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08 nov 2023
VALE DO PARAÍBA: SUSTENTABILIDADE É A ÚNICA SOLUÇÃO

VALE DO PARAÍBA: SUSTENTABILIDADE É A ÚNICA SOLUÇÃO

Resumo: Neste artigo, que na verdade, é a fala que fiz no XXXIII Simpósio de História do Instituto de Estudos Valeparaibanos (agosto de 2023), apresento minha opinião do que entendo ser necessário para o Desenvolvimento Sustentável da região do Vale do Paraíba Paulista. Faço um apanhado histórico geral do passado, do presente e apresento as possibilidades e os mecanismos para o futuro de nossa região;


Meus amigos, neste momento, passamos por uma situação bastante difícil, estamos numa encruzilhada importantíssima visando garantir a nossa permanência planetária e aqui em nossa região, que não é nada diferente do restante do mundo, seguimos persistindo no mesmo erro global de outros “seres humanos”. Isto é, ainda insistimos em não querer respeitar o Meio Ambiente e minimizar os problemas ambientais. Tivemos, ao longo dos últimos 400 anos da história recente do nosso Vale do Paraíba, três situações distintas que ocorreram, no que diz respeito a ocupação e ao uso efetivo dos recursos naturais da área geográfica da região. Aqui vou chamar essas situações de momentos.

No primeiro momento queríamos encontrar “coisas” para produzir dinheiro e enriquecer as pessoas, com base exclusiva no uso da área e de seus recursos naturais (as “coisas” interessantes que aqui encontrávamos). Ou seja, esse momento se baseava exclusivamente na exploração, na destruição e na degradação do “meio ambiente primitivo”. Por favor, entendam a expressão “meio ambiente primitivo”, como sendo todo o espaço físico, sua fisionomia e obviamente todos os recursos naturais nele disponíveis antes da chegada do “homem branco” à região. Naquele momento nossa preocupação era apenas e tão somente exploratória, extrativista e modificadora da fisionomia do meio ambiente. Queríamos apenas explorar o espaço físico, encontrar e, se possível, capturar as “coisas” interessantes.

Quer dizer, nesse primeiro momento havia uma exploração massiva e excessiva do meio ambiente da região. Assim, tudo que fosse possível deveria ser retirado e ainda tudo que fosse interessante e possível também deveria ser modificado no interesse do homem. Imagino que posso considerar que esse primeiro momento foi o mais longo, durando bastante, cerca de 300 anos, até pelo menos, o fim da segunda guerra mundial (1945). Estou considerando e assumindo isso, porque até então, não existia, formalmente, nenhuma preocupação ambiental no mundo, tão pouco legislação ambiental e por sorte, também não existia tecnologia que permitisse uma exploração mais contundente e efetiva das “coisas”.

O segundo momento, que se manteve, aproximadamente, até os últimos 30 a 40 anos, caracterizou-se por ainda tentar criar condições econômicas para causar melhoras nas cidades e nas pessoas, através da exploração do espaço físico e dos recursos naturais. Entretanto, nesse segundo momento os homens estavam muito preocupados em revitalizar e melhorar a urbanização, além de aumentar a viabilização da industrialização como modelo de progressão da renda, do conforto, da segurança e consequentemente de mecanismos de incremento da sociedade e “embelezamento” dos espaços físicos urbanos, mantendo a exploração rural intensa.

O mote era, principalmente “melhorar” os espaços urbanos e produzir mais satisfação à vida das populações humanas que ocupavam, cada vez mais, esse tipo peculiar de espaço. Desta maneira, as pessoas se dirigiram em grande escala aos centros urbanos, acreditando que assim a vida seria melhor, pois as áreas urbanas eram mais bem cuidadas e “desenvolvidas”. O “progresso” e a urbanização eram os fatores mais importantes. Por conta disso, as condições vida nas cidades certamente deveriam ter muito mais qualidade do que a vida no campo.

Entretanto, o tiro acabou saindo pela culatra e esse modelo, contrariando as expectativas, consumiu mais recursos, ampliou significativamente a produção de resíduos e aumentou gravemente a poluição ambiental, complicando a saúde e, ao contrário do que se esperava, foi significativamente mais degradante da qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente.  Talvez a ideia do modelo não fosse ruim, mas sua prática, aleatória e sem nenhum controle, acabou sendo drástica, porque manteve a exploração e não se preocupou, com questões simples e fundamentais, como, por exemplo, a preservação de reservas florestais naturais e a manutenção da qualidade da água, do ar e do solo.

Agora estamos em pleno terceiro momento, onde já conhecemos bastante sobre as coisas erradas que fizemos errado e onde parece que estamos mais preocupados em manter a qualidade ambiental, porque alguns de nós, já entendemos que isso é fundamental para garantir a qualidade de vida das pessoas. Quer dizer, hoje, muitos de nós, sabemos que qualquer procedimento que possa ser viabilizado economicamente, por mais que aparente ser benéfico à sociedade, precisa ser primeiramente analisado e autorizado ambientalmente. Existe uma legislação ambiental efetiva e principalmente existe o crivo do licenciamento ambiental, que hoje é obrigatório, pelo menos no texto legal, embora haja quem não concorde com isso.

Hoje o meio ambiente, ao menos no papel, é o fator balizador preponderante das ações antrópicas. A sociedade só estará realmente satisfeita se mantiver as condições ambientais que aparentam permitir aquela pretensa satisfação que se quer ter. Assim, os Estudos de Impacto Ambiental prévios passaram a ser atividades fundamentais para a realização de qualquer empreendimento possivelmente impactante. Precisamos nos manter ativamente nesse último momento, mas aparentemente ainda tem gente que duvida que essa seja uma condição necessária e prefere seguir no segundo momento e assim, continua seguindo no caminho errado.

Nesse terceiro momento temos que procurar a efetivação de nossa preocupação com o meio ambiente e com a garantia da qualidade de vida das pessoas. Somente depois disso poderemos pensar na geração de recursos econômicos. Temos que acabar com a exploração massiva de recursos naturais, temos que minimizar a geração de resíduos, além de reciclar ou recuperar tudo aquilo que for possível. Temos que colocar todas as pretensas ações numa balança de custo-benefício para identificar a viabilidade de qualquer empreendimento. Em suma, já sabemos que: ou utilizamos o meio ambiente com coerência e parcimônia ou tudo acaba, inclusive nossa espécie que é a mais dependente de todas.

Nós humanos, poderíamos estar bem melhores e o planeta também, mas, por conta de outros interesses, mesmo neste terceiro momento, ainda estamos vivendo “num mato sem cachorro”, como dizia meu avô. Talvez, estejamos nessa condição, porque os cachorros agora também estão muito mais abundantes nas cidades do que antes e assim, no “mato” está faltando cachorro e certamente outros animais. Por conta dessas e outras questões similares, os nossos conceitos de ambiente Urbano e Rural se misturam cada vez mais para o pretenso bem da Economia, mas para o verdadeiro mal do Meio Ambiente, das pessoas e dos demais organismos vivos que neles habitam.

Contudo, hoje temos tecnologia para resolver tudo ou quase tudo. Quer dizer, hoje podemos fazer melhor, ocupar melhor, usar melhor e viver melhor, porque, se quisermos, a tecnologia pode nos auxiliar bastante. Assim, nossa questão não é mais técnica, agora ela é apenas ética e oportunamente política. Deste modo, temos que estabelecer políticas públicas que garantam o uso devido dos espaços físicos e dos recursos neles existentes e que desta maneira favoreçam amplamente a qualidade de vida.

O problema é que muitos de nós, infelizmente, continuam insistindo em fazer errado, descumprindo a legislação, desprezando o conhecimento adquirido com os erros do passado e com a tecnologia do presente, que certamente poderiam nos ajudar a minimizar bastante e, em muitos casos, até impedir a possibilidade de continuar errando. Nós humanos, somos muito teimosos, somos burros mesmos, principalmente o tipo humano que aqui vou chamar de “Homo politicus”, que insiste, por vários motivos, em manter os procedimentos errôneos e incorretos, que não cabem serem discutidos aqui, mas que são fundamentais na hora das eleições e que, tristemente, nos trouxeram à condição atual. Estes tipos de “seres humanos” querem nos manter nesse “status quo” arcaico, predatório, perverso e porque não dizer suicida.

Precisamos nos preocupar mais objetivamente com a manutenção da sustentabilidade ambiental, porque a população, ainda que cresça menos, não para de crescer e deste modo, as necessidades são sempre maiores. Precisamos sempre de mais espaços, de mais recursos, de mais ações e obviamente de mais dinheiro. Aqui na nossa região, temos uma questão mais delicada e complicada ainda, por conta da necessidade, cada vez maior, das águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e da consequente situação aflitiva na segurança hídrica dessa bacia que, hoje, já abastece diretamente cerca de 30 milhões de pessoas, embora a mídia não fale nada a esse respeito.

Pois então, temos que ter muita parcimônia e uma política regional definida, mas nossos políticos, infelizmente, ainda não têm ou não querem ter essa visão, que é necessária e urgente. Deste modo, cada político ganha os seus votos e muitos acabam se elegendo e fazendo o que querem, sem nenhuma conexão com a necessidade explicita da realidade regional. Temos aqui no Vale do Paraiba, alguns municípios que são verdadeiros “paraísos”, mas também temos alguns quase “infernos”.

Num pequeno pedaço de terra que equivale a apenas cerca de 6% da área geográfica total do Estado de São Paulo, temos 39 municípios e somos a quinta maior região metropolitana do país, com quase 3 milhões da habitantes. Por outro lado, ainda possuímos grande parte da maior reserva florestal natural do estado e não podemos nem pensar em perdê-la, porque nela, certamente, reside a sorte e o futuro da região e das pessoas que aqui ainda vão nascer.

Aqui em nossa região, temos várias Unidades de Conservação Federais, Estaduais e Municipais, além da região ser margeada ao Norte a ao Nordeste por dois grandes Parques Nacionais e pela APA da Mantiqueira a Noroeste. Nas áreas estaduais destacam-se os 5 núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar (Cunha, Picinguaba, Santa Virgínia, Caraguatatuba e São Sebastião), que compõem a parte mais significativa dos remanescentes da Mata Atlântica do país. Além disso, temos vários municípios de destaques que nos dá o título de maior fluxo turístico religioso do país.

Esses aspectos nos garantem um imenso potencial turístico e nos coloca entre as regiões de maiores possibilidades nessa área específica de atuação. Entretanto, aparentemente os nossos administradores públicos ainda não entenderam (ou não querem entender) bem esse aspecto e não se dedicam a investir ativa e efetivamente nessa possibilidade de incrementar o turismo da região.

Se, por um lado, temos grandes possibilidades, por outro, continuamos, na maioria das vezes, votando e escolhendo beneméritos respeitados, aventureiros loucos ou picaretas de plantão, para serem os administradores públicos e isso tem que parar de acontecer. Temos que passar a eleger administradores públicos com boa visão geral da realidade socioambiental regional, porque precisamos pensar mais na região e no futuro das pessoas. As eleições têm que deixar de ser coisas de amigos ou de interesses individuais do momento eleitoral. Nós precisamos estar ligados no tempo futuro e trabalhar para o sempre da região. Mais do que, apenas boas pessoas, nós precisamos de pessoas probas, corretas, capazes, competentes e interessadas em fazer efetivamente o que precisa ser feito pela região.

Infelizmente, esse marasmo político que historicamente acompanha a população brasileira, mormente aqui no Vale do Paraíba, por óbvio, é a principal causa dessa triste situação, que põe alguns de nós nos dois extremos (paraíso e inferno) de desenvolvimento e de qualidade de vida. Contudo, é mais triste ainda, quando se observa que a maioria de nós, cidadãos vale-paraibanos, ainda está no purgatório das incertezas à procura da melhora e certamente poderíamos, e pela nossa história, além de nossos recursos naturais e de nosso cabedal humano, deveríamos estar bem melhores, se o trabalho fosse feito seriamente por todos, dentro da realidade e sobretudo, respeitando os interesses regionais primários.

Meus amigos, as cartas estão postas à mesa e lamentavelmente a maioria de nós ainda está discutindo que jogo vamos jogar. Ou seja, nós estamos fora do tempo e da realidade, pois o jogo já está acontecendo faz muito tempo e nós já estamos perdendo feio, aparentemente sem saber. Agora, nós devemos lutar para minimizar o prejuízo, tentar empatar o jogo e lá na frente, se tudo der certo, quem sabe, ainda poderemos até chegar a uma vitória. Mas, isso já está bastante difícil de acontecer. Entretanto, temos que acreditar, porque a “esperança é a última que morre” e a nossa não vai morrer. Para tanto, precisamos mudar o nosso pensamento e principalmente criar atitudes comportamentais muito diferentes das habituais para que essa vitória possa acontecer.

É sabido de todos, mas não custa repetir mais uma vez, que: “não se muda o resultado, cometendo os mesmos erros”, ou seja, “não se consegue alterar um resultado, utilizando sempre os mesmos métodos”. Assim, há necessidade de mudar. É preciso pensar e agir com base efetiva na sustentabilidade. Mas, que fique claro, sustentabilidade real e não o modismo que andamos vendo e vivendo, onde se vulgarizou e se prostituiu a ideia da sustentabilidade. A palavra sustentabilidade está se desgastando muito rapidamente e a verdadeira ideia por traz da palavra está sendo mascarada ou totalmente omitida para atender outros interesses menos nobres e nada importantes aos interesses planetários e sociais.

 A sustentabilidade inexiste sem o equilíbrio do seu tripé: Meio Ambiente, Sociedade e Economia. Qualquer coisa ou que privilegie a Economia, antes de respeitar o Meio Ambiente e de incluir a Sociedade, não é sustentabilidade e sim prestidigitação. Na verdade, acaba sendo enganação mesmo e que muitas vezes pode acontecer por ignorância, mas que, na maior parte das vezes, tem ocorrido pela ganância ou pela má intenção de quem a produz. De qualquer maneira, é necessário entender que a escolha política que fizermos hoje é que definirá o futuro ambiental regional e, consequentemente, o futuro do homem da região.

Não podemos mudar o passado, mas sempre podemos trabalhar, corrigindo os erros e construir um futuro diferente e melhor. Nós devemos ser os artífices de nosso novo futuro, mas temos que começar a construir esse novo futuro agora, no presente, pois não dá para esperar mais. Nosso compromisso com a gerações vindouras, nos obriga a tomar posições concretas e desenvolver atitudes efetivas desde já. A ocupação do espaço físico, gerando empregos e garantindo a qualidade de vida é possível, mas precisamos parar de brincar e temos que passar a pensar, acreditar e agir seriamente objetivados nessa possibilidade.

O primeiro passo é definir o futuro que queremos, depois escolher políticos capazes, preocupados com o desenvolvimento sustentável da região, com visão efetiva da sustentabilidade e, sobretudo, honestos e cumpridores das leis. Por fim, temos que exigir que as ações definidas sejam estabelecidas e tomadas a contento, respeitando o interesse coletivo regional, sem privilégios de quem quer que seja. Somente dessa maneira poderemos sair do purgatório e assim, começaremos uma caminhada progressiva para o paraíso regional.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (67) é Biólogo (Zoólogo); Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista

06 ago 2023

A OCUPAÇÃO DO VALE DO PARAÍBA E AS PERSPECTIVAS FUTURAS

Resumo: Artigo escrito em 2021 e publicado no início de 2022, onde apresento minhas expectativas para o futuro sustentável da região do Vale do Paraíba e que agora coloco aqui no meu site também para divulgar um pouco mais as ideias nele contidas. Tenho certeza de que o texto interessa bastante a todas as pessoas e entidades existentes na região.


INTRODUÇÃO

Aqui no Brasil a ocupação do espaço físico de uma área deve ser prevista em Lei. Baseado nessa premissa, há necessidade de que sejam discutidas as duas leis federais mais importantes e mais abrangentes sobre essa questão: a Lei Federal 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) e a Lei Federal 12.651/2012 (Novo Código Florestal Brasileiro). Qualquer espaço físico do território nacional está englobado nessas duas leis prioritárias e não tem como ser diferente, haja vista que o Brasil é um estado federativo.

Entretanto, a forma de aplicar e de entender o espaço depende de outros preceitos e de outras leis de abrangências relacionadas às esferas menores do poder, as leis Estaduais e Municipais. Desta maneira, a ocupação do espaço territorial brasileiro é uma característica bastante complexa e que envolve uma série de discussões, de ajustes e de adequações aos diferentes interesses Federal, Estadual e Municipal.

Nas áreas Urbanas e nas áreas Rurais não previamente protegidas, o Estatuto da Cidade determina genericamente como proceder e nas demais áreas demais áreas o Código Florestal e as Constituições Estaduais definem o que se pode e o que não se pode ocupar e fazer. Deste modo, quem indica o uso real e efetivo de grande parte dos municípios acaba sendo a União e o Estado. O Município, que é o verdadeiro responsável pela administração do espaço territorial, pois é, de fato, o único lugar real, onde tudo acontece, não pode e nem deve fazer absolutamente tudo o que quiser com seu território.

