Resumo: Algumas informações básicas e objetivas, tentando trazer a verdade sobre os possíveis problemas relacionados aos acidentes com escorpiões.
Os Escorpiões são animais representantes do Filo dos Artrópodes, da Classe dos Aracnídeos e da Subclasse dos Escorpionídeos. Esse tipo de animal é aparentemente bem conhecido das populações, sendo bastante temido pelas pessoas em geral, haja vista que possui uma glândula de veneno localizada no interior do último segmento de seu abdome, que se comunica com o exterior através de um aguilhão (ferrão), por onde o animal pode inocular a toxina (veneno) que produz. Os Escorpiões se utilizam desse mecanismo de inoculação de veneno fundamentalmente para duas situações: matar suas presas e se defender de seus possíveis agressores (inimigos).
Existem cerca de 1600 espécies de escorpiões descritas no mundo, cerca de 200 dessas espécies de escorpiões são encontradas no Brasil, mas apenas 10 dessas espécies brasileiras são consideradas perigosas para o homem. Isto é, a toxina (veneno) da maioria dos escorpiões brasileiros não causa nenhum risco ou dano aos seres humanos. Entretanto, existem algumas que podem realmente produzir problemas sérios.
Aqui na região são encontradas duas dessas espécies consideradas perigosas: Tytius serrulatus, a mais comum e conhecida como “escorpião amarelo” e Tytius bahiensis, conhecido como “escorpião preto”, mas isso tem pouco significado, porque praticamente todas as espécies de escorpiões brasileiros são de coloração principalmente amarela ou preta. Para identificar a espécie Tytius serrulatus, talvez fosse mais interessante observar a serrilha característica no dorso desses animais e para identificar Tytius bahiensis, talvez fosse melhor observar que embora seu dorso seja negro, suas patas são amarelas e seu palpo (o apêndice maior da parte anterior do escorpião) tem manchas pretas na parte terminal, antes de suas quelas (pinças ou garras).
As populações desses animais têm crescido, em função direta do crescimento das áreas urbanas e consequentemente o número de casos de envenamento produzidos pelas picadas em humanos e em animais domésticos também. Hoje, o número de acidentes registrados com escorpiões já superou o número de acidentes ocorridos com as cobras, aqui no Brasil, o que tem tornado os escorpiões em mais uma questão de saúde pública.
É bom lembrar que os escorpiões existem a cerca de 400 milhões de anos, isto é, muito antes de qualquer ser humano e que, ao contrário do que andam dizendo, não está havendo uma invasão de escorpiões, porque eles já viviam aqui muito antes de nós e certamente eles vão continuar vivendo, independentemente da nossa vontade. O que precisamos é conhecer um pouco melhor o hábito de vida desses animais, tentar evitar o contato direto com eles e controlar o crescimento acentuado de suas populações e ainda, dentro do possível, aprender a conviver com eles evitando que os acidentes possam acontecer.
Pois então, em consequência desses vários aspectos, como foi dito acima, os acidentes com escorpiões se transformaram progressiva e assustadoramente em casos cada vez mais sérios de saúde pública. Entretanto, é preciso que se esclareçam algumas coisas, porque ainda existe muita lenda, muita inverdade sobre os riscos de acidentes produzidos por esses animais. Na realidade, os maiores problemas resultam da desinformação das populações e das inúmeras crendices que existem sobre o perigo relacionado aos escorpiões. Por conta disso, resolvi fazer está pequena explicação para elucidar algumas dessas inverdades que lamentavelmente, ao invés de serem esquecidas, acabam sendo intensificadas pela mídia e reforçadas pelas próprias autoridades. Infelizmente, a ignorância e o desconhecimento são as principais causas dos problemas, no que se refere aos escorpiões.
Eis aqui algumas perguntas e respostas que eu reputo como esclarecedoras sobre as principais questões relacionadas aos escorpiões.
1 – Picada de escorpião mata?
Se o indivíduo tomar uma única picada, na imensa maioria das vezes não. Registros de mortes por conta de picadas de escorpiões são extremamente raros, em torno de 1% dos casos, e geralmente estão associados a outros aspectos. Isto é, além da picada o indivíduo atingido, deve apresentar outros problemas, como alergia, problemas renais, subnutrição, problemas neurológicos. Talvez a toxina do escorpião possa agravar o quadro e assim conduzir ao óbito, mas ela não é a causa única que gera o óbito. Porém, se o indivíduo tomar várias picadas ao mesmo tempo, assumindo grande quantidade de veneno, obviamente a ação da toxina será ampliada e assim a chance de óbito certamente também será magnificada. Entretanto, se a possibilidade do indivíduo tomar uma picada já é muito rara, então a probabilidade dele tomar mais de uma picada e quase desprezível.
