, eram brasileiros diferentemente de outros embusteiros. O que continuamos precisando hoje é exatamente isso, um projeto que possibilite a nacionalização do Brasil, que vislumbre primeiramente o desenvolvimento do país e de sua população e isso só acontecerá quando a educação for, de fato, uma prorrogativa, uma prioridade e um direito claramente estabelecido na mente de todos os brasileiros. O Governo atual, certo ou errado, parece que está tentando fazer a sua parte ao propor a mudança do ensino médio. Quero deixar claro que eu não votei nesse governo e consequentemente não votei no que acaba de sair, haja vista que é o mesmo governo, só mudaram algumas pessoas de lugar. Tenho minhas críticas e minhas dúvidas sobre ambos, ao governo e à reforma do ensino proposta, e até já publiquei minha opinião a esse respeito (LIMA, 2016a). Entretanto, tenho que concordar que essa proposta é algo que não se via nesse país desde a ditadura militar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (5692/1971), que ficou em vigor até 1996, quando foi substituída pela atual (Lei 9394/1996), foi essa lei que, dentre outras coisas, criou o ensino profissionalizante e começou a tirar esse país do marasmo e da incompetência generalizada, permitindo nos colocar no nível de capacitação mínima entre as nações do mundo civilizado. Essa lei é da época do governo militar e queiram os senhores ou não, foi essa lei, não por coincidência, relacionada à educação, que permitiu mudar a cara desse país no cenário internacional. O chamado “milagre brasileiro” certamente é o grande fruto dos resultados da Lei 5692/1971. A criação dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEP no Rio de Janeiro e dos Centros de Atenção Integral à criança e ao Adolescente – CIAC no Brasil, graças ao trabalho de Darcy Ribeiro, na década de 1980 e 1990, também foram algumas grandes obras, as quais rapidamente foram sucateadas e destruídas, com duvidosos argumentos econômicos e financeiros, exatamente quando começavam a dar certo e produzir alguns frutos. É claro que educação custa caro, pois esse é exatamente o preço que tem que ser pago para que a nação possa se desenvolver e o país possa entrar verdadeira e integralmente no cenário internacional. Não adianta bradar que somos a sexta economia do mundo, se continuamos a amargar a condição de octogésima qualidade de vida do planeta e com uma das piores distribuições de riqueza da Terra. Como pode um país de 205 milhões de habitantes, ter cerca de 27 mil milionários, os quais concentram quase 30% de toda a riqueza financeira possuída nacionalmente? Cabe salientar que essas informações são fornecidas e publicadas pelo próprio Governo Federal (Brasil,2016). É preciso distribuir melhor e principalmente roubar menos, porque por mais caro que possam ser os gastos com a educação, certamente o seu custo total ainda será muito baixo, porque esse custo será tremendamente mais barato aos cofres públicos do que foram os “mensalões”, os “petrolões” e todos os inúmeros golpes (esses sim, foram golpes) e assaltos aplicados pelos governos recentes do país, os quais se diziam democráticos, progressistas e preocupados com os mais humildes. Além do que, obviamente, a população, de maneira nenhuma, estaria reclamando se os recursos financeiros que desapareceram do país, tivessem sido investidos e gastos totalmente na educação. É meus amigos, é isso mesmo. O que posso afirmar, como testemunha ocular é que a educação nesse país já foi muito melhor, mas isso ocorreu quando o roubo era menor e quando as pessoas, mormente as crianças, iam deliberadamente à escola e estavam preocupadas apenas em aprender e não em discutir questões outras que não cabem no cotidiano escolar. As pessoas que não queriam ir à escola, simplesmente não iam. Os pais mantinham as crianças sob suas respectivas guardas e isso não era crime. Algumas crianças trabalhavam e outras ficavam na vadiagem, mas, ainda assim, havia ordem no país e os problemas sociais, em todos os níveis, certamente eram infinitamente menores do que hoje. Não existia a demagogia da obrigação de estar na escola para se ouvir aquilo que não se quer ouvir e tampouco de se impedir que se pudesse, de alguma forma, trabalhar e ajudar a família para tentar melhorar de vida. Nesse país, nos últimos anos, tentaram fazer a doutrinação do povo com uma educação de mentira e não fosse a ganância insana e absurda, talvez esses malfeitores tivessem conseguido atingir o propósito estabelecido. Está na hora de voltarmos lá atrás, ainda na época do governo militar. Eu me lembro do então Ministro Eduardo Portela (1979/1980), que foi nomeado Ministro pelo Presidente Figueiredo e depois demitido pelo mesmo Presidente Figueiredo, apenas por ter se mostrado claramente favorável a uma greve estabelecida pelos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pois é, se vivia numa ditadura militar, mas havia a possibilidade de pensar diferente dos administradores. Obviamente podia se perder o emprego, como aconteceu com o ministro, e nada mais. Certamente isso era mais democrático do que se viu recentemente, pois o grande educador e Ministro Eduardo Portela ainda está por aí, vivendo até hoje. Antes de qualquer coisa, a escola tem voltar a ser um local de interesse da sociedade e de pessoas capazes de, por direito, escolherem o que é certo e o que é errado. A sociedade cabe o direito de julgar, mas nunca de impor. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), no seu artigo primeiro: “todo ser humano nasce livre e igual aos demais seres humanos” e no artigo terceiro reafirma que, além disso: “o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança”. Da mesma forma que o Ministro Portela teve o direito de escolher e ficou do lado oposto ao governo, hoje nós estamos sendo convidados a escolher entre a educação e a bestialidade. Espero que não sejamos bestas, apenas para agradar a quem quer que seja e nem por medo. É preciso ter coragem e parar de culpar alguns pelos erros de todos, porque o problema é generalizado e não existem responsáveis específicos. A família certamente tem muita culpa, o estado também, mas a questão transcende a esses dois agentes especiais, como relatei no artigo anterior (Lima, 2016b). A educação, embora não esteja escrito na Constituição Federal, ao mesmo tempo que é um direito, também um dever moral de toda sociedade e por isso mesmo é fundamental parar de apenas dizer não ao que é ruim, pois existe uma necessidade principal maior de que se diga sim para o que pode e deve ser melhor. Até aqui, a sociedade tem se mantido apática, ou só tem criticado e negado todas as possibilidades de melhoras educacionais preferindo continuar caminhando na desgraça eterna e obviamente isso é um erro que precisa ser corrigido. Graças a Deus que qualquer mudança real na questão da educação, até pelo seu efeito modificador da sociedade como um todo, acaba sendo necessariamente progressiva, pois do contrário, esse país de dirigentes safados e sem interesse na educação da coletividade, de famílias descomprometidas com seus filhos e de sociedade egoísta e alienada, já teria sucumbido totalmente e a situação poderia estar muito pior. É exatamente por conta dos efeitos graduais e progressivos que as mudanças educacionais produzem nas pessoas, mesmo aquelas sem educação formal, que lamentavelmente ainda são muitas nesse país, que a sociedade aprende a ver e a sentir o que é melhor para o Brasil e para si mesmas. Desta maneira, apesar de tudo, obviamente estamos sempre avançando, mas ainda estamos dando passos curtos e lentos, porém, se as pessoas e o governo quiserem acelerar o processo, o Brasil, em tempo relativamente curto, poderá sair do calabouço da brutalidade, do submundo da ignorância e da incompetência educacional generalizada. É lógico que o governo só vai querer acelerar o processo se a sociedade significativamente continuar querendo, ou seja, é fundamental que haja cobrança e imposição popular de toda a sociedade em prol da educação. Vamos acreditar e esperar que a mudança do ensino médio, mesmo modesta, defeituosa e ainda claudicante, seja um novo marco que conduzirá o Brasil anos luz à frente, porque nos últimos 50 anos, essa proposta está sendo a única coisa sugerida com vistas à melhoria generalizada da educação brasileira. Continuo acreditando que temos que priorizar a educação e que ela, dentro do possível, deve ser pública e gratuita, mas é preciso parar com esse negócio, essa demagogia, de achar que o governo tem que fazer tudo por todos. John Kennedy, em seu discurso inaugural como presidente dos Estados Unidos (20/01/1961) disse o seguinte: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.  Pois então, nós brasileiros precisamos fazer alguma coisa pelo Brasil e a educação, por vários aspectos que já citei neste e em outros artigos e, principalmente, por conta de ser um direito do cidadão, a educação tem que passar a estar destacada de maneira efetiva dentro das prioridades nacionais. A nossa realidade é que somos um país continental, o quinto maior do mundo e com a sexta maior população, mas precisamos assumir a nossa responsabilidade sobre essa condição brasileira no planeta. A educação tem que ser a mola mestra desse país e para tanto ela tem que deixar de ser uma máscara usada pelo estado para justificar uma obrigação que, a meu ver, o estado não tem, pelo menos direta e totalmente. Tiremos a máscara do estado e também aquela que colocamos em nós mesmos e vivamos a realidade que o país necessita. Isto é, mostremos a nossa cara e partamos para um Brasil infinitamente melhor, com um povo educado, que respeita as diversidades, garante os direitos e exige os deveres, mas sem tentar criar nenhum modelo absurdo, principalmente aqueles de interesses particulares ou oriundos de outras realidades. Referências
BRASIL, 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 5692, de 11/08/1971). Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências, Legislação Informatizada da Câmara dos Deputados, Brasília.
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil (1988), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, 35ª ed., Brasília.
BRASIL, 2016. Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira (Dados do IRPF 2015/2014), Ministério da Fazenda, Brasília.
LIMA, L. E. C., 2016a. A “Medida Provisória” para o Ensino Médio e o “Notório Saber”, www.profluizeduardo.com.br , 27 de setembro de 2016.
LIMA, L. E. C., 2016b. Por que a Educação não dá certo no Brasil?,  http://oblogdowerneck.blogspot.com.br/2016/12/por-que-educacao-nao-da-certo-no-brasil.html , 17 de dezembro de 2016.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1998. Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948), Biblioteca Virtual dos Direitos Humanos/USP, São Paulo.
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30 abr 2018

CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Resumo: O texto trata da real necessidade de regionalização da Educação Ambiental como mecanismo norteador (orientador) de uso sustentável dos recursos naturais. É uma abordagem abrangente que propõe uma avaliação contextualizada para o Patrimônio Natural Regional e os diferentes usos dos recursos naturais encontrados nesse patrimônio.


CONTEXTUALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ultimamente, muito tem sido discutido sobre a Educação Ambiental e como se poderia e se deveria fazer para colocar esse modelo de Educação dentro dos conteúdos curriculares das escolas brasileiras, mas até aqui a tarefa de concluir essa discussão ainda não se demonstrou objetivamente tão clara e eficiente como deveria se supor que fosse num primeiro momento. Ao contrário da expectativa, do modo em que a situação se encontra, na verdade se fala muito e acaba se fazendo muito pouco sobre educação ambiental de fato. Alguns dos muitos envolvidos nessa questão resolveram decidir que educação ambiental é orientar para se fazer reciclagem, outros que educação ambiental é cuidar e tratar do lixo, outros ainda assumiram que a Educação Ambiental é despoluir as águas e conservar a natureza e vai por aí afora, porém ninguém produziu um mecanismo suficientemente abrangente para estabelecer um bom programa educacional. Em suma, cada um vê a Educação Ambiental daquela forma que quer ver ou daquela forma que acha mais significativa e importante, mas sempre com um olhar sectário e caolha da realidade maior a sua volta. Desta maneira a Educação Ambiental segue sendo um ideal a ser atingido, mas que ainda está bastante longe da realidade necessária. De certa forma, todos estão parcialmente certos, mas por limitarem o foco, também acabam estando grandemente errados, porque a Educação Ambiental não pode ser dirigida diretamente a esse ou aquele aspecto, ela deve ser abrangente e globalizante. As ideias por trás das práticas educativas devem ser ampliadas, ainda que as ações e a eficácia devam ser localizadas. A Educação Ambiental precisa ser trabalhada dentro de um conceito mais amplo, numa visão mais generalista, de acordo com os padrões precípuos da sustentabilidade. Os aspectos considerados são importantes, mas só podem fazer sentido se forem avaliados dentro de um contexto geral, que envolve todos concomitantemente, ou que os individualizem na temática, mas globalizem nas ações a serem postas em prática, considerando todas as três vertentes fundamentais da sustentabilidade (ambiental, social e econômico), obviamente priorizando a temática (o viés) ambiental do referido tripé. Entretanto, na maioria das vezes, não é isso que tem acontecido, porque cada aspecto considerado é individualizado e especificado para determinada questão e isso não alcança os objetivos maiores propostos na Educação Ambiental. Assim, os temas a serem tratados podem ser boas premissas como enfoques principais, mas precisam ser considerados no seu todo e nas suas relações com as demais questões ambientais e não serem isolados e tratados separadamente. Além disso, também é fundamental que as questões a serem trabalhadas pela Educação Ambiental digam respeito à realidade próxima do grupo envolvido. Não adianta tentar trabalhar Educação Ambiental fora da realidade próxima e imediata da comunidade, porque desse jeito não vai haver percepção real. A contextualização é preponderante para que o entendimento daquilo que se quer demonstrar seja efetivamente alcançado. A ordem a ser priorizada deve seguir o seguinte sequencial: primeiro a realidade contingente do local, depois a realidade próxima do regional e por fim, a realidade intencional do estadual, do nacional, do internacional e do global (planetário). A Educação Ambiental também tem que ser produzida a partir dessa premissa, isto é, quanto mais próximo do local em que se está, mais interessante, mais oportuno e principalmente mais prioritário. Os grandes problemas planetários começam a ser resolvidos por cada um de nós, na nossa própria casa, ou seja, no lugar mais próximo, dentro daquela máxima que diz: “pensar globalmente, agindo localmente”. Chega de pensar numa Educação Ambiental imaginária, irreal e para outro mundo. É preciso pensar, trazer e fazer uma Educação Ambiental para dentro da realidade cotidiana que se vive. Nossa região é o Vale do Paraíba e aqui estão as nossas cidades e nossas comunidades, então esses devem ser os nossos norteadores da Educação Ambiental que precisa ser desenvolvida. Nossos problemas prioritários dizem respeito às nossas necessidades imediatas e não se trata de puro egoísmo, mas sim da real manifestação daquilo que é preciso resolver em primeiro plano, para garantir o verdadeiro envolvimento com as questões ambientais e tratar essas questões dentro das possibilidades situacionais que podem ser verdadeiramente operadas na região. Até porque em regiões diferentes da nossa, existem condições diferentes e obviamente as soluções possíveis também tenderão a ser bem diferentes. Assim, apenas o contexto real poderá lançar luz efetiva sobre a necessidade devida da Educação Ambiental a ser ensinada no local. As soluções são locais e por isso mesmo, as orientações também têm que ser locais. Não posso me preocupar com os problemas dos outros, por mais importantes que eles possam ser, enquanto os meus problemas não estiverem resolvidos. É uma grande utopia, um sonho, achar que a minha preocupação resolve qualquer problema longe de mim. Contextualizar é exatamente o contrário disso, ou seja, contextualizar é trazer para si próprio o problema e buscar a solução a partir das condições ambientais externas e internas do próprio problema, sem qualquer importação de valores e outras condicionantes. É claro que grande parte dos modelos existentes conhecidos e que são aleatoriamente aplicados sempre poderão ser úteis, mas na maioria das vezes eles não serão aplicáveis “in loco”, até porque são modelos e não podem ser verdades absolutas. Obviamente os modelos devem sim ser considerados, mas mudar o meio para adequar o modelo é uma tarefa irrisória e idiotizante, porque certamente isso não vai permitir resolver o problema. A solução está exatamente na postura contrária, isto é, deve ser adequada ao meio para começar a funcionar. Além do mais, transferir a mudança do meio para a adequação do modelo, sobretudo é artificial e antiecológica. Desta maneira não pode ser identificada em essência como Educação Ambiental. Pois então, até aqui o muito que se viu da Educação Ambiental foi exatamente isso: alguém propunha um modelo e todos repetiam aquele modelo em diferentes lugares. Ora isso, salvo melhor juízo, não pode ser considerado como Educação Ambiental, isso, quando muito é aplicação de modelos genéricos para Educação Ambiental, o que, na maioria das vezes, é extremamente artificial. O Meio Ambiente não é como a Matemática que eu posso teorizar para qualquer lugar ou situação. O Meio Ambiente é muito diverso e infelizmente não existem padrões totalmente aplicáveis.  Assim, é preciso que sejam construídos modelos locais, que identifiquem e interpretem as situações próximas e permitam solucionar problemas intrínsecos a esses mesmos locais, para se possa fazer Educação Ambiental de fato.   CONCEITOS AMBIENTAIS Na área do Meio Ambiente, como em qualquer área, existem muitos conceitos genéricos aplicáveis, entretanto é preciso que se dimensione exatamente a abrangência daquilo que se quer operacionalizar. Por exemplo, aqui no Vale do Paraíba existe uma questão que afeta a todos os envolvidos na região e até mesmo fora dela, que é a situação da água da Bacia Hidrográfica. Sendo assim, obviamente é necessário e interessante se trabalhar com os conceitos de Bacia Hidrográfica, de Ecossistema Hídrico Limnológico, com o conceito de ambientes lóticos e lênticos. Enfim, há várias terminologias que precisamos ter em mente e aplicar no interesse da Educação Ambiental para a região. Entretanto, não são apenas esses os conceitos que podem interessar, porque muitas vezes a questão local transcende a questão regional, fazendo com que a terminologia seja outra e outros conceitos adicionais sejam necessários. O Meio Ambiente é uma espécie de caixa preta que o homem ainda não conseguiu entender na sua plenitude. Na verdade, o homem tem apenas uma vaga ideia de algumas coisas, mas não conhece a maioria das verdades ambientais próximas, principalmente num país com diversidade geológica, biológica e cultural que o Brasil possui. Aqui no Brasil, nós ainda não somos capazes de identificar grande parte das espécies a nossa volta, quanto mais saber exatamente as respostas que elas poderão dar às diferentes situações naturais ou artificiais produzidas e muito menos nos casos de mudanças ambientais, os quais, infelizmente, têm sido cada vez mais comuns. Muitos conceitos ambientais regionais e particularmente locais, ainda terão que ser construídos, definidos, entendidos e por fim popularizados a partir de suas ideias genéricas, para que a população tome ciência e consciência exata daquilo que possui, daquilo que existe à sua volta e de como deve proceder no seu interesse próximo para garantir que aquilo continue existindo. As noções de bem natural, de patrimônio ambiental e de manejo ambiental ainda estão muito distantes da realidade próxima das pessoas nas diferentes comunidades e enquanto for assim não será possível falar em Educação Ambiental efetiva. É preciso que as pessoas saiam do empirismo e do continuísmo sociológico no uso dos recursos naturais e que se apropriem conscientemente desses recursos, inclusive e principalmente considerando a finitude desses recursos. Para que isso ocorra, a noção de patrimônio ambiental e sua transformação em recurso e ainda a maneira de utilizar esse mesmo recurso, têm que ser noções precípuas que a Educação Ambiental necessita produzir e orientar nas diferentes comunidades. Outro aspecto a ser considerado no que diz respeito aos conceitos ambientais é aquele que se relaciona com o próprio conceito ambiental em si. Nos ecossistemas antrópicos, essa é uma falha extremamente comum, quando se pensa em Educação Ambiental, porque o homem muda as condições de acordo com seus interesses particulares e os demais, inclusive os demais humanos que partilhem o ambiente em questão, que se danem. A Educação Ambiental precisa considerar essa questão dentro do modelo educacional que se quer propor naquele momento ou situação. Por exemplo, se o meu negócio é gado e se o seu é horta, nós não temos os mesmos requisitos básicos quanto a qualidade de alguns recursos naturais. De repente, o que é poluição hídrica para uma comunidade pode ser uma condição natural essencial para outra comunidade. Essas situações têm que ser pensadas e esclarecidas pela Educação Ambiental com toda a parcimônia necessária, considerando a relação de custo e benefício ambiental, social e econômico. Obviamente, essa não é uma tarefa simples, entretanto existe grande necessidade de sua consideração, se é que se quer mesmo fazer Educação Ambiental. Veja por exemplo, a água tratada que serve as populações humanas, esse tipo de água não presta para ser utilizada por determinados tipos de organismos vivos, porque o tratamento que é vital para os humanos, pode tornar essa água tóxica para outros organismos. Por outro lado, algumas vezes acontece o contrário, os agrotóxicos que um fazendeiro usa na sua plantação, pode ser vital para suas plantas, mas certamente será letal para os humanos que por ventura tenham contato estrito com essa material. Assim, como já foi dito, é preciso que sejam estabelecidos alguns critérios de prioridade. A situação é realmente bastante complexa e fica mais conflitante ainda quando se considera que infeliz e lamentavelmente, embora o patrimônio natural seja de todos, os recursos naturais “pertencem” a alguns proprietários que tem esse ou aquele interesse e aí já se está falando de sociedade, de relacionamento interpessoal e de economia. Nessas alturas, na maioria das comunidades, o Meio Ambiente e a Educação Ambiental passam para um plano inferior, mas a situação não pode continuar sendo assim, se é que existe pretensão real em fazer Educação Ambiental. Ora, se não houver concordância no mecanismo de exploração do patrimônio e no uso dos recursos naturais, obviamente não haverá bom relacionamento social e muito haverá vantagens econômicas compatíveis para todos os envolvidos. É por isso que as questões ambientais têm que ser tratadas com visão sustentável e generalizada, considerando todos os problemas possíveis e também é por isso que o Meio Ambiente tem que ser a base principal do tripé da sustentabilidade. Se não houver recurso, não há sociedade organizada e não há lucro econômico. Em suma, tudo pode ficar insustentável e ruir se o Meio Ambiente ruir. A Educação Ambiental tem que estar concatenada com essa situação, pois do contrário não existirá Educação Ambiental de fato e assim, o problema continuará não sendo entendido e muito menos resolvido.   CONTEXTUALIZAÇÃO Considerando que existe consenso sobre o tamanho do problema que é a necessidade de construir um efetivo trabalho de Educação Ambiental, agora vem o que acabaria sendo mais simples, isto é, trazer à realidade daquilo que se quer demonstrar para uma condição tangível e verdadeira para os aprendizes. A contextualização deveria ser a parte mais fácil, desde que as demais condições estejam estabelecidas a contento. Quer dizer, depois que se tem a verdadeira dimensão do local, das suas possibilidades, das suas necessidades e das suas aplicações e ainda depois que se sabe exatamente aquilo que se quer dispor ou degradar para adquirir lucro com os recursos daquele lugar, aí é que a gente deveria contextualizar as diferentes situações possíveis. O problema é que historicamente os processos foram atropelados e as coisas quase nunca aconteceram dentro dos princípios que se tentou demonstrar aqui nesse ensaio como sendo os mecanismos corretos de ação, de ocupação e principalmente de uso dos recursos oriundos do patrimônio natural. Infelizmente os ambientes foram usurpados, ocupados e explorados indevidamente sem nenhum critério e sem nenhuma parcimônia. Mas, por outro lado, Educação Ambiental exige que os acontecimentos se deem dentro de padrões que priorizem a utilização e manutenção do patrimônio natural dentro de preceitos claros. O patrimônio natural só pode ser transformado em recurso natural dentro de critérios muito bem estabelecidos, para que o não haja dana significativo ao patrimônio e que seja garantida a sustentabilidade do Meio Ambiente e a continuidade dos recursos e da comunidade. Ou seja, que seja garantida a manutenção daquele mecanismo que gera o uso do patrimônio como recurso, ao longo das gerações, produzindo condições sociais e econômicas, mas sem o comprometimento integral daquilo que se fez recurso e também sem que haja uma degradação do local onde se explora a atividade. A degradação não é só do recurso, mas é do ambiente como um todo. Na verdade, quando se explora algo, se compromete todo o local (ambiente) onde esse algo se encontra. A Educação Ambiental tem que estar atenta a esse detalhe e tem que ser capaz de demonstrar que isso é um fato e também deve tentar transformar esse fato numa forma menos degradante possível, por isso há que procurar as, já citadas, alternativas locais para a resolução dos problemas. Os materiais explorados devem mesmo ser explorados? Essa é uma questão que muitos jamais aceitarão que a resposta possa ser não. Entretanto, cabe a Educação Ambiental permitir a interpretação real dessa possibilidade e produzir mecanismos que façam os envolvidos entenderem essa necessidade ambiental, porque esse é o contexto real que se estar vivendo. Aqui se chegou numa condição de verdadeira contextualização que desagrada e aí como se resolve o problema? Como eu disse no início contextualizar é fácil, o que é difícil é aceitar aquilo que a contextualização pode pedir para que se faça. Muitas vezes a Educação Ambiental deixa de ser interessante e assim, sempre é possível se dar um “jeitinho” para agradar a quem quer que seja e o patrimônio ambiental que se lasque. A sustentabilidade que se exploda, pois o ambiente não vai ser protegido, a sociedade não vai deixar de fazer o que sempre fez e a economia não pode parar de crescer. É aquele velho sonho absurdo do crescimento ilimitado num planeta limitado. Isso é impossível e a Educação Ambiental tem que demonstrar esse fato a todos os envolvidos pelas diferentes situações! É preciso entender que não há como manter crescimento eterno e a sociedade e a economia precisam estar prontas para isso, porque o Meio Ambiente já está ciente de que não dá mais. A Educação Ambiental precisa informar e caracterizar isso. A Terra está gritando por socorro das ações humanas e a Educação Ambiental tem que demonstrar essa verdade. A pergunta que fica é a seguinte: será que vai se querer mesmo contextualizar a Educação Ambiental?   REGIONALIZAÇÃO Ainda que já tenha sido dito, que não se pode partir de situações específicas para fazer Educação Ambiental, é preciso que se concorde que há necessidade de algum ponto de partida para que a prática da Educação Ambiental possa se estabelecer. Por outro lado, como também já foi dito, é fundamental que aquilo que se trabalha tenha a ver com a realidade próxima e nada é mais próximo do que aquilo que acontece localmente. Desta maneira, se existir algum aspecto que seja local e que, por contingência geopolítica ou mesmo situacional também seja regional, esse aspecto deve ser priorizado e considerado como possuidor de uma forte capacidade de interesse comunitário e consequentemente de grande contextualização. Aqui na região existem vários aspectos que podem se enquadrar nessa condição de local, com interesse regional e facilmente contextualizado para a Educação Ambiental. O principal desses aspectos certamente é o Rio Paraíba do Sul, que empresta o nome e atravessa toda a região e, por isso mesmo, acaba sendo o elo comum a todos e um fator preponderante à região como um todo. O Rio Paraíba do Sul e toda a sua Bacia Hidrográfica, certamente têm mais detalhes regionais em comum do que contrastantes, embora esses também existam. Assim, talvez as questões hídricas possam e devam ser o ponto de partida para um estudo ou mesmo para um programa básico de Educação Ambiental regional. Vejam bem, não vai aqui qualquer referência sobre esse ou aquele pedaço do rio, mas sim sobre a sua importância que é comum a todos, porque suas águas é que atendem direta ou indiretamente às necessidades regionais. O Rio Paraíba do Sul integra e qualifica interesses regionais e assim se apresenta como uma das características mais importantes no interesse de toda a coletividade da região. Ele está em todas as comunidades e mais, todas as comunidades dependem direta ou indiretamente dele. O Rio Paraíba do Sul é, por assim dizer, um ícone capaz de definir aspectos locais e regionais, além de ser forte indicador de como proceder para garantir a qualidade ambiental regional. Quer dizer, o Rio Paraíba do Sul é sim um excelente parâmetro para servir de base a qualquer projeto de Educação Ambiental na região do Vale do Paraíba, haja vista que de uma forma ou de outra, ele interessa e participa na vida de todas as comunidades locais, que compõem a população da região como um todo. Outros dois bons aspectos para definir padrões peculiares e desenvolver programas e projetos de Educação Ambiental na região são a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, que abrigam formas vivas de grande biodiversidade, riquezas geomorfológicas e belezas cênicas incomparáveis. Ambas acompanham e margeiam de cima, lá do alto, o Rio Paraíba do Sul e toda a região. Assim, essas serras, de alguma forma, também estão associadas direta ou indiretamente a quase todos os municípios, porque derramam seus nutrientes diretamente em alguns deles. Suas realidades geomorfológicas também são bem parecidas e ambas guardam peculiaridades históricas bastante semelhantes. Ou seja, ambas as serras são fatores comuns de interesse regional, mas que também apresentam importância local em grande parte dos municípios da região. Enfim, além desses, existem vários outros aspectos que depois de muito bem trabalhados, podem servir de ponto de origem para demonstrar o que deve ser feito com a região do Vale do Paraíba e em cada um dos seus municípios, usando, preservando e também mantendo as condições básicas e fundamentais da região como um todo. Qualquer programa ou projeto de Educação Ambiental a ser desenvolvido e implantado no Vale do Paraíba tem que partir desses tipos generalizados de aspectos ou, pelo menos, de um pressuposto integrador que reúna todas as características que aglutinam a região como uma unidade, apesar das individualidades específicas e das diferenças notórias.   CONCLUSÃO Pois então, a situação de fazer Educação Ambiental não é tão simples quanto aparentemente se gostaria que fosse, porque na verdade existe uma grande montanha de questões que se contrapõem à Educação Ambiental. Até aqui o que tem sido feito, como foi dito no início é apenas “perfumaria”, os problemas são muito mais profundos e suas possíveis soluções são muito mais drásticas e conturbadoras do que alguns pensam. Tratar de Educação Ambiental com seriedade vai envolver uma gama muito maior de argumentos e de dispositivos que possam justificar as ações e além disso, vai necessitar de muita vontade política de quem administra e de quem acredita “ser dono” de alguns produtos naturais. O patrimônio natural é do planeta e não do homem e o planeta deve ser a prioridade máxima na questão da Educação Ambiental, mas não se pode ter dois pesos e duas medidas na hora de decidir sobre como proceder. O Meio Ambiente SEMPRE deve estar em primeiro lugar, porque somente o que for bom para o ambiente poderá ser bom para toda a sociedade e poderá trazer avanços econômicos reais até um determinado limite, o qual também SEMPRE será imposto pelo próprio Meio Ambiente. A Educação Ambiental de verdade deverá contemplar claramente o que está aqui proposto, porque do contrário ela será mera falácia sobre o Meio Ambiente, sem nenhuma vinculação efetiva com a realidade que precisa existir. O ser humano é a espécie mais dependente do planeta e do patrimônio natural, mas usurpou a Terra sem nenhum cuidado e agora está na hora de se preparar para tratar o planeta como ele merece, porque começou a entender o óbvio. Somente uma Educação Ambiental coerente e verdadeira, sem falsas alternativas, poderá mudar o comportamento humano e conduzir a humanidade um pouco mais à frente. Do contrário a espécie humana está fadada a extinção prematura. Somente uma vivência com implicação direta na sustentabilidade poderá conduzir a humanidade para um futuro um pouco mais longínquo. A Educação Ambiental regionalizada é exatamente o caminho metodológico que poderá permitir que isso aconteça dentro de padrões convincentes e esclarecedores, porque esta é a única maneira objetiva de envolver toda a comunidade na questão ambiental e assim fazer com que haja um efetivo interesse na resolução dos problemas ambientais, locais, regionais, estaduais, nacionais, internacionais e globais.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (61) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.

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27 out 2017

Chega de tanta baboseira na Escola

Resumo: Nesse texto em que tento comemorar mais um 15 de outubro, venho chamar a atenção do pessoal ligado às escolas e a população brasileira como um todo da necessidade de que sejam estabelecidos limites e regras para o que estão querendo colocar atualmente dentro das escolas brasileiras para doutrinação da sociedade. É preciso que a sociedade brasileira fique atenta aos absurdos que estão tentando estabelecer como regras para as escolas desse país.


 

Chega de tanta baboseira na Escola**

Neste 15 de outubro, quero chamar a atenção para a figura do professor como indivíduo inserido na sua Comunidade e na Sociedade como um todo. Estamos vivendo momentos pouco interessantes de discussões fúteis que têm procurado mudar o foco da Educação para outros objetivos menos nobres e nada importantes, com o pretexto de estabelecer discussões político-sociais de relevância duvidosa, as quais também não fazem o mínimo significado dentro de uma escola, como instituição de ensino e de educação. Estou me referindo a esse emaranhado de baboseiras sobre ideologia de gênero, escola sem partido, homofobia, racismo, chauvinismo, machismo, empoderamento feminino e outras babaquices de menor importância sociológica e sem importância nenhuma dentro da escola que têm sido muito faladas atualmente.

Aliás, antes que me critiquem, deixem eu primeiramente me defender. Entendo que a escola é um local importante para a formação cidadã, mas não de imposição programada de pensamentos e filosofias particulares. É na escola que se deve conhecer as coisas, mas não é na escola que se deve ser dirigido a esse ou aquele caminho, sobre essa ou aquela coisa.  Essa mania desses sujeitos da pseudoesquerda brasileira que anda por aí desorientada, querendo condicionar a população em geral na ideia de que as pessoas que não pensam como elas querem que pensem, não podem e, o que é pior, não devem existir. Isso mesmo não devem existir, pois alguns desses sujeitos chegam mesmo a sugerir a morte dos que pensam de maneira diferente deles. Infelizmente a maioria desse pessoal é que não parece ser capaz de pensar, pois sequer tem parado para refletir sobre algumas dessas posturas radicais, violentas e agressivas que têm constantemente conduzido, em prol de questões menores e, com o agravo de estar relacionando tudo isso com a escola e com a educação.

Ora, vamos ser francos, esse povo não sabe, de fato, o que é educação, até porque votou no safado do Lula e em seus seguidores, que sempre foram avessos ao tema educação, pois se gabam de nunca terem estudado e mesmo assim terem conseguido chegar ao poder. Talvez seja por isso mesmo que tenham feito tanto mal ao país e ao povo brasileiro, como estamos descobrindo cotidianamente. Mas, vamos deixar isso de lado, voltar ao nosso assunto presente e seguir em frente.

Daqui para frente, vou pontuar e discutir a respeito de meu pensamento pessoal sobre determinados aspectos referentes a alguns dos temas citados acima. Se achar que devem, me processem, mas acho que ainda tenho direito de pensar e como educador, tenho a obrigação de dizer aquilo que penso. O que não posso, não devo e não quero, como educador, é fazer proselitismo de minhas ideias, tentando fazer delas regras, mas, posso e devo sim, falar sobre elas e emitir minhas opiniões.

Com relação a Homofobia, realmente não dá para dizer que não existam pessoas que sejam lamentável e efetivamente homofóbicas, porque isso é um fato, embora triste, mais que comprovado. Entretanto, será que é na escola que surge esse sentimento absurdo ou é a própria sociedade que impõe essa questão? Eu tenho certeza que não é na escola que isso se origina. A meu ver, essa questão transcende e muito, aos limites da escola.

Vejam bem, na comunidade escola, as pessoas envolvidas, ou seja, os alunos, os professores e os funcionários, devem viver e conviver, independentemente da escolha sexual que tenham e isso, a meu ver acontece muito bem. Não creio que a escola seja o foco principal da Homofobia, até porque, dependendo da faixa etária, essa questão ainda é pouco entendida pelos próprios estudantes e não há porque fazer barulho, nem dar qualquer destaque a esse fato, já que ele é um ilustre desconhecido da maioria, ou seja, os alunos.

Na escola, só se deve dar destaque àquilo que é importante para os alunos e para a educação deles. Penso que está questão da Homofobia é uma condição lamentável e que infelizmente é comum para muito humanos, mas a comunidade escola aceita e supera muito bem as opções sexuais de quem quer que seja dentro de sua comunidade. Em suma, dentro das escolas Homofobia não existe e, se não existe, não pode ser considerada como um problema. A opção sexual de cada um é um problema de cada um e não da escola ou da educação escolar.

Já a Ideologia de gênero, esse sim é um absurdo sem tamanho, que foi criado apenas para traduzir anseios de algumas pessoas com problemas de ajustes psicossociais em função de seus interesses e afinidades sexuais. Para começar é melhor lembrar que eu já procurei deixar claro, na questão anterior que não sou contra nenhuma posição sexual de quem quer que seja. Entretanto, devo dizer que é fundamental entendermos que a nossa espécie pertence ao gênero Homo, que resolvemos traduzir como Gênero Humano e que não existe outro gênero e nem espécies de humanos. No passado até existiram outras espécies, mas atualmente somos uma única espécie humana, denominada de Homo sapiens.

