Resumo: Por conta de estarmos na semana em se comemora o Dia do Professor, nesse artigo é apresentada uma abordagem da situação lastimável em que a profissão de professor foi colocada e também é solicitado um envolvimento maior da população no sentido de tentar minimizar o desleixo das autoridades constituídas sobre a questão profissional do professor, quando se compara essa profissão com outras. É preciso que sejam analisadas as causas e corrigidas as pendências que produziram essa situação.
COMO MUDAR A REALIDADE DO PROFESSOR NO BRASIL?
Nesta semana estaremos vivenciando mais um 15 de outubro. Desde de 1963, nessa data, comemora-se o Dia do Professor no Brasil, portanto nesse dia 15 de outubro, nós professores deveríamos estar em festa, porque estamos oficialmente completando 52 anos da nossa data comemorativa e que, no passado, já foi motivo de orgulho, de festa e de júbilo para muitos professores como nós. Entretanto, hoje é apenas mais uma data marcada no calendário, a ser comemorada por alguns obstinados e outros poucos “loucos e idiotas”, como eu, que ainda acreditam na Educação como solução e que sabem que sem o professor a Educação é apenas uma balela dos inúmeros politiqueiros de plantão que existem no Brasil. Entretanto precisamos ir em frente, pois temos um país e mais de 205 milhões de almas para melhorar de vida em todos os níveis e sem educação isso efetivamente será impossível.
Agora nossos “brilhantes” dirigentes inventaram o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005 de 25/07/2014), que se compõe basicamente de 20 metas para serem implantadas e estabelecidas entre 2014 e 2024 e mais uma vez, esse plano “fantástico e revolucionário” envolve muito pouco a figura do professor. Apenas as metas 15, 16, 17 e 18 abordam alguma coisa sobre a profissional do magistério. Entretanto, somente as metas 17 e 18 falam alguma coisa, mas muito genericamente, sobre a questão salarial, o que é muito pouco. “Meta 17: valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.
Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de Carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de Carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art.06 da Constituição Federal”.
Em suma, criar um Plano Nacional de Educação sem atribuir a devida importância ao professor é o mesmo que querer jogar futebol sem ter contato com a bola, ou seja, mais uma vez não deverá funcionar.
Ora, só pode ser piada querer falar de Educação, sem, se quer, discutir detalhadamente a melhoria das condições de trabalho e principalmente de salário do professorado nacional. Nesse país, que me desculpem as funções úteis e os seus profissionais sérios, mas, nesse país, onde a grande maioria dos profissionais ganha o suficiente para sobreviver, o professor tem que ganhar a sua vida nos bicos que consegue fazer, porque a educação, que é a área de atuação do professor, não é tratada a sério. Assim, o trabalho do professor é uma atividade quase voluntária, um sacerdócio como diziam os antigos, no qual ele se oferece prontamente por conta da paixão que tem pelo trabalho que executa e não exige nada em troca. É preciso acabar com essa lenda de achar que o professor é um tipo diferente dos demais e que não está sujeito às mesmas necessidades dos outros seres humanos.
A coisa já começa errada quando a gente observa que sempre, em qualquer profissão, alguém vende alguma coisa, mas o professor não vende nada, o professor dá aulas. (Grifo proposital do autor.) Está mais que na hora desse negócio mudar e a função de ministrar aulas passar a ser um negócio efetivo, onde o professor deverá entrar com o seu conhecimento e sua didática para vender alguma informação e produzir algum conhecimento no seu aluno, mas principalmente onde deverá ser pago condizentemente por aquilo que faz.
Cabe aqui lembrar que segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu Artigo sétimo, que trata sobre os direitos dos trabalhadores, e o professor obviamente é um trabalhador, traz estabelecido em seu inciso IV o seguinte texto: “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”. Assim, o salário é muito mais que um direito, ele é sagrado e tem que ser suficiente para suprir as necessidades mínimas de quem o recebe, mas essa não tem sido a realidade para muitas profissões e muitos profissionais, principalmente para os professores, que têm necessidades específicas nas suas respectivas formações e na grande maioria das vezes, não recebem condizentemente com a formação que possuem.