2 – Picada de escorpião dói?
Sim, dói e dói muito, o local pode ficar acentuadamente vermelho, pode até necrosar, pode produzir dor de cabeça, vômitos, queda da pressão e trazer inúmeras outras complicações momentâneas. Entretanto, normalmente não vai além disso, porque existe o soro antiescorpiônico que age como antídoto contra o efeito da toxina (veneno) e num espaço de tempo relativamente curto, acaba inibindo seus efeitos. Sendo assim, se o indivíduo for picado, basta correr ao centro médico (hospital ou posto de saúde) e tomar o soro, que gradativamente tudo voltará ao normal.
3 – Qual o verdadeiro perigo com os escorpiões?
O perigo real é que, como os escorpiões brasileiros são animais relativamente pequenos, pois raramente ultrapassam 6 centímetros e os maiores não passam de 7 centímetros, eles têm grande facilidade de se esconder de nossa vista. Espécies de “escorpiões gigantes”, com cerca de 20 centímetros de comprimento, não existem aqui no Brasil. Sendo pequenos, os animais entram facilmente, sem serem vistos, dentro dos sapatos e botas, dos bolsos e das bolsas, das caixas de joias e bijuterias, das caixas de remédio, enfim de várias coisas comuns nas nossas casas. Desta maneira, eles acabam não sendo vistos e as pessoas, ocasionalmente, acabam acidentalmente pisando, apertando ou mesmo pegando esses animais, que se sentem agredidos e eles se defendem através das picadas.
Podem estar certos, que não existe nenhum escorpião pretensamente “mal intencionado” e que deliberadamente programe atacar o ser humano, pois logicamente ele não vai querer gastar seu rico veneno, numa coisa tão grande como o ser humano, da qual ele não poderá se utilizar como alimento. É lenda essa história de dizer que o escorpião atacou alguém, que não seja uma presa sua. Na verdade o ser humano é quem ocasionalmente ataca o escorpião, quando vai dar um tapa no escorpião ou quando vai calçar o sapato que tem um escorpião dentro e assim acaba recebendo uma picada ao tocar ou pisar no animal.
Outra coisa que precisa ser dita e tornada óbvia a todos é que, se nós excluirmos os bebês e alguns idosos com problemas motores crônicos, todos os demais seres humanos são capazes de dar uma chinelada num escorpião, da mesma maneira como se costuma fazer com as baratas. Pois então, depois da chinelada, assim como acontece com a barata, certamente o escorpião estará morto. Quer dizer, também não faz muito sentido, apesar do escorpião ser um animal perigoso, que o ser humano tenha esse medo estarrecedor do animal, haja vista que uma simples chinelada pode acabar com qualquer escorpião. Na verdade, falta apenas bom senso, desmistificação do escorpião e orientação da população.
O escorpião é perigoso sim, mas ele é um animal como outro qualquer e infinitamente menor que o ser humano. Vou continuar usando a barata como exemplo. Se você é capaz de matar a barata, certamente você é capaz de matar o escorpião e por mais escorpiões que existam, certamente o número de baratas é muito maior. Isto quer dizer que, se você consegue controlar as baratas com as chineladas, obviamente você conseguirá controlar os escorpiões também. O problema é que você não tem medo da barata, mas tem medo do escorpião, porque colocaram na sua cabeça, uma grande quantidade de crendices e inverdades sobre os escorpiões. O que precisa acontecer é a desmistificação do escorpião.
As pessoas precisam entender que escorpiões são animais perigosos, mas que os acidentes com esses animais são acidentes e assim são, antes de tudo, raros e facilmente evitáveis. Basta que se tenha o cuidado necessário no possível encontro desses animais. Na verdade, precisamos apenas mudar alguns dos nossos hábitos para diminuir significativamente o número de casos de picadas de escorpiões. Antes de vestir sua roupa, antes de calçar o seu sapato ou antes de mexer na sua caixa de joias, observe se há escorpiões. Se não encontrar o animal, tudo bem e se encontrar é só matar ou espantar o animal. Lembre-se que ele é apenas um pequeno animal invertebrado, que pesa algumas gramas e que você é um grande vertebrado que costuma pesar mais de 60 Quilogramas em média e que ele, a princípio, não tem nenhum interesse em gastar seu rico veneno em você, haja vista que o veneno “custa caro” e leva tempo para ser metabolizado (fabricado) pelo escorpião. O escorpião é apenas um animal verdadeiro e real, ele não possui superpoderes.