É claro que esse cuidado legal não existe apenas e deliberadamente para prejudicar os municípios, mas sim para conter a ordem, evitar casuísmos em consequência das ações dos administradores municipais. Pois então, o município tem que ter poder para tratar o seu espaço territorial da maneira que mais lhe convier, mas sempre observando, obvia e diretamente os preceitos legais estabelecidos pela legislação superior Federal e Estadual, que balizam as possibilidades e os limites das ações, para que não haja extravagâncias e nem abusos.

Além disso, ainda cabe ressaltar que as riquezas minerais do subsolo, pertencem à União e que as águas superficiais ou subterrâneas são administradas pela União nos rios federais e pelo Estado nos rios estaduais e municipais. Quer dizer, o Município não tem nenhum poder legal sobre os minérios e nem sobre a água em seu espaço geográfico. Deste modo, as Constituições Federal e Estaduais, além das respectivas Leis Complementares que normatizam e esclarecem os preceitos nessas duas esferas de poder, necessitam ser respeitadas e adequadas por cada município, dentro de suas perspectivas, suas devidas vocações, seus efetivos interesses e suas verdadeiras possibilidades.

A VERDADEIRA FORÇA DA LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Desta maneira, cada um dos 5568 municípios brasileiros, como entes políticos e administrativos existentes que são, também possuem suas respectivas Constituições Municipais (Leis Orgânicas dos Municípios), que devem manifestar as diretrizes básicas que vão nortear cada município em questão. Aqui, cabe salientar ainda, que existe uma hierarquia entre as leis e que, por isso mesmo, a Legislação Federal suplanta a Legislação Estadual e essa, por sua vez suplanta a Legislação Municipal. Como consequência dessa hierarquia, a Legislação Municipal não pode transgredir o que está previsto nas Legislações Federal e Estadual. Assim, quaisquer Leis Municipais que possam afrontar leis hierarquicamente superiores são inconstitucionais e não podem prosperar, exatamente porque contrariam a hierarquia.

Quer dizer, o município, o território definitivo onde, em última análise, tudo acontece, tem que definir e enquadrar suas normas legais, a partir daquelas previamente estabelecidas pela União e pelo Estado. Em grande parte das áreas rurais, o município basicamente é obrigado a seguir o Código Florestal, haja vista que não existe outra lei de abrangência mais genérica e nas áreas urbanas e nas rurais não protegidas a orientação básica é dada pelo Estatuto da Cidade. Ou seja, toda a Legislação Municipal, a priori, não pode transcender a essas duas Leis Federais maiores. Bem, mas as Leis Orgânicas dos Municípios existem e cabe a elas a obrigação de determinar o que é, para que serve e a que se propõe cada um dos diferentes municípios brasileiros.

Outra questão que precisa ser esclarecida, antes de seguirmos no entendimento da ocupação dos espaços territoriais municipais, diz respeito ao fato de que alguns estados definiram regionalmente, no âmbito de seus respectivos territórios, áreas denominadas de “Regiões Metropolitanas”. O Vale do Paraíba Paulista e o Litoral Norte do Estado de São Paulo, constitui-se numa das seis (6) Regiões Metropolitanas do Estado. A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) é a terceira maior do Estado de São Paulo e foi defina e criada pela Lei Complementar 1.166 de 9 de janeiro de 2012. A mesma Lei ainda determina que a região é dividida em 5 sub-regiões, com os municípios sedes sendo, respectivamente, São José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá, Cruzeiro e Caraguatatuba.

Segundo a Enciclopédia Britannica da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundação vinculada ao Ministério da Educação: “Uma região metropolitana é formada por um conjunto de municípios próximos entre si. Eles são integrados socioeconomicamente a uma cidade central, chamada metrópole. Por estarem tão próximos e interligados, os serviços públicos e de infraestrutura desses municípios devem ser planejados regionalmente. Dessa forma, as necessidades da população podem ser mais bem atendidas”.

 Vejam bem, numa Região Metropolitana deve haver uma preocupação regionalizada no planejamento por definição e isso pode, ainda que ocasionalmente, ser mais um fator de comprometimento à autonomia dos municípios que dela fazem parte. Quer dizer, o município tem que seguir as normas Federais, Estaduais e em certas situações, até mesmo regionais específicas, se fizer parte de uma região metropolitana, como é o caso dos municípios de nossa região. Deste modo, somente após à atenção e anuência de toda Legislação Superior é que os municípios poderão estabelecer suas legislações específicas para o Zoneamento e para o Uso e a Ocupação de seus espaços físicos.

O USO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS NA REGIÃO

Agora que já fizemos os devidos esclarecimentos legais sobre os poderes legais dos municípios, chegou a hora de falarmos efetivamente como é ocupado o nosso espaço regional. Começaremos entendendo que nossa condição política denominada de Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), na verdade não condiz com a verdade geográfica para uma região metropolitana, porque envolve quatro macroáreas geográficas extremamente distintas: O próprio Vale em si, o Litoral Norte, a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. Certamente esse aspecto é mais um complicador aos interesses regionais e municipais, mas não quero e não vou discutir sobre isso agora, até porque a condição de região metropolitana não é meramente geográfica, ao contrário, essa é uma condição acordada e estabelecida por causas e efeitos principalmente políticos.

Nossa região é importantíssima, pois é a ligação terrestre imediata entre os dois maiores centros sociais e econômicos do país, sendo a principal área de maior importância nacional por vários aspectos.  No que tange a produção de água, nossa região, que abriga a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, abastece, além das áreas regionais, também a quase todo Estado do Rio de Janeiro, incluindo a Região Metropolitana do Grande Rio, através da Barragem de Santa Cecília, no município de Barra do Piraí/RJ, e parte das Regiões Metropolitanas da Grande São Paulo e da Grande Campinas, através da ligação dos Rios Jaguari e Atibainha, entre os municípios de Santa Isabel e Nazaré Paulista.

Deste modo a interferência Federal e Estadual é imensa, haja vista que a Legislação sobre Recursos Hídricos é privativa da União e do Estado. No nosso caso três Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Assim, nas áreas rurais, o Código Florestal Brasileiro (Lei Federal 12.651/2012), as Políticas Nacional (Lei Federal 9433/1997) e Estadual (Lei Estadual 7663/1991) de Recursos Hídricos e a Lei Nacional da Política Agrícola (Lei Federal 8.171/1991), basicamente são as leis que definem as normas a serem seguidas em relação ao uso e ocupação dessas áreas.

No que diz respeito às áreas urbanaso Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) estabeleceu uma série de boas novidades que visavam sobretudo, garantir a melhor administração municipal e diminuir o peso pessoal do Chefe do poder executivo nas decisões das ações administrativas, promovendo caraterísticas mais técnicas para muitas dessas ações. Um desses aspectos foi a obrigatoriedade de elaboração de um Plano Diretor Municipal, para todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, que dentre outras coisas, deveria definir o Zoneamento Municipal, estabelecendo criteriosamente as diferentes Zonas de Ocupação do Município para os diferentes fins, através da Lei de Uso e Ocupação do Solo e do Zoneamento Municipal.

Na verdade, a obrigação do Plano Diretor Municipal já estava prevista desde a Constituição Federal (1988), mas só ficou definitivamente confirmada depois da promulgação do Estatuto da Cidade. Mesmo assim, embora já estejamos em 2021 e ainda existem vários municípios que, por inúmeros motivos, até aqui não estabeleceram o seu Plano Diretor. Segundo dados do IBGE (2020) até o ano de 2018, apenas 51,5% dos municípios brasileiros (2866 municípios) possuíam Plano Diretor em vigência efetiva.

Com essa obrigação os chefes dos executivos municipais (Prefeitos) não podem deliberadamente mudar o Zoneamento, porque sempre que o Plano Diretor é aprovado, ele tem um prazo de validade que não pode, a priori, ser alterado. O Plano Diretor, só poderá sofrer alteração, quando se fizer a sua revisão, o que, de acordo com o próprio estatuto da Cidade, deve acontecer a cada 10 anos. Qualquer mudança em prazo inferior, deve ter justificativa expressa e deve ser autorizada por Lei Municipal, especialmente criada e aprovada para esse fim, pela Câmara de Vereadores do Município. Tal mudança deve ser aprovada por maioria qualificada dos Vereadores.

Várias outras características bastante interessantes produzidas e inseridas pelo Estatuto da Cidade na legislação brasileira relacionada a ocupação do espaço e da propriedade privada no país.  O Usucapião que é uma prática antiga nas políticas de bens imóveis no Brasil, mas sempre foi uma prática restrita às áreas rurais, depois do Estatuto da Cidade, também passou a ser considerado para imóveis urbanos. Então, hoje se alguém ocupa pacificamente um imóvel, mesmo urbano, até 250 metros quadrados, por muito tempo (mínimo 5 anos) pode reivindicar à sua propriedade.

Outra novidade é a equiparação do Valor Venal da propriedade com equivalência ao Valor Real definido pelo Mercado Imobiliário. Antes num processo de desapropriação de imóvel por parte do Poder Público, o valor Venal era a referência para a indenização, hoje é o Valor de Mercado. Assim, as Prefeituras não podem mais simplesmente desapropriar e pagar valores irrisórios pelos imóveis desapropriados, hoje elas têm que pagar o valor real desses imóveis, se quiserem efetivamente assumir suas respectivas posses. Além disso, tem que existir uma lei aprovada pela Câmara de Vereadores que esclareça os motivos da desapropriação.

O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) progressivo é outro aspecto interessante que o Estatuto da Cidade trouxe no seu bojo. Se o proprietário de determinado imóvel não paga o IPTU o município pode acrescentar uma alíquota ao valor por conta da inadimplência e não existe nenhuma possibilidade de anistia da dívida que é sempre crescente. Essa ação visa impedir que o imóvel fique inutilizado por muito tempo, visando especulação imobiliária. O proprietário tem que dar uso social ao espaço físico do município e se tem um imóvel, deve cumprir todas as obrigações para com ele, inclusive pagar o IPTU até a data do vencimento.

O Impacto de Vizinhança objetiva avaliar os impactos (ambiental, sonoro ou visual) produzidos na vizinhança por uma determinada obra ou ocupação urbana seja. Sua aplicação análise é complexa, porque precisa ser realizada pela prefeitura um EIV (Estudo do Impacto de Vizinhança), que relaciona as características do empreendimento, como sua área de influência, os possíveis impactos e medidas para evitar a sua continuidade ou até sua inexistência total. Esse é um instrumento novo, mas que tem se mostrado bastante eficiente para evitar disparates ocupacionais em determinadas áreas.

Bem, é óbvio que o Estatuto da cidade não resolveu e nenhuma legislação resolverá todos os problemas da ocupação dos espaços territoriais das cidades, mas certamente essa é uma lei importante, que tratada com o devido rigor e observância, poderá garantir uma melhora verdadeira para os municípios, desde que haja seriedade administrativa e efetivo interesse na melhoria. Algumas cidades da região, cujos administradores têm visão moderna, já se embasaram mais seriamente no estatuto da Cidade e por isso mesmo têm conseguido destaque. O problema é que nós ainda temos muitos políticos velhos e que insistem em administrar sem a preocupação com o todo.  

FATORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL REGIONAL

Quando se pensa em desenvolvimento estritamente econômico, na verdade está se querendo relacionar apenas o potencial de produção monetária da região e vários são os fatores que historicamente sempre contribuíram para isso. Fatores relacionados à existência às riquezas minerais, à produção agrícola e à industrialização costumavam ser considerados os mais importantes, porque eram a extremidade indicadora e geradora do trabalho e da geração de renda. Entretanto, qualquer análise atual leva em conta outros fatores, aparentemente menos significativos porque não se relacionam diretamente à geração de riqueza monetária, mas que hoje assumem grande parte do bolo econômico, como Educação, Ciência, Tecnologia, Saúde, Segurança, Cultura, Turismo, Transporte, Esporte, Lazer.

Esse outro lado, que envolve a prestação de serviços à sociedade, hoje têm grande significado no desenvolvimento econômico de qualquer região e o Vale do Paraíba não é diferente. Mas, não é só isso. Esse outro lado também é significativo gerador de renda e dinheiro para a região. Até porque, hoje é indispensável associar o desenvolvimento econômico à qualidade de vida e à sustentabilidade. Se não houver correspondência entre esses aspectos é porque algo está muito errado e não está havendo desenvolvimento sustentável.

Aliás, é bom que se diga, que atualmente não se admite mais pensar em desenvolvimento estritamente econômico. O desenvolvimento econômico tem que ser consequência da sustentabilidade e não dá mais para pensar estritamente em economia. A sustentabilidade exige responsabilidade ambiental, social para que possa haver crescimento econômico. Aliás, alguns autores defendem até que deveríamos estar pensando muito mais, num modelo de decrescimento econômico, para tentar garantir cada vez mais a viabilidade ambiental e social. Mas, não vou discutir sobre essa aspecto aqui e para os interessados sugiro a leitura dos trabalhos de Serge Latouche.

Nossa região, assim como o Brasil, historicamente tem fundamento básico na geração de riqueza a partir da exploração dos recursos naturais. No Brasil, começamos com o pau brasil e com o ouro, mas quantas outras coisas existem que nós simplesmente retiramos e exaurimos de nosso território.  Aqui no Vale do Paraíba, as coisas também começam com o ouro, não daqui, mas das Minas Gerais. Para chegar às Minas Gerais, havia necessidade de atravessar a Serra da Mantiqueira e o Vale do Paraíba era o caminho natural para os que vinham do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Entretanto, se não destruímos a região por conta da mineração, desmatamos a mata natural e exaurimos o solo muito por conta de nossas rotas de passagens, povoados de paragens e principalmente pelo plantio intensivo do café.

 Infelizmente, fazemos coisas erradas em nossa região, desde épocas remotas até hoje. Não vamos mais à busca do ouro, mas continuamos minerando erradamente, retirando sem critério toda a areia que pudermos da região. Desmatamos uma imensa floresta para fazer uma monocultura de café e hoje desenvolvemos projetos de “reflorestamento” a partir de uma monocultura com essência exótica sedenta e altamente competitiva, o eucalipto. Além disso, de quebra, também plantamos capim exótico (Braquiária) em grande escala para alimentar o gado, primitivamente leiteiro, mas que hoje é mais de corte do que de leite.

Obviamente não será possível falar de tudo o que fizemos e ainda fazemos de errado em nome do “deus dinheiro” e do “crescimento econômico”, mas vou tentar contar um pouco dessa história. Vou começar a partir do fim do café, porque penso que até naquele momento todo mundo que vive nessa região já tem alguma notícia e conhecimento. Mas, é interessante, depois disso, mais recentemente, ou seja, na nossa memória mais próxima é que deveríamos saber mais. Entretanto, pelo que tenho visto é exatamente dessa parte, aos últimos 100 a 120 anos, que parece que nada sabemos, ou melhor, que a população não sabe. Nãos sei se por vergonha, por medo ou por ambos.

No ano 1900, o café já era uma triste e lamentável tristeza, embora algumas plantações tenham resistido até 1920, mais não era nada perto do que havia sido. Naquela época a ferrovia já atravessava nossa região e aqui vieram alguns engenheiros famosos para trabalhar na construção de ramais, estações, escolas, cadeias, pontes e outras obras. Dois desses famosos são Euclydes da Cunha e Teodoro Sampaio.

O primeiro era um carioca branco, rico, que teve uma vida infeliz e um fim trágico, o famoso autor da conhecidíssima obra “Os Sertões”, um dos maiores clássicos da literatura brasileira. O outro era um baiano, negro, filho de um padre e de uma escrava, com vida complicada, mas que apesar de tudo, nunca foi escravo e sempre foi muito estudioso, formou-se em História, Geografia e Latim, aos 22 anos.

Ambos trabalharam juntos em algumas obras aqui no Vale do Paraíba. Os dois são nomes de dois municípios nos estados da Bahia e São Paulo. O primeiro que todos conhecem e que tinha tudo para dar certo, não teve um final feliz, mas o segundo que poucos conhecem e que tinha tudo para dar errado, não só teve um final felicíssimo, como também fez uma descrição do que seria o Vale do Paraíba hoje. Por volta de 1900, em visita às terras do Senhor Jordão, hoje Campos do Jordão, Teodoro Sampaio, olhou o vale lá de cima e teve uma visão fantástica e futura do que seria o Vale do Paraíba hoje.

Pois então, a partir de 1920 o café acabava de vez e não tinha mais jeito. O tiro final se deu com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. Assim, havia necessidade premente de novas alternativas socioeconômicas. A agricultura teve que mudar e o arroz e a cana se destacam como culturas ideais e, por outro lado, surge a pecuária de gado leiteiro. Nessa última a região se destaca e várias vezes, nas décadas de 1930 e 1940, os municípios de Caçapava, Guaratinguetá e São José dos Campos são os recordistas na produção leiteira do Estado de São Paulo.

