Tag: Encíclica Papal

02 nov 2015

Papa Francisco: o Jesuíta de Coração e Mente Franciscana

Resumo: O texto atual aborda a encíclica papal “Laudato si”, que foi publicada essa ano e, de certa forma, também é uma homenagem ao Papa Francisco, que resolveu conclamar os católicos para ajudar o planeta e ao mesmo tempo uma solicitação aos católicos para que promovam e pratiquem aquilo que o Papa está pedindo na Carta Magna, pois a salvação da “mãe Terra” depende exclusivamente das atividades promovidas pela humanidade.


Papa Francisco: o Jesuíta de Coração e Mente Franciscana

No século XVI, graças a Nicolau Copérnico, o Heliocentrismo passou a ser considerado o modelo verdadeiro para explicar a composição do Sistema Solar, entretanto a Igreja Católica sempre manteve essa evidência científica fora de suas verdades primárias, haja vista que isso era desinteressante e contrariava preceitos dogmáticos da doutrina. Apenas no ano de 1922 foi que finalmente os líderes do Catolicismo perceberam que admitir que a Terra não é o centro do mundo, talvez não fosse um problema tão grave aos interesses da Igreja Católica e, a partir de então, eles reconheceram e aceitaram o padrão heliocêntrico como sendo uma verdade.

Daquela época até recentemente, mais precisamente até o dia 24 de maio de 2015, quando o Papa Francisco admitiu que a Teoria da Evolução e a “Teoria do Big Bang” são reais e não contradizem o Cristianismo, praticamente não tinha acontecido nada de significativamente diferente nas posições da Igreja Católica. Obviamente é bom ressaltar que Pio XII, em 1950, já havia admitido que a aceitação da Evolução como Teoria Científica era plausível para explicar biologicamente a diversificação da vida e, além disso, também deve ser lembrada a citação de João Paulo II, em 1996, de que: “a evolução é compatível com a fé cristã”. Entretanto, a atual colocação de Francisco foi peremptória.

O Sistema Solar sempre foi o mesmo, custamos a entende-lo corretamente, mas no século XVI a Ciência já não tinha mais dúvidas de sua organização estrutural. Entretanto, como já foi dito, a Igreja Católica só reconheceu esse padrão organizacional em 1922. Quer dizer, levou cerca de 300 anos. A Teoria Darwiniana da Evolução Biológica, foi estabelecida formalmente em 1859, no livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin, mas ela já vinha sendo discutida, pelo menos 30 anos antes por seu apresentador e alguns amigos nas esferas científicas. Mas, a teoria só foi reconhecida por Pio XII em 1950, isto é, levou cerca de 100 anos. A atual teoria do “Big Bang”, que começou a ser discutida por volta de 1925, sendo proposta definitivamente por George Gamow, em 1948, mas Francisco já está considerando a mesma como um fato verdadeiro com menos de 70 anos de seu surgimento formal, embora essa teoria contradiga muito as bases da Religião Católica.

Eu, embora leigo no que se refere ao Catolicismo, depois da declaração do Papa Francisco, ouso dizer que nunca houve tantos motivos para que todos os católicos do mundo e mesmo os não católicos preocupados com o planeta se sintam radiantes e esperançosos quanto aos destinos do Igreja Católica e quiçá de toda a humanidade. O comando dos católicos por um homem da grandeza e da coragem do Papa Francisco, certamente só trará benefícios ao planeta Terra e a todos os seus habitantes, principalmente os seres humanos.

Em suma a Igreja Católica, assim como a grande maioria das religiões nunca foi muito ligada nas afirmações e nas conclusões científicas, principalmente naquelas questões que de alguma maneira desagradavam seus interesses confessionais. Mas, eis que surge um Papa genial, que parece pensar diferente e que tem se utilizado dos argumentos científicos para engrandecer sua Igreja e se manter em paz com a os demais interesses da humanidade e do planeta.

Três aspectos devem chamar a atenção dos leitores, principalmente os leitores católicos, das colocações feitas nos parágrafos anteriores. O primeiro aspecto é que a Igreja Católica, ao contrário do que acontecia no passado, está progressivamente deixando de ser alheia ao conhecimento científico, mas o segundo aspecto é exatamente que a Igreja Católica, embora venha tomado decisões mais rapidamente, ainda demora muito para assumir suas posições e tomar as devidas decisões. O terceiro aspecto, que é o melhor deles, é que, apesar da demora, a igreja está percebendo que a crença na Ciência não atrapalha a fé e, talvez até possa favorece-la e por isso mesmo a igreja está assumindo uma postura também científica e investigatória mais aberta e paulatinamente tem resolvido não entrar em discussão com as verdades impostas pelo conhecimento científico.

Que bom seria para a humanidade se todas as outras religiões anticientíficas também tomassem uma postura, ainda que paulatinamente, nessa mesma direção, ou seja, de caminhar em paralelo com a Ciência. Mas, vamos voltar ao nosso assunto e deixar essa discussão para outro momento.

