Resumo: O Prof. Luiz Eduardo apresenta mais um artigo, dessa vez fazendo uma reflexão acerca do uso maciço e cotidiano da INTERNET e do afastamento entre as pessoas, o que ele acredita ser ruim para o relacionamento forte e real que precisa existir entre os seres humanos. O texto é relativamente curto, embora um pouco subjetivo e procura demonstrar que é preciso controlar o egoísmo que naturalmente existe nos representantes de nossa espécie. Apesar da complexidade do assunto, acredito que o artigo possa servir como boa fonte de reflexão para pensarmos juntos num mundo melhor, com humanos melhores. Leiam o texto e digam o que acharam do mesmo.
Externalidades e Hipocrisia
É claro que todo mundo tem problemas e que esses problemas lamentavelmente são pouco significativos para os outros, porém certamente os problemas são fundamentais para as pessoas que os têm. Assim, quase ninguém tem tempo efetivo para os problemas dos outros, haja vista que cada um está olhando para dentro de si mesmo, preocupado com seus próprios problemas. Quer dizer, de uma maneira geral, as pessoas só se preocupam consigo mesmas e seus respectivos problemas (umbigos), mas é óbvio que existem alguns seres humanos raríssimos, ilustres e quase santos que fogem a essa regra, como Madre Teresa de Calcutá, só para dar um exemplo. Mas, não é desses seres humanos especiais como Madre Teresa que eu quero falar. Vou me referir aos humanos comuns. Todos nós, meros seres humanos comuns, apesar de convivermos sistematicamente com outras pessoas, na verdade não conhecemos direito esses outros seres humanos que estão ao nosso lado e na verdade, parece que não queremos mesmo conhecê-los. Quando muito, nós temos apenas e tão somente uma visão externa, superficial e muito pouco abrangente das demais pessoas a nossa volta, salvo raríssimas exceções, como é o caso de pessoas mais próximas e importantes que nos surgem pelos mais diversos motivos e situações, como os pais, os filhos e aqueles amigos mais chegados. Quer dizer, de maneira geral quase todos nós somos bastante desconhecidos de nós mesmos, pois temos uma visão caolha dos outros com quem convivemos e ao mesmo tempo somos naturalmente falsos e hipócritas com os problemas dos outros, com os quais ladinamente fingimos nos preocupar. Não fazemos isso por mal. Na verdade, nós não participamos da vida das outras pessoas, porque estamos muito envolvidos com os nossos problemas e não temos tempo e nem nos damos o direito de conhecer o outro plenamente. Isso não bom e nem é ruim, esse fato é apenas natural, pois essa é uma característica muito marcante de nossa espécie. É duro ter que admitir, mas somos naturalmente uma espécie egoísta e o pior é que essa característica parece ter sido de significativa importância para a nossa evolução, mas essa é outra questão que não cabe ser discutida neste momento. Por outro lado, já que temos consciência desse fato, não podemos, de maneira nenhuma, deixar transcender o limite do possível e utilizar o nosso egoísmo natural como forma de prejudicar outros indivíduos deliberadamente e assim acabar prejudicando toda a nossa espécie. Somos indivíduos, mas temos que pensar como espécie, porque do contrário caminharemos muito rapidamente para a nossa extinção, haja vista que o egoísmo exacerbado de alguns indivíduos pode comprometer todo o grupo social. Essa é realmente uma situação complicada e difícil de entender. Temos que pensar como indivíduos para sobreviver, o que é fundamental para qualquer indivíduo, mas, em contra partida, temos que agir de forma que a nossa sobrevivência não afete a sobrevivência dos demais seres humanos do planeta. Como resolver esse impasse íntimo? Os “grupos sociais fortes” (coesos e melhor identificados) tendem a superar significativamente essa barreira e as pessoas, nesse caso específico, costumam se conhecer melhor e assim convivem bem e são mais francas e reais entre si. Nesses grupos é que encontramos aquilo que se convencionou denominar de altruísmo, embora dificilmente haja um altruísmo puro nos indivíduos da espécie humana. Aqui observamos e encontramos os companheiros, os camaradas