A CSN E O GRANDE IMPULSO ECONÔMICO

A partir de 1930, com o início do Estado Novo e da Era Vargas, o Brasil resolve que tinha que deixar de ser um estado de base econômica Agropecuária e resolve entrar na era industrial. Mas, ainda não existia as condições mínimas de suporte para a indústria. Assim, em 1940, Getúlio Vargas, num acordo político, tecnológico e industrial com os Estados Unidos, resolve construir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda/RJ, no lado fluminense do Vale do Paraíba. A CSN é uma gigante, que sendo a maior Usina Siderúrgica do país e a maior da América Latina deveria ser capaz de produzir todo o aço que o Brasil necessitava naquele momento e fornecer ainda grande parte para os Estados Unidos. A CSN é inaugurada em 1946 e assim o Brasil começou a entrar na Era Industrial.

Mas ainda existia outro problema a ser considerado e resolvido. A indústria depende de muita água e energia e o país ainda não estava devidamente preparado para essas necessidades adicionais. Várias Usinas Hidrelétricas foram instaladas nas proximidades da CSN para garantir a quantidade de energia e água necessárias ao empreendimento. Conforme a CSN ampliava, a carência de energia se fazia presente e novos reservatórios para gerar energia hidrelétrica eram produzidos. Por outro lado, a capital do país, cidade do Rio de Janeiro, a pouco mais de 100 quilômetros de Volta Redonda e que certamente cresceria muito com a industrialização, também teria ampliado o seu já sério problema de carência de água.

Por conta disso, Getúlio Vargas autorizou a ampliação da Represa do Ribeirão das Lajes e a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul para essa represa, através da mudança do sentido de curso do Rio Piraí e ainda permitiu o destombamento do Município de São João Marcos, por conta da inundação de parte de sua área que iria ocorrer. São João Marcos tinha grande importância histórica e foi um município rico e bastante desenvolvido, que chegou a ter mais de 20 mil habitantes, nos idos de 1820 a 1830, por ter sido o maior produtor de café da região e exatamente por essas particularidades, havia sido tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).

Apesar das sequelas ambientais produzidas pela transposição e suas obras subsequentes, o Presidente Getúlio Vargas, conseguiu seu intento garantindo efetivamente o incremento na geração de energia e a regularização da distribuição da água na cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Esse fato permitiu o desenvolvimento econômico e social da área que hoje se constitui no segundo maior parque industrial do país.

Cabe ressaltar que se não tivesse acontecido a transposição de águas do Rio Paraíba do Sul para a região metropolitana do grande Rio de Janeiro, as coisas seriam bem diferentes e a realidade atual seria outra, porque não existiria a maior parte das coisas que hoje existem na região, particularmente o significativo aumento da população, que era de pouco mais de 1,2 milhões naquela época e que atualmente passa de 10 milhões de habitantes. Além da CSN, veio a Fábrica Nacional de Motores FNM, um pouco mais tarde a Refinaria Duque de Caxias (REDUC), além de inúmeras outras fábricas nacionais e multinacionais de grande porte que gradativamente foram se somando ao complexo industrial e para as quais foram vindo e se estabelecendo cada vez mais pessoas.

A NOSSA REGIÃO, O LADO PAULISTA DO VALE DO PARAÍBA

Antes de continuar, é preciso falar sobre outro acontecimento havido na região, que também teve influência econômica significativa. Em 1932 houve a Revolução Constitucionalista, onde São Paulo se levantou contra algumas ações do Governo de Getúlio Vargas e o culpou pela Grande Depressão oriunda da queda da Bolsa de Nova Iorque, que pôs fim ao Ciclo do Café. Nesse conflito, o Vale do Paraíba paulista foi palco de inúmeras batalhas. Cidades como Cunha, Queluz, São José do Barreiro, Piquete, Cruzeiro e outras tiveram grandes problemas e batalhas, que produziram consequências bastante sérias.

Até essa data não existia nenhuma empresa de porte significativo na região, além da estrada de ferro São Paulo – Rio de Janeiro, que funcionava desde 1877 e que tinha estações em quase todos os municípios. Algumas empresas que davam apoio a estrada de ferro se desenvolveram, como foi o caso da Fábrica Nacional de Vagões S.A – FNV (1943), em 1990 o grupo Iochpe-Maxion assumiu o controle da fábrica que existe até hoje e da Material Ferroviário S/A MAFERSA (1957), depois de 1999 passou a se chamar MWL Brasil Rodas e Eixos.

Existiam também algumas empresas do setor têxtil, que se estabeleceram ainda no final do século XIX, como a Companhia Taubaté Industrial-CTI (1891) e início do século XX como a Companhia Fiação e Tecidos – CFT de Guaratinguetá (1912). Aliás, cabe lembrar que o setor têxtil foi muito importante para a região e a destacou no estado e no país. Até aquele momento a indústria na região era bastante incipiente e se limitava basicamente a manufatura na produção de pólvora e em algumas olarias e nas empresas têxteis de pequeno porte.

Além disso, também começaram a surgir algumas empresas do setor de leiteiro como o Leite Cooper, Leite Paulista a COMEVAP, que se organizaram com a produção leiteira regional. Pouco depois algumas indústrias do setor de vidros também se implantaram na região, como a Companhia Produtora de Vidro – PROVIDRO (1962), que desde 1979 foi englobada pela Pilkington. É bom lembrar que essas empresas e o leite da região foram importantes para a vinda da Nestlé, em 1971 e que hoje existem muitas empresas do setor vítreo na região.

Bom, mas depois de passados os três meses de combates da revolução Constitucionalista de 1932, a vida continuou com o arroz, a cana e principalmente o leite suportavam a economia e a população sobrevivia. Mas, houve indiretamente um incentivo grande a manutenção e ao incremento progressivo de militares na região. Assim, a Academia Militar de Agulhas Negras, que forma Oficiais do Exército Brasileiro, se estabeleceu definitivamente em Resende, quase na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro e ainda foi criado o Segundo Batalhão de Engenharia de Combate do Exército em Pindamonhangaba.

Por outro lado, a Aeronáutica também se estabeleceu oficialmente na região e aí começa a nossa história contemporânea aqui no lado paulista do Vale do Paraíba, com a vinda do CTA (Centro Técnico Aeronáutico, antes DCTA, 1946), em 1950 e a criação do Instituto Tecnológico Aeroespacial (ITA) e em 1961 o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), que em 1971 passou a ser chamado de Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Na década seguinte (1986) o Exército Brasileiro também o instalou o Primeiro Batalhão da Aviação do Exército (BAvEx) na cidade de Taubaté. Também cabe ressaltar que hoje a região do Vale do Paraíba possivelmente seja a principal região do país, no que diz respeito a defesa nacional, sendo, inclusive, um grande centro da Indústria Bélica Nacional.

Em suma, o investimento em energia e a tentativa de saída do modelo tradicional agrícola favoreceu economicamente a todos e assim a situação também do Vale paulista também foi favorecida pela ampliação significativa da quantidade de energia elétrica e de aço e enquanto aconteciam as obras lá do lado fluminense, o lado paulista também investiu em mudanças. Desta maneira, logo depois da II Guerra Mundial (1945), com a CSN já instalada em Volta Redonda e o CTA já instalado em São José dos Campos as coisas tomaram outro caminho e a industrialização efetivamente tomou corpo e cresceu de maneira acentuada na região.

Após o CTA e o ITA, houve uma corrida das montadoras de automóveis, até então vinculadas ao ABC paulista, que resolveram montar novas fábricas no país, mas como não queriam ficar longe de São Paulo, escolheram o Vale do Paraíba, que é o caminho natural entre as duas maiores metrópoles nacionais e que havia acabado de inaugurar uma Rodovia ligando esses dois centros e obviamente, onde há estradas há necessidade de carros. Desta maneira juntou-se o útil ao agradável quando se trouxe as montadoras de automóvel para a região. A Rodovia Presidente Dutra, que atravessa o Vale do Paraíba e que ainda é, até hoje, a principal rodovia do país, foi inaugurada em 1951.

A General Motors (GM) se instalou em São José dos Campos e a Ford se instalou em Taubaté. Junto dessas duas grandes empresas montadoras do setor automobilísticos começou a se instalar também um grande parque de empresas de autopeças, que serviam de base às montadoras. Nesse movimento veio outra grande montadora para Taubaté, a Volkswagen. A industrialização pegou e muita gente de outros estados, principalmente do Rio de Janeiro e Minas Gerais vieram para o Vale do Paraíba paulista. Várias empresas de vários setores, além do automobilístico, também se implantaram nesse período, principalmente indústrias químicas. Além disso, o investimento aeronáutico deu muito certo e logo depois vieram a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER) e a AVIBRAS Indústria Aeroespacial e várias outras do setor.

Depois vieram inúmeras indústrias dos mais diversos setores e assim a população a as cidades cresceram rápida e atabalhoadamente. Com o aumento da população, houve aumento dos serviços e obviamente a economia melhorou bastante. Alguns municípios podem efetivamente ser chamados de “municípios ricos”, mas como a economia não é tudo, por outro lado, a qualidade de vida piorou e progressivamente para muitos.  Os “municípios ricos” conseguem disfarçar e muitas vezes até resolver alguns de seus problemas socioambientais, mas nos “municípios pobres” a situação é tremendamente complicada e, em muitos deles, a situação é de difícil resolução, ao menos a curto prazo.

Há carência de residências, de vias de acesso, de transporte, de hospitais e até de escolas. O espaço urbano está muito mal organizado e distribuído, porque historicamente não houve planejamento na ocupação das áreas. Assim, o trânsito de pessoas, veículos e animais é caótico muito complicado em vários municípios. Com o aumento das populações urbanas e dos bolsões de pobreza, houve também aumento da violência e até mesmo a segurança pública encontra-se relativamente deficitária em algumas localidades

O saneamento ainda é bastante deficitário, porque há falta de coleta e tratamento do esgoto sanitário e do lixo urbano em muitos municípios. A poluição atmosférica é significativa em alguns locais e a poluição hídrica atinge níveis absurdos em algumas áreas. O solo, complicado pelo mal uso e pela exaustão histórica e progressiva, está cada vez mais comprometido e com vários micropontos de desertificação. Além disso, há carência de infraestrutura urbana e áreas verdes em quase todas as cidades.

No campo e nas áreas rurais houve aumento significativo da poluição química, por conta do uso indiscriminado de agrotóxicos, que contaminam o solo, a água, os animais e em última análise o ser humano que é o final da maioria das cadeias alimentares. Os remanescentes de áreas naturais e as áreas de proteção ambiental estão aviltados e degradados pela ação antrópica, pois não a fiscalização é ineficaz e consequentemente não há cumprimento efetivo da legislação ambiental. Lamentavelmente, a falta de educação e de cuidado com aquilo que deveria ser todos é notória.

Em suma, crescemos economicamente em alguns municípios, mas perdemos ambiental e socialmente em quase todos, porque mesmo nos “municípios ricos”, ainda existe o ranço daqueles que acham que podem fazer tudo. Muitas vezes o município é rico, mas o habitante, sendo rico ou pobre economicamente, é infeliz e pobre educacional, cultural, moralmente e não tem visão ambiental, nem preocupação com a qualidade de vida sua ou de quem quer que seja.

Nesses casos, somente com efetiva vontade política dos administradores e ação cidadã da população, além de legislação rígida e fiscalização atuante será possível conter a degradação.  Alguns municípios têm investido seriamente no acompanhamento dessas questões, porém outros, particularmente aqueles mais pobres e debilitados, pelas mais diversas carências e dificuldades, ainda se encontram extremamente distantes das soluções reais para as necessidades que a região possui.

COMO SOLUCIONAR AS QUESTÕES PENDENTES?

Como um todo, apesar dos problemas, é possível afirmar que a região vai bem e pode melhorar significativamente e nós como cidadãos temos que estar presentes exigindo o cumprimento das leis existentes e sugerindo novas ações legais pertinentes, que visem estabelecer a melhoria da qualidade de vida. Certamente a criação da RMVPLN aconteceu objetivando diminuir a diferença entre os municípios da região e trazer um desenvolvimento sustentável à toda população do Vale do Paraíba. É claro que isso é uma utopia, mas há 100 anos atrás ir à Lua também era uma utopia, conversar e visualizar uma pessoa do outro lado do mundo, há 20 anos também era utopia, mas hoje essas coisas são normais. Então vamos continuar caminhando e de repente a utopia deixa de ser utopia como já aconteceu tantas vezes.

Então, é óbvio que nós precisamos de recursos e de políticos interessados de fato em melhorar a região e a qualidade de vida das pessoas que nela habitam, mas nós também precisamos de cidadãos conscientes sobre sua função na sociedade. Assim, torna-se fundamental a participação de todos para que a região e os seus diferentes municípios possam evoluir dentro de um desenvolvimento sustentável ou caminhando para isso. Existem algumas áreas que efetivamente são prioritárias ao desenvolvimento sustentável, porque essas são ligadas diretamente ao humano e hoje o modelo básico de medida do humano é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede fundamentalmente Educação, Longevidade e Renda.

Nós conhecemos o IDH de todos os municípios, mas o IDH, sendo uma média entre três fatores, não descreve exatamente qual dos três teve maior ou menor impacto na média. Por exemplo, se um município teve 8 de Educação, 9 de longevidade e 7 de renda ele terá o mesmo IDH daquele que teve 9 de Educação, 8 de longevidade e 7 de renda, entretanto a renda dos dois é a mesma, mas num deles apesar de ter um índice educacional menor, as pessoas vivem mais tempo. Ora, assim não é possível traçar um padrão real de quem precisa mais do que apenas pelo IDH.

Entretanto a longevidade pode ter causas genéticas que não dá para mudar e nem resolver, então é um fator que pode se tentar minorar, mas que não se pode garantir o resultado. Já a renda é um fator totalmente antrópico e dependente de quem é o sujeito, do que ele realiza no seu trabalho e de quanto ele recebe pelo seu trabalho. Podemos investir em conseguir trabalhos melhores que gerem rendas melhores, mas isso não garante que o sujeito vá viver mais, embora possa indicar que ele terá mais chances de longevidade.

A Educação também não é garantia de que o sujeito por ser educado vá conseguir melhor renda ou vá viver mais tempo, mas também indica que possa ter um melhor trabalho e assim possa adquirir um melhor emprego e consequentemente terá maior possibilidade de viver mais, entretanto isso pode até ser mais provável, porém não é definitivo. Em suma, o que eu quero dizer é que o IDH acaba sendo uma ilusão, ainda que possa ser considerado como um bom indicador. Então vamos tratá-lo apenas como um indicador e assim, eu tenho que deixar de lado a longevidade, porque não temos nenhum poder direto para intervir nela.

Deste modo temos que pensar na educação e na renda da região. Então os objetivos fundamentais municipais a serem estabelecidos devem ser relacionados à Educação e a Renda local. Devemos partir da premissa que melhor renda deve ser consequência de melhor educação. Isso tudo nos leva a concluir que o fundamental é investir em educação antes de qualquer coisa, porque ela é o fator que tem maior poder de favorecer aos outros dois.

Em suma, cada município tem que investir em se conhecer melhor e resolver mais diretamente seus problemas principais, entretanto os municípios não podem se desvincular totalmente do desenvolvimento sustentável regional. Educar a população e gerar empregos são metas comuns, mas há necessidade de se identificar as devidas vocações locais. As cinco microrregiões da RMVPLN visam exatamente manter esse grau de proximidade e interesse regional nas áreas mais próximas, considerando as condições e similaridades geográficas e avaliando as possibilidades produtivas.

Dito isso, posso concluir que teremos melhores resultados regionais se trabalharmos pela educação das pessoas do Vale do Paraíba, porque parece que a educação é o melhor caminho para a sociedade. Sendo educada a sociedade é mais capaz de saber e optar por empreendimentos regionais interessantes e certamente não vai haver nem discussão, de projetos sem cabimento, como por exemplo, a implantação a de grandes Usinas Termelétricas na região, como já aconteceu várias vezes. Embora a cidade de São José dos Campos, recentemente, aprovou a implantação de Termelétricas em seu espaço territorial, não há como se imaginar que haja pretensão da implantação de megausinas termelétricas no município e nem no restante da região.

Por outro lado, a educação tem um custo social grande, porque demanda escolas, professores, funcionários, computadores, livros, cadernos, merenda e outros. Quer dizer, se a sociedade quer melhor educação precisa comprometer parte de sua renda ou pagando impostos e exigindo que seus filhos sigam estudando em escolas públicas de qualidade infra estrutural compatível ou, além de pagar os impostos, também podem optar por pagar escolas particulares.

 Enfim, o que importa é que temos que fazer a população ser mais bem esclarecida sobre seus direitos e deveres e sobre alguns outros aspectos de formação disciplinar específica que as escolas deverão permitir aos cidadãos. Afinal, diz o velho chavão que: “educar é preparar para a vida” e nossa região está precisando exatamente de pessoas preparadas para viver com boa qualidade de vida aqui no Vale do Paraíba.

