Tag: meio ambiente

10 ago 2019
Educação, Meio Ambiente, Educação Ambiental, Recursos Naturais, Consumismo.

Educação e Meio Ambiente: dois assuntos e uma abordagem

Resumo: Desta vez estou trazendo um texto reflexivo, através de uma crítica, a meu ver necessária, aos mecanismos que têm sido utilizados como modelos de Educação Ambiental. Esses modelos precisam ser repensados, pois na verdade eles estão progressivamente colaborando para que os recursos naturais continuem sendo explorados sem critério ou de maneira indevida


Se houver uma necessidade objetiva e real de se identificar e de definir qual é a área do conhecimento mais prioritária à formação e ao desenvolvimento humano, certamente haverá um consenso de que esta é a área da Educação. Por outro lado, se também houver uma necessidade real e objetiva de se identificar e de definir qual é a área mais importante para a manutenção dos padrões de segurança e de qualidade de vida dos organismos e dos grandes ecossistemas planetários, obviamente também haverá um consenso de que esta é a área do Meio Ambiente.

Na verdade, essas duas áreas compreendem todos os grandes problemas humanos, pois tudo decorre dessas duas bases operacionais. Ou não se tem educação e assim não se sabe tratar o meio ambiente, ou não se trata devidamente o meio ambiente porque se desconhece a educação. Embora, aparente mente distintas, essas duas áreas são extremamente associadas e conseguem unidas responder por todos as questões pendentes e preocupantes da humanidade ao longo da história.

A Educação é muito antiga, sendo entendida como necessária desde o surgimento da humanidade. Ensinar e aprender são verbos obrigatoriamente presente em todas as atividades humanas e tanto os progressos como os retrocessos humanos, obviamente são frutos da educação ao longo da existência da humanidade. Já o meio ambiente é um aspecto novo que começou a ser colocado formalmente dentro dos parâmetros humanitários nos últimos 50 anos e de repente se espalhou e se misturou por todas as atividades humanas.

Há alguns anos foi criado um termo, muito em moda na atualidade, Educação Ambiental, cujo intuito era o de tentar associar a educação ao meio ambiente, mas sempre se reduziu essa ideia a meras formalidades e situações específicas e, na verdade, a Educação Ambiental continua sendo, até aqui, muito artificial, porque ela se ocupa de situações problemáticas específicas e locais. Entretanto, o mundo hoje é globalizado e não adianta eu me referir a determinado caso de um determinado setor de uma certa localidade, porque isso não é educativo e muito menos é ambientalmente correto. A educação tem que ser preventiva e o meio ambiente tem que estar também previamente prevenido das ações antrópicas potencialmente causadoras de dano.

Quer dizer, não adianta se desenvolver um programa sobre uma questão localizada qualquer. Há necessidade de que se trate o problema de maneira genérica, projetando uma maneira desse problema não ter como existir. O planeta é um só e as demais entidades vivas sobre o planeta, inclusive e preferencialmente os humanos, precisam estar propensos a ter boa qualidade de vida em qualquer lugar ou situação da Terra. Se não for assim, não se está devidamente educado e tampouco está se cuidando do meio ambiente da maneira correta. Em suma, o termo Educação Ambiental, acaba não sendo, nem educação e nem meio ambiente, apenas se ocupa das duas áreas para justificar um determinado problema. Portanto, essa ideia de Educação Ambiental é pequena para a necessidade e muito pouco abrangente para a necessidade real.

Quando se está falando de Educação existe a preocupação de que se esteja instruindo, guiando, ensinando. A palavra Educação vem do latim educere (ex + ducere), que significa “guiar para fora”, ou seja, conduzir para além das necessidades próximas, ou melhor, instruir para resolver outros problemas. No seu sentido mais amplo a palavra quer dizer: “levar uma pessoa para fora” de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.

A expressão Meio Ambiente, que é uma redundância e um pleonasmo, “o meio do meio” ou o “ambiente do ambiente”, porque meio e ambiente, em certo sentido são palavras sinônimas, ou seja, têm exatamente o mesmo significado. Ambas as palavras que compõem a expressão, também vem do latim ambiens, que significa “andar ao redor” ou “ir em volta” e medius, que significa “meio” ou “lugar acessível a todos”. Talvez um termo apenas, como no idioma inglês, environment, fosse mais correto. Mas, nós não vamos discutir etimologia aqui, até porque a noção geral da expressão parece ser bem clara a todos.  

Então, a educação visa “guiar para fora”, o ambiente visa “andar ao redor”, ambos conceitos que saem do indivíduo e que dizem respeito ao seu exterior, objetivando exatamente o entendimento do que está fora. Desta maneira, eu não posso fazer Educação Ambiental apenas daquilo que está no meu entorno, se o mundo é muito maior e mais abrangente do que o meu limite físico. Certamente um exemplo pode será mais bem interpretado.

Imagine que você é um professor de Educação Ambiental e trabalhou a coleta do lixo e a reciclagem, aliás esse é efetivamente um tema muito comum, nessa chamada educação ambiental. Durante sua aula você demonstrou que a latinha de alumínio é um resíduo que pode ser reciclado e recolocado na produção, para tanto é necessário apenas quer alguém que coleta as latinhas usadas. Desculpe-me, mas não há nenhuma educação e muito menos ambiental nesse fato.

Ao contrário, existe sim um fato lamentável, que demonstra que o alumínio é reciclável e que   usar as latinhas de alumínio é algo legal porque gera “emprego” para alguém. Aliás, existe até algumas pessoas que pensam (se iludem) e juram que reciclar é um bom negócio porque dá lucro.  Então, está tudo errado e eu vou pontuar alguns dos motivos, porque está errado.

1 – Reciclar não dá lucro, quando muito, consegue diminuir o prejuízo de alguém e permite o lucro para outro alguém, mas de qualquer maneira a perda para quem produziu, no caso a natureza, sempre é maior do que o lucro de quem usou e vendeu, de quem reciclou e revendeu (“ganhou”).

2 – Reciclável ou não a latinha de alumínio é um produto oriundo da alumina (óxido de alumínio) que é o principal componente bauxita, que é o principal minério formador do alumínio. Portanto o alumínio é um recurso natural não renovável e como tal, depois de retirado da natureza não há como retorná-lo à condição inicial. Desta maneira sua exploração não deve ser incentivada, pois à hora que acabar, simplesmente acabou.

3 – Não há nada de interessante na utilização constante e predatória de um recurso natural não renovável, principalmente quando existem alternativas cabíveis para resolver o mesmo problema, a custos ambientais e muitas vezes também econômicos, mais vantajosos.

4 – Reciclar é bom e necessário, pois reaproveita material, diminui custos energéticos e outros. Entretanto, reciclar não é fundamental para o meio ambiente, antes é melhor repensar certas práticas e certos usos de determinados recursos. As tecnologias e os usos alternativos, além de produzirem um desincentivo cada vez maior ao consumo de recursos naturais, devem ser as verdadeiras orientações e premissas básicas da Educação Ambiental.

5 – Por fim, não se deve partir para falar de Educação Ambiental já assumindo a reciclagem como uma prioridade, pois as prioridades educacionais para o meio ambiente devem ser: não utilizar recursos indevidamente e não produzir resíduos.

A partir do exemplo dado, vejam bem que, se até houve alguma educação, não foi mito boa para o Meio Ambiente, isto é não foi Educação Ambiental. Talvez tenha sido boa educação comercial ou educação industrial ou sei lá o quê, ou ainda educação de como conseguir obter algum dinheiro com o resíduo dos outros, através da degradação do planeta. Ambientalmente então, na verdade, se estimulou para que se continue usando latinhas, porque elas vão gerar recursos para alguém. Aliás, aqui a coisa é mais complicada ainda, porque sempre se pensa, infelizmente, em alguém pobre que vai conseguir alguma coisa através do resíduo de alguém rico e isso, a meu ver é até preconceituoso e deveria ser evitado.

Quero crer que haveria educação se fosse informado e trabalhado o fato de que o uso do alumínio é apenas conveniente para quem vende o produto e que o custo da lata já está inserido no referido produto, portanto não houve perda econômica, houve apenas perda ambiental. Por outro lado, deve ser dito também que o lixo (resíduo produzido), isto é, a latinha, que pode dar lucro para alguém, acaba, infelizmente, atraindo as pessoas mais necessitadas ou menos esclarecidas e indiretamente intensificando mais a desqualificação profissional e prejudicando o desenvolvimento de outras formações e profissões, que talvez possam produzir melhores salários às pessoas.

O melhor lugar para a bauxita, assim como de qualquer recurso natural, é onde ela se formou, isto é, na própria natureza. Se o homem decidiu se apropriar e utilizar a bauxita porque esse é um tipo de minério interessante, que se presta a vários produtos de interesse humano, então que o seu uso seja exatamente do mesmo tamanho de sua necessidade e que não haja excesso na sua exploração. A sustentabilidade é um conceito que deve fazer parte primária de qualquer ação ligada à questão ambiental e a Educação Ambiental, para cumprir seu propósito de maneira efetiva, não pode deixar a sustentabilidade de lado.

O consumo exacerbado não cabe dentro do conceito de sustentabilidade e os humanos que ainda não nasceram têm tanto direito de usar a bauxita quanto nós temos, mas se o uso continuar do jeito que está, eles só poderão conhecer o minério bauxita num Museu de História Natural. Mas, isso também só será possível se alguém lembrar de guardar uma porção de bauxita para tal fim. Muitos recursos naturais não renováveis já não existem mais na natureza e nem estão presentes na maioria dos museus.

Mas, vejam bem, me utilizei de um recurso natural não renovável como exemplo, mas eu também poderia utilizar de exemplo um recurso natural renovável. Por exemplo o Jacarandá-da-Bahia é (ou era) uma árvore frondosa, de madeira nobre e dura, bastante utilizada na indústria moveleira e na construção civil. Pois então, por conta de seu uso indiscriminado está em processo crônico de extinção na natureza e já desapareceu totalmente em alguns estados, como São Paulo, por exemplo. Restam poucas áreas no estado da Bahia e praticamente desapareceu no restante do Leste brasileiro. Primitivamente, ocorria de Pernambuco até o Paraná. Será que o neto do seu filho será capaz de ver um Jacarandá na natureza?

A Educação Ambiental deveria ensinar primeiro o que é o Jacarandá-da-Bahia como espécie de planta, depois dizer como manter a espécie e da importância das reservas naturais da espécie por questões biológicas e só depois deveria falar de sua utilidade paro o interesse humano. Mas, infelizmente não é assim que se costuma proceder e por isso progressivamente espécies são extintas, tanto as espécies vegetais, como é o caso do Jacarandá, mas, principalmente, as espécies animais, que estão por aí, sendo dizimadas sem nenhum critério, para atender a vontades infundadas e utilidades indevidas (algumas vezes absurdas) de quem quer que seja.

Já passou da hora de brincar com Educação Ambiental. Está na hora de fazer coisa séria, entendendo que educação é um processo genérico e que o meio ambiente é diferente de um local para o outro, mas que qualquer local é um meio ambiente e que há necessidade de uma maneira devida e certa de tratar com esse local. Entretanto, é preciso estar claro que essa maneira não pode e não deve ser a mesma em locais diferentes, exatamente porque esses locais são diferentes, a dinâmica é diferente, os organismos são diferentes as condições físicas e químicas são diferentes. E mesmo nas cidades ou nas indústrias, os mecanismos e os processos são diferentes e assim o procedimento em cada caso deve e tem que ser diferente. A Educação ambiental deve levantar e discutir os problemas, mas para resolvê-los, cada situação será uma situação e assim, terá certamente uma resposta diferente.

Não é possível tratar educação e meio ambiente isoladamente ou apenas como causa e efeito de um processo local. O ambiente é teoricamente tudo e a educação teoricamente tem que ser capaz de resolver ou pelo menos de pensar a cerca de tudo, pois do contrário não é educação é apenas e tão somente treinamento, ou melhor adestramento. Isto é, ensina e resolver um problema, mas não cria a possibilidade de gerar novas situações a partir daquela. No meio ambiente sempre vão existir novas situações e o homem precisa estar preparado para atendê-las da melhor maneira, sempre atentando para o fato de que a natureza e os inúmeros ambientes planetários são para todos os organismos, atuais e futuros, terem vida com qualidade.

Educação e Meio Ambiente têm que ser tratados de uma maneira globalizada, porque ainda que os interesses primários sejam locais, o interesse de qualquer questão ambiental planetário, pois atinge direta ou indiretamente todos no planeta. A educação que se presta a esse tipo de interesse planetário tem que ser interessante para toda humanidade, porque deverá servir como forma de orientação para todo e qualquer ser humano e não como simples modelo de uso de uma situação ou localidade, que necessita de uma solução momentânea.

Continuarei sendo um crítico desse modelo de Educação Ambiental que se limita a fazer curativos em situações, mas que não se preocupa de fato com a origem da doença. Precisamos pensar preventivamente antes de propor qualquer programa de Educação Ambiental. Não devemos apenas resolver problemas, a profilaxia ambiental tem que ser o objetivo primário da Educação Ambiental. Ao invés de controlar a dengue matando mosquitos, porque não ensinamos aos nossos alunos e pesquisamos o porquê da dengue não se transmitir a partir das bromélias, se elas estão cheias de água parada e repletas de larvas de mosquitos.

