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30 jun 2024
O RACISMO PROGRAMADO PELOS MAUS POLÍTICOS E A MÍDIA

RACISMO: UMA PROGRAMAÇÃO DOS MAUS POLÍTICOS E DA MÍDIA

Resumo: O artigo trata sobre a questão do preconceito racial no Brasil e sugere que os principais culpados pela perpetuação da questão no país, sejam a mídia e os maus políticos, que parecem fazer uso indevido do problema apenas para se aproveitar e assim querem manter o assunto em alta, ao invés de trabalhar par sua extinção.


Certamente, aqui no Brasil e no mundo, sempre existiu e em muitos lugares ainda existe, alguma forma, mesmo que quase totalmente velada, de preconceito racial incutida na Sociedade. Ainda assim, apesar de alguns pequenos problemas gerados e localizados, nós brasileiros, vivíamos muito bem, mesmo considerando as posturas exageradas ocasionais de alguns indivíduos mais radicais, haja vista que estas situações sempre foram muito raras, ao menos por aqui. Posso até estar errado, mas não me recordo de grandes problemas ocorridos por contas de questões estritamente raciais no Brasil, até as últimas três décadas, quando as coisas começaram, efetivamente, a se acirrar de maneira mais significativa.

Eu, até, me arisco e assumo a ousadia de afirmar que, se tivéssemos continuado daquela mesma maneira como anteriormente tratávamos o assunto, acredito que, progressivamente, estaríamos, cada vez mais distantes dos problemas relacionados ao racismo. Penso mesmo, que se não fossem tomadas algumas ações nefastas, oriundas da ação nefasta da mídia e de certas decisões absurdas criadas por algumas leis maliciosas, motivadas e carregadas de interesses estritamente políticos, que só serviram para incentivar e aquecer mais a ira das pessoas mais radicais, talvez, a situação pudesse estar bem melhor na atualidade.

Entretanto, ao que parece, os ânimos têm se acirrado sempre mais, pois a exploração midiática indevida sobre o assunto, ampliada por toda politicagem referente ao tema, só complicaram mais as questões e agravaram a situação. Aliás, a mídia nesse país, efetivamente só atrapalha, porque ela não consegue ser verdadeira e muito menos ter uma postura apolítica. E na questão específica do racismo, a mídia faz questão de “jogar gasolina no incêndio” e, desta maneira, sempre agrava mais os problemas que, eventualmente, possam existir.

Se voltarmos à época do “descobrimento” do Brasil (1500) e aos tempos iniciais da colônia, veremos que no início aqui existia uma única raça, que já habitava o país, os “indígenas”, que se compunham e se diversificavam em várias tribos de índios espalhadas pelo território brasileiro daquele tempo, mas todas essas tribos eram de nações indígenas aparentadas e de uma raça comum. Então, de repente, chegaram os portugueses (brancos europeus), que invadiram o território e, desde então, se assumiram como donos dele. Não quero e não vou aqui discutir juízo de valor, mas foi exatamente isso que aconteceu.

Infelizmente, os nativos indígenas, em sua imensa maioria, sempre foram submissos às ações dos portugueses e, deste modo, se submeteram aos “brancos” de maneira fácil e passiva. Assim, a partir daquele momento, passaram a existir duas raças: os “brancos” que se entendiam “superiores, detentores de cultura e desenvolvidos” e os “indígenas” que eram entendidos pelos brancos como “inferiores, sem cultura e selvagens”. Pois então, como tristemente, os “indígenas” não discordavam do pensamento dos portugueses, e praticamente nada fizeram para reagir a essa condição, os “brancos”, ainda que em menor número, facilmente tomaram conta do país.

Algum tempo depois, entre 1550 e 1560, começaram a chegar outro grupo racial, os “negros”, que eram oriundos de várias regiões da África e que eram caçados e capturados nos seus lugares de origem, sendo trazidos à força, contra suas respectivas vontades para serem escravizados em nosso país e em várias colônias europeias espalhadas pelo mundo afora. Por óbvio, esse grupo racial foi muito maltratado e prejudicado por mais de 300 anos aqui no Brasil.

Todavia, ao contrário dos indígenas, que são os verdadeiros donos da terra, porque foram os primeiros humanos a chegarem nela, mas que foram submissos, como já foi dito, os “negros” nunca aceitaram à condição de escravos que lhes foi imposta e sempre lutaram para ter sua liberdade. Muitos fugiam de seus “donos” e se agrupavam em locais de fortaleza dos negros revoltos, os quilombos. Há registro de que cerce de 6.000 (seis mil) desse quilombos tenham existido no país e obviamente essas verdadeiras “cidades negras”, se constituem no principal marco da resistência contra a escravidão.