Entra ano e sai ano, entra político e sai político e a situação salarial do professor nunca é resolvida. Por que isso acontece? Por que tanto desprestígio com a profissão de professor, num país onde a educação ainda é a maior carência nacional? Que mal histórico os professores fizeram aos políticos e dirigentes desse país? Só pode haver uma resposta para as perguntas acima: educação não é algo realmente que possa interessar a quem administra o Brasil e já faz muito tempo que a realidade é essa.
Mas, por que a educação não é importante para um país de mais de 205 milhões de habitantes? Também só existe uma resposta para essa pergunta: os poderosos preferem manter o “status quo” de uma população ignorante para continuar dominando a massa idiotizada nacional. Quanto mais ignorante for a população, melhor será para quem administra, pois a fiscalização popular será sempre menor e a capacidade de cometer absurdos administrativos (leia-se roubos e falcatruas) com a conivência, ou pelo menos sem a devida cobrança da população, será sempre maior. Os indivíduos que se sucederam no comando do país vêm, há muito tempo, trabalhando direitinho para manter esse “status quo”. Vou fazer 60 anos e não vi ninguém, ao longo desses anos, absolutamente nenhum dirigente nacional, independentemente de partido político, tentar mudar efetivamente a situação salarial do professor. Ou melhor, mudou sempre para pior. Quer dizer: ou os dirigentes são todos indivíduos de mal caráter ou são todos indivíduos contrários à profissão de professor.
Analisando friamente as duas possibilidades, eu chego à conclusão que mesmo que todos fossem realmente sujeitos de mal caráter, eles certamente teriam amigos e parentes professores e assim, mesmo por puro nepotismo, não seriam tão maldosos o quanto efetivamente são com os professores. Sendo assim, a única explicação é a segunda, isto é, os dirigentes são indivíduos contrários à profissão de professor. Mas, por que esses indivíduos teriam uma briga específica contra a profissão de professor? Talvez, porque essa é a única profissão que pode demonstrar à população, o quanto muitos desses sujeitos são canalhas e safados. Além disso, existem muitos que não eram primitivamente canalhas e nem safados, mas que são ludibriados e ficam magicamente iludidos pelos cargos que ocupam, quando se assumem dirigentes. Obviamente, todos esses indivíduos, direta ou indiretamente, temem que a população possa saber a realidade que acontece com eles.
Espera aí Luiz: você está afirmando que todos, efetivamente todos, sem exceção, todos os dirigentes do país são sujeitos canalhas e safados, que não querem ver, ou bobos que são levados a não querer ver a população brasileira ficar mais esclarecida e melhor preparada para ajudar o país a se desenvolver sustentavelmente? Infelizmente, é exatamente isso que acontece.
Obviamente muitos desses indivíduos não chegaram ao poder pensando assim, mas ao atingirem o topo, foram obrigados a assumir uma postura que privilegia tudo, menos a educação e o infeliz do professor é quem paga o pato, exatamente porque ele é o sujeito que vive em função direta da educação. Essa postura que o país apresenta e que no primeiro momento pode até não ser culpa do dirigente, mas que acaba sendo principalmente dele, em consequência de suas ações, voluntárias ou não, contra a educação e contra o professor é que precisa ser combatida. As organizações em defesa da profissão de professor têm que lutar frontalmente contra esse aspecto para que a situação econômica do professorado possa melhorar.
A propaganda, o marketing, o consumo, enfim as empresas e atividades que promovem e dependem de ações que cegam a população e apresentam inverdades como formas de felicidade é que devem ser combatidas para melhorar a educação a situação dos professores. São essas empresas e atividades que invertem a realidade e que mentem veementemente sobre as necessidades que levam alguns dos governantes a vender a alma e esquecer que foram eleitos para tentar melhorar a vida das pessoas e do lugar. O poder dessas instituições físicas e principalmente jurídicas na compra de opinião pública e na capacidade de manipular os interesses governamentais é que mascara o interesse da educação e que inibe a possibilidade de transformar o professor num profissional como outro qualquer.