Quando nós partirmos para esse tipo de Educação Ambiental, que envolve o todo e não as partes isoladamente, veremos que não haverá diferença na abordagem entre a Educação e o Meio Ambiente, porque ambos estão relacionados ao cuidado com o entorno, com o que está ao redor. Mas, é bom lembrar ainda que a expressão “ao redor”, também é relativa, porque esse “ao redor” está limitado ao espaço planetário.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (63)

25 jun 2017

Políticas Públicas Ambientais no Brasil: uma questão de prioridade e de vida

Resumo: Nesse texto estou tentando chamar a atenção da população brasileira para a necessidade de Políticas Públicas Ambientais no país, haja vista a importância do Brasil como parte físico-geográfica e político-social que compõe o planeta e também proponho que a população brasileira deve procurar se esclarecer mais sobre esse assunto e deve cobrar mais dos poderes constituídos.


Políticas Públicas Ambientais no Brasil: uma questão de prioridade e de vida Há muito tempo eu venho publicando artigos na tentativa de chamar a atenção das autoridades brasileiras para a efetivação e se possível a ampliação do estabelecimento de Políticas Públicas na Área do Meio Ambiente. Aliás, ao meu ver, depois das Políticas Públicas Educacionais (que também não têm acontecido no tempo e na necessidade devida), as Políticas Públicas Ambientais deveriam ser as principais prioridades de qualquer país. No caso específico do Brasil, por conta de sua dimensão geográfica, sendo o quinto maior país do planeta; da sua grande quantidade de recursos hídricos, com a maior Bacia Hidrográfica planetária e abrigando a maior reserva de água doce no estado líquido da Terra e de sua megabiodiversidade, com a principal e mais exuberante floresta tropical do planeta, além de possuir a maior diversidade faunística do mundo. As Políticas Públicas Ambientais obrigatoriamente deveriam ser preocupação e ação constante de quem administra esse país. Pois, mais importante que possuir as citadas características naturais notáveis, é o fato de entender que todas essas coisas constituem um patrimônio pertencente à nação brasileira, que hoje consiste de cerca de 205 milhões de pessoas (quinta maior população do planeta) e que zelar pela manutenção desse patrimônio é uma necessidade planetária, ou seja, que ultrapassa os limites da responsabilidade brasileira. Nós, a população brasileira, que compomos a nação brasileira, somos os humanos proprietários do Brasil, então somos todos sócios e assim todos também somos responsáveis pelo que aqui acontece, tanto governantes, como os cidadãos comuns. Por conta disso, os dirigentes nacionais e a população brasileira deveriam estar efetivamente muito mais preocupados com seu patrimônio natural e deveriam estar tentado proteger, preservar e dentro do possível ampliar as áreas de proteção das riquezas naturais do país, conforme está estabelecido no capítulo 225 da Constituição Federal (BRASIL,1988). Ou seja, todos os brasileiros deveriam estar preocupados com a garantia da manutenção das características naturais do Brasil, para que elas não sejam consideradas apenas como sendo meros detalhes geofísicos e geográficos interessantes no mapa ou somente como belezas cênicas fortuitas, que por acaso estão em nosso território. Cada cidadão brasileiro precisa entender o real significado, a verdadeira importância de ter nascido no Brasil e relevância desse fato no cenário mundial, para assumir de maneira clara e objetiva as devidas responsabilidades oriundas dessa condição natural ímpar que o país possui. No mundo atual não existe nenhum caminho satisfatório que esteja alheio aos interesses ambientais primários, mas no Brasil esse fato e essa conceituação de grande magnitude na histórica contemporânea ocorre de maneira oposta e ainda é motivo de insatisfação de alguns, chacota de outros e principalmente de pouca importância ou nenhuma, para muitas pessoas da sociedade em geral e principalmente para a grande maioria dos políticos. Na verdade, parece que não haver quase nenhum conhecimento real a respeito do Patrimônio Ambiental brasileiro por parte dos políticos e da população e, o que é pior, parece haver um interesse do Estado de que essa situação absurda persista.  Esse artigo objetiva primeiramente tentar suprir esta falha, orientando a população e tentado chamar a atenção dos políticos sérios que ainda possam existir no país sobre essa questão fundamental. Infelizmente, a nossa população, historicamente vem sendo ludibriada pelos maus políticos, que se elegem apenas para fazer manobras e conchavos visando seus interesses particulares escusos. Além disso, a população ainda é manuseada e claramente enganada pela mídia nacional, que não faz o seu papel devidamente e sobrevive do “jabá”, a reboque dos interesses dos maus políticos e dos administradores corruptos. Desta maneira, há necessidade urgente de mudar o atual “status quo”, para que seja possível trabalhar mais ativamente na melhoria da qualidade de vida da população. Num segundo momento, o artigo também, humildemente, procura ser capaz de demonstrar o que precisa ser feito para garantir que essa necessidade seja suprida. Para começar, é preciso dizer que os administradores públicos têm que ser pessoas de uma visão ampla, a qual, além de ser globalizada, ao mesmo tempo tem que integradora, para poder propor soluções de amplitudes significativas e que permitam agir de acordo com prioridades que envolvam as ações coletivas prementes. As prioridades não podem ser aquelas que os políticos e administradores querem, ou que eles acham interessantes por qualquer motivo pessoal, mas sim aquelas que as comunidades específicas e a sociedade em geral efetivamente precisam. As Políticas Públicas devem ser estabelecidas visando o interesse público, o interesse coletivo das comunidades e os agentes políticos têm que trabalhar unicamente direcionados nesse sentido, até porque eles são eleitos com esse objetivo. Desta maneira, nenhum dos agentes políticos, em qualquer nível de poder, pode agir no sentido de discriminar prioridades a partir de seus interesses pessoais. As prioridades têm que ser públicas e somente a sociedade é capaz de democraticamente definir quais são as prioridades. Os dirigentes podem propor, mas sociedade é quem tem que definir, pois do contrário, não existe democracia. Nesse sentido, a área de Meio Ambiente é hoje a principal área de interesse, pois é exatamente a que mais interage com as demais áreas e portanto afeta vários setores e segmentos das comunidades e assim, a sociedade como um todo. O Meio Ambiente se relaciona diretamente com a educação, com a saúde, com o transporte, com o planejamento, com a economia. Enfim, o Meio Ambiente é uma grande teia que se espalha por todos os níveis da administração pública e desta forma, precisa ser uma prioridade primária para os agentes políticos, em todas as esferas administrativas. Entretanto, até pelo seu enraizamento com os outros setores, não é possível pensar o Meio Ambiente isoladamente e assim as Políticas Públicas Ambientais devem ser propostas a partir de bases efetivas de conhecimento das necessidades reais dos entes federativos envolvidos. Por conta disso é que os dirigentes, em qualquer nível, têm obrigatoriamente que possuir uma visão sistêmica da administração pública como me referi anteriormente. Políticas segmentares e fragmentadas desta ou daquela área algumas vezes até podem produzir efeitos específicos positivos e benéficos nas respectivas áreas definidas, porém certamente terão efeitos colaterais e também produzirão efeitos negativos em outras áreas, se a ocupação do espaço físico não for pensada como um todo. A única maneira de integrar os espaços é através de um planejamento embasado nos interesses de ocupação sustentável e viável desse espaço físico, que pode ser observada a partir de suas próprias características e principais afinidades. Isto é, qualquer ação inicial deve ser estudada, planejada e tem que levar em consideração a vocação do ambiente físico, suas potencialidades e as consequências benéficas e maléficas oriundas dos possíveis impactos produzidos. O licenciamento ambiental não é mera formalidade como ainda pensam alguns, mas é sim uma necessidade preponderante para o ocupar qualquer espaço, mormente nas cidades. Não é mais possível propor políticas públicas totalmente isoladas ou mesmo distanciadas dos interesses ambientais, até porque nós já sabemos que não existem mais espaços significativos e viáveis para permitir o desenvolvimento de certas atividades, principalmente quando nos referimos às áreas urbanas. Além disso, também existe a necessidade de preservar e proteger as áreas naturais remanescentes ou mesmo as possíveis áreas degradadas em estado de regeneração. O espaço físico e sua forma de ocupação devem ser prioridades de qualquer governante e as comunidades devem estar acompanhando proximamente, fiscalizando e denunciando o mal uso desse espaço para que a qualidade de vida não continue se deteriorando cada vez mais. A vida é o bem maior que temos e nós só temos uma vida, num tempo definido e que é relativamente curto. É preciso que vivamos da melhor maneira possível esse pouco tempo de vida que temos, mas isso certamente dependerá muito de como vamos continuar tratando o planeta que nos abriga. Até aqui nós só “pensamos” como indivíduos isolados e está na hora de pensarmos como população, como espécie planetária, se quisermos ter continuidade em nossa caminhada aqui na Terra. Ou nos preocupamos e tomamos todos os cuidados necessários com o planeta ou desapareceremos dele muito mais rápido que a maioria de nós é capaz de imaginar. Como eu tenho dito, desde 1995, em vários artigos anteriores: “nossa espécie não pode se extinguir tão jovem, num planeta tão velho” (LIMA,1995). Nossa preocupação, nossa visão de ocupação e uso do Planeta Terra deve começar pelo nosso quarto, pela nossa casa, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso estado, nosso país e assim progressivamente. Isto é, de baixo para cima. Quem sabe dos problemas é quem convive com eles e não necessariamente os administradores públicos. Aliás, cabe lembrar, que os administradores públicos são empregados da população. Doravante, qualquer ação antrópica desenvolvida deve ter significado positivo para o planeta, pois até aqui nós só fizemos o contrário e o passivo ambiental que temos é bastante grande e não podemos, nem por acaso, permitir a contínua ampliação dessa situação caótica que produzimos ao longo da história. Desta maneira, precisamos de agentes políticos que procurem desenvolver Políticas Públicas Ambientais sérias, benéficas e embasadas no interesse da comunidade próxima e do desenvolvimento sustentável, porque essas terão que ser os alicerces primários para a continuidade da vida humana na Terra. Alguns administradores pelo mundo afora já se aperceberam dessa necessidade e já estão a algum tempo trabalhando em conjunto de suas comunidades e assim, estão produzindo Políticas Públicas que visam favorecer ao Meio Ambiente e manutenção ou a melhoria das condições ambientais e da qualidade de vida da população, ou seja, sempre no sentido progressivo de minimizar os riscos ambientais e também estão traçando programas interativos e projetos sustentáveis.  Entretanto, essa ainda não é uma regra, pois a maioria dos dirigentes ainda não possuem (ou não querem possuir) a devida visão sistêmica, que é fundamental para atuar nesse contexto. A maioria dos dirigentes ainda põe a moeda e o cifrão num primeiro plano e acaba se esquecendo que o dinheiro é apenas um símbolo, pois o verdadeiro valor está nos recursos naturais. O esgotamento dos recursos certamente produzirá o fim do dinheiro, mas antes acabará com a espécie humana, que é a mais dependente de todas as espécie planetárias, Aqui no Brasil, estamos tão distante dessa realidade que ainda tratamos o Patrimônio Natural Brasileiro como algo que está aí apenas para servir ao homem e seguimos numa rota louca de exploração e utilização até que tudo seja destruído. As explorações de minério e de madeira e também o uso absurdo de agrotóxicos, por exemplo, exemplificam bem essa situação em nosso país. Nós desmatamos, explotamos, contaminamos, poluímos, exploramos, degradamos e destruímos muito além das necessidades e, o que é pior, sem nenhum critério e sem nenhuma parcimônia. A maioria da população não reclama e grande parte dessa população, tristemente, ainda faz coro com os governantes e empresários safados para que a degradação prossiga, alegando aquela premissa de que o país precisa economicamente “crescer” e “desenvolver”. Lamentavelmente, o crescimento econômico, ainda é a única coisa que a maioria dos brasileiros é capaz de entender como forma de crescimento. Meus amigos, sinto dizer, mas é preciso mudar de paradigma e passar efetivamente a pensar sustentavelmente, estabelecendo as Políticas Públicas devidas que permitirão que o Brasil se destaque e que a nação brasileira seja menos infeliz. Entretanto, antes de tudo, é óbvio que será fundamentalmente preciso educar e orientar a população brasileira para a realidade planetária. O Brasil necessita urgentemente entrar no mundo real ou nunca ocupará o lugar que tem direito no cenário internacional, até porque não haverá tempo, pois a humanidade perecerá antes. Infelizmente ainda estamos vivendo no tempo da carochinha, mas na realidade estamos no século XXI, tempo de aumento da taxa de carbono na atmosfera, de aquecimento global, de grandes cataclismas e de desastres “naturais”. Apesar de tudo, ainda temos a grande chance de pular na frente, porque somos naturalmente privilegiados, mas o país tem insistido em continuar “deitado eternamente em berço esplêndido”. Brasil: é preciso acordar!
Referências 
BRASIL, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil (Livro Digital), Senado Federal, Secretaria de Editoração e Publicações – Coordenação de Edições Técnicas, Brasília, 514 p, 2016.
LIMA, L. E. C., 1995. A Transitoriedade do Homem, Ângulo (61): 4 – 5, Lorena.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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23 abr 2016

22 de abril de 2016, mais um “Dia do Planeta Terra”

O texto atual é mais uma citação sobre o Dia da Terra, na qual questionada a data em relação a realidade planetária. Há necessidade de que se reflita sobre e verdadeira necessidade de uma data planetária, quando na realidade a história tem demonstrado que a preocupação com o planeta praticamente inexiste, pois as ações humanas não são condizentes com essa condição.


