Resumo: Nesse artigo procuro tratar do descaso da Humanidade em relação ao Planeta e a Vida, tentando relacionar esse fato com o aumento das catástrofes naturais e a postura egoísta da maioria dos Seres Humanos e também retomo o sentimento de generalizado medo produzido na maioria dos humanos pelo COVID-19 e o quase prazer de outros “humanos” que se aproveitam da humanidade aterrorizada. Discuto sobre o risco, a ignorância, imprudência dos humanos e as possíveis consequências disso nas relações humanas e concluo que a solução para essas questões está na maior humanização.
Se lavarmos em conta toda a história da humanidade, observaremos que sempre existiram pessoas que tinham e têm medo de alguma coisa. Tem gente que tem medo de fantasmas, de sapo, de cobra, de assalto, de bomba atômica, enfim existe medo de tudo. Mas fantasmas, não existem, o sapo é inofensivo, poucas cobras são efetivamente perigosas e a bomba atômica não explode por si só, para ser detonada ela precisa da vontade e da ação de um ou mais seres humanos. Agora a humanidade está com medo de um vírus, pois é, um simples e pequenino vírus. Uma entidade na fronteira bioquímica entre os organismos vivos e os minerais é o terror da humanidade no momento, mas essa entidade é real e pode ser letal.
Ora, se um diminuto vírus sem motivo próprio, pode repentinamente produzir tanto medo na humanidade, imaginem então uma revolução de elefantes, aborrecidos por matarem seus semelhantes apenas para poder tirar o marfim de suas presas, o problemão que causaria. Entretanto, alguém automaticamente me corregeria, dizendo o seguinte: “mas os elefantes são bonzinhos”. E eu pergunto, e quem pode afirmar que os vírus são deliberadamente “maus”, se nem organismos vivos eles de fato são. Um vírus é uma entidade química replicável dentro de células vivas e não têm nenhum poder de discernimento. Pois então, o problema que estamos enfrentando é exatamente esse. Quem é “bom” e quem é “mau” nessa história?
Historicamente temos achado que as coisas da natureza, sejam elas quais forem são e estão aí, porque simplesmente estão e nós continuamos nossa vida, seguindo em frente, sem nos importarmos com essas coisas, apesar delas existirem. Lamentavelmente, nós ignoramos e não costumamos dar muita importância à maioria das coisas, nos importamos, apenas e tão somente, conosco. Grandes episódios da natureza que têm acontecido, como terremotos, maremotos, tsunamis, avalanches e grandes movimentos de terras, queimadas naturais, grandes tempestades são considerados eventos normais. E se esses eventos normais, o aumento significativo deles também deve ser normal e não deve haver nenhum motivo para preocupação. Pois é, ninguém está nem aí com nada, pois tudo é normal.
Mas, de repente, num certo dia, uma dessas coisas que nós ignoramos aparece como um anteparo à nossa marcha ou aos nossos interesses em continuar seguindo a trilha. Somente aí é que nós vamos procurar saber exatamente o que é aquilo e o que pode estar acontecendo exatamente naquele momento. É mais ou menos assim, andamos de olhos fechados, até tropeçarmos em alguma coisa e feliz ou infelizmente, como tropeçamos pouco, não atentamos para a maioria das coisas à nossa volta.
O COVID-19 (Corona Vírus), embora pequeno, sem fazer barulho e sem destruir grandes áreas, é um tipo desses anteparos que sempre esteve aí; se não ele propriamente, mas outros vírus muito semelhantes; mas nós não fomos capazes de ver ou não quisemos enxergar e nem de nos preocuparmos com ele. Entretanto, agora nós estamos vendo e sentindo o estrago que esse vírus é capaz de produzir e aí surge o medo. Ficamos apavorados com essa terrível virose que, embora pouco violenta, se comparada a outras bem piores e mais agressivas, se alastra rápido e pode acabar sendo fatal ao organismo humano.