Agora, por outro lado, também é preciso ser entendido que todas as espécies que compuseram o gênero humano, inclusive a espécie atual, é composta de indivíduos de sexos separados, isto é, somos uma espécie dioica, (unissexuada), onde os indivíduos possuem individualmente apenas e tão somente um único sexo, dos dois sexos que existem na natureza: o sexo masculino (homem) ou o sexo feminino (mulher). Na natureza também existem espécies Monoicas (Hermafroditas), em que um indivíduo possui os dois sexos, mas essa situação efetivamente não existe nos seres humanos. Podem ocorrer até casos de pseudo-hermafroditismo masculino ou feminino, porém, mesmo assim o sexo fisiológico nos humanos é apenas um, masculino ou feminino. Assim, a condição dioica representada é a única possível e aceitável para a espécie humana, biologicamente falando. Entretanto, agora estão querendo contrariar a Biologia, criando situações intermediárias biologicamente inexistentes. Desculpem-me pelo pleonasmo e pela redundância, mas, ao meu ver, ambos são extremamente necessários para o entendimento dessa questão.

Na verdade, penso que estão confundindo opção sexual, com gênero e com sexo e, a partir disso, estão criando uma série de absurdos e incoerências, as quais ficam mais violentas e desagradáveis quando querem enfiar isso goela abaixo das demais pessoas. E tudo fica mais violento ainda, quando se quer que isso seja discutido dentro das escolas, porque muitos insistem que essa é uma questão de educação, o que certamente não é verdade. Essa é uma questão que está mais para um erro conceitual ou para uma desvirtualização intencionada da verdade, a fim de defender questões ideológicas desconexas e justificar os padrões de comportamento antibiológico que se quer inserir por força na sociedade.

Vejam bem, eu não estou querendo dizer que não existam modificações psíquico-sociais fora do padrão biológico básico, o que estou dizendo é que não se pode querer enquadrar essas situações diferentes como regras. Obviamente existem pessoas que têm um sexo biológico e um sexo mental (psíquico-social) diferente, mas de qualquer maneira essas pessoas sempre são, biológica e primariamente, masculinas ou femininas, não tem como ser diferente, à luz da Biologia. Nenhum homem que tenha sexo psíquico feminino vai poder biologicamente ser mãe, assim como nenhuma mulher que tenha sexo psíquico masculino vai poder ser pai. Essa é uma verdade biológica e natural que derruba e transcende qualquer tentativa de conceituação artificializada sobre essa questão.

Na aula de Biologia se aprenderá sempre Biologia e na aula de Sociologia se aprenderá sempre Sociologia, mas ninguém deverá discutir questões de ordem ou de interesse pessoal, porque assim a escola estará fugindo ao seu propósito precípuo, qual seja a educação e o ensino coletivo e comunitário. Desta maneira, questões sócio-políticas, de interesse pessoal, não devem ser tratadas direta e abertamente na escola, mormente no nível fundamental do ensino como querem alguns e muito menos devem ser intermediadas como sendo questões de interesse prioritários à sociedade, que certamente não são. A sociedade tem coisas mais importantes com que se preocupar, independentemente das novelas da rede globo e dos interesses pessoais de alguns indivíduos.

Essa questão de ideologia de gênero também não é um problema das escolas, mas é um problema que algumas pessoas tem e que alguns mal-intencionados estão tentando levar para as escolas, a fim de aflorar primariamente a sexualidade das crianças, para ganhar mais apoio e tentar justificar a incoerência daquilo que tentam defender e isso sim é que deve ser tratado com atenção por parte da sociedade e da justiça.

Outra questão absurda é a tal da “escola sem partido”, expressão que em si mesma acaba sendo um pleonasmo, porque de fato nenhuma escola é, nem pode ser vinculada diretamente a qualquer partido. A escola necessariamente tem que ser livre e isenta. Quando alguém fala em “escola sem partido”, na verdade está querendo dizer “escola sem doutrinação ideológica”, como aliás, também deve ser qualquer escola. Isto é, sem tentar impor filosofia de gênero, homofobia, racismo ou outro tipo qualquer de orientação para um fim definido.

Pois então, da mesma maneira que ninguém quer que seu filho seja orientado incorretamente a cometer um crime, também ninguém quer que seu filho seja instigado a seguir tal conduta, condição ou partido político. Dessa forma, toda escola tem que ser efetivamente sem partido e sem doutrinação ideológica, para continuar sendo uma escola de fato e de direito. Por isso mesmo, essas coisas também não devem e nem podem ser discutidas com as crianças nas escolas.

O Racismo é outra questão que o homem poderia acabar se apenas observasse o que acontece no comportamento animal e não precisaria fazer uso das escolas para discutir essa questão. Imagine que existe uma onça albina, uma onça pigmentada, com sua coloração mais comum, e uma onça negra. Agora, por favor, pare de imaginar, porque isso é um fato que existe mesmo e podem acreditar: nenhuma onça se sente mais ou menos onça do que outra apenas por ter uma coloração diferente.

É simples para as onças e deve ser simples também para os humanos, basta querer entender que a coloração é um aspecto desenvolvido por adaptação ambiental ao longo da evolução de nossa espécie, mas como nossa espécie transcendeu os limites das barreiras geográficas e culturais que separavam os grupos, a mistura se estabeleceu entre as diferentes raças humanas e a coloração, que nunca teve, passou a ter menos sentido diferencial ainda entre os humanos. É bom lembrar que esse fato também aconteceu com outros aspectos morfológicos, fisiológicos e até mesmo com algumas características culturais.

Meus amigos, esse tipo de situação ocorre tanto com onças, quanto com homens e obviamente com quaisquer outros animais. O Racismo é uma aberração da mente de alguns humanos, que além de não fazer sentido social, também não faz qualquer sentido biológico e não pode ser fator de relevância numa escola.

O Chauvinismo também é um outro aspecto que para muitos deve ser tratado na escola e eu penso que não deva, exatamente porque o patriotismo é fundamental e a escola deve ensinar sim, mas a exacerbação do patriotismo ou de outra causa qualquer, como alguns grupos tem se tentado inserir, não é fundamento da escola e muito menos motivo de educação. Aliás, talvez seja de deseducação, de fanatismo e de irresponsabilidade civil. Não se pode discutir, por exemplo, o erro do nazismo propondo um outro modelo semelhante. A escola deve informar, mas não pode tomar partido para esse ou para aquele aspecto. Qualquer defesa insistente, forçada, abusiva e tendenciosa de qualquer argumento específico não cabe ser discutida na escola

O Machismo é uma maneira infeliz que alguns idiotas ainda têm, de achar que o homem é o representante do sexo superior da espécie, isto é, que o sexo masculino é mais importante que o feminino e por isso mesmo, deve ter mais poderes. Lamentavelmente ainda existem países e culturas que alimentam essa idiotice. Nos últimos anos as mulheres puderam, por si sós, demonstrar que esse tipo de pensamento, além de ser um grave preconceito, é também uma grande besteira e se existe alguém que ainda pense desse maneira em nossa sociedade, isso é motivo de ação criminal e não de aprendizado escolar.

Entretanto, em contra partida ao machismo, uma das expressões que mais se escuta atualmente é “o empoderamento feminino”, como se a mulher precisasse de poder para demonstrar o que efetivamente é, ou seja, que é um ser humano, assim como o homem, dotado de todos os mesmos predicados.  Não existe esse tal “empoderamento feminino”, existe sim as mulheres e homens que fazem e aqueles que não fazem a diferença. A escola deve tratar as pessoas como pessoas, independentemente do sexo.

Ora, se eu não se quer falar de machismo, também não se deve falar de empoderamento feminino, porque essas duas coisas se equivalem na essência e uma é tão preconceituosa quanto a outra. Na verdade, o que existe é o ser humano, que é representado indistintamente pelo homem e pela mulher, todo o resto é balela e discussão sem fundamento. É preciso pensar sim em justiça social, mas não em tratamento sexual diferenciado da sociedade e da justiça para os dois sexos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelecidos pela ONU em 1948, que vai fazer 70 anos no ano que vem, já estabeleceu os critérios fundamentais de igualdade entre todos os humanos independentemente de sexo, raça, origem e se há concordância com a declaração, então não existe necessidade de se ficar rediscutindo sobre essas coisas, basta apenas se seguir o que está estabelecido. Agora, para quem não está em concordância com a declaração, aí é que talvez haja necessidade de propor mudanças. Mas, as escolas também não são os lugares devidos para manifestar diretamente essas propostas particulares de mudanças.

Bem, enfim, vou ficar por aqui, até porque acho que já fui muito repetitivo. Pois então, a escola não é o local prioritário e devido para se discutir sobre questões já estabelecidas e ajustadas na sociedade. A escola é o local primário de educação, cultura, ensino e aprendizado, qualquer outra discussão deve ter caráter apenas informativo, principalmente quando se trata com crianças e jovens, que estão na escola para aprender sobre as matérias escolares e não para serem adestrados sobre ideologias. Enquanto continuarmos fazendo da escola mais um motivo para discussões políticas, nossas crianças ficarão cada vez mais confusas e serão sempre mais incapazes do que as crianças de outros países, que vão à escola apenas para estudar e aprender. Questões outras, que fogem ao foco educacional não têm, de maneira nenhuma, que ser inserida na formação de nossos jovens por via escolar.

O mal cidadão, que lamentavelmente cada vez mais se vivifica em nosso país, certamente é fruto desse absurdo que se criou, de tentar confundir escola com centro político e de agir para transformar as escolas em bases eleitorais do partido “A” ou do partido “B”. O coronelismo dos guetos do poder, tradicional em algumas regiões desse país e que foi tão combatido no passado, parece que agora está migrando para dentro das escolas com nova maquiagem e até parece que hoje muitos não estão mais querendo combater essa forma drástica de transgressão da liberdade humana. O pior de tudo é que os grupos interessados nessa maquiagem estão usando as crianças e os jovens, dentro das escolas, tristemente com o apoio de alguns “professores”, que acabam servindo como massa de manobra dos interesses mais mesquinhos e promíscuos.

Senhores Professores, nesse 15 de outubro deem um basta a esses absurdos que estão criando e dizendo por aí, voltemos a fazer das escolas um lugar de aprendizagem intelectual e não de discussão política de baixo nível, para defender os interesses de qualquer grupo social ou de quem quer que seja. A grande maioria das escolas, particularmente as escolas públicas, se transformaram em antros perniciosos exatamente por conta disso. A mistura proposital e a confusão conceitual entre o certo e o errado, entre cidadão de bem e o bandido, prospectada por essas discussões absurdas fizeram da escola essa balbúrdia progressiva e essa desordem catastrófica. Esse fato tem que ser combatido e contido o mais rápido possível. É preciso voltar as ações para tentar colocar a educação novamente nos eixos.

A escola necessita urgentemente ser escola outra vez, para que o país possa começar a sair do atoleiro em que se meteu. Isso só será possível se abolirmos de uma vez por todas certas questões perniciosas que só comprometem a escola e a qualidade do processo de ensino-aprendizagem como um todo.

Meus amigos, pensem nisso e ajam proativamente contra essa situação, se quiserem, como eu, um Brasil melhor no futuro, porque do contrário infelizmente continuaremos andando para trás e sendo motivo de chacota do resto do mundo. Por favor, reflitam profundamente sobre essas questões e para aqueles, que como eu, ainda têm lutado bastante pelas escolas desse país, porque ainda acreditam no Brasil e na educação como principal fonte de solução dos nossos problemas, deixo aqui o meu desejo verdadeiro de um Feliz Dia dos Professores.

 Luiz Eduardo Corrêa Lima **Discurso proferido no dia 13/10/2017, em comemoração ao dia dos professores.

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01 fev 2017

Por que a Educação não dá certo no Brasil?

Resumo: Nesse artigo faço a enumeração de uma série de itens sobre a educação, sobre os quais a gente ouve citações todos os dias e que são as principais causas dos grandes problemas educacionais do Brasil. Tento demonstrar que esses problemas, além de inexistentes e inverídicos, também não podem ser considerados como causas reais para justificar o mal desempenho da educação brasileira. Ao final, ainda proponho que todos os brasileiros se envolvam na elaboração de um grande projeto nacional pela educação.


Por que a Educação não dá certo no Brasil?

Historicamente temos ouvido dizer que somente a Educação poderá dar jeito no Brasil. Aliás, essa é uma verdade universal, pois foi a educação que deu jeito em todos os países. Foi assim com Japão, foi assim com a Coréia, foi assim com a China, com a Austrália, com o Uruguai, ou seja, os países que deram certo é porque investiram diretamente na educação. Então, está claro para todos no mundo que: “sem educação não solução” e nós brasileiros já conhecemos há muito tempo esse velho jargão.

Entretanto, aqui no Brasil, existe um ranço e a Educação não consegue deslanchar de maneira nenhuma. A gente só ouve falar que “as escolas são ruins”, “os professores são mal formados”, “os alunos são desinteressados”, “os administradores não estão nem aí para a educação”, “o sistema é arcaico e não funciona” e outras coisas desse gênero. Isto é, coisas que informam e até tentam justificar, mas que não apontam diretamente e assim, não conseguem explicar absolutamente nada sobre o fato da educação brasileira ser muito ruim e está sempre colocada na rabeira nos rankings internacionais, mesmo em competições com a presença de países infinitamente inferiores ao Brasil em outros aspectos.

Caramba! Se sabemos que o jeito é a educação, então por que não damos jeito na educação do país? Por que, ao invés de ficarmos citando os mais diversos chavões e “identificando” alusivamente os mais diferentes culpados, não partimos TODOS, sim TODOS, para começar a resolução do problema?

Acho que a questão está exatamente aí, pois nenhum brasileiro se sente diretamente responsável pela falta generalizada de educação dos demais cidadãos brasileiros. Todo mundo reconhece o problema, mas ninguém se assume na condição de tentar resolvê-lo e muito menos, na obrigação de colocar a mão na massa para produzir uma solução definitiva. Por outro lado, sempre é mais fácil colocar a culpa no outro e assim a caravana segue e nada se faz.

Bem, vou aqui dar minha modesta opinião sobre o assunto e correr o risco de ser escrachado pelos leitores, mas eu sinto que alguém precisa colocar o dedo na ferida, então que seja eu, pois depois de mais de 40 anos trabalhando como professor, acredito que já posso falar qualquer coisa, sem me preocupar com o que desencadeará do meu comentário.

1 – Desde que a escola formal foi estabelecida no Brasil, sempre tivemos problemas e eles foram, a priori, sendo progressivamente resolvidos. É claro, por exemplo, que sempre tivemos muitos analfabetos e pessoas sem nenhuma formação, mas se esse número até cresceu em dado momento, isso foi por conta do crescimento da própria população e nunca houve incremento proporcional significativo da população de analfabetos. Ao contrário, proporcionalmente sempre diminuímos o índice de analfabetismo, mas obviamente também sempre estivemos muito longe daquilo que se deseja e se precisa, num país que pretende e certamente pode se estabelecer como uma potência mundial.

Nossa primeira constatação é que, apesar de tudo, em média a educação tem melhorado, mas precisa melhorar muito mais, para o país chegar aonde quer.

2 – Inúmeros projetos educacionais se estabeleceram tanto nas Leis de Diretrizes e bases da Educação Brasileira, desde a Reforma Capanema (Leis Orgânicas do Ensino de 1942 a 1946), passando pelas Leis 4024/1961, 5692/1971, pela atual Lei 9493/1996 e até mesmo pelo novo projeto que está sendo estabelecido. E devo dizer que, todas essas leis foram boas, embora logicamente longe de serem perfeitas, mas serviram, em tese, para melhorar um pouco o sistema educacional brasileiro, cada uma delas ao seu tempo.

Nossa segunda constatação é que o problema não está na ausência ou na carência de legislação, as quais tem sido bastante razoável ao longo da história do Brasil.

3 – Os recursos para a educação no país são imensos, se comparados a outros setores, pois a educação leva a maior parte da arrecadação, no mínimo 18% no nível federal e 25% nos níveis estadual e municipal do total. Ora, isso é muito dinheiro se for considerado que o Brasil oscila em torno da décima economia do mundo.

Nossa terceira constatação é que também não existe falta efetiva de recursos financeiros, pois o dinheiro disponível parece ser suficiente para todas as necessidades.

4 – Embora seja verdade que muitas de nossas escolas, principalmente, mas não exclusivamente, aquelas encontradas nas localidades mais pobres e mais afastadas dos grandes centros, são efetivamente ruins e não oferecem as condições infraestruturais mínimas necessárias ao bom andamento da educação e do ensino, por outro lado, também é fato que a maioria das nossas escolas está bem localizada, sendo construídas em prédios relativamente bons e apresentando uma infraestrutura bastante satisfatória. Talvez, existam alguns problemas de adequação interna, mas as necessidades mínimas podem ser saneadas e supridas se houver interesse efetivo.

Nossa quarta constatação é que as pretensas “escolas ruins”, não são a causa da má formação generalizada, porque a maioria das escolas efetivamente não é tão ruim assim, ainda que o cenário que se estabeleceu historicamente sobre o padrão dessas escolas tenha sido drástico.

5 – A formação dos professores no Brasil é realmente algo que ainda preocupa, porém preocupa muito mais pelo desinteresse dos jovens em seguir essa formação profissional por conta, principalmente dos salários irrisórios e desinteressantes. Infelizmente o Profissional da educação e do ensino, o Professor, passou a ser um profissional de segunda categoria. Se no passado, os bons estudantes é que seguiam para o magistério, hoje ocorre exatamente o contrário, porque os bons estudantes seguem outras profissões economicamente mais interessantes, fisicamente menos desgastantes e moralmente menos vexatórias. Entretanto as escolas que formam os professores, têm progressivamente atuado na ampliação de suas respectivas condições e mesmo a legislação que autoriza os cursos de licenciatura no país tem melhorado bastante e o nível do novo professorado só não é melhor, exatamente por conta quase exclusiva da carência do pessoal que resolve seguir a carreira. Mas, é claro que isso não é uma regra absoluta e obviamente existem inúmeras exceções e assim, ainda se formam bons professores.

Nossa quinta constatação é que a formação dos professores só não é melhor porque não há valorização profissional da carreira de professor e assim, na maioria das vezes, são os estudantes menos qualificados que acabam assumindo a função de Professor.

6 – Nos últimos anos os nossos diferentes governos têm sucessivamente promovido campanhas e mais campanhas pela melhoria da educação e aparentemente têm demostrado interesse em melhorar a condição brasileira no que se refere a esse quesito, tendo inclusive promovido inúmeros programas de bolsas e de financiamento para alunos, além de treinamento e aprimoramento de professores. Porém, os governos têm encontrado muita dificuldade no operacionamento das ações e do desenvolvimento dos projetos, haja vista que muito do que se investe é perdido na burocracia ou desviado por interesses outros e assim os recursos acabam não chegando corretamente no local onde deveriam chegar. Posso afirmar, sem medo de errar, que mais de 50% das verbas previamente destinadas para a Educação, nunca chegam no seu propósito final.