22 de abril de 2016, mais um “Dia do Planeta Terra”

Pois então, hoje estamos comemorando mais um “Dia do Planeta Terra”, uma data estabelecida pela ONU, no ano de 2009, para lembrar a humanidade da responsabilidade que tem com o planeta que nos abriga. É muito estranho que o planeta Terra, que tem cerca de 5 bilhões de anos, hoje comemore apenas o sétimo aniversário. Mas, para a ONU isso não deve ter nenhuma significância, o importante é comemorar efusivamente a data. Entretanto, apesar disso, hoje foi um dia igual aos outros, onde nada de excepcional aconteceu, nem mesmo em relação ao próprio planeta, que continua sofrendo violentamente nas mãos do homem. Nos últimos 44 anos, desde que o Relatório do Clube de Roma (Os Limites do Crescimento, 1972) foi publicado e que passamos (ou deveríamos ter passado) a tomar efetiva consciência de que os recursos naturais planetários não são perenes e que a espécie humana, assim como todas as espécies vivas, também não viverá para sempre, deveríamos estar promovendo posturas em benefício do planeta, mas não é exatamente isso que temos visto. Mas, é claro que exatamente a partir da publicação do relatório começamos efetivamente a trabalhar um pouco mais com as questões ambientais e correr atrás do prejuízo e a criação e comemoração do “Dia da Terra” fazem parte desse pequeno progresso. Não sei o quanto isso pode ser benéfico ao planeta, mas satisfaz o ego, conforta o coração e ameniza a mente conturbada de alguns seres humanos. O homem é certamente a espécie mais dependente do planeta, porque ao contrário de outras espécies, possuímos uma voracidade pelos recursos naturais extremamente diversificada e bastante abrangente. Nossa necessidade de recursos quase infinita e alguns desse recursos há muito tempo já estão às mínguas no planeta e outros já se exterminaram. Assim, já faz tempo que estamos em dificuldade com a usurpação planetária. Por outro lado, grande parte dos recursos que necessitamos, são recursos renováveis e muitos desses nós aprendemos a reproduzir, o que nos permitiu alguma margem de segurança na sua utilização. Mas, é importante lembrar que não existe mágica na natureza e reações químicas não são milagres. Isto é, para fazer alguma coisa, sempre precisamos de alguma outra coisa e assim nos apropriamos do planeta e o transformamos exclusivamente ao nosso bel prazer, considerando apenas o interesse de nossa espécie. Algumas vezes, por questões várias, nem consideramos os interesses da espécie, mas apenas o de alguns grupos de indivíduos. Pois então, foi assim que criamos muitos dos problemas, além do simples consumo de uma infinidade de recursos da Terra. Já faz algum tempo que estamos tendo muita dificuldade para manter a qualidade do ar, da água e do solo, os três meios físicos que nos garantem a sobrevivência. Temos sérios problemas com a produção de alimentos, com novas doenças infectocontagiosas.  As cidades são sempre maiores, com mias necessidades e mais problemas, além da imensa dificuldade de transporte, o que dificulta sensivelmente a qualidade de vida. Temos investido cada vez mais na produção de novos mecanismos químicos que possam gerar novos materiais para a fabricação de roupas, calçados e inúmeras outras coisas, que há muito deixaram de ser questões estritamente naturais. Hoje somos levados a produzir cada vez mais, para garantir a nossa necessidade cada vez maior, até porque também não paramos de consumir. Por outro lado, nossa necessidade só cresce, haja vista que também não paramos de reproduzir (fabricar novos seres humanos). Já superamos a fantástica marca dos 7.3 bilhões de humanos e continuamos assustadoramente crescendo sem parar, embora com um leve declive na curva de crescimento, mas que nada significa no contexto geral. Verdade é que, quanto mais o tempo passa, vamos progressivamente precisando cada vez mais do planeta e apesar de todo o nosso imenso desenvolvimento tecnológico, nós somos uma espécie carente que depende diretamente de um planeta onde os recursos são limitados. Faz 44 anos que já sabemos que a Terra, além de ser a nossa fonte única de recursos, pois é dela que tiramos tudo que necessitamos, também não é um planeta infinito e que seus recursos também se esgotam ao longo do tempo. Resta agora saber, até quando ele nos aguentará e nos manterá sobre sua superfície, apesar do dano irreparável que temos causado ao longo de nossa curta história natural. Bem, por enquanto, vamos ficando por aqui, festejando mais um “Dia da Terra” e rezando para que esse planeta fantástico e que parece ser o único com vida, possa continuar suportando a investida violenta da espécie humana sobre seus recursos. Eu estou no fim da vida e confesso que tenho muito medo do que poderá ser daqueles que ainda virão se a humanidade não se comprometer rapidamente em mudar a postura e começar a construir uma “Nova Terra”, onde o fator humano seja significativamente menos impactante e possa viver no planeta sem acabar com os recursos que precisa e recuperando aquilo que for possível.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Referência Bibliográfica MEADOWS, D. H; MEADOWS, D.L.; RANDERS, J & BEHRENS III, W.W. The Limits to Growth, Universe Books, New York, 1972.]]>

20 mar 2016

A Mineração e os Riscos ao Meio Ambiente

Resumo: O texto atual discute sobre a mineração, os riscos ao meio ambiente por elas produzido e o Novo Código de Mineração que tramita no Congresso Nacional. O texto chama a atenção de que a mineração é uma prática muito lucrativa, bastante degradadora e que os interesses econômicos e financeiros costumam ser prioritários. Desta forma, é preciso ficar atento, porque existe grande possibilidade de que os riscos, relacionadas ao meio ambiente, oriundos de atividades mineradoras sejam drasticamente ampliados.


A Mineração e os Riscos ao Meio Ambiente

Os diferentes processos de Mineração, ainda que tragam vantagens necessárias ao desenvolvimento econômico de determinadas áreas e locais, além de melhoria nas condições materiais de vida das diferentes comunidades pelo mundo afora, é preciso refletir que a mineração sempre traz desvantagens ambientais. Não há como fazer mineração, sem produzir danos irreversíveis ao ambiente explorado. Desta maneira, a mineração é disparadamente o “principal inimigo” do meio ambiente. Assim, a humanidade tem vivido um impasse histórico, entre a necessidade de explorar os recursos minerais e garantir a qualidade do ambiente em que esses recursos são explorados e principalmente tentar garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas que trabalham e vivem nessas áreas de mineração. Obviamente, essa dicotomia de interesses consiste numa tarefa extremamente difícil, mas é uma equação que precisa ser resolvida para o bem da humanidade e do planeta.

No passado, nunca houve qualquer preocupação com os efeitos oriundos da exploração dos recursos minerais e a prática minerária sempre aconteceu sem absolutamente nenhuma preocupação ambiental. Nos tempos recentes, graças a preocupação ambiental planetária e a escassez cada vez maior dos recursos minerais, a prática minerária teve que ser determinada e prevista por ações e mecanismos legais que orientam e indicam como proceder para a retirada dos diferentes tipos de minérios que a humanidade constantemente necessita. Assim, surgiram pelo mundo afora, os diferentes Códigos de Mineração e as demais leis que regem a exploração mineral. Aqui no Brasil, não foi diferente e, por isso mesmo, aqui também foi produzido o Decreto Lei Nº 62.934, de 2 de julho de 1968 (Código de Mineração), que definiu os padrões legais para a exploração mineral em nosso país, naquela época, mas que, 48 anos depois, está em vigência até hoje.

Por outro lado, as necessidades ambientais atuais são cada vez mais prementes e as exigências legais, por sua vez, devem ser maiores e mais efetivas, tanto nos mecanismos de concessão das licenças e autorização para exploração mineral, como na fiscalização das ações desenvolvidas pelas empresas mineradoras, antes, durante e depois das respectivas explorações. A Constituição Federal Brasileira (1988) determinou que qualquer atividade minerária necessita apresentar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que demonstre a situação do local de lavra antes, durante e depois do processo exploratório, bem como as possíveis propostas e ações de minimização e compensação dos impactos e ainda a recuperação da área degradada depois de realizada toda a exploração mineral.

Pois então, o atual Código de Mineração, feito em 1968, está fora da realidade proposta pela Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6938 de 31 de agosto de 1981, que determina os procedimentos fundamentais na área ambiental no Brasil, e também está em desacordo com a própria Constituição Federal, que como já foi dito, é de 1988. Assim o Código de Mineração precisa ser atualizado e melhorado, para que sejam garantidas as práticas minerárias dentro de padrões factíveis aos interesses ambientais planetários, nacionais, estaduais, regionais e, principalmente, que essas práticas possam ser particularmente benéficas às comunidades próximas localizadas nas áreas de mineração. Eventos como os rompimentos das barragens recentemente acontecidos em Mariana /MG e em Jacareí/SP, aqui no Vale do Paraíba, poderiam ter sido evitados se a legislação brasileira sobre mineração fosse mais moderna, mais rígida e se houvesse efetivo acompanhamento e fiscalização dos projetos de mineração que são desenvolvidos no Brasil.

Por conta disso, foi elaborado pelo governo federal e está tramitando no Congresso Nacional, um Novo Código de Mineração, para definir novas práticas operacionais e novas possibilidades de ação das atividades minerárias.  Entretanto, é bom lembrar que os interesses ambientais costumam ser contrários aos interesses dos empresários e também não refletem obrigatoriamente os interesses de agentes e setores políticos, principalmente num país como o nosso, onde se compram leis como está sendo comprovado pela OPERAÇÂO ZELOTES da Polícia Federal. Além disso, também é bom ter em mente que nem sempre novas leis devam indicar melhores práticas, principalmente no que se refere a mineração. Um texto novo não quer dizer um texto melhor. Desta forma é preciso acompanhar proximamente os trâmites do Novo Código de Mineração no Congresso Nacional e exigir que o meio ambiente e a comunidade sejam contemplados prioritariamente no novo texto. Aos interessados devo finalmente dizer que o Novo Código de Mineração que está tramitando no Congresso Nacional é o Projeto Lei 5807/2013 e que a necessidade de ler o referido texto, acompanhar sua tramitação e propor as devidas mudanças e um direito de qualquer cidadão brasileiro. O texto pode ser conseguido na INTERNET e as propostas de mudanças devem ser encaminhadas ao Congresso Nacional, em Brasília.    Luiz Eduardo Corrêa Lima]]>

14 abr 2015

Refletindo sobre alguns valores esquecidos pela vida moderna

Resumo: O texto dessa semana traz à baila uma questão séria, que está cada vez mais preocupando algumas pessoas e que precisa ser mais discutida e refletida pela sociedade. Trata-se do uso exagerado das novas tecnologias e do consequente afastamento entre as pessoas que esse uso tem trazido. Com o uso desregrado das tecnologias e com os superpoderes a elas concedidos, a humanidade parece estar perdendo sua relação direta com os ambientes primários da natureza e com os demais seres vivos, inclusive com os próprios seres humanos, o que tem trazido consequências progressivamente mais trágicas para a natureza e mais desagradáveis ao relacionamento humano.


Refletindo sobre alguns valores esquecidos pela vida moderna

Ultimamente tenho me preocupado muito com o rumo dos relacionamentos entre os seres humanos e ainda que eu não possa taxativamente afirmar que a fragilidade desses relacionamentos seja uma verdade mundial, eu tenho quase certeza que os relacionamentos humanos atuais pelo mundo afora são meras externalidades. Com certeza, essa é uma verdade brasileira, porque aqui em nosso país, as pessoas efetivamente, têm progressivamente caminhado para trás, no que diz respeito aos relacionamentos humanos e também às coisas da natureza, das tradições, dos valores culturais e morais em geral.

Também não sei se posso e nem quero considerar como uma verdade absoluta de que a causa dessa condição seja exclusivamente da tecnologia, mas infelizmente, tenho que considerar o fato de que o avanço tecnológico tem ajudado bastante no atual estado da arte e no momento, vou me ater exatamente ao seguinte questionamento: porque a tecnologia parece estar nos arrastando cada vez mais para longe das coisas e dos valores que nos deveriam ser mais importantes?

A propósito, devo dizer que não tenho absolutamente nada contra o avanço tecnológico e nem mesmo sou avesso aos novíssimos e diversificados aparelhos eletrônicos. Ao contrário acho todos eles ferramentas importantíssimas e que bom que nós conseguimos desenvolvê-los para facilitar muitas das diferentes tarefas que temos que resolver. O problema é que muitos de nós somos incapazes de entender que esses aparelhos são apenas e tão somente ferramentas. Esses aparelhos não são e nem podem ser considerados, de maneira nenhuma, como se fossem elementos vitais, que precisamos para continuar vivos, como o ar ou a água, pois já vivíamos anteriormente independentemente da existência deles. Como disse antes, esses aparelhos são úteis, mas certamente não são fundamentais. Obviamente existem alguns casos em que peças tecnológicas foram desenvolvidas exatamente para auxiliar a vida de algumas pessoas, mas essas são situações excepcionais e não regras.

A tecnologia está aí para tentar nos fazer mais capazes, mais eficientes e consequentemente mais felizes e tudo isso é obviamente muito bom num primeiro momento. Entretanto, será que essa felicidade inicialmente prevista tem sido secundariamente uma verdade em si, quando o avanço tecnológico nos leva a esquecer, ou pelo menos, nos afastar de outras coisas que, na nossa condição de seres vivos e principalmente de indivíduos humanos, talvez nos fossem muito mais importantes? Será que o nosso apoderamento tecnológico não nos coloca frente à questões que, talvez, possam estar nos trazendo mais prejuízos do que benefícios, apesar de nos permitir soluções aparentemente mais efetivas? A eficiência tecnológica nem sempre tem se mostrado eficaz sob vários aspectos, principalmente nas questões socioambientais. Bem, vou exemplificar meus questionamentos para tentar ser um pouco mais claro.

