Resumo: O texto atual pretende ser um alerta para a população no que diz respeito à Biodiversidade Brasileira e a necessidade de informação sobre essa questão. O Brasil, historicamente nunca se preocupou com o fato de ter a maior biodiversidade planetária e já passou da hora de nos envolvermos mais proximamente com essa situação. É bom saber e lembrar que 1/5 das coisas vivas da Terra estão no Brasil e que isso é um problema da nação brasileira.
Biodiversidade Brasileira, uma questão que precisa de cuidados
Biodiversidade é uma palavra relativamente nova, pois até alguns anos atrás utilizávamos mais a expressão Diversidade Biológica para tratar das diferentes formas vivas da Terra, entretanto o conceito de Biodiversidade é antigo e bem conhecido da comunidade científica e dos interessados na questão, mas essa “nova” palavra expressa claramente significado que se quer abranger, Assim, Biodiversidade diz respeito a inúmera diversidade de organismos vivos existentes no planeta. A palavra Biodiversidade expressa então uma ideia geral sobre as diferentes espécies vivas que compõem todo o contingente de organismos vivos que em algum momento da história evolutiva da vida tenham ocupado a Terra.
Pois então, o Brasil é o país que possui a maior Biodiversidade do planeta, mas nem de longe, nós brasileiros, somos a nação mais preocupada com esse fato, porque a grande maioria da população brasileira não sabe disso e nem tem nenhuma informação sobre o que isso representa. Aliás, ao que parece, infelizmente, nós temos dado cada vez menos importância à Biodiversidade, a qual na verdade, consiste na nossa maior riqueza e a maioria dos brasileiros não tem nem condições de avaliar esse fato. Não sei se isso ocorre por desleixo, por desconhecimento ou por ambos, mas acredito que a falta de conhecimento sobre o tema e sua respectiva importância sejam fatores preponderantes nessa apatia sobre o assunto.
É lamentável afirmar, mas, aqui no Brasil, culturalmente sempre tratamos mal ou fomos indiferentes a nossa natureza e aos valores naturais. Vejam bem nossa postura histórica. Chamamos a mata de mato e esse mato é considerado assustador, feio e degradante, portanto precisa ser destruído. A Mata Atlântica e a Amazônia conhecem bem essa situação de destruição. Achamos nossos animais asquerosos, desinteressantes e preferimos os estranhos à nossa fauna. O coala é lindo e o gambá é nojento! Até mesmo nossa diversidade puramente antrópica (cerca de 220 tribos remanescentes, das mais de 1300 do passado e as 170 línguas ainda existentes) é totalmente desconhecida da imensa maioria da população brasileira. Legal mesmo são os Apaches e os Moicanos, que se danem os Tupiniquins. Enfim, de maneira geral, o cidadão comum não conhece a Biodiversidade, não se interessa e nem é levado a se interessar por ela.
Quando a ONU instituiu oficialmente o dia internacional da Biodiversidade, em 22 de maio de 1992, nós brasileiros ainda não tínhamos muita noção do que o termo significava e hoje, embora já saibamos o significado da palavra, ainda não temos a verdadeira dimensão do que isso implica e da responsabilidade que temos, por sermos abrigadores de cerca de 20% de todas as espécies vivas do planeta. Vejam bem, 20% de tudo aquilo que é vivo no planeta é brasileiro. Isto é, 1/5 das espécies da Terra estão no espaço geográfico brasileiro, aqui na Sub-região Brasiliana da Região Neotropical.
Lamentavelmente não se divulga esse fato e sua importância com a devida frequência e muito menos com a necessária ênfase, para fazer com que a população brasileira assuma uma posição proativa em relação a preservação da Biodiversidade nacional. Pouquíssimos brasileiros estão realmente cientes e envolvidos dessa situação e, aparentemente, cada vez mais esse contingente tem decrescido por falta de informação. Ou seja, nossa Biodiversidade é grande, mas nossa atenção e interação com esse fato é pequena e progressivamente tem ficado menor.
Em outras palavras, eu quero dizer o seguinte: os nossos bisavós, conheciam e se envolviam mais com a biodiversidade brasileira do que os nossos avós, e estes por sua vez, se envolviam mais do que nossos pais e os nossos pais mais do que nós”. Não posso falar dos meus bisavós taxativamente e exatamente, mas posso falar um pouco dos meus avós, dos meus pais, de mim e dos meus filhos. Ou seja, as quatro gerações com que tive contato próximo e acredito que isso permita confirmar a minha tese, de que cada vez mais se sabe menos sobre a nossa Biodiversidade, pelo menos aqui no Brasil.