Assim, historicamente, os três grupos raciais originários da população brasileira, de alguma maneira, sempre tiveram seus entreveros e suas diferenças, mas, mesmo assim, a miscigenação também sempre aconteceu, muitas vezes por situações impostas e outras vezes por questões afetivas e naturais. Cabe ainda lembrar que a história também registra três grupos europeus que estão por aqui desde a época da colônia, os espanhóis, que acompanhavam os portugueses; os ingleses que vieram ainda em 1530 para garantir o comércio e começar a explorar a navegação, além dos franceses e holandeses, que várias vezes tentaram se instalar produzindo colônias por aqui.

O resultado dessa miscigenação, os mulatos, os cafuzos, os mamelucos e toda uma plêiade de mestiços descendentes somos nós, a população brasileira de hoje. Ou seja, hoje, a maioria da população brasileira está certamente composta de mestiços. Quer dizer, dificilmente ainda existam indígenas, brancos ou negros puros no Brasil. Sendo assim, a imensa maioria da população brasileira, depois de 524 anos do “descobrimento”, constitui-se numa população mestiça. Embora já houvesse alguns imigrantes no país, a imigração se acentuou, próximo ao fim do império, com a vinda de grupos de novos europeus e asiáticos que aqui se fixaram nos últimos 60 a 150 anos.

Da Europa vieram, principalmente, novos espanhóis, a partir de 1880, principalmente no Rio de Janeiro; os italianos, no Espírito Santo, em São Paulo e no Rio Grande do Sul; os alemães em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e, por fim, os poloneses também no Sul, principalmente no Paraná. Da Ásia chegaram os japoneses (1912), os chineses (1950), embora já existissem um pequeno grupo de chineses desde o Brasil colônia, trazidos por Dom João VI, para o Rio de Janeiro, esse grupo quase sempre se manteve isolado e mais recentemente chegaram os coreanos (1963). Da Ásia também vieram Judeus, a maioria oriunda da Rússia (1872 e muitos árabes, principalmente Libaneses (1880) e Sírios (1884).

Mas, mesmo os membros desses últimos grupos já miscigenaram bastante com os indivíduos que já existiam. Ou seja, as raças de humanos que compõem o Brasil, se mestiçaram ainda mais. Assim, posso afirmar que, como essa situação não mudou e a miscigenação continua acontecendo, a população brasileira pode ser considerada uma das mais mestiça de todos os países da Terra. Somos um país de “vira-latas” ou como dizem os veterinários, em relação aos animais domésticos, somos um país SRD (Sem Raça Definida).

Pois então, Darcy Ribeiro em sua obra clássica (“O Povo Brasileiro” – 1995) defendeu que a miscigenação é o fator preponderante da diversidade que caracteriza o Brasil. Por isso, não é à toa, que as Batalhas dos Guararapes descreve o nascimento do povo brasileiro a partir das duas Batalhas de Guararapes (18 e 19/04/1648 e 19/02/1649) como o momento da criação da identidade nacional. Foi exatamente nas I e na II Batalhas dos Guararapes, em Recife, que as raças brasileiras existentes naquela época, se uniram como uma só, para combater o invasor holandês.

O patriotismo se faz presente entre brancos, mazombos, negros, índios, mulatos, mamelucos, cafuzos, caboclos e todos os tipos possíveis de mestiços entre esses, que agiram coletivamente para defender o Brasil do interesse e do domínio estrangeiro. Portanto, não faz mais sentido falar de racismo no Brasil, porque desde então as coisas começaram a caminhar mais significativamente na direção de um povo único, independente da origem e da conformação social.

 A partir das Batalhas dos Guararapes surge o “vira-lata” brasileiro e assim termina o racismo formal e efetivo, embora, infelizmente a escravatura tenha continuado, oficialmente por mais 240 anos. Aliás, cabe salientar que, a escravatura continua existindo extraoficialmente até hoje, mas sua manutenção está muito mais relacionada com interesses políticos e econômicos do que com questões raciais.

Pois então, maioria dos índios e negros segue sendo explorada e tratada como escravos por alguns brancos e, tristemente, o que é muito pior, por alguns negros e índios também. Ou seja, o problema nunca foi e continua não sendo racial. Entretanto, como isso também nunca foi uma regra absoluta a tendência natural era que progressivamente a questão fosse minimizada e caminhasse para a extinção, haja vista que ela é notoriamente contra as regras morais que a sociedade espera.