Veja bem, não quero que o professor seja melhor que ninguém, só quero que ele receba o mesmo tratamento dos demais. Por que a hora de trabalho de determinados profissionais no serviço público vale R$100,00 (cem reais) e a hora da grande maioria dos professores gira entorno de R$10,00 (dez reais)? Alguma coisa está errada com esse país ou com esses profissionais, porque a diferença, nesse caso, é da ordem de 10 vezes mais. Se isso é legal, certamente não é moral. Acho que o sujeito que recebe R$100,00 reais por hora ganha de mais e o recebe R$10,00 por hora ganha de menos. Mas, eu não quero e não vou discutir sobre esse aspecto absurdo agora.
Para essas entidades do mal, aquelas que mentem para a população, o professor é realmente um monstro que precisa ser combatido, porque ele traz problemas aos seus interesses escusos e exclusivamente econômicos. As instituições que atuam na defesa dos profissionais de educação devem declarar guerra contra essas entidades, ou então a educação continuará andando na contramão e os professores, que hoje já estão na pobreza, estarão fadados a miserabilidade eterna. Os políticos sérios, que eu acredito que ainda existem, por sua vez têm que ficar atentos às manobras dessas entidades que chegam sorrateiramente evidenciando outras importâncias e esquecendo cada vez mais a educação e o infeliz do professor. Esses políticos devem tomar cuidado e se vacinarem, para também não serem infectados pelos vírus do fim da educação e da pobreza eterna dos professores.
São 52 anos da data, porém, nos últimos 40 anos, certamente só andamos na contramão, mas ainda é possível mudar a história e melhorar a vida de nossos 205 milhões de almas penadas. Entretanto isso só acontecerá, quando a educação for realmente prioridade e quando esse momento chegar (se chegar), obviamente o professor passará a ser prioridade também, porque não existe educação sem escola, da mesma forma que não existe escola sem aluno e não existe aluno sem professor.
A história recente do Brasil trabalhou para extinguir o professor e não conseguiu e nem vai conseguir nunca, porque a escola, mesmo essa escola mentirosa que está aí, também depende desse infeliz que ensina e que tenta transformar para melhor a vida das pessoas. Se nessa escola ruim o professor já é indispensável, imaginem então, quando o Brasil tiver uma educação de verdade, como esse profissional será extremamente necessário. Senhores, busquemos pois, a verdadeira educação, sem a intromissão de mídia e dos picaretas de plantão que estão historicamente fazendo desse país um local digno de pena e motivo de chacota internacionalmente.
Um pais que se estabelece entre os 10 primeiros na economia mundial, mas que está próximo de ser o centésimo em qualidade de vida e bem depois dessa condição de centésimo quando se avalia apenas a educação. Um país que possui a quinta maior população do planeta, que tem centenas, talvez milhares de Universidades, (estão cadastradas cerca de 2.400 instituições de ensino superior no Brasil), mas em que a maior e a principal delas (USP) não se encontra nem entre as 100 primeiras do mundo. Um país efetivamente carente de Educação como o nosso, precisa investir muito no professor para tentar mudar de cara e se desenvolver com toda a sustentabilidade que o mundo necessita.
O professor é certamente o único profissional que pode mudar a realidade educacional do Brasil, mas é preciso que as pessoas que atuam na área queiram verdadeiramente ser profissionais professores. Com o salário que se paga ao professor, infelizmente, só alguns “loucos” e muitos incompetentes, que não servem às outras profissões, têm se manifestado no interesse de trabalhar nessa “profissãozinha”. Se quisermos mudar essa situação, temos que melhorar a situação profissional, particularmente a situação financeira da profissão de professor, que urge por ser mais valorizada pelo bem da educação nacional.
É bom lembrar que o professor é profissional que forma todos os outros e assim, se o professor é ruim, os demais profissionais certamente também serão. Acho que o Brasil precisa refletir mais e rapidamente sobre esse significativo aspecto. (Grifo proposital do autor.)
Feliz 15 de outubro para aqueles professores que, como eu, ainda acreditam que as coisas podem mudar, que esse país tem jeito, desde que os professores competentes, os políticos sérios, a população pensante e decente queiram efetivamente se envolver na melhoria da educação nacional. Ainda poderemos viver verdadeiramente felizes dias dos professores no futuro, pois tudo pode ser melhor para a Educação, para nós professores e para o Brasil.
Referências:
BRASIL, 2012. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988 (35ª Edição), Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, Centro de Documentação e Informação, Brasília, 446p.
BRASIL, 2014. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação, MEC/SASE, Brasília, 62 p.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
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