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04 jul 2015

Os Vírus: umas entidades diferentes

Resumo: Desta feita estou trazendo uma questão que, embora não precisasse, ainda é um problema para professores e alunos de Biologia, em função das diferentes opiniões existentes sobre a questão e das poucas ações efetivas que se preocupem de fato em solucionar essa questão. Estou me referindo ao conceito de Vírus e sua importância à luz da Ciência, questão que precisa ser tratada e resolvida para evitar dúvidas no tratamento dessas entidades pelos alunos e futuros professores.


Os Vírus: umas entidades diferentes

Ao longo da história das Ciências Biológicas, os diferentes microrganismos, ou melhor, os “micróbios”, como se dizia antigamente, receberam diferentes conceitos e definições, tendo sido considerados de inúmeras maneiras. Em tempos mais recentes, a ciência pode compreender um pouco mais sobre essas “criaturas” e assim também passou a ser capaz de explicar melhor o que são, quem são e como são elas. Entretanto, ainda hoje existe uma grande incógnita, que tem dificultado muito o entendimento, principalmente dos jovens estudantes, que não conseguem compreender porque alguns de seus professores e dos livros didáticos que eles se utilizam, tratam os vírus como organismos vivos e outros não. Enfim, qual o problema existente com os Vírus que manifesta essa dificuldade de conceituação sobre sua condição natural?

Muitos dos livros didáticos de Biologia de nível superior e mesmo livros para o ensino médio, existentes no mercado, procuram esclarecer essa questão, mas sem aprofundar a questão. Outros livros não falam nada e se esquecem que os alunos passam por diferentes professores, os quais têm diferentes formações e opiniões sobre essa e outras questões dúbias da Biologia. Os professores, por sua vez, naturalmente acabam manifestando informações conceituais diferentes sobre o grupo dos Vírus.

Desta forma a complicação só tem aumentado, porque alguns professores também não explicam e nem discutem a questão, com medo de cometer erros e assim se comprometerem ou ampliarem o grau da complicação. Outros, por sua vez, até falam no assunto, mas acabam dificultando mais o problema e os alunos ficam sem saber em quem ou em que acreditar. Quer dizer, os alunos ficam perdidos sem saber o que de fato está certo. Em suma, a confusão efetivamente existe e precisa tentar ser esclarecida.

Bem, eu pretendo aqui, trabalhar para explicar a questão, porém vou ter que causar um pouco mais de complicação no início, para finalmente tentar fazer um esclarecimento final sobre esse assunto, demonstrando que, independentemente da condição que se queira atribuir, ou seja: se os Vírus são organismos vivos ou não? O que efetivamente importa é entender que os Vírus estão aí e que eles não só existem, como muitos deles acabam causando problemas sérios nas coisas vivas existentes no planeta, inclusive e principalmente em nós, os seres humanos. O que precisa estar claro é que os problemas que os Vírus são capazes de causar independem da condição deles serem vivos ou não.

Para começar, vamos ter que ir lá na base histórica da Biologia como ciência natural. Por definição, desde a década de 1830, quando Matthias Schieiden e Theodor Schwann, depois de muito analisarem os organismos vivos, de alguma maneira, se convenceram que todas as plantas (Schieiden) e todos os animais (Schwann) são compostos de estruturas menores, que Robert Hooke, cerca de 180 anos antes (1665), já havia observado e denominado de células e assim, a partir de Schwann surgiu a primeira premissa da Teoria Celular: “todos os seres vivos são formados por células”.

Por outro lado, essas células também têm que estar vivas e ser capazes de realizar todos os mecanismos (funções) que viabilizem as diferentes atividades vitais dos organismos. Assim, como segunda premissa, a célula passou a ser considerada como “a unidade fundamental dos organismos vivos”, podendo cada organismo ser formado por um número qualquer dessas entidades, mas cada uma delas deveria representar no micro nível, aquilo que o organismo deveria ser no macro nível. Desta maneira, é fundamental que as células sejam capazes de manter as atividades vitais para que os organismos que as possuem também possam continuar vivos.

Alguns anos depois, Rudolph Virchow (1855) defendeu um dos principais axiomas da Biologia: “Omnis cellula ex cellula” (toda célula provém de outra célula). Por fim, Walter Fleming (1878), que estudou e denominou o processo de Mitose, também ampliou o conceito de Virchow e estabelecendo a terceira premissa da Teoria Celular: “uma célula só pode se originar de outra célula pré-existente”.