Mas, não adiantará dar escolas se o cidadão sair da escola e não arrumar um emprego. É fundamental que haja emprego e de preferência na área em que o cidadão se dedicou, por interesse próprio, mais especificamente dentro da sua formação escolar. A contextualização da educação é meta prioritária nos estudos educacionais e obviamente também deve ser fundamental para o desenvolvimento sustentável regional.

A sociedade sabe quais são as prioridades e os interesses regionais, então ela deve preparar as escolas visando certos fins funcionais específicos que garantam sustentabilidade ao ambiente e renda ao cidadão. Ora, nós estamos falando de melhorar a qualidade de vida para que as pessoas possam viver felizes e por mais tempo. Então, que maravilha se essas pessoas puderem trabalhar efetivamente naquilo que mais lhes agrada e que a escola tenha dado condições para que isso acontecesse. Ainda que isso pareça utópico, essa deve ser a meta.

ÁREAS DE POSSIBILIDADES POTENCIAIS NA REGIÃO

Políticos e administradores públicos do passado recente, quando falavam em gerar empregos, automaticamente falavam apenas em indústrias. É preciso acabar com esse pensamento arcaico de que as indústrias são as grandes fontes de empregos. Efetivamente indústrias geram empregos, mas hoje o setor de serviços tem contribuído num nível maior de empregos que as indústrias em várias áreas. Isso quer dizer que, talvez, indústria já não seja mais o grande gerador de empregos e certamente essa tendência será progressivamente maior.

Aqui na região existe uma área que pode e deve ser explorada mais minuciosamente, até porque envolve pouco investimento público, traz prazer e alegria a quem pratica, promove o incremento de lucros privados e assim gera empregos (diretos e indiretos). Além disso, quase não agride ao meio ambiente, tampouco fazem mal a alguém ou à sociedade como um todo. Obviamente, estou me referindo ao Turismo.

Nessa área há algumas pequenas coisas que qualquer pessoa pode fazer, mas é óbvio que existem algumas situações específicas que só pessoal preparado e mais esclarecido pode atuar. Entretanto, as perspectivas regionais para essa área são muito boas. A partir de agora eu vou me ater genericamente ao Turismo, porque acredito que ele possa ser o grande negócio e a garantia efetiva do desenvolvimento sustentável que garantirá o futuro de nossa região.

Vivemos numa região abençoada pelas belezas cênicas e peculiaridades, que é repleta de locais e informações históricas, de áreas naturais e de Unidades de Conservação. Temos a capital de Inverno do estado, mas ainda utilizamos pouco do seu entorno. Nosso litoral é belíssimo, com praias maravilhosas e áreas de relevância indescritíveis quanto à estética, entretanto ainda não exploramos de maneira devida o Turismo na região.

No litoral, por questões óbvias, até que a coisa vai bem, mas certamente podia estar bem melhor. Entretanto, as nossas Unidades de Conservação, nossos lugares e monumentos históricos, nossos Parques Públicos e mesmo as áreas privadas em locais pitorescos, andam às minguas de visitantes e estão sendo muito pouco explorados e até subutilizados, do ponto de vista da exploração turística. Mas, por que isso acontece?

Estamos acostumados a ouvir expressões do tipo: “Turismo é caro”. Ou seja, turismo é para ricos”. “Os proprietários dos estabelecimentos querem extorquir os turistas”. “A infraestrutura dos locais é deficiente”. E vai por aí afora. Mas, eu insisto na pergunta: por que isso acontece? Isso acontece porque faltam Profissionais competentes (bem formados), Investimento sério na infraestrutura e na divulgação, além de Políticas Públicas que se direcionem prioritariamente para essa área específica ou para os atrativos turísticos específicos que se quer priorizar num determinado local.

Vejam bem, com toda a insipiência turística regional, temos o maior turismo religioso do país e um dos maiores do mundo. E há mais um detalhe. Esse turismo atrai pessoas pobres, em sua grande maioria, e mesmo assim, funciona bem. Mas, como pessoas pobres podem fazer turismo? Qualquer um pode fazer turismo, desde que haja um atrativo significativamente forte para chamar a atenção das pessoas. É óbvio que a religião católica é um grande atrativo e que Nossa Senhora Aparecida, Frei Galvão e os Católicos Carismáticos são três “artilheiros” fazendo golaços e garantindo o público sempre crescente.

Mas, será que nós não podemos criar outras grandes áreas de atração e outros grandes “artilheiros” para essas áreas. Sim, é claro que podemos. Porém, primeiro precisamos acreditar que podemos e depois de acreditar, precisamos promover e depois de promover, precisamos divulgar cada vez mais. Vejam bem, foi exatamente isso que que a igreja fez com seus “artilheiros” e nem foram necessárias grandes Políticas Públicas de incentivo, porque já existiam os “artilheiros” fortes e bem conhecidos.

Em outras áreas, talvez, tenhamos que trabalhar um pouco mais, porque ainda não temos ou não identificamos os “artilheiros” do mesmo naipe daqueles da igreja, porém certamente eles existem e assim, é possível conseguirmos alguns ícones bastante significativos para determinadas situações e locais. Mas, é óbvio que nada vai acontecer sem investimento e sem trabalho dirigido para esse fim específico.

Outra possibilidade que se apresenta e que, em certo sentido também tem a ver com o turismo, porque uma pode ajudar a outra, pois são complementares, é o setor, ainda muito recente, dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Os Serviços Ambientais, também chamados de Serviços Ecossistêmicos, se constituem numa nova fonte de renda relacionada com a manutenção dos ecossistemas e com as possibilidades de benefícios que esses mesmos ecossistemas trazem, exatamente por serem mantidos em suas condições naturais.

Nossa região, que como já foi dito, é rica em parques e áreas naturais, acaba sendo também bastante abrangente quanto à possibilidade desses serviços ambientais ou ecossistêmicos. Assim, um levantamento bem-feito e um estudo mais detalhado dessas diferentes possibilidades regionais, podem produzir grandes surpresas econômicas e novas possibilidades de ganhos, que protegerão as condições naturais existentes e por tabela, também poderão favorecer ao turismo regional, porque propiciarão a manutenção e a melhora progressiva das áreas de proteção ambiental e consequentemente suas condições como atrações turísticas.

Aqui na região temos um pouco de tudo espalhado pelos diferentes municípios e basta encarar essas ideias como interessantes para que nós possamos ter público para praticamente tudo e todos, a custos proporcionais aos seus respectivos bolsos. Geraremos mais empregos e mais renda e seremos certamente felizes, respeitando a natureza e conservando o nosso patrimônio. O incremento do Turismo e dos Pagamentos por Serviços Ambientais talvez sejam os caminhos ideais para o desenvolvimento sustentável real e efetivo da região do Vale do Paraíba, mas é preciso que a população e principalmente os administradores públicos acreditem nisso e assumam um compromisso sério com o investimento nessas possiblidades.

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BRASIL, 2001. Lei Federal Nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.

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Luiz Eduardo Corrêa Lima (65) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista.

Foi Professor da Universidade de Taubaté – UNITAU (1980-1997), do Centro Universitário Teresa D´Ávila – UNIFATEA/Lorena (1989 – 2020), do Centro Universitário Salesiano – UNISAL/Lorena (1999 – 2003), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC/Guaratinguetá (2011 - 2018) é Membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul (CBH-PS). Acadêmico e Fundador da Academia Caçapavense de Letras – ACL (Presidente 2018-2019); Membro do Instituo de Estudos Valeparaibano – IEV; Acadêmico da Academia de Letras de Lorena – ALL; Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito 4571 de Rotary International (2019 até o presente), Ganhador do Prêmio José Luiz Pasin de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (2013);  foi Vereador (1997 a 2000 e 2001 a 2004) e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava/SP (2001 e 2002) e Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA/SP (1997, 1998, 1999, 2000, 2001,  2019 e 2020).
30 maio 2022

USINA TERMELÉTRICA: CUIDADO, O PERIGO ESTÁ RONDANDO A REGIÃO!

Resumo: Este texto visa chamar a atenção das populações da região do Vale do Paraíba, em particular dos municípios de Caçapava e Taubaté, por conta da pretensa instalação de uma grande Central Termelétrica na região, composta por 3 usinas na divisa entre os dois municípios citados. A capacidade de geração de energia do complexo é cerca de 1.740 Megawatts, ou seja, uma central termelétrica gigantesca. O potencial poluidor desse monstrengo é imenso, por isso mesmo, a Central Termelétrica não pode prosperar. 

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Enquanto a cidade e as pessoas boas e pacatas dormem, os inimigos comuns dos cidadãos de bem, os embusteiros e picaretas de plantão, andam por aí à espreita e assim, na surdina, estão tentando aprontar mais uma contra a nossa querida cidade de Caçapava e a região do Vale do Paraíba. Desta feita, trata-se da pretensa implantação de um conjunto de usinas termelétricas (três usinas) que no total produzirão cerca de 1.750 Megawatts de potência.

Quer dizer, uma super central termelétrica que, se efetivada, obviamente poderá causar uma poluição atmosférica gigantesca e quase imensurável de Dióxido de Carbono (CO2), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Óxidos de Enxofre (SOx), Ozônio (O3), Particulados e Hidrocarbonetos. Isso sem falar no grande aquecimento e na imensa perda de água por evaporação em consequência do processo de esfriamento das caldeiras.

Ou seja, os picaretas de plantão, estão imaginando um monstro energético nunca visto e nem pensado aqui para a região e muito menos aqui para nossa Caçapava. Certamente nós vamos lutar contra e não deixaremos que esse monstro saia da imaginação dos infelizes que foram capazes de sonhar com sua existência em nossa cidade. População de Caçapava, fiquem atentos, porque uma nova guerra contra a implantação de termelétrica está começando a acontecer.

Quero lembrar aos incautos e aos desinformados que está será a sexta tentativa de implantação de grandes termelétricas aqui na região do Vale do Paraíba. Nas cinco primeiras tentativas o empreendedor acabou não conseguindo o seu intento e a população local saiu vitoriosa, garantindo a manutenção da qualidade de vida da região, pelo menos no que se refere a esse aspecto. Esperamos que dessa vez não seja diferente.

Os incautos, além da não conhecerem a nossa região e suas limitações para esse tipo de empreendimento, também não sabem que a população valeparaibana já está mais que vacinada contra esses absurdos ambientais e que lutará para impedir que o monstro se instale mais uma vez. Por outro lado, os picaretas enganam os incautos e se aproveitam do desconhecimento deles para conseguir algumas benesses em seus próprios interesses.

O que é difícil de entender é que os poderes constituídos e as autoridades locais e regionais ainda permitam que esse tipo de situação se evidencie, mesmo sabendo que a implantação de termelétricas seja algo extremamente comprometedor na região do Vale do Paraíba e que assim seja quase impossível a viabilização desse tipo de empreendimento na região. É bom lembrar que todas as cinco tentativas de implantação de termelétricas na região que ocorreram nos últimos 30 anos foram frustradas.   

Todos sabem, ou deveriam saber, exceto os empreendedores, que são ludibriados pelos picaretas de plantão, por questões geomorfológicas e geodinâmicas, nossa região não aceita esse tipo de empreendimento por vários fatores ambientais. A população local há muito tempo já sabe que esse tipo de empreendimento não se adequa à região e certamente não vai querer um monstro com todo esse tamanho e seu imenso potencial poluidor aqui ao Vale do Paraíba.

Por outro lado, mesmo que a região fosse adequada para receber esse tipo de usina, a condição de poluição aérea e aquática produzida por esse tipo de empreendimento é totalmente incompatível com os interesses regionais. Em tempos de sustentabilidade não se pode pensar em instalação de termelétrica numa região que concentra cerca de 5 milhões de pessoas e que é responsável pela água que alimenta mais de 30 milhões.

A insalubridade que pode ser produzida por uma grande central termelétrica, além de ser uma transgressão das possibilidades ambientais do Vale do Paraíba, é principalmente um crime contra a vida de parte da população paulista e da quase totalidade da população fluminense. Quer dizer, não se trata apenas de uma mera questão ambiental e de um alarde de mais um “ecochato”. Na verdade, trata-se de garantir a vida atual e das gerações futuras do Vale do Paraíba e de todos que dependem da água da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

Senhores moradores da região e de Caçapava em particular, preparem-se para a batalha e doravante acompanhem bem as ações e as posturas assumidas pelos políticos locais no que se refere a essa questão. É possível que muitos desses políticos estejam “convencidos” de que termelétricas na nossa região e na nossa cidade sejam bons negócios.

De repente eles vão começar a falar que a implantação das termelétricas na região vão dar conta da necessidade de geração de energia no país, vão ampliar a geração de empregos na região, vão falar que não há risco porque haverá absoluto controle da poluição e principalmente vão dizer que isso trará riqueza à região, pois produzirá um significativo aumento dos recursos econômicos para os municípios ou para toda a região do Vale do Paraíba. Entretanto, é preciso ficar claro que mesmo que essas fossem indagações verdadeiras, o risco socioambiental oriundo de um complexo termelétrico como o que está sendo proposto, certamente não compensa.

 Então, é preciso deixar claro que por vários aspectos, essas são efetivamente grandes mentiras. Essas outras afirmativas não passam de argumentos falaciosos e fictícios para enganar a população. A verdade é que no Vale do Paraíba não pode existir termelétricas e no caso específico do município de Caçapava, de acordo com a Lei Orgânica, para implantar uma termelétrica, haverá necessidade de um plebiscito. Isto é, somente a população poderá determinar se haverá ou não termelétrica na cidade.

Por outro lado, há necessidade de se questionar, ainda que se essas pretensas afirmações fossem verdades e não são, as questões que ficariam, seriam as seguintes: Vale à pena, matar muitos pelo benefício de poucos? Vale à pena, poluir, degradar e descaracterizar o ambiente em que seu filho, seu neto ou bisneto vai viver? Vale à pena correr esse risco?

Por fim, apesar de todas as dificuldades e a periculosidade, se esse absurdo vier a ser implantado, ninguém sabe o que realmente vai acontecer, mas a gente sabe o que costuma acontecer quando os interesses particulares e escusos suplantam os interesses comunitários, principalmente aqui no Brasil. Assim, deixo aqui também o meu alerta às cidades vizinhas, mormente aquelas que estão mais próximas de Caçapava e que possuem as maiores populações da região, ou seja, Taubaté e São José dos Campos, que juntas somam cerca de 1 milhão de habitantes.

Cabe lembrar ainda, que a poluição não será apenas para Caçapava, pois os efeitos maléficos de uma termelétrica, creio que todos já saibam, mas sempre é bom ressaltar, certamente é regional. Quer dizer, todos nós estamos todos no mesmo barco e no meio do mesmo furacão, principalmente as duas cidades citadas acima que são lindeiras à Caçapava, mas é preciso termos mente que todo o Vale do Paraíba pode estar à deriva.

Fiquem atentos, porque Usina Termelétrica, embora possa ser uma boa negociata para alguns, aquela minoria que só pensa em dinheiro no bolso, certamente é uma insanidade e um péssimo negócio para todos que esperam viver bem, em paz e com qualidade de vida. Já temos muitos problemas por aqui, sendo assim, nossa Caçapava, nosso Vale do Paraíba e as pessoas que aqui vivem, não merecem mais essa desgraça.

Meus amigos, por favor, TERMELÉTRICA NO VALE DO PARAÍBA, NUNCA!

Luiz Eduardo Corrêa Lima (66) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Revisor e Ambientalista; Foi Vereador (1998 a 2004) e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava (2001 e 2002); Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo – CONSEMA/SP (1996 a 2002 e 2018 a 2020), Conselheiro e Primeiro Presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Caçapava – CONDEMA (1990 a 1992) e Conselheiro do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Lorena – COMMAM (2008 a 2010); é Membro Efetivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CBH-PS (desde 1999 até o presente) e da Câmara Técnica de Institucional do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul – CEIVAP (1999 a 2001 e 2021 a 2023); Membro associado de várias ONGs Ambientalistas da Região, inclusive da ECO VITAL de Caçapava.

06 jun 2018

A Recuperação da Área Florestada na Região do Vale do Paraíba

Resumo: O texto faz menção as notícias veiculadas na mídia indicando que a região paulista do Vale do Paraíba, ampliou suas áreas florestadas com vegetação nativa e o autor sugere que as notícias, ainda que boas e necessárias, podem não ser de todo verdadeiras, por conta da grande quantidade de área reflorestada com essências exóticas na região.