Nossa sexta constatação é que talvez não faltem recursos financeiros para a educação, o que falta realmente é o bom gerenciamento, a fiscalização e o acompanhamento do uso desses recursos destinados à educação.

7 – Os nossos alunos, como o nome diz, são alunos e como tal, deveriam ir as escolas preocupados em aprender e tenho certeza que a grande maioria, a seu modo obviamente, ainda pensa e age assim. Entretanto, o grande problema é que tiraram a autonomia do professor em sala de aula e o aluno tem poderes que o professor não tem, inclusive tendo muito mais direitos e autonomia que o próprio professor e aí fica difícil de controlar o ambiente sala de aula, como de resto toda a escola. Por conta disso mesmo, a escola passou a ser um ambiente nada propício a prática educacional e onde interesses outros passaram a ser prioritários em relação à educação e ao ensino. Se, por ventura, o professor reclama, ele é tachado como “criador de caso”, “despreparado”, “incapaz” e outras coisas semelhantes e dessa maneira, nada se resolve.

Nossa sétima constatação é que existe necessidade urgente de devolver a autoridade e a autonomia ao professor em sala de aula, para que a escola volte a ser o local da educação e do ensino, como ocorre em outros países e como era no passado, aqui mesmo no Brasil. Se o Professor continuar sendo limitado a condição de capacho de outros interesses extraescolares não haverá mais jeito para a educação.

8 – Os dirigentes educacionais são pessoas cada vez mais bem formadas e certamente não seria por culpa deles que e educação não deslancharia, entretanto eles precisam ouvir um pouco mais os professores e temer um pouco menos a estabilidade de seus cargos, os quais geralmente são políticos. Dirigente educacional tem que ser dirigente educacional e não afilhado político de quem quer que seja. Se a educação não for encarada de maneira clara e livre de outros interesses, jamais será uma educação que possa ser considerada efetiva. As ações educacionais e as políticas públicas educacionais têm que ser apenas e tão somente educacionais e devem estar totalmente desvinculadas de interesses políticos partidários e de outras paixões quaisquer. Nos últimos anos as escolas tem sido tratadas como bases políticas de interesses partidários e isso também minou a educação.

Nossa oitava constatação é que existe muita gente que não tem nada a ver com a educação dando opinião, ou melhor, dando ordem na educação para justificar interesses outros, os quais não deveriam ser considerados em nenhum processo educacional. Esse tipo de coisa precisa acabar. A escola tem voltar a ser, apenas e tão somente, uma escola, preocupada com a educação, o ensino, a cultura.

9 – Os pais e responsáveis pelos alunos de qualquer escola em qualquer nível, devem ser tratados como investidores da escola, porque eles depositam lá os seus principais capitais, ou seja, os seus filhos, e deveriam estar preocupados com que o seu capital maior crescesse e evoluísse. Entretanto não tem sido essa a ação da maioria dos pais, que hoje têm apenas se limitado a mandar os seus filhos para a escola e muitos só fazem isso porque a lei obriga ou porque ganham bolsa família. Além disso, a maioria dos pais hoje, procura sempre defender quaisquer das ações certas ou erradas de seus respectivos filhos. Deve ser lembrado que essa atitude paterna e paternalista não condiz com a realidade do compromisso da escola e da educação, que antes de tudo deve ser livre e dialogada, sem tomar partido ou posição prévia de quem quer que seja. Os pais têm que defender a escola livre e não apenas os seus filhos ou os interesses de seus filhos na escola. Na escola, qualquer coisa que não seja o interesse da educação tem que ser preterido.

Nossa nona constatação é que os pais dos alunos, se querem melhorar a qualidade de vida futura de seus respectivos filhos, precisam estar ao lado da escola e para tanto devem atuar no interesse de que seus filhos sejam bem formados, lembrando que a escola tem que livre de preconceitos e tendências para poder fazer uma educação abrangente e real. Na escola, a educação têm que ter preferência sobre a paternidade e sobre qualquer outra coisa.

10 – A questão que citei acima, sobre os pais mandarem seus filhos para a escola por obrigação ou apenas para ganhar algum dinheiro, precisa ser melhor estudada e definida. Essa, a meu ver, é uma falha da lei, pois educação é um direito de cada um e não um dever do outro sobre cada um. Penso eu que o estado não tem direito de obrigar as pessoas a irem à escola. O estado tem que orientar sobre a importância da escola, tem que fornecer a escola às pessoas ou fornecer as condições para que a escola exista para as pessoas, mas ir ou não à escola deveria ser um problema das pessoas nas suas respectivas famílias.

Nós queremos educar, mas se o sujeito não quer ser educado é um problema dele e não nosso. Na escola deveria ir apenas quem quer ir e não qualquer um, porque é esse é um dos aspectos que favorece muito a desobrigação e a bagunça generalizada no interior da sala de aula e isso prejudica a quem quer estudar. O estado, a meu ver, deveria se preocupar mais com quem quer do que com quem não quer estudar, haja vista que a escola é uma instituição criada para fornecer a educação e o ensino. Porém, eu concordo que essa é uma questão que precisa ser muito discutida, até porque estamos num estado democrático de direito.

Nossa décima constatação é que falta sim uma ação do poder estatal maior sobre as pessoas que frequentam as escolas, no que diz respeito à orientação dessas pessoas e dos alunos sobre o que é a escola, para que ela serve e para quem ela se destina. A obrigação de estudar deveria ser tratada dentro de cada família e o estado não tinha que interferir nessa situação.

Bem, eu poderia ficar levantando e evidenciando outras constatações, mas penso que não há necessidade, porque já produzi argumentos satisfatórios para o queria demonstrar, quando eu disse, lá no início, que a resolução da questão educacional brasileira depende de TODOS nós. Na verdade, não temos uma educação de qualidade, ou melhor, de excelência no Brasil, apenas e tão somente porque TODOS nós não queremos realmente ter, haja vista que não damos a devida e necessária importância à educação. Fingimos que estamos preocupados com números que nunca melhoram e fazemos educação e escolas para inglês ver e não para brasileiro estudar e aprender.

Não existe entre os indivíduos que compõem o total da população brasileira, quem não tenha se envolvido diretamente em, pelo menos, três das situações, funções ou condições aqui citadas nas constatações. Quer dizer, não existe ninguém que não tenha estado em, pelo menos, três das situações (condições) a seguir: aluno, professor, pai de aluno, administrador público, dirigente escolar, usuário de espaço escolar. Baseado nesse fato, eu posso afirmar que qualquer cidadão brasileiro sabe ou pelo menos tem boa noção do que acontece nas escolas e na educação. Sendo assim, obviamente qualquer cidadão deve ter alguma ideia sobre o que precisa ser feito para mudar o quadro lastimável e fazer a educação brasileira sair da rabeira e caminhar rapidamente para a vanguarda.

Entretanto, como a maioria dos cidadãos brasileiros, no momento presente, não está ocupando diretamente nenhuma das funções ou condições citadas, eles simplesmente se afastam, pois acham incapazes de emitir opinião e sugerir mecanismos para melhorar a qualidade da educação nacional e por isso nada acontece. Está faltando o sentido de pertencimento da educação brasileira ao cidadão e a toda sociedade brasileira. Esse sentimento precisa ser reencontrado e a sociedade tem que se manifestar, pois a escola e a educação pertencem a sociedade e ela precisa participar das ações que se relacionam com essas questões.

Todos nós sabemos que as mudanças surgem das necessidades sociais, pois é a sociedade que gera as necessidades e consequentemente é para a própria sociedade que se estabelecem as regras. Quando a sociedade não se manifesta, fica subentendido que não existe problema e desta maneira, não há porque propor ou tentar fazer qualquer tipo de mudança. A sociedade brasileira precisa se envolver na educação o mais rápido possível. As políticas públicas que se estabelecem no país, no estado, ou no município são consequência de duas condições: dos anseios da sociedade ou da vontade pessoal dos administradores públicos. Precisamos começar a criar condições para que os anseios da sociedade sejam maiores que os interesses pessoais dos administradores públicos.

Aqui no Brasil, pelo menos até aqui, como a sociedade não costuma se manifestar e muito menos exigir que as políticas públicas sejam elaboradas visando o interesse social coletivo, os administradores públicos costumam fazer aquilo que querem, como querem, quando querem e do jeito que bem entenderem. Obviamente essa situação é absurda, mas infelizmente é assim que funciona e se nada acontece é porque a população (sociedade) parece não querer de fato que alguma coisa aconteça. Quer dizer, os culpados pela situação da educação no país somos TODOS nós cidadãos brasileiros, que não exigimos o desenvolvimento de uma educação séria e de qualidade dos nossos administradores.

Aliás, esse desleixo coletivo não é exclusividade da educação, porque nós não temos essa prática para quase nada e infelizmente largamos praticamente tudo que nos interessa como sociedade, por conta da vontade pessoal de quem administra. Na verdade, nós fazemos um tipo de loteria, colocamos um sujeito para administrar e torcemos para que dê certo. Bem, até aqui, quase sempre perdemos os jogos e em alguns casos tomamos verdadeiras goleadas, como acontece na educação.

A grande maioria das coisas que um administrador público é capaz de mudar, talvez ainda seja de pouco interesse para cada indivíduo da população especificamente e por melhor que possam ser essas coisas no pensamento do administrador, na maioria das vezes ela não terá grande significado à sociedade. Entretanto, se o administrador achar que aquilo que ele pensou é importante, por qualquer motivo, certamente ele tratará da questão como se fosse problema específico seu.

 A educação é uma questão bastante abrangente, talvez a mais abrangente de todas que possa existir no interesse da sociedade. Uma questão dessa dimensão, não pode ser deixada na mão de um único indivíduo ou de um grupo de indivíduos (Partido Político), essa questão tem que ser englobada e tem que ter a participação efetiva de toda a sociedade, para que possa atender aos anseios da maioria, até porque estamos num estado democrático de direito.

Num estado democrático é fundamental que todas as políticas públicas a serem estabelecidas tenham discussão prévia e participação popular. No que se refere ao caso específico da educação, a participação popular deveria ser uma obrigação na orientação das ações do administrador. Nenhum governante poderia decidir por si, ou por seu grupo político, ou por um colegiado qualquer, o que fazer com a educação, mas infelizmente é isso que tem acontecido repetidamente ao longo da história desse país. Trata-se a educação, como se trata sobre a colocação de uma placa com o nome de um indivíduo numa via pública. É bom lembrar que o nome na placa quase sempre é o de alguém que já está morto, mas nós não podemos deixar a educação falecer para começarmos a nos preocupar.

Grandes ideias educacionais foram propostas, planejadas, implantadas e depois abandonadas e mortas, apenas porque pertenciam ao grupo político que deixou de administrar naquele momento. O novo grupo político que se estabelece a seguir, apresenta então a sua “nova proposta”, planeja, implanta a proposta e novamente ela é abandonada mais à frente. É sempre a mesma história e nada tem continuidade. Nos meus mais de 60 anos de vida e mais de 40 anos como professor, já vi essa situação acontecer inúmeras vezes.

Infelizmente, se gasta dinheiro, se investe tempo, trabalho e principalmente pessoas e nada se faz de concreto, porque no final, quando se perde uma eleição, o novo grupo que assume nunca quer saber daquilo que o grupo anterior fazia e assim, acha que tem que programar algo “novo”, o Brasil e a nação brasileira que se danem. Todo governo tem “novo” projeto para alguma coisa, principalmente para educação, mas todos os “novos” projetos educacionais, ou são natimortos ou morrem prematuramente. Na educação brasileira, nada passa da primeira infância. Esse negócio precisa acabar.

Educação é interesse nacional e não apenas interesse partidário. Projeto educacional bom é aquele que começa, continua e completa o seu ciclo para produzir algum resultado. Até hoje, aqui no Brasil, eu nunca vi nenhum projeto educacional que tenha tido começo, meio e fim. Todos os projetos educacionais desenvolvidos nesse pais, só tiveram começo e fim. Desta forma, faltou exatamente o mais importante, o meio, onde se manifesta o desenvolvimento do projeto, sua aplicabilidade, sua aceitação e suas consequências para a sociedade.

Não dá para ninguém dizer, pelo menos nos últimos 60 anos, que um determinado projeto de educação tal foi bom ou foi ruim, porque nenhum deles caminhou o suficiente para poder apresentar resultados significativos. Sempre que muda o grupo político, mudam os projetos de educação e assim não chegamos a lugar nenhum, ou melhor, ficamos no mesmo lugar, o que significa que andamos para trás, porque a população aumenta e as necessidades educacionais são cada vez mais visíveis, sensíveis e estamos cada vez mais longe das possíveis soluções. O resultado disso é que ficamos sempre na rabeira quando participamos de avaliações internacionais, no que se refere a educação.

Mas, de quem é a culpa disso? Como eu já disse a culpa é de TODOS nós cidadãos brasileiros, que nada fazemos para impedir que esse descalabro continue acontecendo e, como já foi dito, lamentavelmente não é somente na área da educação, que essa prática absurda de não participar continua existindo. A questão que fica é:até quando seguiremos assim?

Três coisas são fundamentais para que a educação desse país possa dar certo. Primeiramente é preciso lembrar que antes de pertencermos ao partido “a” ou “b”, nós somos cidadãos brasileiros e que o Brasil é muito mais importante que qualquer partido ou qualquer interesse político de quem quer que seja. Em segundo lugar, é preciso lembrar também que a nação brasileira nunca chegará ao lugar que pode e quer chegar sem um trabalho sério na educação, porque como já sabemos: “sem educação, não há solução”. A terceira e última coisa, é preciso lembrar ainda que educação é algo complicado e que leva tempo e que a expressão “o mais rápido possível”, deve ser algo em torno de 20 anos, para completar o tempo médio do ciclo de vida escolar de um sujeito qualquer, desde a sua entrada na pré-escola, até a conclusão da sua graduação, quando finalmente poderemos saber se o projeto valeu a pena. Isto é, se o projeto em questão deu certo ou não.

Cabe a nós cidadãos brasileiros a obrigação de exigir e fiscalizar para que se desenvolva no país um projeto educacional único, que obviamente não seja totalmente engessado e incapaz de receber modificações pontuais, mas que seja direcionado e objetivado concretamente dentro de um macro pensamento e que não se desvie dele de maneira nenhuma, até que possa ser avaliada a sua condição de viabilidade ou de inviabilidade. O Brasil e a educação brasileira não podem ser furtados do direito de tentar desenvolver esse grande projeto educacional, que vai trazer mais visão a toda nação brasileira.

Se deu certo no Japão, na Coréia, na Austrália e no mundo todo, obviamente tem que dar certo no Brasil. Votamos a cada dois anos para eleger administradores públicos nas diferentes esferas do poder, mas a governança não é uma atitude exclusiva dos administradores, a governança e responsabilidade de todos os setores da sociedade. O administrador é alguém escolhido para administrar no interesse da coletividade e não para satisfazer suas próprias vontades e a sociedade tem que fiscalizar e cobrar essa condição.

Façamos pois, nesse momento, a nossa tomada de consciência e comecemos a construir o nosso mega projeto educacional para mudar a cara do Brasil e de sua gente. Comecemos o grande debate nacional pela educação de nosso povo e tracemos as metas prioritárias para a educação do Brasil no ano de 2036. Sigamos nossa linha de pensamento até o fim e eu tenho certeza que ao chegarmos naquele ano (muitos de nós certamente já teremos morrido), mas o Brasil será exemplo de educação para o mundo e estaremos na vanguarda.

Entretanto, cabe lembrar que isso só será realmente possível se começarmos agora. Não há mais tempo e nem porque esperar. Obviamente, eu sei que serei uma daquelas muitas pessoas que não estaremos mais aqui em 2036, mas esteja eu onde e como estiver, certamente estarei observando e aplaudindo o novo Brasil que começará a surgir a partir daquele momento em que o projeto se concluir.

Mas como nós vamos conseguir fazer isso que você está dizendo, perguntarão alguns? Efetivamente, eu não sei e não creio de chofre alguém saiba. Mas, comece papeando com seus amigos, converse com seu vereador, discuta com seu deputado, debata com o prefeito, faça sugestões ao secretário de educação. Vá até o bar da esquina e converse com alguém, faça um “blog” falando sobre o assunto, mande um recadinho no “facebook” ou no “whatsapp” citando a importância da educação e faça o que mais for possível para você.

Faça todo o barulho que você pensar ser possível e necessário para que as pessoas comuns, assim como você, comecem verdadeiramente a discutir e entender que educação não é somente uma coisa séria. A educação é a coisa mais importante que existe no mundo e o Brasil não pode ficar parado, olhando a banda passar sem fazer nada para mudar o “status quo” da educação brasileira. Se cada um fizer a sua parte, o todo estará sendo feito. Lembre-se que só é necessário que você faça a sua parte e acredite piamente que tudo vai dar certo, pois o tempo e o destino conspirarão a seu favor e as coisas começarão a acontecer.

Os atuais administradores públicos vão estar bastante preocupados com a quantidade de trabalho que vão ter pela frente, para tentar colocar a educação brasileira nos eixos, mas o Brasil não pode mais esperar e a sociedade brasileira precisa cobrar o trabalho desses administradores que estão aí, pois afinal eles foram eleitos para isso mesmo. Mãos à massa meus amigos, pois só assim deixaremos de ser sempre o país do futuro e em relativamente pouco tempo, finalmente chegaremos a ser o país do presente.

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17 set 2016

APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Resumo: Este artigo diz respeito ao risco que se anda correndo com a aplicação da metodologia intitulada “aprender fazendo”, que, para muitos, desobrigou o professor da condição de ter que ensinar e o aluno de ter aprender, bastando apenas repetir determinada ação. Entendo que essa metodologia, da forma como está sendo conduzida em muitos casos, seja muito perigosa, porque traz um retrocesso no processo de ensino-aprendizagem e na formação intelectual do aluno e assim, esse mecanismo precisa ser melhor trabalhado para que seja evitada a tendência que se observa de “coisificação do ensino” e a “robotização do aluno”.


APRENDER FAZENDO: UMA PREMISSA PERIGOSA

Nos últimos tempos, não sei bem o porquê, mas a maioria dos professores, educadores e outros profissionais ligados direta ou indiretamente à Educação têm reforçado a ideia de que “aprender fazendo” é a melhor maneira de aprender. Eu confesso que tenho minhas dúvidas sobre isso e, por isso mesmo, estou aqui para dar minha modesta opinião sobre a questão e colocar minha cara exposta aos tapas, embora saiba que as críticas muito provavelmente virão.