e mesmo os grandes amigos da humanidade, mas ainda assim não é muito comum encontrarmos naturalmente esses “grupos sociais fortes”. Parar ilustrar o que estou tentando dizer, tomemos, por exemplo, o ambiente de trabalho, que é um grupo social onde as pessoas convivem e algumas até se relacionam muito bem. Nesse tipo de ambiente, seja ele qual for, cada um de nós, convive diuturnamente com uma infinidade de pessoas, mas não conhecemos, de fato, quase nenhuma delas. Nós apenas identificamos algumas de suas características externas e suas peculiaridades mais chamativas, o que eu vou chamar aqui de “externalidades”. Muitas vezes nós somos obrigados a emitir conceitos e pareceres sobre essas pessoas que não conhecemos direito e que são nossos colegas de trabalho. Exatamente nesse momento, surge a falsa impressão, a opinião, o palpite e muitas vezes a mentira, pois estamos falando daquelas pessoas que deveríamos conhecer, mas que na realidade não sabemos direito quem são. Desta maneira, acabamos por nos tornar hipócritas, desonestos e levianos. Julgamos as pessoas apenas e tão somente por “feeling” ou por “ouvir falar”, pois não conhecemos seu interior, suas vontades, seus pensamentos reais e muitas vezes não conhecemos, nem mesmo, suas opiniões e as possíveis ações que manifestariam nas mais diversas situações do cotidiano. Pois então, nos mais diversos grupos sociais acontece a mesma coisa que foi citada acima. As pessoas lamentavelmente julgam as outras a partir de pareceres e de “externalidades” que ouviram dizer, mas que na realidade não têm como comprovar. Vivemos num mundo de mentiras, onde é comum os filhos não conhecerem pais e vice-versa, irmãos não conhecerem irmãos e amigos não conhecerem amigos. Quer dizer, na verdade, muitas vezes não existe parentesco além da genética e nem afinidade social real entre essas pessoas, que se suportam ou se aturam e assim convivem por mera formalidade ou por pura contingência, graças exclusivamente às suas “externalidades”. Os laços afetivos são fracos e se originam de aspectos externos e pouco efetivos. Infelizmente o mundo moderno está cada vez mais constituído assim, através de conexões informais, frágeis e quebradiças, que não nos permitem saber efetivamente quem é o outro com quem convivemos cotidianamente. Não participamos da vida dos nossos mais afins e por isso mesmo, em dado momento, a relação (conexão) se rompe e já não temos mais aquele vínculo social. De fato, essa conexão nunca existiu, porque ela sempre foi superficial e externa. O comportamento humano precisa mudar para ser mais íntimo, mas real e menos externo. Precisamos conhecer realmente as pessoas com as quais convivemos e nos relacionamos. Precisamos saber efetivamente quem é o outro ao nosso lado. Estamos em tempo de INTERNET, de mundo virtual e desta maneira a situação ideal está ficando cada vez mais difícil de ser conseguida, porque estamos nos afastando sempre mais dos outros humanos e estamos tornando as conexões físicas progressivamente mais fracas. Está na hora de voltarmos a tentar encarar o mundo real, o mundo das pessoas que existem realmente e sairmos do mundo do faz de contas. A INTERNET é uma ferramenta útil e fantástica em alguns aspectos, mas ela não é nem pode ser nada além de uma ferramenta, como muitos têm tentado demonstrar. O mundo virtual não existe e nem pode existir mesmo, do ponto de vista físico. As pessoas, estas sim são reais e com elas é que devemos nos preocupar e nos comprometer. Penso que estamos à beira de um abismo e assim as “externalidades” e o nosso egoísmo natural têm crescido progressivamente por conta do “universo virtual” estabelecido pelas redes sociais. Essa situação precisa ser freada para manter a nossa necessidade existencial maior como indivíduos e permitir a continuidade planetária de nossa espécie. Temos que acabar com a hipocrisia e criar conexões embasadas em valores afetivos e morais mais fortes entre os humanos do presente, porque somente assim iremos garantir a humanidade do futuro.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
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