A Recuperação da Área Florestada na Região do Vale do Paraíba

Mapeamentos feitos a partir de imagens de satélite revelam que,
entre 1985 e 2015, as áreas de floresta passaram de 250 mil para 455 mil hectares,
o que representa um acréscimo de 83% em floresta nativa na porção paulista do Vale do Paraíba
(EMBRAPA, novembro de 2016).
Trabalhos recentes (GALINARI, 2016) nos têm dado conta de que a região do Vale do Paraíba tem sido a que mais tem conseguido crescer no que se refere a recuperação de sua cobertura vegetal no Estado de São Paulo. Obviamente, para nós cidadãos vale-paraibanos, essa é realmente uma notícia alvissareira, pois nos coloca à frente das demais regiões do estado, numa área de significativo interesse e preocupação nos tempos atuais, que é a questão da recuperação das áreas desmatadas, haja vista que São Paulo é o estado mais desenvolvido e, por isso mesmo, também é ambientalmente um dos mais desmatados do país. Entretanto, por outro lado, é preciso que se discuta e avalie muito bem os detalhes que norteiam esses resultados que nos colocam nessa condição de superioridade quanto e esse considerável aspecto.   Nossa região, em seu estado primitivo, possuía quase 90% de sua área totalmente florestada (LIMA, 2015a), mas a partir da chegado do homem branco a coisa começou a ficar complicada, pois o desmatamento aconteceu contundente e progressivamente, por conta da ocupação desordenada, do plantio do café, das fazendas de gado leiteiro e inúmeros erros. Depois de 1920, com o fim da cultura intensiva do café, pouca coisa sobrou e a vegetação nativa praticamente desapareceu nas áreas de várzea e nas encostas mais baixas das serras que margeiam o vale. No que se refere aos cuidados com a vegetação nativa, praticamente nada aconteceu, pois historicamente apenas desmatamos, degradamos e destruímos a região e sua vegetação primitiva.   O que a natureza levou séculos, talvez milênios para produzir, nós destruímos quase completamente em pouco mais de 200 anos.  A região que outrora era coberta de matas naturais e de vegetação exuberante em vários lacais, ficou com áreas totalmente desmatadas em consequência do fim da exploração do café e depois, muitas dessas áreas ainda foram pisoteadas e compactadas pela ação do gado, o que inviabilizou totalmente qualquer possibilidade de recuperação natural.   Algumas dessas áreas inviáveis chegaram mesmo ao nível total de desertificação em algumas localidades específicas e por volta de 1980, a região chegou atingiu menos de 20% de áreas naturais florestadas. E essas parcas áreas florestadas que foram mantidas se deveram principalmente à dificuldade de plantio e pastoreio em algumas localidades do topo da Serra do Mar, onde hoje se localiza grande parte do Parque Estadual da Serra do Mar do Estado de São Paulo. Assim, nesses 200 anos, secaram inúmeros olhos d’água e muitas nascentes, foi derrubada quase toda a mata ciliar e foram desmatados os morros de fácil acesso e solapadas muitas de suas bases. Várias das marcas produzidas pala erosão sofrida ainda estão por aí, muito bem visíveis em diferentes áreas da região.   A partir de meados dos anos 1980 foi iniciado um grande programa de “reflorestamento” da região, inicialmente com Pinus elliottii, originária do Sul dos Estados Unidos, e mais recentemente com Eucalyptus grandis, oriundo do Leste da Austrália. Apenas a partir do início dos anos 1990 é que a região começou a se preocupar realmente com o que aqui se estava plantando em larga escala e aí se passou a dar ênfase e a se preocupar um pouco com a necessidade do plantio de essências nativas, mormente nas áreas de mananciais e nas proximidades de parques e reservas.   Resumindo tudo, nós destruímos até 1980 e de lá para cá resolvemos começar a recuperara região e hoje temos mais de 30% de área florestada no Vale do Paraíba, o que realmente é um índice muito bom e bastante expressivo. Entretanto, o fato de ser muito bom essa grande ampliação da área vegetada, não garante nada quanto à recuperação florestal da região, porque esse número esconde outro aspecto relevante, que é a grande massa de eucaliptos plantados na região. Existem municípios que possuem mais de 20% de suas áreas cobertas com plantação de eucalipto (LIMA,2015b).   O Vale do paraíba constitui-se efetivamente numa monocultura de eucalipto (LIMA, 2016). Só como exemplo, existe uma empresa de papel e celulose na região, que por conta dessa necessidade faz plantio de eucalipto e que possui cerca de 250 fazendas exclusivas para esse fim. Os números da área total vegetada aumenta, mas muito dessa ampliação é apenas e tão somente de eucaliptais e não vegetação nativa como sugerido pela EMBRAPA (2016).   A vegetação é maior, porém a imensa maioria das áreas florestadas está coberta de eucaliptos, que além de exótica, é uma essência que exige grande quantidade de água, principalmente nos primeiros anos de vida e como se trata de uma produção florestal estritamente comercial, essa florestas são cortadas e replantadas alternada e constantemente. É óbvio que entre nenhuma cobertura vegetal e uma floresta de eucalipto, certamente a preferência será pela floresta de eucalipto, mas sempre é bom lembrar que isso está longe de ser o ideal que a região necessita.   É necessário que faça uma avaliação apurada dessa acentuada monocultura regional de eucalipto, sem paixões e sem interesses, para que se possa estabelecer os devidos critérios de plantação no interesse regional e não empresarial e também entender os devidos benefícios e malefícios desse plantio. A monocultura de eucalipto, da maneira que se estabelece, só traz vantagens significativas para as empresas de exploração dessa essência para produção de papel e celulose, além de acabar iludindo as pessoas, quando ajuda a produzir números significativos de ampliação e recuperação de nossas áreas de “vegetação natural”.   Quero deixar claro, que eu pessoalmente não tenho nada contra o eucalipto, que obviamente é uma madeira realmente importante, pois além da produção de papel e celulose, assume inúmeras outras utilidades, na construção civil, na indústria moveleira, na indústria química, na medicina e mesmo na produção de carvão vegetal. Por outro lado existe a necessidade de que se tenha em mente que esse mesmo eucalipto que dá números positivos a área vegetada na região é uma planta exótica, que requer água, que é extremamente competitiva, que empobrece o solo e principalmente não é uma árvore que será perene no local onde foi plantada, ao contrário ela será cortada periodicamente em intervalos relativamente rápidos.   É preciso que tenha sempre em mente essa imagem de que o eucalipto que acaba dando números positivos a área total vegetada na região não é uma cultura perene e que as áreas onde essa cultura se encontra são limpas a cada 6/7 anos e novos eucaliptos são plantados no local ou não, porque esta é uma “floresta comercial”. Quer dizer, o objetivo da floresta de eucalipto é produzir eucalipto e não reconstruir floresta. Desta maneira, quase nunca se deixa a “floresta” atingir um estágio adulto, considera-se apenas o tamanho comercial interessante para o corte da planta, que leva em média 6/7 anos.   É preciso dizer ainda que uma planta jovem está sempre requerendo muitos nutrientes e muita água e assim acaba retirando muitos recursos do solo na área onde está plantada. Como essas plantas são plantadas e cortadas ainda jovens, a área acaba sendo explorada em excesso e seus recursos naturais tendem a estagnar. Além disso é bom ressaltar que qualquer monocultura explora sempre o mesmo tipo de recurso natural e isso também vicia o solo do local. Em suma, o excesso de florestas jovens numa mesma área tende a esgotar o solo em alguns nutrientes muito exigidos e em água. O resultado disso é que depois de alguns cortes sucessivos (3 a 4) o solo estará praticamente estagnado e seco, necessitando de muito investimento para sua recuperação e para seguir sendo capaz de manter uma floresta qualquer.   Que bom que temos aumentado nossas áreas florestadas, mas que ótimo seria se plantássemos mais essências nativas ou se cortássemos menos eucaliptos e deixássemos as florestas terem continuidade temporal. A experiência tem demonstrado que, mesmo em florestas de eucaliptos, depois de 30 a 40 anos, o sub-bosque se refaz e os processos sucessórios acontecem naquele ecossistema. É claro que esse será sempre um ecossistema artificial, mas muitos dos trâmites ecológicos naturais se reestabelecem, pois progressivamente o solo se refaz, a água reaparece, a biodiversidade aumenta, a fauna gradativamente aumenta e algumas espécies nativas vão novamente se desenvolvendo.   Por outro lado, enquanto plantamos e cortamos somente eucaliptos, estamos apenas tendo a impressão de que a vegetação está aumentando, porque, na verdade, o que está aumentando progressiva e assustadoramente é a área geográfica total plantada de eucaliptos, já que é cada vez maior o espaço total ocupado por essa monocultura. Se amanhã ou depois o homem descobrir outros mecanismos para substituir as funções produzidas pelo eucalipto e essa essência deixar de ser tão útil quanto tem sido até aqui, fico imaginando e tenho medo do grande vazio que resultará com o desmatamento que ocorrerá no Vale do Paraíba com a retirada do eucalipto hoje existente, mais de 10% de toda região (Carriello & Vicens, 2011) sem nenhuma substituição.   Infelizmente estamos habituados a pensar somente em lucro econômico e não em lucro ambiental, até porque muitos de nós, por conta do imediatismo, ainda não compreendemos que o lucro ambiental tem como consequência o lucro econômico. Assim, enquanto existir somente preocupação com o lucro estritamente econômico numa determinada atividade, certamente essa se manterá, porém quando a atividade deixar de ser interessante por parar de produzir esse tipo de lucro, ela tenderá a acabar rapidamente e nesse caso a região vale paraibana, que hoje é uma grande monocultura de eucalipto (“um deserto verde”), no futuro, poderá vir a se transformar num deserto de fato. É bom lembrar que o Vale do Paraíba já viu esse filme e já vivenciou exatamente esse tipo de história com a monocultura cafeeira. O plantio de café aqui se estabeleceu no final do século XVIII e que teve seu auge entre 1830 e 1880, até se extinguir totalmente em 1920 (CONCEIÇÃO, 1984).   Vamos cair na realidade lembrar que a recuperação da região exige muito mais do que apenas plantar eucalipto para fins puramente comerciais. É preciso de grandes projetos de recuperação e restauração florestal para garantir a verdadeira ampliação de áreas florestadas nativas na região.   O fim do desmatamento, que lamentavelmente ainda existe, alcançando efetivamente o desmatamento zero na região, a recuperação das matas do entorno das nascentes, a recuperação das matas ciliares dos rios, o estabelecimento de corredores ecológicos e a ampliação das Unidades de Conservação são algumas das ações que se fazem necessárias para nos permitir um efetivo incremento de áreas vegetadas na região do Vale do Paraíba.   Além disso, a recente criação da Câmara Técnica de Restauração Florestal pelo Comitê das Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul (CBH-PS, 2017), também deverá trazer significativos benefícios e consequentes avanços à recuperação da vegetação da região, mas, salvo melhor juízo, ainda estamos muito longe de nossas necessidades reais e de celebrarmos qualquer grande melhoria nessa questão.   Referências Bibliográficas e Eletrônicas
CBH-PS, 2017. DELIBERAÇÃO CBH-PS 13 de 14 de dezembro de 2017. “Cria a Câmara Técnica de Conservação dos Recursos Hídricos e Restauração Florestal”, no âmbito do CBH-PS e especifica suas ações.
CARRIELLO. F & VICENS. R. S, 2011. Silvicultura de eucalipto no vale do Paraíba do Sul/SP no período entre 1986 e 2010, Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril a 05 de maio de 2011, INPE p.6403.
CONCEIÇÃO, A. A. B. & SANTOS, A. P. 2014. O Café no Vale do Paraíba: Origem e Decadência, III Congresso Internacional de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, 20 a 22 de outubro de 2014, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Universidade de Taubaté.
GALINARI, G. 2016. Florestas nativas crescem mais de 805 no Vale do Paraíba Paulista
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
LIMA, L. E. C., 2015a. A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã, www.profluizeduardo.com.br
LIMA, L. E. C., 2015b Considerações sobre a Monocultura de Eucalipto no Vale do Paraíba, www.profluizeduardo.com.br
LIMA, L. E, C., 2016 A Monotonia e o Perigo das Monoculturas, www.profluizeduardo.com.br
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03 maio 2015

Considerações sobre a Monocultura de Eucalipto no Vale do Paraíba

Resumo: Nesta semana estou trazendo um texto novo sobre uma questão relativamente antiga, que é a Monocultura de Eucalipto no Vale do Paraíba. Aproveitei um texto antigo (2008) e atualizei para esta publicação e acredito que tenha ficado bom. O texto trata da questão de maneira crítica e destaca os aspectos negativos e positivos do crescimento desse cultivo na região. São feitos questionamentos sobre a grande quantidade de área plantada para fins estritamente comerciais e sobre a falta de pesquisa de outras plantas nativas que possam substituir, ao menos em parte, as funções do eucalipto.


 

Considerações sobre a Monocultura de Eucalipto no Vale do Paraíba*

Já faz alguns anos, 30 pelo menos, que a região do Vale do Paraíba vem sendo “invadida” pelas “florestas plantadas de eucaliptos”. No início eram várias as empresas que atuavam na área, mas hoje toda a exploração é praticamente controlada por uma única empresa. Embora o número de empresas que atuam no setor tenha diminuído, o problema em si tem aumentado muito e agora atingiu proporções sem precedentes, haja vista que hoje existem mais de 350 fazendas na região com plantações significativas de eucaliptos. Alguns municípios da região têm mais áreas plantadas com eucalipto do que com qualquer outro uso ocupacional, em certos casos com área de plantio superior a 10% do total do município, o que caracteriza uma monocultura bastante abrangente. Houve municípios que já propuseram legislações específicas para definir áreas para o cultivo do eucalipto em suas terras e alguns até proibiram o plantio da cultura, mas a maioria ainda trata a questão superficialmente.

Quero deixar aqui claramente exposto que, embora eu tenha uma opinião pessoal sobre a questão, não vou defender uma posição contrária ou a favor do plantio de eucalipto no mundo, vou apenas tentar discutir a questão dessa monocultura no Vale do Paraíba, do ponto de vista histórico, social e ambiental. Obviamente toda história tem, pelo menos, dois lados e eu não vou fazer sensacionalismo e nem provocar uma “guerra fria” sobre o assunto, vou apenas e tão somente me ater aos fatos e ao conhecimento que se tem do assunto, tentando discutir esses aspectos e a partir deles deixar o leitor analisar e concluir sobre a problemática.

O eucalipto foi introduzido no Brasil na década de 1930. Isso quer dizer que os bisavôs da maioria das pessoas hoje vivas, nunca viram, se quer, um pé de eucalipto, pelo menos aqui no Brasil. Desde então se passou a plantar eucalipto, inicialmente apenas para a produção de carvão vegetal, depois como essência madeireira e mais recentemente se descobriu também sua aplicabilidade como matéria prima na produção de papel, além de sempre ter sido também empregado como terapêutico na área da saúde e como madeiramento estrutural na área da construção civil. Quer dizer, o eucalipto é realmente uma árvore importante e que historicamente sempre se apresentou com várias utilidades comerciais e consequentemente possui grande valor social e econômico.

Na época em que o eucalipto aqui chegou, nós ainda não tínhamos nenhum conhecimento acerca do que representava, do ponto de vista ambiental, a introdução de organismos exóticos e nem imaginávamos que o eucalipto fosse uma essência tão fortemente competitiva e que, além de tudo, exigia muita água do ambiente onde vivia. Aliás, naquela época, mesmo que soubéssemos de algumas dessas coisas, certamente elas ainda não eram considerados problemas ambientais e assim essas não eram questões importantes. Nós apenas sabíamos que o eucalipto produzia uma madeira reta, bastante uniforme e de boa qualidade para ser usada como lenha, ou na carpintaria e na marcenaria.

Hoje nós temos muitas informações sobre as questões ambientais e também sobre o eucalipto, inclusive sobre a sua capacidade de impedir que outras plantas se instalem e se desenvolvam nos locais onde ele se encontra, devido a sua capacidade competitiva. Sua exigência acentuada de água, principalmente nos primeiros anos de vida, que faz com que suas raízes pivotantes procurem água cada vez mais fundo, secando, ao longo do tempo, o ambiente à sua volta.

Ora, o Vale do Paraíba, como o próprio nome diz é um vale banhado pelas águas do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes e constitui-se numa região primitivamente plana e alagadiça, margeada por duas cadeias de montanhas, onde nasce e de onde correm as águas. A vinda e o plantio acentuado do eucalipto mudaram um pouco essa condição, pois as áreas alagadiças foram progressivamente desaparecendo, até porque uma planta como o eucalipto não se desenvolve muito bem num terreno alagado.

Entretanto, a condição hídrica do Vale do Paraíba e consequentemente o seu solo há muito tempo não são as mesmas do início (estado primitivo), por conta de sucessivos usos indevidos. Primeiro foram os cafezais, depois foi o pisoteio pelo gado leiteiro e o plantio da braquiária como forrageira para alimentar esse gado. O solo se exauriu e em muitas áreas da região chegou a estagnação quase que total, caminhando paulatinamente para a desertificação e inviabilizando qualquer tipo de uso, além do industrial ou do imobiliário, haja vista que a recuperação desse solo, embora possível, é extremamente vultosa do ponto de vista econômico.