Para começar, eu quero dizer que o ser humano é uma entidade biológica dotada de uma grande massa cefálica, a qual, dentre outras coisas, lhe permite a capacidade de pensar e que essa capacidade deve ser incentivada, pois o ser humano precisa utilizar bastante essa massa cefálica, até mesmo para se completar como humano. Por outro lado, embora seja inquestionável a nossa condição animal, não devemos ser tratados como animais de circo ou coisas semelhantes, cujo treinamento e a repetição leva ao “aprendizado”, sem o uso da massa cefálica, ou seja, que permite a realização das coisas, porém sem quase nenhuma atividade neurossensorial que justifique o entendimento dessas coisas.

Nós humanos não nascemos para ser apenas adestrados a fazer coisas. Penso que nascemos principalmente para pensar, criar e aplicar ações sobre as diversas coisas e questões, exatamente nessa ordem. Isto é, primeiro pensamos e entendemos, depois criamos e por fim aplicamos o conhecimento pensado. Aliás, me parece que é exatamente isso mesmo que nos difere dos demais animais, ou seja, a nossa capacidade efetiva de aprender e ter a consciência real (conhecimento) daquilo que verdadeiramente aprendemos. Adestramento não é algo bom para os seres humanos, ou, pelo menos, não deveria ser, porque certamente não é bom para humanidade, haja vista que não agrega nenhum valor a nossa verdadeira condição de seres humanos.

Cada um de nós tem, ao seu modo, necessidade de aprender e de entender as coisas e os seus respectivos porquês. Isso é intrínseco de nossa espécie, pois somos curiosos e criativos por natureza. Temos necessidade de compreender para que serve? Onde se aplica? Como se aplica? E qual o resultado efetivo daquilo que estamos aprendendo e de sua aplicação? Precisamos saber se o desenvolvimento dessa prática terá um resultado positivo ou negativo para os demais humanos. A teoria aliada à prática é fundamental para que seja possível completar o aprendizado.

Infelizmente, acho que as pessoas estão confundindo o objetivo verdadeiro das ideias John Dewey* de ensinar através de projetos com esse tipo de “aprender fazendo”, pois eu tenho observado muitas situações em que o aprendiz tem sido levado a resolver problemas (fazer coisas) sem nenhuma preocupação com as causas e nem com as consequências desses problemas, pois as atividades são meras formalidades impostas para serem resolvidas, apenas se faz e não se discute e obviamente assim não se entende, de fato, aquilo que se faz. Essa é uma prática viciante e infundada, que, embora possa produzir um resultado efetivo, no que se refere ao trabalho, não gera praticamente nenhuma cognitividade. Ora, me desculpem os leitores, mas efetivamente esse procedimento não implica em aprender e assim também não pode descrito como “aprender fazendo”. Isso é apenas e tão somente repetição sem discussão e essa repetição não agrega conhecimento nenhum, apenas “macaqueia” algo que já existe.

Assim, a meu ver, esse “aprender fazendo” é muito pouco, porque muitas vezes não permite ao aprendiz, a possibilidade de responder nenhum dos questionamentos citados acima. “Aprender fazendo”, muitas vezes, apenas coloca o aprendiz na condição de resolver (geralmente sem entender) uma determinada situação, sem qualquer consideração ulterior. Assim, penso que essa situação de “aprender fazendo” é uma possibilidade real de “fazejamento” (desculpem o termo) sem planejamento, o que acaba levando a acabamento sem envolvimento e o que é pior, sem nenhum entendimento, o que me parece ser indesejável e extremamente perigoso à mente humana, principalmente as mentes dos mais jovens, que tendem a ficar viciadas ao repetir ações inconsequentemente.

Desta maneira, embora eu seja ciente de que é fundamental fazer, pois, como disse Aristóteles: “é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”.  Entretanto, por outro lado, sempre será necessário um mínimo de informação sobre aquilo que se faz, pois do contrário, a emenda pode sair pior que o soneto e ao invés de levar o indivíduo a aprender, se desperdiça a capacidade de aprendizado, pois se acostuma com a realização da ação e se pensa que sabe, quando na verdade, se desaprende, porque apenas se repete algo que não se é capaz de explicar. Não há conhecimento nesse tipo de situação, ocorre apenas um praticismo. O que é mais significativo desse fato é que, na verdade, se desaprende cada vez mais, exatamente aquilo que nem se quer se foi capaz de tentar aprender, porque apenas se repetiu.

Vou esclarecer melhor, porque está parecendo muito confuso, mas essa questão é confusa mesmo. O que eu quero dizer é o seguinte: “pior do que não saber e achar que se sabe alguma coisa, quando se é capaz de resolver algumas questões puramente operacionais sobre essa coisa”. Esse conhecimento puramente empírico nos permite “alguns direitos”, nos evidencia “alguns poderes” e, por conta disso mesmo, infelizmente também nos leva a cometer inúmeros erros, muitos dos quais, talvez, por força do hábito, ocasionalmente condicionem à compreensão e entendimentos errados, a partir de procedimentos corretos.

Em suma, entendo que a ideia de “aprender fazendo”, em certo sentido e em muitos casos, acaba sendo uma falácia do aprendizado que não condiz com a realidade necessária ao indivíduo humano e nem mesmo justifica, muitas vezes, à realidade que se objetiva alcançar. “Aprender fazendo” pode ser e lamentavelmente muitas vezes é, apenas um mero adestramento do ser humano para uma determinada função que ele passa a exercer como um autômato qualquer.

Baseado nos argumentos apresentados e como já foi dito, ciente de que sofrerei muitas críticas, eu quero chamar a atenção para algumas situações reais que têm decorrido dessa pretensa condição de “aprender fazendo”, que tem sido estabelecida por muitos profissionais da educação, sem a devida preocupação do aprendizado em si.

Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) em todos os seus diferentes textos disciplinares falam constante e repetidamente em contextualizar o conteúdo, o que obviamente é muito importante e necessário na formação do aprendiz, além de condizer com a realidade cotidiana necessária. Entretanto também é necessário se mentalizar o conceito que se quer manifestar por trás do contexto, pois é isso que na verdade justifica a necessidade, além de implicar e induzir à sua aplicabilidade, além de apresentar e demonstrar os efeitos costumeiros das atividades. Contextualizar não é apenas praticar, mas é traduzir uma ação real e próxima do cotidiano do indivíduo. Para que essa tradução se dê a contento é preciso conhecimento e discussão do ambiente, da parafernália instrumental e de todas as questões envolvidas.

Quando o aluno apenas repete e não faz nenhuma reflexão devida sobre aquela aplicação da realidade à sua volta, não está havendo contextualização efetiva, está acontecendo apenas e tão somente uma atividade prática, muitas vezes viciada que, além de não determinar nenhum tipo de aprendizado real, “coisifica” a pessoa que a pratica e não condiz com a necessidade efetiva do entorno. Aquela ação se repete sem controle e o que é pior, sem causa e nem consequência aparente. Não existe nenhuma aquisição de conhecimento na repetição de uma prática efetuada, apenas e tão somente, pela simples repetição. Essa ação é, quando muito, mais um treinamento, um adestramento de uma técnica que não agrega valor intelectual a quem pratica e principalmente não fornece nenhuma vantagem perceptiva aos demais seres humanos envolvidos direta ou indiretamente.

Vou dar um exemplo bem brasileiro, para tentar esclarecer melhor o que estou tentando dizer.

Jogar futebol é uma prática interessante e existem alguns indivíduos que são efetivamente fantásticos e geniais com essa prática, mas muitos desses indivíduos, a despeito de toda as qualidades técnicas que possuem, não conseguem, se quer, entender dos seus instrumentos de trabalho, ou seja, do campo, da tática, da bola, do juiz etc…. O jogador precisa saber que todas essas coisas, além do fato dele ser um excelente prático (habilidoso jogador de futebol), atuam no intuito de transformar a habilidade prática que ele possui a seu favor, ou melhor, a favor de seu time, já que futebol é um esporte coletivo, ou mesmo a favor da sua torcida ou de toda a comunidade envolvida.

Entender que o futebol é um esporte coletivo e que não dá para ganhar qualquer partida sozinho por mais qualidade técnica que qualquer jogador tenha, é uma condição fundamental para quem joga futebol, independentemente da capacidade prática que qualquer jogador possa ter. Entender também que o futebol é uma atividade que envolve milhões de pessoas e uma infinidade de recursos, além daquelas que estão em campo é fundamental para que o jogador possa ter sucesso pessoal e profissional.

Em suma, o melhor jogador do mundo, não venceria no pior time, nem num país pobre de futebol e sem nenhuma torcida. Posso até estar errado, mas contextualizar para mim é isso, ou seja, é trazer a maior abrangência possível daquilo que faz, para que haja compreensão exata da importância da ação que se desenvolve e isso só pode ser possível com algum entendimento da ação. Um grande jogador, além de técnica apurada, tem que conhecer um mínimo sobre o futebol, tem que se enquadrar em algumas normas regimentais do futebol e também tem que ser capaz de opinar e discutir sobre sua função como jogador de futebol na sociedade. Não basta apenas, correr atrás da bola, dar belos dribles e fazer gols.

O comprometimento, o profissionalismo, a ética, a intelectualidade são valores pertinentes ao humano, que precisam estar envolvidos em qualquer ação antrópica. Nenhum jogador de futebol e nenhum outro profissional de qualquer área pode ser um idiota, que faz, mas não sabe explicar o que faz. Nenhum ser humano se basta por si só, apenas fazendo algo. Com certeza, qualquer questão relacionada com a aprendizagem, que é uma atividade humana fundamental e característica de nossa espécie, pois nos difere dos demais animais, obviamente acontece a mesma coisa, inclusive com o agravo de que o aprendiz, como o próprio nome diz, ainda está efetivamente aprendendo a fazer algo.

Um aluno (aprendiz), a priori, não pode apenas responder questões corretas ou realizar tarefas, pois é fundamental que ele seja capaz de saber porque está respondendo as questões e realizando as tarefas e ainda, quais são as aplicabilidades atuais e futuras que elas atividades podem ter. Ou seja, onde essas respostas e tarefas se inserem dentro dos interesses humanitários e sociais. Alguém já disse que: “mais difícil do que dar respostas é fazer perguntas” e eu quero aqui também afirmar que “mais difícil do que fazer tarefas e saber porque elas são feitas”. Certamente, apenas o conhecimento permite a elaboração de perguntas diversas e esclarecedoras sobre os determinados assuntos e também a elaboração de tarefas convenientes à sociedade. O ser humano só começa a entender, quando é capaz de questionar (fazer perguntas) e saber por que, para que e para quem servem as questões e tarefas desenvolvidas

Respostas corretas e ações óbvias nem sempre são mecanismos oriundos de atividades compreendidas mentalmente, porque muitas vezes são ações mecânicas e automatizadas que não garantem a existência de nenhum incremento intelectual no âmago do aluno (aprendiz). Desta maneira, como já foi dito, a ideia pura de “aprender fazendo”, pode ser apenas um vício que se tem, que se repete e que até se pode melhorar progressivamente, mas que na verdade não se conhece e consequentemente não se é capaz de entender e muito menos de explicar.

Resumindo, eu quero dizer que a ideia de “aprender fazendo”, embora possa ser boa por um lado, é sim, por outro lado, uma ideia perigosa, que embora possa produzir excelentes práticos, tende a produzir também muitos profissionais intelectualmente inferiores e creio que a humanidade não precisa trabalhar para produzir seres humanos desse naipe. Isto é, “gente que sabe fazer, mas não sabe explicar conceitualmente aquilo que faz”. Ao contrário, a humanidade deve procurar produzir seres humanos progressivamente mais capazes. Por conta disso, certamente existe necessidade de se avaliar e se adequar melhor um verdadeiro mecanismo de “aprender fazendo”, para evitar a má formação e mesmo a “coisificação” da pessoa por trás do estudante (aprendiz), do técnico ou do profissional, seja ele qual for.

Humanos não podem e nem devem ser adestrados, entretanto no mecanismo proposto de simplesmente “aprender fazendo”, pelo que pude observar em várias situações reais, na vida escolar cotidiana, pelo menos, em tese, existe grande possibilidade de que isso ocorra. Não somos autômatos, nem animais de circo, ao contrário, somos seres pensantes e capazes de criar novos mecanismos a partir do conhecimento que temos e precisamos trabalhar isso cada vez mais e não nos limitarmos a somente repetir coisas.

As escolas, os educadores e os professores sejam eles quais forem, têm um compromisso com a humanidade de trabalhar para criar homens cada vez melhores e mais capazes e não apenas de tentar favorecer condições para manter os homens sempre iguais. O desenvolvimento do conhecimento humano é o que permite o verdadeiro crescimento da humanidade e precisamos investir todos esforços possíveis nessa realidade. Temos que buscar sempre o aprimoramento e a melhora do conhecimento humano e nada que seja diferente disso pode prosperar no que se refere ao aprendizado.

 

*Leitura Recomendada
DEWEY, John. Experiência y Educación, Buenos Aires: Editorial Losada, 1958, 125p.
DEWEY, John. Democracia e Educação, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959, 3a. edição. 416p.
DEWEY, John. Vida e Educação, São Paulo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978, 113p.
 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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10 abr 2016

Refletindo sobre a Assiduidade (Frequência) e a Pontualidade como Mecanismos Significativos de Avaliação

Resumo: O texto atual envolve questões ligadas a Avaliação Escolar e considera que assiduidade e a pontualidade sejam aspectos significativos dentro dos diferentes mecanismos de avaliação que devem ser estabelecidos no contexto do processo ensino-aprendizagem. É discutida a pequena importância dada a esses aspectos, discutido o possível erro existente nesse pouco crédito e sugerido que esses aspectos são fundamentais para uma participação maior dos alunos e mesmo para o conhecimento melhor entre alunos e professores.


Refletindo sobre a Assiduidade (Frequência) e a Pontualidade como Mecanismos Significativos de Avaliação

A maioria esmagadora dos profissionais, pesquisadores e pensadores da área de educação é unânime em concordar que a avaliação é um dos atributos mais importantes dentro do processo ensino-aprendizagem e obviamente eu também não penso diferente. Entretanto, quero colocar um pouco mais de pimenta nesse assunto, pois tenho visto que cada vez mais as questões relacionadas a assiduidade e a pontualidade têm sido deixadas de lado, no que se refere a avaliação e isso não me parece correto. Ou melhor, a assiduidade e a pontualidade ultimamente têm deixado de ser consideradas como atributos importantes no processo avaliativo do aluno, o que a meu ver é extremamente preocupante, haja vista que em todas as tarefas futuras na vida profissional, o indivíduo certamente terá que cumprir os compromissos assumidos, dentro dos prazos e horários estabelecidos.

Embora nenhum dos dois aspectos aqui considerados (assiduidade e pontualidade) possam isoladamente ser responsáveis exclusivos por uma avaliação definitiva dos alunos, com certeza ambos são mecanismos importantíssimos e como tentarei demonstrar, sempre devem ser considerados em qualquer processo de avaliação em todas as escolas nos diferentes níveis de ensino do país. Além disso, eu entendo que a escola é o primeiro local onde esses aspectos devem realmente começar a ser cobrados e consequentemente considerados no processo avaliatório, até porque ao longo da vida, essa cobrança será uma constante. O aprendiz precisa entender que cumprir os compromissos assumidos é a primeira das missões do cidadão de bem e que esse aspecto será sempre observado no seu comportamento.

Por outro lado, torna-se importante salientar que existe uma necessidade fundamental do entendimento correto e preciso dessas duas palavras antes que elas sejam efetivamente incorporadas e consideradas no processo avaliatório. Sendo assim, antes que possa ocorrer qualquer confusão, vamos fazer um pequeno esclarecimento conceitual sobre os dois termos.

A assiduidade consiste na frequência propriamente dita dos alunos na sala de aula durante o ano letivo, participando ativamente, desenvolvendo as atividades e discutindo os assuntos. O aluno assíduo é aquele que está sempre presente e quase nunca falta. É aquele aluno que, além de frequente, cumpre todas as suas obrigações didático-pedagógicas a contento. Por sua vez, a pontualidade; que em certo sentido, também tem relação direta com a frequência, haja vista que só pode ser pontual quem está presente; é aquela característica do aluno que cumpre as atividades propostas dentro dos critérios, limites e prazos previamente estabelecidos.

Assim, devo dizer que aluno assíduo não é necessariamente pontual, mas aluno pontual precisa ser assíduo, porque o aluno pode estar sempre presente (ser assíduo) e ainda assim, deixar de cumprir os compromissos (ser pontual) didático-pedagógicos. Desses fatos deriva o seguinte: “no processo de ensino-aprendizagem a frequência (assiduidade) e o cumprimento de prazos (pontualidade) devem sempre ser considerados mecanismos de avaliação, porque estar presente e cumprir deveres em prazos estabelecidos são duas regras fundamentais das atividades humanas e a escola certamente deve considerar essas condições como sendo importantes e significativas na formação do indivíduo.

Nesse momento de minha argumentação, já devem existir alguns leitores questionando o seguinte: “mas, o aluno não tem direito a faltar?” É óbvio que os alunos têm esse direito. Entretanto, deve ficar muito claro, tanto para o aluno, como para os professores, que se faltar é um direito, estar presente é um dever (uma obrigação) e obviamente as obrigações devem se sobrepor aos direitos, porque só se pode exigir direitos, quando se cumpre as obrigações. Assim, quando o aluno usa o direito de faltar, ele deixa de cumprir o dever (obrigação) de estar presente.

A falta deve ser sempre entendida como algo eventual no processo ensino-aprendizagem, uma possibilidade que só poderá ocorrer por efetiva necessidade. Em momento nenhum a falta deve ser considerada como algo normal ao processo, pois o normal é estar presente e a falta é uma anomalia que ocasionalmente pode ocorrer durante o processo. Faltar é uma possibilidade e não uma obrigação planejada, estabelecida no limite das faltas programáveis legalmente permitidas pelo sistema, como fazem alguns alunos e, o que é pior, algumas vezes até indevidamente orientados por determinados professores.

O direito de faltar tem que ser entendido como algo que não se quer usar e que só se deve fazer uso desse direito, apenas e tão somente, quando não existe efetivamente nenhuma possibilidade de se estar presente. A assiduidade deve ser sempre de 100% das aulas, ainda que haja um direito (uma possibilidade) de que se cumpra apenas 75% do total de aulas do ano ou da disciplina. Muitos alunos, infelizmente usam esse direito (possibilidade); que em minha maneira de entender é bastante exagerado e necessita ser revisto; como uma regra absoluta e se programam deliberadamente para faltar aos 25% do total das aulas a que têm direito.