Imagine que quando não tínhamos agendas eletrônicas ou objetos semelhantes (alguns de nós nem conseguem imaginar isso), éramos obrigados a guardar os números de telefone, anotando ou mesmo decorando esses números e isso era bom para nós, porque nos forçava a escrever e pensar. E mais, quando íamos ligar para aquele número, necessariamente tínhamos que discar ou digitar, o que nos obrigava também a realizar um exercício físico, ainda que pequeno. Quando queríamos falar com uma pessoa e não podíamos ir à casa dela, nós telefonávamos e conversávamos com essa pessoa. Muitos de nós ficavam horas no telefone, o que era ruim, porque a conta a ser paga era alta. Entretanto, hoje usamos o “Whats App” e não pagamos nada e isso é bom, mas também não conversamos verdadeiramente com ninguém, apenas mandamos mensagens simples, sem qualquer conotação pessoal. Assim, as inter-relações são frias e de pouquíssimo conteúdo. Não escrevemos mais, apenas trocamos recados cheios de frases viciadas, com códigos, abreviaturas e símbolos, muitas vezes insuficientes para definir ou mesmo apenas para indicar uma determinada condição.

Tudo bem, é claro que essas mensagens de internet também são uma forma de linguagem, mas certamente essa não é uma linguagem que sirva para aproximar os seres humanos, porque ela é superficial e não expressa sentimento nenhum. O “internetês” é a comunicação pela comunicação e nada mais que isso e por mais que ele aproxime (facilite) as informações ele afasta as pessoas, que ficam cada vez mais isoladas em seu mundo exclusivo com seu celular, seu “tablet” ou seu computador de última geração. Posso estar errado, mais isso absolutamente não é humano, pelo menos do ponto de vista sensitivo.

Chamamos as redes de “internet” do tipo “facebook” e “linkedin”, por exemplo, de “Redes Sociais”, mas eu pergunto: essas redes são sociais mesmo? Tudo bem, elas envolvem grupos de pessoas da sociedade, mas elas não se comportam como algo que socialize as populações? Não, elas fazem exatamente ao contrário, pois elas excluem pessoas, quando não permitem sua participação em determinados grupos e isso ao meu ver é uma atitude antissocial. Talvez, fosse interessante chamar essas redes de outro nome, porque “Redes Sociais” é que elas não são mesmo. Porém, deixemos essa questão de lado, porque não é disso que quero eu tratar aqui.

Na minha infância, nós convivíamos muito mais com a natureza e com as pessoas do que qualquer criança de hoje em dia, mormente nos últimos anos com o advento da internet. Nós brincávamos de pique, jogávamos futebol, bola de gude, rodávamos pião, soltávamos pipa e várias outras coisas que hoje, tem criança (talvez a maioria delas) que nem sabe do que se tratam essas coisas, simplesmente porque nunca as viram e não têm nenhuma relação com outros humanos, além da internet e das “Redes Sociais”. Quer dizer, quase não há convivência efetiva com outros humanos, a não ser nos meios de transportes, quase sempre particulares e nos ambientes corporativos familiares, escolares, culturais e laborais. Hoje inventamos até “bichinhos virtuais” até para afastar mais as pessoas umas das outras e o que é mais grave, em certo sentido, para afastar as pessoas dos animais também.

Essa situação atual de contraste com que havia em épocas anteriores, pode até ser vantajosa em determinados aspectos, mas certamente é prejudicial em outros tantos. Se for colocado numa balança de custos X benefícios, acredito que certamente há menos vantagens e mais desvantagens no atual modelo, que é resultante do uso inadequado e excessivo da tecnologia.

A meu ver isso tem afastado cada vez mais as pessoas umas das outras e assim também dos valores e das tradições. As diferentes formas de expressões culturais vão ficando esquecidas e a natureza está sempre mais longe e menos importante, pois a vida humana passou a ser quase que exclusivamente urbana e tecnológica. O natural e o rural perderam o sentido e não interessam em praticamente nada na paisagem antrópica atual. Os humanos tendem a viver isolados em seus espaços artificiais.

Esse isolamento, por sua vez, leva cada vez mais ao egoísmo e ao olhar para dentro de si mesmo, o que também aumenta os preconceitos e o medo generalizado das diferenças. O outro humano cada vez importa menos para os humanos. Lamentavelmente, nós temos caminhado no sentido de achar que a felicidade é quase um sinônimo de solidão, porque nos preocupamos apenas conosco e tudo fazemos apenas no nosso interesse individual.

Enfim, reflitam comigo e digam se eu não tenho razão. Penso que está na hora de começarmos a fazer alguma coisa para mudar essa tendência, porque acredito que ela seja muito maléfica aos interesses e valores reais da humanidade. Acredito que nós, os seres humanos, estamos precisando de menos tecnologia e mais humanidade, para podermos engrandecer as nossas vidas, solidificar as nossas sociedades e principalmente estreitar as nossas relações com os demais seres humanos.

Segundo o pensador russo, Lev Semenovitch Vygotsky, nós não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos ao longo de nossa vida, pois s nossa humanização é construída progressivamente. Esse mesmo autor vai mais fundo ainda, quando diz que: “o homem só pode se tornar homem na presença de outro homem”, isto é, só nos tornamos homens convivendo com outros homens. Pois então, penso que temos andado na contramão da humanidade e estamos precisando conviver mais com outros humanos para nos humanizarmos mais.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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02 abr 2015

O Direito, a Economia e a Sustentabilidade

Resumo: O novo texto aborda a questão do descaso com a prática da sustentabilidade planetária em relação aos interesses estritamente econômicos e em consequência disso, identifica a situação progressivamente mais complicada que a população humana vem sofrendo, porque continua crescendo indefinidamente e necessita cada vez de recursos naturais, os quais, por sua vez estão mais escassos. É fundamental que a sustentabilidade passe efetivamente a ser condição obrigatória nas diferentes atividades antrópicas para que a espécie humana possa se manter por mais algum tempo no planeta.


O Direito, a Economia e a Sustentabilidade

Estamos efetivamente num “mato sem cachorro”, porque estamos num mundo de faz de contas, onde os interesses econômicos se sobrepõem ao direito e onde a sustentabilidade é palavra muito dita e repetida, mas parece ser pouco (nada) ouvida e, o que é pior, quando é ouvida, não é nada entendida. Isto é, a sustentabilidade é letra morta, mormente pelos poderes constituídos, que deveriam ser os responsáveis pelos direitos comuns e pelos interesses comunitários e coletivos. Quer dizer, tudo virou um grande “boné velho” que serve na cabeça de qualquer um e quem tem o poder, mormente o econômico, é favorecido pelo Direito e acaba usando esse boné com mais frequência. Aliás, usa por quase toda vida, enquanto os demais têm que sofrer as interferências das intempéries diuturnamente nas suas respectivas cabeças.

Aquilo que se deseja, ou melhor aquilo que é bom para a comunidade e que deveria ser defendido pelo direito comum, porque é o melhor ao interesse público, acaba sendo minimizado pelo interesse econômico. O Poder Público que deveria primar pelos interesses comuns, em consequência das grandes investidas fraudulentas do poder econômico, que embora exista de fato não é legal porque não existe de Direito, acaba cedendo aos interesses desse “pseudo-poder” e determinando o prejuízo da comunidade e do planeta. Quer dizer, vivemos um estado de caos social, no qual quem tem dinheiro (poder econômico), independentemente do interesse coletivo, determina o destino e pode fazer praticamente tudo. Por outro lado, quem não tem dinheiro, mesmo tendo razão, acaba não podendo nada. O pior é que alguns chamam esse estado de coisas de “Estado Democrático de Direito” e dizem que nosso país é uma Democracia.

Nesse momento, alguns leitores dirão: mas não há mudança nenhuma nessa situação, porque a história brasileira e quiçá mundial, sempre representou algo mais ou menos assim, ou seja, “os economicamente pequenos que não podem nada obedecem aos economicamente grandes que podem tudo”. É verdade! Porém, hoje há um dado novo que nunca foi considerado e que é preponderante à própria existência humana no planeta. Hoje, existe a questão da sustentabilidade que não é, nem pode ser de maneira nenhuma, mais uma simples falácia de ambientalistas de plantão ou de “ecochatos”. A sustentabilidade é uma necessidade premente, com a qual o gênero humano necessita estar preocupado e envolvido se quiser continuar existindo no planeta por mais algum tempo. A sustentabilidade, por conta de sua importância preponderante na atualidade, deveria inclusive ser considerada como o principal referencial social e mesmo democrático.

A sustentabilidade, além de ser um interesse coletivo maior é uma necessidade fundamental para o próprio planeta e assim ela transcende o simples interesse coletivo antrópico. Assim, a sustentabilidade é muito maior que o gênero humano, pois ela é de interesse planetário e não apenas antrópico. O Direito coletivo, no que se refere a sustentabilidade, não diz respeito somente às populações humanas, mas sim à Terra e à todas as espécies planetárias e por isso mesmo deveria ter um peso coletivo muito maior. Infelizmente não é isso que tem sido visto, porque o homem continua privilegiando os interesses econômicos sobre os interesses ambientais e relegando qualquer coisa que não tenha a ver com dinheiro a planos secundários. Desta maneira apenas o interesse antrópico dos poucos humanos que são economicamente privilegiados continuam tendo prioridade.

Enquanto isso, a temperatura do planeta continua crescendo; as geleiras seguem derretendo rapidamente; as áreas verdes e reservas florestais vão desaparecendo; as jazidas minerais estão se exaurindo; as reservas de água potável sempre diminuindo; as áreas desertificadas perigosamente aumentando; a poluição do ar, do solo e das águas estão chegando em níveis absurdos e inimagináveis em algumas áreas do planeta; as populações naturais e a biodiversidade estão cada vez menores, pois a extinção provocada pela atividade humana, principalmente com a destruição dos ambientes naturais é cada vez maior. Parece que a humanidade não se apercebeu que todas essas coisas têm, além do significado natural, também grande importância econômica e esse comprometimento gera escassez cada vez maior e consequentemente isso tem tornado as coisas progressivamente mais caras e mesmo para aqueles humanos que ainda (em breve também não terão) têm algum dinheiro as coisas estão progressivamente mais difíceis.

Não considerar a sustentabilidade é “um tiro no pé”, mesmo para os que têm visão curta e estritamente econômica, porque essa atitude compromete o planeta com todas as espécies vivas, inclusive e principalmente os humanos, e obviamente também o “bolso” (ou a bolsa se preferirem) da humanidade, porque aumenta a dificuldade de exploração e consequente aquisição de certos produtos. Os consumistas mais ferrenhos são incapazes de perceber esse problema, mas infelizmente ele existe e, o que é pior, talvez esse seja o principal problema da humanidade na atualidade. O desperdício de recursos naturais por conta do descaso com a sustentabilidade e do consumismo exacerbado tem levado à carência de muitos recursos naturais e paralelamente a destruição de ecossistemas e a degradação planetária quase que total.

No caso específico dos seres humanos, como a nossa população cresce absurdamente, a dependência planetária só aumenta e o consumismo transcende largamente o limite da necessidade. Os espaços físicos são ocupados aleatoriamente e de maneira totalmente incoerente, não respeitando os atributos naturais e muito menos a geomorfologia planetária, o que é extremamente perigoso. A exploração irracional dos recursos naturais renováveis ou não renováveis pela nossa espécie na busca insana de novos materiais e no desenvolvimento de novas tecnologias para consumo é cada vez mais significativa e já existem recursos totalmente exauridos há muito tempo, mas a degradação continua.

Os alimentos naturais estão cada vez mais caros e mais difíceis de serem conseguidos e assim a fome humana já atinge cerca de ¼ da população. A alternativa de usar os agrotóxicos já se mostrou, além de extremamente perigosa e daninha, também pouco eficaz, pois contaminou grandes áreas, destruiu solos férteis em vários locais do planeta, envenenou alimentos e matou muitos humanos e inúmeros outros organismos vivos. O desenvolvimento de transgênicos, os famosos “Organismos Geneticamente Modificados” – OGMs, que muitos dizem ser a salvação da humanidade para a carência de alimentos, poderá, pelo contrário, ser a nossa aceleração para a extinção, haja vista que não temos ainda como avaliar definitivamente os possíveis males, considerando o uso desse tipo de alimento ao longo das sucessivas gerações. Entretanto, a julgar pelo que já foi possível avaliar, o risco do uso continuado de transgênicos é, no mínimo, bastante perigoso e por isso mesmo não deve ser recomendado.

Já atingimos o limite físico do possível e já superamos a capacidade natural de resiliência do planeta e este, por sua vez, já tem demonstrado sua “irritação” e tem produzido um aumento significativo das grandes catástrofes ambientais pelo mundo afora. Os eventos catastróficos crescem em número e em grau e avançam em novas áreas de forma generalizada e assustadora. Não temos nenhum poder contra as forças da natureza e não temos nenhuma noção de como fazer para minimizar ou pelo menos, tentar controlar alguns desses acontecimentos catastróficos, quando muito nós apenas podemos prever a ocorrência de alguns deles, o que de fato não resolve nada.

Enfim, os cientistas do mundo inteiro já cansaram de informar que a situação já passou da condição de normalidade e hoje está efetivamente catastrófica e ao que parece, estamos de fato e rapidamente a caminho da extinção final da espécie. Mas aí vem a pergunta: o que pensam disso os economistas e administradores públicos preocupados apenas com o dinheiro? O que pensam disso os homens que tratam do Direito Internacional?