A maioria das informações que tive sobre diversidade de fauna, flora e mesmo de tribos indígenas, me foram passadas pelos meus avós e pelos meus pais. Aliás, sou amante da natureza por questões “talvez genéticas”, haja vista que meu avô materno e minha mãe são a minha fonte primária de interesse pelos organismos vivos e pela natureza em geral. Embora eu tenha nascido e crescido numa grande cidade, ainda sou do tempo em que a gente andava descalço, mexia na terra, entrava na mata, tomava banho no mar, na cachoeira e no rio. Enfim, fazia todas essas “coisas absurdas”. Pois é, a gente vivia na natureza e aprendia quase tudo com ela, ou, pelo menos, a partir dela. Nossos avós e pais eram apenas para nos esclarecer dúvidas sobre plantas e animais e nos informar sobre os riscos potenciais, que naquela época não eram considerados tão importantes ou tão arriscados quanto hoje.
Assim, vivíamos mais ligados com as coisas naturais e aprendíamos mais com a própria natureza. Conhecíamos os animais e as plantas e fazíamos nossas brincadeiras a partir da nossa realidade natural, embora nunca tivéssemos ouvido falar de Biodiversidade. Confesso até que algumas vezes fazíamos coisas muito erradas, pois degradávamos ambientes e até mesmo judiávamos drástica e penosamente de alguns animais. Entretanto, essa nossa vivência nos ajudava a conhecer e consequentemente aprender relativamente bastante sobre os organismos vivos, que naquela época eram muito mais abundantes e conspícuos do que hoje, por inúmeros motivos que não cabem aqui serem discutidos.
Estudei Biologia e me formei como Biólogo não por acaso, mas porque eu sempre gostei dos organismos vivos, em particular os animais, e porque a grande diversidade e beleza deles, particularmente dos moluscos e suas conchas fabulosas, sempre me atraiu. O tempo foi passando e mesmo os meus filhos já não acompanharam os meus interesses pela natureza e suas formas. Sinto também que progressivamente os meus alunos, mesmo os do curso de Biologia, também estão cada vez mais distantes da realidade natural às suas voltas e cada vez conhecem e identificam menos as formas vivas. A pouca convivência com a natureza tem afastado o homem da biodiversidade e do interesse por ela. Algumas dessas formas vivas, mesmo hoje, ainda extremamente comuns, a maioria dos alunos diz que nunca viu.
Observaram bem essa frase? Bem, eu vou repetir: “formas vivas, mesmo hoje, ainda extremamente comuns, a maioria dos alunos diz que nunca viu”. Mas, como nunca viu, se ainda são extremamente comuns? Na verdade, os alunos viram sim, mas como eles não conhecem, não prestaram a devida atenção. As pessoas são incapazes de perceber e identificar o que não é interessante e aí algumas coisas passam despercebidas, porque não são importantes e não têm nenhum significado efetivo para elas. A memória não armazena ou, se armazena, não manifesta aquilo que não é importante e assim certas coisas não são gravadas ou são totalmente apagadas da nossa memória, porque não guardam relação com nada. A memória não tem registro efetivo dessas coisas e assim, elas passam despercebidas, como se simplesmente não existissem.
Vocês perceberam a gravidade dessa última frase? Vou repetir também, para que seja possível caminhar no meu raciocínio: “a memória não tem registro efetivo dessas coisas e assim, elas passam despercebidas como se simplesmente não existissem”. É exatamente isso que tem acontecido conosco, no que se refere à natureza e a Biodiversidade. Nossos valores mudaram, não se observa e não se contempla a natureza, a qual certamente não é mais um valor tão significativo e importante no pensamento coletivo, como foi para os nossos antepassados, por isso progressivamente temos dado menor importância a ela. A natureza não atrai mais como antes. Desta maneira, mesmo ocasionalmente vendo certos coisas e aspectos, não identificamos a grande maioria dessas coisas que a natureza nos apresenta, porque os nossos olhos estão lamentavelmente voltados para outros interesses.
Meus amigos, isso é um grave erro e um grande mal, particularmente num país que tem a maior biodiversidade do planeta e que precisa preservar, estudar e conhecer todo esse material natural. Como podemos fazer para que as pessoas possam agir de maneira diferente e procurem conhecer a Biodiversidade brasileira? Como preservar e proteger aquilo que não se conhece e que não se acha importante? Como é possível fazer com que as pessoas amem aquilo que não conhecem, ou melhor, que nem percebem, porque não dão nenhum valor significativo?