A História do Vale do Paraíba nos mostra que sempre tratamos do solo e da água outrora bastante abundante na região de maneira errada. Destruímos toda a floresta primitiva da calha do vale e se também não destruímos totalmente as florestas de encosta das Serras do Mar e da Mantiqueira foi por causa do difícil acesso a algumas áreas, principalmente do lado Leste, onde fica a Serra do Mar, que embora mais baixa, apresenta um relevo mais complicado ao acesso humano. Não podemos mais nos dar ao luxo de degradar o que ainda resta.

Pouco sobrou do estado primitivo e esse pouco se encontra exatamente nas encostas das serras, pois no vale propriamente dito, praticamente toda a vegetação primitiva desapareceu. Por outro lado, mesmo os processos sucessórios naturais que se desenvolveram ao longo do tempo nas áreas abandonadas, levaram a formação de uma vegetação muito diferente daquela que anteriormente existiu na região. Em outro trabalho que publiquei (LIMA, 1989), chamei essa vegetação estranha de “cerrado valeparaibano” e de lá para cá esse termo tem sido repetido por vários autores.

Obviamente o eucalipto não tem culpa nenhuma desses fatos, porque as fazendas com o solo exaurido e a carência de água já estavam ocorrendo na região por conta do uso indevido histórico, muito antes da chegada do eucalipto. Mas, de qualquer forma, implantar a monocultura de eucalipto numa região com as características que o Vale do Paraíba apresenta hoje é o mesmo que “tentar apagar um incêndio colocando gasolina”, ou seja, isso só aumenta o problema e o risco de desertificação.

É claro que as empresas que exploram o eucalipto têm recuperado muitas áreas e isso seria muito bom se não fosse plantado o próprio eucalipto nessas áreas ou se fosse deixada alguma coisa sobre o solo posteriormente. Quando acaba o ciclo proposto, em torno de 21 anos, se o local onde se plantou o eucalipto for novamente recuperado e plantado tudo bem. Entretanto, não é isso que acontece e depois da última retirada da madeira, dificilmente nascerá qualquer coisa naquela área, pois o solo volta a ficar totalmente incapaz de manter qualquer cultura. Assim, o processo de desertificação desencadeia-se na área.

No início da década de 1990 tive a oportunidade de escrever um pequeno artigo (LIMA, 1992), onde chamei a atenção para a desertificação na região e sugeri algumas coisas a serem feitas para minimizar o problema. De lá para cá, nada mudou. Ou melhor, quase 25 anos depois, mudou sim, certamente a situação está muito pior do que antes, porque existem muito mais áreas abandonadas e nada foi feito em relação à questão.

Nosso país é primeiro do mundo em biodiversidade natural, com cerca de 20% das espécies vivas da Terra. Nada se compara ao Brasil no que diz respeito as diferentes formas de organismos vivos do planeta. Mas, aí fica a pergunta: será que nós não podemos encontrar uma essência nativa menos exigente que o eucalipto para suprir e quem sabe até superar os múltiplos usos do eucalipto para o bem do Brasil, da manutenção das florestas nativas brasileiras e quem sabe até da humanidade? Eu creio que a resposta para essa pergunta esteja na proporção direta do investimento em pesquisa que for feito para descobrir tal possibilidade. Entretanto, como não se investe nesse tipo de questão, dificilmente encontraremos a resposta. Infelizmente, sempre é mais fácil fazer o que já se sabe, importando tecnologia e pagando “royalties”, do que se tentar criar algo novo e diferente.

No que diz respeito ao nosso Vale do Paraíba acho que transcendemos o limite do possível e temos que começar a frear a monocultura de eucalipto na região, principalmente por conta da fragilidade ambiental em consequência dos erros históricos de ocupação e uso que o vale sofreu. No passado não tínhamos conhecimento e não sabíamos que fazíamos errado, nós apenas errávamos, achando que estávamos fazendo direito. Mas hoje, nós temos muitas informações e todos os motivos para não errarmos mais. Hoje, nós estamos cientes de que o interesse estritamente econômico de alguns pode nos levar a inviabilidade ambiental, social e econômica de toda a região.

Já destruímos e degradamos tanto que hoje nós sabemos que as florestas plantadas e monoculturas são maléficas ao meio ambiente e por isso mesmo só devem existir em áreas já degradadas. O Vale do Paraíba, como tantas outras áreas desse país, possui inúmeras áreas degradadas que podem e devem abrigar florestas plantadas. Entretanto, é fundamental que compatibilize a cultura que se quer plantar com as condições biogeoquímicas e climáticas da região. O eucalipto por vários aspectos não se presta à toda região do Vale do Paraíba, assim como outras culturas também não se prestam a todas as outras regiões. É preciso ter parcimônia e tratar a questão com todo o cuidado e atenção que ela merece.

Infelizmente, da maneira como tem sido desenvolvido o processo de cultivo, apenas os empresários e os comerciantes do produto conseguem ganhar com o plantio do eucalipto. Mesmo a geração de empregos no setor é muito pequena e o nível desses empregos é baixíssimo. Além disso, alguns municípios se quer ganham alguma coisa com o plantio em seus territórios, pois as sedes das empresas e distribuidoras das toras de madeira estão localizadas em outros municípios e todo o imposto acaba indo para esses outros municípios.

O que está faltando nesse país ou pelo menos aqui na região do Vale do Paraíba, é um projeto que viabilize novas tecnologias a partir da exploração de espécies nativas que possam ser economicamente tão viáveis quanto o eucalipto. Ao invés de ficarmos imitando o resto do mundo nas coisas erradas, por que não procuramos desenvolver tecnologias novas com coisas nossas? Não é possível que não se encontre uma planta na flora brasileira que não possa fazer tudo ou mesmo parte do que o eucalipto faz, sem causar os problemas que ele causa. Certamente essa planta existe, o que precisamos é trabalhar no sentido de procurá-la e encontrá-la e colocar seus benefícios aos interesses do Brasil e da população brasileira.

Há um ditado que diz que muitas vezes “o barato sai caro”. Plantar eucalipto pode ser aparentemente mais barato, entretanto, ao longo do tempo o preço a ser pago possivelmente não compensará a economia obtida no início. Quem continuar duvidando que pague para ver. Mas eu, humildemente, recomendo que se reavalie essa forte tendência de achar que o eucalipto é a solução de muitos dos problemas econômicos humanos da região. O eucalipto é uma planta importante, mas precisamos ter os pés no chão quanto à sua exploração intensiva.

No Brasil, em geral e no Vale do Paraíba, particularmente, o eucalipto, ainda que seja uma cultura importante, tem trazido mais problemas do que soluções para as populações locais onde ele é plantado em larga escala, exatamente porque não se estabelecem critérios para o plantio. Assim, como o interesse é estritamente comercial, planta-se a muda e corta-se o eucalipto ainda jovem, sem que haja tempo suficiente para que as plantas comecem a devolver aquilo que tiraram intensamente, porque não atingiram ainda seu estágio adulto, onde as trocas metabólicas passam a se equilibrar com o ambiente. Na verdade, a cultura intensiva está sempre tratando com o eucalipto jovem e talvez por isso o desastre seja efetivamente muito grande.

O problema mais agravante não está apenas na monocultura do eucalipto, mas sim na sua exploração intensiva, ocupando imensas áreas, sem controle e sem garantias de manutenção do solo e das águas dessas áreas para outros usos posteriormente. Na verdade a questão que se coloca é da sustentabilidade do plantio do eucalipto, ou seja, da condição ambiental, social e econômica desse plantio ao longo do tempo, para garantir os direitos das populações que ainda virão ocupar a região e que também deverão ter todo o direito de usá-la. Assim, creio que nós precisamos apenas estabelecer critérios mais sustentáveis sobre o plantio de eucalipto no Vale do Paraíba.

De qualquer forma, entre o nada e o eucalipto, que se plante o eucalipto, pois qualquer coisa é sempre melhor do que nada, mas é preciso que não se corte a floresta tão vorazmente. É preciso que se deixe a floresta seguir o seu curso em algumas regiões. Isto é, onde não há mais o que fazer, porque o solo efetivamente se exauriu totalmente, que se plante o eucalipto e que se deixe essa plantação apenas como cobertura para o solo. Ao longo do tempo, por pior que o eucalipto possa ser, ele ajudará na recuperação da área e algumas décadas depois, o sub-bosque que se formará completará o serviço, mas é claro que, por melhor que possa parecer, nada será como foi antes. Mas, ainda assim o resultado será ambientalmente benéfico.

Luiz Eduardo Corrêa Lima**

  REFERÊNCIAS LIMA, L.E.C., Considerações Ecológicas sobre o Vale do Paraíba, Fundação Nacional do Tropeirismo, Caçapava e Centro Cultural Objetivo, São Paulo. 1989. LIMA, L.E.C., A Desertificação do Vale, Jornal O Vale Paraibano, N˚. 1016, São José dos Campos, 10 de julho de 1992. LIMA,L.E.C., A Questão da Monocultura do Eucalipto no Vale do Paraíba, www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, (T1122038), 10 de agosto de 2008.   *Este artigo foi modificado e atualizado pelo próprio autor a partir do texto original: “A Questão da Monocultura do Eucalipto no Vale do Paraíba”, publicado em 10/08/2008, no site www.recantodasletras (T1122038). **Luiz Eduardo Corrêa Lima (59) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor, Ambientalista e Membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CBH/PS); foi Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA/SP), Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.]]>

21 abr 2015

Enriquecimento Humano X Empobrecimento Ambiental na Região do Vale do Paraíba do Sul

Resumo: Nesta semana estou trazendo um texto antigo, que foi publicado pela primeira vez em 2008, mas que continua atualíssimo. O texto trata da questão da ocupação e do desenvolvimento do nosso Vale do Paraíba do Sul, que infelizmente continuam acontecendo para os interesses particulares de alguns, em detrimento das necessidades da grande maioria de cidadãos da região, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente e com o recursos naturais. Existe uma necessidade premente de mudança dessa postura para que se possa manter a qualidade de vida e garantir o desenvolvimento sustentável da região.


Enriquecimento Humano X Empobrecimento Ambiental na Região do Vale do Paraíba do Sul

A História até tem demonstrado que toda vez que o homem pensou e agiu apenas economicamente, os resultados foram terríveis para o ambiente e consequentemente para a qualidade e vida dos próprios humanos. Aqui no Vale do Paraíba do Sul não tem sido diferente e nós já deveríamos ter aprendido a pensar de outra forma e agir de acordo com essa nova forma, mas até hoje não fizemos o dever de casa e continuamos pensando apenas economicamente como o resto do país e de grande parte do planeta. Esse ensaio tem a pretensão de analisar e comparar os grandes projetos e programas econômicos desenvolvidos na região com seus respectivos resultados sociais e ambientais.

A região começou a sofrer desde cedo, ainda no século XVIII, com a exploração da cana-de-açúcar, porém naquela época as culturas eram praticamente de subsistências e, embora já fossem danosas, ainda não causavam grandes impactos ambientais, apenas trocavam parte da vegetação natural pelo cultivo da cana-de-açúcar. As populações daquela época eram ainda muito pequenas, os interesses econômicos locais ainda muito insipientes e assim não havia grande significado nos impactos ambientais produzidos.

Com o advento da Monocultura Cafeeira, a partir de 1820, foi que coisa começou a ficar bastante desagradável ao Meio Ambiente na nossa região, pois foi nessa época que a vegetação nativa começou a sofrer grandes modificações para dar lugar a imensas plantações do café (Coffea arabica), o famoso “ouro negro”. A vegetação natural do Vale do Paraíba do Sul, propriamente dito, e parte das encostas das Serra do Mar e da Serra Mantiqueira praticamente foram exterminadas, restando apenas poucos e parcos capões em algumas áreas de difícil acesso ou por interesses particulares de alguns proprietários mais cautelosos e coerentes ou menos avarentos. No restante das áreas, onde foi possível o café foi plantado.

Foram cerca de 100 anos de Ciclo do Café, que endinheirou muitos fazendeiros, que cresceu (inchou) as cidades e que levou o Vale do Paraíba a ser a região maior produtora e exportadora de café do país. Muita gente ficou rica, mas o crescimento (inchaço) das cidades naquela época, trouxe problemas ambientais sérios e a quantidade de pobres na região já era muito maior do que a de ricos. Primeiro porque no início a mão de obra era escrava e não fazia parte da balança comercial e muito menos da circulação do dinheiro e segundo porque o grande produto econômico ficava em poder de pouquíssimas pessoas, as quais eram efetivamente muito ricas, mas viviam cercadas de muita gente pobre à sua volta.

O dinheiro e a riqueza produzidos pelo café não trouxeram riqueza para as populações locais e muito menos para a região que se viu totalmente destruída, do ponto de vista ambiental, por conta da exploração exacerbada do solo pela monocultura cafeeira. O solo estagnou e não aguentou a pressão exercida. Assim, ao longo do tempo, o café entrou em declínio, os ricos foram minguando e a maioria das populações, os pobres, foram sucumbindo ou abandonando a região por falta de emprego e de melhores condições de vida.

Algum grande “gênio” então descobriu que o Gado Leiteiro seria a salvação da região e alguns dos ricos remanescentes da época do café introduziram a gado leiteiro no Vale do Paraíba para solucionar os problemas econômicos locais. No início a coisa até que foi bem, porém (e sempre há um, porém) aquele solo cansado pela monocultura cafeeira e que agora era pisoteado pelo gado, tornando-se cada vez mais compacto, começava a estagnar e nem o capim estava brotando mais. Desta maneira a criação do Gado Leiteiro também começou a andar para trás e mais uma vez, as populações pobres ficaram mais pobres e o solo entrou em colapso. Algum outro “gênio” ainda tentou amenizar a situação, através da introdução na região de um capim diferente (exótico) que brota, cresce, reproduz rapidamente e se constitui numa excelente forrageira, a Braquiária (Brachiaria decumbens). Esse capim, que além de todas as benesses citadas, também tem muita sede e se constitui numa espécie extremamente competitiva, rapidamente acabou por secar e estagnar o solo de uma vez por todas, além de exterminar grande parte das Gramíneas nativas em várias localidades da região. Assim, mais uma vez o ambiente foi degradado e as populações pobres ficaram ainda mais miseráveis.

Outro gênio (esse, depois e tanta desgraça, finalmente parece ter acertado) surgiu e descobriu que uma região como a nossa, localizada entre as duas maiores capitais do país e cortada por uma “grande avenida”, não poderia mesmo ser outra coisa que não fosse um grande centro industrial. Até porque, verdade seja dita, a região não podia mais nada, do ponto de vista agrícola, porque o solo já estava totalmente comprometido. Entretanto, a opção feita pela indústria automobilística, mais uma vez trouxe riqueza somente para alguns, porque acabou por trazer também as mazelas da poluição industrial, o inchaço e o enfavelamento das cidades, a ampliação das populações pobres e assim também o aumento quase incontrolável da poluição orgânica, haja vista que a grande maioria das cidades não tinha e ainda não têm tratamento de esgotos.

Como agravante, ainda foi feita a opção pela Rodovia que passou a utilizar o automóvel como meio de transporte, abandonando a Ferrovia que utilizava o trem, um transporte barato, não poluidor e que quase não oferecia riscos. Em contra partida, o veículo automotivo, além de muito caro, é mais poluidor e mais perigoso sob todos os aspectos. A estrada, para alguns, representava o progresso, teve até um Presidente desse país (Washington Luís Pereira de Sousa) que ficou famoso por conta da seguinte frase: “governar é construir estradas”. Talvez, por causa disso, a nossa estrada principal, a Dutra, leva o nome do Presidente que a idealizou, Eurico Gaspar Dutra.

Essa falsa noção de progresso sempre foi a nossa maior desgraça. Essa nossa mania de país pobre que quer imitar os países ricos só nos tem levado a sofrer prejuízos sociais e principalmente ambientais imediatos, além de prejuízos econômicos secundariamente. Porém, como sempre colocamos o interesse econômico na frente, só somos capazes de observar os malefícios depois de algum tempo, quando os problemas econômicos começam a aparecer. Ainda não aprendemos que temos que abrasileirar e não estrangeirar o Brasil.

Depois disso, a indústria se diversificou para pior, porque aí vieram as indústrias químicas, as petroquímicas e as reprocessadoras de metais pesados, todas altamente poluidoras. A região que já não tinha qualidade ambiental ficou definitivamente à deriva. Cabe ressaltar que as cidades cresceram (incharam) e alguns administradores locais entenderam isso como desenvolvimento. Até hoje ainda se houve muito a frase: “precisamos trazer indústrias para o nosso município” da boca de vários prefeitos, sob a alegação ingênua e infeliz de que as indústrias são as únicas coisas capazes de gerar o emprego.

O problema em si não está em trazer indústrias, mas sim em não se discutir que tipo de indústrias a região e as populações podem suportar e que tipos de empregos serão bem vindos. Não nos cabe aqui questionar se queremos morrer de fome por não ter empregos ou envenenados por trabalhar numa indústria contaminante, pois a princípio não queremos morrer de maneira nenhuma. Temos que cuidar da nossa fome e de nossas outras necessidades, mas não precisamos decretar a nossa morte prematura para isso. Em suma, não é qualquer emprego que resolve qualquer problema social e essa questão é muito mais profunda e complexa para que ser discutida nesse ensaio. Portanto, vamos deixá-la de lado.