Grandes acordos Internacionais são feitos para não ser cumpridos e outros acordos só são cumpridos no interesse puramente econômico de quem os propõe. A Economia pode até ser algo importante, mas só existe Economia se existir ser humano, pois a Terra e as demais espécies vivas não precisam de Economia. Parece que nós estamos tão empenhados no dinheiro que esquecemos que o dinheiro só serve para nós e que nós só poderemos usá-lo se estivermos vivos. Estamos brincando com a possibilidade real de extinção prematura de nossa espécie sobre a superfície da Terra e não estamos nem aí com essa fato.

O que os poderes constituídos estão fazendo para acabar com isso? O que o Direito Internacional pode fazer para tentar resolver o problema? Como vamos chamar mais a atenção dos administradores públicos para que eles pensem mais na vida e menos no bolso?

Não sei, mas gostaria de saber até quando vamos nos manter omissos quanto a esta situação, até porque eu realmente não sei se teremos tempo para resolvê-la a contento. Aliás, acredito que não temos mais tempo para sanar definitivamente o problema, haja vista que nossa população não para de crescer de maneira absurda. Entretanto, talvez ainda seja possível amenizar e assim retardar o fim trágico que nossa espécie terá, mais cedo ou mais tarde. Certamente não viverei para ver tal fato, mas desde já peço perdão aos meus filhos, netos, bisnetos e demais descendentes, que por ventura venha possuir, porque acredito que nossa bomba já explodiu e agora é só uma questão de tempo.

A Ecologia é uma ciência primária que só foi (começou a ser) entendida tardiamente e, ao que parece, irá morrer virgem, pois o homem não conseguiu (não quis conseguir), ao menos até aqui, desvendar seus mistérios mais simples. Por outro lado, o Direito que deveria ter interferido para salvar a vida, ficou perdido nas teias difusas da subjetividade, do interesse pessoal e da injustiça. A sustentabilidade deixou de ser sonho romântico, utopia infundada ou realidade possível, para ser uma inviabilidade física comprovada exclusivamente pelo desinteresse, pela inescrupulosidade e pela ganância da raça humana.

O “economês” desenvolvido com a força do capitalismo, mas não esquecido pelo socialismo, fez valer o seu ideal de riqueza, deixando para traz a verdadeira riqueza que é a vida planetária, em particular a vida humana que virou brinquedo no interesse do “deus moeda” e do capital. Saímos por aí a destruir a natureza, a construir artefatos, a fazer compras e a consumir sem sentido. O homem esqueceu que tudo que existe naturalmente tem valor e que o dinheiro é uma criação humana que não existe naturalmente e que deveria apenas representar o valor daquilo que de fato existe, os recursos naturais. Subestimamos a droga monetária que criamos e ela está nos destruindo, da mesma maneira que temos feito com a natureza.

Triste fim da espécie humana e triste fim da história da humanidade nesse planeta, a qual poderia ser contada de maneira distinta se o homem, apenas o homem, assim o quisesse. Mas, ele não parece querer, ele parece preferir a glória de morrer em vão, na ilusão de uma vida pessoal curta e efêmera, do que a objetivar concretamente a realidade de tentar ser naturalmente feliz, através de uma vida real e verdadeira construída na determinação de permanecer o maior tempo possível como espécie planetária e temporária que certamente somos.

Infelizmente, na maioria das vezes, cada um de nós pensa apenas e tão somente em cada um de nós. De maneira geral, nós somos extremamente egoístas e não pensamos como espécie, pensamos e agimos apenas como indivíduos. Para a maioria de nós, os outros seres vivos, inclusive os demais seres humanos, simplesmente não existem ou se efetivamente até existem, não são entes importantes.

E digo mais, nem mesmo a criação de uma figura maior, um Deus, o Criador, o Todo Poderoso, fez o homem temer ou pensar um instante, porque o homem continuou egoísta e seguiu firme no seu propósito insano de destruir o planeta e toda a criação divina. Assim, o que é pior ainda, posso drástica e lamentavelmente concluir que Deus provou sua incapacidade ou, quem sabe, sua inexistência quando deixou o homem programar rápida e eficientemente a autodestruição da humanidade, além da degradação da criação planetária.

Que destino! Trágico fim! O homem soberano, a besta mor, o deus da Terra, feito a imagem e semelhança do Criador para crescer, multiplicar, dominar e reinar sobre as demais espécies da Terra, agora jaz. Vou torcer para que meus pensamentos não se efetivem tão brevemente e que ainda seja possível controlar a besta humana e manter ao menos parte de nós ainda vivendo no “planeta azul” por mais algum tempo.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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20 mar 2015

A VERDADEIRA QUESTÃO AMBIENTAL

Resumo: O texto desta semana é mais um daqueles textos “velhos”, pois publiquei pela primeira vez em 2005, mas que continua bastante atual, porque praticamente nada mudou ao longo desses 10 anos, no que se refere a população humana no planeta Terra. Ou melhor, mudou sim, mas para pior, porque ampliamos em pelo menos 1 bilhão de pessoas a população do planeta nesse período. Atualizei o texto para o memento e resolvi republicá-lo. O texto faz um relato da situação do crescimento população humana no planeta, como causa principal dos problemas ambientais e da necessidade de que seja desenvolvido algum mecanismo de controle desse crescimento.


A VERDADEIRA QUESTÃO AMBIENTAL

No dia 05 de junho de 2015, estaremos comemorando 43 anos do “Dia Internacional do Meio Ambiente”. Depois de, pelo menos, 3.000 anos fazendo somente coisas erradas, descobrimos, há apenas 42 anos atrás, que existe uma questão ambiental e que precisamos cuidar bem do único planeta que temos e de onde tiramos tudo o que usamos. Entretanto, é bom que se diga que o principal problema na questão ambiental que hoje estamos vivenciando não é, de forma alguma o aquecimento global, ou mesmo o desmatamento das florestas tropicais, ou ainda a poluição hídrica, ou atmosférica ou edáfica. Essas são meras consequências do único e grande problema que existe. O problema ambiental crucial é o crescimento descontrolado e absurdo da população humana sobre o planeta, porque é desse aspecto que decorrem todos os outros problemas ambientais.

Nossa espécie tem sido de uma eficiência reprodutiva tremenda, pois com todas as guerras, com todas as catástrofes, com todas as doenças e com todos os flagelos que a humanidade tem sofrido ao longo da história, nossa população nunca parou de crescer e nos últimos anos esse crescimento foi vertiginoso. Como uma bola de neve, o crescimento populacional da humanidade tem impulsionado os demais problemas ambientais, os quais, consequentemente, também crescem sem parar e estão cada vez mais difíceis de serem controlados. O planeta, por sua vez, tem nos avisado que não suporta mais, através da ocorrência de catástrofes cada vez maiores.

O aumento da população humana faz com que haja necessidade de aumentar a retirada de recursos naturais, aumenta a necessidade de espaço para os humanos e suas tarefas, aumenta a quantidade de resíduos, aumentando também a poluição e a degradação ambiental, além de várias outras coisas que prejudicam o meio ambiente global, danificando o planeta, extinguindo espécies e diminuindo a qualidade de vida da humanidade. Em suma: “não é possível controlar a degradação ambiental se não tivermos uma detenção no crescimento populacional da humanidade”.

Se fizermos uma revisão histórica e observarmos o que aconteceu com a curva do crescimento populacional humano, veremos que, para atingir o primeiro bilhão de humanos sobre o planeta foram necessários milhares de anos, pois isso ocorreu desde o início dos tempos humanos até aproximadamente o ano de 1750, coincidindo exatamente com a I Revolução Industrial. Para atingir o segundo bilhão, levou cerca de 190 anos, desde 1750 até mais ou menos o ano de 1940. Desta última data até o ano 2000, ou seja, em apenas 60 anos, atingimos a magnífica e assustadora marca de seis bilhões de humanos sobre a Terra. Quer dizer, levamos quase toda a história humana para atingir um bilhão, menos de duzentos anos para dobrar o bilhão e pouco mais de 50 anos para triplicar os dois bilhões e atingir a marca de seis bilhões e hoje já superamos os sete bilhões.

Não parece possível, mas alguma coisa tem que estar errado com a taxa de fecundidade de nossa espécie e com sua capacidade tão profícua de se reproduzir. Na natureza, não é comum uma população crescer tão rápido e as poucas que assim fazem, também decrescem muito rapidamente e não sobrevivem por muito tempo. Ou seja, a extinção chega muito rápido para essas espécies, exatamente porque elas esgotam os recursos à sua volta muito rapidamente.

Até onde iremos chegar? Até quando o planeta nos aguentará? Será possível reverter esse quadro? E se não for, o que faremos?

A situação e o momento que estamos vivenciando são, de veras, preocupantes, e não temos, efetivamente, produzido nenhuma resposta concreta para nenhuma das perguntas anteriores. Entretanto, não é esse o pior problema. A questão maior é que o tempo passa e continuamos coletivamente a não fazer absolutamente nada sobre a situação.

Tirando uns poucos cientistas e ambientalistas que vira e volta lembram do problema, ninguém mais discute e nem diz nada sobre esse tema. Parece haver um grande tabu, quanto ao crescimento populacional humano. Os governos, a sociedade civil e as instituições (principalmente as religiosas), não parecem estar preocupados com o assunto e continuam indiferentes ao problema. Todos falam da necessidade de resolvermos a questão ambiental, porém ninguém faz menção ao crescimento populacional, que precisa ser atacado e assim, nada acontece. Seguimos como se nada pudesse nos acontecer.

Enquanto a gente continuar se preocupando apenas com os efeitos produzidos pela degradação ambiental contínua e não nos detivermos e investirmos em nenhuma ação efetiva contra a causa primária, que é o crescimento populacional, não haverá como resolver os problemas ambientais. Quer dizer, tudo o que se fizer, será sempre paliativo. Estamos trocando seis por meia dúzia. E no fim o resultado é sempre zero. Ou melhor, na verdade, o resultado é sempre negativo, porque o empate, nesse caso, é uma derrota, haja vista que a degradação sempre acaba aumentando.

A ONU e todas as nações do mundo devem conduzir uma grande discussão internacional sobre a temática dos males produzidos pelo crescimento populacional desenfreado da população humana e sobre a necessidade de serem produzidos mecanismos que promovam o controle da natalidade. Esses mecanismos deverão ser viabilizados o mais rápido possível. Acordos internacionais são prementes nessa área e hoje, já virão com grande atraso.

O planeta que hoje abriga, além de toda a diversidade biológica (cerca de 20 milhões de espécies vivas), mais de sete bilhões de humanos e cujos recursos naturais já estão, em várias situações, quase totalmente exauridos, não suporta mais. A continuar assim, com esse crescimento populacional humano desenfreado e absurdo, o fim estará próximo, pelo menos para nós, humanos e talvez para todo o planeta. A Terra não suportará mais uma dobrada da população humana, nos próximos 30 a 50 anos.

Olhe para o seu lado e tente imaginar que a quantidade de tudo o que você vê (exceto de recursos naturais que já deverão ter se exaurido totalmente), daqui a 50 anos estará, no mínimo, dobrada. Ou seja, onde você está agora, existirão duas pessoas com todas as necessidades humanas que você tem, daqui a 50 anos. Acho que fica muito claro, que, por uma questão física, isso não vai ser possível.

Urge que alguma coisa seja feita para impedir o colapso que nos espera. É preciso que a sociedade como um todo e principalmente certos segmentos religiosos, caiam na realidade e parem de fazer devaneios e acreditar em milagres, pois efetivamente, pelo menos nessa questão, eles não existem. O mundo é físico e não metafísico e o que não cabe no mundo físico não pode ser discutido, por uma simples questão de sobrevivência humana.

A verdade física está na Lei de impenetrabilidade da matéria que diz que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo” e sendo assim, não há como colocar mais humanos no planeta sem tirar outras coisas dele. Lamentavelmente, o planeta não cresce como a população humana. Nessa escalada, haverá (talvez, já esteja havendo) um momento em que faltará um dos dois, ou seja, ou faltam humanos ou faltam as coisas que os humanos e as demais criaturas vivas do planeta tanto necessitam. No caso em questão, algumas coisas já estão faltando há muito tempo para alguns humanos.

Sendo assim, o crescimento da população é, indiretamente, também o seu extermínio, pois a competição entre nós e as demais criaturas da Terra é cada vez maior e para sobrevivermos estamos sempre destruindo alguma coisa, até mesmo outros humanos. Ao invés de nos destruirmos, certamente será bem melhor mantermos a medida devida do equilíbrio para nós e para o planeta. O tamanho de nossa população parece já ter chegado nesse nível satisfatório e não deve crescer mais para o bem da Terra e de toda a humanidade.

Como espécie biológica só buscamos a nossa manutenção no planeta e, nesse sentido temos que tentar sobreviver a qualquer custo. Mas, por outro lado, como seres humanos, buscamos a felicidade e para tanto precisamos refletir e avaliar o que temos feito com o planeta, pois não poderemos ser felizes sem a nossa casa, a única que temos, o planeta Terra.

A maneira correta de mantermos o meio termo entre a nossa condição de ser biológico (natural) e a nossa condição de ser humano (social) é controlando o tamanho de nossa mancha populacional e o uso de tudo o que precisamos para nos manter vivos no nosso planeta azul. O Desenvolvimento Sustentável e a Sustentabilidade que tanto se fala, não são possíveis sem o controle do crescimento da população humana no planeta.

O planejamento familiar deve ser item prioritário nas pautas das reuniões dos governos e também deve ser matéria obrigatória nos programas de Educação. A Educação Ambiental, hoje tão em moda, deverá tratar a questão da reprodução humana e do planejamento familiar da maneira mais objetiva que puder, ressaltando as consequências desagradáveis e maléficas do aumento da população humana no planeta.