Meus caros, o medo é consequência do risco, que, por sua vez, é filho natural da imprudência. O risco sempre existe, pois viver é um risco que só leva a uma certeza, que é a morte. Pode demorar mais ou menos, mas a morte é compulsória, não tem preconceito e certamente ela virá. Entretanto, a gente finge que não sabe disso e sempre espera que seja o mais tarde possível. A imprudência é o descrédito do risco, isto é, quem não acredita no risco, acaba sendo imprudente. Nesse instante, temos que citar uma outra personagem, muito comum entre os seres humanos, a ignorância.
Como dissemos acima, geralmente o ser humano ignora e não se preocupa com a grande maioria das coisas à usa volta, até o dia em que necessita de alguma informação sobre essas coisas. A ignorância, às vezes até faz com que alguns seres humanos nem imaginem que podem morrer a qualquer momento e que estar vivo é menos provável do que não estar. Pois então, a maioria dos seres humanos aparentemente não conhece (ignora) riscos e assim, não está preocupada com eles e por isso mesmo, comete muita imprudência. Quer dizer, agimos desta maneira, ignoramos tudo e somos imprudentes até que o acaso surge e nos prega uma peça de terror e aí, finalmente acordamos para a realidade.
Se viver é mesmo um risco, nós temos que ser prudentes para corrermos menos riscos de morrer, já que queremos continuar vivos. Como o elefante é grande, forte, bem visível e até tangível conhecemos e respeitamos o elefante, mas ele costuma ser “bom”. Entretanto, de forma antagônica, alguns de nós não conhecem o vírus, embora imagina que ele seja “mau”, mas como é pequeno, invisível e intangível, ele acaba sendo simplesmente ignorado. Assim, nossa ignorância não nos coloca na verdadeira dimensão entre o elefante e o vírus, além do tamanho, da conspicuidade e da “maldade” ou “bondade” que imaginamos de ambos.
Achamos os elefantes “bons”, porque quase nunca ouvimos falar de elefantes matando pessoas e desdenhamos os vírus ou os consideramos “maus”, simplesmente porque não os conhecemos ou porque já sabíamos que alguns podem causar doenças. A propósito, o vírus aqui é só um exemplo genérico porque certamente existem milhares de outras coisas que simplesmente ignoramos e outras que efetivamente não conhecemos e por isso mesmo não nos preocupamos com elas, até o momento em que elas aparecem na nossa frente e descobrimos que essas coisas podem nos matar.
Foi assim com a bomba atômica, foi necessário que alguém, lamentavelmente, explodisse duas bombas atômicas seguidas para que a gente (a humanidade) passasse da ignorância, para o medo, por conta da imprudência desse alguém ter descartado o risco e explodido a bomba. Na maioria das vezes nem precisa isso, o medo aparece sempre que ignoramos alguma coisa, mas temos certeza, ainda que muito parcialmente, de que essa coisa existe. Quer dizer, a dúvida sobre algo desconhecido, muitas vezes, pode causar um medo muito pior. É o que acontece com as infelizes das cobras, como não se sabe quais são as perigosas a opção acaba sendo: temer e matar todas.
Pois então, da mesma forma que passamos a ter mais medo das bombas depois que foram explodidas duas bombas atômicas, passaremos agora a ter grande medo quando ouvirmos falar de vírus. E mais, o nosso medo é tal que, de tanto ouvir falar sobre o COVID-19 (Corona Vírus), até já estamos sendo capazes de entender que existem coisas bem piores do que a bomba atômica ou algumas cobras. Mas, e daí, o que podemos fazer a esse respeito? Pois então, essa é exatamente a grande questão atual!
E enquanto isso, a promiscuidade de uns se aproveita da situação catastrófica e da idiotice de outros e fica discutindo direita e esquerda, socialismo e capitalismo, mas o vírus, que é real e contundente, segue por aí, matando gente no mundo todo. Ele não tem preconceito, não quer dinheiro, não defende nenhuma ideologia e nem faz parte de qualquer partido político, ele apenas segue seu caminho na sua condição de vírus, tentando reproduzir e continuar sendo vírus. O mundo, assim como o vírus é real, enquanto as ideologias são virtuais.