Vejam, por exemplo, os movimentos contra a libertação dos escravos, embora tenham demorado muito a culminar, foram sempre crescentes, mais abrangentes e partir deles vieram alguns leis que gradativamente levaram até a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888 e a consequente extinção legal da escravatura no país. Coincidência ou não, no ano seguinte, em 15 de novembro de 1889, veio a Proclamação da República e o país teve que tomar novos rumos, porque até então só os brancos e uns pouquíssimos negros alforriados tinham direito ao trabalho assalariado e às posses.

Pois então, nos últimos 136 anos (1888 a 2024) o que se tem visto é que o crescimento natural do direito das minorias, embora vagarosamente, isso tem acontecido. O triste é que o país, quase já não tem mais índios, contudo, ainda tem muitos brancos, negros e, como já foi dito, uma imensa maioria mestiça e que, por isso mesmo, apesar de todas as dificuldades, as diferenças raciais, por óbvio, têm progressivamente diminuído e consequentemente as condições sociais do povo brasileiro têm se ampliado.

Só não ver quem não quer, mas hoje o Brasil é um país que está cada vez mais moderno e segue caminhando para ocupar o seu lugar de destaque no cenário mundial, o que ainda não aconteceu por conta da plêiade histórica de políticos corruptos e ladrões, além dos péssimos administradores públicos. De qualquer maneira, apesar desse peso, estamos caminhando para frente e acredito que seja só mais uma questão de tempo para que isso também se normalize e assim, certamente, chegaremos lá no topo.

Enfim, como eu já disse, o nosso problema já deixou de ser racial, faz quase 380 anos, se considerarmos as Batalhas de Guararapes ou 150 anos se considerarmos as últimas grandes imigrações. Está mais que claro, que não podemos mais ficar explorando e incutindo essa questão infeliz, desse racismo forçado no povo brasileiro, pois temos certeza de que a imensa maioria do povo brasileiro não é, não pode e principalmente, nunca quis ser racista. Ao contrário, o povo brasileiro sempre demonstrou que é avesso ao racismo, até porque tem consciência de que é um povo que só se fez por conta da mistura de várias raças e de vários povos.

Temos que deixar essas coisas de racismo de lado de uma vem por todas e assumirmos a nossa condição verdadeira de “vira-latas” ou pensar no “país moreno”, como dizia Darcy Ribeiro. Para tanto, temos que acabar com essa corja de políticos safados e apenas de atuar para o cumprimento das leis que já existem, lembrando que “a Lei é para todos e que todos são iguais perante a Lei”, independentemente de raça, cor, nacionalidade, gênero, opção sexual, religião ou condição socioeconômica. Igualdade social só existe quando existe cumprimento integral da legislação. Continuar dizendo que a falta de justiça social no Brasil seja uma questão de raça ou de violência contra as minorias é uma falácia dos vigaristas.

Por conta disso, ao invés de falar, temos sim que arregaçar as mangas e fazer, pois, justiça social é uma questão de ação política no interesse maior da população e não no interesse pessoal de alguns privilegiados, que aliás, hoje existem em todas as raças, sem nenhuma exceção. Isso é que necessita urgentemente acabar. O que precisamos é abrasileirar o Brasil, ao invés de ficarmos imitando os outros países como “vaquinhas de presépio”. Temos que acabar com esse “disse me disse” que só mantém a conjuntura e alimenta a mídia indecente e os políticos safados, cujos únicos objetivos são enriquecer, tirando dinheiro do país, e manter a pendenga entre as pessoas, enquanto roubam a nação.

Senhores leitores, pensem, reflitam bem e, por favor, atuem, porque só assim teremos um país mais justo e melhor sob todos os aspectos. O racismo só não acabou ainda definitivamente no Brasil, porque existem alguns malfeitores poderosos que se beneficiam diretamente dele e por isso mesmo insistem em se aproveitar maliciosamente das situações e até mesmo trabalhando na criação de condições inverídicas e fictícias para garantir o seu intento.  

Por outro lado, os senhores podem ter certeza de que, entre as pessoas comuns, normalmente, não existe mais quase nenhum racismo. Muito menos, racismo escandaloso ou violento, que há muito tempo já se extinguiu no país. Todavia, se ainda existir alguma forma de racismo, estejam certos de que ele está caminhando para extinção. Essa questão de racismo é complicada e como diz o ditado, “quanto mais mexe, mais fede” e esse mau cheiro, que é produzido por gente fedorenta e ruim, certamente não interessa ao país e o povo brasileiro já sabe disso.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (68) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.