O mundo precisa saber que não podemos mais reproduzir indefinidamente, pois há um limite de suporte para a Terra. A imprensa precisa trabalhar essa questão da forma mais agressiva possível, para que as pessoas tomem consciência do que significa cada ser humano a mais no planeta.

No passado errávamos porque desconhecíamos, mas hoje, não há mais porque errar. Somos cientes dos males que produzimos ao planeta e a humanidade e quanto maior for a população humana maior será esse mal, até o momento em que entremos numa situação irreversível. Até aqui, só extinguimos prematuramente outras espécies, mas ao que parece, ainda não estamos satisfeitos e caminhamos para causar também o fim prematuro da espécie humana.

Apenas uma espécie nesse planeta é capaz de julgar os seus erros e modificar suas ações conscientemente. Se nós humanos não nos lembrarmos desse fato e se não quisermos, efetivamente, mudar a realidade das coisas, dificilmente o Homo sapiens sobreviverá.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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11 mar 2015

Cordel da Falta d´água na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Resumo: O texto desta semana é um Cordel, que procura contar o que está acontecendo com a situação da água na Bacia Hidrográfica do Vale do Paraíba do Rio Paraíba do Sul e que propõe, numa linguagem clara e simples, como é típico na Literatura de Cordel, algumas sugestões do que pode ser feito para minimizar ou mesmo para resolver os problemas estabelecidos. Por outro lado, a história da Bacia Hidrográfica e da região do Vale do Paraíba do Sul, além da fé e da religiosidade da população valeparaibana também são trazidas à baila e demonstradas no texto.


 

Cordel da Falta d´água na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Cadê a agua que vinha de riba e que descia pelo Paraíba? Cadê a água que vinha do alto e que corria pelo rio abaixo? Cadê a cheia das represas que sobrava nas barragens a mil? Cada a água de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil? Onde está a água meu Deus? Por que será que ela sumiu? E agora que a água se foi, Para acabar de vez com a festa, Querem levar o que resta a outras paragens, outro local. Querem mandar para ribeira, fazendo subir pela Cantareira para abastecer a capital. Mas, e nós, donos da água, daqui na nossa terra natal, vamos ficar na seca total? Acho que isso não é legal. E mesmo que seja legal, certamente será imoral. Não faz sentido, eu lamento, tirar nossa alimento e sustento, trocando as águas com o tempo, deixando nosso povo ao relento. Povo que segundo a história, na passagem de muitos anos, ajudou o Brasil e sua glória. Da travessia para as alterosas, subindo ao topo da Mantiqueira, para encontrar pedras preciosas, chegando à produção cafeeira, a grande projeção brasileira, até o desenvolvimento industrial, hoje a maior riqueza regional. No que se refere a água, fazemos mais que a obrigação, doando parte dessa riqueza para gente de outra população, que segue pouco mais adiante, rio abaixo e a montante, lá no estado do Rio de Janeiro, outro grande estado brasileiro, cuja capital e cidade principal, também foi a capital Federal. No passado, naquela cidade, por sina, por vontade divina, ou apenas pura infelicidade, a falta d`água era quase total e seu solo era puro sal. Não fosse nossa colaboração, dando água àquela população, talvez toda a beleza e grandeza, daquela imensa cidade não pudesse existir de verdade. Mas, com o Rio Paraíba, nossa inteligência e prudência e também  com nossa bondade tiramos a capital da carência, com água e vida em qualidade. Nosso Vale da água abençoada, onde apareceu a famosa Santa, que apadrinha e protege o país, Aparecida, que nos encanta, e que nos torna mais feliz. A Santa que surgiu do rio, das águas Paraíba do Sul e hoje, coroada como rainha e vestida em seu manto azul, protege o Brasil de Norte a Sul. É essa água de origem mágica, o nosso manancial sagrado, que hoje está mal tratado, por desleixo, por descaso, falta de atenção e de zelo. Essa riqueza abençoada, agora está desaparecendo. Toda a Bacia do Rio Paraíba está carente e empobrecendo. A vida na região vai perecendo apesar do rio, da Santa, de nosso apelo e lamento. Esquecemos nossa missão relevante, compromisso com o futuro adiante, não cuidamos das fontes d`água, secamos muitas das nascentes, criamos situação preocupante para nós e para muita gente. Agora temos que rezar à Santa, para que ela apareça de novo e com sua força que é tanta, traga água para o povo. Nossa Santa forte e de luz, Aparecida, a mãe de Jesus, de certo nos devolverá nossa paz e o bem viver, porque a água voltará a verter. Fiquem atentos porque em breve, a nossa Bacia vai renascer, a água vai voltar a jorrar e correr e as represas de novo vão encher. Certamente não faltará água, pois Nossa Senhora vai interceder. E mesmo com nova transposição, a água seguirá abundante, e o Paraíba seguirá rumo adiante, indo atravessar o Rio de Janeiro, fertilizando aquele estado inteiro, até chegar na foz, em Atafona, onde o Atlântico lhe espera, e ele completa seu eterno ritual. Gradualmente o Paraíba se encerra, vai descansando devagar e pontual. Além de sua água milagrosa, leva o brio e força de homens e de mulheres belas e valorosas do vale a quem empresta o nome. Gente que conhece suas águas, sabem que elas são poderosas, que nunca vão parar de correr e muito menos de existir, muito embora, algumas vezes, novamente, até possam diminuir. Mas esse será apenas um recado. lembrete de Deus e da Santa, para a gente não se esquecer do rio que nos viu nascer. Cuidemos bem do Rio Paraíba e ele seguirá cuidando do Brasil, Cuidemos mal do Rio Paraíba e não haverá mais água por aqui. Nem aqui, nem na capital estadual e muito menos na ex-capital federal. Não haverá água nas represas, nem Paraibuna, nem Santa Branca, não haverá nem mesmo a pretensa transposição, do Jaguari para a Cantareira e isso soará como brincadeira. Assim, a água não chegará nem perto do lago de Funil. Todo cidadão no Rio de Janeiro de outra fonte dependerá, se quiser encher o seu cantil. Se não guardarmos toda a Bacia, qualquer coisa que se queira fazer, será apenas mais especulação, porque a água irá desaparecer e não haverá nenhuma solução. Para guardar a Bacia Hidrográfica Serão necessárias várias medidas. Manter a flora, com plantas nativas, reflorestando todas as nascentes e margens das águas correntes, controlando a erosão nociva, impedindo o desbarrancamento e controlando o assoreamento. Preservar e proteger as vertentes, garantindo o não secamento. Tratar o esgoto doméstico e industrial, evitando a poluição hídrica geral. Não usar os venenos e tóxicos, que vão se acumulando no solo, degradando todo seu potencial, exterminando os microrganismos, desertificando alguma área regional. Minimizar a poluição da atmosfera, limitando as fuligens e o metano, controlando a taxa de ozônio, óxidos de enxofre e nitrogênio, e do perigoso monóxido de carbono. Assim, melhorando o ar e garantindo nosso oxigênio. Diminuir os gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico, que além de causar poluição aérea, também interfere no clima total, e que hoje é causa mais séria do terrível aquecimento global. Acabar ainda com os particulados, Que há muito têm se acumulado E que causam preocupações Ao ambiente em geral, pois caem do ar sobre o chão e se acumulam por gerações, ou então correm para as água, causando mais poluição. Sigamos pois, nossa obrigação, cuidemos da Bacia inteira e auxiliemos a nação brasileira, pois Nossa Senhora Aparecida, lá do alto está nos vendo e podem estar certos que ela, com muito amor e paixão, seguirá sempre nos protegendo. Diante dessa clara situação, não faltará água à população e sobrará amor no coração, para superar outras crises e reverter qualquer situação.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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06 mar 2015

A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã

Resumo: O texto desta semana faz uma comparação entre o passado, o presente e o que se espera para o futuro de nosso Vale do Paraíba, considerando a situação que se produziu, ao longo de sucessivos erros no processo de ocupação do espaço regional. Fica claro que a região ainda pode atingir alto grau de desenvolvimento sustentável, entretanto tudo dependerá das ações políticas ambientais que forem tomadas, principalmente agora que compomos uma região metropolitana. Essas ações têm que seguir critérios rígidos de ocupação visando a sustentabilidade do Vale do Paraíba. Por outro lado, é fundamental que as posições assumidas e as posturas tomadas na região não sejam ações isoladas, porque há necessidade de que essas ações sejam promovidas, divulgadas e se possível multiplicadas por outras regiões, a fim de que se possa vislumbrar e tentar garantir cada vez mais a sustentabilidade ambiental planetária.    


A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã

Meu objetivo nesta palestra é tentar fazer uma comparação entre a situação ambiental existente no Vale do Paraíba, desde antes da chegada do homem branco até os nossos dias e, a partir disso, fazer uma projeção para a situação futura que poderemos esperar para a região. Farei na verdade uma viagem no tempo, tendo como base o Vale do Paraíba e colocarei aqui o meu sonho de futuro, não apenas para o nosso Vale, como também para todo o planeta Terra. Espero que Deus me ajude no desenvolvimento de minhas ideias e que os senhores possam acompanhá-las e assim, possam compartilhar do meu raciocínio.

COMO ERA O VALE DO PARAÍBA ONTEM?

  1. Antes da chegada do homem branco, cerca de 90% do Estado Primitivo da região do Vale do Paraíba do Sul era composto de Florestas. A Mata Atlântica Primária ocupava a grande maioria das áreas da região, mas existiam algumas áreas abertas de campos e campinas. Obviamente anda não existiam espécies exóticas na região.
  2. A ocupação antrópica era apenas da comunidade Indígena. Até a chegada do homem branco existiam várias grupos de Índios da tribo dos Puris espalhados pela região, desde o que hoje é a cidade de São José dos Campos até Bananal, adentrando por Resende já no Rio de Janeiro, porém todos os grupos continham populações relativamente pequenas.
  3. As Águas estavam em excelentes condições, livres de poluição. Havia grande diversidade de fauna ictiológica. Conta à história que os Puris eram bons pescadores e que a pesca era sua principal fonte de alimento. Além disso, havia ausência total de contaminantes e certamente havia muita luminosidade, muitas algas e muita fotossíntese, o que garantia grande quantidade de oxigênio disponível.
  4. A Fauna e Flora estavam quase que praticamente Intocáveis. As Florestas eram exuberantes e densas, por conta disso podiam abrigar grandes Populações de Animais. As Comunidades Biológicas (Biocenoses) eram ricas e os Ecossistemas naturais eram complexos e com alta biodiversidade.
  5. A Geologia era primitiva e natural, era um retrato da evolução e da geodinâmica que o planeta desenvolveu no local. Isto é, a Formação Geológica do Vale do Paraíba era aquela que a natureza havia desenhado ao longo a Evolução. As Intempéries eram fatores regulados pela própria natureza, que da mesma forma que destruía, também corrigia e reconstruía. Por pior que fosse a catástrofe, o seu limite dimensional era compatível com a resistência natural.
  6. O Solo da região era saudável o suficiente para garantir a vida nos ambientes terrestres e enriquecer bastante os ambientes aquáticos, quando carreado para os cursos d’água. Não havia nenhum tipo de contaminação dos solos e por isso eles eram capazes de manter a vida em qualidade e quantidade.
  7. O Ar era límpido e quase totalmente puro. Não existiam sustâncias estranhas no ar, quando muito uma queimada natural liberava um pouco mais de CO2 e alguma fuligem, mas não existiam outros contaminantes e poluentes químicos.
  8. A Poluição não existia e os Ecossistemas estavam certamente bem equilibrados. Tudo que existia de vivo era consequência do Estágio Clímax Natural das Comunidades Biológicas existentes na região. Não havia nenhum tipo de agente biológico estranho.
  9. A Exploração dos Recursos Naturais era muito pequena. Havia caça e pesca, retirada de rochas e derrubada da mata, mas tudo em doses homeopáticas e pouco significativas. O Impacto Ambiental Antrópico sobre a região, embora já existisse, era praticamente desprezível.
  10. Além de tudo disso, havia tempo e havia espaço suficiente para corrigir possíveis danos ambientais. Mesmo que se produzisse algo de significativo impacto ambiental negativo, existia possibilidade de recuperação natural, porque todos os ecossistemas estavam em condições de se recuperar naturalmente.

COMO ESTÁ O VALE DO PARAÍBA HOJE?