Nessas alturas o Vale do Paraíba encontra-se totalmente degradado, com as cidades inchadas (cerca de 85% da população da região é urbana), com inúmeras indústrias poluentes, com a descaracterização total dos ambientes naturais. Ainda por cima, com a contaminação quase total das águas da Bacia Hidrográfica por conta do uso indiscriminado de agrotóxicos e inseticidas nas poucas lavouras que tentaram subsistir, particularmente o cultivo de arroz. Além disso, também por causa do grande problema da região que é a poluição orgânica produzida pelo esgoto doméstico não tratado na grande maioria das cidades da região, em especial as cidades com as populações maiores, aquelas que cresceram (incharam) mais rápido.

Se não bastasse tudo isso, recentemente outros “gênios” inventaram dois novos mecanismos para solucionar os problemas e a região voltar a “crescer”. O primeiro deles foi a Mineração de Classe II, nome pomposo para a Exploração de Areia, que, além de ser uma prática socialmente injusta, pois só traz lucro para os donos do negócio é hoje também o maior fator de degradação ambiental da região. As mazelas produzidas pela exploração de areia na região já degradaram áreas significativas da várzea do Rio Paraíba do Sul e têm causado sérios problemas para alguns municípios.

O outro “grande negócio” recém descoberto é a monocultura do eucalipto (Eucalyptus grandis) para a produção de papel. No início desse negócio na região, meados da década de 1980, atitude de algumas empresas chegava mesmo a ser criminosa, pois desmatavam alguns dos parcos capões de matas naturais remanescentes das áreas de encosta das serras, apenas para plantar o famigerado eucalipto. Mas, ao que parece essa prática criminosa, hoje não existe mais. Por outro lado, no primeiro momento como grande parte da região está com seu solo estagnado, em certo sentido, o plantio de eucalipto é até interessante, porque muitas áreas degradadas estão sendo recuperadas pelas empresas que trabalham nesse negócio.

Entretanto, o que se está vendo em toda região é a volta de uma exploração intensiva de uma monocultura exótica, muito mais exigente e danosa que o café, sobre um solo já comprometido. A expectativa que se tem desse grande eucaliptal de hoje é a desertificação da área amanhã. O eucalipto já demonstrou o seu potencial como planta de grande utilidade, porém nossa região é ambientalmente muito frágil para suportar essa coisa monstruosa que estamos vendo.

Mais uma vez, agora já no século XXI, estamos fazendo coisas erradas. Estamos colocando o interesse econômico na frente dos interesses ambiental e social. Mais uma vez, estamos nos iludindo com a possibilidade de produzir alguns novos ricos e a certeza de ganhar muitos pobres. Quando será que vamos colocar na cabeça de nossas populações e principalmente de nossos administradores públicos que a vida é o bem maior que temos e que devemos pensar primeiro na vida para depois pensar nos outros aspectos, pois todos esses aspectos são certamente secundários.

Precisamos pensar na qualidade de vida antes de qualquer outra questão. Estar vivo e continuar vivendo, este sim é o grande negócio. Precisamos entender que inchaço não é crescimento, pois o inchaço resulta de infecção e essa, por sua vez, é resultante de uma contaminação que agride a vida. A História está aí para nos mostrar o quanto erramos e nós já deveríamos ter aprendido com os erros que cometemos no passado. Não adianta nada querermos o enriquecimento de nossas populações a partir do empobrecimento de nossa qualidade ambiental, pois uma coisa está associada à outra.

A equação é simples: “se nós não cuidarmos do nosso Vale do Paraíba ambientalmente, jamais conseguiremos uma boa condição social e o tão sonhado enriquecimento econômico de nossa população”. Portanto, mãos à obra. Recuperemos o nosso Vale do Paraíba ambientalmente e desenvolvamos projetos que tenham como objetivo primário a manutenção da qualidade de vida de nossa gente, pois o enriquecimento econômico de nossa população será uma consequência natural desses projetos.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Artigo originalmente publicado no site do Recanto das Letras, em 03/08/2008 (T1111438).
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11 mar 2015

Cordel da Falta d´água na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Resumo: O texto desta semana é um Cordel, que procura contar o que está acontecendo com a situação da água na Bacia Hidrográfica do Vale do Paraíba do Rio Paraíba do Sul e que propõe, numa linguagem clara e simples, como é típico na Literatura de Cordel, algumas sugestões do que pode ser feito para minimizar ou mesmo para resolver os problemas estabelecidos. Por outro lado, a história da Bacia Hidrográfica e da região do Vale do Paraíba do Sul, além da fé e da religiosidade da população valeparaibana também são trazidas à baila e demonstradas no texto.


 

Cordel da Falta d´água na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Cadê a agua que vinha de riba e que descia pelo Paraíba? Cadê a água que vinha do alto e que corria pelo rio abaixo? Cadê a cheia das represas que sobrava nas barragens a mil? Cada a água de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil? Onde está a água meu Deus? Por que será que ela sumiu? E agora que a água se foi, Para acabar de vez com a festa, Querem levar o que resta a outras paragens, outro local. Querem mandar para ribeira, fazendo subir pela Cantareira para abastecer a capital. Mas, e nós, donos da água, daqui na nossa terra natal, vamos ficar na seca total? Acho que isso não é legal. E mesmo que seja legal, certamente será imoral. Não faz sentido, eu lamento, tirar nossa alimento e sustento, trocando as águas com o tempo, deixando nosso povo ao relento. Povo que segundo a história, na passagem de muitos anos, ajudou o Brasil e sua glória. Da travessia para as alterosas, subindo ao topo da Mantiqueira, para encontrar pedras preciosas, chegando à produção cafeeira, a grande projeção brasileira, até o desenvolvimento industrial, hoje a maior riqueza regional. No que se refere a água, fazemos mais que a obrigação, doando parte dessa riqueza para gente de outra população, que segue pouco mais adiante, rio abaixo e a montante, lá no estado do Rio de Janeiro, outro grande estado brasileiro, cuja capital e cidade principal, também foi a capital Federal. No passado, naquela cidade, por sina, por vontade divina, ou apenas pura infelicidade, a falta d`água era quase total e seu solo era puro sal. Não fosse nossa colaboração, dando água àquela população, talvez toda a beleza e grandeza, daquela imensa cidade não pudesse existir de verdade. Mas, com o Rio Paraíba, nossa inteligência e prudência e também  com nossa bondade tiramos a capital da carência, com água e vida em qualidade. Nosso Vale da água abençoada, onde apareceu a famosa Santa, que apadrinha e protege o país, Aparecida, que nos encanta, e que nos torna mais feliz. A Santa que surgiu do rio, das águas Paraíba do Sul e hoje, coroada como rainha e vestida em seu manto azul, protege o Brasil de Norte a Sul. É essa água de origem mágica, o nosso manancial sagrado, que hoje está mal tratado, por desleixo, por descaso, falta de atenção e de zelo. Essa riqueza abençoada, agora está desaparecendo. Toda a Bacia do Rio Paraíba está carente e empobrecendo. A vida na região vai perecendo apesar do rio, da Santa, de nosso apelo e lamento. Esquecemos nossa missão relevante, compromisso com o futuro adiante, não cuidamos das fontes d`água, secamos muitas das nascentes, criamos situação preocupante para nós e para muita gente. Agora temos que rezar à Santa, para que ela apareça de novo e com sua força que é tanta, traga água para o povo. Nossa Santa forte e de luz, Aparecida, a mãe de Jesus, de certo nos devolverá nossa paz e o bem viver, porque a água voltará a verter. Fiquem atentos porque em breve, a nossa Bacia vai renascer, a água vai voltar a jorrar e correr e as represas de novo vão encher. Certamente não faltará água, pois Nossa Senhora vai interceder. E mesmo com nova transposição, a água seguirá abundante, e o Paraíba seguirá rumo adiante, indo atravessar o Rio de Janeiro, fertilizando aquele estado inteiro, até chegar na foz, em Atafona, onde o Atlântico lhe espera, e ele completa seu eterno ritual. Gradualmente o Paraíba se encerra, vai descansando devagar e pontual. Além de sua água milagrosa, leva o brio e força de homens e de mulheres belas e valorosas do vale a quem empresta o nome. Gente que conhece suas águas, sabem que elas são poderosas, que nunca vão parar de correr e muito menos de existir, muito embora, algumas vezes, novamente, até possam diminuir. Mas esse será apenas um recado. lembrete de Deus e da Santa, para a gente não se esquecer do rio que nos viu nascer. Cuidemos bem do Rio Paraíba e ele seguirá cuidando do Brasil, Cuidemos mal do Rio Paraíba e não haverá mais água por aqui. Nem aqui, nem na capital estadual e muito menos na ex-capital federal. Não haverá água nas represas, nem Paraibuna, nem Santa Branca, não haverá nem mesmo a pretensa transposição, do Jaguari para a Cantareira e isso soará como brincadeira. Assim, a água não chegará nem perto do lago de Funil. Todo cidadão no Rio de Janeiro de outra fonte dependerá, se quiser encher o seu cantil. Se não guardarmos toda a Bacia, qualquer coisa que se queira fazer, será apenas mais especulação, porque a água irá desaparecer e não haverá nenhuma solução. Para guardar a Bacia Hidrográfica Serão necessárias várias medidas. Manter a flora, com plantas nativas, reflorestando todas as nascentes e margens das águas correntes, controlando a erosão nociva, impedindo o desbarrancamento e controlando o assoreamento. Preservar e proteger as vertentes, garantindo o não secamento. Tratar o esgoto doméstico e industrial, evitando a poluição hídrica geral. Não usar os venenos e tóxicos, que vão se acumulando no solo, degradando todo seu potencial, exterminando os microrganismos, desertificando alguma área regional. Minimizar a poluição da atmosfera, limitando as fuligens e o metano, controlando a taxa de ozônio, óxidos de enxofre e nitrogênio, e do perigoso monóxido de carbono. Assim, melhorando o ar e garantindo nosso oxigênio. Diminuir os gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico, que além de causar poluição aérea, também interfere no clima total, e que hoje é causa mais séria do terrível aquecimento global. Acabar ainda com os particulados, Que há muito têm se acumulado E que causam preocupações Ao ambiente em geral, pois caem do ar sobre o chão e se acumulam por gerações, ou então correm para as água, causando mais poluição. Sigamos pois, nossa obrigação, cuidemos da Bacia inteira e auxiliemos a nação brasileira, pois Nossa Senhora Aparecida, lá do alto está nos vendo e podem estar certos que ela, com muito amor e paixão, seguirá sempre nos protegendo. Diante dessa clara situação, não faltará água à população e sobrará amor no coração, para superar outras crises e reverter qualquer situação.

 

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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06 mar 2015

A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã

Resumo: O texto desta semana faz uma comparação entre o passado, o presente e o que se espera para o futuro de nosso Vale do Paraíba, considerando a situação que se produziu, ao longo de sucessivos erros no processo de ocupação do espaço regional. Fica claro que a região ainda pode atingir alto grau de desenvolvimento sustentável, entretanto tudo dependerá das ações políticas ambientais que forem tomadas, principalmente agora que compomos uma região metropolitana. Essas ações têm que seguir critérios rígidos de ocupação visando a sustentabilidade do Vale do Paraíba. Por outro lado, é fundamental que as posições assumidas e as posturas tomadas na região não sejam ações isoladas, porque há necessidade de que essas ações sejam promovidas, divulgadas e se possível multiplicadas por outras regiões, a fim de que se possa vislumbrar e tentar garantir cada vez mais a sustentabilidade ambiental planetária.    


A Ocupação e a Preservação do Vale do Paraíba: Ontem, Hoje e Amanhã

Meu objetivo nesta palestra é tentar fazer uma comparação entre a situação ambiental existente no Vale do Paraíba, desde antes da chegada do homem branco até os nossos dias e, a partir disso, fazer uma projeção para a situação futura que poderemos esperar para a região. Farei na verdade uma viagem no tempo, tendo como base o Vale do Paraíba e colocarei aqui o meu sonho de futuro, não apenas para o nosso Vale, como também para todo o planeta Terra. Espero que Deus me ajude no desenvolvimento de minhas ideias e que os senhores possam acompanhá-las e assim, possam compartilhar do meu raciocínio.

COMO ERA O VALE DO PARAÍBA ONTEM?

  1. Antes da chegada do homem branco, cerca de 90% do Estado Primitivo da região do Vale do Paraíba do Sul era composto de Florestas. A Mata Atlântica Primária ocupava a grande maioria das áreas da região, mas existiam algumas áreas abertas de campos e campinas. Obviamente anda não existiam espécies exóticas na região.
  2. A ocupação antrópica era apenas da comunidade Indígena. Até a chegada do homem branco existiam várias grupos de Índios da tribo dos Puris espalhados pela região, desde o que hoje é a cidade de São José dos Campos até Bananal, adentrando por Resende já no Rio de Janeiro, porém todos os grupos continham populações relativamente pequenas.
  3. As Águas estavam em excelentes condições, livres de poluição. Havia grande diversidade de fauna ictiológica. Conta à história que os Puris eram bons pescadores e que a pesca era sua principal fonte de alimento. Além disso, havia ausência total de contaminantes e certamente havia muita luminosidade, muitas algas e muita fotossíntese, o que garantia grande quantidade de oxigênio disponível.
  4. A Fauna e Flora estavam quase que praticamente Intocáveis. As Florestas eram exuberantes e densas, por conta disso podiam abrigar grandes Populações de Animais. As Comunidades Biológicas (Biocenoses) eram ricas e os Ecossistemas naturais eram complexos e com alta biodiversidade.
  5. A Geologia era primitiva e natural, era um retrato da evolução e da geodinâmica que o planeta desenvolveu no local. Isto é, a Formação Geológica do Vale do Paraíba era aquela que a natureza havia desenhado ao longo a Evolução. As Intempéries eram fatores regulados pela própria natureza, que da mesma forma que destruía, também corrigia e reconstruía. Por pior que fosse a catástrofe, o seu limite dimensional era compatível com a resistência natural.
  6. O Solo da região era saudável o suficiente para garantir a vida nos ambientes terrestres e enriquecer bastante os ambientes aquáticos, quando carreado para os cursos d’água. Não havia nenhum tipo de contaminação dos solos e por isso eles eram capazes de manter a vida em qualidade e quantidade.
  7. O Ar era límpido e quase totalmente puro. Não existiam sustâncias estranhas no ar, quando muito uma queimada natural liberava um pouco mais de CO2 e alguma fuligem, mas não existiam outros contaminantes e poluentes químicos.
  8. A Poluição não existia e os Ecossistemas estavam certamente bem equilibrados. Tudo que existia de vivo era consequência do Estágio Clímax Natural das Comunidades Biológicas existentes na região. Não havia nenhum tipo de agente biológico estranho.
  9. A Exploração dos Recursos Naturais era muito pequena. Havia caça e pesca, retirada de rochas e derrubada da mata, mas tudo em doses homeopáticas e pouco significativas. O Impacto Ambiental Antrópico sobre a região, embora já existisse, era praticamente desprezível.
  10. Além de tudo disso, havia tempo e havia espaço suficiente para corrigir possíveis danos ambientais. Mesmo que se produzisse algo de significativo impacto ambiental negativo, existia possibilidade de recuperação natural, porque todos os ecossistemas estavam em condições de se recuperar naturalmente.

COMO ESTÁ O VALE DO PARAÍBA HOJE?