O Brasil tem que promover ativa e efetivamente a sua Biodiversidade e colocá-la no pensamento coletivo da sociedade brasileira, até porque o mundo lá fora sabe o que temos aqui e tem muita gente de olho nesse nosso patrimônio natural, enquanto nós mesmos aparentemente não estamos preocupados e nem interessados nas nossas riquezas naturais. É preciso inverter esse quadro e voltar aos valores antigos. Temos que divulgar e conhecer nossa fauna, nossa flora, nossos índios, nossos biomas naturais, nossas belezas cênicas, enfim, temos que propagandear nossa diversidade natural e destacar nossa condição de líderes mundiais de biodiversidade. Temos que criar mecanismos para apresentar nossa biodiversidade para os cidadãos brasileiros, para gerar uma noção de pertencimento e uma vontade de conhecer e preservar esse patrimônio na população brasileira.
O mundo hoje é quase totalmente tecnológico e eletrônico, por isso mesmo, a maioria de nós, age como máquinas e não sobra tempo para nada, principalmente no que se refere a contemplação da natureza. É claro que existem exceções e alguns abnegados, mas esse número está proporcionalmente diminuindo. Não sou contra os novos tempos e nem contra a tecnologia, ao contrário acho mesmo que a tecnologia é fundamental. Entretanto, a tecnologia é a parafernália instrumental. Isto é, a tecnologia são as ferramentas que deveriam nos ajudar a viver melhor e não pode ser nada diferente disso. Não podemos esquecer da natureza e trocar os valores naturais em prol de bens artificiais. Já inventaram até “bichinhos virtuais”. O pior é que a gente parece mesmo nem se importar com os valores naturais, pois eles acabam mesmo passando despercebidos da maioria das pessoas.
Nossa sociedade mata animais e destrói plantas como se fossem coisas de pouca ou nenhuma importância, porque nossa abundância de formas vivas é tal, que não temos a verdadeira dimensão da Biodiversidade brasileira e de seu significado para o Brasil. É preciso mudar esse quadro e construir uma nova visão que traduza para a nossa população a realidade de que a Biodiversidade brasileira é a maior riqueza nacional e que ela pode levar o país ao auge do desenvolvimento sustentável, muito mais facilmente do que pode ser imaginado no senso comum. A sociedade brasileira precisa estar engajada e inserida no contexto de que precisamos conhecer e preservar a nossa biodiversidade, até para que o Brasil possa tirar os devidos proveitos que ela permitir.
Nós Biólogos e Professores desse país temos uma obrigação maior na realização da tarefa de informar sobre a Biodiversidade à população brasileira, porque nós somos, por um lado, os geradores desse conhecimento e por outro, também os porta-vozes que deverão leva-lo, de maneira clara, comunidades. Para tanto precisamos estar devidamente capacitados sobre o que é a nossa Biodiversidade e sua verdadeira importância. Por conta disso, é necessário e urgente voltar a escrever sobre nossa natureza, para que nossas crianças, nossos jovens e nossos atuais e, principalmente, futuros professores fiquem interessados em conhecer melhor nossos recursos naturais e nossa biodiversidade.
No passado, alguns cientistas e divulgadores das ciências, como EURICO de Oliveira SANTOS, Cândido Firmino de MELO LEITÃO, RODOLPHO Von IHERING, CARLOS Nobre ROSA, José CÂNDIDO de Melo CARVALHO, AUGUSTO RUSCHI e também alguns outros escritores, como o próprio José Bento Renato MONTEIRO LOBATO e tantos outros que fizeram seus trabalhos famosos divulgando a natureza e assim os jovens liam e aprendiam sobre a Biodiversidade brasileira, mas isso ficou lá trás. Hoje, existe necessidade de que esse mecanismo de contar histórias e descrever a natureza seja renovado e ampliado para que a Biodiversidade brasileira não seja esquecida e permaneça inserida no pensamento comum de toda sociedade brasileira.
Eu, de cima dos meus 60 anos, estou aqui trazendo o meu chamamento, fazendo o meu alerta e dando minha contribuição pela nobre e importantíssima causa. Espero que mais pessoas capazes e envolvidas na questão também se manifestem em prol de chamar a atenção do país sobre a importância de conhecer e proteger a Biodiversidade brasileira.
Luiz Eduardo Corrêa Lima
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