Se analisarmos friamente, observaremos que o aluno pode faltar em uma de cada quatro aulas, o que é um grande absurdo, porque esses 25% que ele não acompanha, certamente serão perdidos e obviamente farão significativa falta na sua formação. Vejam bem que dessa maneira, num curso de quatro anos, o aluno só precisa estar presente em apenas três anos. Isso não pode ser bom para ninguém de jeito nenhum e o maior prejudicado é o próprio aluno. Assim, me parece que fica bem claro que o aluno assíduo tem formação mais completa (abrangente) e consequentemente tende a ser melhor formado que o aluno não assíduo. Esse aspecto tem que ser considerado e deve ter alto grau de significância no processo avaliatório, porque, além do mais, quem se envolve e se preocupa mais com a escola, deve ter, pelo menos em tese, um reconhecimento maior do seu respectivo trabalho escolar.

A pontualidade, como já foi dito, é uma característica a ser exigida por dois aspectos. Primeiro, pelo fato de que o aluno ser assíduo não é garantia obrigatória de sua pontualidade e segundo, porque cumprir compromissos assumidos é uma regra de vida e a escola, como entidade social educadora, tem a obrigação moral de exigir esse comportamento de todos os seus alunos. Assim, tarefa não cumprida, ou não cumprida a contento, ou ainda tarefa cumprida em prazo extemporâneo, não deve ser considerada na avaliação e se, por acaso for considerada, deverá ser avaliada de maneira inferior aos padrões que haviam sido estabelecidos para os alunos que foram pontuais. Ou seja, deve existir alguma forma de penalização aos não pontuais.

Vejam bem, numa classe escolar tudo é possível, porque normalmente sempre vão existir alunos frequentes, alunos pontuais, alunos frequentes e pontuais e ainda alunos não frequentes e não pontuais. Acredito que essa classificação deva ser o primeiro critério para a avaliação dos alunos. Obviamente o aproveitamento cognitivo do aluno deve ser a principal preocupação no processo de ensino-aprendizagem, mas a assiduidade e a pontualidade não devem nunca ser deixadas de lado, até porque a ordem, a disciplina e a própria capacidade cognitiva dependem muito da frequência e da pontualidade dos alunos. É bom lembrar que a ordem (organização) e a disciplina (regras e foco) também são atributos importantes a serem identificados e considerados na avaliação dos alunos.

Em suma, no que diz respeito à avaliação, existem inúmeros mecanismos e várias são as tendências e os encaminhamentos dados nesse processo. Para muitos professores (educadores) a única coisa que efetivamente importa, ainda é o cumprimento integral dos programas, independentemente da capacidade de aprender e principalmente da participação ativa e efetiva do aluno e a avaliação deve estar restrita àquilo que o aluno conseguiu “aprender” do conteúdo. Esse é o grupo do chamado professor passador de matéria ou professor ministrador de conteúdo. Para esse tipo de professor, avaliar e apenas medir através de um instrumento, uma prova, por exemplo, o que o aluno “aprendeu”, daquilo que lhe foi informado no conteúdo ministrado.

Para outros, apenas o resultado medido através do conceito obtido pelo aluno nas diferentes formas de avaliações aplicadas são suficientes, pois constituem um conjunto significativo de fatores mensuráveis, que classificam os alunos entre si. Esses são professores mais exigentes, que cobram “tudo” dos alunos e muitas vezes, cobram até aquilo que nem eles próprios sabem, mas como está no livro, o aluno tem que saber. “O aluno que se vire, faça os seus trabalhos e tire as notas que precisa, porque essa é a parte dele no processo”.

E sobretudo, ainda existem aqueles professores radicais mais ferrenhos, que ainda dizem assim: “eu ensinei e se o aluno não aprendeu é problema dele, porque eu tenho certeza que fiz a minha parte e ele que faça a parte dele”. Esses últimos, além de tudo, contrariam drasticamente o famoso pressuposto pedagógico que diz: “se não houve aprendizagem é porque não houve ensinamento”, ou melhor, “se o aluno não aprendeu é porque o professor não ensinou”. É óbvio que essas duas afirmativas são extremamente subjetivas, mas é possível considerar que ambas sejam verdadeiras, pelo menos em parte, e que o professor é talvez, o principal responsável pela capacidade do aluno aprender, pois afinal essa é a função precípua do professor.

Bom, não quero aqui tomar nenhum partido absoluto de qualquer dos grupos, porque entendo que cada um, a seu modo, acaba tendo razão por alguns lados e certamente deixando de ter por outros, até porque existe, de fato, muita subjetividade implícita nessas questões. De qualquer maneira, neste momento, eu quero apenas me reportar aos aspectos aqui relacionados, independentemente das inúmeras indagações, das diferentes teorias e práticas pedagógicas.

Mas, antes de continuar, quero lembrar ainda, que antigamente era comum se ouvir a seguinte frase: “educar é preparar para a vida” e ainda que eu não seja um adepto assim, tão famigerado desse velho chavão, eu também não posso simplesmente desconsiderar que ele traga uma grande verdade no seu bojo e, por isso mesmo, eu vou explora-lo no interesse de minha argumentação. Considerando que a educação deve efetivamente ser uma aprimoração progressiva do indivíduo, visando melhorar a sua vida cada vez mais, então eu não posso de maneira nenhuma negar o velho chavão. Aliás, penso que nem eu e nem ninguém possa negar absolutamente a verdade implícita nessa frase.

Por outro lado, a vida está constantemente nos cobrando e avaliando, por isso mesmo é preciso considerar que é a própria vida quem às vezes nos educa, pois nos ensina e nos obriga a fazer reflexões, as quais nos levam a manifestar novas atitudes, as quais nos imprimem determinadas mudanças comportamentais. Nossas possibilidades de “sucesso” na vida, acabam sendo maiores ou menores exatamente em função das cobranças e das avaliações cotidianas oriundas de nossa própria vivência e muitas dessas cobranças são bastante tangíveis e, sobretudo, acabam sendo amplamente vitais para cada um de nós.

Nesse contexto, quando se fala em avaliação, sempre se deve ter em mente, que, como já foi dito, em certo sentido, é a parte mais importante da Educação, ou pelo menos do processo de ensino-aprendizagem, não se pode desconsiderar o aspecto, de que as cobranças cotidianas também devam ser avaliadas, ou pelo menos observadas de perto, embora não tenham necessariamente a ver com a escola ou com a educação formal. Ou seja, a avaliação é uma necessidade da vida e não apenas um atributo do processo educacional. Por conta disso, a avaliação deve ser feita a todo instante em todos os aspectos, inclusive, mas não exclusivamente, no ambiente escolar onde o processo educacional normalmente transcorre.

O aluno (aprendiz), de maneira geral, ainda não tem idade e nem discernimento sobre a maioria das coisas, por isso mesmo, ele deve ser sempre observado pelo professor (educador) em todo o seu caminhar rumo ao conhecimento e em todas as atividades e atitudes que, de alguma forma, se impliquem com esse caminhar, dentro e fora da escola. É claro que, na maioria das vezes, o professor não tem condições de acompanhar o aluno fora da escola, mas pode indagar questões, criar situações e conversar com o aluno e assim, saber um pouco mais de sua vida e de suas atividades extraclasse, pois certamente isso auxiliará bastante no momento de fazer a avaliação.

De minha parte faço minha avaliação do aluno, procurando acompanhar e observar os progressos existentes ou não no cotidiano escolar do aluno, além de discutir o máximo possível sobre seus interesses, suas aptidões e suas atividades externas à escola. Acredito que todo professor bem intencionado é capaz de fazer isso e assim também deve ser capaz de medir, ainda que subjetivamente, os progressos e retrocessos dos seus alunos, porque o professor sabe onde ele quer que o aluno chegue e pode perceber a caminhada desse aluno, com todos os seus avanços e percalços.

Além daquilo que o professor costuma observar e medir objetiva e diretamente, ele deve constantemente questionar o seu aluno sobre o que ele está achando de seu próprio aprendizado, pois certamente isso traz respostas significativas, tanto positivas, quanto negativas para a avaliação daquele aluno. Isso acontece porque o aluno obviamente sabe se auto avaliar e assim consegue perceber quando está melhor ou está pior e o professor que o acompanha também é capaz de saber.

 Essas questões são bastante subjetivas, porque acabam sendo situações mais de sensibilidade do que situações de valorização numérica imediata. Entretanto, essas situações são verdadeiras e na maioria das vezes acabam informando muito mais do que as notas oriundas de avaliações apenas medidas (quantificadas). Posso estar errado, mas entendo que a presença efetiva do aluno e sua participação costumeira, regrada e compromissada às atividades escolares, devem ser fatores relevantes e, muitas vezes, preponderantes no processo de avaliação, porque, sobretudo, permitem esse contato maior que leva a troca de informações mais próximas entre os professores e os alunos.

Acredito piamente que a convivência próxima entre professores e alunos também seja uma condição bastante importante na avaliação do processo ensino-aprendizagem e estou convicto que a assiduidade e a pontualidade são fatores indispensáveis à boa convivência. Entretanto, como não sou dono da verdade, estou apenas manifestando minha opinião sobre um assunto que reputo de suma importância à Educação e que precisa ser muito discutido. Por isso, deixo aqui um espaço aberto para que os colegas professores critiquem e opinem à vontade sobre essas minhas modestas reflexões e tragam outras observações interessantes sobre o assunto.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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22 out 2014

O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Resumo: Nesse artigo, o Prof. Luiz Eduardo propõe uma discussão interessante entre uma questão arcaica, mas que vem se arrastando no pensamento coletivo dos professores ao longo do tempo e que precisa ser esquecida para o bem do Processo Educacional e da Educação como um todo. Trata-se da priorização de certas disciplinas e da consequente minimização de outras em função das pretensamente mais importantes. Essa prática, além de totalmente infundada, prejudica enormemente o processo de aprendizagem e a formação integral dos alunos, embora ainda existam até setores dos governos que defendem esse absurdo.


O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Sou professor há mais de 38 anos e tenho sido muito homenageado por meus alunos ao longo desses anos. Penso que isso me credencia, ou se não credencia, pelo menos me mantem no direito de emitir uma opinião sobre a postura de alguns colegas professores, na hora de avaliar definitivamente os seus respectivos alunos, seus colegas de profissão, suas disciplinas específicas e em última análise a si mesmos. Acredito que falta bom senso e de um pouco mais de humildade em alguns colegas professores, os quais não só agem incoerentemente, como aparentemente se sentem numa posição muito acima aos demais professores das outras disciplinas, pois realmente assumem uma postura de superioridade como se fossem os “reis da cocada preta” e atuam como se avaliar pessoas não fosse algo extremamente complexo.

Aliás, esses professores interagem como se as demais coisas e pessoas que atuam no processo educacional, principalmente os seus alunos e os demais professores, não existissem e assim não seriam importantes nos seus respectivos processos de avaliação. A avaliação é um problema exclusivamente deles e só a eles cabe o direito sagrado de avaliar e decidir sobre a condição do aproveitamento de seus alunos e nem mesmo esses alunos (vítimas ou réus no processo), têm o direito de questionar os seus respectivos veredictos. Esses professores manifestam um absolutismo tal, que chegaria a causar inveja ao próprio Hitler ou mesmo a envergonhar alguns tiranos e ditadores de tão indubitável e seguro. Desculpem-me pelo aparente exagero, mas essas figuras ainda existem e estão presas a valores passados, mas que ainda são muito fortes no ranço de determinadas escolas e de alguns setores escolares.

No passado, mormente quando eu ainda estava cursando o antigo curso primário (Ensino Fundamental), portanto há cerca de 50 anos atrás, por muitas vezes ouvi alguns professores dizerem que “Português e Matemática eram as disciplinas mais importantes dos conteúdos escolares”. Mas é claro que hoje, a maioria de nós educadores, sabemos que isso é uma falácia, que além de antiga, é ilógica e principalmente inverídica. Esse tipo de afirmativa pode ter feito algum sentido no passado distante, mas hoje em dia, apesar de ainda existirem alguns defensores de argumentos desse tipo, cada vez mais isso se desmistifica e assume a condição de mera tolice.

Embora, algumas vezes, a gente ainda ouça aquelas coisas assim: “mas o fulano passou em tudo até mesmo em Matemática e Português, como é que pode ter ficado só em Biologia?” Como se Biologia fosse menos importante do que Matemática e Português. Na verdade, hoje nós professores temos (ou deveríamos ter) consciência de que não existe disciplina mais ou menos importante, pois todas são igualmente importantes e necessárias na formação do indivíduo em qualquer nível de ensino e mais particularmente no Ensino Médio, o qual por definição deve procurar ser o mais eclético e abrangente possível, buscando dar todos os horizontes e dimensões disponíveis para ampliar a visão do educando.

Por outro lado, é claro que a capacidade de recepção, isto é, a resposta dada pelos alunos às diferentes disciplinas é muito diversificada e assim nem sempre é a mesma. Aliás, a diversidade de respostas é de tal dimensão que quase nunca é a mesma. Alguns alunos têm notoriamente maior facilidade de entendimento e habilidade com algumas disciplinas e maior dificuldade e mesmo interesse pessoal com outras. É preciso que fique claro na cabeça de todos os professores que essa é a regra e não a exceção e que esse é um fato natural, independente da vontade e do desejo pessoal do professor e também do amor que ele tenha por sua própria disciplina. Pois então, é nessa mesma diversidade natural de interesses, habilidades, facilidades e saberes que se desenvolve a capacidade cognitiva e o conhecimento efetivo de cada aluno, que produzem a formação final do indivíduo como pessoa educada e como cidadão inserido na sociedade.

Pois bem, esses fatos aqui citados me parecem apresentar um modelo mínimo e sensato de razoabilidade que se espera no processo pedagógico educacional e que resulta na capacitação intelectual final do indivíduo aluno e da sua percepção de discrepâncias e da sua condição de discernimento entre elas, as quais são características fundamentais na identidade e na personalidade da pessoa humana na sociedade. Quaisquer que sejam os professores e quaisquer que sejam suas disciplinas específicas, eles deverão estar cientes desses fatos e por menos que possam concordar, eles devem considerar esses aspectos como premissas fundamentais na avaliação do aluno. A escola hoje é democrática e assim, todas as disciplinas são iguais, todas as pessoas envolvidas na educação e na formação dos alunos devem atuar ativamente no processo de avaliação escolar e todas têm o mesmo nível de poder.

Todos nós, seres humanos, de uma maneira ou de outra, fomos intelectualmente “produzidos” (formados e desenvolvidos) dentro de um padrão geral educacional único, independentemente dos locais por onde tenhamos passado e das demais pessoas com quem tenhamos vivido e aprendido. Ou seja, o processo que nos moldou foi e continua sendo quase sempre o mesmo, embora a metodologia específica aplicada possa ser oriunda de locais e pessoas distintas. Assim, o “produto final”, isto é, o “homem educado”, embora nunca seja o mesmo indivíduo, sempre será bastante parecido, qualquer que seja a pessoa humana em questão. Em suma, o processo que nos organiza e compõe como seres sociais e intelectualmente ativos na sociedade é bastante similar, embora possam haver nuances metodológicas distintas, os objetivos a serem alcançados são os mesmos e assim os resultados finais são praticamente idênticos.

Por outro lado, como Biólogo, posso garantir que não existem biologicamente seres humanos iguais, mesmo sabendo como professor que seguramente o processo de desenvolvimento educacional dos indivíduos dentro da sociedade humana, que os leva a formação sociológica como pessoas é praticamente o mesmo em todos os grupos sociais humanos. Se minha premissa for verdadeira, então, somos diferentes na Biologia (Genética), mas somos, ou deveríamos ser iguais (muito parecidos), na Sociologia, ou pelo menos na nossa vivência social. Desta maneira, se não tivermos uma base comportamental oriunda da Genética muito diferente e certamente não temos, então não podemos desenvolver comportamentos genéricos muito diferentes, apesar das diferentes culturas desenvolvidas e adquiridas pelos grupos sociais humanos.

Desta maneira, somos o resultado comportamental de nossa Genética e de nossas vivências sociais como aprendizes de seres humanos. Por outro lado, por termos sido moldados de maneira semelhante aos nossos mestres, acabamos por sermos “produzidos” como cópias genéricas deles. Quer dizer, do ponto de vista do comportamento social, cada pessoa humana é, além da Genética, a somatória intelectual de outras pessoas produzidas da mesma maneira que ela. Assim, do ponto de visto do comportamento, por mais diferentes que possamos ser, de fato, somos sempre muito semelhantes, porque somos oriundos do mesmo padrão de formação. Historicamente, há, em última análise, um conservadorismo muito grande no processo de socialização do indivíduo humano e eu particularmente suspeito que isso tenha um significativo valor de sobrevivência para nossa espécie.

Mas, ainda assim, alguns de nós têm insistido em querer se manifestar como pessoas diferentes e fora do padrão humano. Aliás, essas pessoas não querem apenas ser diferentes. Esses humanos de comportamento estranho querem ser efetivamente anômalos e entendem que estão acima (ou abaixo) do bem e do mal e pensam que aquilo que se propõem a fazer certamente deve ser a coisa mais importante do mundo. Infelizmente, algumas pessoas têm o dom de achar que o mundo se resume a elas ou ao interesse delas. Assim, as coisas mais importantes para essas pessoas, passam a ter que ser também as coisas mais importantes para todas as outras pessoas do planeta. Aqueles indivíduos e atores sociais que estão mais próximos dessas pessoas são os que mais sofrem com essa psicose acentuada que elas apresentam. Algumas vezes essa psicose se acentua a tal ponto que passa a ser uma doença comportamental grave ou gera uma esquizofrenia profunda e irreversível. A pior situação acontece quando um desses indivíduos por acaso é um professor e aí, coitados dos seus alunos.

Na verdade, todos nós, seres humanos, em certo sentido, temos um pouco dessa anomalia e agimos um pouco assim, até por questões naturais de autodefesa, o que é compreensível e em certo sentido até benéfico para nós. Entretanto, a maioria de nós também deveria lembrar que hoje existem mais de 7 (sete) bilhões de pessoas no planeta, além de cada um de nós e que esse contingente populacional cresce assustadoramente. Essa população planetária imensa, como já foi dito, é constituída por pessoas diferentes, mas que são formadas no mesmo padrão, sendo por isso mesmo são muito conservadoras, mas que têm interesses diversos e obviamente atribuem graus de importância qualitativa e quantitativa variados em relação às coisas, por conta de condições diversas e fatores culturais próprios.