  1. Mais de 90% de áreas naturais degradadas e quase totalmente sem florestas. Pouquíssimas Florestas naturais e grandes áreas plantadas com essências exóticas. Introdução de diferentes culturas agrícolas de diversas origens, além de áreas de pastagem com Brachiaria e áreas de reflorestamento com Pinus e Eucaliptus.
  2. A ocupação foi feita e continua sendo desordenada e sem critério, com a maioria das populações nas margens dos rios, em particular do Rio Paraíba do Sul, calha maior da região e por isso mesmo principal componente da Bacia Hidrográfica. Hoje a população do trecho paulista do Vale do Paraíba é superior a 2 milhões de habitantes. As cidades não crescem, porque a qualidade de vida piora progressivamente, entretanto essas cidades incham sem a infraestrutura necessária para suportar o aumento populacional inconsequente. 3. A Água está extremamente contaminada em vários locais, principalmente por conta do Esgoto Orgânico das cidades, mas ainda com altos padrões de toxicidade química em algumas áreas, inclusive com a presença de metais pesados. Há uma baixa diversidade faunística e florística nos ambientes hídricos. Pouco oxigênio disponível, com a taxa de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) chegando algumas vezes a 0% em vários locais da região. Alguns córregos e riachos que atravessam áreas urbanas estão totalmente mortos. 4. A Fauna e Flora quase que totalmente modificada pela introdução de inúmeras espécies exóticas para os mais diversos fins, muitas das quais já dominaram os ambientes locais e hoje são selvagens, pois se naturalizaram. Florestas pobres e frágeis e pequenas populações animais. As Comunidades Biológicas (Biocenoses) são pobres e os Ecossistemas estão pouco diversificados.
  3. A Geologia mudou tanto fisionômica quanto fisiograficamente. Derrubamos montanhas, abrimos túneis, destruímos pedreiras, retiramos minérios, secamos nascentes, represamos rios, mudamos os cursos de rios, criamos e destruímos lagos, fizemos transposições de águas. Agora mesmo estamos construindo novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) absurdas na região e discutindo a possibilidade de mandarmos água de nossa Bacia Hidrográfica para a região metropolitana da capital do estado. Por conta desses absurdos, as intempéries agora são extremamente destruidoras e incontroláveis.
  4. O solo está quase totalmente perdido, degradado, compactado, contaminado e envenenado. Os microrganismos que lhe davam vida perderam-se por conta do mau uso e da destruição por conta de práticas agrícolas errôneas e infundadas, que aconteceram ao longo do tempo e que infelizmente ainda acontecem atualmente. Monocultura e Mineração ainda são palavras chaves no pensar de muitos e com isso o processo de desertificação já é realidade em algumas áreas.
  5. A qualidade do ar está bastante comprometida em algumas áreas, principalmente nas imediações das zonas industriais das cidades, onde há locais com grande acúmulo de poluentes atmosféricos, mormente no trecho compreendido entre os municípios de Jacareí e Pindamonhangaba. As chuvas ácidas já ocorrem e o aumento da concentração de poluentes ao longo da via Dutra e nos centro urbanos das cidades maiores, em consequência da fumaça produzida por veículos, já é uma perigosa fonte de doenças respiratórias. Não bastasse isso, somos a maior concentração bélica do país e a Via Dutra é o local de tráfego diário de inúmeras cargas perigosas e ainda por cima estamos dentro dos limites de abrangência de qualquer acidente Nuclear que possa ocorrer nas Usinas de Angra dos Reis.
  6. Hoje, além da poluição, os ecossistemas naturais estão todos desequilibrados, degradados e descaracterizados. Poucos são os remanescentes de áreas naturais e mesmo o ambiente antrópico construído encontra-se em condições precárias à qualidade de vida. A modificação ambiental é extremamente degradante e muitos organismos já se extinguiram precocemente na região.  Os agentes estranhos (poluentes e contaminantes) lamentavelmente estão em todos os ambientes naturais e construídos, muitas vezes em níveis perigosos à saúde e alarmantes ao ambiente como um todo.
  7. A Exploração dos Recursos Naturais quase que exauriu todas as fontes que estão limitadas as Áreas de Preservação Permanente (APP) e algumas Unidades de Conservação Integral e de Uso Sustentável. O Impacto Ambiental Antrópico tem sido danoso, violento e tem causado muitas complicações, a maioria das quais, produziu mudanças irreversíveis sob vários aspectos. Mudamos praticamente toda a natureza da região. 10. Agora não há mais tempo e muito menos espaço para nada. Temos que pensar e fazer o Desenvolvimento Sustentável ou então pereceremos. Não há mais como os ecossistemas se recuperarem por si só. E mesmo com toda capacidade Tecnológica que hoje temos a nossa disposição é impossível recuperar tudo, até porque há coisas que não existem mais. Além disso, também seria impossível para nós, humanos modernos, retroagirmos aos modelos e mecanismos do homem primitivo. Temos que viver e conviver com a realidade que está aí estampada e mudá-la progressivamente para melhor. A qualidade de vida não pode ser diletantismo, ela tem que ser a meta que norteará a construção da nova realidade.

COMO DEVERÁ SER O VALE DO PARAÍBA AMANHÃ?

Não é mais possível retroagirmos e voltarmos às condições primitivas e creio eu que, nós também não queremos e nem devemos de forma alguma pensar dessa maneira, mesmo que fosse possível essa retroação. Ao contrário, nós temos que acreditar no homem, na sua inteligência e no seu poder criador e por isso mesmo, temos que admitir que a mesma Ciência e Tecnologia que nos trouxe ao atual estado de coisas, deverá ser também quem nos permitirá sair dele. Não queremos a volta às cavernas.

Nesse sentido vale a pena lembrar o saudoso Chico Xavier, quando ele disse que: “é impossível voltar no tempo e fazer uma novo começo, mas é possível [e bastante viável] modificar o rumo da história e produzir um fim diferente daquele que se anuncia”. Acredito que nós somos os próprios construtores de nossa história e podemos transformá-la da forma como quisermos.

Sendo assim, acredito que só existem duas formas distintas e bastante antagônicas de imaginarmos o Vale do Paraíba do Sul do futuro: Uma delas, numa visão pessimista e a outra numa visão otimista. A escolha é nossa, pois, como eu já disse, somos, além de atores, também os agentes de nossa história e da história próxima passada desse planeta que nos abriga.

Aliás, sempre é bom ressaltar. A opção sempre foi nossa, pois o homem é a única espécie capaz de mudar parcial ou totalmente a realidade a sua volta e desta forma, também é a única espécie capaz de planejar e desenvolver o seu futuro planetário. Portanto, se há um culpado pelo atual estado planetário, esse culpado é o homem como espécie.

Se nós somos os responsáveis pelos problemas, então também devemos ser capazes de, pelo menos, tentar soluções. Sendo assim, criaremos então os dois cenários para a resolução dos problemas de nossa região.

No primeiro cenário o Vale do Paraíba é parte integrante de um todo maior. Aliás, é uma pequeníssima parte desse todo maior chamado Planeta Terra. Nesse cenário não é possível resolver nada por aqui, se o todo não começar a se resolver também. Qualquer evento isolado é paliativo e não resolve o problema algum, embora até possa minimizar momentaneamente os efeitos do problema. Infelizmente não está parecendo que a maioria dos dirigentes dos diferentes países do mundo esteja pré-disposta a tentar mudar a cara do planeta.

Se até existem alguns humanos que estão propensos a melhorar a qualidade de vida, infelizmente muitos ainda não caíram na realidade ou não querem admiti-la e agem como se nada estivesse acontecendo com o planeta. A preocupação da grande maioria dos humanos continua sendo única e exclusivamente econômica. É de estarrecer, mas infelizmente o dinheiro ainda está acima de tudo na cabeça das pessoas.

Desta forma, não vai adiantar muito fazermos alguma coisa aqui no Vale do Paraíba, porque o planeta parece estar fadado a assumir condições piores e certamente o homem como espécie não sobreviverá a isso. Nem aqui e nem em nenhum outro lugar do planeta. Neste cenário, só nos resta o fim e a extinção compulsória de nossa espécie.

Isso é muito forte e nós, seres humanos sensatos e preocupados com a nossa espécie, não podemos nos dar o direito de nos acomodarmos com isso e de simplesmente esperarmos o fim, como verdade compulsória e única dos próximos e prematuros tempos. Não dá para ficar daquela forma como diz o ditado: “se é inevitável, então relaxe e goze”. Não, mil vezes não! Por mais que se pareça inevitável e irreversível o quadro atual, eu não quero acreditar nisso. Não vou ficar esperando a morte chegar, sem tentar mudar essa realidade. O homem tem que reagir e como eu mesmo já disse e publiquei numa outra oportunidade: “nossa espécie não pode morrer tão jovem, dentro de um universo tão velho” (LIMA, 1995).

Desta maneira nos sobra apenas e tão somente a segunda solução possível, que embora pareça mais difícil, tem que ser aquela que abraçaremos e tem que ser aquela que dará certo e que nos levará a continuar essa caminhada evolutiva pelo nosso planeta azul. Entretanto, só existe um mecanismo capaz de nos permitir a chegada nessa meta. Esse mecanismo denomina-se SUSTENTABILIDADE ou DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Palavra que já está vulgarizada e gasta, mas cujo sentido ainda não foi entendido pela maioria das pessoas que a utiliza. Para somar a mídia ainda reforça progressivamente o conceito errado e ajuda a desinformar cada vez mais as pessoas (LIMA, 2005). Mas, como faremos para chegar à verdadeira Sustentabilidade?

Bom, primeiramente vamos tentar definir o que deve ser entendido como sustentabilidade de maneira mais ampla possível.  De maneira simples a sustentabilidade consiste em garantir um mundo melhor para as gerações que ainda vão nascer e para garantir isso ela está embasada em três aspectos (pilares) fundamentais: o ecológico, o social e o econômico, nessa ordem. Pois então, a Sustentabilidade é por isso mesmo, um negócio extremamente diferente de quase tudo que temos visto até aqui, porque para agir sustentavelmente temos que pensar de outra forma, que é bastante distinta daquela que estamos acostumados a pensar, pois temos que sair do pensamento estritamente econômico. Isto é, o componente econômico até continua existindo, mas ele é o terceiro na ordem de importância.

A sustentabilidade também é algo bastante complexo porque envolve um alto grau de ações, as quais estão relacionadas com todas as atividades humanas produzidas na sociedade e no planeta. Por fim, sustentabilidade e um mecanismo extremamente abrangente porque engloba e interfere em todas as áreas e todas as coisas que o homem como espécie biológica viva atua, tanto no nível natural, quanto social.

Em suma, sustentabilidade é uma atividade que requer uma nova visão de mundo, uma nova Cosmologia e assim exige mudança de Filosofia, de Comportamento e de Conduta nos seres humanos. Na opinião de alguns cientistas a sustentabilidade é algo tão estranho a maioria dos nossos modelos de civilização que acaba por ser utópica, ou seja, é impossível de existir e de aplicar esse conceito genérica e generalizadamente. Entretanto, temos que buscá-la a qualquer preço. Temos que caminhar atrás dessa utopia, pois só ela pode nos conduzir ao futuro e aos dias melhores que queremos dar as gerações vindouras.

Numa visão mais simplista sustentabilidade quer dizer que: precisamos nos tornar um só.

Teremos que nos tornar numa grande colônia que tudo fará para continuar vivendo nesse planeta que nos abriga. Seremos um imenso organismo colonial. Isto é, seremos, a partir de agora, pouco mais de 7 bilhões de humanos agindo e pensando em continuar, em seguir em frente e evoluir, trabalhando efetivamente para que isso seja possível. É claro que muitos organismos da colônia naturalmente irão morrer como acontece em qualquer colônia, mas a colônia como um todo sobreviverá e assim terá continuidade futura. Esse deve ser o nosso objetivo fundamental.

Temos que mudar o nosso pensamento, mas para tanto, temos que acreditar que isso é verdadeiramente possível. Temos que entender que qualquer um de nós é parte de um todo maior e essa será a nossa grande mudança filosófica. O mundo não se esgota em mim, porque eu sou apenas e tão somente uma pequeníssima partícula dentro do universo populacional da humanidade que constrói a grande colônia humana no planeta. O outro, humano ou não, também sou eu, porque eu dependo dele, ele depende de mim e o planeta depende de ambos. O respeito ao outro ser vivo é fundamental, independente de quem seja ele, o planeta depende de sua existência, senão a evolução não teria permitido que ele sobrevivesse.

Temos que sair do egoísmo e esquecer certos valores falsos que nos foram estabelecidos e que infelizmente cultivamos e aprimoramos ao longo da história por várias causas distintas que não cabe serem discutidas aqui. Infelizmente, muitos desses valores estão arraigados ao nosso comportamento. Doravante deveremos pensar, partindo do pressuposto que o único valor real que existe é a vida e todo resto é efetiva e infinitamente menos, talvez nada, importante. Temos que priorizar a vida antes de qualquer coisa.

Concluída essa primeira etapa de pensar diferente, teremos que começar realmente a fazer diferente. Não apenas eu ou você, mas todos nós, seres humanos, teremos que fazer diferente do padrão habitual. Não pode haver divisão e nem interesses diversos no mundo. Praticar aquilo que seja bom para a vida tem que ser a meta da humanidade.

Todos nós teremos que trabalhar bastante para que um novo comportamento humano surja generalizadamente e para que a humanidade pense, queira realmente fazer e faça as coisas de forma diferente e nova, de uma maneira que objetive unicamente a continuidade da vida humana no planeta.

Certamente levará alguns anos para que todos nós possamos nos conscientizar desse fato e partamos para fazer o que tem que ser feito conjunta e coletivamente. Quando esse tempo chegar e ele terá que chegar necessariamente, aí sim é que começaremos a mudar a cara do mundo. Entretanto, sempre haverá algumas caídas e recaídas. Temos que estar atentos a nossa meta e não podemos esmorecer. Alguém já disse que “a carne é fraca”, mas nós teremos que ser fortes o bastante para que, mesmo que alguns busquem o retorno ao atual “status quo”, a maioria de nós não poderá fraquejar. Temos que estar cientes de que só poderemos continuar nossa história evolutiva se seguirmos em frente no novo padrão.

Ao longo do tempo e certamente levará muito tempo, chegará o dia em que finalmente teremos criado todos os hábitos que precisamos ter para garantir nossa existência planetária. Nossa conduta coletiva estará efetivamente mudada para melhor. Isto é, chegará o dia em que a sustentabilidade sonhada deixará de ser sonho e que a utopia terá virado realidade.