Ora, não é possível ficar discutindo ideologia, enquanto o mundo padece por conta de um inimigo que, a priori, é comum, porque mesmo que alguém defenda a teoria da conspiração, a virose mata gente de todos os lados e isso não é bom para ninguém, a não ser que o vírus “saiba”, antecipadamente, a quem tem que atacar, o que, por razões óbvias, é impossível, embora possam existir alguns imbecis que até admitam essa possibilidade. Ainda que eu não veja quase nenhuma chance disso ser verdade, o vírus até pode ter sido desenvolvido em algum laboratório, entretanto não é possível controlar sua ação.
Opa! Assim, de repente, num passe de mágica, o vírus superou tudo, ficou maior e mais assustador que qualquer anteparo, particularmente a bomba, porque ela certamente foi usada por um lado contra o outro e não aleatoriamente. Ou seja, o vírus tornou-se muito maior que a manada de elefantes, que a bomba, que a ideologia e que a economia e assim, nessa atitude inócua, a ignorância de parte da humanidade apavorada fica bem mais explicita. As “pragas divinas” e o “fim do mundo” estão chegando, que Deus nos ajude, pois o pandemônio aconteceu.
Entretanto, para outros “humanos”, não existe mais risco e não existindo risco não há porque haver prudência e muito menos haverá medo. Muitos no mundo estão assim, bestializados e quase sem medo de um risco que é efetivo e real. Isso é muito pior, é perigosíssimo. O perigo é algo que favorece ao risco, anima o medo e prescinde de maior prudência, mas essa parte da humanidade está cega. Esse tipo de ser humano se esqueceu das duas coisas fundamentais que habitam em seu interior: o ser e o humano. Devido a isso, ele está contrariando qualquer noção de lógica, por questões que não cabem nos preceitos biológicos e físicos primários. Os valores desses sujeitos não permitem enquadrá-los mais como seres humanos.
Em que pese o fato de também existirem alguns seres humanos diferentes, os cientistas, que ainda estão conscientes e não foram “drogados” pela insanidade, nem pela bestialidade e que, por isso mesmo tendem a ser sabedores das reais condições de risco que o vírus oferece. Mas, lamentavelmente os coitados desses cientistas são quantitativamente poucos e geralmente não são ouvidos pelos demais humanos. Para muitos, os cientistas, são seres humanos estranhos, meio loucos e assim, eles não costumam ter muito valor nesse mundo idealizado e idiotizado. Consequentemente, muitos cientistas acabam sendo utilizados apenas como massa de manobra para servir aos interesses das diferentes ideologias.
Por outro lado, ainda existem alguns falsos cientistas, que criam e justificam o uso de regras pretensamente gerais, mas que jamais poderão ser aplicadas à toda a humanidade, por conta da existência natural de uma série de diversidades sociais e mesmo estruturais planetárias. Não pode haver regra única num planeta tão diverso climaticamente, estruturalmente e socialmente. E no meio de toda a celeuma está a maior parte da humanidade aterrorizada e incapaz de entender o que efetivamente é verdade.
Entretanto, há muito tempo existe consenso entre os verdadeiros cientistas, de que a situação está muito feia, do ponto de vista planetário. A Terra não aguenta mais o ser humano. Mas, isso quase não interessa, nem às ideologias, nem aos regimes de governo e parece que infelizmente nem à grande parte da população humana, pois ninguém quer ouvir sobre esse tipo de assunto. Deste modo, como os governos não ouvem ou fingem que não sabem, as populações não exigem, as entidades sociais não se organizam, nem se encontram e por conseguinte também nada pedem, pois cada uma delas só consegue se dedicar ao seu interesse particular e assim, nada acontece.
O egoísmo impera e a “caravana do primeiro eu e a minha turma”, segue em frente e de preferência, sempre na frente. De repente, de uma hora para outra, pimba! Apareceu um vírus desconhecido e descabido, de fácil contaminação e bastante complicado, que acaba interferido seriamente em tudo e todos no planeta. Não quero nem discutir se tem ou não conspiração por trás disso, porque o que importa no momento é o fato do vírus está aí e não como ele chegou ou quem colocou ele no mundo. Essa questão, embora possa ser considerada importante, deverá ser discutida depois. Primeiramente vamos cuidar da virose e depois vamos procurar os culpados, antes que morra mais gente indevidamente.