Em suma, nós humanos, prioritariamente nós professores, precisamos entender de uma vez por todas, que naquilo que diz respeito às pessoas como indivíduos e suas respectivas vontades, tudo (absolutamente tudo) é possível, independentemente do que pensa o restante da sociedade e por isso mesmo devemos aceitar essa diversidade como algo inato aos seres humanos, principalmente quando os humanos em questão são os nossos alunos. O respeito às pessoas e às suas diferenças individuais tem que ser prioridade nas atividades e nas entidades sociais humanas, mormente nas escolas, onde se busca formar o “homem educado”.

Enfim, profissionalmente falando, o professor deveria ser um humano que fizesse exceção óbvia a essa idéia de querer ser superior aos demais humanos. O professor, aquele indivíduo que trabalha exatamente com a diversidade humana, não deveria procurar estar acima dessa diversidade e deveria começar desconsiderando qualquer tipo de preconceito. Além disso, ele deveria ser capaz de tentar minimizar e, se possível, desmistificar essa situação comportamental conflitante. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Continuam existindo professores que acham e por isso mesmo querem e alguns até exigem, que seus alunos sejam semelhantes entre si e mais, que os alunos reproduzam exatamente aquilo que esses professores querem. Isto é, esses professores atribuem um grau muito alto de valor às suas respectivas pessoas e por extensão às suas respectivas disciplinas. Quer dizer, além de reforçar o erro, falta modéstia e humildade a esses professores para ensinar aos seus respectivos alunos e assim contribuir com a melhoria da sociedade humana.

Aliás, quero crer que esses professores não devam ensinar, até porque o ensinamento é um processo de compreensão mútua que envolve dois lados que precisam chegar ao mesmo nível de entendimento, ainda que até em tempos diferentes. Na verdade, esses professores que se acham “os donos da bola” e querem continuar sendo assim, não são educadores, embora até possam tentar ser instrutores e até mesmo domadores de outras pessoas. Nas aulas desses professores não há participação, não há democracia, não há troca com seus alunos e assim, não pode haver ensinamento e nem aprendizagem. Desta maneira, só pode haver treinamento e adestramento e embora até possam ser desenvolvidas algumas coisas no que refere à aprendizagem, na verdade, não se desenvolve o intelecto humano que é aquilo que gera a liberdade individual e que se desmembra em criatividade e evolução cognitiva, que são os objetivos maiores e que, na minha maneira pessoal de entender, constituem o cerne da educação da pessoa humana.

Em última análise, esses professores, talvez nem devam ser chamados de professores e muito menos de educadores, porque não fazem educação e não produzem avanço na condição cognitiva dos seus respectivos alunos. As características de ser igual, de ser humilde e de ser participativo são fundamentais aos professores e, a meu ver, sem elas não pode haver o exercício do magistério. Como esses professores não possuem e nem utilizam tais características, eles não se enquadram na condição mínima para serem considerados professores.

Precisamos banir de nossas escolas aqueles professores que ainda pensam de maneira retrógrada e que se intitulam “os gênios do saber, os pais da matéria mais difícil e mais importante”. Nosso pensamento como educadores deve ser proativo e deve projetar a melhoria do conhecimento da humanidade. Esse pensamento básico deve buscar a formação de novos homens, com novos ideais e novas visões. A minha verdade como professor deve ser buscar que o meu aluno venha a ser melhor do que eu possa ter sido, porque só assim haverá progresso educacional e esta é a verdadeira necessidade da sociedade humana. Se não for assim não haverá evolução no processo educacional e não caminharemos na direção da liberdade.

Alguém já disse que o conhecimento é a única e verdadeira forma de liberdade, então se eu limito o conhecimento de qualquer ser humano com quem convivo àquilo que eu sei ou àquilo que já está estabelecido, eu estou cerceando a liberdade das demais pessoas a minha volta. No que diz respeito à educação, não progredir é necessariamente sinônimo de regredir, porque o conhecimento se faz sobre o conhecimento pré-existente e quando o conhecimento estaciona toda a sociedade anda para trás e se priva da possibilidade de liberdade maior.

Colegas professores, por favor, pensem nisso, façam uma reflexão profunda sobre esta questão e me digam se estou certo ou errado. Eu sei que é difícil mudar de comportamento, principalmente quando se está habituado a determinados modelos e condições “didáticas” e “pedagógicas”, mas se você chegar à conclusão de que eu possa estar certo no meu pensamento e que você se enquadra nesse padrão que precisa ser mudado, então faça a sua tentativa de mudança. Penso que se houver pelo menos a possibilidade de investir na tentativa de fazer diferente essa deverá ser efetuada e creio mesmo que só com isso já estará havendo algum progresso, porque o aluno perceberá e isso certamente será bastante benéfico ao processo educacional. Se você achar que eu estou louco e devo ser internado, peço, desde já, que me desculpe por sonhar uma educação melhor, por chamar a atenção para a doença que está aí, por colocar o dedo na ferida e pedir uma colaboração maior dos meus colegas, professores como eu.

Mas, se existe uma coisa que eu tenho certeza é que a escola tem que crescer independentemente de mim e daquilo que eu penso e espero que você também pense assim a esse respeito, porque a educação precisa disso e com certeza a educação é maior que a escola e que todos nós juntos. A Educação desse país está carente de valores e precisa de um choque profundo para voltar aos trilhos. O que estou propondo, obviamente não é solução do problema, o qual é grave e muito enraizado em outras questões, e talvez nem seja uma das únicas alternativas, mas certamente melhorará o processo educacional, minimizará conflitos e assim trará bons resultados à Educação como um todo. A regra futura deve ser objetivar sempre em crescer a Educação, porque só assim estaremos agindo no interesse de uma sociedade humana planetária cada vez melhor, mais igual e mais justa.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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12 out 2014

A ARTE DE EDUCAR BEM

Resumo:A partir de um caso imaginário, o Prof. Luiz Eduardo tenta apresentar uma situação referente aos principais problemas educacionais encontrados na sociedade, indicando como sendo possíveis culpados a família e o governo e ainda propondo uma conscientização das escolas para o orientação de que a coletividade deve ter prioridade sobre a individualidade como regra na sociedade.


A ARTE DE EDUCAR BEM

 

“Educação é fundamental”. “Sem educação não há solução”. “A educação é a base de tudo”. “Todos os problemas são, antes de tudo, problemas de educação”. Esses e vários outros chavões já foram ouvidos milhares de vezes por quase todas as pessoas, mas como são chavões não parecem ser verdades e as pessoas escutam e repetem, porém não acreditam, não investem e não vivem as verdades contidas em cada um desses chavões.

A confirmação destes fatos traz em si a própria necessidade da educação e a consequente carência educacional em que vivemos, pois não efetivamos os conceitos educacionais que proclamamos. Isto é, vulgarizamos a educação de forma tal que a própria noção que temos de educação é de algo que não tem muito valor, embora tenhamos que adquiri-la por conta de alguma convenção pre-estabelecida, algum mal sociológico ou talvez até, porque possa ser interessante ser educado.

A educação passou a ser, por contingência, o assunto da moda, que sempre está fora da moda. Falamos em educação todo o tempo, porém não fazemos educação em momento nenhum e o que é pior, deturpamos a noção de educação e criamos um cenário em que não ser educado acaba sendo uma grande virtude, pois estimulamos atitudes que refletem grande falta de educação.

Em suma temos uma situação conflitante entre a teoria e a prática, no que tange a educação. E esse quadro precisa ser modificado vertiginosamente, pois os abusos advindos desta confusão epistemológica, metodológica e conceitual têm produzido uma total inversão de valores na sociedade em todos os níveis. Sendo assim, vamos tentar demonstrar como imaginamos que será possível produzir uma boa educação.

Imaginemos a seguinte situação teórica.

Uma senhora com toda a preocupação possível vai atravessando a rua e eis que um menino de bicicleta, em alta velocidade e na contra mão, atropela a senhora, derrubando-a no chão, e vai embora, sem que ninguém se manifeste e ainda diz assim: “o velha cega olhe por anda, quase que me você derruba, sua nojenta”.

Na verdade, nos tempos atuais a falta de educação e a libertinagem é tal, que a terminologia utilizada certamente seria de mais baixo calão do este. Mas, isso não vem ao caso, até porque é só um exemplo.

Quero crer que qualquer pessoa já deva ter visto (talvez até vivido) uma situação parecida com esta.

Agora vamos tentar descobrir e analisar quantos problemas educacionais existem na cena:

1 – Menino de bicicleta na contra mão – O “Novo” Código Nacional de Trânsito, que lamentavelmente, não pegou, proíbe que ciclistas trafeguem na contra mão. Lei é lei e não tem que pegar ou não, ela tem que ser cumprida ou então não é Lei.

2 – Agressão física à Senhora – Derrubar uma senhora, de propósito ou não, é uma agressão física, que pode refletir, pelo menos falta de atenção, entretanto muitas vezes esse atropelamento é premeditado (desculpem-me pelo pré-julgamento).

3 – Ofensa moral à Senhora – Ofender, sem razão, com palavras de baixo calão uma Senhora é, no mínimo, uma falta de princípios éticos e de consideração com as demais pessoas da sociedade.

4 – Falta de respeito ao falar com uma pessoa, particularmente sendo mais velha – Desrespeitar uma pessoa mais velha demonstra total falta de escrúpulos e de noção de moralidade e da valorização que os mais velhos devem ter, pois precedem a nossa existência. Se eles não tivessem vivido, talvez também não vivêssemos.

5 – Segundo o ciclista, a senhora é quem quase derruba ele – O egoísmo e o individualismo são duas das principais características dos mal educados. Parece que só eles existem, pois só eles são importantes. As outras pessoas sempre os atrapalham, mesmo quando são eles quem protagonizam as ações drásticas.

6 – Total despreocupação com as pessoas do entorno – No momento da ofensa, o mal educado diz qualquer coisa para qualquer um, sem se preocupar com quem está por perto. Até porque, como foi dito no item anterior, as outras pessoas não são importantes.

7 – Alienação das pessoas do entorno, que não fizeram nada – A sociedade é hipócrita, apática e não reage às ações que ela efetivamente reconhece como sendo errôneas. Aceitamos tudo, desde que não sejamos envolvidos direta ou indiretamente.

8 – Essa cena acontece, várias vezes, todos os dias – A sociedade já se “acostumou” com as coisas erradas como estão e certas situações tornaram-se banalizadas a ponto de não fazerem nenhuma diferença no comportamento social.

Então eu pergunto: o que a sociedade tem feito para evitar isso? Eu mesmo respondo. Nada, absolutamente, nada.

Não fazemos nada porque todos somos mal educados e porque estamos bem com a nossa má educação. Só procuraríamos entender e talvez até discutir o problema se, por acaso, estivéssemos no lugar da senhora. Aí, ficaríamos aborrecidos e iríamos procurar aqui e ali uma maneira de culpar alguém do acontecido.

O mais interessante é que ainda assim, muitos de nós relutaríamos em culpar o menino, porque há um outro aspecto a ser considerado. A sociedade tem medo e nós não sabíamos quem era aquele menino, que passou tão rápido e não foi possível identificar. De repente, ele era filho de alguém importante, ou era filho de um parente ou amigo nosso, ou ainda poderia ser um aprendiz de marginal (“trombadinha”), que na verdade queria pegar a bolsa da senhora. Então, porque dizer alguma coisa e correr um risco desnecessário. Diz o ditado que: “em boca fechada não entra mosca” e que “quem não faz nada não vai preso”. Por outro lado, eu quero lembrar também que “quem não deve, não teme” e que “aquilo que eu não quero para mim, não devo fazer aos outros”. Aliás, esse último dito deveria ser o grande acordo de toda sociedade para poder viver bem.

Geralmente, o principal culpado que encontramos é o Governo, em qualquer dos seus níveis. Efetivamente o Governo tem a sua parcela de culpa, mas não é, de forma nenhuma o único culpado. A culpa é da sociedade mal educada que somos. Nossa sociedade, ao invés de tentar deter ou, pelo menos, remediar a tempestade, faz que nem avestruz, enfia a cabeça no buraco para não ver o que está acontecendo e espera a tempestade passar. Como não vimos o que aconteceu, pois estávamos com a cabeça enterrada, não podemos fazer nada em relação ao assunto. Assim, a cena se repete várias vezes e ninguém vê e muito menos diz alguma coisa.

O título desse artigo fala na arte de educar para o bem e a mim parece extremamente fácil. Basta começar a agir no sentido contrário da maré e ao invés de concordar com os erros, ou fingir não vê-los, ou ainda culpar o Governo por todas as coisas que acontecem, porque não começar um processo de depuração da sociedade pela sociedade. As coisas erradas (ruins para a coletividade) devem ser reprimidas pela sociedade, pois só assim elas tenderão ao desaparecimento.

Educar para o bem não é fazer só coisas boas ou benevolentes, mas é, antes de tudo, trabalhar pelo interesse coletivo e contra o individualismo. A sociedade é muito diversa pois é composta de vários setores, vários segmentos, vários profissionais que se unem e que se corporativizam em vários grupos, entretanto todos esses grupos são formados, sobretudo, por pessoas. O interesse das pessoas tem que estar acima do interesse dos grupos, pois esses últimos só existem porque as pessoas existem.

É preciso educar para o bem, fazendo o bem social e rechaçando o mal à sociedade. A família precisa se reestruturar e o Governo precisa fazer a sua parte, mas é preponderante que a sociedade diga o que quer e prove que quer o que diz querer. A ação social coletiva vai acabar com o menino na contramão em alta velocidade, porque não haverá interesse social que conceba este fato. A senhora vai poder atravessar a rua e talvez até ela seja atropelada, mas a postura do menino e das pessoas do entorno serão outras, basta apenas a sociedade querer.

As escolas deverão ensinar esse preceito, a vida em sociedade tem que ser boa para todos e “o direito de cada um acaba, quando começa o do outro”. Andar de bicicleta é um direito, mas andar a pé também é. As pessoas só andam de bicicleta porque primeiramente foram capazes de andar a pé, então andar a pé tem prioridade sobre andar de bicicleta. O menino precisa aprender isso e tem que entender que há uma Lei, o Código Nacional de Trânsito, que dispõe sobre a maneira correta de proceder quando se está dirigindo um veículo, seja um caminhão ou uma bicicleta. Mas ele terá que se conscientizar de que antes da bicicleta ou do caminhão estão as pessoas e que ele também é uma pessoa que tem direitos e deveres para com o resto da sociedade.

Será que isso é tão difícil assim? Será que acreditar que é possível educar para o bem é uma utopia? Será que todos males que afligem a sociedade não resultam desta falta de educação par o bem? Desta falta de vontade coletiva de viver melhor?

A educação é um processo e como tal só se desenvolve com trabalho e metodologia adequadas. A arte de educar bem deve ocorre a partir de princípios éticos que destinem a sociedade ao bem, isto é, princípios que evidenciem a importância e a necessidade do coletivo antes do individual. Arregacemos as mangas e vamos colocar as mãos na massa para construirmos uma nova sociedade, que se não beneficiar a todos, certamente beneficiará a grande maioria e que acabará com a nossa falta generalizada de educação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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08 out 2014

O Professor e a Caixa de Fósforos


O Professor e a Caixa de Fósforos

Assim como é uma caixa de fósforos com seus respectivos palitos incineráveis, também é o professor com o seu conhecimento e sua capacidade de ensinar. Ambos têm um grande potencial para “botar fogo”, o fósforo nas coisas e o professor nas pessoas. Entretanto, se ambos não forem estimulados, apesar do potencial que possuem, nada acontece.

O tempo passa, novos mecanismos incineradores surgem, mas na hora de acender o cigarro, de produzir um fogueira para o churrasco, na hora de queimar qualquer um objeto qualquer, enfim, na hora de “botar fogo” em alguma coisa, a primeira ideia que se tem em mente é sempre aquela da caixa de fósforos, ainda que hoje em dia, possam existir inúmeros aparelhos e mecanismos, cada vez mais modernos para produzir a incineração.

Com o professor acontece, ipsis litteris, a mesma coisa. Os mecanismos de ensino, os chamados multimeios, estão aí, cada vez mais diversificados e mais sofisticados, entretanto ninguém pensa neles antes do professor, porque eles não são capazes de realizar nada sozinhos. Apenas o professor é capaz de ensinar e os multimeios, que até podem ser ferramentas úteis, sempre necessitam do professor.

Se até aqui, apesar das novidades, não trocamos as caixas de fósforos, também não podemos e nem devemos trocar os professores, haja vista que ambos são essenciais ao bom andamento das coisas e, em certo sentido, acabam sendo vitais às necessidades em que atuam. A figura do professor, com seus multimeios ou não, da mesma forma que a caixa de fósforos com seus palitos incineráveis, também é uma ideia simples, porém insubstituível, como dizia uma antiga propaganda de caixa de fósforos.

Entretanto, ultimamente, temos tido, infelizmente, algumas ideias absurdas quanto aos professores e suas maneiras de atuar, porque diferentemente dos palitos de fósforos que têm que ser acionados mecanicamente por ação externa humana, bastando apenas riscar o palito, os professores são humanos e precisam de uma série de outras coisas para funcionar, as quais são independentes de um simples ato mecânico. Os professores pensam, sofrem, amam e principalmente têm vontade própria para agir e qualquer ato mecânico, do mais simples até o mais extremamente complexo, depende dessa vontade.

Pois então, a vontade é o agente detonador da atividade do professor e obviamente de todo e qualquer ser humano. É através da vontade que o professor pode buscar todas as outras qualidades que necessita para desenvolver bem o seu ofício de ensinar. É através da vontade que o professor estuda, aprende e ensina. O professor, antes dos multimeios, precisa ter algum conhecimento e muita vontade para poder ensinar.

Ora, mas então, como fazer explodir essa vontade internamente no professor para que ele possa “botar fogo” nos seus alunos, produzindo uma boa qualidade de ensino?

Imagino que sejam necessárias algumas condições físicas e psíquicas, mais precisamente considero pelo menos quatro condições fundamentais, as quais podem agir como estimuladoras ideais da vontade do professor.

Primeiramente é fundamental que se tenha condições infraestruturas mínimas para exercer um bom trabalho, quais sejam: local de trabalho limpo e asseado, segurança garantida, material funcional disponível dentro da necessidade mínima do uso. Depois, vejam bem depois e não antes, é fundamental um salário compatível e digno, ao menos satisfatório para o exercício da função e organizado numa grade que permita vislumbrar uma condição de crescimento funcional na profissão. O salário tem que ser consequência do trabalho e não o contrário. Sendo assim, primeiro é preciso pensar no trabalho para depois pensar no salário, mas para que o trabalho se desenvolva a contento, há necessidade de que existam algumas condições físicas ideais.