Com certeza, isso só dependerá única e exclusivamente de nós.  Talvez, precisemos apenas acreditar mais em nós mesmos e entendermos que é essa crença efetiva que está faltando à humanidade. O homem acreditando cada vez mais no próprio homem.

Como disse Einstein só há duas formas de pensar a respeito dos milagres: “uma é admitir que milagres não existem e a outra é admitir que tudo o que existe são milagres”. Temos que nos apegar de todas as formas e acreditar nessa segunda linha de raciocínio, independentemente do credo que cada um de nós possa ter, deveremos acreditar que os milagres existem e entender que somos os únicos seres capazes de manifestar o milagre maior, que é traçar a nossa existência e o nosso futuro aqui na Terra.

Meus amigos, num seminário sobre sustentabilidade, talvez eu esteja sendo utópico demais em minha fala, mas podem acreditar, eu acho que isso mesmo que está faltando. Falta um pouco mais de utopia para a nossa triste e cruel realidade cotidiana. Jamais conseguiremos mudar a nossa realidade se não sonharmos com essa possibilidade.

Somos seres superiores como verdade biológica, mas, precisamos nos mostrar superiores nos demais ramos de atividade. Temos que ir além da realidade biológica e, pelo que tenho percebido, só o sonho pode nos levar a isso. A humanidade e o planeta Terra nunca dependeram tanto do Homo sapiens quanto nesse momento, em que vivemos uma crise ambiental extremamente perigosa e sem precedentes históricos, mas que muitos de nós, pelas mais diversas justificativas infundadas, insistimos em não acreditar que existe.

Precisamos sonhar e torcer para que tudo acabe bem. Acreditemos nisso, pratiquemos o nosso sonho e programemos o nosso projeto mundial de Sustentabilidade, de Recuperação Física do Planeta e de Atitude Ética dos Humanos, pois só assim é que conseguiremos ser capazes resolver a maioria dos problemas ambientais da Terra e obviamente também do nosso Vale do Paraíba. Porém, o mais importante disso tudo é que só assim, também seremos capazes de salvar a nossa espécie de uma extinção prematura.

Como biólogo, sou ciente de que a extinção biológica é compulsória para todas as espécies da Terra e certamente ela virá um dia para o Homo sapiens. Entretanto, como ser humano, isto é, como indivíduo dessa mesma espécie, eu quero atuar ativamente no sentido de impedir a prematuridade de nossa extinção e tudo farei para tentar torná-la mais tardia que for possível.

Meus amigos, para encerrar, eu devo dizer que: somente nós, seres humanos, agindo juntos, poderemos impedir que essa tendência da extinção precoce se concretize. E quero também lembrar que alguém já disse a seguinte frase: “quando uma pessoa sonha sozinha, normalmente é apenas mais um sonho, porém, quando muitas pessoas sonham juntas um mesmo sonho, está tendo início uma nova realidade”.

Por favor, senhores, sonhem junto comigo.

Muito obrigado pela atenção.

REFERÊNCIAS

LIMA, L. E. C., 1995. A Transitoriedade do Homem, Revista Ângulo, Lorena, (61):4 – 5, jan/fev de 1995.

(Republicado no www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 25/04/2009).

LIMA, L. E. C., 2005. Sensibilidade X Ciência e o Papel Fundamental da Mídia, www.vejosaojose.com.br/correalima, 05/07/2005.

(Republicado no www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 31/05/2009).

*Palestra proferida no Primeiro Seminário sobre a Sustentabilidade do Vale do Paraíba – FATEA/Lorena/SP – 07 /XI/2009, sendo devidamente modificada e atualizada para esta publicação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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25 fev 2015

Educação, Sustentabilidade e Política

Resumo: O texto aborda uma questão que está no “top” da falação atual, mas que ainda não é entendida pela grande maioria das pessoas. Trata-se do conceito de Sustentabilidade, que precisa efetivamente ser popularizado, porém dentro de sua ideia fundamental. A palavra sustentabilidade vem sendo gasta por todos os setores, porém a aplicabilidade da verdadeira noção de sustentabilidade ainda é um sonho que os ambientalistas querem ver acontecer. Devem ser efetivadas políticas públicas que viabilizem mecanismos de educação ambiental que possam contemplar essa necessidade, para a sustentabilidade saia da condição de sonho de alguns e passe a ser realidade de todos.


Educação, Sustentabilidade e Política

Sustentabilidade é um termo que já pode ser considerado relativamente velho, criado a partir da ideia de Desenvolvimento Sustentável definida por Ignacy Sachs, na década de 1980. Segundo o citado autor, o desenvolvimento sustentável é aquele que garante o crescimento econômico, a equiparação social e o equilíbrio ambiental. Isto é, a sustentabilidade é aquela característica que mantêm equalizados três aspectos fundamentais o meio ambiente, a sociedade e a economia. De acordo com o próprio Sachs, referendado por vários outros autores, não é possível pensar em outra forma de desenvolvimento, porque essa é a única maneira de garantir a manutenção da qualidade de vida do planeta. Bem, essa é a fala dos homens da Ciência.

Por outro lado, fica muito difícil falar sobre qualquer assunto quando a população não o conhece e consequentemente não está devidamente preparada para entendê-lo, aceitá-lo e assim, de alguma maneira, tentar colocá-lo em prática. Está é exatamente a situação em que se encontra a tão badalada, porém muito pouco entendida, sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está na moda aqui no Brasil e no mundo, mas ao que parece é só isso, porque as coisas, pelo menos aqui no nosso país, continuam acontecendo da mesma maneira, sem nenhuma preocupação efetiva com as idéias estabelecidas pelo conceito de sustentabilidade. Quer dizer emprega-se um termo, mas não se pratica, nem de longe, os conceitos abrangidos por esse mesmo termo.

A palavra sustentabilidade agora está inserida no contexto de tal forma que virou linguagem comum, ou melhor, linguagem viciada, de tanto que se repete. Isso deveria ser um bom negócio, mas infelizmente essa não é a verdade. O conceito de sustentabilidade não está sendo, de maneira absolutamente nenhuma, assumido pela sociedade de forma clara e abrangente como deveria, pois as premissas em que se usa o termo não são nada sustentáveis. Ao invés de se popularizar um conceito, na realidade apenas se vulgarizou mais uma palavra, a qual se relacionou erroneamente com a o crescimento econômico. Infelizmente, a sustentabilidade que é extremamente necessária ao planeta e ao ser humano, virou lugar comum, mera citação, que não demonstra absolutamente nada a ninguém, daquilo que pretendia como filosofia, pois suas vertentes ambientais e sociais são mascaradas pela ideia econômica imperante.

Em suma fala-se em sustentabilidade por simples modismo e isso lamentavelmente é bem pior do que se não se falasse nada sobre o assunto, porque assim não se poderia iludir tanto as pessoas e as organizações como até aqui se tem feito. Pior do que o não entendimento de um conceito é o seu entendimento errôneo. No que diz respeito à sustentabilidade, é exatamente isso que está acontecendo, pois se continua colocando o econômico antes de tudo, o que não se traduz como sustentabilidade. Atualmente quase todo projeto a ser desenvolvido traz a citação da palavra sustentabilidade no seu escopo. Entretanto, a maioria desses projetos não exerce nenhuma ação metodológica que sustente a aplicabilidade efetiva da sustentabilidade em si, a preocupação continua sendo única e estritamente econômica, as outras duas componentes do conceito continuam sendo deixadas de lado ou, quando muito, estão relegadas ao segundo plano.

Quer dizer a humanidade, mesmo sem saber, tem mais um grande problema para resolver, ou seja, entender efetiva e corretamente o que é a sustentabilidade. Porém, os “poderosos” estão trabalhando direitinho para manter esse “status quo” de desconhecimento coletivo, pois isso lhes garante a manutenção do poder. A maioria dos “poderosos” ainda não entende que todo e qualquer poder é provisório e transitório e que as coisas sempre mudam, embora algumas vezes demorem um pouco. Entretanto, no que diz respeito à sustentabilidade a demora das mudanças pode ser tão significativas que talvez levem a inviabilidade total da vida no planeta. Quer dizer, enquanto os “poderosos” mantêm o poder, os recursos naturais vão se extinguindo e a vida no planeta vai ficando cada vez mais ameaçada, mas eles não percebem ou não querem perceber.

Isso posto, fica claro que vivemos um problema real, pois a sustentabilidade é algo vital ao planeta e à humanidade. Porém, a partir disso, fica aqui uma primeira questão: o que deve ser feito para promover as mudanças necessárias que promovam a sustentabilidade e para suplantar os interesses dos “poderosos”?

Certamente aqui, como em quase tudo na vida humana, mais uma vez, entra a necessidade da Educação das pessoas para que a sustentabilidade tenha a sua devida importância estabelecida e o seu entendimento clarificado. Nesse momento surge uma segunda questão: como fazer para demonstrar essa importância, definir o conceito de sustentabilidade corretamente e popularizar esse conceito dentro das escolas para depois estendê-lo às populações? Para responder essa duas questões iniciais é relativamente fácil, como está apresentado a seguir.

Primeiramente é preciso formar professores capazes de entender e transmitir as idéias conceituais da sustentabilidade a partir do tripé em que ele está embasado: ambiental, social e econômico, sempre nesta ordem prioritária, que infelizmente há muitos que insistem em modificar, mesmo dentro dos que defendem a sustentabilidade. Depois devem ser criados mecanismos para contextualizar situações reais em que o conceito de sustentabilidade possa ser empregado amplamente, dando exemplos claros de sua aplicabilidade nas diferentes situações que envolvem o cotidiano das populações nas diferentes regiões. Posteriormente, deve-se promover a popularização dessas idéias a fim de que haja efetiva absorção das mesmas pelas diferentes comunidades.

Quer dizer não dá para falar em sustentabilidade sem que haja uma preparação específica para esse fim. Tem que haver uma educação para sustentabilidade, na qual seja possível distinguir toda abrangência e importância do termo. Mas, é nesse momento, que surgem duas novas questões, as quais são mais complicadas e consequentemente difíceis de serem respondidas. As escolas brasileiras estão preparadas para cumprir mais essa missão relacionada à sustentabilidade? Existem professores devidamente habilitados na questão para atuar como orientadores e multiplicadores do conceito?

Sinto dizer, mas me perece que estamos numa situação nada sustentável em relação ao problema da sustentabilidade, porque não podemos responder positivamente a nenhuma das duas últimas questões propostas. Estamos caminhando para o caos, continuamos explorando os recursos naturais de maneira indevida e degradando os ambientes, desintegrando grupos sociais locais e perdendo recursos econômicos por conta de nossa incapacidade de pensar de maneira verdadeira sustentável e não temos estrutura e nem gente capacitada para trabalhar na mudança desse quadro lamentável.

Como sempre a solução para todos os problemas é apenas e tão somente uma questão de estabelecimento de políticas públicas que priorizem aquilo que se pretende fazer, no caso em questão, a sustentabilidade. Nesse sentido, a boa notícia é que temos uma eleição aí na frente, na qual vamos escolher os novos dirigentes políticos e administrativos do país e dos estados brasileiros. Temos que pensar bem e escolher as melhores propostas, aquelas que envolvam as ideias de sustentabilidade. Mas, é fundamental que essas ideias integrem a educação dentro do contexto, porque da mesma forma que não existe mágica na natureza, também não existe mágica no comportamento humano. Assim, só é possível realizar direito aquilo que se aprende direito e a educação é a única base que pode garantir que os ensinamentos sobre a questão sejam ministrados de maneira eficiente.

As escolas são os agentes sociais efetivos para educar as populações também nesse sentido. Desta maneira, as idéias de sustentabilidade têm que passar a integrar diretamente os currículos escolares em todos os níveis e as escolas devem estar prontas para atuar nessa nova necessidade o mais rápido possível. O tempo urge e não podemos nos dar ao luxo de continuar imaginando que Deus vai dar um jeito naquilo que é atributo exclusivo e obrigatório da ação humana. Nesse contexto, a nossa responsabilidade tem que ser posta à prova e devemos ser capazes de resolver os problemas que são cruciais para a continuidade de nossa existência planetária.

Por fim, quero deixar claro que, com relação à sustentabilidade em si, aqui também, como acontece em outras áreas, o improviso e o empirismo têm se mostrado como maus exemplos. Sendo assim, insisto em que há necessidade de formar e habilitar pessoas nessa questão dentro das escolas. Por outro lado, para que se consiga atingir esse intento, é preciso que dentro dos postos de governança sejam colocados administradores preocupados e imbuídos em melhorar a qualidade de vida das pessoas social e economicamente. Porém, esses administradores, para atuarem efetivamente nesse sentido, têm que ser cônscios das responsabilidades com a manutenção ambiental do planeta e com o uso devido dos recursos naturais, porque é somente a partir dessa base ecologicamente correta que se garantirá a sustentabilidade do planeta e a continuidade da humanidade.

O planeta sustentável que todos queremos e merecemos passa pela nossa educação e esta, por sua vez, passa por nossas escolhas políticas. Está na hora de pararmos de “brincar de fazer de contas” sobre a sustentabilidade e assumirmos uma postura objetiva que possa propiciar um desenvolvimento sustentável dos diferentes grupos sociais nas diferentes regiões de nosso país. O compromisso com o Meio Ambiente e com os problemas ambientais têm que ser a preocupação primária de qualquer administrador público e a educação deve ser o esteio que dará a devida condição para o entendimento e o envolvimento das pessoas na resolução desse, que é certamente um dos maiores problemas de nosso país e do mundo na atualidade.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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