O Papa Francisco recentemente, em 24 de maio de 2015, resolveu publicar a Encíclica “Laudato si” (Louvado sejas) e colocou o subtítulo muito interessante e pertinente que diz: “sobre o cuidado da casa comum”. No texto, o Papa propõe aos católicos, numa manifestação clara e objetiva, que se comprometam com o planeta e com as diferentes formas de vida nele existentes. Cita São Francisco de Assis como modelo de ser humano e convida os católicos a assumirem as mesmas atitudes que o São Francisco tinha em relação à mãe Terra e as demais criaturas, que ele tratava como “irmãos” e “irmãs”.

Meus amigos, depois dessa atitude de Francisco, se João Paulo II havia sido um Papa carismático e agradável, que quase todas as pessoas, católicas ou não, adoravam pela sua gentileza e por suas posturas políticas e sociais em prol dos mais necessitados. Se, por outro lado, Bento XVI certamente foi um grande fiasco como líder maior da Igreja Católica, da qual se viu obrigado a renunciar, porque não teve pulso suficiente para tocar a batuta de papa e não cabe aqui discutir os porquês, mas que levou a Igreja Católica a uma visão de desagrado e descrédito para muitas pessoas no mundo. É exatamente nesse momento conturbado da história do Catolicismo, que aparece o Papa Francisco e ele reencontra a partitura, seguindo na mesma linha que João Paulo II e agora se assume na condição do “Papa Amigo da Terra, da Vida e da Ecologia”.

Francisco é um tipo de Papa ambientalista, ou melhor, socioambientalista, preocupado com a “mãe Terra”, com sua biodiversidade, com a poluição, com a desigualdade planetária, com a degradação da qualidade de vida humana, principalmente com a situação dos seres humanos mais carentes. Até aqui, nenhum Papa tinha se manifestado tão claramente em prol do ambientalismo, mas Francisco faz isso e mais, quando produziu uma encíclica galgada nos problemas e questões ambientais que têm assolado o planeta, mormente nos últimos anos e que tem levado a uma descaracterização cada vez maior da humanidade.

As posições proativas do Papa Francisco quanto as questões socioambientais têm trazido significativas situações de progresso e satisfação interior ao público católico e a alguns leigos, que têm se manifestado positivamente sobre essas posições, como é o caso particular deste escriba. A encíclica “Laudato si” aborda aberta e amplamente as questões ambientais, além de convocar os governos e pessoas a tomarem posturas efetivas sobre as atividades antrópicas que comprometem a Terra e que têm gerado muitas das grandes catástrofes, como por exemplo, o Aquecimento Global, em consequência do aumento da concentração de gás carbônico.

Por outro lado, o conceito de vida é traduzido e ampliado numa noção ecossistêmica, em que nada está isolado e por isso mesmo a vida deve ser preservada e protegida na sua integridade, incluindo aí, todo o ecossistema em que ela se encontra. O Papa Francisco foi prolixo em sua encíclica e promoveu uma verdadeira aula de Ecologia para ser seguida pelos católicos do mundo, dentro da mais singular postura franciscana, isto é, simples, humilde, realista e com o pé no chão como São Francisco de Assis. Além disso, ele foi ainda mais ousado em sua proposta, quando questionou conceitos tradicionais arraigados nos segmentos mais ortodoxos da religião católica.

Francisco só não mexeu diretamente no problema da natalidade e do crescimento populacional humano, que acaba sendo o maior de todos os problemas ambientais, porque todos os outros derivam dele, porém isso talvez seja exigir demais, pois certamente qualquer posição imediata do líder maior de igreja sobre essa questão, certamente teria consequências drásticas à própria religião e abalaria as bases da Igreja Católica de forma bastante violenta. Creio que Francisco foi prudente e mesmo sabendo da necessidade de controle populacional, ainda está cedo para envolver essa questão numa encíclica papal. Acredito que ele está guardando uma carta na manga e que irá progressiva e cautelosamente abordar essa questão em futuro próximo, até porque sem esse cuidado especial com a “mãe Terra”, dificilmente poderemos resolver os demais problemas, quando muito, nós apenas minimizaremos alguns deles.

De qualquer maneira, solicito aos católicos que leiam e reflitam bem a encíclica e façam de tudo que for possível para acatar as palavras do seu líder maior, o Papa Francisco, que até aqui tem surpreendido o mundo. Aliás, sempre é bom lembrar que as surpresas vêm desde sua eleição (escolha) como Papa, que não era planejada por Roma, mas que repentinamente aconteceu.

Enfim, Francisco está dando um banho na sua função de conduzir o maior rebanho do planeta. Se João Paulo II foi o “Papa pop”, Francisco está sendo o “Papa telúrico” ou talvez “Papa sideral”, e como o espaço aparentemente não tem limites, a mente e o coração de Francisco também não devem ter. Assim, estou certo de que devemos esperar novas surpresas desse Papa fabuloso que veio para sacudir, acordar e ajudar os católicos do mundo e todos os demais seres humanos, além de todos os outros “irmãos” existentes e dependentes da “mãe Terra”.

Nós, humanos sensatos e preocupados, que queremos um mundo melhor, independentemente de qualquer credo religioso, vamos ficar aqui aguardando ansiosamente os próximos acontecimentos e as próximas orientações vindas do Vaticano e quem sabe de outros setores religiosos também.

Por enquanto, o que temos a dizer é apenas o seguinte: “Laudato si, mi Signore Francisco”.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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