4 – A galinha é um predador natural dos escorpiões?
Não, até porque na natureza uma galinha e um escorpião provavelmente nunca se encontrariam se o homem não tivesse produzido esse encontro, mas uma galinha até pode comer alguns escorpiões, se conseguir encontra-los. Mas que fique claro, a chance da galinha encontrar um escorpião é menor do que a de você encontrar. É lenda essa história de que galinha é um inimigo natural e um predador do escorpião, até porque, além de tudo, a galinha tem hábito diurno e escorpião tem hábito noturno e assim dificilmente eles se encontram. Em certo sentido, as lagartixas talvez sejam mais eficientes que as galinhas no combate aos escorpiões. Sendo assim, não mate as lagartixas, pois isso já minimizará as possibilidades de aparecerem escorpiões na sua casa.
5 – O que se deve fazer para não ter mais escorpiões nas casas?
As pessoas devem manter a casa limpa e higienizada, sem restos de comida, restos de construção civil, sem lixo acumulado em geral e, principalmente, sem pequenos lugares quentes e úmidos que possam abrigar escorpiões, como por exemplo, aquela meia usada que está jogada num canto do quarto desde a semana passada. Você não deve favorecer à produção de ambientes interessantes aos escorpiões e nem as baratas, porque os escorpiões vêm atrás delas. As baratas são os alimentos preferidos dos escorpiões e assim, onde tem barata deve ter escorpião. Mas, os escorpiões também podem comer outros artrópodes, como insetos, aranhas e mesmo outros escorpiões. É claro que a dedetização das casas, ainda que não resolva totalmente o problema, também minimiza a possibilidade do aparecimento de escorpiões.
6 – Devo acreditar nas informações oriundas de vídeos da INTERNET?
Na grande maioria das vezes não, pois muitas são mentirosas e outras são totalmente equivocadas. Agora vou esclarecer um detalhe técnico que a maioria das pessoas não conhece. Existem vários grupos de artrópodes aracnídeos cujos animais são parecidos (têm a mesma forma corpórea básica) dos escorpiões. Por exemplo, recentemente andou circulando um vídeo em que um sujeito apresentava uma grande quantidade de escorpiões no interior de uma caixa de ovos. Pois então, aqueles animais não são escorpiões e sim pseudoescorpiões.
Os Pseudoescorpiões sãos um grupo de Aracnídeos que tem uma forma semelhante aos escorpiões, mas que não possuem o aguilhão na parte final do abdome. Desta forma, eles são totalmente inofensivos, pois não possuem e não inoculam nenhuma toxina (veneno). Cuidado, com as informações da INTERNET, até porque além de muita maldade proposital, existe também muito desconhecimento. Quando você tiver dúvida sobre algo, procure alguém que conheça daquele assunto e possa explicar algum detalhe mais claramente. Desconhecer alguma coisa é normal, o que não deveria ser normal é fazer afirmativas sobre aquilo que não se sabe, por isso pergunte a quem entende.
Bom, penso que, depois desse pequeno texto, tenha sido possível esclarecer algumas dúvidas, mas certamente devem ter sido criadas outras. Por favor, não tenham vergonha e sintam-se à vontade para perguntar e desde já podem ter certeza que, aquilo que eu também não souber responder, vou simplesmente dizer não sei ou irei procurar com algum especialista no assunto. Aliás, esse é outro problema comum, que só aumenta a nossa ignorância. A pessoa tem medo de dizer que não sabe alguma coisa e aí ela inventa uma resposta e aquela pessoa que recebeu a informação acredita e passa a resposta inventada para outra pessoa e assim por diante. De repente, uma coisa errada (mentira) é repetida inúmeras vezes e acaba virando certa (verdade). Também é preciso acabar com isso, porque essa situação só aumenta a nossa ignorância. Como eu disse no início, a ignorância e o desconhecimento sobre a nossa fauna estão entre os piores de todos os problemas que nós brasileiros temos.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (62)