  1. Mais de 90% de áreas naturais degradadas e quase totalmente sem florestas. Pouquíssimas Florestas naturais e grandes áreas plantadas com essências exóticas. Introdução de diferentes culturas agrícolas de diversas origens, além de áreas de pastagem com Brachiaria e áreas de reflorestamento com Pinus e Eucaliptus.
  2. A ocupação foi feita e continua sendo desordenada e sem critério, com a maioria das populações nas margens dos rios, em particular do Rio Paraíba do Sul, calha maior da região e por isso mesmo principal componente da Bacia Hidrográfica. Hoje a população do trecho paulista do Vale do Paraíba é superior a 2 milhões de habitantes. As cidades não crescem, porque a qualidade de vida piora progressivamente, entretanto essas cidades incham sem a infraestrutura necessária para suportar o aumento populacional inconsequente. 3. A Água está extremamente contaminada em vários locais, principalmente por conta do Esgoto Orgânico das cidades, mas ainda com altos padrões de toxicidade química em algumas áreas, inclusive com a presença de metais pesados. Há uma baixa diversidade faunística e florística nos ambientes hídricos. Pouco oxigênio disponível, com a taxa de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) chegando algumas vezes a 0% em vários locais da região. Alguns córregos e riachos que atravessam áreas urbanas estão totalmente mortos. 4. A Fauna e Flora quase que totalmente modificada pela introdução de inúmeras espécies exóticas para os mais diversos fins, muitas das quais já dominaram os ambientes locais e hoje são selvagens, pois se naturalizaram. Florestas pobres e frágeis e pequenas populações animais. As Comunidades Biológicas (Biocenoses) são pobres e os Ecossistemas estão pouco diversificados.
  3. A Geologia mudou tanto fisionômica quanto fisiograficamente. Derrubamos montanhas, abrimos túneis, destruímos pedreiras, retiramos minérios, secamos nascentes, represamos rios, mudamos os cursos de rios, criamos e destruímos lagos, fizemos transposições de águas. Agora mesmo estamos construindo novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) absurdas na região e discutindo a possibilidade de mandarmos água de nossa Bacia Hidrográfica para a região metropolitana da capital do estado. Por conta desses absurdos, as intempéries agora são extremamente destruidoras e incontroláveis.
  4. O solo está quase totalmente perdido, degradado, compactado, contaminado e envenenado. Os microrganismos que lhe davam vida perderam-se por conta do mau uso e da destruição por conta de práticas agrícolas errôneas e infundadas, que aconteceram ao longo do tempo e que infelizmente ainda acontecem atualmente. Monocultura e Mineração ainda são palavras chaves no pensar de muitos e com isso o processo de desertificação já é realidade em algumas áreas.
  5. A qualidade do ar está bastante comprometida em algumas áreas, principalmente nas imediações das zonas industriais das cidades, onde há locais com grande acúmulo de poluentes atmosféricos, mormente no trecho compreendido entre os municípios de Jacareí e Pindamonhangaba. As chuvas ácidas já ocorrem e o aumento da concentração de poluentes ao longo da via Dutra e nos centro urbanos das cidades maiores, em consequência da fumaça produzida por veículos, já é uma perigosa fonte de doenças respiratórias. Não bastasse isso, somos a maior concentração bélica do país e a Via Dutra é o local de tráfego diário de inúmeras cargas perigosas e ainda por cima estamos dentro dos limites de abrangência de qualquer acidente Nuclear que possa ocorrer nas Usinas de Angra dos Reis.
  6. Hoje, além da poluição, os ecossistemas naturais estão todos desequilibrados, degradados e descaracterizados. Poucos são os remanescentes de áreas naturais e mesmo o ambiente antrópico construído encontra-se em condições precárias à qualidade de vida. A modificação ambiental é extremamente degradante e muitos organismos já se extinguiram precocemente na região.  Os agentes estranhos (poluentes e contaminantes) lamentavelmente estão em todos os ambientes naturais e construídos, muitas vezes em níveis perigosos à saúde e alarmantes ao ambiente como um todo.
  7. A Exploração dos Recursos Naturais quase que exauriu todas as fontes que estão limitadas as Áreas de Preservação Permanente (APP) e algumas Unidades de Conservação Integral e de Uso Sustentável. O Impacto Ambiental Antrópico tem sido danoso, violento e tem causado muitas complicações, a maioria das quais, produziu mudanças irreversíveis sob vários aspectos. Mudamos praticamente toda a natureza da região. 10. Agora não há mais tempo e muito menos espaço para nada. Temos que pensar e fazer o Desenvolvimento Sustentável ou então pereceremos. Não há mais como os ecossistemas se recuperarem por si só. E mesmo com toda capacidade Tecnológica que hoje temos a nossa disposição é impossível recuperar tudo, até porque há coisas que não existem mais. Além disso, também seria impossível para nós, humanos modernos, retroagirmos aos modelos e mecanismos do homem primitivo. Temos que viver e conviver com a realidade que está aí estampada e mudá-la progressivamente para melhor. A qualidade de vida não pode ser diletantismo, ela tem que ser a meta que norteará a construção da nova realidade.

COMO DEVERÁ SER O VALE DO PARAÍBA AMANHÃ?

Não é mais possível retroagirmos e voltarmos às condições primitivas e creio eu que, nós também não queremos e nem devemos de forma alguma pensar dessa maneira, mesmo que fosse possível essa retroação. Ao contrário, nós temos que acreditar no homem, na sua inteligência e no seu poder criador e por isso mesmo, temos que admitir que a mesma Ciência e Tecnologia que nos trouxe ao atual estado de coisas, deverá ser também quem nos permitirá sair dele. Não queremos a volta às cavernas.

Nesse sentido vale a pena lembrar o saudoso Chico Xavier, quando ele disse que: “é impossível voltar no tempo e fazer uma novo começo, mas é possível [e bastante viável] modificar o rumo da história e produzir um fim diferente daquele que se anuncia”. Acredito que nós somos os próprios construtores de nossa história e podemos transformá-la da forma como quisermos.

Sendo assim, acredito que só existem duas formas distintas e bastante antagônicas de imaginarmos o Vale do Paraíba do Sul do futuro: Uma delas, numa visão pessimista e a outra numa visão otimista. A escolha é nossa, pois, como eu já disse, somos, além de atores, também os agentes de nossa história e da história próxima passada desse planeta que nos abriga.

Aliás, sempre é bom ressaltar. A opção sempre foi nossa, pois o homem é a única espécie capaz de mudar parcial ou totalmente a realidade a sua volta e desta forma, também é a única espécie capaz de planejar e desenvolver o seu futuro planetário. Portanto, se há um culpado pelo atual estado planetário, esse culpado é o homem como espécie.

Se nós somos os responsáveis pelos problemas, então também devemos ser capazes de, pelo menos, tentar soluções. Sendo assim, criaremos então os dois cenários para a resolução dos problemas de nossa região.

No primeiro cenário o Vale do Paraíba é parte integrante de um todo maior. Aliás, é uma pequeníssima parte desse todo maior chamado Planeta Terra. Nesse cenário não é possível resolver nada por aqui, se o todo não começar a se resolver também. Qualquer evento isolado é paliativo e não resolve o problema algum, embora até possa minimizar momentaneamente os efeitos do problema. Infelizmente não está parecendo que a maioria dos dirigentes dos diferentes países do mundo esteja pré-disposta a tentar mudar a cara do planeta.

Se até existem alguns humanos que estão propensos a melhorar a qualidade de vida, infelizmente muitos ainda não caíram na realidade ou não querem admiti-la e agem como se nada estivesse acontecendo com o planeta. A preocupação da grande maioria dos humanos continua sendo única e exclusivamente econômica. É de estarrecer, mas infelizmente o dinheiro ainda está acima de tudo na cabeça das pessoas.

Desta forma, não vai adiantar muito fazermos alguma coisa aqui no Vale do Paraíba, porque o planeta parece estar fadado a assumir condições piores e certamente o homem como espécie não sobreviverá a isso. Nem aqui e nem em nenhum outro lugar do planeta. Neste cenário, só nos resta o fim e a extinção compulsória de nossa espécie.

Isso é muito forte e nós, seres humanos sensatos e preocupados com a nossa espécie, não podemos nos dar o direito de nos acomodarmos com isso e de simplesmente esperarmos o fim, como verdade compulsória e única dos próximos e prematuros tempos. Não dá para ficar daquela forma como diz o ditado: “se é inevitável, então relaxe e goze”. Não, mil vezes não! Por mais que se pareça inevitável e irreversível o quadro atual, eu não quero acreditar nisso. Não vou ficar esperando a morte chegar, sem tentar mudar essa realidade. O homem tem que reagir e como eu mesmo já disse e publiquei numa outra oportunidade: “nossa espécie não pode morrer tão jovem, dentro de um universo tão velho” (LIMA, 1995).

Desta maneira nos sobra apenas e tão somente a segunda solução possível, que embora pareça mais difícil, tem que ser aquela que abraçaremos e tem que ser aquela que dará certo e que nos levará a continuar essa caminhada evolutiva pelo nosso planeta azul. Entretanto, só existe um mecanismo capaz de nos permitir a chegada nessa meta. Esse mecanismo denomina-se SUSTENTABILIDADE ou DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Palavra que já está vulgarizada e gasta, mas cujo sentido ainda não foi entendido pela maioria das pessoas que a utiliza. Para somar a mídia ainda reforça progressivamente o conceito errado e ajuda a desinformar cada vez mais as pessoas (LIMA, 2005). Mas, como faremos para chegar à verdadeira Sustentabilidade?

Bom, primeiramente vamos tentar definir o que deve ser entendido como sustentabilidade de maneira mais ampla possível.  De maneira simples a sustentabilidade consiste em garantir um mundo melhor para as gerações que ainda vão nascer e para garantir isso ela está embasada em três aspectos (pilares) fundamentais: o ecológico, o social e o econômico, nessa ordem. Pois então, a Sustentabilidade é por isso mesmo, um negócio extremamente diferente de quase tudo que temos visto até aqui, porque para agir sustentavelmente temos que pensar de outra forma, que é bastante distinta daquela que estamos acostumados a pensar, pois temos que sair do pensamento estritamente econômico. Isto é, o componente econômico até continua existindo, mas ele é o terceiro na ordem de importância.

A sustentabilidade também é algo bastante complexo porque envolve um alto grau de ações, as quais estão relacionadas com todas as atividades humanas produzidas na sociedade e no planeta. Por fim, sustentabilidade e um mecanismo extremamente abrangente porque engloba e interfere em todas as áreas e todas as coisas que o homem como espécie biológica viva atua, tanto no nível natural, quanto social.

Em suma, sustentabilidade é uma atividade que requer uma nova visão de mundo, uma nova Cosmologia e assim exige mudança de Filosofia, de Comportamento e de Conduta nos seres humanos. Na opinião de alguns cientistas a sustentabilidade é algo tão estranho a maioria dos nossos modelos de civilização que acaba por ser utópica, ou seja, é impossível de existir e de aplicar esse conceito genérica e generalizadamente. Entretanto, temos que buscá-la a qualquer preço. Temos que caminhar atrás dessa utopia, pois só ela pode nos conduzir ao futuro e aos dias melhores que queremos dar as gerações vindouras.

Numa visão mais simplista sustentabilidade quer dizer que: precisamos nos tornar um só.

Teremos que nos tornar numa grande colônia que tudo fará para continuar vivendo nesse planeta que nos abriga. Seremos um imenso organismo colonial. Isto é, seremos, a partir de agora, pouco mais de 7 bilhões de humanos agindo e pensando em continuar, em seguir em frente e evoluir, trabalhando efetivamente para que isso seja possível. É claro que muitos organismos da colônia naturalmente irão morrer como acontece em qualquer colônia, mas a colônia como um todo sobreviverá e assim terá continuidade futura. Esse deve ser o nosso objetivo fundamental.

Temos que mudar o nosso pensamento, mas para tanto, temos que acreditar que isso é verdadeiramente possível. Temos que entender que qualquer um de nós é parte de um todo maior e essa será a nossa grande mudança filosófica. O mundo não se esgota em mim, porque eu sou apenas e tão somente uma pequeníssima partícula dentro do universo populacional da humanidade que constrói a grande colônia humana no planeta. O outro, humano ou não, também sou eu, porque eu dependo dele, ele depende de mim e o planeta depende de ambos. O respeito ao outro ser vivo é fundamental, independente de quem seja ele, o planeta depende de sua existência, senão a evolução não teria permitido que ele sobrevivesse.

Temos que sair do egoísmo e esquecer certos valores falsos que nos foram estabelecidos e que infelizmente cultivamos e aprimoramos ao longo da história por várias causas distintas que não cabe serem discutidas aqui. Infelizmente, muitos desses valores estão arraigados ao nosso comportamento. Doravante deveremos pensar, partindo do pressuposto que o único valor real que existe é a vida e todo resto é efetiva e infinitamente menos, talvez nada, importante. Temos que priorizar a vida antes de qualquer coisa.

Concluída essa primeira etapa de pensar diferente, teremos que começar realmente a fazer diferente. Não apenas eu ou você, mas todos nós, seres humanos, teremos que fazer diferente do padrão habitual. Não pode haver divisão e nem interesses diversos no mundo. Praticar aquilo que seja bom para a vida tem que ser a meta da humanidade.

Todos nós teremos que trabalhar bastante para que um novo comportamento humano surja generalizadamente e para que a humanidade pense, queira realmente fazer e faça as coisas de forma diferente e nova, de uma maneira que objetive unicamente a continuidade da vida humana no planeta.

Certamente levará alguns anos para que todos nós possamos nos conscientizar desse fato e partamos para fazer o que tem que ser feito conjunta e coletivamente. Quando esse tempo chegar e ele terá que chegar necessariamente, aí sim é que começaremos a mudar a cara do mundo. Entretanto, sempre haverá algumas caídas e recaídas. Temos que estar atentos a nossa meta e não podemos esmorecer. Alguém já disse que “a carne é fraca”, mas nós teremos que ser fortes o bastante para que, mesmo que alguns busquem o retorno ao atual “status quo”, a maioria de nós não poderá fraquejar. Temos que estar cientes de que só poderemos continuar nossa história evolutiva se seguirmos em frente no novo padrão.

Ao longo do tempo e certamente levará muito tempo, chegará o dia em que finalmente teremos criado todos os hábitos que precisamos ter para garantir nossa existência planetária. Nossa conduta coletiva estará efetivamente mudada para melhor. Isto é, chegará o dia em que a sustentabilidade sonhada deixará de ser sonho e que a utopia terá virado realidade.

Com certeza, isso só dependerá única e exclusivamente de nós.  Talvez, precisemos apenas acreditar mais em nós mesmos e entendermos que é essa crença efetiva que está faltando à humanidade. O homem acreditando cada vez mais no próprio homem.

Como disse Einstein só há duas formas de pensar a respeito dos milagres: “uma é admitir que milagres não existem e a outra é admitir que tudo o que existe são milagres”. Temos que nos apegar de todas as formas e acreditar nessa segunda linha de raciocínio, independentemente do credo que cada um de nós possa ter, deveremos acreditar que os milagres existem e entender que somos os únicos seres capazes de manifestar o milagre maior, que é traçar a nossa existência e o nosso futuro aqui na Terra.

Meus amigos, num seminário sobre sustentabilidade, talvez eu esteja sendo utópico demais em minha fala, mas podem acreditar, eu acho que isso mesmo que está faltando. Falta um pouco mais de utopia para a nossa triste e cruel realidade cotidiana. Jamais conseguiremos mudar a nossa realidade se não sonharmos com essa possibilidade.

Somos seres superiores como verdade biológica, mas, precisamos nos mostrar superiores nos demais ramos de atividade. Temos que ir além da realidade biológica e, pelo que tenho percebido, só o sonho pode nos levar a isso. A humanidade e o planeta Terra nunca dependeram tanto do Homo sapiens quanto nesse momento, em que vivemos uma crise ambiental extremamente perigosa e sem precedentes históricos, mas que muitos de nós, pelas mais diversas justificativas infundadas, insistimos em não acreditar que existe.

Precisamos sonhar e torcer para que tudo acabe bem. Acreditemos nisso, pratiquemos o nosso sonho e programemos o nosso projeto mundial de Sustentabilidade, de Recuperação Física do Planeta e de Atitude Ética dos Humanos, pois só assim é que conseguiremos ser capazes resolver a maioria dos problemas ambientais da Terra e obviamente também do nosso Vale do Paraíba. Porém, o mais importante disso tudo é que só assim, também seremos capazes de salvar a nossa espécie de uma extinção prematura.

Como biólogo, sou ciente de que a extinção biológica é compulsória para todas as espécies da Terra e certamente ela virá um dia para o Homo sapiens. Entretanto, como ser humano, isto é, como indivíduo dessa mesma espécie, eu quero atuar ativamente no sentido de impedir a prematuridade de nossa extinção e tudo farei para tentar torná-la mais tardia que for possível.

Meus amigos, para encerrar, eu devo dizer que: somente nós, seres humanos, agindo juntos, poderemos impedir que essa tendência da extinção precoce se concretize. E quero também lembrar que alguém já disse a seguinte frase: “quando uma pessoa sonha sozinha, normalmente é apenas mais um sonho, porém, quando muitas pessoas sonham juntas um mesmo sonho, está tendo início uma nova realidade”.

Por favor, senhores, sonhem junto comigo.

Muito obrigado pela atenção.

REFERÊNCIAS

LIMA, L. E. C., 1995. A Transitoriedade do Homem, Revista Ângulo, Lorena, (61):4 – 5, jan/fev de 1995.

(Republicado no www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 25/04/2009).

LIMA, L. E. C., 2005. Sensibilidade X Ciência e o Papel Fundamental da Mídia, www.vejosaojose.com.br/correalima, 05/07/2005.

(Republicado no www.recantodasletras.com.br/autores/profluizeduardo, em 31/05/2009).

*Palestra proferida no Primeiro Seminário sobre a Sustentabilidade do Vale do Paraíba – FATEA/Lorena/SP – 07 /XI/2009, sendo devidamente modificada e atualizada para esta publicação.

Luiz Eduardo Corrêa Lima

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09 jun 2013

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  Luiz Eduardo Corrêa Lima

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