Mas, não é isso que acontece e nós vamos apenas contar os mortos e, se possível, tratar dos doentes e rezar para não estarmos entre esses dois grupos. Assim, a história humana segue seu curso, até que o acaso traga novo tormento: uma nova bomba ou um novo vírus, até a possível extinção total da espécie. Ninguém se sente responsável por nada. Ao contrário, o tempo passa, a caravana humana na Terra continua caminhando e absolutamente nada acontece em prol da melhoria da qualidade de vida humana e de toda vida planetária. A besta humana está cada vez mais besta e menos humana.
A coisa já aconteceu, então, o vírus que não é uma manada de elefantes e nem uma bomba atômica, que é apenas um desprezível vírus, assola o mundo e mostra que tamanho não é documento e que o grande e poderoso ser humano é pequeno e pode ser muito menor que um pequeníssimo vírus. Alguns poderosos resolvem se animar e de uma hora para outra, os cientistas são chamados a opinar e passam a ser sujeitos importantes outra vez. Entretanto, agora o fogo já tomou conta do planeta e só nos resta tentar combater o incêndio, porque todos, além dos cientistas sérios, foram ignorantes e imprudentes; não consideraram o risco e obviamente não tiveram, a priori, nenhum medo. Só agora, depois do incêndio alastrado e do dano produzido é que o medo aparenta ter reaparecido.
E assim, depois que morrer muita gente e a crise (pandemia) finalmente passar, se e quando passar, será que a humanidade vai mudar de comportamento? Ou será que vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes e a caravana seguirá, como se nada tivesse acontecido, até o próximo elefante, a próxima bomba ou o próximo vírus aparecer? Eu tenho muito medo, não só desse vírus, do elefante ou da bomba. Eu tenho mais medo da própria humanidade, porque parece que quase nenhum ser humano está, de fato, preocupado com nada, além do seu próprio umbigo.
O descaso com o outro tem sido mais uma característica desagradável, perniciosa e marcante do ser humano. Essa é a única e grande verdade e isso precisa ser mudado urgentemente. Enquanto a humanidade não trabalhar pela própria humanidade, ou melhor, enquanto cada pessoa continuar tratando e cuidando apenas e tão somente de si e seus interesses pessoais, nada, absolutamente nada, vai mudar até o fim, ou seja, a extinção total da espécie humana. Tomara que eu esteja errado, mas tenho forte suspeita de que falta muito pouco para que esse lamentável fim se estabeleça.
Por favor, não me falem de Deus, porque, se Ele existe e tomara que exista, mas Ele também já deve estar cansado da irresponsabilidade humana com o planeta e com a vida da própria humanidade e das demais criaturas da Terra. Deus está em outro plano e o nosso problema é terreno e não celestial. Nós até podemos precisar de Deus para muitas coisas, mas não precisamos de Deus para sermos coerentes, bons e fazermos o bem, principalmente no relacionamento com outros humanos, porque isso deveria ser uma obrigação moral. Para sermos bons e fazermos o bem, nós precisamos é de vergonha na cara, de mais humanidade, mais humildade, mais altruísmo, mais fraternidade e menos egoísmo.
O dia que o ser humano passar a ser realmente humano, todos os problemas da humanidade estarão resolvidos, inclusive os medos, porque haverá menos riscos e menos imprudência. Quando formos realmente humanos, outro humano sempre estará muito próximo e pronto a ajudar e defender, independentemente das discussões ideológicas que possam existir. Entretanto, eu vejo que esse dia está cada vez mais distante, porque as prioridades humanas, lamentavelmente continuam não sendo os seres humanos. O fazer ideal, a melhor maneira de fazer, a ideologia, pode e deve ser discutida, mas ela não pode ser motivo para deturpar e muito menos para comprometer as relações entre os seres humanos e permitir a degradação do planeta e a consequente extinção de nossa espécie.
Caçapava, 05/04/2020
Luiz Eduardo Corrêa Lima (64)