Num segundo momento, é importante lembrar que o professor precisa gostar de ser professor. Ensinar é um ofício que tem peculiaridades como outro qualquer e exige cultura e curiosidade razoável, além de grande capacidade de argumentação, de conversação e de convencimento. Embora essas características andem bastante escassas nos tempos atuais, os professores não podem abdicar das mesmas para o cumprimento do bom exercício de suas respectivas funções. Professor que não se adequa a essas peculiaridades, que não gosta do que faz e que está dando aula por falta opção melhor precisa ser banido dos meios educacionais.

Outra coisa muito importante é que o professor, além de culto e curioso, como já foi dito, seja também conhecedor de sua matéria e que esteja sempre atualizado em relação a mesma. Para tanto torna-se necessário que existam cursos de extensão, de atualização, de reciclagem e de aperfeiçoamento que o professor possa cursar por conta dos empregadores, mas também por suas próprias expensas, haja vista que o interesse em melhorar profissionalmente deve ser, de forma precípua, do próprio professor. É fundamental que o professor saiba muito bem sobre aquilo que fala, pois ele tem que convencer ao aluno quando está falando e só quem conhece tem segurança e produz convencimento. Sem conhecimento não se cria bagagem, não se está seguro, não se desenvolve capacidade argumentativa e assim não é possível ensinar e muito menos convencer quem quer que seja.

Por fim, também é muito importante que o outro lado, os alunos, se predisponham a receber a informação e que vislumbrem aquele conhecimento contido na informação como fonte de interesse para sua vida individual ou social, tanto do pontos de vista teórico, prático, funcional, filosófico, ético e moral. Se o aluno não der importância ao ensino, certamente o ensino não acontece, porém o professor tem que procurar demonstrar essa importância que o aluno precisa ver e que muitas vezes ele infelizmente não quer. Embora o aluno deva vir para a escola cônscio de sua parte no processo educacional, a tarefa de motivar, em certo sentido, também pertence ao professor. Cabe a ele tornar a sua aula interessante para despertar um pouco mais o interesse de seu aluno.

Não sei se isso é bom ou ruim e nem vou discutir esse fato aqui, porque foge ao interesse deste modesto ensaio. Porém, a verdade é que no ensino privado as condições acima descritas estão mais bem estabelecidas do que no ensino público e assim fica fácil entender porque o ensino privado está significativamente melhor que o ensino público, embora isso não seja uma regra absoluta. Todavia, faço questão de lembrar que no passado a verdade era outra e ocorria exatamente ao contrário do que hoje acontece e muitos de nós, inclusive esse escriba, tiveram seus ensinamentos básicos em escolas públicas. Aliás, é bom ressaltar, que as vagas nas escolas públicas eram disputadas através de concursos e só os melhores, a partir de uma nota mínima estabelecida anteriormente ao concurso, conseguiam ingressar nessas escolas.

A caixa de fósforos exige condições especiais para produzir o efeito esperado, por exemplo, para “botar fogo” é preciso haver oxigênio no ambiente onde a riscagem do palito de fósforo acontece. Além disso, é necessário que o palito de fósforo e o local da riscagem na caixa estejam secos. Se essas condições mínimas forem estabelecidas e o ato mecânico que estimula o efeito se efetivar, certamente a incineração sempre acontecerá.

Com os professores a questão é bastante diferente, embora eles também sejam profissionais que têm necessidades especiais, não basta apenas satisfazer essas necessidades para que a ação esperada se realize. Os professores trabalham com um material que é especial, o aluno, o qual também é um ser humano. Como já vimos, esse tipo de material, o aluno, assim como o professor, tem vontade própria e essa característica pode mudar tudo, independentemente das condições ideais estarem todas estabelecidas. Ao contrário do que muita gente pensa, ensinar é uma tarefa muito difícil e não é qualquer um que pode estar em condições de desenvolver essa função, há necessidade de um bom preparo, de uma boa qualificação e sobre tudo de muita vontade.

Em suma, se todas as condições básicas forem satisfeitas e se os alunos e os professores tiverem vontade reciprocamente, os professores poderão “produzir boas chamas”, dar boas aulas e assim formar bons alunos. Porém, se não houver vontade, mesmo que todas as condições estejam estabelecidas, o palito que produziria a chama da Educação não se incinerará e as chamas não se formarão. Ou seja, sem vontade não há ensino. Aliás, sem vontade não há nada.

Então meus amigos, acabo finalmente de chegar onde eu queria. Estamos vivendo um momento em que somos cientes da necessidade dos professores como profissionais, porque estamos carentes de informação e de conhecimento. E mais, temos certeza de que a Educação é o único caminho que poderá nos levar a uma condição melhor. Entretanto, estamos fazendo a coisa errada, pois estamos tentando acender palitos de fósforos molhados e o que é pior, no vácuo. Desse jeito vamos ter que destruir muitas caixas de fósforos e gastar muitas vezes mais energia do que conseguiremos produzir. Isso admitindo que sejamos capaz de conseguir produzir alguma coisa, o que, pelo andar da carruagem, é bem pouco provável, para não dizer impossível.

Gente, está na hora de melhorar as escolas, mas de colocar gente boa e capaz dentro delas, de remunerar e qualificar melhor os professores, de questionar os pais para que ajudem a motivar seus filhos, de aprovar os bons e de reprovar os maus alunos, pois só assim, vamos poder “botar fogo” na educação do país, produzindo um ensino de boa qualidade que nossa gente tanto necessita. Chega de conversa mole, pois na vida tudo se põe à prova, até mesmo uma simples caixa de fósforos, se está em desacordo é descartada, então porque com a Educação, que certamente é a mais fundamental das atividades humanas, temos tentado mascarar a realidade e agir diferente.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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03 dez 2013

Um pouco sobre Educação

Bem todos aqui presentes sabem que não sou lá muito bom para fazer piadas, até porque gosto de um tipo de piadas que a maioria das pessoas não entende e assim elas acabam não achando nada engraçadas as minhas piadas. Entretanto, dessa vez, fiquei um pouco mais animado porque me pediram para vir até aqui neste evento para falar um pouco sobre Educação e ainda que eu também não entenda quase nada desse assunto, apesar dos mais de 37 anos de exercício do magistério, gostei da ideia de discorrer sobre o tema, porque esse é um assunto interessante e extremamente engraçado, pelo menos aqui no Brasil.

Nessa área já aconteceu de tudo, desde a existência de Presidente Semianalfabeto, com título de Doutor Honoris Causa, passando por um Ministro da Educação que comprou Diploma de Mestrado para tentar enganar o Congresso e a População Brasileira, até chegar a uma ex-terrorista de origem Búlgara, que por não conhecer nada da língua portuguesa vive insistindo em ser chamada de Presidenta da República. Em suma, Educação no Brasil é realmente algo que começa a inexistir, desde os altos poderes e faz a gente rir muito, por conta da picaretagem dos personagens poderosos.

Bem, mas, e nós aqui o que temos com isso?

Com tantas situações inusitadas na administração pública do país no que se refere a Educação dos nossos administradores, nós não poderíamos esperar assunto mais interessante para ser comentado e nesse sentido, penso que também posso dar os meus palpites, até porque eu talvez seja o sujeito mais burro que conheço. Digo isso, porque quase todas as pessoas que conheci entraram e saíram da escola, mas eu sou tão burro que que só entrei e até hoje, aos 57 anos de idade, ainda não consegui sair. E pelo jeito, só vou mesmo conseguir sair da Escola, quando estiver indo direto para o Cemitério. O pior é que de lá, do Cemitério, certamente eu não vou sair mesmo. Quer dizer, chegarei ao Cemitério com vasta experiência em Educação, mas que não terá me servido para nada, porque enfim a única coisa que, talvez terei conseguido, seja morrer educadamente.

Tem um ditado que diz: “educar é preparar para vida”, mas no meu caso específico “educar só parece ter me preparado para levar à morte”, haja vista que vou morrer na Educação. A única vantagem disso é talvez eu venha a ser um morto bem educado e depois de morto, efetivamente não falarei mais mal de ninguém.

Bem, mas vamos deixar a minha morte de lado e voltar ao assunto, a EDUCAÇÃO.

O termo EDUCAR vem do latim e no passado queria dizer “conduzir para fora”, no sentido de mostrar o mundo exterior ao educando ou aluno. Hoje o termo está mais para conduzir mesmo o aluno para fora da escola, haja vista o alto grau de evasão escolar, em consequência das diversas desistências e abandonos. Por outro lado, já que vivemos na era das máquinas e do lazer, alguns alunos preferem entender que EDUCAR é o nome de uma loja de carros cujo proprietário tem o nome de Eduardo e daí a loja ser conhecida como “EDU-CAR”. Outros alunos ainda vão mais além, porque como o Eduardo, o dono da loja, vive fazendo caça submarina de pequenos tubarões, dizem que ele pratica “EDU-CAÇÃO”.

Uma das dimensões da Educação é o ENSINO, palavra que na verdade é uma sigla que significa: “Eu Não Sei Isso, Nem Ouso”. O Ensino é consequência de ENSINAR, ou seja “Em si, no ar”, já que o aluno vai à escola para ser ensinado e continua sem saber absolutamente nada, ou seja, ele continua “no ar”.

Para ensinar existe a lendária figura do Professor, aquele que leva o conhecimento e a clareza. Aliás, a ideia contida na palavra PROFESSOR, tem variado muito ao longo do tempo e lamentavelmente tem diminuído bastante de crédito e de tamanho. No tamanho vejam o que aconteceu: o Professor foi “Catedrático”, foi “Professor”, foi “Mestre”, foi “Fessor”, foi “Prof”, foi “Prô”, foi “Sôr”, foi “Sô” e agora é apenas “P”. Como eu disse está diminuindo, porém chato mesmo acabou ficando para as filhos das Professoras que agora são conhecidas como “filhos da P”, o que há de se convir, não soa lá muito bem.

Quanto ao crédito, o Professor, que sempre teve salário baixo, mas sempre teve crédito, agora nem salário o infeliz tem mais. O Holerite do professor possui vários apelidos interessantes. Por exemplo: “Ejaculação Precoce”, porque acaba rapidinho para os homens e “Menstruação” porque nunca dura mais que três dias para as mulheres. Na verdade o Holerite acaba sendo a “declaração de pobreza” do professor. O crédito do professor, mudou de coluna e se transformou em débito. Desacreditado, debilitado e descreditado, o único banco onde você ainda é capaz de encontrar o Professor é sentado no “banco da praça”, mas mesmo assim isso é muito raro, porque já existem praças em que não estão deixando qualquer um sentar nos bancos. Tem mendigo mais feliz do que Professor, porque os mendigos ainda podem, pelo menos, sentar e dormir nos bancos das praças.

O Professor ensina ao aluno, aquele sujeito que deveria ir à escola para aprender, o apedeuta à busca de clareza e conhecimento. Pois então, o aluno é o outro lado do processo educacional. Primitivamente o termo ALUNO fazia referência àquele indivíduo jovem e ainda “sem luz”, que iria até a escola para receber a clareza e a orientação daquele que lhe professaria palavras que lhe forneceria essa luz, o Mestre. Bonito isso, não é? Mas, entender esse negócio era tão complicado, que parece que faltou energia, a luz sumiu e não se faz clareza nenhuma.

Hoje, o aluno é o sujeito que vai à escola somente para fazer algazarra e bagunça, inclusive apagando mesmo a luz, causando “blackouts” em grupos afinadíssimos em uníssono. Assim o termo ALUNO pode ser entendido hoje como “ALL-UNO”, do tipo: “um por todos e todos por um”, como no velho slogan dos Três Mosqueteiros. O Mestre, por sua vez, é aquele sujeito que atribui nota a algazarra do aluno e a escuridão da escola. Como a nota é dada a cada dois meses, ela é conhecida como NOTA BIMESTRAL, ou seja a nota dada pelo Mestre a cada dois meses.

Outro aspecto muito interessante na Educação é o famoso Livro Didático. O Livro Didático é aquele objeto que deveria ter a função de fazer o aluno estudar. Entretanto, o tiro saiu pela culatra e esse tipo de Livro desobrigou o aluno de escrever, pois com esse material o aluno só precisaria passar a ler. Por outro lado, como o livro é ilustrado, cheio de figuras, (mesmo não sendo lá uma figura muito ilustre), o aluno que já não escrevia, passou também a não ler, porque agora ele pode simplesmente apenas passar a ver figuras. Um certo aluno me confidenciou o seguinte: “Genial esse tal de Livro Didático, tem uma imagens interessantes. Caramba! porque vocês demoraram tanto para inventar esse negócio?”.

Mas o Livro Didático não é tão maravilha assim, folhear páginas vendo figuras, para lá e para cá, criou um problema sério em alguns alunos que desenvolveram LER. Não, não, por favor não confundam. Eles não passaram a desenvolver a Leitura, eles apenas adquiriram LESÃO DE ESFORÇO REPETITIVO – LER, nos dedos das mãos. Entretanto, muitos têm achado excelente, porque agora, por ordens médicas, eles são obrigados a ficar cada vez mais longe dos livros e não têm que ler absolutamente mais nada. O Livro Didático também é conhecido como Livro de Texto e sobre esse aspecto ele apresenta outra peculiaridade interessante, porque como diz o nome Livro de Texto, o aluno aproveita e também diz eu “detesto” esse tipo de livro, aliás, assim como “detesto” qualquer outro livro ou coisa que eu tenha que ler.

Outra dimensão importantíssima da Educação é a avaliação, mas atualmente ela está mais para “avariação”, pois o que se avalia na escola hoje é a incapacidade de educar, a qual é cada vez maior. Não se mede aquilo que é melhor, mas sim o que é menos pior. O nível educacional já virou subnível e falta pouco para sair do prumo e entrar totalmente em desnível. Quer dizer, está mesmo uma “avariação”. Nosso recorde mais honroso na educação é estar sempre entre os piores, ajudando a segurar a lanterna, em todas as avaliações internacionais e dizem que estamos melhorando muito. Basta ver os resultados dos PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – sigla em inglês) para ver as sucessivas PISADAS que temos tomado por ficar sempre embaixo dos outros. Caramba! No que tange à Educação, nós somos sensacionais. Nós somos mesmo danados ou será que deveria dizer danosos (avariados)?

A Escola que já foi uma importante instituição social, onde os atores (Professores e Alunos) trabalhavam pela Educação, agora é um ponto de encontro onde professores e alunos se encontram, algumas vezes por semana, para discutir futilidades e ampliar o relacionamento social e o grau de conhecimento sobre a DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia) e outras coisas desimportantes. Na verdade, em geral, a escola virou um enorme teatrão onde os professores são artistas a fingir que ensinam e os alunos são artistas a fingir que aprendem. Ainda que seja triste afirmar: “a Educação é a maior piada desse país”.

No passado a escola era conhecida como COLÉGIO, que primitivamente trazia a idéia de reunir, talvez reunir para colar (Cola – légio: “a Cola diabóloca ou o Centro da Cola”). No Colégio os alunos colavam e assim tinham aprovação. Hoje a coisa mudou, agora os alunos não precisam mais colar, porque serão aprovados de qualquer maneira, haja vista que a aprovação é automática e por isso o nome mudou e agora o antigo Colégio denomina-se ESCOLA (Ex – Cola) e assim, por convencimento, estamos extinguindo também a cola nas ex-colas.

Antigamente, qualquer aluno, bom ou mal, tinha pelo menos que ler, porque quando o Professor lhe perguntava: menino você leu o a assunto? Ele respondia: “LI-CEU fulano”. Mas, hoje isso mudou e mudou muito, pois os alunos e talvez muitos dos professores nem saibam o que é o Liceu de Aristóteles. Aliás, na Grécia Antiga também tinha a Academia de Platão, mas hoje os alunos só pensam na Academia de Ginástica e na musculação e pensam que ele é derivada do ideia de um filósofo grego que ficou muito forte fisicamente, porque comia muito e por isso mesmo ficou conhecido como “platão”. Nas Academias de hoje, o “platão” foi substituído pelos suplementos alimentares, isto é, as bombas que os alunos ingerem inadvertida e descontroladamente, para ganhar massa física. Pois é, antigamente a Academia era na Grécia, mas hoje, embora a Academia possa ser em qualquer lugar, ela continua sendo um programa de grego.

Hoje com a INTERNET, se o professor perguntar se o aluno leu alguma coisa ele responderá mais ou menos assim: “então mano prof, sabe como é, né? As mina pira e aí não dá para ficar, tipo, lendo… é melhor fazer um “curso”, quer dizer, é só pegar o “mouse”, tá sabendo, o “mouse”, e clicar com o cursor e fazer um curso no dicionário do Google. Pô, cara, é muito “manero”, já tá tudo lá. Então, porque eu vou ler, quando precisar eu pego e aí, sabe como é, né? As mina pira e é nós na fita. Em suma, o Computador é a Igreja, a Internet é Jesus Cristo, o Google é o próprio Deus, enquanto a escola, o professor, a leitura, o idioma e o país, que se …. Bem, deixa para lá.

Essa mania de eletrônicos também criou outra situação bastante interessante nas Escolas, que estão cada vez mais parecidas a grandes centros aeroespaciais. Digo isso, porque os alunos de hoje, mais parecem astronautas do que estudantes, pois eles não só estão ligados como estão efetivamente cheios de fios, cabos e antenas. Os estudantes se associaram tão intimamente com Smartphones, Ipods, Ipeds, Tablets, Laptops e outros produtos estranhos, alucinantes, coloridos e barulhentos, que parecem ter se transformado em verdadeiros “voyagers do futuro” e os professores, ainda que aparentemente sejam normais, na verdade são insignes “dinossauros arcaicos”. Desta maneira, enquanto os alunos seguem na escuridão, embora na velocidade da luz, os professores seguem luminosamente, esperando o dia em que o grande meteoro trará o clarão que extinguirá a todos.

Em suma, a Educação é uma coisa legal, desde que não haja regras e nem professores. A Escola é algo melhor ainda, desde que não seja diária e nem obrigatória. O Ensino é algo fantástico, desde que seja daquilo que a televisão e a mídia mandam fazer. O Professor é um bom sujeito, o que não quer dizer que seja um sujeito bom e obviamente que ele está sujeito às intempéries. Mas, o aluno…. Ah! O aluno. O aluno é o cara! O cara de pau, que tem que passar óleo de peroba na cara todo dia para evitar a proliferação de cupim. O pior é que a Educação deveria ser para ele, mas parece que nem ele e nem o governo ainda não se tocaram desse fato.

Enfim, eu pergunto: isso é ou não é muito engraçado? Ou será muito triste?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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