Obviamente depois vieram outras descobertas que comprovaram, reforçaram a Teoria e estabeleceram uma quarta premissa: “toda célula passa hereditariamente parte de sua condição à célula descendente”. A Teoria Celular e seus quatro fundamentos passaram a ser assim a base teórica do entendimento biológico do que possa ser considerado como um organismo vivo. Isto é, por definição, só pode ser considerado como organismo vivo, aquela entidade que se enquadrar precisamente na Teoria Celular.

Assim, a Teoria Celular se mantém desde então, baseada nas quatro premissas abaixo:

1 – Todos os organismos vivos são formados de uma ou mais células;

2 – Todas as células desenvolvem atividades metabólicas que as mantém vivas;

3 – Todas células se originam de outra célula, através de reprodução.

4 – As células passam material hereditário para as células filhas.

Os Vírus, por sua vez, são entidades que foram relativamente conhecidas por volta de 1880, mas somente depois de 1935, com o advento da Microscopia Eletrônica é que puderam ser observadas e permitiram uma apresentação mais clara de suas características básicas, as quais, em certo sentido, são totalmente distintas daquilo que está consagrado pela Teoria Celular, isto é, para os organismos vivos. Para começar, os Vírus, não são formados de células e não possuem nenhuma atividade metabólica e assim diferem diametralmente dos organismos vivos.

Quer dizer, os Vírus não funcionam como organismos vivos, pois além de não serem constituídos por células, também não apresentam nenhuma das funções vitais. Os Vírus não comem, não respiram, não têm circulação interna, não eliminam excretas e também não são capazes de se reproduzirem. Embora possuam ácidos nucleicos nas suas composições químicas, da mesma maneira que todos os organismos vivos, os Vírus são entidades inativas e estão mais para a condição de minerais do que para organismos vivos.

Na verdade os Vírus são um tipo de química que em condições ideais específicas reagem com a química da célula viva em que possam se encontrar e essa reação faz com que ocorra duplicação (replicação) do material viral. Ao contrário do que muitos autores dizem, mesmo indiretamente, os vírus não capazes de se reproduzir, eles são reproduzidos pelas células que os abrigam. Portanto, os vírus são totalmente dependentes da célula hospedeira que os contêm para se multiplicarem. Fora de células vivas, os Vírus são totalmente inertes.

Alguns autores dizem que os Vírus são “parasitas” obrigatórios de células vivas. Coloquei a palavra parasitas entre aspas, porque entendo que ao assumir a condição de parasita para os Vírus, equivale a determinar a condição de organismo vivo para os Vírus e eu quero aqui fazer exatamente o contrário, porque entendo que considerar um Vírus como organismo vivo é negar a Teoria Celular.  Assim, eu prefiro dizer que os vírus são “entidades químicas especiais” que ao se estabelecerem no interior de células vivas causam alterações químicas no comportamento dessas células, fazendo com que elas passem a replicar o material genético do próprio Vírus.

Não posso afirmar taxativamente que a Teoria Celular esteja efetiva e totalmente correta e que não venha existir alguma questão quanto a sua abrangência no futuro, haja vista que a Biologia sempre reserva surpresas, entretanto acredito nela como eixo de sustentação da Biologia como ciência dos organismos vivos e vejo que a grande maioria dos estudiosos da Biologia também pensam dessa maneira. Assim, devo concluir que os Vírus são “entidades químicas especiais”, como já disse, e que efetivamente não são e nem podem ser considerados como organismos vivos, porque fogem ao que está estabelecido pela Teoria Celular, que é definitiva para os organismos vivos.

Se existe consenso entre os Biólogos quanto à fundamentação da Teoria Celular, como parece claramente existir, então tem que haver consenso também quanto à conceituação dos Vírus. Caso contrário, seria melhor desconsiderar de vez a Teoria Celular, o que eu particularmente penso que seria um erro grave, pelo fato dessa teoria ter se mostrado verdadeira para os organismos vivos. Além disso, sua desconsideração também seria um desrespeito com a própria história da Biologia e dos seus agentes (cientistas) ao longo do tempo.

Os Vírus existem e isso é um fato indiscutível e trata-los como entidades especiais não os tornará menos importantes ou menos significativos, ao contrário, penso que até os tornará mais destacados, como entidades distintas de tudo aquilo que se conhece no planeta. Entretanto, trata-los como organismos vivos é cometer um erro com uma teoria histórica da Biologia, cuja definição é clara e que está embasada em critérios estritamente biológicos, os quais certamente não são verdadeiros para os Vírus.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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